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Contaminação pelo vírus da AIDS

Qual é o crime?

Williams Rodrigues Ferreira


Estudante do curso de Direito, 3º período turma NC.

Disciplina: Direito Penal II


Professor: Joel Venâncio da Silva Júnior
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Recife
2010

Williams Rodrigues Ferreira

Contaminação pelo vírus da AIDS


Qual é o crime?

Pesquisa sobre a contaminação pelo vírus


da AIDS dentro da esfera Penal.
Professor: Joel Venâncio da Silva Júnior.
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Recife
2010
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SUMÁRIO

1. A AIDS SOB O FOCO DO DIREITO PENAL. 3


2. SOBRE A CONTAMINAÇÃO, CONSIDERAÇÕES. 4
3. A QUESTÃO SOBRE O FATO: Qual é o crime? 5
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1. A AIDS SOB O FOCO DO DIREITO PENAL:

2. A AIDS SOB O FOCO DO DIREITO PENAL: Considerações.


Apesar de o Código Penal brasileiro tratar da questão do contágio por doenças venéreas
de forma geral, ainda não podemos falar sobre lei especial de discipline o processo de
julgamento sobre os casos de contágio culposo ou doloso por HIV. A Legística tem se
preocupado em dar condições de o Legislador elaborar boas leis que regulem esses e outros
casos. Todavia vemos que não basta somente elaborar as leis, mas também saber se essas leis
correspondem ao que a sociedade espera sobre como tratar o sujeito que comete o ato de
contaminar outrem. Uma lei ou um julgamento mal realizado podem ficar gerando incoerências
e muitas controvérsias entre os operadores do direito.
Pensar em cominação para fatos relacionados a transmissão pela AIDS pode levar
doutrinadores, operadores do direito, professores e alunos à uma zetética sem fim, visto que
tanto culposamente como dolosamente o fato é difícil de ser avaliado mesmo que o autor
confesse o dolo ou a culpa sem intenção. Afirmo que, muitas vezes, tratar os portadores
transmissores como passíveis de culpa pode inclusive ser um foco de preconceito; sendo pois
nossa sociedade tão individualista e preconceituosa, creio que já basta o que temos para criar-
mos novas formas de preconceito.
Considero que tanto a AIDS como as outras DSTs devem se tratadas estritamente como
questões de saúde pública, sendo o Direito mero disciplinador das normas de conduta e de
cobertura do estado enquanto agente provedor no tocante a hospitais e às pesquisas. Mas o foco
do trabalho não deve ser perdido: O agente que provocou o ato dolosamente é passível de
culpa? Veremos que às vezes sim, mas que mesmo quando ele age sabendo que está com a
doença, o Estado deve agir de forma especial sobre o paciente do fato.
O Direito não é só dogmas, mas também tem seus momentos zetético daí vemos que o
legislador deve pensar sempre que o ser humano não existe para ser privado de coisas básicas,
por isso não podemos pensar que o homem deve se enclausurar para não correr riscos para si
ou para outrem. Não é possível evitar satisfatoriamente a contaminação, todos nós sabemos
disso. Por tudo isso digo que o Direito deve proteger o cidadão obrigando o estado chegar
inclusive a promover pesquisas que cheguem à cura deste e de outros males.
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2. SOBRE A CONTAMINAÇÃO, CONSIDERAÇÕES.

A maioria dos especialistas rejeitam a criminalização de algumas formas de contágio


por AIDS. Eu considero no geral a transmissão de acordo com a dissertação que segue.
Compreendo que o Direito não pode punir com todo o rigor um ato provocado por
imprudência e muito menos por desconhecimento do agente do fato da própria situação. É
lógico o argumento de que a transmissão da AIDS por si só não se constitui crime, todavia
vemos que em alguns casos pessoas agem dolosamente contaminando outros por questões
egoístas ou simplesmente por vingança ou maldade.
Sob o foco de que o ato foi praticado irresponsavelmente, posso afirmar sim que o ato
constitui-se crime, sendo o autor passível de sofrer as sanções previstas no Código Penal Art.
130 §1º. “Se é intenção do agente transmitir a moléstia: Pena – reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa”. O Art.
131 caput rege não só o ato sexual em si mas qualquer ato que transmita a doença - “Praticar com o
fim de transmitir a outrem moléstia grave de que está contaminado, ato capaz de produzir o contágio: Pena – reclusão de 1
(um) a 4 (quatro) anos, e multa”.

A transmissão da AIDS com dolo e em qualquer modo constitui-se crime, crime este
que analisarei no próximo tópico.
Com certeza observo que consumação se dará com o contato sexual independente do
efetivo contágio. Se do contágio resultar lesão corporal, o agente poderá enquadrado no art.
129, §1º e 2º, se agiu dolosamente:
“Art. 129 - Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem: Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano. § 1º - Se
resulta:
I - incapacidade para as ocupações habituais, por mais de 30 (trinta) dias;
II - perigo de vida;
III - debilidade permanente de membro, sentido ou função;
IV - aceleração de parto:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos.
§ 2º - Se resulta:
I - incapacidade permanente para o trabalho;
II - enfermidade incurável;
III - perda ou inutilização de membro, sentido ou função;
IV - deformidade permanente;
V - aborto:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos.”

Se agir culposamente poderá ser enquadrado no art. 129, §6: “Se a lesão é culposa: Pena - detenção, de 2
(dois) meses a 1 (um) ano”. Nesse mesmo caso temos a possibilidade de o sujeito passivo vir à óbito,
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aplica-se então a sanção prevista no Art. 129, §3º: “Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o

agente não quis o resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo: Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 12 (doze) anos”. Em suma
responderá pelo art. 129 quando o agente deve a consciência e vontade de lesionar ou assumir
o risco de provocar lesão. Se o agente agiu com “animus necandi” (intenção de matar),
responderá pelo art. 121. Em todas essas hipóteses o delito de perigo de contágio venéreo é
face de realização de outro, ou seja, é conteúdo de um tipo mais amplo que absorve o de menor
abrangência, daí a sua subsidiariedade. A tentativa é possível na hipótese em que a relação
sexual não ocorre por circunstâncias alheias a vontade do agente.

3. A QUESTÃO SOBRE O FATO: Qual é o crime?

Apesar de expor várias situações hipotéticas com suas possíveis incidências


cominativas, considero que o caso exposto desde o princípio deste trabalho constitui-se crime
de perigo de contágio venéreo. O bem jurídico neste caso é a vida e a saúde do ser humano. O
sujeito ativo que será qualquer pessoa contaminada por uma doença sexualmente transmissível
(DST), contamina mediante relação sexual ou qualquer outra forma de ação perigosa o sujeito
passivo.

Como ato previsto no CP classifica-se como crime próprio (sujeito ativo), o mesmo é
plurisubsistente, formal, unisubjetivo, tem forma vinculada e é comissivo. Como não exige a
lesão de um bem jurídico ou a colocação deste bem em risco real e concreto pode caracterizar-
se como perigo abstrato e admite tentativa.

4. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

BRASIL. Casa Civil. DECRETO-LEI N.º 2.848, DE 7 DE DEZEMBRO DE 1940. CÓDIGO


PENAL.
Site: http://www.planalto.gov.br. Acesso em 07/05/2010.

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