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INTRODUÇÃO AO SERVIÇO SOCIAL

CAPÍTULO 3 - ESPAÇOS SÓCIO-OCUPACIONAIS


DO SERVIÇO SOCIAL
Hudson Andrey Correa da Costa

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Objetivos do capítulo
Ao final deste capítulo, você será capaz de:
• Conhecer os campos de atuação profissional das/os assistente sociais.
• Entender como se dá a inserção profissional em setores público, privado, terceiro setor e em movimentos
sociais.

Tópicos de estudo
• Serviço Social no setor público.
• Atuação profissional em prefeituras e os serviços diretos à população.
• Atuação profissional nos setores estaduais.
• Atuação profissional em autarquias, fundações e estatais.
• Serviço Social no setor privado.
• Atuação profissional em empresas.
• Atuação dos assistentes sociais em instituições financeiras.
• Atuação do assistente social como consultor e assessor.
• O Assistente Social e o exercício do magistério.
• Serviço Social no Terceiro Setor.
• Atuação em organizações não governamentais.
• Atuação em fundações beneficentes e clubes sociais.
• Atuação em entidades filantrópicas.
• Serviço Social e múltiplos espaços socioinstitucionais.
• Serviço Social e meio ambiente.
• Serviço Social e clubes esportivos.
• Serviço Social e movimentos sociais.

Contextualizando o cenário e Pergunta norteadora


O Serviço Social é uma profissão inserida na divisão social do trabalho, no contexto das relações sociais
capitalistas. Desse modo, o assistente social atua em diversos espaços socioinstitucionais, o que lhe exige
competências teóricas e metodológicas, além de uma postura ética no exercício da profissão.

Essa inserção em diferentes cenários se dá devido o reconhecimento do assistente social como capaz de intervir
nas expressões da questão social em diferentes contextos. Então, esse profissional utiliza seu conhecimento
teórico e metodológico para identificar determinada realidade e intervir de maneira adequada.

Diante disso, e tendo em vista os múltiplos espaços sócio-ocupacionais do assistente social, como se dá a
intervenção profissional nesses diferentes contextos ocupacionais?

3.1 Serviço Social no setor público


A partir de 1930, o Estado brasileiro, diante dos conflitos resultantes das relações antagônicas entre o capital e o
trabalho, começou a intervir na questão social por meio de políticas que visavam atender a população em
situações de vulnerabilidade socioeconômica.

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Nesse sentido, como aponta Raichelis (2009), a atuação do assistente social no setor público estava diretamente
relacionada à execução de políticas públicas para a população mais empobrecida ou subalternizada. Isto porque
essa população vivencia as mais diversas expressões da questão social em seu cotidiano e necessita, portanto,
obter acessos aos direitos básicos por meio de políticas sociais.

No entanto, devido às novas configurações do mundo do trabalho e à reorganização do grande capital na corrida
desenfreada para gerar mais lucros, novas formas de atuação social do Estado começaram a surgir. Assim, Ele
diminui suas intervenções nas políticas sociais e repassa essas ações para as instituições da sociedade civil,
denominadas de Terceiro Setor, dos quais também estudaremos mais adiante nesse capítulo.

Dito isso, nos próximos tópicos iremos discorrer sobre atuação profissional nos diversos espaços do setor público.
Acompanhe!

3.1.1 Atuação profissional em prefeituras e os serviços diretos à população

O trabalho do assistente social na esfera pública possibilita o trabalho direto com a formulação, execução e
controle de políticas sociais nas mais diversas áreas. Dessa forma, a atuação do assistente social em prefeituras,
oferecendo serviços diretos à população, é um campo muito relevante para executar políticas públicas que tangem
a questão social.

AFIRMAÇÃO
Questão social é “o conjunto das expressões das desigualdades da sociedade capitalista madura,
que tem uma raiz comum: a produção social é cada vez mais coletiva, o trabalho torna-se mais
amplamente social, enquanto a apropriação dos seus frutos mantém-se privada” (IAMAMOTO,
2012, p. 27).

A Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988) traz novas bases para a gestão social das políticas públicas
executadas pelo Estado, principalmente das políticas sociais. Nesse contexto, ocorre a municipalização de serviços
básicos. Para conhecê-los clique nos ícones.

Saúde.

Assistência social.

Educação e habitação.

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Fazendo com que o profissional de Serviço Social passe a ter notória atuação no âmbito municipal.

Assim, no contexto das prefeituras e serviços diretos à população, o assistente social desempenha diversas
atribuições e, dentre elas, a execução das políticas sociais. Enquanto executor dessas políticas, o assistente social
tem a “atribuição de promover a socialização de informações e o fortalecimento de ações que dialoguem com a
população usuária dos serviços socioassistenciais” (CARDOSO e FAGUNDES, 2013, p.4). Além disso, esse
profissional, no contexto municipal, também atua na gestão, formulação, execução e controle de políticas e
programas sociais.

Fonte: © A3pfamily / / Shutterstock.

Conhecida atuação do assistente social nos municípios, no tópico a seguir iremos conhecer sua atuação nos
setores estaduais, que corresponde a uma atuação de caráter mais gerenciador, oferecendo, também, apoio
técnico aos municípios.

3.1.2 Atuação profissional nos setores estaduais

A atuação do assistente social no âmbito estatal, em suas mais diversas esferas, se caracteriza, em sua gênese, pela
administração e execução das políticas sociais direcionadas pelo Estado.

No entanto, é pertinente ressaltar que, a partir dos anos 1990, ocorreu o crescimento das “parcerias e
transferências de responsabilidades públicas para as iniciativas da sociedade civil, de repasse da prestação de
serviços para organizações não governamentais, empresariais ou sem fins lucrativos” representando uma
mudança nas condições de trabalho desse profissional no âmbito estadual (RAICHELIZ, 2009, p.).

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Fonte: © AndreyPopov / / iStock.

A partir dessa transferência da execução de políticas públicas do Estado para a sociedade civil, é possível
evidenciar, ainda, dois campos de atuação do assistente social no setor estadual. Confira esses campos clicando na
interação.

1 º No legislativo.
Campo

2 º
No judiciário.
Campo

O assistente social no legislativo, apesar de ser um espaço ainda pequeno, representa um espaço propício para
“avançar nas lutas sociais e inscrever na legislação os direitos sociais das classes subalternas” (RAICHELIZ, 2009, p.
12).

Já no âmbito judiciário, “os assistentes sociais atuam no vasto campo do acesso aos direitos e à justiça, na
perspectiva de buscar superar a aplicação discriminatória das leis que se verifica no cotidiano das classes
subalternas”. RAICHELIZ, 2009, p.11).

Conhecida a atuação do assistente social no âmbito estadual, no próximo tópico, aprofundaremos o fazer
profissional do assistente social nas fundações e autarquias estatais.

3.1.3 Atuação profissional em autarquias e fundações estatais

As instituições de administração pública indireta - autarquias, fundações e empresas estatais - também


correspondem a espaços para o assistente social exercer suas funções. Acerca das fundações estatais, salienta-se,
vários objetivos. Para saber mais a respeito dos objetivos fundamentais clique na interação.

• Objetivo 1
A desburocratização do Estado e a prestação de “um atendimento efetivo às necessidades do cidadão”.

• Objetivo 2

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A construção de “uma alternativa mais ágil, transparente e participativa, da qual a sociedade possa cobrar
resultados” (BRASIL, 2007).

Nestes espaços, o profissional de serviço social atua em diversas frentes, podendo trabalhar tanto no atendimento
direto à população que acessa os programas, projetos e serviços públicos oferecidos pelas fundações, como na
mobilização e articulação de campanhas que possibilitem alcançar objetivos institucionais. A exemplo dessas
campanhas, podemos citar a atuação dos assistentes sociais nas fundações de hemoterapia, mobilizando a
sociedade para a captação de doadores de sangue.

Fonte: © iPreech Studio / / Shutterstock.

PAUSA PARA REFLETIR


Quais as principais características do fazer profissional do assistente social no setor público?

No próximo tópico, iremos conhecer como o Serviço Social atua no setor privado.

3.2 Serviço Social no setor privado


O setor privado envolve a dinâmica de produção e reprodução do sistema capitalista, produzindo bens e serviços
que geram riquezas. Nesse processo, então, acontece um intenso processo de exploração do trabalho para garantir
e ampliar o acúmulo de riquezas através da alta lucratividade, sendo, portanto, um setor ligado às grandes

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indústrias nacionais ou transnacionais. Desse modo, pode-se dizer que, no Brasil, o serviço social ligado a esse
setor começou a se dar, mais intensamente, a partir da década de 1950, quando houve um intenso processo de
industrialização no país (FREIRE, 2006). Navegue na interação e conheça informações relevantes a essa questão.

1) A atuação do assistente social no setor privado perpassa ações interventivas ligadas às respostas de demandas
da vida material dos trabalhadores, como suas necessidades de alimentação, saúde, assistência, educação, bem
como a ação pedagógica do profissional no processo de construção do consenso para a produtividade, como a
aplicação de treinamento, capacitação, oficinas e outras ações pedagógicas.

2) Nesse contexto de ação no setor privado, as contradições inerentes ao assistente social são intensificadas, uma
vez que esse profissional precisa atender às demandas de quem o contrata, ao mesmo tempo que precisa dar
respostas às necessidades vitais do público com quem trabalha.

3) Assim, o assistente social necessita compreender a condição contraditória de sua prática profissional: a de
trabalhador assalariado e a de um profissional que luta pela concretização dos direitos sociais das pessoas que
requisitam seus serviços.

Nos próximos tópicos, iremos adentrar os diversos espaços ocupacionais no setor privado. Acompanhe!

3.2.1 Atuação profissional em empresas

A atuação do assistente social nas empresas se dá a partir dos anos de 1970 e, de forma mais significativa, nos anos
1980, pois é identificado uma presença forte de assistentes sociais nesse contexto. Tratase de um período de
organização política da classe trabalhadora, expressos no aparecimento de partidos políticos e de sindicatos
(AMARAL e CESAR, 2009).

Contudo, esse contexto também está atrelado às mudanças ocasionadas pela gestão do trabalho em decorrência
da produção neoliberal, o que impõe limites ao fazer profissional do assistente social nas empresas. Essas
mudanças se efetivaram na sociedade capitalista a partir das chamadas crises de superprodução, inerente ao
próprio sistema capitalista.

DICA
Para melhor entender a chamadas crises de superprodução, leia o livro “Política Social:
fundamentos e história”, escrito por Behring e Boschetti (2011), que trata de forma precisa o
contexto da grande crise do capital e alteração nos modos de produção capitalista.

Historicamente, a manifestação do trabalho do assistente social nas empresas se dá tanto na vida espiritual como
na vida material dos trabalhadores. Na dimensão espiritual, segundo Amaral e Cesar (2009), o assistente social atua
em processos. Clique na interação e saiba como acontece.

1) Aculturamento dos funcionários.

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2) Geração de novos comportamentos organizacionais e funcionais.

3) Contribuindo para o alcance das metas das empresas.

Esta dimensão pedagógica do fazer profissional visa interferir diretamente no modo de produzir dos funcionários,
favorecendo um ambiente organizacional mais produtivo.

Fonte: © John_T / / Shutterstock.

A outra dimensão do trabalho do assistente social está ligada à gestão de políticas sociais voltadas para os
trabalhadores da empresa. Essa dimensão se caracteriza pelo levantamento das demandas e necessidades da vida
material dos trabalhadores, as quais interferem diretamente no processo produtivo (AMARAL; CESAR, 2009). Assim,
o assistente social atua da seguinte forma. Clique na interação e fique por dentro.

• Atuação 1
Na vida material dos funcionários da empresa e também na de seus familiares.

• Atuação 2
Na identificação dos fatores que possam interferir na sua produtividade.

• Atuação 3
Na realização de atendimentos que possibilitem o acesso aos direitos dos trabalhadores.

Para tanto, o profissional utiliza os recursos e benefícios disponibilizados pelas empresas, como programas de
qualidade de vida para os funcionários, treinamentos e capacitações, programas de incentivo a escolaridade,
programas de ambiência entre empresa e família, programas de concessão de vale alimentação e cestas básicas,

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entre outras ações. Essa utilização de recursos e benefícios pode variar dependendo da responsabilidade social da
empresa.

Conhecida a atuação do assistente social em empresas, no próximo tópico iremos nos aprofundar na atuação em
instituições financeiras.

3.2.2 Atuação dos assistentes sociais em instituições financeiras

A reestruturação produtiva e a revolução tecnológica proporcionaram alterações substanciais nas instituições


financeiras. Essas mudanças dinamizaram e mudaram as relações de trabalho, exigindo novas competências e
habilidades.

O assistente social nas instituições financeiras atua, segundo Dourado (2006, p. 159) em “[...] propostas de
programas como dependência química, clima social, qualidade de vida, acompanhamento sistemático dos
atendimentos sociais [...]”, ou seja, sua ação, nestas instituições, se volta para o atendimento social dos diversos
colaboradores. Além disso, sua atuação pode ser direcionada para a gestão e captação de projetos sociais voltados
para a comunidade a partir de fundações dessas instituições. Nesse caso, o profissional lida com demandas sociais
identificadas por estudos sociais e direciona ações para alguma comunidade ou segmento social.

A seguir, conheceremos a função do trabalho liberal do assistente social como consultor e assessor.

3.2.3 Atuação do assistente social como consultor e assessor

A atuação do assistente social na área de assessoria e consultoria, segundo Matos (2009), acontece desde a década
de 1970, porém, foi somente no início dos anos de 2000 que esse tipo de intervenção foi mais demandado. O
assistente social, nesse contexto de consultoria e assessoria, é contratado por instituições privadas, públicas ou do
terceiro setor, para opinar e para propor ações que se relacionem com seu conhecimento, suas competências e
suas habilidades.

Fonte: © one photo / / Shutterstock.

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Assim, o assistente social que atua como assessor, visa auxiliar, ajudar e apontar caminhos nas mais diversas ações
ou formulações de programas, projetos e serviços na área do terceiro setor, do Estado e nas empresas privadas.
Como exemplo, podemos citar a contratação de um profissional especializado em assistência social para auxiliar
na elaboração e na discussão de políticas públicas, acompanhando esse processo, mas sem executá-lo.

A consultoria realizada pelo assistente social, diferentemente da assessoria, se remete apenas à expressão da
opinião e ao conhecimento técnico do profissional de Serviço Social. Um tipo de consultoria pode se dar, por
exemplo, quando o profissional é contratado para orientar, na área jurídica, os caminhos necessários para a
consecução de alguns direitos.

Assistente social como consultor e assessor

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Por fim, pode-se dizer que essa nova modalidade de atuação do profissional de Serviço Social se encontra no
campo da profissão liberal, colocando o conhecimento especializado do assistente social à venda para uma
determinada área.

Visto até aqui os diversos espaços ocupacionais do assistente social, que possibilita um leque de possibilidades de
intervenção social, no próximo tópico, iremos conhecer a atuação do assistente social no exercício do magistério,
espaço que requer competência teórica e a incessante busca pelo conhecimento e pesquisa.

3.2.4 O Assistente Social e o exercício do magistério

A função do assistente social no processo formativo e intelectual se concretiza na construção histórica de


amadurecimento intelectual da profissão no Brasil. Assim, o trabalho do assistente social no magistério é uma
atribuição privativa do profissional de Serviço Social e é assegurada pela Lei 8.662 de 7 de junho de 1993.

Fonte: © Flamingo Images / / Shutterstock.

O espaço de trabalho do assistente social no magistério se caracteriza pela produção científica e pela formação
profissional de trabalhadores especializados a partir do trabalho docente. Assim, dentre as atividades desse, tem-
se, além do próprio exercício do magistério, a direção acadêmica e a supervisão de ensino.

Na graduação, o profissional tem o desafio de implementar as diretrizes curriculares estabelecidas pela Associação
Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS) tanto no processo de ensino, como na produção de
conhecimento e na extensão universitária.

Ademais, pode-se dizer que o profissional pode atuar tanto em instituições públicas como em instituições privadas
de ensino. Clique na interação e saiba mais.

Atuação 1
No âmbito da docência.

Atuação 2
Na direção acadêmica de cursos de graduação e pós-graduação.

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A titulação mínima de especialização para essa atuação é a de mestrado, porém algumas Universidades exigem
como titularidade mínima o doutorado, requerendo desse profissional compromisso com a produção intelectual e,
ao mesmo tempo, com o projeto ético-político da profissão.

PAUSA PARA REFLETIR


Quais são as competências e habilidades exigidas do profissional de serviço social no espaço
sócio-ocupacional do setor privado?

Salienta-se que há outros espaços sócio-ocupacionais do assistente social também que exige do profissional
alguns conhecimentos específicos. Além disso a formação continuada é um dos preceitos no âmbito do Serviço
Social, que requer atenção dos profissionais.

A seguir adentraremos no debate sobre o Serviço Social e o Terceiro Setor. Vamos lá?

3.3 Serviço Social no Terceiro Setor


O Terceiro Setor é um espaço ocupacional que ganha força no Brasil a partir da década de 1990. Esse surgimento se
dá com a retração do Estado no enfrentamento à questão social, que reduziu os investimentos em políticas sociais,
repassando para a sociedade civil essa responsabilidade de ação. Por vezes, essas ações são pontuais,
fragmentadas, voluntárias e com caráter religioso/filantrópico. Nesse contexto de diminuição da ação do Estado na
condução das políticas sociais é que se intensifica o crescimento das instituições ligadas à sociedade civil. Esse
novo espaço ocupacional para o assistente social é fruto, também, das mudanças na reorganização do capital e
das novas gestões do trabalho.

Dito isso, a seguir iremos conhecer as funções do assistente social nesse campo de trabalho. Acompanhe!

3.3.1 Atuação em organizações não governamentais

A atuação profissional do assistente social nas instituições não governamentais do terceiro setor, conhecidas como
Organização da Sociedade Civil (OSC) - nomenclatura dada pela lei 13.019 de 2014 que dispõe sobre o Marco
Regulatório das OSC -, é um espaço ocupacional relativamente novo que vem se ampliando desde a década de
1990.

DICA
Para entender melhor o conceito de Terceiro Setor, leia o livro “Terceiro setor e questão social:
crítica ao padrão emergente de intervenção social” do assistente social Carlos Montaño.

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As instituições que fazem parte do Terceiro Setor atuam em diversos âmbitos assistências, como bem aponta a
figura a seguir:

Percentual das Entidades de Assistência Social Privadas sem Fins Lucrativos, por Grandes Regiões, segundo a
principal área de atuação
Fonte: IBGE, 2013, p. 23.

As OSCs são instituições que executam serviços públicos na área de assistência social, saúde, habitação, cultura,
direitos humanos, entre outras áreas, através de projetos sociais destinados a um público determinado. São nessas
áreas, portanto, que se insere o assistente social no Terceiro Setor, o que lhe exige, segundo Alencar (2009), um
conhecimento especializado e apurado nos processos gerenciais de programas e projetos. Navegando na interação
você conhece mais a respeito.

1) O assistente social inserido na OSC executa a função terminal dos serviços junto a população, porém também
tem como responsabilidade a gestão de projetos. Essa função de gestor lhe exige um posicionamento investigativo
para realizar diagnósticos sociais, levantar demandas, ler orçamentos e dominar a captação de recursos privados e
públicos (ALENCAR, 2009).

2) É importante ressaltar que o profissional inserido no setor da OSC atua em redes de projetos que intervenham
na realidade, bem como em espaços de controle social das políticas sociais, planejando e acompanhamento as
ações do Estado nos espaços de conferências e em fóruns, executando ações de caráter público, participando em
espaços de controle social e na formulação de políticas sociais.

Dito isso, a seguir iremos nos aprofundar no trabalho do assistente social nas fundações beneficente e em clubes
sociais.

3.3.2 Atuação em fundações beneficentes e clubes sociais

As instituições beneficentes e os clubes sociais são instituições que fazem parte do Terceiro Setor, executando
projetos, programas e serviços voltados para a população em situação de vulnerabilidade ou para seus associados.
Nesse sentido, as instituições beneficentes surgem com fortes sentimentos morais de caridade, benemerência e

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altruísmo para com a população em situação de vulnerabilidade. No entanto, esse tipo de instituição também tem
atuação voltada para o âmbito social e de pesquisa com o intuito de intervir na sociedade, fortalecendo, assim, seu
marketing social.

Já os clubes sociais são organizações destinadas a um segmento ou a uma categoria profissional, tendo como
objetivo a socialização, o lazer, a convivência comunitária e outras ações para seus associados.

Fonte: © Rawpixel.com / / Shutterstock.

Tais instituições sobrevivem de doações de associados e, quando suas ações são voltadas para a população em
situação de vulnerabilidade, contam com a transferência de recursos públicos, disponíveis por fundos de
assistência social, ou privados. Enquanto mantinham-se somente com recursos de doações, tais instituições
executavam ações sociais com forte sentimento de benemerência. Porém, ao captarem recursos públicos, exigiu-
se um profissional de serviço social com as seguintes características. Para saber do que se trata clique na interação.

• Característica 1
Planejar ações sociais.

• Característica 2
Executar ações sociais.

• Característica 3
Monitorar as ações sociais.

Pois, ao acessar recursos públicos, essas instituições tendem a se adequar às determinações e diretrizes das
políticas sociais.

O profissional que se insere nessas instituições atua na formulação, no planejamento, na execução e na avaliação
dos serviços sociais voltados à população, exigindo um olhar apurado para desvelar as múltiplas expressões da
questão social para poder intervir. Nesses espaços, o profissional lida com a linha tênue entre benemerência e
direito social, tendo o compromisso ético de ampliar e garantir os direitos sociais. Ele também precisa ter
habilidade de mobilização social e de execução de campanhas, além de o conhecimento técnico para captar
recursos públicos para financiar as ações das instituições.

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ESCLARECIMENTO
Enquanto a benemerência tem relação com a ascensão da assistência social no Brasil (ações de
caridade), o direito social está relacionado à responsabilidade estatal para com as expressões da
questão social, não mais correspondendo como um ato de benevolência (DANTAS, 2016).

Agora que conhecemos o trabalho do assistente social nas instituições beneficentes e clubes sociais,
aprofundaremos nossos conhecimentos sobre o seu trabalho nas entidades filantrópicas.

3.3.3. Atuação em entidades filantrópicas

Na área do Terceiro Setor, o profissional de Serviço Social também se insere nas instituições filantrópicas, que são
reconhecidas pelo Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil (MIROSC). As instituições filantrópicas
executam suas ações na área social, sem fins lucrativos, de acordo com a legislação vigente, o que exige a
profissionalização do seu quadro de trabalhadores.

O assistente social, nas instituições filantrópicas, atua tanto no atendimento direto aos usuários dos serviços
oferecidos, como na mobilização social para financiar as ações institucionais. Para tanto, trabalha para captar
recursos a partir de ações beneficentes e também para captar recursos do Estado. Nessa área, o assistente social se
depara com instituições de caráter humanitário e altruísta que, muitas vezes, não reconhece o público de suas
ações, como sujeitos de direitos (MONTAÑO, 2010). Portanto, na área do Terceiro Setor, o profissional encontra-se
num campo de tensões entre o atendimento benemerente e filantrópico da questão social e o acesso aos serviços
como um direito social.

PAUSA PARA REFLETIR


O terceiro setor é um espaço permeado de ações de valores filantrópicos, benemerentes e de
garantia de direitos. Assim, quais são os desafios do assistente social na concretização dos
direitos sociais no espaço do Terceiro Setor?

Chegamos aqui com um panorama do trabalho do assistente social no Terceiro Setor e em suas diversas áreas.
Agora, daremos prosseguimento conhecendo outros espaços ocupacionais do assistente social em suas mais
diversas áreas.

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3.4 Serviço Social e múltiplos espaços socioinstitucionais
No decorrer do capítulo, conhecemos os diversos espaços sócio-ocupacionais do assistente social, evidenciando o
quanto esses ambientes se modificaram e se ampliaram, caracterizando, assim, um grande mercado para essa
atuação profissional.

Essas ampliações, no entanto, continuam acontecendo, o que abre ainda mais espaço para esse fazer profissional.
Nesse sentido, a exemplo de espaços ocupacionais que emergem na contemporaneidade, temos a área do meio
ambiente e a do esporte, que, como são espaços relativamente novos, necessitam de maiores estudos e
produções.

Agora, diferentemente desses novos espaços, também temos a inserção do assistente social nos movimentos
sociais, que data da década de 1970. Nesse contexto, o profissional de Serviço Social oferece o aporte teórico-
metodológico necessário para a compreensão e decodificação da realidade social com o intuito de impulsionar a
direção social dos movimentos sociais.

Dito isso, vamos, a seguir, compreender a inserção do assistente social nesses novos espaços e também nos
movimentos sociais. Acompanhe!

3.4.1. Serviço Social e meio ambiente

A relação entre Serviço Social e meio ambiente se dá, principalmente, pelo agravamento da questão social
condicionada pelo modo de produção insustentável e contraditório do capitalismo, o que resulta em uma
preocupação socioambiental. Isto porque o desenvolvimento da sociedade capitalista intensifica o processo de
desigualdade ao degradar recursos renováveis e não renováveis, trazendo, assim, consequências sociais à
população em geral e, principalmente, à população em situação mais vulnerável.

A inserção do serviço social no meio ambiente está ligada principalmente no agravamento da questão social
condicionada pelo modo de produção insustentável e contraditório do capitalismo, gerando para além de
situações ambientais uma questão socioambiental. A ampliação de meio ambiente para questão sócio ambiente
remete que o desenvolvimento da sociedade capitalista, contraditoriamente, intensifica o processo de
desigualdade e da degradação dos recursos renováveis e não renováveis e das pessoas que são atingidas por estas
consequências sociais do modo de produção que vivenciamos na contemporaneidade.

Fonte: © KENG MERRY Paper Art / / Shutterstock.

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A questão socioambiental começa a ser evidenciada na década de 1970 em vários encontros internacionais, tendo
como principal objetivo discutir a diminuição dos impactos da produção capitalista no ambiente. Segundo Silva
(2010), esses encontros contaram com diversos posicionamentos teóricos e políticos, indo desde à superação da
produção capitalista até a defesa do modo de produção a partir do conceito de “desenvolvimento sustentável”
baseados no ecodesenvolvimento, vislumbrando novas formas de pensar e praticar as ações humanas frente a
natureza e uma nova forma de produção, superando o modo de produção destrutiva capitalista.

O Serviço Social relacionado ao meio ambiente se insere, então, em algumas dimensões. Clique na interação a
seguir para conhecê-las.

Dimensão 1
Ambientais.

Dimensão 2
Sociais.

Dimensão 3
Políticas.

Dimensão 4
Econômicas.

Dimensão 5
Territoriais.

Desse modo, é preciso entender que a questão socioambiental não diz respeito apenas à questão ecológica em si,
mas a todas outras questões relacionadas aos conflitos e tensões sociais gerados a partir do problema ambiental.

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Dimensão social do meio ambiente

Assim, o assistente social atua exercendo sua dimensão interventiva, investigativa e pedagógica. Na dimensão
interventiva, atua diretamente com a população atingida por projetos que interferem no modo de vida da
população ligada ao meio ambiente, como as populações atingidas por construção de hidrelétricas e construção
de estradas federais. Na dimensão investigativa, o profissional realiza estudos socioeconômicos e de impactos
ambientais na vida da população, visando a diminuição dos impactos no modo de vida da comunidade. E, por fim,
o profissional atua, principalmente, na dimensão pedagógica. Essa atuação, além trabalhar a produção e
reprodução cultural da população a respeito da questão ambiental, visa incentivar novas formas comportamentais
e aumentar a capacidade crítica de questionar o modo de produção destrutiva do capitalismo maduro.

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Atuação do assistente social no meio ambiente

No próximo tópico iremos conhecer o trabalho do assistente social em clubes esportivos.

3.4.2. Serviço Social e clubes esportivos

A inserção do assistente social no esporte, principalmente nos clubes esportivos, é um espaço novo para o
profissional. Neste espaço ocupacional, o assistente social é requisitado para atuar nos clubes junto a categoria de
base da instituição, oferecendo orientação aos atletas e suas famílias. Assim, o profissional atua da dimensão
pedagógica de fortalecimento e formação na dimensão da cidadania dos adolescentes atletas, resguardando o que
assegura o Estatuto da Criança e Adolescente, sobre formação integral para os direitos sociais e dos direitos e
deveres assegurado na legislação.

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Fonte: © MesquitaFMS / / iStock.

Portanto, o assistente social atual no atendimento aos atletas, aos seus familiares e viabilizando serviços e
benefícios para que os atletas tenham acompanhamento social que possa potencializar o seu desenvolvimento no
clube esportivo.

No próximo tópico iremos conhecer como o assistente social atua nos movimentos sociais e a sua contribuição
para essa área.

3.4.3. Serviço Social e movimentos sociais

A atuação do Serviço Social nos movimentos sociais é garantida pela Lei 8.662/93, que dispõe sobre a
regulamentação da profissão. Essa lei coloca que uma das competências do assistente social é prestar assessoria
aos movimentos sociais de interesse coletivo, defendendo os direitos sociais, políticos e civis.

A participação do profissional de serviço social neste campo intensificou-se, principalmente, na década de 1970, no
processo de redemocratização do Brasil. O profissional surge, nesse contexto, na dimensão pedagógica
assessorando os movimentos sociais.

Segundo Gohn (2003, p. 13), movimentos sociais podem ser entendidos como:

Ações sociais coletivas de caráter sócio-político e cultural que viabilizam distintas formas da
população se organizar e expressar suas demandas. Na ação concreta, essas formas adotam diferentes
estratégias que variam da simples denúncia, passando pela pressão direta (mobilizações, marchas,
concentrações, passeatas, distúrbios à ordem constituída, atos de desobediência civil, negociações).

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Os movimentos sociais, portanto, se formam no processo de resistência e de denuncia às expressões da questão
social, levando manifestações e reinvindicações para a esfera pública. O assistente social, assim, atua na dimensão
pedagógica, assessorando tais movimentos na defesa de direitos e, também, colaborando para a formação e
capacitação desses movimentos.

Por fim, após conhecer todos os ambientes ocupacionais dos quais o assistente social pode atuar, o diagrama a
seguir ilustra esses possíveis espaços. Observe:

Espaços sócio-ocupacionais do assistente social

Por fim, pode-se dizer que o desafio do assistente social em seus múltiplos espaços sócio-ocupacionais é entender
a dimensão interventiva, investigativa e pedagógica em cada contexto, garantindo uma atuação profissional de
qualidade e com compromisso social.

Proposta de atividade
Agora é a hora de recapitular tudo o que você aprendeu nesse capítulo! Elabore um esquema explicativo com as
ideias abordadas ao longo do capítulo. Ao produzir sua atividade, considere as leituras básicas e complementares
realizadas.

Dica: escolha 5 conceitos que você considere chaves e discorra sobre eles.

Recapitulando
O assistente social atua em diversos espaços sócio-ocupacionais, como no setor público, privado, terceiro setor e
em novos espaços que surgem na sociedade contemporânea, como no contexto ambiental e dos movimentos
sociais.

Percebemos que o assistente social, antes da década de 1990, tinha o setor público como principal meio
ocupacional de execução de políticas públicas. No entanto, vimos que, a partir da reformulação do Capital, com a
intensificação do neoliberalismo, houve uma transferência dessa execução direta para a sociedade civil.

Além disso, no decorrer do capítulo, também entendemos a atuação do profissional de Serviço Social no setor
privado, que se caracteriza pela linha tênue entre os interesses da iniciativa privada e as dos trabalhadores
assalariados.

Também compreendemos outros espaços sócio-ocupacionais, como os mais contemporâneos, em que o


profissional desempenha funções relacionadas ao meio ambiente, visando intervir em áreas afetas socialmente por
mudanças ambientais; e também em clubes esportivos, que representa um espaço em o profissional pode atuar
diretamente na dimensão pedagógica da profissão, contribuído, por exemplo, com a ampliação da cidadania de
crianças e adolescentes.

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Por fim, vimos que o assistente social também atua em movimentos sociais, lutando pelos direitos constitucionais
e realizando mobilizações de caráter político e cultural para expressarem suas demandas.

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