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Miguel
Livro Três
STAFF
Disponibilização - WAS
Tradução – Luhana Wings
Revisão – Sophie P.
Leitura Final - Atenas Wings
Formatação - Miss Law
Janeiro 2021
SINOPSE
Miguel
Há algo emocionante em tocar música na frente das pessoas. Seja
na minha antiga vida no palco como baterista de uma banda rock ou
agora como DJ. É emocionante ver as pessoas dançarem ao ritmo que eu
crio.
E todos estão se divertindo. Exceto ela.
O olhar em seu rosto a noite toda deixou bem claro que ela estava
odiando cada minuto disso. E quando tentei falar com ela, ela não teve
vergonha de me deixar saber exatamente o que ela pensava de mim.
Não foi bom.
Mas não me importo com seus insultos. Estou completamente
fascinado por ela. Atraído por ela de uma forma que não posso explicar.
Eu a tornarei minha.
April
Eu queria ficar em casa e apenas me enrolar no sofá com pipoca e
um filme. Mas as minhas melhores amigas simplesmente não desistiam.
Então aqui estou eu, enfrentando um clube de música por elas.
Mesmo que eu prefira não estar aqui, admito que o DJ é
atraente. Uma distração visual agradável, senão outra coisa. Mas na
verdade falar com ele era a última coisa em minha mente.
E embora eu não consiga parar de insultá-lo, ele não vai
embora. Quantos homens sensuais apareceram em seu escritório todos
charmosos e seminus?
Sim, eu posso ter problemas com este.
E talvez, eu não me importe.
Capítulo 1
April
— Você está se divertindo, certo?
Sadie para de rebolar e se vira para me encarar. Ela agarra meu rosto
e me olha nos olhos, como costuma fazer quando pensa que não estou
sendo honesta com ela.
— O quê?
Foi uma má ideia concordar em sair com Sadie e Emma. Mas eu sabia
disso. Emma tinha me ligado quando eu estava me enrolando com uma
tigela de pipoca e meu laptop. Ela estava indo para conhecer algum clube
na cidade, e insistiu que eu fosse junto. Eu disse não e obrigada, e talvez
outra hora, e pensei que era o fim de tudo. Mas menos de uma hora
depois, ela estava tocando minha campainha, com Sadie pulando
animadamente atrás dela, e elas estavam me ameaçando com ferimentos
corporais se eu não me vestisse imediatamente.
1
Dubstep é um gênero de música eletrônica que se originou no Sul de Londres, Inglaterra em meados
finais da década de 1990. O site de música Allmusic descreveu seu som como "linhas de baixo muito
fortes e padrões de bateria reverberantes, samples cortadas e vocais ocasionais."
Há uma fila para o banheiro. À frente disso, um casal está fortemente
agarrado, beijando-se, seus membros tão intrincadamente envolvidos um
ao outro que é impossível dizer o que é de quem. Eu rolo meus olhos e
amaldiçoo sob minha respiração. Deveria apenas ter dito não, April.
Após cerca de seis minutos da fila sem se mover, desisto. Não é como
se eu precisasse ir de qualquer maneira; era apenas para sair da pista de
dança por um minuto. Eu me viro e caminho lentamente de volta para
onde deixei Emma e Sadie.
O novo DJ começa com uma música que nunca ouvi antes, o que é
uma agradável surpresa. Ele consegue de alguma forma mudar, sem sair
completamente da última música que seu antecessor tocou, o que é
impressionante considerando o quão banal era. Quando o baixo cai, é
recebida a erupção estridente de vivas e gritos dos corpos na pista de
dança.
— O que você está fazendo aqui sozinha? Sadie disse que você está
se recusando a se divertir.
— Bem, sim, eu escolhi este lugar como o lugar onde vou ficar. Não
haverá dança para esta garota e é isso!
— Estou falando sério, April. Você pode vir beber comigo e com
Andre.
— Quem diabos é Andre?
— Uma bebida, — eu cedi. — Mas depois vou para casa. Você e Sadie
podem me odiar o quanto quiserem.
Emma grita e agarra meu braço, levando-me através dos corpos para
o outro lado da pista. O DJ agora passou para o pop punk rock,
ocasionalmente combinando com o hip-hop dos anos 90. Não que
qualquer uma das pessoas se contorcendo e balançando na pista de dança
esteja em qualquer estado de apreciar isso.
— Esta é minha melhor amiga, April, — ela diz para o cara, e ele
acena educadamente para mim.
Talvez eu deva escrever sobre este lugar. Não faço uma revisão há
algum tempo. Eu poderia fazer disso uma crítica acirrada da cultura do
clube... Mas não. Isso significaria ficar e descobrir a história, e já estou a
meio caminho da minha cama em espírito.
— Oh.
Eu o conheço. Estive olhando e roubando olhares a noite toda, o
suficiente para reconhecer imediatamente o sorriso brincalhão que
ilumina seu rosto quando ele me vê no espelho.
— Não percebi que estava carrancuda, — diz ela. — Mas imagino que
se o DJ fosse bom...
Eu sorrio.
Ela encolhe os ombros. — Diz mais sobre eles do que sobre mim.
Vai até à pia para lavar as mãos. Ela se inclina, quase tendo que se
curvar completamente, e eu a observo, fascinado. Está de jeans, camiseta
e jaqueta de couro. Simples, funcional. Há mais do que um pequeno
inchaço nesses jeans também. Meus olhos caem para suas mãos. Dedos
longos e finos. Suas unhas parecem ter sido mastigadas regularmente. Eu
posso ver manchas desbotadas de algum tipo em seus dedos
também. Quase como se ela pudesse me sentir olhando, ela olha em volta
com as sobrancelhas levantadas.
— E se for?
— Então ele ficaria louco se não encontrasse uma maneira de a
convencer.
— Veja, eu acho que boa música vai além do humor. E se você estava
de mau humor, a música muda isso automaticamente.
— Como assim?
— April.
— Oh, por ser tão franca sobre música...? Não. Eu não trabalho para
nenhuma gravadora. Sou jornalista.
Olho para seus dedos novamente. Tinta? — Que música você curte,
April?
— Ao contrário do jornalismo?
— Desculpe?
— Jornalismo. Meios de comunicação. Você deve saber que tudo isso
carrega cada vez menos peso a cada dia.
****
— Cara.
Começo a recuar, mas Graham sai da cozinha com as mãos para cima.
— Oi, Jules.
— Isso seria ótimo, Miguel, mas não tenho certeza de qual seria a
história.
Oh e estou.
— Eu vou resolver isso. Ah, e Graham, sua braguilha está pra baixo.
Ele olha para baixo, vê que não está, e sacode um dedo para mim
quando saio.
Capítulo 3
April
Eu fui convocada.
— Certo. Vou dar uma palavrinha com ela, — diz ela, encerrando o
telefonema. Ela afunda na cadeira e esfrega a têmpora.
Fico olhando para ela, piscando para o meu próprio rosto, uma foto
que tirei há muito tempo e odiei consistentemente ao longo dos anos. É
minha coluna semanal. O tópico desta semana: ‘Hope sem esperança; por
que a cidade adormecida pode nunca acordar’.
— Ok... mas?
— E agora?
— Mas o prefeito...
Ele se vira para mim. Estava sentado em uma das cadeiras de uma
mesa próxima, e foi por isso que não o vi imediatamente.
— April Mackey faria bem em lembrar que a própria cidade que ela
parece desprezar continua a fornecer-lhe um emprego e os leitores a
consumir suas divagações, embora eu deva me considerar um leitor a
menos depois de ver este artigo em particular.
Ele está lendo de um telefone. E sorrindo. Mas isso é o menos
impressionante sobre sua aparência aqui, no meu local de trabalho. Ele
está vestido com calça de malha justa e uma fina camiseta branca, com
Sketchers e a aparência ligeiramente ofegante de alguém que acabou de
correr um quilômetro.
Ele nem mesmo recua; tudo nele é confiante, seguro, até arrogante.
— Certo.
Encolho os ombros.
— Saio do trabalho às 5.
Capítulo 4
Miguel
April está de terninho.
Olho para ela e, pela primeira vez, sinto que a estou vendo
claramente. Seu cabelo está solto, caindo suavemente em torno de seu
rosto. O efeito é que seu rosto se transforma totalmente de repórter
intrépida em uma versão mais suave e pessoal de si mesma. Seus olhos
têm manchas douradas, noto. E quando ela sorri, há um leve indício de
uma covinha em qualquer uma de suas bochechas.
Eu também não sou o único fã. Talvez porque meus olhos continuam
indo para ela de qualquer maneira, estou mais ciente de todos os outros
olhos que a seguem enquanto entramos no restaurante. Ela pode ser
bastante cativante, devo admitir. De repente, seu traje não parece
deslocado.
Minha mão desliza em torno de sua cintura, uma ação que fiz tantas
vezes que é quase inconsciente, e que percebo um segundo tarde demais
que pode ser muito ousado para ela.
Mas a resposta raivosa não veio. Ela estremece, ou parece que sim,
mas não diz ou faz nada, e caminhamos até nossa mesa desse modo; com
meus dedos circulando sua cintura e seu corpo pressionando perto do
meu.
— Oh, olhe, — ela diz quando nós dois finalmente nos sentamos, e
nosso servidor está vindo até nós. — Eles estão tocando boa música. — E
ela me lança um olhar significativo.
Ela está brincando. Eu sei que ela está brincando. Mas aí está
novamente, aquela conversa que nunca realmente tivemos de volta ao
clube.
— Oh, seu ofício? Por favor, senhor, conte-nos mais sobre o seu
ofício. — Ela parece prestes a pegar um caderno e uma caneta.
— Muito justo, — diz April. — Mas você tem que admitir, com o
advento da tecnologia, essa curadoria deve ser muito mais fácil. Quando
você pode gravar músicas automaticamente e cuidar de seus negócios.
Então me ocorre por que ela se ofendeu com isso e por que continua
a atirar em mim por causa disso.
Estendo o braço por cima da mesa e pego uma de suas mãos na
minha. Seus olhos se arregalam, mas como antes, ela não se afasta. Sua
palma é fria e macia, seus longos dedos e unhas roídas salpicadas com
aquelas manchas desbotadas.
O garçom retorna com nosso vinho. Peço o filé mignon e ela vai com
o pato. O vinho, concordamos, é maravilhoso.
April quase cospe o vinho. Seus olhos ficam lacrimejantes e ela tosse
uma ou duas vezes antes de recuperar a compostura.
— Mas não foi isso que eu quis dizer, — prossigo. — Tenho algo que
gostaria de mostrar a você.
— Certo. Então, eu sei que você disse que não se preocupa com sua
reputação, o que obviamente não é verdade, mas vamos dizer, para fins
de argumentação, que você se importa um pouco. Um amigo meu
apresentará um microfone aberto em sua loja de discos em mais ou
menos uma semana. Deve ser um caldeirão de música, velha e nova, mas
principalmente é uma chance para os amantes da música se reunirem,
celebrar nossa cultura e nossa cidade.
— Ah, e você quer que eu escreva sobre isso para que todos parem
de dizer que odeio Hope.
— Não, eu quero que você escreva sobre isso porque é uma boa
história. Se tem a vantagem de suavizar alguns de seus ofensores, então
por que não?
— Bem, não. Obviamente, isso seria um grande favor para mim. Mas,
a meu ver, você precisa dessa história tanto quanto.
— Você é uma cínica, April. Ou pelo menos pensa que é. Mas eu vejo
além dessa máscara. Você se importa, mesmo que não admita. Se você
estiver tão entediada com o evento quanto estava com meu set, então
admitirei a derrota e deixarei você em paz.
April irradia. É uma coisa tão linda vê-la sorrir. E saber que fui eu
quem fez isso acontecer.
Suas mãos lentamente envolvem meu torso. Ela empurra para dentro
de mim e seu corpo está praticamente fundido ao meu. Seus seios cavam
em meu peito. Ela fica na ponta dos pés e lambe os lábios.
Era para ser um beijo breve, uma promessa de mais por vir. Mas eu
caio nela rapidamente, e de repente é feroz e selvagem, e estou gostando
muito, e não consigo me conter, e um de nós está gemendo.
Limpo minha garganta e dou um passo para trás. Quase não consigo
olhar para ela porque sei que verei meu próprio desejo refletido em seus
olhos.
Procuro em meu bolso e pego minha carteira. Pego meu cartão com
dedos trêmulos e o coloco na mesa. Olho em volta, e o empregado vem
correndo. Ele acena com o meu pedido silencioso e pega o cartão.
Ele deve ter estado aqui. Ele deve ter me trazido para casa. Não me
lembro de nada, mas não há explicação para isso. E percebo que é disso
que se trata a raiva. Estou com raiva de mim mesma por adormecer. Estou
chateada por não ter ficado acordada para ver o que aconteceu a
seguir. Principalmente porque eu tinha uma boa ideia do que teria sido.
April,
Deixei duas aspirinas para você, caso esteja de ressaca. O que, aliás,
definitivamente vou tirar sarro de você.
É muito maior do que parece por fora; há duas áreas separadas, uma
com grupos suados e brilhantes de pessoas tentando entrar em forma e
outra com uma multidão menor, mas um grande anel bem no meio do
espaço.
— Cara!
— Que ressaca?
Ele ri. — Não se preocupe, não vou contar a ninguém que você é
fracote.
Estou achando cada vez mais difícil me concentrar em seu rosto. E
para me convencer de que deveria. Por que não olhar? O que há de
errado em apreciar um homem bonito?
Ele sorri, quase como se soubesse o efeito que isso tem sobre
mim. Isso e seu corpo ainda suado, junto com essa nova informação, são
quase esmagadores. Estou quase tentada a pedir a ele para colocar uma
camisa, pelo bem da minha sanidade.
Balanço minha cabeça, porque temo que minha voz traia a excitação
nervosa correndo em minhas veias.
Caminhamos em silêncio pela cidade. É cada vez mais difícil para mim
prestar atenção em qualquer coisa, exceto na forte pressão de sua
mão. Ele aponta a loja conforme passamos, debatendo-se se entra para
dizer oi, mas mudando de ideia. Então ele começa a me contar sobre o
microfone aberto e os planos que ele tem para a música. Aceno
distraidamente. Acabei de lembrar que deveria estar escrevendo sobre
DJs como uma arte perdida.
— Ah não acredito!
Ele me mostra o tour passando uma mão casual pela extensão de sua
sala de estar, depois apontando e dizendo ‘cozinha’, ‘varanda’, ‘banheiro’.
Claramente, ele está impaciente para chegar ao motivo de me trazer aqui,
e não posso culpá-lo. Eu também estou um pouco ansiosa.
Ele ri. A risada dele está começando a ficar familiar, e não tenho
certeza de como me sinto sobre isso.
— O quê? Não.
Eu franzo a testa para ele, grata pela mudança de assunto, mas certa
de que o ouvi mal.
Eu concordo.
— OK. Vou entrar no chuveiro bem rápido, depois vou mostrar como
um DJ de verdade deve fazer isso.
Ele me dá um tapinha brincalhão no traseiro, depois se vira e sai da
sala. — Você estava certo, — grito atrás dele.
— O quê?
Só não queria dar a você a satisfação de saber que descobriu isso tão
rápido, que pode ler meu rosto com tanta eficácia. Depois de apenas
alguns dias.
Parece irreal que ela esteja aqui agora. Lembro-me de vê-la no clube,
brevemente, uma nuvem passageira, mas mesmo assim, ela se
destacou. E então lá estava ela, no banheiro, de frente para
mim. Realmente só se passaram cinco dias? Pareceu mais tempo. Como se
houvesse uma diferença distinta entre o momento antes de conhecê-la e
o período logo depois.
— Oh, então porque você teve sorte com as flores, você acha que me
conhece?
— Não sei se a sorte tem alguma coisa a ver com isso. Talvez você
seja um livro aberto, April Mackey. Já considerou isso?
Mudo meu peso e meu joelho fica preso em uma dobra da toalha. Eu
quero vê-la. Quero sentir sua pele na minha. Eu me afasto, quebro o beijo
e pisco na cara dela. Suas sobrancelhas estão franzidas. Seus lábios ainda
estão separados, um convite, um protesto.
Beijo a parte interna de sua coxa. Não consegui ver muito bem
quando a estava colocando na cama, mas agora vejo a tatuagem melhor.
— Por isto. Estou feliz que você esteja divulgando mais e fazendo
histórias mais positivas. E se eu tiver que agradecer ao seu namorado por
isso, então que seja.
— Está vendo?
Eu olho em volta e vejo Miguel olhando para mim. Sorrio para ele,
coro e olho para longe. É tudo o que pareço estar fazendo
atualmente. Talvez Hope não seja tão ruim assim.
FIM