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A hiperferritinemia é um achado comum na prática clínica, uma vez que a ferritina é um marcador de fase aguda e, portanto, encontra-se elevada em
diversas situações (ex.: sepse, malignidade, doença autoimune).
Em muitos casos, a hiperferritinemia é atribuída à sobrecarga de ferro, cuja principal causa é a hemocromatose hereditária. No entanto, há sobrecarga de
ferro de fato em menos da metade dos pacientes com níveis elevados de ferritina. As causas mais comuns de hiperferritinemia não relacionada à
sobrecarga de ferro são a doença hepática gordurosa não alcoólica e o etilismo.
Importante ressaltar que alguns fatores in uenciam o resultado da ferritina, como idade e sexo (ex.: mulheres no menacme tendem a ter valores mais
baixos de ferritina), assim como hábitos de vida (ex.: consumo de álcool, tabagismo). Por conseguinte, o valor da ferritina não deve ser avaliado
isoladamente; tais fatores devem ser considerados para determinar se realmente há hiperferritinemia ou não.
Sendo assim, uma investigação detalhada do aumento dos níveis de ferritina é fundamental para que seja estabelecido um diagnóstico correto,
permitindo então um tratamento adequado para cada indivíduo.
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Além da cinética de ferro, recomenda-se a realização de testes de função hepática, glicemia, per l lipídico, proteína C reativa (PCR), velocidade de
hemossedimentação (VHS) e pesquisa genética das mutações C282Y e H63D. Essa avaliação inicial ajuda no diagnóstico diferencial, norteando as etapas
subsequentes (ex.: na presença de anormalidades nos testes de função hepática, indica-se investigação de doença de Wilson, hepatite autoimune,
hepatite viral e de ciência de alfa-1 antitripsina).
Exames de imagem: exames de imagem do fígado contribuem na investigação da causa e na avaliação de dano hepático resultante do aumento da
ferritina. Ultrassonogra a pode revelar hepatomegalia, esteatose, desordens de vias biliares, cirrose e sinais de hipertensão portal. A ressonância
magnética é um método não invasivo capaz de avaliar a concentração hepática de ferro e a presença de brose.
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Hemocromatose hereditária
Se o indivíduo apresentar a mutação C282Y em homozigose (C282Y/C282Y) ou tiver as duas mutações em heterozigose (C282Y/H63D), além de ferritina >
1.000 microgramas/L, indica-se a realização de biópsia de fígado para avaliar presença e gravidade do dano hepático, particularmente se os testes de
função hepática estiverem alterados e/ou se os exames de imagem sugerirem cirrose. Se o paciente tiver o diagnóstico de hemocromatose hereditária,
mas apresentar ferritina < 1.000 microgramas/L, o procedimento não é necessário de rotina, a menos que haja hepatomegalia e/ou disfunção hepática.
Em indivíduos com mutação C282Y ou H63D em heterozigose (C282Y/tipo selvagem ou H63D/tipo selvagem), é pouco provável que o aumento da
ferritina seja decorrente de distúrbio primário. Nesses casos, outras causas devem ser pesquisadas, incluindo mutações em outros genes associados à
hemocromatose hereditária (ex.: HJV, HAMP, TR2, SLC40A1).
Manejo da hiperferritinemia
As principais formas de remover o excesso de ferro são a ebotomia e a terapia quelante de ferro.
Com uma sangria de cerca de 450 mL, aproximadamente 250 mg de ferro são removidos. Além desse efeito direto, a queda de hemoglobina secundária à
perda sanguínea estimula a eritropoiese, o que mobiliza os estoques de ferro para a produção de mais hemácias, contribuindo ainda mais para a redução
dos níveis de ferritina. O intervalo entre as ebotomias depende dos valores de hematócrito, hemoglobina e ferritina do paciente. O procedimento está
indicado quando os níveis de ferritina encontram-se acima de 1.000 microgramas/L, mesmo em indivíduos assintomáticos, e não há um consenso em
relação ao valor alvo, porém muitos guidelines sugerem manter a ferritina entre 50 e 100 microgramas/L.
A quelação de ferro é o tratamento de escolha nos casos de sobrecarga de ferro secundária (ex.: beta-talassemia) e a opção de segunda linha no manejo
da hemocromatose hereditária (ex.: intolerância à ebotomia). O quelante mais utilizando na prática clínica é o deferasirox.
Autora:
Ong SY, Nicoll AJ, Delatycki MB. How should hyperferritinaemia be investigated and managed?. European journal of internal medicine. 2016;33:21-27.
Senjo H, et al. Hyperferritinemia: causes and signi cance in a general hospital. Hematology. 2018;23(10):817-822.
Lorcerie B, et al. Diagnosis of hyperferritinemia in routine clinical practice. La Presse Médicale. 2017;46(12):e329-e338.
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