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1.

INTRODUÇÃO

A Medicina Tradicional Chinesa (MTC) existe há aproximadamente 4500


anos a.C., porém o livro mais antigo, Hung Di Nei jing, foi datado pelo menos 2500
anos a.C., que é uma compilação de diálogos entre o Imperador Amarelo e médicos
da época.
O ocidente teve seu primeiro contato com essa técnica através dos jesuítas,
mas foi verdadeiramente desenvolvida em meados de 1900 por George Soulie de
Morant, um diplomata francês que causou muita polêmica na época, por acreditar
que as melhoras eram sugestionadas pelo acupunturista. A acupuntura tomou
grandes proporções na década de 70, quando começaram as pesquisas, mas foi
apenas em 1979 que a Organização Mundial de Saúde (OMS) reconheceu a eficácia
da acupuntura em uma pequena lista de doenças. No Brasil, a acupuntura veio
principalmente pelos imigrantes japoneses a aproximadamente 100 anos atrás.
Hoje, as técnicas da MTC são utilizadas em diversas patologias e, em
alguns casos, são a principal terapêutica, como por exemplo dores crônicas, dores
de cabeça e stress. Nos casos de infertilidade está sendo muito usada como técnica
coadjuvante, pois constatou-se melhores resultado quando utilizada antes e depois
da fertilização.
Existem diversas teorias para explicar o mecanismo da acupuntura, como
aumento da liberação de endorfinas, serotonina e melhora no fluxo sanguíneo. Além
disso, alguns trabalhos apontam efeitos da acupuntura no metabolismo lipídico. Wu
(1979) demonstrou uma redução maior do colesterol em coelhos
hipercolesterolêmicos com tratamento associado a pequena dose de novacaina.
Esses mesmos coelhos receberam uma dose elevada de novacaina, o que
ocasionou um bloqueio do nervo relacionado, ocorrendo a ausência do efeito
hipocolesterolêmico da acupuntura.
Outro estudo mostrou que a acupuntura pode efetivamente reduzir os níveis
de colesterol total (CT), LDL-colesterol (LDL-C), triglicerídeos (TG), além da
agregação plaquetária em coelhos, o que pode contribuir para a inibição da
formação da placa de ateroma (HA JD, 2007). Comparando ratos hiperlipidêmicos
tratados com eletroacupuntura e Pravastatina, foram encontrados efeitos redutores

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de CT, LDL-C, TG e um aumento de NO, quando comparado a um grupo de não
tratados (Zhou L, 2008).

1.1. Hipercolesterolêmia
A hipercolesterolemia é o principal fator de risco para a lesão aterosclerótica,
levando à doença arterial coronária (DAC), principalmente quando associada a
fatores genéticos e ambientais (BROWN, 1986).
As alterações no metabolismo do colesterol podem se dar por motivos
primários ou secundários. A hipercolesterolemia primária está relacionada a
alterações genéticas que levam ao acúmulo de lipoproteínas ricas em colesterol
como a lipoproteína de baixa densidade (LDL). Essas alterações podem ser
monogênicas por defeito no gene do receptor de LDL ou no gene que codifica a Apo
B-100, gerando deficiência no acoplamento da LDL ao receptor. Existem centenas
de mutações do gene do receptor de LDL, que podem causar redução de sua
expressão na membrana ou deformações na sua estrutura e função. O mais comum
é encontrar mutações de múltiplos genes, chamada hipercolesterolemias
poligênicas, nestes casos, fatores genéticos e ambientais determinam o fenótipo do
perfil lipídico (IV Diretriz Brasileira Sobre Dislipidemias, 2007).
Já as alterações do metabolismo por motivos secundários são causadas por
algumas doenças de base, entre elas diabetes mellitus, obesidade, hipotiroidismo,
doenças hepáticas, lupus eritomatoso sistêmico e gravidez. Além disso, drogas
como anabolizantes, diuréticos tiazídicos, corticosteróides, anticoncepcionais e
outros também podem alterar este metabolismo. Outros fatores relacionados são
dieta rica em gordura saturada, tabagismo, etilismo e sedentarismo (BLAKE,
TRIPLETT, 1995).

1.2.Metabolismo da lipoproteína de baixa densidade (LDL)


Em média, 70% do colesterol plasmático, nos indivíduos normais, estão na
LDL e é utilizado em diversos processos metabólicos, incluindo síntese de
hormônios e membranas. Vários estudos epidemiológicos encontram correlação
positiva entre colesterol de LDL e risco de doença aterosclerótica (BROWN,
GOLDSTEIN, 1986; STAMLER et al., 1988; GRIFFIN, 1999; JONES, 2001).
A LDL é uma partícula esférica, inferior a 30 nm de diâmetro, constituída por
um núcleo de éster de colesterol (45-50%) e um resíduo de triglicérides, envolto por
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monocamada de fosfolipídios onde há também colesterol livre. A apo B-100 constitui
a parte protéica dessa lipoproteína, que liga as partículas de LDL a receptores
específico presentes nas membranas celulares, chamados B,E. Depois da ligação, a
LDL se internaliza e é degradada em vesículas para se fundirem nos lisossomos
(GOLDSTEIN at al., 1979).
A regulação dos receptores de LDL é o principal fator que controla os níveis
de colesterol circulante, onde, aumentando seu tempo de remoção diminuem as
chances de oxidação da LDL.
A LDL pode ser citotóxica e por isso lesar a parede endotelial, estimular nas
células vasculares a produção de citocinas que recrutam monócitos ao espaço
endotelial (GRIFFIN, 1999). A LDL oxidada aumenta espécies reativas de oxigênio e
também inibi a atividade do óxido nítrico (NO) (SESSA, 1994a; BEHRENDT, GANS,
2002), um potente oxidante e vasodilatador endógeno que, além de manter o tônus
vascular, inibe proliferação de células musculares lisa, peroxidação dos lipídeos e
diminui a adesão de macrófagos e plaquetas no endotélio (BARON, 1999).
Vários processos envolvidos no metabolismo da LDL são importantes na
aterogênese, como a esterificação do colesterol que se encontra na superfície da
LDL, que é mediada pela enzima que circula com a lipoproteína de alta densidade
(HDL), a lecitina colesterol acil transferase (LCAT), fazendo com que esse colesterol
esterificado desloque para o núcleo da LDL, evitando sua deposição em células da
parede arterial.

1.3.Considerações sobre a lipoproteína de alta densidade (HDL)


Estudos epidemiológicos longitudinais e transversais demonstram relação
inversa entre níveis HDL-C e ocorrência de DAC. Dados clínicos também são
compatíveis com essa associação, pois doenças genéticas com HDL diminuídas
(deficiência da apolipoproteína A-I) acompanham-se por maior freqüência de DAC.
Em coelhos hipercolesterolêmicos, demonstrou-se a regressão da aterosclerose com
elevação dos níveis de HDL, através de injeções venosas de soros homólogos
contendo esta fração (Consenso Brasileiro de Dislipidemias: Detecção, Avaliação e
Tratamento, 1994).
Em humanos, dados de estudos de prevenção primária e secundária têm
sugerido fortemente a participação da HDL no desenvolvimento de DAC. A relação
do risco de DAC com as frações das HDL (HDL-2, HDL-3) ainda é considerado um
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assunto controverso e sem utilidade prática (Consenso Brasileiro de Dislipidemias:
Detecção, Avaliação e tratamento, 1994)
Em diversos estudos, incluindo experimentais e humanos, demonstrou-se
tanto efeitos pró-aterogênicos como anti-aterogênicos da HDL, sugerindo que talvez
seja mais importante a estrutura e função da HDL que níveis plasmáticos de HDL-C
no risco preventivo de doenças cardiovasculares (NAVAB at al., 2005).

1.4.Tratamento Convencional e Prevenção


Medidas nutricionais são recomendadas a todos os casos de dislipidemias,
inclusive como prevenção em indivíduos normolipidêmicos, portanto pacientes com
baixo risco de doença, segundo o Escore de Risco de Framingham (figura 1)
também devem ser orientados quanto aos hábitos alimentares (IV Diretriz Brasileira
Sobre Dislipidemias e Prevenção de Aterosclerose da Sociedade Brasileira de
Cardiologia, 2007).
Quando se trata de alto risco de doença torna-se necessário o uso de
estatinas. As estatinas surgiram em meados da década de 80 e revolucionaram a
medicina, desde então é o tratamento para a hipercolesterolemia. São administradas
nos casos em que a mudança do estilo de vida (MEV) não foi satisfatória ou se não
é possível esperar os efeitos da MEV por prioridade clínica. As estatinas podem ser
administradas em associação à ezetimiba, colestiramina e, eventualmente, fibratos
ou ácido nicotínico. (IV Diretriz Brasileira Sobre Dislipidemias e Prevenção de
Aterosclerose da Sociedade Brasileira de Cardiologia, 2007).
As estatinas inibem a síntese de colesterol intracelular (inibição da enzima
HMG-CoA redutase), estimulam a formação dos receptores de LDL nos hepatócitos,
e por conseqüência aumenta a remoção de VLDL, IDL e LDL, agem sobre mediados
vaso-ativos, diminuem a ativação de agregação plaquetária e possuem efeitos anti-
inflamatórios e anti-oxidantes (BROWN MS, Goldstein JL, 1991). Esses
medicamentos reduzem a LDL-C de 15% a 55% em adultos. A duplicação da dose
de estatina promove redução de 6% de LDL-C, redução de TG de 7% a 28% e
aumentam HDL-C de 2% a 10% (IV Diretriz Brasileira Sobre Dislipidemias e
Prevenção de Aterosclerose da Sociedade Brasileira de Cardiologia, 2007).

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Como todo medicamento, as estatinas também possuem efeitos adversos
que, de acordo com IV Diretriz Brasileira Sobre Dislipidemias (2007), são raros, mais
raramente, casos de hepatite, miosite, rabdomiólise. Por precaução, são
recomendadas dosagens de creatinofosfoquinase (CK) e transaminases (TGO,
TGP) na primeira avaliação e consequentemente nos aumentos de dose. É
recomendada monitoração mais cuidadosa em casos de dor muscular ou aumento
de CK de 3 a 7 vezes do limite de normalidade. Não há contra-indicação a pacientes
que referirem previamente doença hepática crônica, doença hepática ou esteatose
não-alcoólica, porém em casos de doença hepática aguda não é recomendado.

Figura 1. Escore de Risco de Framingham - ERF. Fonte: IV Diretriz Brasileira Sobre


Dislipidemias e Prevenção de Aterosclerose da Sociedade Brasileira de Cardiologia,
2007.

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1.5. Bases teóricas da Medicina Tradicional Chinesa (MTC)
O conceito de Yin e Yang destaca-se como o mais importante da MTC já
que podemos reduzir a fisiologia médica chinesa, patologia e tratamento a partir
dele. Este conceito é extremamente simples, ainda que profundo, e baseia-se na
qualidade dos opostos (MACIOCIA G, 1996). Nada é totalmente Yin e nem
totalmente Yang e a existência de cada um é dependente do outro como “o princípio
criador que lança (Yang) e o princípio receptivo que acolhe (Yin)”. Em relação ao
inter-consumo, “a introdução da luz faz diminuir a escuridão, o aumento do calor faz
diminuir o frio.” (MACIOCIA G, 1996)
Sendo duas fases de um movimento cíclico, por observação, diz-se noite
(Yin) e dia (Yang), céu-redondo (Yang) e terra-quadrado (Yin). O Sol nasce no
Leste, esquerdo (Yang) e se põe no Oeste, direito (Yin) (MACIOCIA G, 1996).
Como aplicação na estrutura corpórea, temos: Yang – superior, exterior,
superfície póstero-lateral, costas, função e Yin – inferior, interior, superfície antero-
medial, frente, estrutura. A aplicação deste conceito é sempre relativa, sendo preciso
estabelecer um eixo de referência para classificar qualquer coisa em yin e yang
(MACIOCIA G, 1996)
A partir deste conceito podemos destrinchar os cinco movimentos ou cinco
elementos, que surgiu após a teoria do Yin-Yang pela mesma escola filosófica
“Escola do Yin-Yang” ou “Escola Naturalista”.
O Shang Shu, escrito durante a Dinastia Zhou (1000-771 a.C.) disse: “Os
cinco Movimentos são Água, Fogo, Madeira, Metal e Terra. A Água umedece em
descendência, o Fogo chameja em ascendência, a Madeira pode ser dobrada e
esticada, o Metal pode ser moldado e endurecido, a Terra permite a disseminação,
crescimento e a colheita”. Esta afirmação mostra os cinco movimentos como
qualidades inerentes diversas e expressam o fenômeno natural (Tabela1).
Os relacionamentos fisiológicos entre os sistemas internos são:
- Seqüência de Geração – a Madeira gera o Fogo e é gerada pela Água. Seria como
dizer que o fígado é mãe do coração e filho do rim. Desta forma, a seqüência de
geração pode ser representada como um ciclo onde o Fígado é mãe do Coração,
que é mãe do Baço, que é mãe do Pulmão, que é mãe Rim, que é mãe do fígado.
- Seqüência de Controle – este sistema é mantido sob controle para proporcionar o
equilíbrio, sendo que o Fígado controla o Baço, Coração controla o Pulmão, Baço
controla o Rim, Pulmão controla o Fígado e Rim controla o Coração.(Figura 2)
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A partir destas bases é possível relacionar as diversas síndromes, como é
chamado na MTC, e definir plano de tratamento utilizando a fitoterapia chinesa e a
acupuntura. O diagnóstico também é embasado nessas teorias, relacionando-se
informações obtidas através da anamnese do paciente e também relatos por ele
feito. (MACIOCIA G, 1996)
A acupuntura é uma das técnicas da MTC onde usa-se agulhas, massagem,
moxa ou outros estímulos nos canais de energia existentes no corpo com intenção
de promover homeostase. Estes canais são chamados meridianos que comunicam
órgãos e vísceras com o lado externo, alto e baixo, direita e esquerda onde circula o
Qi, que movimentam os líquidos e o sangue. Ao longo desses canais encontram-se
os pontos específicos que ao pontura-los orientam o movimento do Qi para que
voltem a funcionar com fluidez e direção.
Tabela 1. Algumas das principais correspondências dos Cinco Elementos.
Madeira Fogo Terra Metal Água
a
Estações Primavera Verão 5 Estação Outono Inverno
Direções Leste Sul Centro Oeste Norte
Cores Verde Vermelho Amarelo Branco Preto
Sabores Azedo Amargo Doce Picante Salgado
Climas Vento Calor Umidade Secura Frio
Estágio de Nascimento Crescimento Tramsformação Colheita Estoque
desenvolvimento
Números 8 7 5 9 6
Planetas Júpiter Marte Saturno Vênus Mercúrio
Yin-Yang Yang Mínimo Yang Máximo Centro Yin Mínimo Yin Máximo
Animais Peixe Pássaro Homem Mamíferos Seres Cobertos
c/ conchas
Animais Ovelha Ave Boi Cachorro Porco
doméstico
Grãos Trigo Feijão Arroz Cânhamo Milhete
Sistema yin Fígado(Gan) Coração(Xin) Baço(Pi) Pulmão(Fei) Rim(Shen)
Sistema Yang Vesícula Intestino Estômago Intestino Bexiga
Biliar(Dan) Delgado (Wei) Grosso (Pangguang)
(Xiaoshang) (Dachang)
Órgãos do sentido Olhos Língua Boca Nariz Ouvido
Tecidos Tendões Vasos Músculos Pele Ossos
Emoções Fúria Alegria Preocupação Tristeza Medo
Sons Grito Riso Cantoria Choro Gemido
Fonte: MACIOCIA G, 1996
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Figura 2. Setas externas representam o ciclo de geração e setas internas o
ciclo de controle. Fonte: site - www.agapeholos.org/Biblio001.htm

O conceito de Qi é muito complexo, muitas vezes traduzido como energia,


porém ele seria uma grandeza que passa do etéreo ao mais denso material,
podendo ser rarefeito e imaterial como o vapor, denso e material como o arroz. O
ideograma chinês do Qi expressa as duas naturezas sendo: “vapor”, “fluxo”, “gás” e
outra parte que diz: arroz (não cozido). (MACIOCIA G, 1996)
O Qi participa da formação dos elementos do corpo permitindo a vida, a
essência, sendo Qi da respiração (Qi do céu – Yang) e Qi da alimentação (Qi da
Terra – Yin) e o Qi da atividade fisiológica dos tecidos orgânicos sendo: Qi dos
órgãos, Qi dos vasos. Esses dois aspectos se relacionam, pois o primeiro é a base
material do segundo e o segundo é a manifestação da atividade do primeiro.
(Auteroche, Navailh; 1992).

1.5.1. Diagnóstico na MTC


O diagnóstico pode ser feito através de diversos parâmetros observando-se
os sintomas pelos oito critérios (yin-yang, calor-frio, profundo-superficial, vazio-
plenitude), síndromes sob aspectos de órgãos(ZANG) e vísceras(FU) e síndromes
sob o aspecto da energia(Qi), sangue (Xue) e líquidos orgânicos (Jin Ye). Também
faz-se diagnóstico pela palpação dos canais energéticos, os doze meridianos (Jing
Luo), sendo Jing os ramos principais do sistema canalar e Luo que significa “rede”
sendo ramos que se cruzam em diagonais e que cobrem o conjunto do corpo. Ligam
os órgãos e os membros, comunicam alto e baixo, superfície e interior, regulando o

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funcionamento de cada parte do corpo e nas quais regulam o Qi e o sangue
(Auteroche, Navailh; 1992).
Na MTC não existe diagnóstico através de dosagens laboratoriais, sendo
apenas levado em conta os sintomas observados na lingua e no pulso, sintomas
relatados pelo indivíduo e observados pelo terapeuta. (Auteroche, Navailh; 1992).
A partir do diagnóstico determina-se o princípio de tratamento e os
acupontos coerentes ao indivíduo e a sindrome relacionada.

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2. OBJETIVO

Avaliar os efeitos da acupuntura no metabolismo lipídico através de


determinações bioquímicas do colesterol total e frações, em um paciente
hipercolesterolemico com aumento limítrofe de LDL-C.

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3. MÉTODOS

3.1. Tipo de pesquisa


Trata-se de um estudo de caso, sendo esta pesquisa de caráter descritivo.

3.2. Participante
Sexo feminino, 31 anos com peso aproximado de 58Kg e 1,65m de altura,
com histórico familiar de hipercolesterolemia, porém sem histórico de DAC. Por
recomendação médica fez dieta, mas não obtendo diminuição necessária do
colesterol, o médico receitou sinvastatina 20 mg por dois meses mas sem atingir
níveis desejável de colesterol. Paciente sedentária com alimentação discutível,
porém evitando o excesso de gorduras saturadas.

3.3. Instrumento e Análise de Dados


Paciente passou por anamnese através de questionário, observação da
língua e avaliação do pulso (Anexo I). A inspeção da língua é a primeira etapa para
o diagnóstico sendo relacionado o aspecto da língua com o estado de saúde dos
órgãos e vísceras (Auteroche, Navailh; 1992). Detectada a síndrome, foram
selecionados os pontos específicos para o tratamento.
Durante todo o tratamento composto por 20 sessões distribuídas no período
de quatro meses, a paciente foi acompanhada por avaliação de pulso e língua e
mais três coletas de sangue sendo: pré, após 3 meses e a última pós tratamento.
As determinações de colesterol total, HDL-C, triglicérides foram realizadas
em soro coletado após jejum de 12 horas.
O colesterol total e os triglicérides foram pelo método colorimétrico-
enzimático, com kit comercial Labtest (Labtest, Santa Lagoa, MG, Brasil). O HDL-
colesterol foi determinado pelo mesmo método usado para o colesterol total, após a
precipitação das lipoproteínas que contém apo B (VLDL e LDL) pelo kit comercial
Labtest (Labtest, Santa Lagoa, MG, Brasil).
O VLDL-C e o LDL-C serão calculados pela fórmula de Friedewald [VLDL =
triglicérides /5; LDL = colesterol total – (HDL + VLDL)] (FRIEDEWALD; 1972).

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4. RESULTADOS
Com a avaliação do questionário encontrou-se os sintomas a seguir:
- olhos secos, fotofobia, olhos vermelhos
- Pele seca
- sangramento gengival, herpes labial
- TPM muito acentuada, com dores de cabeça frontal
- Ciclo menstrual normal, porém se altera por variações nas emoções; cólica forte
antes e durante a menstruação.
- Não apresenta secreção vaginal
- Muita oscilação emocional (irritada, ciumenta, possessiva, ansiosa)
- Suor noturno na região da cabeça e peito
- Apetite um pouco aumentado, sonolência após almoço, estagnação de alimento
mais quando está no trabalho, eructação; janta por volta das 22:30 h, pois estuda a
noite.
- Opressão no peito, suspiros
- Fezes uma vez ao dia
- Sonhos; acorda no meio da noite (=/- 3 hrs da manhã) para urinar.
- Bebe pouca água, mas urina bastante; criou o hábito de beber água, potanto ingre
sem sede
- Boca seca; pigarro
- Dores nas pernas ao final do dia com inchaço pulsante, câimbras, pés e mãos frias
- Quando criança teve anemia

Língua:
- Corpo pequeno
- Saburra fina e branca, sem umidade
- língua de textura áspera
- Sem saburra nas laterais
- Possui um degrau nas laterais, sendo o centro mais inchado
- Tremor
- Um pouco pálida

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Pulso:
- Direito maior que esquerdo
- Profundo maior que superficial
- Fino, profundo
- Acentua-se a 2° posição (Baço, Fígado, Vesícula Biliar)

Hipótese diagnóstica: Estagnação de Fígado, calor no estômago, deficiência


de liquidos, deficiência yin do Fígado, deficiência Yin. Mucosidade por deficiência de
liquidos , calor gerado no Fígado.
Para o tratamento usou-se diversas técnicas durante o período destacando-
se principalmente a fluidificação da mucosidade (sedação do E40), estagnação do
Fígado (harmonização: F3/IG4; CS6/F3;), deficiência de sangue do Fígado (
tonificação do F8), tonificação do Baço (E36, VC12), calor no Estômago (E44),
tonificação do Yin (R6, VC4), para acalmar a mente (Ying tang), estagnação do tórax
(VC17). Foram alternados com pontos dorsais, pois trata-se de síndrome crônica
(B17, B18, B47, B20). Foi usado em algumas sessões TA6 em sedação, pois a
paciente queixou-se de dor no meridiano do Triplo Aquecedor e estava
desenvolvendo herpes labial, após o uso deste ponto observou-se uma involução da
herpes, não apresentando vesíluas provenientes do ciclo do vírus e sem a
necessidade de uso do medicamento para esta patologia.

Tabela 2 – Perfil lipídico pré e pós tratamento


PRÉ APÓS 3 MESES APÓS 4 MESES
Colesterol Total 260,0 240,0 225,0
HDL-C 80,0 79,0 69,0
LDL-C 171,0 148,0 142,0
VLDL-C 9,0 13,0 14,0
TG 44,0 66 69

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Tabela 3 - Valores de referência para perfil lipídico:
ÓTIMO DESEJÁVEL LIMITROFE ELEVEDO
Colesterol-T <200 mg/dl = ótimo 200 a 239 mg/dl = >= 240 mg/dl = Alto
Limítrofe

HDL-C >= 40 mg/dl

LDL-C < 100 mg/dl = ótimo 100 a 129 mg/dl = 130 a 159 mg/dl = 160 a 189 mg/dl = Alto
Desejável Limítrofe

TG < 150 mg/dl = Ótimo 150 a 199 mg/dl = 200 a 499 mg/dl = Alto
Limítrofe

Observou-se redução de 14% da LDL-C após tratamento de 4 meses e seu


nível, de acordo com os parâmetros de referência, passou do alto para limítrofe.
Paciente relatou melhora na excreção intestinal de uma vez ao dia para até
três vezes ao dia, com aspecto relativamente bom, sendo algumas vezes mais
densa ou mais pastosas; na digestão apresentou melhora, e também em relação a
sonolência após o almoço. As dores na perna e o sangramento gengival
desapareceram. A TPM e cólicas, não aconteceram todos os meses, sendo o último
mês sem sintomas. As variações desses sintomas estavam ligados diretamente com
as oscilações do estado emocional.

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5. DISCUSSÃO

Para o tratamento desta paciente, pensou-se primeiramente no equilíbrio do


estômago e junto com isso fluidificar o muco e mover o Qi estagnado para que com
isso ocorresse o equilíbrio do metabolismo das gorduras. Durante as sessões foram
incluídos a tonificação do yin geral e também a tonificação do yin do Fígado, pois o
consumo dos líquidos corresponde ao consumo de yin, tanto do Fígado quando
geral.
Este ressecamento dos fluídos inclui a necessidade de equilíbrio do Baço,
pois sua função é de transporte e transformação dos líquidos (Auteroche, Navailh;
1992). Neste caso, encontrou-se uma deficiência de líquidos (de natureza yin) por
fogo gerado pela estagnação de Qi do Fígado que consequentemente consome o
yin do Fígado consumindo depois o yin geral. A deficiência dos líquidos corpóreos
pode ter início na deficiência yin do estômago, pois é no estômago a origem dos
fluidos corpóreos. O calor no estômago precede o padrão de deficiência do yin, que
impede a boa absorção dos líquidos (MACIOCIA G, 1996).
Os acupunturistas experientes, entendem o colesterol ou qualquer elemento
bioquímico do sangue por mucosidade, porém essa informação não é encontrada
nos livros nestes termos. Neste trabalho, todo tratamento foi direcionado
principalmente na fluidificação das mucosidades, utilizando o ponto 40 do canal do
estômago, mesmo ponto utilizado por Zhou at al. (2008) em ratos
hipercolesterolêmicos que obteve efeito redutor da LDL-C semelhante ao tratamento
com Pravastatina, correlacionando colesterol como mucosidade. A mesma
semelhança foi encontrada na paciente deste estudo que fez uso de estatinas
durante 2 meses reduzindo o LDL-C em torne de 13% e após 8 meses sem
intervenção medicamentosa iniciou-se o tratamento com acupuntura que após 4
meses reduziu em 14% a taxa do LDL-C.
Ficker at al (2007) também demonstrou redução da LDL-C em 13%,
submetendo pacientes hipercolesterolêmicos a exercícios físicos por 4 meses.
Quanto a redução do HDL-C no último mês de tratamento, observou-se que
ocorreu um retorno dos níveis anteriores ao tratamento com estatina. Esta redução
não compromete o nível ideal para essa lipoproteína.

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É Importante destacar o aumento da excreção intestinal, pois indica o
aumento no metabolismo lipidico, já que é de prática clínica a associação de
medicamentos que auxiliem no sentido da absorção do colesterol biliar e também o
colesterol da dieta, como é o caso do ezetimibe. (IV Diretriz Brasileira Sobre
Dislipidemias e Prevenção de Aterosclerose da Sociedade Brasileira de Cardiologia,
2007).
Portanto podemos verificar que os achados neste trabalho correspondem
com o princípio da MTC que é de equilibrar o Yin/Yang, promovendo homeostase.

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6. CONCLUSÃO
Os resultados deste estudo revelam que a acupuntura reduziu os níveis de
LDL-C para este individuo, porém é necessário trabalhos mais abrangentes, com
grupos maiores, para comprovar a eficácia da acupuntura no perfil lipídico.

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7. REFERÊNCIAS

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1992

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