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edi ic f
EDIÇÕES FIC
Cataguases - 2007
Direitos reservados 2007 Joaquim Branco Ribeiro Filho, Felipe Fritiz de
Carvalho e Roberto Júlio Gonçalves Corrêa
Agradecimentos especiais:
Pedro Paulo A. Almeida e
Ana Paula Mendonça da Costa
Apoio Cultural:
ZOLLERN TRANSMISSÕES MECÂNICAS LTDA
CASA DE CULTURA SIMÃO
Cataguases MG
Abertura e proposta............................................................... 07
1 - Nasce uma revista ............................................................ 09
1.1 - Catalogação dos números da revista............................... 20
1.2 - Participantes e colaboradores......................................... 25
1.3 - Cartas de aconselhamento.............................................. 25
1.4 - Repercussão interna e externa........................................ 29
2 - Francisco Marcelo Cabral................................................ 33
2.1 - Autobiografia mínima.................................................... 33
2.2 - Avaliação da obra........................................................... 37
2.2.1 - Artigo de Joaquim Branco.......................................... 44
2.2.2 - Artigo de Felipe Fritiz................................................. 46
2.2.3 - Artigo de Ronaldo Cagiano ........................................ 49
2.2.4 -. Artigo de Ricardo Alfaya........................................... 51
2.2.5 - Artigo de Ronaldo Werneck........................................ 53
2.2.6 - Artigo de Antônio Jaime Soares.................................. 54
2.3 - Lina sobre Cabral ......................................................... 56
2.4 - Auto-avaliação ............................................................. 62
2.5 - O poeta e sua cidade...................................................... 65
2.6 - Textos selecionados do autor.......................................... 67
3 - Lina Tâmega Peixoto...................................................... 71
3.1 - Biobibliografia.............................................................. 71
3.2 - Avaliação da obra.......................................................... 72
3.2.1 - Artigo de Joaquim Branco........................................... 73
3.2.2 – Artigo de Roberto Júlio.............................................. 75
3.2.3 - Artigo de Álvaro Alves Faria...................................... 77
3.3 - Cabral sobre Lina......................................................... 78
3.4 - Auto-avaliação............................................................... 80
3.5 - A poeta e sua cidade........................................................ 81
3.6 - Entrevista ....................................................................... 84
3.7 - Textos selecionados da autora......................................... 86
4 - Meia-Pataca vista de hoje................................................... 89
5 - Referências bibliográficas................................................. 91
Anexo 1 - Correspondência.................................................... 94
Anexo 2 - Cronologia cultural dos anos 1940........................ 101
Anexo 3 - Iconografia............................................................ 105
6
ABERTURA E PROPOSTA
No dia 17 de junho de 1948, vinha à luz o primeiro número da
revista Meia-Pataca , que refletia o movimento de três rapazes e
1
____________________
1
Meia-Pataca é uma referência ao riacho que corta parte da cidade de
Cataguases. O nome deve-se a um evento histórico: um desbravador do
século XIX encontrou nesse riacho meia pataca de ouro.
7
Nesta pesquisa, a escolha do tema “revista Meia-Pataca” se
deu pelo fato de tratar-se de um evento local – o surgimento de
uma publicação literária em Cataguases, uma pequena cidade
do interior mineiro; pela projeção cultural alcançada pelo seu
aparecimento; e pelos frutos colhidos posteriormente, ou seja, a
consolidação dos nomes de dois de seus membros – Francisco
Marcelo Cabral e Lina Tâmega Peixoto – como escritores cujas
obras, escritas no decorrer do tempo, tornaram-se conhecidas e
reconhecidas nacionalmente.
No texto de apresentação da revista, sem assinatura, mas,
segundo esclarece nossa pesquisa, escrito por Lina Tâmega, já
se apresentavam algumas das linhas mestras de direcionamento
do grupo, como o reconhecimento de que faziam parte de um
ciclo histórico que começara com a Verde; a escolha do título da
publicação, identificado ao córrego Meia-Pataca, cuja ligação à
história do município se deu desde a sua fundação; e a abertura
para o recebimento de colaborações de outros partes do país,
desde que de qualidade. O texto termina com referências a
Francisco Inácio Peixoto, Rosário Fusco e Marques Rebelo,
escritores amigos, incentivadores e críticos que apararam as
arestas e deram orientação durante toda a fase do movimento,
como comprovam as diversas cartas e bilhetes recebidos pelos
editores-organizadores.
Na garimpagem e seleção do material pesquisado, exibimos
opiniões críticas de autores consagrados como Carlos
Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Guimarães Rosa e
outros, que recepcionaram positivamente o trabalho de Lina e
Cabral, dos quais mostramos alguns poemas, especialmente os
de homenagem à cidade.
Na conclusão, apresentamos um balanço do trabalho
realizado, com um saldo positivo em que se salienta a
experiência colhida e o esforço da direção das Faculdades
Integradas de Cataguases, notadamente o Neppid, núcleo de
pesquisa que possibilitou a abertura para o início e
concretização desta obra acadêmica.
8
1 - NASCE UMA REVISTA
A revista Meia-Pataca, em sua curta existência, teve apenas
dois números, publicados em 1948 e no ano seguinte, mas a
repercussão que desencadeou e o saldo que, no decorrer do
tempo, apresentou, propiciando a Francisco Marcelo e Lina
Tâmega a sua realização como escritores, justificam sua
trajetória.
Uma entrevista de Lina Tâmega para o “Caderno C” do
jornal Cataguases, intitulada “Prazer e mistério de criar uma
revista”, é a melhor radiografia do que foi a revista Meia-
Pataca em várias de suas acepções, já que, segundo essas
pesquisas, trata-se da responsável pela editoria propriamente
dita da publicação. Vamos reproduzi-la integralmente, pois os
pormenores citados pela poeta respondem muitas perguntas
sobre o desenvolvimento de seu trabalho.
10
Queria que ele mandasse correspondência de fulano, de
sicrano, como eu te contei aqui. Que o Santa Rosa fizesse a
capa da revista e fosse uma coisa muito bonita, que o
logotipo fosse escolhido, dando depois um recadinho
bonito a ele.
JB – E a Cecília Meireles?
LT – Bom, a Cecília é o seguinte. Quando eu estava
conversando com o Marques a respeito da revista, o
Marques falou assim: – Oh Lina, vê se a Cecília, você que
gosta muito dela, tem alguma coisa para contribuir. O
telefone dela é X. Me deu o telefone. Quando eu estive no
Rio liguei para ela e ela disse: – Não, vem aqui conversar.
Eu até achei ótimo. Aí ficamos lá de papo, tomamos um
chá. E depois ela disse: – Não, eu quero que você volte
outras vezes. Na época eu já estava morando e estudando
no Rio, e ela sempre em contato. Toda vez perguntava
assim: – O que você está fazendo? E eu: – Nada. Que eu não
era boba. Então vamos para a Livraria Livros de Portugal,
depois a gente vai à Colombo tomar um chá etc. Esse
contato foi realmente bom. Uma vez ela me disse: – No
momento, Lina, eu não tenho nada para ser publicado,
porque estou com um livro pronto. Bem, mas na próxima...
Isso foi apenas para desencadear uma ótima convivência e
eu até achava que uma garota daquela idade e ela me dando
confiança..., mas eu achei isso uma maravilha. Foi um
contato realmente bom. Fiz duas faculdades. Uma na PUC
e a outra mais importante foi o contato com Marques
Rebelo, no Rio de Janeiro, com o escritor Manuel
Bandeira, a Cecília...
JB – Ah, você morou no Rio?
LT – É, eu fiz Letras. O Manuel Bandeira, a Cecília, o
Marques, Drummond eram a outra faculdade melhor ainda
que a PUC e mais ainda porque o Ernâni Cidade, que era
meu tio, ainda me escrevia, me mandava livros. Uma vez eu
tinha 16 anos, e ele disse: – Você vai escrever sobre a pena
do pavão. Lá vou eu tic tic escrevendo, escrevia bobice,
devia ser bobice na época, e ele mandou uma carta
arrebentando com o texto. – Isso aí é coisa que qualquer um
faz, você, para falar da pena do pavão, tem que dominar o
pensamento lógico, porque, por exemplo, o Picasso sabe
deformar porque sabe formar e por aí me deu uma carta
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viva de explicação, mandou livros etc. Ele também sobre
essa parte de formação intelectual foi muito importante
para mim naquela idade.
JB – Eu não sabia disso.
LT – Tenho correspondência farta dele.
JB – E o contato com outros grupos?
LT – Outro grupo, quem arrumou foi o Marques também. O
pessoal da revista Sul mandou correspondência. Foi o
Marques quem nos forneceu esses endereços.
JB – E aí, você lembra de algum grupo assim importante?
LT – Não, não houve contatos maiores a não ser assim de
acusar recebimento, etc, não houve contato, não.
JB – Por que a revista só teve dois números?
LT – Porque primeiro era feita artesanalmente. Era uma
coisa “ que a gente” ia para a tipografia e eu ajudava até a
colocar os tipos lá naquela reguinha. Eu não sabia paginar.
Na hora de paginar fazia-se um buraco de repente na
página. Lá vinha o Napoleão: – Lina, tem buraco aqui, o
que se faz? E eu fazia uma notinha depressa para enfiar lá
dentro daquele buraco. Era uma coisa de uma agonia que
você não imagina, a agonia que era para se fazer a revista.
JB – Onde era feita a revista?
LT – Na Tipografia Ribeiro (hoje, Monteiro). O Napoleão
era muito atencioso. Havia também o problema de
financiar esta revista. Eu não queria que fosse utilizado
qualquer papel, eu queria papel cuchê e outras coisas. Para
mandar fazer em linotipo tinha que se mandar para o Rio de
Janeiro. Era tudo difícil, tudo caro, complicado e havia
ainda o problema do prazo. Eu não sei se aqui em
Cataguases fazem isso hoje.
JB – Não, não fazem. Na época do Landois, por exemplo,
antes da Verde, havia tipografias e até clicherias em
Cataguases...
LT – É verdade. Então havia esta dificuldade de acesso em
nossa época e a falta de experiência também (eu não tinha
nenhuma). Para fazer o segundo número de Meia-Pataca
eu fiz mesmo porque eu quis fazer, pois financeiramente
ninguém mais queria dar dinheiro.
JB – Quem financiava a revista?
LT – A maior parte foi a fábrica Irmãos Peixoto que dava o
dinheiro e a gente foi ao comércio também, A Nacional e
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essas outras de anúncio de placa davam um pouquinho.
JB – E como é que o público recebia isso? Era vendida a
revista?
LT – Era dada.
JB – Quantos exemplares?
LT – A primeira edição teve 500 exemplares.
JB – E a segunda?
LT – A segunda foram 250. Nós mandávamos para os
endereços que tínhamos, pelo correio.
JB – Distribuíam aqui por perto alguns?
LT – Distribuíamos, mas não havia, repercussão.
JB – E se fosse vendida?
LT – Ninguém iria comprar, Joaquim. Então era distribuída
gratuitamente. A gente tinha aqueles endereços e eu punha
fitinhas e botava no correio.
JB – Você cuidava da correspondência também?
LT – Cuidava de tudo.
JB – E o Cabral ajudava?
LT – Sim.
JB – O grupo era formado por quantos elementos?
LT – Era formado por mim, por Francisco Cabral, por Chico
Filho (Francisco Inácio Peixoto Filho), e mais tarde nós
chamamos o Luciano Peixoto Garcia.
JB – Mas quem cuidava mais da revista era você?
LT – É, porque eu ficava mais aqui.
JB – O Chiquinho não estava aqui, estudava num colégio
em Leopoldina.
LT – Ele fez um artigo interessante. Eu até mandei uma
carta para ele. Fico com pena desta carta não ter sido
publicada, Joaquim. Porque ali ele dizia que eu era mestra
dele e eu achava que era o contrário, que eu era aluna. Então
havia assim essa situação pendular. Mas de qualquer jeito a
convivência foi muito boa. Eu aprendia com ele, ele
aprendia comigo, diz ele, eu não sei o quê que eu ensinei,
mas ele diz que eu ensinei o ritmo da poesia dele. Mas eu
ficava admirada mesmo com a capacidade técnica do verso
que ele tinha, que na época ele já dominava isso. Eu ficava
assombrada com isso, assombrada. Outro dia, no Rio, ele
falou: – Lina, às vezes eu falava assim, tira isso aqui. Não
esse aqui, essa palavra é importantíssima. E eu achava que
depois era. Era uma coisa assim, foi mais como um jogo
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lúdico, uma coisa lúdica literária, foi isso. Aquele prazer de
criar, foi um mistério gozozo fazer aquela revista. Falando
nisso, um dia que eu cheguei à noite e fiquei lá até sete da
noite na tipografia do Napoleão e o primeiro exemplar
ficou pronto e eu levei para casa e eu contemplava aquilo,
achava aquilo, ah! Que filhinho maravilhoso que estava
aquilo! Uma alegria, mas era uma coisa mesmo de
juventude, sabe, como eu falei para você. Um grito de
adolescência.
JB – Bom, depois da revista você foi para o Rio
imediatamente? Quando você foi pro Rio?
LT – Fui pro Rio com 19 anos. Eu tinha 17 para 18 quando
fui parar em São Paulo porque disseram aqui que moça não
podia ir para o Rio estudar sozinha, porque era um horror.
JB – Naquela época o Rio não tinha perigo nenhum.
LT –Aí eu pensei: Ah, vou pra São Paulo. Não vou ficar aqui
em Cataguases, não. Não posso ir pro Rio estudar, então
vou pra São Paulo. Aí fui levando uma carta de
apresentação para o Lourival Gomes Machado, que estava
na Bienal de São Paulo. Ao entregar a carta ao Lourival ele
disse: – Que dia você pode começar? – Agora! Aí comecei a
trabalhar na Bienal. Lá em São Paulo podia ficar.
Engraçado, não é?
JB – Você ficou quanto tempo em São Paulo?
LT – Fiquei mais de 6 meses lá trabalhando na Bienal,
depois eu vim pra Cataguases. Liguei para Maria Julieta
(filha do Carlos Drummond) e falei: – Maria Julieta, eu vou
ter que fazer vestibular, queira ou não queira. E ela disse:
Vem pra PUC, eu estou aqui.
JB – Ah, ela dava aula lá?
LT – Não, ela era estudante, ainda, estava já pra se formar.
Aí fui pro Rio e, na casa da minha tia, falei assim: – Oh,
olha! Eu tô aqui fazendo vestibular escondida. Minha mãe e
meu pai não sabem não. Se você quiser falar, problema seu,
mas ela não falou. Eu fiz, passei e falei.
JB – Que ano era esse em que você começou a faculdade,
50?
LT – Agora você me apertou. Foi 50. Isso mesmo.
JB – Você se formou em que ano?
LT – Foram 4 anos, formei em 54.
JB – Feito isso como é que você chegou a Brasília? Você
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voltou pra Cataguases? Deu aula aqui no Colégio
Cataguases?
LT – Brasília foi em 58. Depois da Faculdade voltei pra
Cataguases. Dei aula em Cataguases, no Colégio
Cataguases. Dei aula de Português e Literatura Brasileira.
JB – E ficou aqui quanto tempo?
LT – Fiquei aqui um ano e pouco; depois fui pro Rio.
JB – Quando voltou pro Rio?
LT – Voltei pro Rio em 57. A Cecília quis vir pra
inauguração do Hotel Cataguases. Quando é que foi a
inauguração do Hotel? A Cecília ligou e disse: – Lina, eu
quero ir a Cataguases na inauguração. Quando é que foi a
inauguração do Hotel Cataguases? Ela foi para a visita de
inauguração. Aí nós viemos de carro com ela. O marido dela
, o Heitor, veio dirigindo. Agora em que ano foi?
JB – Eu lembro da vinda dela aqui.
LT – Na época, nós fomos até o Colégio. Ela já estava
escrevendo o Romanceiro da Inconfidência.
JB – Você era solteira ainda?
LT – Eu era solteira. Ela estava escrevendo o Romanceiro da
Inconfidência e quem financiou o projeto do livro foi o
Juscelino Kubitschek.
JB – Ah, é?
LT – Ele dava o dinheiro para ela mandar buscar
microfilmes na Inglaterra. Você sabe que eu vi? Olha, o
arquivo que ela tinha de microfilme sobre textos...
JB – Oh! Eu não sabia disso não!
LT – É, sim senhor. Juscelino é que pagou pra ela escrever
isso, sabia?
JB – Pô, que pesquisa! Isso vai ser novidade pra muita gente.
Bom, aí depois, então, você casou?
LT – Daí casei em 58 e fui embora pra Brasília, e estou lá até
hoje.
JB – Você deu aula na Universidade?
LT – Quando a Universidade abriu em 62, o Ciro dos Anjos
me chamou pra fazer parte do grupo de professores. Depois
eu saí em 65.
JB – Lá você deu aula de quê?
LT – Eu dava aula de Teoria Literária e Língua Portuguesa.
Eu e a Astrid Cabral éramos assistentes do Oswaldino
Marques. Aprendi muito com ele. Ele é uma pessoa de um
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método, por exemplo: quando o aluno chegava no primeiro
dia de aula, ele apresentava tudo que ele iria aprender no
semestre tim-tim por tim-tim e a bibliografia completa. Era
fantástico! Ele dava a aula maior e eu e a Astrid dávamos as
aulas menores. Mas o Meia-Pataca ficou pra trás, agora...
JB – Não, o que eu quero agora é Brasília.
LT – Bem, aquela era a época da “Redentora” (referia-se à
Revolução de 1964) e, em 65, nós – os professores –
pedimos demissão coletiva.
JB – Ah, então... Isso é muito bom.
LT – Aquele grupo de duzentos e tantos professores, pediu
demissão coletiva, eu também. Aí .... Hoje nós achamos
que deveríamos ter resistido mais.
JB – Você é aposentada pela Universidade?
LT – Não, sou aposentada pelo Sphan. Nós achamos, hoje
em dia, conversando com outros colegas, que a gente fez
um gesto quixotesco, sabe? Que não levou a nada, a gente
saiu, entraram outros professores, a coisa ficou do mesmo
jeito, ninguém tomou conhecimento. Nós devíamos ter
feito...
JB – Pensei que vocês tivessem voltado.
LT – Não, não. Foi todo mundo embora.
JB – E depois da “Revolução”?
LT – Eu só voltei em 72, outra vez pra UnB. Mas, não foi
logo. Depois eu fui trabalhar na Funarte.
JB – Você perdeu esse tempo todo?
LT – Não, eu estava trabalhando na Funarte.
JB – Você logo foi pra Funarte?
LT – Foi ao contrário. Em 60, abriu-se aquela inscrição para
se instalar o Ensino Médio em Brasília. Ensino em Brasília
que não havia, não é? As pessoas iam pra lá, a cidade ia ser
inaugurada e os pais iam levar os filhos e iam estudar onde?
Então houve a montagem do ensino oficial em Brasília.
Houve um concurso em nível nacional, eu estava em
Brasília. Eu sei que nós éramos ao todo, entre professores
primários e de 2º grau, sessenta e quatro. Eu era da CASEB
- Comissão de Administração do Sistema Educacional em
Brasília que pertencia ao Ministério da Educação. O
Ministro da Educação montou esse concurso até que fosse
criada a Fundação Educacional.
JB – Aí depois disso ....
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LT – Então, de qualquer jeito eu estava com emprego. Bem,
voltando à Fundação; então foi criada a Funarte. Depois eu
fui pra Funarte, em seguida para o Departamento de
Cultura da própria Secretaria de Educação. Trabalhei no
Departamento de Cultura, depois me transferi pro Instituto
Nacional do Livro. Olha! Eu andei, rodei um bocado!
Adorei trabalhar no INL, fizemos um monte de projetos,
organizei catálogos de poetas pra Feira de Frankfurt. Fiz o
texto, tudo. Trabalhava com o Wladimir Murtinho que era
um louco, mas fazia coisas. Ele dizia assim: – Olha! Estou
pensando isso, isso e isso. Outro trabalho muito
interessante que a gente fazia lá era dar pareceres, receber
originais, foi ótimo. O contato com escritores era muito
bom. Para terminar o ano, o INL com o Collor, lembra? O
recado que eu recebi do diretor, que a gente chamava
interventor, era parar na vírgula. Manda dizer pra Lina pra
ela parar na vírgula.
JB – O que é parar na vírgula?
LT – Parar na vírgula. Não tem mais nada. Acabou.
JB – Isso foi na época do Collor?
LT – Foi. Ele acabou com o INL. Foi uma coisa estúpida.E
dizer que os portugueses morriam de inveja da gente por
causa do Instituto Nacional do Livro. E ele acabou com
ele...
JB – Dali você foi pra onde?
LT – Dali eu voltei pra Funarte e depois fui requisitada pra
trabalhar no Gabinete da Éster de Figueiredo, em 83.
Trabalhei no Ministério escrevendo discursos. Deus me
perdoe. Fiquei lá um ano e meio. Quase morri.
Fui parar então no Sphan. Eu tinha uma colega que
trabalhava lá e ela me disse: – Olha, Lina, vai pra lá, que tá
ótimo. Os trabalhos interessantes, você fica com bons
projetos. Eu fiquei organizando a revista do Sphan,
trabalhando também nos projetos especiais e o trabalho
realmente era muito bom.
JB – Você aposentou no Sphan?
LT – Aposentei no Sphan.
JB – Agora vamos voltar aos livros seus? Quando você
editou o primeiro livro?
LT – O primeiro livro foi um drama muito grande, porque o
Marques Rebelo é que organizou, ajudou, sabe? Ele disse: –
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Lina, tem uma editora agora muito interessante chamada
Hipocampo, que faz uns livros artesanais, dirigida pelo
Thiago de Melo e Geir Campos. Tá Bom! Então, mandei
pra eles, lá.
JB – Como é que se chamava o livro?
LT – Algum dia. Foi em 52. Eu já estava no Rio estudando.
JB – E o outro livro? O Entretempo?
LT – O outro livro foi com o Herberto Sales, que você
conhece, que era muito amigo do Marques, que o trouxe
pro Rio de Janeiro. Eu o conheci quando fiz uma palestra
sobre o Marques lá em Brasília. O Herberto foi e depois da
palestra disse: – Eu conheci a Lina na casa do Marques
Rebelo quando eu vim da Bahia . E o Herberto aprovou a
publicação do livro.
JB – Qual editora?
LT – Editora Record. Agora estou com um outro livro, e
não sei se publico. Sou muito preguiçosa....
JB – Está com um livro novo então?
LT – Estou, é de poesia. Vamos ver o que que vai ser, vamos
ver. É isso aí. Eu colaboro muito lá em Brasília. Pertenço à
Associação Nacional dos Escritores e toda terça-feira a
gente se reúne. Nós temos sede própria agora.
JB – Eu participo muito do Boletim da ANE e da Revista de
Literatura.
LT – Eu sei, de vez em quando vejo seu nome naqueles
boletins. E toda terça-feira nos reunimos, temos contato
com os colegas, e às vezes eu falo. É uma atividade a que
faço questão de ir. A Branca Bakaj, a presidente, é uma
pessoa fantástica. Com Astrid Cabral, grande amiga, troco
idéias, cartas, poemas. Trocar é muito bom.
JB – Mas antes você ia falar alguma coisa sobre a Meia-
Pataca.
LT – Quando nós recebíamos algumas correspondências
elogiando a revista era um deslumbramento pra mim. O
Alphonsus Guimaraens Filho mandou uma carta muito
bonita que eu publiquei e um artigo. Nós publicávamos,
mas sentíamos que a receptividade era pouca. Até
conversei com o Marques sobre isso, que a gente mandava
tanta revista e a resposta era pouca. Mas isso acontece
mesmo.
JB – É só dez por cento que chegam. Temos que mandar
18
200 para chegarem 20 respostas.
LT – Isso. Mas as coisas que chegavam foram muito
simpáticas.
JB – Você tem tudo arquivado?
LT – Tenho tudo lá em Brasília. Pelo menos as
correspondências que na época chegavam pra mim eu
guardei. Tenho as cartas que o Marques mandava dizendo
você põe assim, põe assado, a revista deve ter esse formato
de tanto por tanto. O formato da revista, foi o Marques que
deu a sugestão, eu queria que fosse maior. Porque aquilo era
como se fosse uma febre, sabe? Doida pra aquilo sair. Eu
sonhava com as coisas mais estapafúrdias e o Marques lá,
botando água na...
JB – E o negócio foi a água...
LT – Senão estourava. Era uma labareda só.
JB – E o trabalho de vocês na revista? Era mais ligado a
você e ao Marcelo Cabral?
LT – Eu redigia todas as notinhas que tinha que redigir. O
“Cabruxa” (Cabral) também andou redigindo umas para
mim, mas os outros eram só colaboradores como você
falou, não participavam. Quando chegava correspondência,
eu mostrava a eles.
JB – E quanto à paginação, escolha de tipos etc?
LT – Eu escolhia até os tipos dos artigos e também os tipos
das notas que eram diferentes. Tinha que fazer isso tudo.
Aquelas bolinhas que tinham ali eu imaginei: Vamos
colocar umas bolinhas aqui pra chamar atenção das coisas.
JB – Ficou bom aquilo.
LT – Era uma coisa de... assim toda de fantasia, sem
nenhum equipamento técnico pra lidar com paginação,
nada, nada.
JB – E nós viemos 15 anos depois e tivemos a mesma
tipografia.
LT – A mesma tipografia?
JB – A mesma tipografia, além da do jornal Cataguases.
LT – Ah! Pensei que tinha evoluído.
JB – É, a gente pegou e foi aprendendo ali, só é que eu
sempre tive muito interesse em arte gráfica. E contei
também com a experiência da poesia concreta.
LT – Não tínhamos ninguém para nos ajudar. Mas foi uma
experiência válida. Pena que não havia mais dinheiro, e as
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pessoas também não estavam entusiasmadas em fazer a
revista. Eu estava até entusiasmada a fazer mais de uma,
mas sozinha também ficou muito difícil.
JB – E esse material, você pretende doar para alguma
entidade daqui? Quando?
LT – Vou trazer tudo para cá, não adianta ficar lá.
JB – Eu estou guardando aqui algumas coisas que o Cabral
me manda.
LT – Eu posso até enviar para você, sabia, Joaquim?
JB – Se você quiser, pode mandar. Eu guardo, até surgir uma
entidade... Aliás, já temos uma, o CDH - Centro de
Documentação Histórica, um departamento ligado à Fafic e
ao Instituto Francisca de Souza Peixoto, que pode abrigar
toda a documentação.
LT – Então fica combinado assim. (BRANCO, 2003, p. 5)
Página 1 (capa)
Editorial – Título – “Primeiro número” – sem assinatura
Logotipo em caixa baixa, cor preta, fundo laranja.
Página 2
“A arquitetura moderna em Cataguases” – artigo de Luciano
Peixoto Garcia com foto da residência de José Pacheco Filho.
20
Citação em francês de Rilke.
Página 3
“Canção” e “Cantiga do Peito Oculto” - poemas de Francisco
Marcelo Cabral
Citação de fragmento de Carlos Drummond de Andrade.
Página 4
“Inquérito” – entrevista com Carlos Drummond de Andrade.
“Carta inédita de Mário de Andrade” – reprodução de uma
correspondência de Mário de Andrade de 31.03.1928 dirigida a
Francisco Inácio Peixoto.
Página 5
“Fragmento” – conto de Maria Julieta Drummond.
Frase de Marques Rebelo.
Página 6
“Olhos grandes, braços redondos” – conto de Francisco Inácio
Peixoto Filho
Anúncio: A Imperial - armarinho - ferragens - louças.
Texto de créditos da revista.
Página 7
“Pedro” e “Perspectiva” – poemas de Lina Tâmega Peixoto.
Fragmento de Machado de Assis.
Página 8
“A fina espiral” – conto de Waltensir Dutra.
Anúncios: Fábrica de pregos Santa Bárbara ltda. e Padaria
Cabral - panificação e moagem de café.
Fragmento de André Gide.
Página 9
“Eu vi uma rosa” – poema de Manuel Bandeira (reprodução de
manuscrito).
“Contribuição anti-poética”, bilhete de Marques Rebelo;
Fragmento de Ascânio Lopes.
Página 10
“Enigma da música” – artigo de Corrêa de Sá.
“Canto” e “Canta” – poemas de Deocleciana Inácio Peixoto
Anúncio: Tipografia Ribeiro ltda.
Fragmento de Cecília Meireles.
Página 11
“Algumas notas” – artigo de José Silva Gradim, ilustrado por
21
uma xilografia de Aldary Toledo.
Fragmento de Manuel Bandeira.
Página 12
Conclusão de “Enigma da música” da p.10.
Anúncios: Fábrica de Ladrilhos Tupi – A.F. Ramos e Henriques
Felippe & Cia. ltda.
Página 13
Conclusão de “A fina espiral” da p.8.
Conclusão de “A arquitetura moderna em Cataguases” da p.2.
Anúncio: A Nacional – Antônio Rodrigues Gomes & Filhos
ltda. - especialistas em objetos para presentes.
Fragmento de Shakespeare.
Página 14
Conclusão de “Algumas notas” da p.11.
“Naufrágio” – poema de Alberto Parente.
Anúncio: Companhia Interestadual Mineira Automobilística –
agência Chevrolet e Indústrias Irmãos Peixoto S.A.
Fragmento de Murilo Mendes.
Página 15
Publicidade sobre o Colégio Cataguases, com foto.
Lina:
Recusou o livro do Bandeira?
Mandei, hoje, mais dois:
Poética, de Aristóteles (em espanhol), Cancioneiro, de
García Lorca.
Mande, ao menos, dizer se recebeu os volumes.
Recomendações a seu pai e ao Chico. Rosário 05.12 .47
(IBID.)
26
Se mandar os nomes integrantes do grupo, farei notícias
para os jornais daqui. Acho que devem articular o
aparecimento da revista com as outras existentes por todo
o país. Como Cataguases bem ou mal, possui uma tradição
literária, por que não inauguram uma seção no Meia-
Pataca (“arquivo”, “museu” ou coisa equivalente),
reproduzindo curiosidades de 1927? (uma carta, um
retrato, uma crítica e quaisquer dos livros que daí
saíram...etc.)
Penso que não podem esquecer Ascânio Lopes. Sobre ele
escreverei para um dos próximos números da revista, se a
revista sair. O Chico Peixoto pai (seu tio) poderá lhe
fornecer o material a que me refiro. (trechos de livros
inclusive). Há um livro de Henrique Pongetti (Câmara
lenta) uma excelente, pitoresca crônica sobre Cataguases
lembre isto ao Chico. Os poemas – seus e do Cabral – só
não foram publicados ainda por culpa única e exclusiva
deste seu admirador. Não tenho reclamado. (Sombra,
Diário Carioca, Letras e Artes) e, aqui, a coisa só sai
mesmo se der em cima. Tem escrito muito? Quem é o
prosador do grupo? Crive a colaboração (a partir da dos
amigos) sem dó nem piedade. Faço votos para que Meia-
Pataca faça o sucesso que vocês merecem – não pela
coragem de repetir uma aventura literária aí, mas pelo
talento real de que vêm informados. Recomende-me à
senhora sua mãe. (domingo, ontem, saiu um artigo de
Hernani Cidade – creio que em O Jornal, viu, leu?) e seu
pai. Não deixe de escrever contando o que acontecer com a
revista. Não publicá-la é covardia, publicá-la mal é
burrice. No mais, mande as suas ordens.
Rosário 05.04.1948 (FUSCO, 1948, n. p.)
27
ir rejeitando os nomes da revista que tenho enviado pois são
de grupos novos.
Bom Natal. Rebelo 16.12.47 (REBELO, 1947, n. p.)
Lina:
Diz o Santa Rosa que não deve mudar a capa nunca. Está
bom. Precisamos é melhorá-la assim:
a)Cada número a barra será de uma cor.
b)A cor deve ser sempre clara para o preto do título realçar.
c)A barra colorida deve sair desde a borda superior até a
linha onde se inscrevem local e data.
d)Na parte branca da capa deve ser sempre em gravura –
nenhum artigo ou poesia.
De maneira que: toque pro pau! 03.11.48 (REBELO,
1948, n. p.)
28
a ressonância do Inexílio?)
Boquiabertamente grato, o velho Guilhermino Cesar
Já leu o Arte de Matar? 1949 (CESAR, 1949, n. p.)
31
sangue novo. Confiamos no tempo e naqueles que nos
guiam, para nos conduzir a um terreno sólido, porque há
agora maior confusão e mais sobressaltos para o que
principia do que há tempos atrás. Épocas de realizações
instáveis, mudanças perigosas. Teremos assim de confiar
em nós próprios, nos nossos ideais, permanecendo fiéis “as
nossas próprias convicções”.
Meia-Pataca traz, na maioria, colaborações de jovens de
Cataguases. Alguns veteranos aparecem: Carlos
Drummond de Andrade, respondendo a um inquérito;
Manuel Bandeira, com um autógrafo de seu poema “Eu vi
uma rosa”; ainda “contribuição anti-poética” de Marques
Rebelo. E uma carta inédita de Mário de Andrade, de 1928,
dirigida a Francisco Inácio Peixoto. Carta publicada em
homenagem “ao que mais se apegou o movimento “Verde”.
O mais é dos moços: poemas, ficção, pequenos estudos.
Dentre os poemas, desejaria destacar “Pedro” e as duas
primeiras estrofes de “Perspectiva”, ambos de Lina Tâmega
Peixoto, em quem a expressão, apesar da pouca idade,
alcança pureza promissora.
Mas isto é simples registro, e não devo citar mais. De
passagem façamos uma alusão ao nome de Francisco Inácio
Peixoto, que – como o pai, com Verde – é um dos grandes
animadores de Meia-Pataca e me deixou com sinceras
esperanças. Não lhes vou desejar êxito, nem que consigam
vencer os três números fatais etc., etc. Tudo isso está
implícito no convite para que sigam caminho, com a certeza
de que a sua “aventura” (como lhe chamam) chegou em boa
hora, e deve perseverar. (GUIMARAENS FILHO, 1949, p.
1)
32
2 - FRANCISCO MARCELO CABRAL
33
que um ano (!) mais velho - a “agitprop” atuando em
nossa roda.
Trazida por ele, publicamos a tradução do famoso e
premonitório poema - “I have a rendez-vous with Death” -
de Alan Seeger, jovem poeta romântico americano (1888-
1916), herói da Legião Estrangeira Francesa, morto em
ação, de uma rajada de metralhadora, em Belloy-en-
Santerre, na I Grande Guerra (nós estávamos saindo da
Segunda).
Na tradução que publicamos, creio que de Abgar Renault,
“rendez vous” era “entrevista”(por que não “encontro”?). O
final comovedor do poema inflava a nossa veia heróica e aí
vai, numa tradução quase literal: “Deus sabe como seria
melhor/ afundar a cabeça em perfumados travesseiros de
seda/ onde o Amor palpita num sono abençoado/pulso com
pulso e hálito com hálito/e onde é doce acordar em
silêncio.../ Mas eu tenho um encontro marcado com a
morte/ à meia noite em alguma aldeia em chamas/ quando
de novo a primavera se for para o norte/ E a minha palavra
de honra eu empenhei/ Jamais a esse encontro faltarei.”
Nessa brilhante folha me lembro que publiquei um soneto
muito bem feitinho, revidando crítica do prof. Geraldo
Vasconcellos Barcelos ao uso “errado” do pronome nuns
versos meus (“Me matei de sombra,/ me pintei de roxo...”)
O dito soneto - de que não me lembro mais nada -
terminava: “Pobre José que, vate em profundezas / por um
pronome certo te deténs/ morram por ti todas as sutilezas /
da gramática: tu, só tu, convéns!”. Como suprema e sutil
malícia e “vingança”, publicamos um soneto do prof.
Barcelos, dedicado a nós. Aí vai o primeiro quarteto: “Vós
sois, – mocidade, alva da vida/ quadra radiosa, esplêndida,
gazil/ plena de sonhos ideais, florida, / a glória futurosa do
Brasil”...
Autor precoce - além do ciclo leopoldinense da Flama,
publiquei versos na Meia-Pataca em 1948 e O centauro em
1949 - fui leitor espontâneo aos 5 anos e credito minha
formação intelectual básica e meu gosto pela literatura a
quatro professores que faço questão de nomear: Ruymar
Branco Ribeiro, com quem aprendi a escrever, no sentido
gráfico do termo, e a ter uma relação estética com a palavra
escrita e os ecos e ritmos da fala nela impregnados; Sílvia
34
Teixeira Villas, que fez das primeiras leituras um prazer
inesperado; Lyra Cunha, e o gosto pelo conhecimento
organizado e metódico; e sobretudo José Silva Gradim, que
despertou e deu suporte teórico e prático ao gosto pela
língua e pela literatura.
Desde a adolescência, contei com a amizade e a influência
de intelectuais como Lina del Peloso (com quem editei a
revista literária Meia-Pataca, em 1948), Francisco Inácio
Peixoto, Rosário Fusco - que saudou com generosidade e
exagero minha estréia em 1949 - Guilhermino Cesar,
Marques Rebelo.
Após a publicação de O centauro, tive poemas divulgados
com grande destaque na imprensa de Ponte Nova, graças à
generosa intervenção de A.Brant Ribeiro. (Me lembro de,
numa visita à casa do jovem Joaquim Branco, ter visto
colado atrás da porta do seu quarto um poema meu - “O
Escorpião” - publicado em página inteira no jornal de Ponte
Nova. Confesso agora: foi uma grande emoção e o
despertar da consciência de que escrever é - também -
escrever pelos outros.
Certa vez em Cataguases, numa rodinha de bar, em 1950
(ou 51) fui abordado por um jovem escritor (três anos
mais novo do que eu) que viera a Cataguases para falar com
Francisco Inácio Peixoto, que o remeteu a mim.
Nem eu nem ele sabíamos que se iniciava ali uma amizade
fecunda que marcou nossas vidas. Alexandre Eulálio foi
um irmão, um amigo, um mestre.
No Rio, a partir de 1950, para o curso de Direito, e já com o
primeiro livro publicado, convivi com intelectuais jovens e
outros já consagrados como Antônio Fraga, Paulo
Armando, Marcílio Marques Moreira, Mário Faustino, José
Lino Grunewald, Aurélio Buarque de Holanda, Antônio
Bulhões, Afonso Félix de Sousa, Antônio da Costa e Silva,
Antônio Olinto, Ledo Ivo.
Em 1952, como funcionário do Serviço de Imprensa do
Ministério das Relações Exteriores, me tornei amigo de
Guimarães Rosa, e fui um dos primeiros leitores de
Grande sertão: veredas e Corpo de baile, em fase final de
elaboração, acompanhando de perto a datilografia dos
manuscritos. Desse período, guardo os originais do não
publicado Pedra de sal, repleto de notas e comentários do
35
autor de Sagarana. (Tenho um exemplar da primeira
edição do livro com a dedicatória a caráter: “Este Sagarana
para o Marcel Francisco Marcelo Cabral, que, na ocasião
(1946) eu ainda não sabia que conhecia; - e que, mesmo por
isso, depois vim a conhecer demais; isto é - Amigo - e, em
muito entendimento de amizade, o Guimarães Rosa. Rio,
1956”.
Nessa época, com a nomeação de Augusto Meyer para
Adido Cultural na Alemanha, passei a dividir o
apartamento do grande poeta e ensaísta gaúcho, com
Alexandre Eulálio e Carlos Sussekind, numa espécie de
“república” freqüentada por Otávio Mora, Ismael Cardim,
Maria Ângela Alvim, Chico Alvim, Davi Neves, Jorge
Laclette, João Urbano Rezende Costa e muitos outros.
Mera curiosidade: o contrato de locação do apartamento
foi feito por mim em decassílabos com variado apoio
rítmico: “Contrato literal e literário/ que fazem entre si
Augusto Meyer/ e Francisco Cabral: um, que se vai/
errando pelas terras da Alemanha/ e outro que fica,
entregue à própria sanha: / Rio, em outubro, ano cinqüenta
e quatro”...e por aí vai. O que confere a essa brincadeira o
teor de documento literário é a assinatura de Augusto
Meyer, na qualidade de “feroz locador”.
Da amizade com Álvaro Sá, resultou o que em breve será
uma nova edição do poema Inexílio, de 1979, enriquecida
com a leitura crítica do grande poeta autor de Poemics.
Atualmente minhas atividades se resumem a inventar e
rabiscar besteiras, corrigir textos alheios e a colaborar
esporadicamente em publicações comandadas volta-e-
meia pela dupla Joaquim Branco e Ronaldo Werneck.
Como outros poetas, ganhei alguns prêmios, o mais
importante dos quais - pelo valor e pela divulgação
nacional - foi o do Ipase, em 1954, cuja comissão de
premiação era liderada por Manuel Bandeira, e que
contemplou o poema “Sextina fabricada sobre as chaves de
Américo Facó” que faz parte de Baile de câmara, poemas.
De minha vida “civil”, quem sabe eu ainda falo qualquer
dia destes... Se é quem tem alguém interessado.
(CABRAL, 2001, p. 3)
36
2.2 - Avaliação da obra
De Guimarães Rosa
Òdiamarcel
Quando as luzes e o azul se converterem
em sincera distância, mais que ausência,
e, à paz de frios céus de nova infância,
no suar, floresta e fogo se ajuntarem.
Soneto
37
Quando tudo acabar e ficar sendo
nossa ternura apenas a lembrança
de um amor que, passado, ficou sendo
a mais morna e romântica lembrança;
II
Marcel – que sejas sempre bom mineiro
navegando mancebo em ondas baixas
e calada a paixão que porventura
te instigue a queimar de uma criatura
o corpo (tarado não és, se achas:
carvão: amor em estado verdadeiro).
(ROSA, s.d., s. p.)
De Manuel Bandeira:
Autor do belo Centauro,
o Poeta Manuel Bandeira
Envia um ramo de louro,
Saudando-o desta maneira
Ás futuro entre outros ases!
(Rio, 20.XII.49)
De Adelino Magalhães:
Muito agradeço O centauro!
Agradável impressão causou-me a leitura desses versos de
39
moço, especialmente a parte “Líricas”, na qual “Cantiga de
Amor” é verdadeiramente deliciosa!
Moderno, sem excesso, O centauro terá sem dúvida
leitores interessados, que saberão sentir sabor nessa poesia
em que há emoção, o que não é hoje comum. (16.12.1949)
De Hernani Cidade:
Só agora, em férias de Páscoa, me foi dado ler o seu
Centauro. Desculpe-me a demora, mas eu cada vez menos
sou o dono do meu tempo, de mim próprio... (...) Li-o com a
mais perfeita simpatia, num ansioso desejo de sentir em
mim ressonância a quanto ia lendo. Devo dizer-lhe que
houve bastante poemas que não me acordaram o mínimo
eco. De outros gostei. Por exemplo “Não posso te ouvir”,
“Polígono”, “Cântico”, “Grécia”, “Canto do avô morto”.
“Composição”, “Poema meu”, “Serenata romântica”,
“Vilancete da bela morte” e “Os epigramas” agradam-me
como duas floritas brotadas da mesma emoção, ou melhor,
como uma flor que morre - e o arrepio que de tal morte
repercute na alma. Agradou-me o “Improvisador” que
mana da mesma fonte fresca de sensibilidade de que
fluíram os últimos poemas de sabor medievo. Como ontem
se alentava para a luta quando fincava os pés na terra sua
mãe, a Poesia nada perde nestes contatos com as formas
primitivas. de quando ela era pura emoção que se fazia voz
e ritmo.
Fixei essa quadra:
Olha! É o tempo que varia
Ou isto um rondó seria.
As minhas mãos a morrer
e tanta beleza por ser.
Que as suas mãos não morram. E morram, se lhes retira o
poder de criar beleza, entregando-as manietadas ao
subconsciente, que a não sabe criar. Dele apenas se colhem
vaguidades emaranhadas, farrapos de delírio. Creio no seu
futuro de poeta. Creio que a confusão de Homem, cavalo,
centauro seja transitória e dentro de algum tempo esteja
superada. Em cada momento se nos impõe arrancar uma
parte de nosso ser ao subconsciente, aumentar em nós o
homem e diminuir o cavalo, fazer cosmos da confusão
caótica. Isso é o próprio do homem. Assim o há-de ser.
40
Para ser o poeta que escreverá o futuro livro - O Homem
integral - em que a Razão ordenadora, esclarecedora,
comunicativa, colabore, até os limites do posssível, nada
lhe falta. Sensibilidade, funda intuição do poético,
naturalidade espontânea de ritmo - e visão crítica.
Seja esta a sua legenda: cada vez mais homem e menos
centauro. (Lisboa, 10.04.50)
(OPINIÕES SOBRE FMC, 2001, p. 4)
O livro é grande.
Sincero o digo, olha: até do “Poema da Identidade” já estou
gostando... Não é engraçado? Poesia é coisa-causa, difícil e
fácil; é urna espécie de contágio. Guimarães Rosa. 15.11.54
(...) Ah! A magia oral que há, adormecida, por assim dizer,
na escrita dos alexandrinos do soneto final, “Sobre os
41
ramos...! beleza adormecida que redesperta, requerendo-a,
a leitura em voz alta. Obra-prima! Fecho de fechos!
Octávio Mora. 22.04.93
De Salim Miguel:
“Círculo de Arte Moderna
Fpolis,26/2/49
Meu caro F.M.Cabral:
Recebemos seu livro de poemas. (...) É uma alegria poder
de vez em quando, dentro desta enxurrada tremendérrima
de livros, cadernos etc, de poesias que estão surgindo
ininterruptamente por este Brasil afora, se encontrar uma
estréia tão auspiciosa e promissora quanto a sua.
Logicamente, como estréia que é, ressente-se de uma
depuracão maior, mas está mais do que claro que isto virá
com o tempo. O que é inegável é o seguinte: seu volume de
poesias possui muito mais valor do que grande nœmero de
livros ultimamente publicados, de nomes feitos, e tidos
como extraordinarios. Então a segunda parte, as
“Líricas”, com poemas de uma pureza, uma leveza, com
um senso exato do estado, da coisa poética em si... Mas
desculpe estas “mal alinhavadas linhas” ditadas pela
admiração, saídas logo após terminar a leitura.(...)”
De Antônio Olinto
“O Globo nas Letras”,(O Globo, 26.12.1949)
UM POETA
(...)Há uma busca de novos caminhos nos versos de
Marcelo Cabral. Afastou-se do poema-anedota tão
comum em nossa literatura dos últimos tempos. Penetrou
mais a sério no fenômeno poético, na tentativa de alcançar
“o rosto velado das coisas sem dono”. Nessa pesquisa
42
pela poesia a dentro, Marcelo Cabral encontrou a técnica,
descobriu o ritmo. E deles ficou enamorado. Os versos (...)
têm um ritmo fácil, dessa facilidade do primeiro encontro
com a poesia. (....) Apesar da constância desse ritmo na
maioria de seus poemas, ou mesmo por causa dela,
Marcelo Cabral revela a existência de um forte acento
poético em todos os seus versos. (....)
Já se nota em O Centauro alguma preocupação metafísica,
que é a principal característica dos artistas de nosso tempo.
Em certos poemas, o molde comum da técnica, que adotou,
se dissolve e surgem então lampejos de liberdade, em que o
pensamento atravessa a estrutura material do verso para
impor a força de sua presença.
Depois deste livro, Francisco Marcelo Cabral ficará livre
do que fez até hoje.(..) Superando esta fase de emoção
diante do aspecto formal da poesia, Marcelo Cabral
atingirá um plano poético muito mais vivo e dotado de
autenticidade.
NOTA: Mais tarde, comentando a edição da Nova Poesia
Brasileira(Escritório de Propaganda e Expansão
Comercial do Brasil em Lisboa, 1960) - antologia
organizada pelo poeta e diplomata Alberto da Costa e Silva
- Antônio Olinto voltou à carga: “Vale a pena ler de novo os
versos do poeta Francisco Marcelo Cabral cuja estréia em
1949 eu saudei como a revelação do ano”.
43
Cigarra(janeiro 1950), Minas Gerais (4/12/49)
registraram o lançamento de O Centauro atribuindo ao A.,
entre outras folhas de louro de sua coroa de artista: um
talento invulgar para a poesia, o entusiasmo fora do
comum pela literatura, a verdadeira sublimação poética, o
tratamento esmerado dispensado ao verso quase sempre
trabalhado com finura e sensibilidade, intuição do
verdadeiro lirismo e muito mais, que - honra seja feita - o
agraciado lia com certa vaidade (claro!) mas com a
sensação bem humorada de que estavam falando de outra
pessoa. (CABRAL, 2003, p. 155-165)
Outras Águas
44
um talho doce (…)
num trecho sua vaginavenida
os lábios de cimento o musgo
aveluda
em verde(…) (Antonio Jaime)
Lavo os pés
no córrego que risca a avenida
e paralelo à linha férrea
vê casas e pessoas como num curta metragem
Seu destino: o das águas serpentes,
Sua cor, o azul lamento do céu refletido
onde o sol é uma lâmpada bamba
que ofusca e entorpece os peixes.
Lavo os pés e faço concreto
seu nome jovial e simples.
Água rasa
que mal toca o tornozelo
ou jorro do gomil na bacia de porcelana
e o alvo pano de cambraia
secando o pé livre do pó do chão
- qual celebro, nesta manhã verde,
à sombra úmida e perfilada das cássias?
Aonde irão meu pés lavados
por essa água pouca da fonte que bem conheço?
Aonde me trouxeram, ao longo dos já muitos
anos de minha vida?
De que me lavou o Lava-pés,
naquele instante de ousadia e prazer, cimento e limo
em que minha mão tocou seu corpo líquido e fresco?
45
Salve as águas meninas de passagem
e seu doce arrulhar de pomba-rola
e salve a lasca de madeira leve
que nelas lanço esperando reavê-la mais adiante
não sei quando, nem se, nem onde
mas certamente no poema
em que dança essa brisa olente familiar.
(BRANCO, 2006, p. 6)
PSICOLOGIA DA CONFUSÃO
47
transformação, pois, ao terminar sua metamorfose, o ser
antigo sucumbirá para que o novo possa viver
completamente, é o término da jornada.
Aqui, a imagem se torna mais clara e possível: “Homem e
cavalo prossigo,/ centauro em busca de ser,/ para comigo
ficar.” (IBID.). A fusão aconteceu entre homem e cavalo,
consciência e essência, que conjuntas, formarão um novo
ser. Mas há ainda uma busca nesse “para comigo ficar”,
pois há um distanciamento de si mesmo encoberto nesse
verso. E a verdade da afirmação é comprovada no quarteto
“Esta é a minha liberdade,/ esta é a minha natureza,/ minha
aparência serena/ encobre meu ser confuso.” (IBID.). A
confusão persiste ainda, pois não terminou nossa confusa
expedição, e talvez não terminará, pois o poema termina
em “Outros lábios me repitam./ Meus versos fiz para dar./
Buscando incerto infinito,/ misto, centauro, aqui fico.”
(IBID.)
Centauro é a mistura entre homem e cavalo, consciência-
essência de um animal a um só tempo irracional e racional.
Este é o drama não só do poeta, um ser confuso, mas
também de toda raça humana, que habita a região confusa
entre racionalidade e irracionalidade. Há ainda uma
análise um tanto freudiana que não apreciamos totalmente
devido à conseqüente limitação dos processos ocorridos,
simples caracterização que retiraria toda a beleza e
confusão necessárias para a composição do poema,
reduzidos a termos puramente classificatórios: considere-
se o Homem como racional, a influência social e
conservadora, teremos um superego; o cavalo como a
nossa parte mais primitiva, essencial e que não segue nada
senão a própria vontade de satisfação, o id está construído;
por fim, chegamos à mistura do centauro, nosso ser
mitológico, que oscila como um pêndulo entre o racional e
o primitivo, equilibrado na confusão necessária a sua
sobrevivência, teremos o ego.
Aqui ficamos: humanos, sem sermos Homem, mas sim
centauro. A ponte que Nietzsche viu entre o animal e o
Super-Homem. Travessia. (FRITIZ, 2007, n. p.)
48
2.2.3 - Artigo de Ronaldo Cagiano
A ARTE DA DEPURAÇÃO
50
2.2.4 - Artigo de Ricardo Alfaya
ACADEMIA
É preciso sobrepassar os testículos de Davi
para ver o seu rosto zangado
e sua terrífica beleza.
Quatro metros sobre o pedestal, ele é o Golias
No chão a mirá-lo, nós, o pequeno pastor.
52
(Francisco Marcelo Cabral, p. 17, op. cit.)
(ALFAYA, 2006, n. p.)
55
Sextina é um gênero provençal, provavelmente criado por
Arnaut Daniel, lá por 1200. Tempos em que os poetas
inauguravam linguagens, vide Dante, com sua terza rima.
Dolce stil nuovo, dizia-se do soneto, outra invenção da
época. A sextina, para simplificar, é uma variação sobre seis
rimas, em seis estrofes de seis versos, com um terceto, à
guisa de ofertório. Terceto que Facó omitiu e Marcelo, não.
Sua sextina é completa, fato que, somado ao seu talento,
rendeu-lhe um valioso prêmio, em 1954. Creio que só esses
dois a praticaram, no Brasil.
Inexílio é onde, a meu ver, o nosso poeta atingiu o seu
clímax, em livro. Partindo de uma frase-homenagem a
Cataguases, “nada me faz te amar menos”, ele desmonta a
própria frase, revolve seu, por assim dizer, “baú de ossos” e
traz à tona gratas e ingratas lembranças. Livro coalhado de
notas explicativas, o que me faz suspeitar de que também
inventou um dolce stil nuovo. Basta um exemplo, neste
caso, o narrador, perplexo, ao recordar um suicídio:
“e será chuva essas gotas que se alongam
pela base do meu nariz até a comissura amarga
de minha boca aberta para nenhuma palavra?”
A seguir, na nota correspondente, ele aponta as causas e
efeitos do tiro que estourou os miolos do morto, numa
sucessão de metáforas, em que os móveis da casa “se
encolheram sob o pudor do inesperado mênstruo”. E por aí
vai fazendo mágicas com as palavras, uma surpresa atrás da
outra. Perto de Marcelo, procuro ser só ouvidos. Como
numa recente entrevista, em que, ao final, ele disse que eu
não o havia questionado. Questionar, o quê, diante de quem
só tem o que me ensinar?
E vim para casa, cavalgando o seu Centauro, de onde extraí
este verso, que incorporei à minha antologia pessoal:
“O instante é breve e eu já cantei todos os hinos
Que devia fazer de tudo que é poesia.” (SOARES, 2001, p.
4)
56
Lina Tâmega revela, na primeira, impressões sobre o primeiro
livro de Marcelo Cabral, O centauro, e, na segunda, fala sobre
seu perfil poético e sua obra em geral:
58
Lembro-me de que havia permanecido em estado de
profunda e feliz solidão, após a leitura dos poemas. Agora,
procuro, se possível, reconstruir e renovar a sensação e a
polaridade de forças anímicas que as imagens dessa poesia
me provocaram. Há uma fronteira do tempo (cujo início é
marcado com as obras do autor: O centauro, 1949 e Inexílio,
1979 e se prolonga até este instante) que representa, para
mim, fonte de conhecimento e apreensão estética. É neste
estado de adesão à memória que me aproximo, novamente,
de Baile de câmara.
O princípio criador de Francisco Marcelo Cabral é de uma
riqueza finamente elaborada, fonte de ressonâncias de
mágicas imagens que projetam a expressão do sonho e do
êxtase, nos elementos musicais dos versos, nas metáforas
da morte e da vida.
O processo de criação poética do autor se revela em dois
poemas: “Roteiro I” e “Roteiro II”, com realce neste último.
A linguagem que explica as etapas do fazer poético tece o
próprio poema. A palavra, instrumento de construção, deve
queimar, se aniquilar até atingir o resíduo de pureza. “Matar
a palavra, eis quanto/vou ensaiando fazer”; “decantaremos
o excesso/ e restará cristalina/ à pureza devolvida/ de sua
essência primeira.”; “busca a palavra em que a chama/ de
sua essência mais queime.” Para que encontre a substância
profunda, a essência primeira, é preciso percorrer os
labirintos onde se oculta a palavra que permanece em
oferta, pronta para ser colhida. É preciso para isso descer ao
inferno da criação, é preciso mergulhar e viver o seu próprio
inferno da criação poética. Após a luta desta conquista, de
sentido único e íntimo, a paisagem noturna se abre em
claridade. A palavra é luz, cristal que se transforma em ilha
da poesia, imagem de perfeita e exata tensão, à espera que
lhe dêem forma, interior e exterior. “Leva o cristal como
tocha”; “E incandescente ressurge/ trazendo o cristal na
mão”. Por fim, aguarda “que na polpa de teus dedos/
desponte a flor de uma chaga./ E assoma, em bafos de
incêndio.” A metáfora “flor de uma chaga” representa a
chama que se desmaterializa e se faz espírito, levando à
purificação do poeta e lhe apontando os caminhos do fazer e
da intuição para formar o poema, que se lança na imagem
e”... explode, e congela/ a flor do lugar-comum.”
59
Os três poemas, com os títulos de “Os ventos”, se situam na
linha da atmosfera noturna, onde a obscuridade é matéria
de transfiguração. Com referências a Emily Brontë, os
poemas deixam entrever um lastro de impressões afetivas,
talvez reminiscências de leituras ou associações de cunho
espiritual. A pressão desse passado difuso sobre o discurso
poético de Francisco Marcelo Cabral exerce uma força de
conflito, capaz de levar à construção de uma das mais
significativas expressões de seu universo criador: a
ascensão do espírito. As fortes metáforas, “vento”, “lua”,
“barco” derivam de uma mesma fonte semântica: a noite
que instiga, o vôo para o alto e a morte em contínua
renovação. A lua rege o espaço de penumbra e sonho. A lua,
barca lunar, “barco demente” se reflete nas águas e nelas
viaja por caminhos que projetam os planos do real e do
irreal. “Não procures a lua./ Sob teus pés vai-se o rio em
prata móvel/ e é preto o pássaro pousado no teu rosto:/suas
asas, teus cabelos, os longos olhos que te espiam/ de dentro
sobre as águas.”
Os ventos que perpassam nos versos são elementos
indicativos de movimento e, portanto, de metamorfoses.
Não há indícios de violência ou fúria, ao contrário, os ventos
são brandos e carregam a noite por onde sopram. Diz: “Só o
vento viaja, Emily Brontë,/ os longos corredores, sem
apego ao terreno,/ e são ricos de pátria e nunca pousam”, e
ainda: “Olhas a ti mesma, Emily Brontë/ e aspiras o
generoso arfar da noite./ Conter o vento? Debaixo do teu
corpo/ as rochas e as sementes se misturam”. Os ventos se
aproximam mais da idéia de sopro. No pensamento indiano,
o sopro estabelece uma relação do homem com o universo e,
neste rito, participa por inteiro, das coisas infinitas.
Emily Brontë se confunde com a sombra da lua (o pássaro)
sobre as águas. Por isso “os longos olhos que te espiam/ de
dentro sobre as águas.” (grifo meu) . Chama nossa atenção o
uso do advérbio “dentro”, semeado nestes versos, assim
como em outros. Ele reforça a impressão de profundidade,
de calor, do poder de penetrar nas coisas do mundo em
completa aderência aos espaços interiores. Assim: “não
sentes que no chão, dentro dele, se formam/ as delicadas
vias de acesso?” (“Baile de Câmara”); “Eu durmo do teu
lado de (dentro)/ e estou perto agora,/ desperto agora.”,
60
versos que pertencem ao belíssimo poema amatório,
“Noturno II”.
A capacidade técnica do autor no manejo da linguagem a
serviço da estética do discurso pode ser exemplificada no
“Soneto I”, em quea estrutura fono-semântica tem uma
importante função ordenadora. As terminações dos versos,
em posições de rimas, além de organizar as formas
estróficas, estabelecem uma relação de significados, de
sentido explicativo, distribuídas no esquema abcd abcd.
Transcrevemos as duas primeiras estrofes para verificação
de nossa afirmativa. “Vê que o tempo não passe, antes que
a marca/ do teu selo - o teu sol de lacre e fogo/ - se imponha
ao mundo rápido que escapa/ entre os dedos de tua mão
efêmera”. “No segundo que flui planta teu marco/ que
esvanece e se esvai, e tua sombra/ suje as rochas que o
vento desintegra,/ turve as algas, e creste alguma flor.”
O “Soneto VII” nos revela, do mesmo modo, o perfeito
domínio das técnicas do verso e seu conseqüente efeito
poético. O soneto é arrastado por uma violenta inversão
lógica das palavras, provocando o hipérbato um clímax de
aturdimento e beleza. Aparentemente desconexo, o soneto
é atado por uma linha suave de canto (do pássaro) que
separa e ajusta as palavras dispersas a fim de estabelecer o
necessário vínculo sintático e o semântico. O resultado é a
percepção de uma paisagem construída de elementos
rítmicos e musicais. Para exemplo, se lê: “Sobre os ramos,
esse que, pássaro canoro,/ pousado, dessa, está, rara cássia
crisântema,/ pulsa, sustenido, um si nele, ínfimo e intenso,/
que faz vibrar na rubra língua o trino de ouro.”
Francisco Marcelo Cabral é um poeta que nos surpreende e
nos submete ao universo de seu eixo criador. Os traços
mais eriçados de sua poesia se referem ao conflito de
ordem intimista, o desconcerto construtivo da atmosfera
noturna que se abre em claridade e luz, uma certa postura
mística frente à vida, os recursos da rima e do ritmo
capazes de provocar inusitados movimentos da alma.
Dono de um rico e poderoso sistema de pensamento, o
poeta extrai da linguagem uma peculiar experiência
sensória, única, provocativa, instigante, que lhe dá não só a
dimensão da beleza e do sonho, mas também a ação com
que insufla e constrói sua poesia.
61
Brasília, agosto de 2003 (PEIXOTO, 2003, p. 10)
2.4 - Auto-avaliação
63
parente (Nota: e muita gente desconfiava que o Francisco
Marcelo Cabral omitia por modéstia um P em seus
sobrenomes).
O ninho de Meia-Pataca foi a casa de Francisco Inácio
Peixoto, melhor dizendo o seu “salão” onde resplandecia,
ao lado do dono da casa, o gênio carioca de Marques Rebelo
(cuja amizade sempre me honrou e durou até sua morte) e
que foi freqüentado por gente como Walter Benevides, João
Cabral de Melo Neto, José Morais, Luciano Maurício,
Cecília Meireles e tantos mais.
As duas figurinhas de jovens poetas – Lina e eu, vamos
reconhecer: talentosos ou, pelo menos, promissores –
despertaram a solidariedade desse grupo de intelectuais
que andava pela casa dos 40 ou 50 anos, talvez menos.
E foi assim que nasceu a revista, extremamente cuidada
graficamente, sem qualquer “agressividade” de gente
jovem. Sem qualquer malícia na seleção das colaborações
que nos chegaram, Lina e eu fomos os melhores poetas
publicados por Meia- Pataca. Quem quiser que confira.
E assim como o salão de Francisco Inácio Peixoto gerou
Meia- Pataca, Meia-Pataca gerou O centauro, edição de
1000 exemplares (que eu levei anos e anos para esgotar sob
a forma de presente compulsório) composto e impresso na
Tipografia Ribeiro, em 1949, para a inexistente Editora
Meia-Pataca (leia-se Edição (do Pai) do Autor). E o livro de
Lina, Algum dia, editado lindamente em 1952 pela Editora
Hipocampo, do poeta Thiago de Melo, e de que eu
infelizmente não tenho nenhum exemplar .
Lina e eu construímos uma obra pequena (Guimarães Rosa
me chamava de “escasso producente”, com amizade e
cobrança).
Pelo prazer e por compromisso intelectual, Lina é uma
leitura obrigatória.
E para terminar, permitam-me os dois leitores – Joaquim
e Ronaldo – relatar a cômica experiência de súbita e subida
honra e posterior desabamento vivida pelo escritor que vos
fala.
Publicado O centauro, num rompante de generosidade e
hipérbole, Rosário Fusco declara – numa entrevista
concedida a José Condé e publicada no suplemento literário
de A Manhã – que o poeta de sua preferência era Francisco
64
Marcelo Cabral (depois vinham Carlos Drummond de
Andrade e Emílio Moura), um poeta de 19 anos, autor de O
centauro...
A modéstia me impede de mencionar o tipo de comedida
alegria que se apossou deste humilde bardo (que isso?,
bardo é Shakespeare!), temperada pelo sadio orgulho de
ver seu ainda desconhecido nome estampado num jornal
de ampla circulação (menos em Cataguases, é claro).
Vocês podem imaginar o barato!
Agora o revertério: numa pequena nota (pequena para
você, filho ingrato, não para um artista – este – sensível,
antenado nas primícias de uma merecida fama) alguém
cujo nome esqueci (até Freud, etc. ...) comentando a
entrevista, sai-se com esse despautério (estou citando de
cor, embora não de coração): “Rosário Fusco é mesmo um
gozador (espero que não tenha sido algo tão demolidor
assim). Perguntado sobre qual o poeta de sua preferência,
respondeu: Francisco Marcelo Cabral, um rapaz lá de
Cataguases.
Vocês podem calcular o impacto desse advérbio de lugar?
“Lá de Cataguases”.
Leiam a frase sem esse monossílabo tônico: “um poeta de
Cataguases”. Soa bem melhor, não?
Então, até lá. Quer dizer, até aí em Cataguases, qualquer dia
desses. (CABRAL, 1999, p. 2)
É onde os medos
convocam fantasias e sombras
e apagam as luzes das ruas
e ao fraco luar se tropeça
nos bois dormitando
e mal se ouve a respiração do sonho
os gritos dos pesadelos
os gemidos de prazer
65
- uma cidade para sempre estacionada
na memória
- falsa e inesquecível
A PONTE
O camarada que a mandou fazer conhecia latim
e parecia que gostava de poesia
(aliás, em Cataguases,
Só eu não gosto de falar
Latim e recitar poesia).
Na entrada, ele mandou botar
O letreiro – (da paz, como o considero):
– É pacífica a sua entrada?
e também do bom acolhimento.
E na saída foi posto
o testemunho da nossa hospitalidade:
– Volta para mim que eu te receberei:
Nessa ponte passa ônibus
passa gente
passa quatro
passa rio
passa cachorro
passa o tempo
passa o progresso de Cataguases
num convite para as outras cidades progredirem.
Ela liga Cataguases a Cataguases
e liga tanto a gente
que costuma balançar em sinal de satisfação.
É suja, mas é boa
é alta, mas é uma tentação
Outro dia a mulher
resolveu acabar com as mágoas
e logo que as afogou na pinga,
foi-se afogar no Pomba que corre em baixo
E o letreiro risonho
como um convite à cessação da eternidade, dizia:
VOLTA A MIM, EU TE RECEBEREI.
(CABRAL, 1947, n. p.)
66
2.6 - Textos selecionados do autor
NARCISO IV
O veneno dorme.
Súbito, distensa corda
verde – o bote: cobra
__________________
O leitor se assenta
o poeta puxa a cadeira
a poesia é o tombo
O leitor se enleva
o poeta o empurra no abismo
a poesia é o vôo
67
o leitor se esquece
o poeta o sacode aos berros
a poesia é o susto
o leitor é a ninfa
o poeta, o fauno no cio
a poesia é o gozo
___________________
68
nada, Cataguases, nem teus morros feridos,
prestes a desabar sob a chuva alcalina
e sulfurosa
69
e eva nihil — rápida supernova e puro mito;
Lina ainda não tinha nascido, nem eu, nem Celina
e quando os descobrimos
o rádio tocava alto e sabíamos
bastante francês para ler e cantar
e fazíamos de novo versos
enquanto os domingos se enchiam de samba-canção
e ninguém nos lia;
quando a televisão chegou, visual, sincrônica, não
conceitual
Joaquim Branco acordou, Ronaldo, Plínio, Pedro, Aquiles,
/acordaram
Paulo Martins despertou, o Moura abriu o olho,
tocaram rock nos festivais
reinventaram Dada
e cuidaram de montar o poema como um carro,
/um eletrodoméstico
para ser consumito
(enquanto a cidade viajava para fora a fazer turismo
e pouco se importava, outra vez, com todos nós)
[...]
NADA ME FAZ
[...]
TE AMAR
[...]
AMAR MENOS
[...]
MENOS
que nada
é o pó do poema
que aqui sobrenada
sobre tudo
(que nada!)
sobretudo
sobre nada
[...]
(CABRAL, 1979, s. p.)
70
3 - LINA TÂMEGA PEIXOTO
3.1 - Biobibliografia
71
3.2 - Avaliação da obra
72
indecisão de traço, tudo é firme, quando necessário, sutil e
sempre lúcido e ardendo de uma chama interior... Mas que
beleza de dignidade erótica em “Vórtice”. É das coisas
mais puras e nobres que tenho lido no gênero... Tenho
confiança em você, Lina. Continue sendo agreste e
furiosamente você mesma, com a sua esquerdice natural e
sua insatisfação das fórmulas feitas.
Carlos Drummond de Andrade
(PEIXOTO, 2006, s. p.)
na espessa lembrança
de um barco que viajava
preso ao cais do horizonte
(IBID., p. 32)
74
a voar dentro de um sonho alagado
e se extinguindo em um nome sem asas;
os músculos da água que distendem Veneza
as cruzadas ondas do Tejo em Lisboa
e o Egeu em azul margem de Atenas,
criados pelo marulhar das lágrimas
afluentes de minhas lendas.
(IBID., p. 28-29)
Junto à janela
margaridas colorem
as conversas lá fora.
O vento remexe
a cortina de renda
com rude balanço.
Em cima da mesa
o retrato vigia a sala
e espreita se nos cantos
ficou esquecida a morte
dos que se sentam à mesa.
(IBID., p. 47)
76
profundezas, onde quem mergulha e se afoga, desperta no
mundo da poesia – a verdadeira vida.
De repente, sinto minha cabeça tontear, me sinto maior que
meu corpo e minha visão começa a escurecer. Ouço uma
voz a gritar meu nome na superfície. Acordo pasmo,
sentado em minha cama, i(nu)ndado e febril. Mas, atônito,
só consigo pensar: Quem seria aquela mulher que me levou
para o seu mundo, para suas profundezas e me encantou?
Do meu lado, na cama, percebo um livro o qual me recordo
ter em mãos há não muito. Minha vista ainda embaçada
consegue ler um nome gravado na capa: Lina Tâmega
Peixoto: Poeta. Cataguasense. Mulher. (JÚLIO, 2007, n.
p.)
FORA DA PLÊIADE
Nove poetas brasileiros esquecidos pela mídia.
LINA LINÁPTERA
79
Picar o poema
até que
– exausto –
estaque.
“Cuadrar” o poema
para o estoque
que o penetre
e libere
o jorro incruento da poesia.
Creio que expresso bem neste poema “a palo seco” sua arte
poética, em que ressalta o que eu chamaria de poemaquia
(palavra que invento por semelhança com tauromaquia)
que, para manter o tom andaluz – é o conjunto de faenas
que conduz à “suerte suprema” da dominação da emoção
pelo texto, e ao artefacto do poema desde então entregue à
fruição do leitor.
E como o espaço que me reservaram nesse número especial
a ela dedicado chegou ao fim, arremato com uma
explicação sobre a aliteração Lina lináptera que tanto
ocupou o tempo de Astrid Cabral.
Lináptera é claramente composta de lina+ptera (voz grega
para asa) e significa no meu dicionário particular com asas
de Lina. Lina lináptera, Lina que voa com asas de Lina,
com as próprias asas, num alto vôo que acompanho de
baixo. (CABRAL, 2003, p. 6)
3.4 - Auto-Avaliação
80
3.5 - A poeta e sua cidade
CARTA DE CATAGUASES
83
ordena o emaranhado da alma
que não percebo que lateja nos olhos
a mansa demência da tua morte, mãe.
(BRANCO, 2007, p. 6)
3.6 - Entrevista
85
As minhas palavras sim podem estar carregadas de um
sentimento da memória afetiva porque não cabe a mim
fazer um trabalho crítico de análise sobre Cataguases. Me
parece mais válido a minha participação sentimental.
Cataguases ainda hoje é um enigma para mim e eu me sinto
parte desse enigma. (BRANCO, 1977, p.3)
MURALHAS DO TEMPO
A JANELA
O que se rende à contemplação retorna não aos olhos
mas à complacência da pele embrenhada em tatos e pêlos
para que a liturgia da janela não se desfaça em horizonte.
No cuidado com as formas da vida feitas à mão
manuscrevo o cheiro quebradiço do tempo
que submisso ao afadigado coração decompõe em cotos de
cavilhas e sopros o bambo lume das veias.
Há um dália de sol abrindo a janela tão perfeita em seu
d i s f a r c e
que não divide espaços - dique a segurar o corpo.
(inédito, 2007)
O QUE É POESIA?
87
exemplo, a vocabular, a semântica, a fônica, a rítmica,
inseridas num contexto muito próprio e peculiar da criatura
em sua vivência. Assim se refaz, se corta, se modifica o
texto poético até que dele emane a chama da vida em seu
movimento de dor e êxtase.
A poesia bate em nós com força avassaladora e eis que de
fundos subterrâneos desconhecidos chegam ecos
múltiplos, complexos, e estranhos a nos denunciar e a nos
oferecer a realidade que inventamos em perturbadora
angústia, solidão e silêncio.
Segrego a poesia do fundo de minha alma como o bicho-da-
seda o casulo em que se abriga e se transforma. (PEIXOTO,
2006, p. 15)
88
4 - MEIA-PATACA VISTA DE HOJE
90
5 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALFAYA, Ricardo. FMC: um caderno cinco letras. In: Nozarte. Rio
de Janeiro, 06.05.2006, n. p.
AYALA, Walmir. Coluna literária. Rio de Janeiro, Jornal do
Commercio, ago.1963, s. p.
BRANCO, Joaquim. Lina entre/vista. Totem. Suplemento.
Cataguases, Cataguases, setembro 1977, p. 3.
______. Lanternas além dos jardins. Cataguases, Cataguases,
20.05.2007, p. 6.
______. Prazer e mistério de criar uma revista. Caderno C.
Suplemento. Entrevista com Lina Tâmega Peixoto. Cataguases,
Cataguases, 12.jan.2003, p. 05.
______. Retrato do artista. Caderno C. Suplemento. Cataguases,
Cataguases, 25.02.2001, p. 03.
______. Um rio imita a vida. Caderno C. Suplemento. Cataguases,
Cataguases, 2006, p. 6.
______. Vôo enlaçado à memória. Caderno C. Suplemento.
Cataguases, Cataguases, 29.10.2006, p. 5.
CABRAL, Francisco Marcelo. Alguns poemas de Marcelo Cabral”.
Caderno C. Suplemento. Cataguases, Cataguases, 25.02.2001, p.
4.
______. A ponte. Poemas da minha terra. Cataguases nº 639,
Cataguases, 22.jun.1947, n. p.
______. Baile de câmara: poemas. Rio de Janeiro: Ed. Sub Rosa,
1993.
______. Carta a Lina Tâmega, de 30.03.2007.
______. Carta a Lina Tâmega, de 11.04.2007 (por e-mail).
______. Inexílio. Rio de Janeiro: Imprinta, 1979.
______. Lina Lináptera. Caderno C. Suplemento. Cataguases,
Cataguases, 12.01.2003, p. 6.
______. Livro dos poemas. Cataguases: Instituto Francisca de Souza
Peixoto, 2003.
______. Marcelo por Francisco. Caderno C. Suplemento.
Cataguases, Cataguases, 25.02.2002, p. 3.
______. Meia-Pataca: quem se lembra? Cataguarte. Suplemento.
Cataguases, Cataguases, 06.jul.1999, p. 2.
______. O centauro. Cataguases: Edição Meia-Pataca, 1949.
______. Pequena fortuna crítica e epistolar. In: ______. Livro dos
poemas, Cataguases: Instituto Francisco de Souza Peixoto, 2003,
p. 155-165.
91
CAGIANO, Ronaldo. A arte da depuração. Caderno C. Suplemento.
Cataguases, Cataguases, 31.08.2003, p. 11.
CESAR, Guilhermino. Carta a Francisco Marcelo Cabral, de 1949.
FARIA, Álvaro Alves de. Fora da plêiade. Rascunho nº 69, Curitiba,
jan. 2006, p.15.
FRITIZ, Felipe. E-mail de 18.07.2007, n. p.
FUSCO, Rosário. Carta a Lina Tâmega, de 05.12.1947.
______. Carta a Lina Tâmega, de 08.01.1948.
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GUIMARAENS FILHO, Alphonsus de. Meia-Pataca. In: Meia
Pataca nº 2, Cataguases, jun.1949, p. 1.
JÚLIO, Roberto. E-mail de 14.07.2007, n. p.
MEIA-PATACA. Revista. Coleção completa - números 1 e 2. Lina
Tâmega Peixoto et ali i(ed.). Cataguases: 17.07.1948 e jun.1949.
MEIA-PATACA. Cataguases, Cataguases, nº 724, 22.08.1948, n. p.
O DEMOCRATA. Nº 1, Ano 1. Francisco Marcelo Cabral, José do
Carmo Barbosa Filho, Dounê Rezende Spínola. Cataguases:
01.12.1962.
OPINIÕES SOBRE FMC. Cataguases, Cataguases, 25.02.2001, p.
4.
PEIXOTO, Lina Tâmega. Carta a Joaquim Branco, de 22.03.2007
(por e-mail).
______. Cataguases: exercício de amor. Totem nº 9. Suplemento.
Cataguases, Cataguases, set. 1977, p. 3.
______. Dialeto do corpo. Cataguases: Instituto Francisca de Souza
Peixoto, 2005.
______. Entretempo. Rio de Janeiro: Pró-memória/INL/Record,
1983.
______. O que é poesia. Rascunho, Curitiba, Rascunho nº 69, jan.
2006, p.15.
______. Recado para Francisco Marcelo Cabral. Caderno C.
Suplemento. Cataguases, Cataguases, 23.02.2003, p. 8.
______. Técnica e transcendência na criação poética de Francisco
Marcelo Cabral. Caderno C. Suplemento. Cataguases,
Cataguases, 31.08.2003, p.10.
______. Uma releitura de ‘O centauro’. Cataguases, Cataguases,
92
25.02.2001, p. 4.
PENSAMINTO. Nº 5. Ed. Idalina de Carvalho. Cataguases,
set./out.1995, p. 1.
REBELO, Marques. Carta a Lina Tâmega, de 29.01.1947.
______. Carta a Lina Tâmega, de 16.12.1947.
______. Carta a Lina Tâmega, de 08.04.1948.
______. Carta a Lina Tâmega, de 16.09.1948.
______. Carta a Lina Tâmega, de 27.10.1948.
______. Carta a Lina Tâmega, de 03.11.1948.
ROSA, Guimarães. Carta a Francisco Marcelo Cabral, de
15.02.1954.
______. Telegrama a Francisco Marcelo Cabral, Rio de Janeiro, s. d.
SOARES, Antônio Jaime. Poeta raro, conciso, essencial. Caderno C.
Suplemento. Cataguases, Cataguases, 25.02.2001, p. 4.
WERNECK, Ronaldo. Livre dos poemas. Caderno C. Suplemento.
Cataguases, Cataguases, 07.09.2003, p. 6.
93
ANEXO 1 - CORRESPONDÊNCIA
94
contrário, fracasso. Os rapazes e moças da sua geração são muito
burros. Você e o Cabral têm um grande ar diferente, que me
entusiasmou de verdade. Mas acho que já estão importantes. Aquilo
da irmã Filomena do seu amigo é uma asnidade. Faça como a sua
admirada Cecília Meireles: vá às fontes (como no vira lusa), grude
nos portugas do quinhentos, que usam uma língua maravilhosamente
bonita, seca, desidratada e lógica... Pensar que o ilogismo é poesia é
besteira. Até eu, que perdi, com a velhice, a frescura lírica, sou capaz
de improvisar um poema ao jeito de vocês, aqui mesmo na máquina,
sem parar, sem pensar, por conta dos dedos catando teclas. Quer ver?
95
Acho que por influência de uma imbecil carta comprida que recebi:
escrevo a você como se a respondesse, quando apenas tenho para lhe
dizer o seguinte:
a)quando sairá Meia-Pataca?
b)Viu as notícias de A Manhã, O Jornal, Diário Carioca, Correio?
c)Não lhe posso devolver o poema prometido porque mandei para o
Clã, do Ceará.
d)Esse orgulho tolo de não permitir que se toque no Boi no quadrado
revela uma carrancice que não vai com o jeito democrático de seu pai
e a inteligência da sua mãe, sobre ser falta de humanidade, coisa de
artista e de santos.
e)Se quiser alguns exemplares da revista que trouxe – O Naufrágio,
mande falar.
f)Seu tio Hernani Cidade acaba de publicar um excelente ensaio sobre
Gil Vicente. Li a notícia num jornal português. O livro ainda não
chegou aqui, mas sei que é bom pelos trechos dele reproduzidos no O
Século. Peça à sua mãe que escreva ao parente reclamando um
exemplar em nome da família.
O artigo do seu primo Chico Filho, “Metamorfosis”, é besta também.
O Linhares, presidente do Grêmio, é incrível. O que escreveu o
Henrique Oswaldo (filho do Enrique de Resende e, aliás, meu
afilhado) é horroroso. O Lana (parente do José Lana, que tinha uma
venda perto da Igreja?) é simplesmente cretino. O Equi, com uma
piada existencialista (coisa que ele não sabe o que é), a propósito de
Rabelais, também é besta. Você dirá que eu também sou besta, mas a
questão é a seguinte: falta ingenuidade a esses sujeitos. A suficiência
deles mostra que não serão nada. Quem é formidável nem sabe que é:
e eles, todos, pensam que já são. De todos, faço fé, por isso, no
repórter mirim.
Para aproveitar o correio, mando-lhe um livro do Marcos Konder
Reis, Menino de luto. Ele é muito cotado aqui com as meninas da sua
idade. Vale a pena lê-lo para você ver que não está tão errada assim,
mas, apenas, espicaçada pelo demônio da vaidade, que não é apenas
feminino, como dizem. Creia, minha filha, que os homens são piores.
Entre eles, me incluo, na companhia de seu pai (o da entrevista de O
estudante) e, tão só, elimino o “doce” Marques Rebelo, mais cocada
do que gente. Rosário 09.06.1948
Lina: não tenho visto o Cabral, há muito que ele não aparece lá em
casa. A impressão que tenho é que ele anda apertado com os exames.
O livro dele, ao que eu saiba, não obteve nenhuma repercussão por
aqui: em parte, culpa do autor, não dos versos, pois que o poeta não
fez a distribuição devida. E você? Tem escrito? A revista gorou?
Recomendações ao seu pessoal. Ainda agorinha escrevo ao Chico:
acho que irei aí pelas alturas de março. Gostou do livro da Cecília
Meireles, Retrato natural? Achei uma beleza. Não conheço ninguém
que domine melhor o verso em língua portuguesa.
98
(e rima). Rosário 27.02 .1950
Lina:
Minha vida é um embrulho tão grande que já perdi a esperança de pô-
la em ordem. Mas aqui estou.
A minha ida a Florianópolis permitirá estabelecer relações mais
próximas entre Meia-Pataca e Sul. Este grupo me telegrafou
apoiando minha iniciativa lá com grande entusiasmo.
O quadro do Dacosta chama-se simplesmente “Pintura”. Assim você
poderá balizá-lo verdadeiramente. E “Mônica” está muito bom.
Mande o conto para ler.
A colaboração de pessoa tão importante como Portinari será
magnífica para a revista.
A capa pedida só poderá ser enviada depois de minha volta. São só 15
dias. Mas você me relembre.
Estou organizando um Museu de Arte Popular que mencionei em
Cataguases. Lá para janeiro creio estar pronto.
Aldari vai sábado. Leve um projeto de urbanização para a cidade. Se
João fizer isso terá feito o que “nenhum prefeito fez no Brasil”.
Não entendi isso: Quem é Van Jafa?
99
Explique-se e faça letra de imprensa.
Até a volta.
Rebelo 16.09.1948 Abraços a todos.
Lina:
Cheguei do Sul, apanhei uma boa gripe e não respondi a D. Zélia, nem
te escrevi.
Hoje, melhor, aqui estou. Recebi sua carta de 22.
D. Zélia: diga-lhe que recebi dois cheques, e que agradeço. Um de
2.500 e um de 3000. Se mandou mais não chegou. Frizo: a carta com o
último cheque chegou aberta! Diga a D. Zélia para passar mais cuspe.
João – Diga-lhe que eu fiquei satisfeito por saber que vai fazer a
urbanização com o Pedro.
Meia-Pataca – Boa idéia a da sociedade. Quero tomar parte.
Livros – Vou enviar este mês mais uns 300 volumes para a Biblioteca
do Grêmio. Doação também do Josias Leão.
Da Costa – Faça como você quiser. Eu já paguei o quadro. Ando muito
rico. Ganhei muito no Sul.
Na próxima Meia-Pataca você dê notícia que em Florianópolis o
Governo atendeu a uma solicitação minha de se fundar um pequeno
Museu de Arte Contemporânea. E que atendeu também ao pedido dos
jovens para que a esta sala fosse dado o meu nome. Estou muito
vaidoso e dia 9 voltarei lá para inaugurar o retrato do Degas e a
competente placa na parede!
Gostei muito do seu conto em O Estudante. Gostei mesmo.
A poesia é muito bonita. O José Maria vai ilustrá-la. Já me mostrou um
esboço. Está grato. Ele agradece a gentileza do convite e estará sempre
pronto para servir vocês. Aliás quem ficou mais satisfeito fui eu,
porque gostaria muito que o meu garoto (que não é burro) formasse ao
lado de vocês.
Capa – O Santa vai fazer. Vou mandar logo. Deixemos ao gosto dele. É
craque!
Sul – Gente muito boa. Troquem colaboração. Eu consegui dar jeito
melhor na revista deles. Vai ver. Irão a Cataguases no congresso.
Pascoal atendeu meu pedido.
Congresso – Vai ser um sucesso.
Portinari e Schimidt são valores importantes. E será interessante a
colaboração deles. Mas o mais importante é que Meia-Pataca ponha
nas suas páginas gente nova. De todo o Brasil.
[...]
Junto a ilustração do seu poema feito pelo José Maria. Está bastante
100
bom para ele.
Junto também um poema “Canção” de Reinaldo Dias, pupilo de
Rebelo. Faço questão da publicação. Tem ilustrações também do Zé.
Muito obrigado do Rebelo. - Mostre ao Peixoto as
ilustrações. 27.10.1948
1940
- Alemanha invade a Dinamarca, Noruega, Holanda, Bélgica e
Luxemburgo (II Grande Guerra Mundial)
- Churchill é indicado 1º ministro na Grã-Bretanha.
- Itália invade a Grécia.
- Cinema: Chaplin (O grande ditador); Disney (Pinóquio e
Fantasia).
- Literatura: Hemingway (Por quem os sinos dobram).
• No Brasil: Encampação do jornal O Estado de S.Paulo e da Rádio
Nacional pela Ditadura Vargas.
- Empréstimo norte-americano para construção da Usina de Volta
Redonda.
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-Literatura: Drummond (Sentimento do mundo); Mário Quintana
(Rua dos cataventos).
1941
- Alemanha invade Iugoslávia, Grécia e Rússia.
- Inglaterra invade Etiópia e expulsa os italianos.
- Assinatura do Pacto Atlântico, após encontro Churchill-Roosevelt.
- Ataque japonês a Pearl Harbour, nos EUA.
- Primeiros testes com aviões a jato (EUA).
Cinema: Orson Welles (Cidadão Kane) (EUA).
Literatura: Scott Fitzgerald (The last Tycoon) (EUA).
Teatro: Eugene O’Neill (Longa jornada noite a dentro) (EUA).
• No Brasil: Fundação da Cia. Siderúrgica Nacional.
- Literatura: Érico Veríssimo (O resto é silêncio).
1942
- Começo da Batalha de Estalingrado (Alemanha x Rússia).
- Aliados desembarcam na Argélia e Marrocos.
- Alemães ocupam a França.
-Descoberta da penicilina (EUA).
- Fermi constrói a primeira pilha nuclear.
• No Brasil: declaração de guerra à Alemanha e à Itália.
- Literatura: Cecília Meireles (Vaga música); Monteiro Lobato (A
chave do tamanho);
- João Cabral de Melo Neto (Pedra do sono).
1943
- Rendição final dos alemães em Estalingrado (Rússia).
- A Itália capitula e Mussolini renuncia como 1º Ministro.
- Teatro: Rodgers e Hammerstein (Oklahoma!) (EUA).
• No Brasil: Nélson Rodrigues (Vestido de noiva).
- J.Lins do Rego (Fogo morto); Henriqueta Lisboa (O menino
poeta).
1944
- Russos avançam e invadem a Romênia e a Polônia.
- Aliados retomam Roma.
- “Dia D”: aliados desembarcam na Normandia (França).
- Libertação de Paris dos alemães.
- Plano para criação do FMI.(EUA).
-Fabricação do foguete V-2 (EUA).
- 1ª máquina de computação mecânica (EUA).
- Invenção do DDT (EUA).
- Cinema: Eisenstein (Ivã, o terrível) (Rússia).
- Literatura: T. S. Eliot (Quatro quartetos) (Inglaterra).
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- Teatro: Sartre (Entre quatro paredes) (França).
• No Brasil:
- Envio de tropas da FEB para o teatro de operações de guerra.
- Literatura: Clarice Lispector (Perto do coração selvagem).
1945
- Conferência de Yalta, com Roosevelt, Churchill e Stalin.
- Mussolini é executado na Itália.
- Morre Roosevelt e é substituído por Truman (EUA).
- Hitler se suicida na Alemanha. Rendição dos alemães.
- Lançamento de bombas atômicas pelos EUA em Hiroxima e
Nagasáki (Japão). Fim da guerra.
- Projeto para o primeiro computador (EUA).
- Música: Frank Sinatra torna-se o maior ídolo popular (EUA).
- Literatura: G.Orwell (A revolução dos bichos) (Inglaterra).
- Teatro: Brecht (O círculo de giz caucasiano) (Alemanha).
• No Brasil: - Fim da ditadura Vargas.
- Literatura: -Drummond (A rosa do povo). - João Cabral de Melo
Neto (O engenheiro).
1946
- Ditadura de Perón (Argentina).
- Condenação de nazistas no Tribunal de Nuremberg (Alemanha).
- Início da técnica de ressonância nuclear magnética (EUA).
- Corte declara inconstitucional a segregação racial nos ônibus
(EUA).
- Literatura: - Sartre (Existencialismo e Humanismo) (França).
• No Brasil: -Posse do novo presidente da República: Gaspar Dutra.
- Literatura: Guimarães Rosa (Sagarana); Jorge Amado (Seara
vermelha).
1947
- Fim do império (Índia).
- Comercialização das câmeras polaroids (Austrália).
- Plano Marshall para a recuperação da Europa (EUA).
- Libby usa o carbono radioativo para datar objetos pré-históricos
(EUA).
- Primeiros vôos supersônicos (EUA).
- Arquitetura: Le Corbusier (França).
- Literatura: Albert Camus (A peste) (França).
- Teatro: Tenessee Williams (Um bonde chamado desejo) (EUA).
• No Brasil: - Proibição do PCB e fechamento da CGT.
- Rompimento diplomático com a União Soviética.
1948
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- Assassinato de Gandhi (Índia).
- Independência do Estado de Israel.
- Levantamento do Muro de Berlim (Alemanha).
- Tensões raciais na África do Sul.
- Criação da OMS (Organização Mundial de Saúde) (EUA).
- Criação da OCEE (Organização da Comunidade Econômica
Européia).
- Invenção do transistor (EUA).
- Criação do disco long-playing (EUA).
- Cinema: De Sica (Ladrão de bicicleta) (Itália).
- Literatura: Thomas Mann (Doutor Fausto) (Alemanha).
- Pintura: Braque (Estudos); Pollock (Expressionismo Abstrato)
(Alemanha).
• No Brasil: - Cassação de parlamentares do PCB.
- Criação da Escola Superior de Guerra.
- Inauguração do MAM, de São Paulo.
- Fundação do TBC(Teatro Brasileiro de Comédias), em S.Paulo.
- Lançamento da revista de literatura Meia-Pataca em Cataguases.
1949
- Assinatura do Tratado do Atlântico Norte.
- Proclamação da República Popular da China.
- Criação da RDA - República Democrática Alemã.
- Início do Apartheid (África do Sul).
- Arquitetura: Le Corbusier e Niemeyer projetam prédio da ONU em
Nova York.
- Literatura: - George Orwell (1984) (Inglaterra).
-Simone de Beauvoir (O segundo sexo) (França).
- Teatro: Arthur Miller (A morte do caixeiro-viajante) (EUA).
• No Brasil: - Candidatura Vargas à presidência da República.
- Criação da Cia. Cinematográfica Vera Cruz.
- Lançamento do 2º nº da revista Meia-Pataca em Cataguases.
- Literatura: Érico Veríssimo (O tempo e o vento).
1950
- Início da Guerra da Coréia.
- Ascensão econômica da Alemanha Ocidental.
- Cinema: Jean Cocteau (Orfeu) (França).
- Teatro: Ionesco (A cantora careca) (França).
• No Brasil: Vargas é eleito presidente da República.
- Literatura: João Cabral de Melo Neto (O cão sem plumas).
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ANEXO 3 - ICONOGRAFIA
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Lina e Francisco Marcelo no Rio de Janeiro (2004)
106
Joaquim, Roberto e Felipe, na pesquisa sobre Meia-Pataca (2007)
(foto Natália Tinoco)
107
Lina recebe o escritor Hernani Cidade, em Brasília
109
Maria do Carmo, Lina e Vânia Chaves na FIC (2003)
111
Francisco com a poeta Celina Ferreira (anos 1970)
112
A tradicional Padaria Cabral dos anos 1940-50, ao lado da qual se
localiza a residência da família de Francisco Marcelo Cabral
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Lina em desenho de Francisco Otaviano
114
Francisco Marcelo em uma festa, nos anos 1970
115
Lina em sua biblioteca, anos 1950
116
Cabral em foto de Victor Giudice (1980)
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