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DO CREPÚSCULO

Jiddu Saldanha
Herbert Emanuel

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AO
AO OUTRO
OUTRO DIA
DIA
Do Crepúsculo Ao Outro Dia, abre e encerra
múltiplas impressões com considerável econo-
mia lingüística, e representa, em estilo seme-
lhante ao hai-kai, a própria trajetória da vida
através de fortes metas-foras. O poeta perce-
be e expressa com maestria, a qualidade
atemporal deste ciclo contínuo, regido pelas
forças ying e yang, sol e lua, onde todos os
seres são meros personagens – personas
distantes.

Uma das marcas desta obra é o frescor do


primeiro olhar do poeta e o dinamismo com
que pinta estes flashes, aguçadas piscadelas
de frações de segundos – sempre bem focali-
zadas. O eu-lírico aqui é quase inexistente, e
o poeta assume uma visão distanciada, con-
seguindo com isso fortalecer o caráter
staccato da obra. O leitor é levado a todos os
lugares e a lugar nenhum, é atirado e retirado
de cena com a mesma facilidade.

Estes são poemas-em-cena, fotografias com


cor, cheiro, vida e movimento – onde a conci-
são e a coesão marcam o ritmo pulsante, e a
disposição do poema na página funciona
como uma pequena janela, um convite ao
leitor curioso para espiar e entrar neste mun-
do mágico e caleidoscópico do poeta, para o
qual o caráter inefável da vida não representa
obstáculo.

Laiz Chen Capra, doutoranda e professora,


Hispanic and Latin American Studies
Department, University of Nottingham, Reino
Unido.

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DO CREPÚSCULO

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AO OUTRO DIA
Copyright © 2005 by Herbert Emanuel e Jiddu Saldanha
Edição do autor
Concepção visual - Herbert Emanuel e Jiddu Saldanha
Ilustrações - Jiddu Saldanha
Fotos dos autores - Christianne Rothier
Revisão - Adriana Abreu
Editoração eletrônica - Chris Duarte
Produção Gráfica, Design e Edição - T’AI Editora Digital
1ª edição - setembro de 2005

Edição de 1000 exemplares

Herbert, Emanuel
Do crepúsculo ao outro dia / Herbert Emanuel, Jiddu
Saldanha; revisão Adriana Abreu; editoração eletrônica Chris
Duarte; prefácio Carlos Nejar; apresentação Cristiane
Grando; Rio de Janeiro: Edição do autor, 2005.
16cm, 112p. : il.

ISBN: 85-905540-1-5

1. Poesia brasileira. 2. Poesia. I. Saldanha, Jiddu. II. Título.

CDD B869.5

Fotolitos e impressão Marques Saraiva Gráficos e Editores


Fonte utilizada Tahoma no corpo 12/14, Papel do miolo Pólem Print 120g
e da capa cartão supremo 250g

Impresso no Brasil
2005

Todos os direitos reservados aos autores.


A reprodução não autorizada por escrito, no todo ou em parte,
por quaisquer que sejam os meios, constitui violação das leis em vigor.

jidduks@uol.com.br
herbertemanuel@uol.com.br

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Herbert Emanuel

Jiddu Saldanha

DO CREPÚSCULO AO OUTRO DIA

Apresentação de Cristiane Grando


Prefácio de Carlos Nejar

Rio de Janeiro / Macapá / 2005


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para lara e andaraluna
mi sol
mi luna

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ÍNDICE

LÂMINA E PLUMA – 18 a 75

DA VIDA... RUMORES – 77 a 88

DESASPEREZAS DO DIA – 91 a 98

DO CREPÚSCULO AO OUTRO DIA – 101 a 111

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Apresentação

Palavra e Silêncio

Quem conhece Jiddu Saldanha sabe da


existência da querida e instigante Mala da Fama. A
cada dia, ela oferece um novo dado ao mundo, e
do crepúsculo ao outro dia, um outro artista: Herbert
Emanuel. Palavra e silêncio. O dizer e o escutar:
dois lados essenciais da (con)vivência humana. O
silêncio da página que se impõe entre um haicai e
outro; a palavra que carrega múltiplos significados.
Todo um universo de fábulas, experiências que
guardamos em nossa memória-bagagem – ou em
nossa própria mala – evocadas em apenas quatro
substantivos: “a cigarra e a formiga / uma viola / a
cantiga”. Ou lembranças de dias perfumados de
tangerina. Ou ainda, o que é tão comum em nossas
vidas, a presentificação de outras épocas em fotos e

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retratos que habitam as casas: “o passado espia /
na parede do quarto / velhas fotografias”. Nestes
tempos de correria e de guerras (não apenas entre
países), a concisão e o branco da página sugerem
espaços meditativos para o repouso e a reflexão.
Dois artistas compartilham experiências sensíveis,
falam e ouvem ao mesmo tempo, cedem o lugar
um para o outro. O sol aquece a amizade e os haicais
que Jiddu e Emanuel criaram. E ambos
generosamente abrem espaços para o leitor
desfrutar, na pronúncia de cada palavra, o céu
imenso.

Cristiane Grando
Poeta, fotógrafa e tradutora
Doutora em Literatura (USP)

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Prefácio

Livro que Dança

Quando há o encontro criativo de um Jiddu


Saldanha - poeta e um dos mais admiráveis mímicos
que conheço e o bardo do Amapá, Herbert Emanuel
- essa fusão é mágica, ainda mais sob a forma de
hai-kais que são poemas desenhados . Ou no caso,
são móbiles que se agitam no tanger do vento,
entre a sensibilidade do que pensa e o pensamento
do que sente. Momentos preciosos de iluminações
poéticas, onde não se consegue saber o que nasce
de um ou de outro, como se tudo nascesse apenas
da Poesia . Jiddu transpôs sua mímica - agora de
palavras - trazendo à baila um pouco do teatro chinês
primitivo e Herbert - acostumado às inventações -
com tendência à figuração nalguns poemas, agora
se realiza na simplicidade e no esplendor. Vejam os
leitores, estes instantes antológicos . Cito alguns
deles, que refletem os movimentos de um livro de

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gravuras que dança, com muito de infância, onde
se esconde o poema e de graça, onde se oculta a
dança: “entre os livros / na prateleira/ um girassol
de madeira”...”ao lado do sapo/a pedra / coaxa”...
“aranhas tecem/ao relento/ arames de vento” . ..”sol
a pino/solta a pipa/ o menino”...O título : DO
CREPÚSCULO AO OUTRO DIA - são estes estranhos
materiais de sonho, estes móbiles de silêncio e
agudeza. O grande abraço do Carlos Nejar

Carlos Nejar
Poeta, ficcionista e crítico
da Academia Brasileira de Letras

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Nota dos Autores

Nossa Haikaika

Concisão, condensação e simplicidade são os


conceitos básicos do Hai-kai. Isto se fosse possível
conceituá-lo. Fazemos nossas as palavras do Poeta
Octavio Paz:“as possibilidades de alcançar a
compreensão integral do Hai-kai são tão utópicas
que a tarefa de tentar sua explicação deve equilibrar-
se com as desculpas que esta pretensão supõe.”
Talvez a melhor maneira de explicá-lo seja a da
analogia. O Hai-kai é uma fotografia tirada por uma
máquina fantástica, que batizamos de Haikaica.
Diferente de qualquer Yashica, esta máquina é a
única que fotografa pensamento, por fora e por
dentro, numa interação jamais alcançada entre foto
e fotógrafo. Todos nós, de certo modo, possuímos
esta máquina dentro da gente. Mas isto não significa
que é fácil acioná-la. Como qualquer aparelho e/ou
instrumento requer um aprendizado. Embora até
possua um manual de instrução, se pensarmos nos

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10 mandamentos do hai-kai de H. Masuda Goga,
isto não facilita muita coisa. Mas, uma boa dosagem
de disposição poética ajuda. Movidos por essa
disposição é que resolvemos operar nossa Haikaica.
Vale frisar que – sendo de fabricação autenticamente
nacional – os resultados obtidos são bastante
diferentes daqueles operados por uma Haikaica
oriental. E não poderia deixar de ser. De modo que
podemos denominar estes poemas de hai-kai,
haiquase, tercetos, poeminhas, etc. Isto não tem
muita importância. O que desejamos mesmo é que
o leitor, ao recriá-los na leitura, possa ativar também
sua própria Haikaica.

Herbert Emanuel/Jiddu Saldanha

______________________
* O Livro dos Hai-Kais, Prefácio de Octavio Paz. Tradução de Olga
Savary. Massao Ohno Editor, São Paulo, 1987.

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Agradecimentos especiais

Ruben Bemerguy
Eliana Maria de Oliveira
Ana Lúcia Valente Oliveira
Teresa Catarina
Sonia Mara Saldanha Bach
Dalmo Saraiva
João de Abreu Borges
Grupo Poesia Simplesmente
Ademir Bacca

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LÂMINA

19
E PLUMA
20
ao lado do sapo
a pedra
coaxa

21
na bananeira
a aranha caranguejeira
descasca sua teia

22
sob a nuvem
plumas de seda
gotas de algodão

23
flocos de vento
a polpa dos dedos
na aroeira

24
entre os livros
na prateleira
um girassol de madeira

25
sol a pino
solta a pipa
o menino

26
família
nos olhos da mãe
o sorriso da filha

27
agora é que são elas
comer mingau
sem as tigelas

28
silêncio nos trópicos
os sons tropeçam
na noite

29
na falta do amigo
sua saudade
anda comigo

30
desoriente
o hai-kai
na sua mente

31
o amigo foge
mata a dentro
perseguido por rios

32
dói-me os dedos
colibri na verruga
agulha a vista

33
sobre o prato de sopa
teu olhar de seda
carrega montanhas

34
vôo singelo
a garça sente
as asas do vento

35
toda manhã adormeço
cansado da noite que me deste
presente de Eros

36
sinto o cheiro de jasmim
aguardo o luar
beber água por mim

37
tangerinas
na casa ao lado
o dia todo perfumado

38
a cigarra e a formiga
uma viola
a cantiga

39
o universo
no buraco negro
todo segredo

40
sim, sou poeta
eu tenho meta
-fora!

41
ameixas ou melão
ame-os
ou não

42
escrita secreta:
o poema devora o leitor
esquece o poeta

43
crisamanheço
olhos plenos
uma lágrima

44
emerge o sol
do rio
banho matinal

45
sol nas veias
sobre o trapiche
cascas de sereias

46
no canto da boca
pingos d’água
a chuva quer beijar

47
andorinhas no céu
voando: um bando
de papel picado

48
velha cadeira
de balanço:
a memória se embala

49
está errado
tão certo assim
só deste lado

50
céu imenso
o sol aquece
o silêncio

51
semente e sal
o jorro da água
barulho de conchas

52
meu coração
sangra as flechas
cravadas no lodo

53
aqui chuva cai
um poço profundo
engole o cais

54
em macapá o paraná
semeia botos
cachoeiras gozam

55
a mata densa
prensa as nuvens
por pura estética

56
lavra a terra
a gota de sêmen
se recupera

57
lá uma tapera
ali uma maloca
aqui curitiba

58
frutos de pomar
o poeta pinta
com o nariz

59
pálbebras
ondas sobre
o mar de vidro

60
o passado espia
na parede do quarto
velhas fotografias

61
a noite acabou
o beijo de tua boca
na minha ficou

62
e se ali
se no espelho
se deliciasse?

63
os frutos da aroeira
bem pequenos
aguçam as vespas

64
no amor e na guerra
louras, morenas, negras
perfumam a atmosfera

65
geada no jardim
lua de julho
dentro de mim

66
o orvalho desconversa
entre fumaça e charco
tropeça o poeta

67
tesoura a postos
caranguejo alfaiate
enfeita a fronha

68
se estrelas fosses
perderia as noites
a contá-las

69
ágil reajo
antes de me tornar:
frágil!

70
por um triz
não te fiz com giz
uma cicatriz

71
fim de tarde
entre as nuvens
a lua espia o crepúsculo

72
ledo engano
minha gata siamesa
apanha o pássaro de pano

73
andorinhas e pipas
no céu: o verão
quer brincar

74
lá fora: entra
aqui dentro: sai
o hai-kai

75
76
DA VIDA

77
RUMORES
78
pedras porosas
guardam
o segredo da pérola

79
cardumes de peixes
sob a estelar figura
carregam os frutos

80
sob o céu de anêmonas
outros seres marinhos
protegem sua cria

81
vestígios de árvore
(de)existem
à beira do rio

82
búfalos
no pasto
ruminam o verde

83
aranhas tecem
ao relento
arames de vento

84
num rasante
o gavião apanha o pássaro
harmonia da vida

85
a coruja espreita
andorinhas em alvoroço
a vida por um fio

86
garças na mangueira
pousadas
flores copo-de-leite

87
marimbondo na grama
alarme entre insetos
rasantes de pardais

88
89
90
DESASPEREZAS

91
DO DIA
92
palavras colidem
sons e sombras
numa gruta

93
brisa de silêncios
reanima
nossa escuta

94
diálogo entre nós?
o dia logo
se acaba

95
sob branca penumbra
tuas mãos pequeninas
roçam minha pele: carícias de seda

96
na pedra úmida
caramujo desliza
a lama fica alva

97
lua nova
velhos amigos
até o vento conversa

98
99
100
DO CREPÚSCULO

101
AO OUTRO DIA
102
lua branca
rua cinzenta
as sombras querem se misturar

o sol já posto
ainda há gotas de raios
lambendo as formas

mãos se abandonam
outras resistem
ao cio ao ócio ao riso

103
nuvens esgarçam-se
borboletas pousam no meio fio
olhares se atropelam na calçada

sombras se renovam
folhas brancas
uvas sobre a mesa

gestos pueris ou tediosos


manhã em família
voragem frugal

104
sol a pino
rente à porta
um homem se aproxima

rouba do espelho
a frase exata
aviso aos que já vão longe

um ranger de folhas
celebra a tarde
sinais de outono

105
ainda a pino
o sol sopra
nuvens a caminho

passo a passo
personas distantes
sapatos pisam poças

os pés presos
na solidão
de cadarços

106
dia entardecendo
o sol afoga-se no rio
a água reacende a flor

nuvens
nenúfares
que alçaram vôo

em casa despe-se o silêncio


pratos fazem festa
bocas beijam-se de vinho

107
anoitece
sombras reaparecem
no sono

ruído miúdo na janela


um grilo perdeu-se no caminho
de ida para as estrelas

no sonho
um corpo de mulher nua
lambido por gatos

sombras florescem
na parede
cinema fantástico

em casa
acúmulo de anil
no sabor do pão

108
na rua
restos de noite
trocam olhares furtivos

lembranças perdidas
afogam-se na memória
de mentiras eternas

fluxos opacos
correm pelas bordas
do meio fio

já não há guitarras
apenas lanternas
cenas distantes

desenhos úmidos
de cores secas
solidão

109
paris não é aqui
nem berlim
nem nova york

um tom de ocre
convém agora
dos topos da áfrica

rói o gosto do mito


vomita sedas
e néons encantados

não se aferra a nada


nômade em sua
própria morada

110
sem céu venusino
ou sombra dedirrósea
que proteja

de agosto a outubro
que seja plectra tarefa
pedra sobre a voz

finda a tarde
despe-se o sol de sua gravidade
do crepúsculo ao outro dia

111
OS AUTORES
Herbert Emanuel
Herbert Emanuel
nasceu na cidade de
Macapá, no Estado do
Amapá, no dia 20 de
Fevereiro de 1963.
Mudou-se para Belém
no final de 1976, ali
residindo até 1989. A
maior parte de sua
formação escolar e
literária deu-se nessa
cidade. Formado em
Filosofia pela UFPA,
em 1987. Em 1989,
ministrou as disciplinas Filosofia da Educação I e II, no
antigo Núcleo da Universidade Federal do Pará, em
Macapá.
Dez anos depois, lançou seu primeiro livro, intitulado Nada
ou quase uma Arte, com apresentação do poeta gaúcho
Carlos Nejar. Em 1998, lançou, em parceria com o artista
plástico e mímico Jiddu Saldanha, Cartões Poéticos.
Alguns poemas seus estão incluídos na Antologia Poética
Poesia do Grão-Pará, 2001, com seleção e notas de
Olga Savary.
Há mais de 10 anos vem atuando como consultor e
palestrante, falando sobre temas relacionados à arte, à
cultura, à educação, à ecologia, dentro e fora do Estado
do Amapá. Possui artigos publicados em vários jornais
do Estado sobre temas artísticos, literários, filosóficos e
culturais. Atualmente, está preparando 3 (três) livros de
poemas, intitulados ISTO, RES e DESASPEREZAS, e um
livro de ensaios – Guarda-chuva Paradoxal.

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Jiddu K. Saldanha,
Jiddu Saldanha
nasceu na cidade de
Curitiba – PR, em 03
de Janeiro de 1965.
Começou sua ativi-
dade em poesia a
partir de 1992
quando ajudava o
poeta SAMARAL na
produção do fanzine
URBANA.
Em 2001, criou o
evento Poesia na
Quarta Capa, reali-
zado com sucesso no Espaço Cultural Constituição, no
centro histórico do Rio de Janeiro.
Os poemas de Jiddu estão circulando pelos seguintes
meios:
- internet
- Jornal RioLetras.
- Coletâneas 1095 dias de Poesia (2003) e 1825 dias de
Poesia (2004), do grupo Poesia Simplesmente, Cinco
Poetas em Amostra Grátis, antologia organizada por
Rodolfo Muanis e Ponte de Versos, Uma Antologia
Carioca, da Editora Ibis Libris, 2004.
Jiddu é conhecido nacionalmente como mímico teatral,
atividade que exerce desde 1988 e por pesquisar a

117
história dos mimos brasileiros. A mímica e a poesia estão
visceralmente interligadas em sua atividade artística.
Apresentou-se em alguns dos mais importantes eventos
literários do país, tais como:

- Congresso Brasileiro de Poesia, em Bento


Gonçalves - RS
- Bienal Internacional do Livro - RJ
- Jornada Literária de Passo Fundo - RS
- Feira do Livro de Porto Alegre - RS
- Bienal de Campos - RJ
- Encontro de Educação da PETROBRÁS - SP
- Semana das Artes de Cerquilho - SP
- Festa Literária de Paraty (FLIP) - RJ - Circuito Off

Sendo também artista plástico, Jiddu já participou de


exposições no Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul,
tendo algumas de suas obras circulando em forma de
calendário, cartões postais e pôsteres. Em 2001 lança
o projeto de arte conceitual Mala da Fama, que foi
adotada como objeto símbolo do grupo de artistas
Demóticos, que tem como base a democracia nas artes
e a inclusão cultural, do qual Jiddu participa como um
dos articuladores.

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Os poemas curtos desse livro trazem os
poderes balsâmicos da palavra certa na hora certa,
como no pêndulo oriental. Em alguns momentos
parece que ouvimos o farfalhar das folhas no
bambuzal, quando o sol aquece o silêncio e as
andorinhas voam como papéis picados... Uma
seleção inspirada de hai-kais de dois autores que
transformam o cotidiano em poesia. E vice-versa.
Toninho Vaz
Poeta, biógrafo de Paulo Leminski

MADE IN BRASIL

Estes hai-kais não têm nada a ver com o


Japão, são antes uma mistura suave entre o Norte
e o Sul do Brasil. Sabe esses livros que te
acompanham a vida inteira, que de vez em
quando a gente abre ao acaso para saborear como
um licor raro que se derrete entre os lábios? Taí
um livro assim, leve e delicado como um coral de
estrelas cantando à luz do luar. Ou vocês acham
que as estrelas não cantam? Pois quem ler estes
poemas jamais dirá que são mudas. E não precisa
ser nenhum Bilac apaixonado para poder ouvi-
las.

Mano Melo
Poeta

“Inspirados no gênero haicai, Herbert Emanuel


e Jiddu Saldanha brindam o
público com um excelente livro de poesia
minimalista. Destaque para a parte
final, em que os tercetos se entrelaçam,
permitindo que sejam lidos tanto
como haicais independentes quanto como
poemas de maior extensão.”

119Ricardo Alfaya, 1953, poeta e prosador


carioca
Flashes de interiores; iluminuras; haicais - o único gênero
no qual, segundo Barthes, a língua descansa do sentido
lógico-formal para retomar o fôlego; fotogramas; tercetos
- poesia minimalista; o aflorar do sensório reflexivo; ima-
gens cuja escuta movimenta o agir poético. Para nós oci-
dentais, herdeiros de Platão, Aristóteles e Sócrates, difícil
essa desconcatenação entre a percepção e o julgamento de
valores, esse exercício de cinema dentro da literatura. Jiddu
Saldanha e Herbert Emanuel, planando a dinâmica do mo-
vimento, transcriam cenas surpreendentes, e, abrindo asas
imagéticas, captam a linguagem em pleno vôo”.

Leila Míccolis
poeta, escritora de cinema, teatro,
televisão e co-editora de Blocos Online.

Patrocínio Cultural

Ruben Bemerguy

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