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AVISO

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9.610/1998.
Heroes of Hope County
© 2020 Amber Adams

Miguel
Livro Três
STAFF
Disponibilização - WAS
Tradução – Luhana Wings
Revisão – Sophie P.
Leitura Final - Atenas Wings
Formatação - Miss Law

Janeiro 2021
SINOPSE
Miguel
Há algo emocionante em tocar música na frente das pessoas. Seja
na minha antiga vida no palco como baterista de uma banda rock ou
agora como DJ. É emocionante ver as pessoas dançarem ao ritmo que eu
crio.
E todos estão se divertindo. Exceto ela.
O olhar em seu rosto a noite toda deixou bem claro que ela estava
odiando cada minuto disso. E quando tentei falar com ela, ela não teve
vergonha de me deixar saber exatamente o que ela pensava de mim.
Não foi bom.
Mas não me importo com seus insultos. Estou completamente
fascinado por ela. Atraído por ela de uma forma que não posso explicar.
Eu a tornarei minha.
April
Eu queria ficar em casa e apenas me enrolar no sofá com pipoca e
um filme. Mas as minhas melhores amigas simplesmente não desistiam.
Então aqui estou eu, enfrentando um clube de música por elas.
Mesmo que eu prefira não estar aqui, admito que o DJ é
atraente. Uma distração visual agradável, senão outra coisa. Mas na
verdade falar com ele era a última coisa em minha mente.
E embora eu não consiga parar de insultá-lo, ele não vai
embora. Quantos homens sensuais apareceram em seu escritório todos
charmosos e seminus?
Sim, eu posso ter problemas com este.
E talvez, eu não me importe.
Capítulo 1
April
— Você está se divertindo, certo?

Sadie para de rebolar e se vira para me encarar. Ela agarra meu rosto
e me olha nos olhos, como costuma fazer quando pensa que não estou
sendo honesta com ela.

— Oh, estou tendo o melhor momento da minha vida, — eu digo


com um sorriso rígido. O sarcasmo não passa despercebido.

— Cara, — ela protesta. — De que adianta sair se você não vai se


divertir?

Eu encolho os ombros. — Eu não queria sair.

— O quê?

Balanço minha cabeça. Eu realmente não quero levantar a voz só


para para ser ouvida. Isso é parte do problema. Eu sei que estamos no
meio da pista de dança, mas parece que estamos bem ao lado dos alto-
falantes. Tudo ao meu redor está vibrando. Minha cabeça está começando
a doer com o barulho coletivo da música e a conversa das pessoas ao
nosso redor.
— Vou para o banheiro feminino, — anuncio, inclinando-me e
falando diretamente no ouvido de Sadie.

Preciso de uma pausa, por mais breve que seja.

Foi uma má ideia concordar em sair com Sadie e Emma. Mas eu sabia
disso. Emma tinha me ligado quando eu estava me enrolando com uma
tigela de pipoca e meu laptop. Ela estava indo para conhecer algum clube
na cidade, e insistiu que eu fosse junto. Eu disse não e obrigada, e talvez
outra hora, e pensei que era o fim de tudo. Mas menos de uma hora
depois, ela estava tocando minha campainha, com Sadie pulando
animadamente atrás dela, e elas estavam me ameaçando com ferimentos
corporais se eu não me vestisse imediatamente.

Eu deveria ter mantido minhas armas, eu acho, enquanto saio da


pista de dança. Nem quero pensar na minha cama quente, na minha
enorme camiseta, e na noite de cinema que eu estava negando a mim
mesma, que definitivamente teria terminado com uma quinquagésima
exibição de Pretty Woman.

A música muda. É uma transição perfeita de um dubstep1 sem


sentido para um pouco mais de dubstep. Sem surpresas aí. Os clubes
atendem ao denominador mais baixo. Acho que é muito esperar ouvir boa
música em um lugar como este.

1
Dubstep é um gênero de música eletrônica que se originou no Sul de Londres, Inglaterra em meados
finais da década de 1990. O site de música Allmusic descreveu seu som como "linhas de baixo muito
fortes e padrões de bateria reverberantes, samples cortadas e vocais ocasionais."
Há uma fila para o banheiro. À frente disso, um casal está fortemente
agarrado, beijando-se, seus membros tão intrincadamente envolvidos um
ao outro que é impossível dizer o que é de quem. Eu rolo meus olhos e
amaldiçoo sob minha respiração. Deveria apenas ter dito não, April.

Após cerca de seis minutos da fila sem se mover, desisto. Não é como
se eu precisasse ir de qualquer maneira; era apenas para sair da pista de
dança por um minuto. Eu me viro e caminho lentamente de volta para
onde deixei Emma e Sadie.

A música muda novamente. Mas é uma mudança mais radical desta


vez. Eu olho na direção da cabine do DJ e entendo o porquê: esse cara é
novo. Quem quer que fosse o cara anterior, ele provavelmente tocou
todas as músicas electro pop sob o sol e encerrou a noite.

O novo DJ começa com uma música que nunca ouvi antes, o que é
uma agradável surpresa. Ele consegue de alguma forma mudar, sem sair
completamente da última música que seu antecessor tocou, o que é
impressionante considerando o quão banal era. Quando o baixo cai, é
recebida a erupção estridente de vivas e gritos dos corpos na pista de
dança.

Este conjunto é de alguma forma mais enérgico do que o


anterior. Calculo que será impossível atravessar a pista; a dança frenética
significa que provavelmente vou levar uma cotovelada no olho por meus
esforços.
Caminho até à parede mais próxima e me encosto nela. É um bom
local para assistir à loucura e me dá uma boa visão da porta para que eu
possa localizar Emma e Sadie se elas aparecerem. Isso também coloca o DJ
bem na minha linha de visão, e me pego olhando para ele enquanto ele se
apresenta.

Há uma vibração e alegria na maneira como ele está atuando que é


muito cativante. Cada batida parece passar por ele; ele dança no local, um
sorriso brilhante em seu rosto. Observo-o tão atentamente que não noto
Emma se aproximando de mim.

— Booo! — Ela me agarra pelos ombros. Meu coração salta na minha


garganta quando me viro para ela.

— Meu Deus, Emma, você quase me deu um ataque cardíaco.

— O que você está fazendo aqui sozinha? Sadie disse que você está
se recusando a se divertir.

— Bem, sim, eu escolhi este lugar como o lugar onde vou ficar. Não
haverá dança para esta garota e é isso!

— Você não tem que dançar! — Emma diz rapidamente.

— Não? Posso ficar em casa e assistir... uh... um filme de minha


escolha? Oh. Espere.

Emma me dá um empurrão brincalhão.

— Estou falando sério, April. Você pode vir beber comigo e com
Andre.
— Quem diabos é Andre?

— Ele é um cara lindo que conheci. Não, lindo é um eufemismo. Ele é


tão bom que quase pulei nele no meio da pista.

Era como Emma, encontrando-se com estranhos e imediatamente se


aproximando deles.

— Eu nem tenho certeza se a tentação passou, para ser honesta, —


ela continua, os olhos vidrados. — Eu ainda posso fazer isso.

— Bem, então, vá em frente, Em. Eu não quero entrar no meio disso.

— Uma bebida, April. Por favor?

Ela empurra o lábio inferior para fora e me acerta com os olhos de


corça. É uma técnica sorrateira que funciona com demasiada frequência
para o meu gosto.

— Uma bebida, — eu cedi. — Mas depois vou para casa. Você e Sadie
podem me odiar o quanto quiserem.

Emma grita e agarra meu braço, levando-me através dos corpos para
o outro lado da pista. O DJ agora passou para o pop punk rock,
ocasionalmente combinando com o hip-hop dos anos 90. Não que
qualquer uma das pessoas se contorcendo e balançando na pista de dança
esteja em qualquer estado de apreciar isso.

Acontece que nem preciso me preocupar em fugir depois de um


drinque. Emma cai no colo de um cara alto e muito compacto, então ele
puxa seu rosto para o dele e ela desaparece em sua boca.
Ela surge momentos depois, sem fôlego e com o rosto
completamente vermelho. Parece que acabou de se lembrar de onde
está; se está com vergonha, não demonstra.

— Esta é minha melhor amiga, April, — ela diz para o cara, e ele
acena educadamente para mim.

— Prazer em conhecê-la, — ele diz, estendendo uma mão grande e


forte.

Enquanto estou tentando buscar um topico de conversa fiada, Emma


ri, e, em seguida, ela vai girando em seu colo, e eles escorregam para a
direita em sua sessão de amassos.

Pego a garrafa de uísque e despejo uma generosa porção em um


copo, depois bebo de uma vez. Gradualmente, minha atenção se
desvia. Examino o clube, observando tudo, desde as luzes que piscam,
às mulheres seminuas deslizando ao redor equilibrando bandejas e
sorrisos, e, eventualmente, de volta para a plataforma elevada com o
entretenimento da noite.

Talvez eu deva escrever sobre este lugar. Não faço uma revisão há
algum tempo. Eu poderia fazer disso uma crítica acirrada da cultura do
clube... Mas não. Isso significaria ficar e descobrir a história, e já estou a
meio caminho da minha cama em espírito.

Emma não vai sentir minha falta, eu raciocino. Sadie provavelmente


nem vai notar que fui embora. Nós lidaremos com as consequências mais
tarde. Eu me levanto e limpo minha garganta o mais alto que posso, então
aceno energicamente na frente dos torsos entrelaçados de Emma e seu
novo amigo. Nada. Uma explosão poderia acontecer bem atrás deles, e eu
duvido que eles sequer vacilassem.

Começo a caminhar para a porta, então percebo que realmente


preciso fazer xixi neste momento. Não tenho planos de lidar com essa fila,
no entanto. Mas ainda está lá, não por tanto tempo, mas ainda
obstinadamente presente. Estou quase saindo quando noto que o
banheiro contíguo, o banheiro masculino, não tem tanta atividade.

Coloco minha cabeça para baixo e vou em direção a ele. Eu posso


sentir os olhares na lateral da minha cabeça; o julgamento é quase
palpável. Mas estou além de me importar.

Entro na cabine mais próxima. Limpo o assento duas vezes e, em


seguida, cubro com duas camadas de papel higiênico. Na verdade, eu
esperava que estivesse mais sujo, mas terá que servir.

Acabei de terminar meus negócios e coro quando ouço a porta se


abrir e alguém entrar. Ele está assobiando uma melodia vagamente
familiar.

Congelo. Então percebo que é inútil fingir que não há ninguém na


baia; ele pode ouvir a água correndo.

Destranco a porta da cabine e saio. Enfrento o jogo. Pronta para o


combate. Uma desculpa na ponta da língua.

— Oh.
Eu o conheço. Estive olhando e roubando olhares a noite toda, o
suficiente para reconhecer imediatamente o sorriso brincalhão que
ilumina seu rosto quando ele me vê no espelho.

— Você é o DJ, — eu digo.

— E você é a mulher que ficou carrancuda a noite toda, — ele


responde sem perder o ritmo.
Capítulo 2
Miguel
Carrancuda é um eufemismo, na verdade.

No decorrer da noite, eu vi sua expressão passar de entediada para


irritada, depois de volta para entediada, impressionada e impaciente. Ela
não poderia ter deixado mais claro que não queria estar aqui. O que
levanta a questão: por que ela veio, então?

E isso sem entrar no fato de que ela está no banheiro masculino. —


Deve ser a música, — ela diz com um encolher de ombros.

— O quê? — Eu pergunto. Porque parece que ela atirou em mim.

— Não percebi que estava carrancuda, — diz ela. — Mas imagino que
se o DJ fosse bom...

Pego algumas toalhas de papel e seco minhas mãos. Eu me viro e a


encaro. De perto, ela é realmente muito bonita. Tem uma
certa atitude objetiva em relação a ela; seu cabelo escuro está preso em
um coque. Mas seus traços são delicados, suaves. Nariz pequeno em
botão. Lindos olhos castanho-dourados. Os lábios se contraíram em uma
linha fina, mas claramente cheios e sensuais.

— Com licença, o DJ está arrasando tudo lá fora, — eu digo.


— Concordo. Quase me fez dormir.

Eu sorrio.

— Tenho certeza de que você é mais a exceção do que a regra. Há


uma multidão gritando a alguns metros daquela maneira que discordaria
de você.

Ela encolhe os ombros. — Diz mais sobre eles do que sobre mim.

Vai até à pia para lavar as mãos. Ela se inclina, quase tendo que se
curvar completamente, e eu a observo, fascinado. Está de jeans, camiseta
e jaqueta de couro. Simples, funcional. Há mais do que um pequeno
inchaço nesses jeans também. Meus olhos caem para suas mãos. Dedos
longos e finos. Suas unhas parecem ter sido mastigadas regularmente. Eu
posso ver manchas desbotadas de algum tipo em seus dedos
também. Quase como se ela pudesse me sentir olhando, ela olha em volta
com as sobrancelhas levantadas.

— Então — digo — Se o DJ estivesse aberto a feedback, como você


descreveria sua reclamação?

— Oh, eu não diria que é uma reclamação. Não, claramente há


pessoas curtindo a música, o que deve ser o suficiente para ele.

— A menos que ele seja do tipo que está desesperado para


impressionar cada pessoa para quem toca.

— E se for?
— Então ele ficaria louco se não encontrasse uma maneira de a
convencer.

Ela balança a cabeça. — Não é realmente sobre você. Sinto muito. Eu


fui rude. Não estou de bom humor.

Ela se vira para sair, mas eu fico entre ela e a porta.

— Veja, eu acho que boa música vai além do humor. E se você estava
de mau humor, a música muda isso automaticamente.

— Parece que você está concordando comigo, — ela diz com um


sorriso. Um sorriso genuíno que recolhe os cantos dos olhos e ilumina o
seu rosto.

— Como assim?

— O DJ não está fazendo um trabalho muito bom.

— Qual o seu nome? — Eu pergunto a ela. Encontro-me


completamente intrigado com esta mulher, no espaço de uma conversa
de cinco minutos.

— April.

— Prazer em conhecê-la, April. Se você não se importa que eu


pergunte, para qual gravadora você trabalha?

— Oh, por ser tão franca sobre música...? Não. Eu não trabalho para
nenhuma gravadora. Sou jornalista.
Olho para seus dedos novamente. Tinta? — Que música você curte,
April?

Seu sorriso é brincalhão. — Quanto tempo você tem?

— Quanto tempo você precisa?

— Você não tem uma multidão de pessoas gritando para entreter?

— Oh, tenho certeza de que eles podem sobreviver por alguns


minutos. Eu deixei em reprodução programada.

— Uau. Claro que deixou. — Seu tom muda drasticamente, e sua


linguagem corporal também.

Tento refazer meus passos, descobrir o que disse para ofendê-la.

— E eu pensei que você realmente se importava.

— Eu não tenho certeza se estou entendendo, — digo seriamente.

— Qual é o ponto? — ela pergunta. — Por quê mesmo aparecer, dar


a impressão de estar atuando? Por que não montar uma lista de
reprodução aceitável e clicar em reproduzir? Quer dizer, passar música é
uma arte em extinção, mas ainda assim. Por quê o pretexto?

— Oh, é uma arte em extinção, não é?

— Letárgica. Na melhor das hipóteses.

— Ao contrário do jornalismo?

— Desculpe?
— Jornalismo. Meios de comunicação. Você deve saber que tudo isso
carrega cada vez menos peso a cada dia.

— Talvez sim. — Ela dá de ombros, emitindo uma vibração


despreocupada que eu não compro por um segundo. — Mas pelo menos
não preciso depender de um algoritmo para fazer meu trabalho.

— As pessoas ainda leem jornais?

— As pessoas ainda consideram ser DJ uma escolha de carreira?

Nós nos encaramos, a centímetros de distância, nossas vozes cada


vez mais altas de alguma forma nos aproximando até que eu posso ver as
manchas douradas em seus olhos. Somos como dois guerreiros medindo
um ao outro antes de a batalha começar. Exceto que a batalha começou
muito antes de eu entrar no banheiro, e eu nem sabia disso.

— É melhor eu voltar para a cabine, — digo a ela após uma breve


pausa. — Certifique-se de que o algoritmo esteja funcionando sem
problemas.

— Certo. Vou sair também. Grande dia amanhã atrasando o


apocalipse da mídia.

Quase a impedi de novo. Fique, eu quero dizer a ela. Fique e o


‘algoritmo’ encontrará a melhor música para você. Limpe a carranca do
rosto. Fique, e podemos nos insultar um pouco mais depois da minha
apresentação. Depois de algumas bebidas?
As palavras batem na minha cabeça, rolam na minha língua. April
olha para mim, esperando, sentindo que tenho mais a acrescentar. Eu
lambo meus lábios e sorrio em vez disso.

A porta se abre. O resto do mundo vem se derramando, barulhento e


invasivo e... representado por um homem completamente bêbado que
tropeça e pisca, sem ver, para nós.

— Bem, foi um prazer conhecê-la, April.

Ela acena com a cabeça, lança um olhar mordaz para o bêbado e


depois sai do banheiro. Tento e imediatamente falho em não olhar para
sua figura em retirada.

****

— Cara.

Abro a porta do apartamento de Graham e entro. É pouco depois das


7 da manhã. O sol finalmente apareceu, jogando no quarto um manto
laranja misterioso. Graham geralmente sai por volta dessa hora, então se
eu me apressar...

A porta se fecha atrás de mim. Segundos depois, ouço o som


inconfundível de vidro se quebrando e viro minha cabeça na direção do
som. É seguido por um sussurro, abafado, mas audível, então, muito mais
alto, uma voz que reconheço como a de Graham.
— Shh! Não, não!

Paro, de repente percebendo a falha no meu plano. Esqueci, como


pareço sempre esquecer hoje em dia, que Graham agora é metade de um
casal. E ele raramente está longe de sua outra metade. Acabei de entrar
em... alguma coisa.

— Merda, — murmuro baixinho. Depois, mais alto: — Desculpe,


cara. Eu não... eu só... converso com você mais tarde...

Começo a recuar, mas Graham sai da cozinha com as mãos para cima.

— Está tudo bem, — diz ele. — Juliet e eu estávamos fazendo o café


da manhã.

— Certo. — Eu sorrio. — Sua camiseta está de trás para a frente.

— Uma questão de moda, — diz ele com um sorriso. — É uma coisa


agora. Todos os jovens legais estão fazendo isto.

Juliet surge atrás dele e sorri para mim. — Ei, Miguel.

— Oi, Jules.

— Estava apenas dizendo a Miguel que preciso de minha chave


reserva de volta, — Graham brinca.

— Ei, a porta estava aberta, — eu digo.

Graham e Juliet trocam olhares conhecedores e riem. Eu conheço


uma piada privada quando vejo uma. Esses dois andam juntos por todo o
lado desde que se conheceram. Eu nunca teria pensado que fosse
possível. Graham, ex-rock star e ex-mulherengo, apaixonado.

— Então, escute, — eu digo em voz alta, caso eles decidam continuar


‘fazendo café da manhã’ na minha frente. — Estou realmente feliz por ter
pegado vocês dois. Jules, vocês estão planejando um microfone aberto na
loja em algumas semanas, certo?

— Em quinze dias, sim, — Juliet diz.

— Ótimo. Questão. O quanto você me amaria se eu tivesse um


jornalista para fazer uma reportagem sobre o evento, arrecadar alguma
publicidade?

— Bastante, — Graham diz. — Mas eu ficaria muito cético com a


ideia de você conhecer algum jornalista pessoalmente.

— Deixe-me preocupar com isso. Então? Jules?

— Isso seria ótimo, Miguel, mas não tenho certeza de qual seria a
história.

— Isso é um sim, então?

— Certo. Vá em frente. Tudo bem, cara? Você parece... animado.

Oh e estou.

— Eu vou resolver isso. Ah, e Graham, sua braguilha está pra baixo.

Ele olha para baixo, vê que não está, e sacode um dedo para mim
quando saio.
Capítulo 3
April
Eu fui convocada.

— Ela está de mau humor, — diz a estagiária ao entregar a


convocação. Eu aceno, mas duvido. Ângela só fica de mau humor se o
jornal não vai bem, e a edição desta semana tende a subir em termos de
vendas.

Ainda assim, pego meu caderno de ideias e coloco no bolso de


trás. No caso de ela estar de mau humor, a melhor maneira de acalmá-la
será com novas ideias para histórias, e nunca faltou isso.

Ângela está falando ao telefone quando entro em seu escritório. Ela


reconhece minha presença com um breve aceno de cabeça e indica a
cadeira à sua frente. Eu caminho até à mesa dela, maravilhada como fico
toda vez que estou aqui, com a desordem absoluta sobre ela.

Angela é a mulher mais brilhante que conheço. Ela trabalha na


indústria jornalística há mais tempo do que a maioria dos veteranos da
indústria, acumulando uma riqueza de conhecimento e experiência que é
virtualmente incomparável. Ela poderia trabalhar em qualquer lugar do
mundo; o boato é que ela recusou um emprego na New Yorker. De alguma
forma, ela está satisfeita com seu trabalho aqui.
Apesar de todo o seu brilho, a mulher tem péssimas habilidades de
organização. Sua escrivaninha, que ela gosta de comparar com seu
cérebro, está sempre enterrada sob uma pilha de papéis e livros e outras
minúcias que só ela conhece o propósito. É como um organismo vivo que
respira. Tudo faz sentido para ela, é claro. Ela sabe exatamente onde tudo
está; no meio de uma conversa, ela de repente se lembra de algo e
alcança a pilha, retirando o pedaço de papel exato de que precisa.

Hoje, há um único post-it em sua mesa que noto com alguma


apreensão que tem meu nome nele.

— Certo. Vou dar uma palavrinha com ela, — diz ela, encerrando o
telefonema. Ela afunda na cadeira e esfrega a têmpora.

— Juro por Deus, April.

— O que eu fiz agora? — Eu pergunto, franzindo a testa.

Ângela estende a mão sem olhar para a pilha e puxa o jornal da


semana que ela joga na minha direção.

Fico olhando para ela, piscando para o meu próprio rosto, uma foto
que tirei há muito tempo e odiei consistentemente ao longo dos anos. É
minha coluna semanal. O tópico desta semana: ‘Hope sem esperança; por
que a cidade adormecida pode nunca acordar’.

— O que há de errado com isso? — Eu pergunto a Ângela.

— Absolutamente nada, — Ângela diz. Não tenho certeza se ela está


sendo sarcástica. — Eu pessoalmente adorei. Quer dizer, colocando meus
próprios sentimentos sobre a cidade de lado, acho que atinge o equilíbrio
perfeito entre mordaz e espirituoso. A sua descrição do nosso turismo
consistindo apenas no slogan 'um filme de terror foi filmado aqui' foi
particularmente inspirada.

— Ok... mas?

— Vamos apenas dizer que houve algum feedback. Aparentemente,


estamos mostrando um pobre espírito de cidade. Acabei de falar ao
telefone com alguém do gabinete do prefeito.

— Não é um fã, suponho?

— Eu não diria isso, não.

— E agora?

Angela sorri. — Bom trabalho, obviamente.

— O quê? — A palestra para a qual eu estava me preparando não


parece vir.

— O objetivo de sua coluna é irritar as pessoas. Você fez exatamente


isso. Mantenha. Mal posso esperar para ver quem você espetará a seguir.

— Mas o prefeito...

— Oh, não se preocupe com o prefeito. Apenas faça o próximo artigo


tão bom quanto este.

Balanço minha cabeça, confusa, mas com um sentimento crescente


de orgulho. Ângela não é exatamente o tipo de elogios.
Seu telefone toca e ela me manda embora com um aceno impaciente
de sua mão.

Volto lentamente para a minha mesa, as ideias já flutuando na minha


cabeça. Acho que sei exatamente o que vou escrever a seguir. ‘O DJ, o
último de uma raça em extinção?’ - Título provisório.

Quando volto, há uma única rosa na minha mesa, que só noto


quando estou de volta à cadeira. Eu me levanto de novo e olho por cima
da partição, em seguida, examino os arredores. Não há nenhum vestígio
de alguém que poderia tê-la deixado. Nenhuma figura recuando. Nenhum
entregador equilibrando outros pacotes. E, enquanto pego a rosa e olho
por baixo, nenhuma nota.

E então, pego o cheiro de um desodorante masculino picante. Meus


nervos à flor da pele. Alguém está bem atrás de mim.

— Miss Mackey mostra, em seu implacável discurso negativo, que ela


não pertence, nem merece trabalhar, na bela cidade de Hope.

Ele se vira para mim. Estava sentado em uma das cadeiras de uma
mesa próxima, e foi por isso que não o vi imediatamente.

— April Mackey faria bem em lembrar que a própria cidade que ela
parece desprezar continua a fornecer-lhe um emprego e os leitores a
consumir suas divagações, embora eu deva me considerar um leitor a
menos depois de ver este artigo em particular.
Ele está lendo de um telefone. E sorrindo. Mas isso é o menos
impressionante sobre sua aparência aqui, no meu local de trabalho. Ele
está vestido com calça de malha justa e uma fina camiseta branca, com
Sketchers e a aparência ligeiramente ofegante de alguém que acabou de
correr um quilômetro.

— Que diabos? — Eu pergunto a ele, porque não tenho certeza de


como reagir. Ele está aqui. Vamos começar com isso. — Como você me
achou?

— O que quer dizer? Você me disse.

Eu recuo em minha mente. O clube. Barulhento. Nossa breve


interação naquele banheiro.

— Uh, não, eu não disse.

— Você me disse que é jornalista, — ele diz simplesmente, com um


encolher de ombros indiferente.

Ele é muito maior do que eu me lembro. Talvez seja a camiseta e a


maneira como seus bíceps se projetam dela. Talvez seja a proximidade; o
fato de eu estar tão perto dele no banheiro, mas de alguma forma isso
parece mais intrusivo, como se eu tivesse acabado de pegá-lo no
chuveiro. Meus olhos seguem para baixo, vejo o contorno de algo saliente
em sua calça e retorno para cima.

— Muito ódio por você online, — diz ele, balançando a cabeça e


assobiando.
— Eu não leio isso, — eu digo, engolindo.

— Graças a Deus por isso. Alguns deles são brutais. Apesar…

Ele se levanta com um movimento fluido e fica na minha frente com


um sorriso. — Acho que Philtastic54 está errado em sua suposição de que
você é 'provavelmente uma velha desalinhada e amarga'. Ele não poderia
estar mais longe da verdade.

Ele está me avaliando, olhando para mim, deixando-me saber que


está me examinando. É enervante, mesmo quando uma parte de mim
reconhece o elogio escondido em algum lugar ali.

— O que você quer…? — Eu paro. Eu não sei o nome dele. Eu nunca


perguntei. Tenho me referido a ele em minha cabeça como ‘o DJ sexy’.

— Miguel, — ele oferece. — E eu quero ajudá-la a resgatar sua


reputação, colocar os ofensores de volta ao seu lado. Bem, isso e eu
adoraria levar você para jantar.

Ele nem mesmo recua; tudo nele é confiante, seguro, até arrogante.

— Em primeiro lugar, — digo a ele, dando um passo para trás para


me dar alguma perspectiva. E sair do que parece ser uma sombra muito
grande. — Eu não preciso dos ofensores do meu lado. E minha reputação
está ótima, muito obrigada.

— Certo.

— E em segundo lugar, eu odeio rosas.


Miguel olha para a mesa e ri. É um trinado curto, quase musical. —
Claro que odeia. Nada sobre você é simples, não é, April Mackey?

Encolho os ombros.

— Bem, de qualquer maneira. Eu tenho uma proposta para


você. Discutirei com você durante o jantar, esta noite? Você gosta de
comida, espero?

— Eu não... eu... — Eu não sei por que minhas palavras estão de


repente tropeçando umas nas outras, mas certamente é um novo
desenvolvimento.

— Ótimo. Se você apenas digitar suas informações e endereço... —


Ele me entrega um telefone e sorri para mim.

— Que proposta? — Pergunto-lhe. Minhas mãos me


traem; enquanto minha mente está decidindo o que dizer a ele, pego o
telefone.

— Ficarei feliz em lhe apresentar uma boa garrafa de vinho.

— Por que você está vestido assim? — Eu pergunto a ele, os dedos


parando em seu telefone. Isso tem me incomodado desde que ele
apareceu, e eu apenas olhei para baixo em sua calça e peguei outra visão
de ‘algo’.

— Oh, eu estava correndo. Pensei em entrar e dizer um olá rápido.

— E acabou de passar por um vendedor de flores?

— Destino. Coincidência. Esse endereço, então?


Persistente também. Estou quase tentada a dizer não, a devolver o
telefone de volta para ele. Mas há algo intrigante sobre ele. E estou
genuinamente curiosa para saber qual é a sua proposta. Além disso,
suspeito que este homem simplesmente não aceitará um não como
resposta.

— Tudo bem, — eu admito, colocando minhas informações em seu


telefone.

— Saio do trabalho às 5.
Capítulo 4
Miguel
April está de terninho.

Ela está do lado de fora de seu apartamento, esperando que eu vá


buscá-la para o nosso encontro, em um terninho. O visual é tão incomum
que não sei o que fazer com ele. Sinto o sorriso chegando e depois a
risada.

É engraçado não apenas pelos motivos óbvios, mas também porque


estou vestido demais em comparação. Eu vasculhei todo meu roupeiro
para escolher minha melhor e mais limpa camisa branca, jeans preto e
colete preto. Pensei em adicionar uma gravata borboleta, mas acabei
conseguindo me convencer do contrário. Em vez disso, optei por
uma aparência lisa e bem barbeada.

— É um terno adorável, — digo a April quando saio do carro. — Não


sabia que estávamos participando de uma reunião de negócios.

— Não estamos? — April pergunta com uma cara séria.

Eu puxo as tulipas das minhas costas e as apresento a ela. — Oh! —


Sua expressão é de dor quando ela pega as flores de mim.

— Não são tulipas também, hein, — eu digo com um sorriso


resignado.
— Não, — April admite. — Mas estas são adoráveis. Dê-me um
minuto enquanto coloco na água.

Ela se vira e caminha desajeitadamente de volta para sua casa. Não


entendo imediatamente por quê, mas então vejo os saltos que ela está
usando.

— Eu vou descobrir, você sabe, — digo quando ela volta alguns


momentos depois.

— Você poderia simplesmente perguntar, sabe, — ela diz.

Abro a porta para ela e ofereço a mão enquanto ela entra no


carro. — Onde estaria a diversão disso?

Ela balança a cabeça, mas há um pequeno sorriso puxando seus


lábios.

Olho para ela e, pela primeira vez, sinto que a estou vendo
claramente. Seu cabelo está solto, caindo suavemente em torno de seu
rosto. O efeito é que seu rosto se transforma totalmente de repórter
intrépida em uma versão mais suave e pessoal de si mesma. Seus olhos
têm manchas douradas, noto. E quando ela sorri, há um leve indício de
uma covinha em qualquer uma de suas bochechas.

— O quê? — ela diz, percebendo que estou olhando para ela


abertamente. — Nada. Apenas um grande fã do seu visual.

Eu também não sou o único fã. Talvez porque meus olhos continuam
indo para ela de qualquer maneira, estou mais ciente de todos os outros
olhos que a seguem enquanto entramos no restaurante. Ela pode ser
bastante cativante, devo admitir. De repente, seu traje não parece
deslocado.

Minha mão desliza em torno de sua cintura, uma ação que fiz tantas
vezes que é quase inconsciente, e que percebo um segundo tarde demais
que pode ser muito ousado para ela.

Eu espero pela repreensão gentil, a derrubada verbal. Só a conheço


há quatro dias, mas sei como sua língua é afiada.

Mas a resposta raivosa não veio. Ela estremece, ou parece que sim,
mas não diz ou faz nada, e caminhamos até nossa mesa desse modo; com
meus dedos circulando sua cintura e seu corpo pressionando perto do
meu.

Puxo sua cadeira e fico ao lado dela, inalando a nuvem de fragrância


que é seu cabelo e tentando não notar a curva de cisne de seu pescoço.

— Oh, olhe, — ela diz quando nós dois finalmente nos sentamos, e
nosso servidor está vindo até nós. — Eles estão tocando boa música. — E
ela me lança um olhar significativo.

— Não sei se chamaria isso de música, — digo a ela. — É um ruído de


fundo muito atmosférico, muito discreto. Você nem deveria notar.

— Eu me pergunto se eles colocaram em automático, — diz April. —


Você não acha que tem um cara em algum lugar atrás, clicando nas
músicas e adicionando-as a uma lista de reprodução, não é?
Eu mordo de volta meu comentário. Nosso garçom apareceu e está
listando os vinhos disponíveis.

Ela está brincando. Eu sei que ela está brincando. Mas aí está
novamente, aquela conversa que nunca realmente tivemos de volta ao
clube.

— Traga-nos uma garrafa do seu melhor tinto, — digo ao garçom. —


Um Domaine Eden, se você tiver. Estaremos prontos para pedir em um
momento.

— Muito experiente, — April diz, seu tom ainda provocando. — Você


deve trazer muitas garotas aqui.

— Só aquelas que insultam meu ofício.

— Oh, seu ofício? Por favor, senhor, conte-nos mais sobre o seu
ofício. — Ela parece prestes a pegar um caderno e uma caneta.

— É mais do que apenas arranhar discos, você sabe, — eu explico. —


Um bom DJ é, na pior das hipóteses, um curador, encontrando a música
perfeita e combinando-a para criar uma experiência auditiva
contínua. Não é uma coisa fácil de fazer.

— Muito justo, — diz April. — Mas você tem que admitir, com o
advento da tecnologia, essa curadoria deve ser muito mais fácil. Quando
você pode gravar músicas automaticamente e cuidar de seus negócios.

Então me ocorre por que ela se ofendeu com isso e por que continua
a atirar em mim por causa disso.
Estendo o braço por cima da mesa e pego uma de suas mãos na
minha. Seus olhos se arregalam, mas como antes, ela não se afasta. Sua
palma é fria e macia, seus longos dedos e unhas roídas salpicadas com
aquelas manchas desbotadas.

— Você tem uma máquina de escrever, não é? — Eu pergunto a ela.

Suas sobrancelhas se erguem. Ela puxa a mão de volta e a examina,


sem dúvida se perguntando o que eu vi ali.

O garçom retorna com nosso vinho. Peço o filé mignon e ela vai com
o pato. O vinho, concordamos, é maravilhoso.

É isso, então, eu acho. Primeiro mistério resolvido. Estou certo sobre


a máquina de escrever. April é antiquada. Ela provavelmente é purista
com a música também, não muito diferente de meu melhor amigo
Graham. E eu sei exatamente como quebrar sua fortaleza.

— Você vai voltar para a minha casa comigo? — Eu pergunto a ela.

April quase cospe o vinho. Seus olhos ficam lacrimejantes e ela tosse
uma ou duas vezes antes de recuperar a compostura.

— A maioria dos caras esperaria pelo menos quatro encontros antes


de pedir isso, — ela finalmente diz.

— Ah, então você admite que este é um encontro.

— A maioria dos caras espera quatro encontros e uma reunião de


negócios.
— Acho que veremos, — digo a ela, encontrando e segurando seu
olhar. Olhamos um para o outro, competindo com os olhos, cada par
desafiando o outro a ceder e desviar o olhar.

— Mas não foi isso que eu quis dizer, — prossigo. — Tenho algo que
gostaria de mostrar a você.

April sorri e balança a cabeça. — De novo, Miguel. A maioria dos


caras espera pelo menos quatro encontros...

É nesse ponto que decido que gosto de April Mackey.

— Então, sobre essa sua proposta…— April pergunta. O jantar


acabou, e estamos nos deleitando com aquele feliz resplendor de uma boa
refeição. A garrafa de vinho também acabou, e isso teve o efeito adicional
de relaxá-la ainda mais.

— Oh sim. Eu quase esqueci disso. — Ela tem sido tão cativante


quanto eu temia que fosse. Engraçada. Apaixonada por seu
trabalho. Encantadora de uma forma sutil, mas cativante.

— Certo. Então, eu sei que você disse que não se preocupa com sua
reputação, o que obviamente não é verdade, mas vamos dizer, para fins
de argumentação, que você se importa um pouco. Um amigo meu
apresentará um microfone aberto em sua loja de discos em mais ou
menos uma semana. Deve ser um caldeirão de música, velha e nova, mas
principalmente é uma chance para os amantes da música se reunirem,
celebrar nossa cultura e nossa cidade.
— Ah, e você quer que eu escreva sobre isso para que todos parem
de dizer que odeio Hope.

— Não, eu quero que você escreva sobre isso porque é uma boa
história. Se tem a vantagem de suavizar alguns de seus ofensores, então
por que não?

April faz uma pausa, olhando pensativamente para um ponto logo


acima da minha cabeça.

— Tenho certeza de que a publicidade também não faria mal, hein?

— Bem, não. Obviamente, isso seria um grande favor para mim. Mas,
a meu ver, você precisa dessa história tanto quanto.

— Como você sabe?

— Você é uma cínica, April. Ou pelo menos pensa que é. Mas eu vejo
além dessa máscara. Você se importa, mesmo que não admita. Se você
estiver tão entediada com o evento quanto estava com meu set, então
admitirei a derrota e deixarei você em paz.

— Você parece muito confiante para alguém que mal me conhece.

— Acho que estou começando a entender você. Quatro encontros


serão mais do que suficientes para preencher os espaços em branco.

April irradia. É uma coisa tão linda vê-la sorrir. E saber que fui eu
quem fez isso acontecer.

— Extremamente confiante, — ela diz novamente. — Mas tudo


bem. Nós temos um acordo. Só vou precisar de uma coisa de você.
— OK…

— Oh, você verá.

— Mais mistério, hein? Eu amo isso. Vamos indo então?

— Ah sim. Você tinha 'algo' que queria me mostrar. — Ela coloca


aspas pesadas no ar em algo, balançando levemente enquanto fala.

— Certo. E você já bebeu vinho suficiente, eu acho.

Eu me levanto e ando para o lado dela da mesa. Estendo a mão,


sempre cavalheiro, e a ajudo a se levantar. Ela pisca, seu corpo ainda
balançando. Ela acena para que eu saiba que ela conseguiu, e me
afasto. Assim que eu faço isso, ela perde o equilíbrio e tropeça em minha
direção. Estendo a mão e a pego em meus braços. Ela está quente e me
olha com olhos grandes e lindos.

— Você é gostoso, — ela murmura, e então ofega e aperta a


boca. Claramente, esse sentimento particular não deveria ser expresso.

— E você é de tirar o fôlego, — digo a ela. — Venha, vamos pegar um


pouco de ar.

Ela balança a cabeça, de maneira muito vigorosa, quase


petulante. Então, com o peso dela ainda sobre mim, ela estende a mão e
me dá um beijo.

Isso me pega de surpresa. É fugaz, úmido e urgente, e acende fogo


dentro de mim em um instante. Quero dizer a ela que este não é o lugar
para isso, que temos uma audiência. Mas também quero prová-la
novamente, o vinho e ela; desta vez estarei pronto para isso...

Suas mãos lentamente envolvem meu torso. Ela empurra para dentro
de mim e seu corpo está praticamente fundido ao meu. Seus seios cavam
em meu peito. Ela fica na ponta dos pés e lambe os lábios.

Foda-se, eu acho, e me inclino.

Meus lábios se fecham em torno dos dela e ela solta um suspiro


suave. Minha mão sobe e embala seu rosto, puxando-a. Seus lábios são
muito suaves e ela derrete sob meu toque. Seus lábios se abrem e eu
mergulho, beijando-a com mais força.

Ela cheira maravilhosamente bem com um perfume erótico e


inebriante que enche minhas narinas. Ela se sente ainda melhor, seu
corpo quente e cheio e flexível enquanto eu coloco uma mão exigente e
inquiridora em volta de sua cintura e, em seguida, abaixo, abaixo até que
estou segurando nádegas firmes e surpreendentemente carnudas.

Era para ser um beijo breve, uma promessa de mais por vir. Mas eu
caio nela rapidamente, e de repente é feroz e selvagem, e estou gostando
muito, e não consigo me conter, e um de nós está gemendo.

Controle-o, controle-o. A voz está tão profunda nos recônditos da


minha mente que eu a ignoro.

Mas então, um som surge. Uma colher estala em algum lugar


próximo, uma, duas vezes, cada vez mais alto. Alguém sussurra algo. É
como se o volume diminuísse lentamente, como se o mundo estivesse se
reafirmando...

Eu quebro o beijo, ciente do inchaço e pulsação empurrando na


pélvis de April. E, em alguns segundos, estão pelo menos uma dúzia de
pares de olhos olhando para nós. Alguém grita, outro ri.

Limpo minha garganta e dou um passo para trás. Quase não consigo
olhar para ela porque sei que verei meu próprio desejo refletido em seus
olhos.

Procuro em meu bolso e pego minha carteira. Pego meu cartão com
dedos trêmulos e o coloco na mesa. Olho em volta, e o empregado vem
correndo. Ele acena com o meu pedido silencioso e pega o cartão.

— Vamos lá, — eu digo para April, minha voz rouca.

Eu a levo para fora lentamente. Um homem em uma mesa perto da


entrada pisca para mim.

Lá fora, April se inclina contra uma parede e eu ofereço um braço


firme em volta de seus ombros. O empregado sai correndo com meu
cartão e, momentos depois, meu carro surge.

O calor e a memória do beijo permanecem comigo enquanto eu


dirijo. Eu ainda posso prová-la, ainda senti-la, cheirá-la. April ainda não
disse uma palavra. Quase não quero que o faça porque então o feitiço
será quebrado. Olho para ela. Ela encontra meu olhar e sorri, um sorriso
sonolento e genuinamente feliz. Então ela fecha os olhos e adormece
lentamente.
Capítulo 5
April
Acordo com raiva e confusa.

A confusão se resolve com bastante facilidade; pareço estar na minha


própria cama, com uma leve dor de cabeça e boca seca que me fazem
lembrar um pouco de copo após copo de vinho. Vinho muito sorrateiro
também; não me lembro da última vez que fiquei bêbada de vinho.

A parte da raiva é um pouco mais difícil de descobrir. Eu apenas me


sinto agitada.

Sento-me, apertando os olhos enquanto raios de sol se filtram pela


janela e quase me cegam. Espio por baixo das cobertas. Estou de
lingerie. Por que isso é estranho?

E então me lembro do que aconteceu ontem à noite, e com quem


aconteceu, e pulo na cama.

Miguel. Jantar. Restaurante. Beijo glorioso e imprudente.

Mas espere. Deveríamos ir para a casa dele depois... ele queria me


mostrar algo. Embora eu tenha certeza de que senti a maior parte
enquanto nos beijávamos. Oh meu Deus. Nós nos beijamos.
Tudo parece um sonho. E, assim como um sonho, os detalhes da
noite são tênues e obscuros, e eles flutuam quanto mais tento agarrá-los.

Ele deve ter estado aqui. Ele deve ter me trazido para casa. Não me
lembro de nada, mas não há explicação para isso. E percebo que é disso
que se trata a raiva. Estou com raiva de mim mesma por adormecer. Estou
chateada por não ter ficado acordada para ver o que aconteceu a
seguir. Principalmente porque eu tinha uma boa ideia do que teria sido.

Balanço minhas pernas para fora da cama. Algo brilha na luz da


manhã. Olho para a minha mesa de cabeceira e vejo um copo de água e,
ao lado dele, alguns comprimidos e - o mais importante - um pedaço de
papel. Eu o alcanço, ignorando a aceleração repentina do meu pulso.

É uma nota de Miguel. Meus olhos o percorrem rapidamente, então


volto e releio lentamente.

April,

Deixei duas aspirinas para você, caso esteja de ressaca. O que, aliás,
definitivamente vou tirar sarro de você.

Eu tive uma noite maravilhosa. Um pouco chateado por não ter


conseguido mostrar a você aquele 'algo', mas espero fazer isso hoje.

Estarei no Midtown Gym até às 14h. Venha me encontrar.

PS: Eu estava tentando não olhar enquanto ajudava a colocar você na


cama, mas definitivamente vamos falar sobre essa tatuagem.
Procuro pelo meu telefone, eventualmente encontrando-o em cima
da pilha de roupas cuidadosamente dobradas ao pé da minha cama. Ele
dobrou minhas roupas!? Às nove da manhã, eu poderia correr para o
escritório rapidamente e depois encontrar este ginásio.

A raiva e o constrangimento se dissipam quando eu pulo no chuveiro,


substituídos por uma excitação crescente e uma admissão relutante de
que eu me diverti na noite passada também.

O Midtown Gym é um daqueles prédios que eu sempre soube que


existia, mas que nunca pensei duas vezes. Há algo imponente e assustador
nisso, sem contar o tipo de pessoa que entra e sai dele.

Talvez meus odiadores tenham razão. Talvez eu devesse


experimentar Hope um pouco mais antes de criticá-la. Eu não sabia, por
exemplo, que o Midtown Gym não é apenas um centro de fitness, mas
também um ginásio de boxe real.

É muito maior do que parece por fora; há duas áreas separadas, uma
com grupos suados e brilhantes de pessoas tentando entrar em forma e
outra com uma multidão menor, mas um grande anel bem no meio do
espaço.

Eu paro por um momento, sem saber onde devo encontrar Miguel,


mas minha pergunta se responde quase imediatamente. Meus olhos
examinam a sala e pousam em um par de espécimes absolutos circulando
um ao outro no anel.
Eu descubro Miguel com bastante facilidade. Ele está de short e calça
de malha, sem nada na parte superior do corpo, e vê-lo arrasta um suspiro
de mim e me aquece todo o corpo. Cada centímetro dele está coberto de
músculos. Ele tem o tipo de abdômen definido e ondulante que você só vê
nos filmes, e o corpo perfeito de alguém que passa a primeira metade de
um dia de semana se exercitando em uma academia de boxe.

Seu parceiro de treino também não é desleixado. Ele me parece


vagamente familiar, mas não tenho tempo para pensar sobre onde o vi
pela última vez, porque estou distraída por seu corpo, sua masculinidade e
a visão desses dois Adónis brilhando de suor e balançando entre si.

Está quente. A academia, eu... está quente demais.

Eu decido não chamar seu nome e apenas me sento ao lado,


contente de assistir.

Eles circulam um ao outro, esquivando-se e ziguezagueando,


raramente dando socos e concentrando-se no jogo de pés. O outro cara é
um pouco mais alto e claramente maior, mas Miguel é mais rápido e mais
ágil em seus pés. É como assistir a uma dança entre dois especialistas: um
balança e tece, puxando o outro, depois desvia um golpe que vem
segundos depois e dispara outro, e esse golpe passa inofensivamente por
um oponente já se esquivando. Isso continua por um tempo, mas eu
observo, fascinada e definitivamente confusa.

Não sei o que o alerta da minha presença. Talvez eu pouse em sua


visão periférica enquanto ele luta e vira a cabeça para olhar diretamente
para mim. Acontece que é um erro; nos segundos entre olhar para longe e
para trás, o oponente de Miguel dá-lhe uma pancada na cabeça e ele solta
um rugido de protesto.

— Cara!

— Desculpe, mano. Você se distraiu, isso não é culpa minha.

É um ponto justo e Miguel parece concordar. Ele balança a cabeça,


então dá um soco no parceiro e se volta para mim.

Sorri enquanto se aproxima.

— Se eu soubesse que você estava assistindo, teria feito um show.

— Eu não acabei de lhe custar a luta?

— Nah. Andre e eu estávamos apenas treinando. Exercitando. Ele


arrancaria minha cabeça em uma luta real.

Andre. Está certo. É de onde eu o conhecia. Ele também tinha estado


no clube; eu o conheci brevemente antes de ele ir procurar ouro no rosto
de Emma.

— Como está a ressaca? — Miguel me pergunta.

— Que ressaca?

Ele ri. — Não se preocupe, não vou contar a ninguém que você é
fracote.
Estou achando cada vez mais difícil me concentrar em seu rosto. E
para me convencer de que deveria. Por que não olhar? O que há de
errado em apreciar um homem bonito?

— Eu não sabia que DJs deveriam ser assim... uh... —


Cinzelado. Rasgado. Afiado no pico da potência sexual. — …em forma.

— Ser DJ é apenas meu trabalho paralelo, você sabe.

— O quê? Você é o quê, um boxeador profissional?

— Na verdade, ensino música.

— Você está brincando.

— Não. Eu ensino em uma escola local e também dou aulas


particulares.

— Você é cheio de surpresas, não é?

Ele sorri, quase como se soubesse o efeito que isso tem sobre
mim. Isso e seu corpo ainda suado, junto com essa nova informação, são
quase esmagadores. Estou quase tentada a pedir a ele para colocar uma
camisa, pelo bem da minha sanidade.

— Deixe-me pegar minhas coisas e vamos indo.

Sua mão desliza sobre minhas costas enquanto saímos do


ginásio. Para baixo, depois dá a volta e finalmente se acomoda em minha
cintura. Não há hesitação, ao contrário da última vez e há ainda menos
resistência da minha parte. Seus dedos queimam o tecido da
minha camiseta, e o calor se infiltra.
— Espero que não se importe se nós caminharmos? — ele me diz em
voz baixa. — O carro está em casa.

Balanço minha cabeça, porque temo que minha voz traia a excitação
nervosa correndo em minhas veias.

Caminhamos em silêncio pela cidade. É cada vez mais difícil para mim
prestar atenção em qualquer coisa, exceto na forte pressão de sua
mão. Ele aponta a loja conforme passamos, debatendo-se se entra para
dizer oi, mas mudando de ideia. Então ele começa a me contar sobre o
microfone aberto e os planos que ele tem para a música. Aceno
distraidamente. Acabei de lembrar que deveria estar escrevendo sobre
DJs como uma arte perdida.

Ele para de repente. Estende a mão e pega minha mão, e me puxa


pela rua até um vendedor de flores.

Seu sorriso é brincalhão enquanto sua mão paira sobre os diferentes


arranjos. Ele faz uma pausa nas tulipas e me observa atentamente. Em
seguida, ele flutua até às peônias, camélias, narcisos e lírios. Seus olhos
nunca deixam meu rosto. Tento mantê-lo sem emoção, porque não vou
ajudá-lo em sua busca.

— Entendi, — diz ele de repente.

Ele acena com a cabeça para o vendedor e entrega-lhe uma nota, em


seguida, pega um único lírio branco e o entrega para mim. Ele tem um
olhar triunfante no rosto e estende as mãos como se me perguntasse: —
Bem?
— Não, — digo a ele.

— Ah não acredito!

Balanço minha cabeça novamente.

— Hmm. OK. Vou continuar tentando.

Seu apartamento é simples, mas decorado com bom gosto e


praticidade. É um estilo díspar que tem um efeito geral agradável: dois
sofás diferentes, uma cadeira de balanço com um estilo completamente
diferente, mesa de centro de vidro, prateleiras de madeira... É claramente
um casamento de várias coisas que ele gosta, e não poderia ser mais dele.

Ele me mostra o tour passando uma mão casual pela extensão de sua
sala de estar, depois apontando e dizendo ‘cozinha’, ‘varanda’, ‘banheiro’.
Claramente, ele está impaciente para chegar ao motivo de me trazer aqui,
e não posso culpá-lo. Eu também estou um pouco ansiosa.

— Adorável, — digo a ele.

Ele ri. A risada dele está começando a ficar familiar, e não tenho
certeza de como me sinto sobre isso.

— Vamos lá, — ele diz, acenando para que eu o siga.

Ele me leva por um corredor curto e escuro, em seguida, abre uma


porta para uma sala arejada e iluminada que imagino ser seu quarto. Há
um dossel no canto mais distante da sala, de frente para uma pequena
estação de trabalho composta por uma mesa de madeira e uma cadeira
sem encosto. Mas seus olhos estão do outro lado da sala, e é para onde
ele me direciona.

Eu fico olhando para a configuração sem entender imediatamente o


que estou vendo. — Isto é…

— Uma plataforma giratória, — diz Miguel. Sua voz está ofegante e


animada. — Bem, duas plataformas giratórias. E aqui, um mixer da velha
escola.

— Isso é o que você queria me mostrar? — Eu pergunto, incapaz de


esconder a decepção na minha voz.

— Sim. Achei que você gostaria disso. Discotecando como deveria


ser. Sem computadores, sem reproduções automáticas. Apenas um
homem encontrando registros e os reproduzindo em tempo real... — Ele
para, e então seu rosto se ilumina.

— Oh! Você pensou que eu quis dizer outra coisa!

— O quê? Não.

— Espere. Você veio. Que significa…

O calor sobe em minhas bochechas até que eu tenho certeza que


estão vermelhas. Desvio o olhar e, pela primeira vez, não tenho uma
resposta inteligente.

Miguel se inclina e sussurra bem no meu ouvido: — Eu pensei que


tinha que esperar pelo menos quatro encontros?
Eu o afasto e pego a coisa mais próxima em que posso colocar
minhas mãos. É um CD simples, o primeiro que vejo em muito tempo.

— O que é isso? — Eu pergunto a Miguel.

— Isso, — ele diz, pegando de mim. — É realmente feito para


você. Estou fazendo uma mixtape para você.

Eu franzo a testa para ele, grata pela mudança de assunto, mas certa
de que o ouvi mal.

— Suponho que seja mais um CD mix, — ele esclarece. — Eu tentei


fazer uma fita de verdade, você sabe, uma fita cassete. Mas não tenho o
toca-fitas certo para isso. Mesmo assim, mantive-o o mais autêntico
possível.

— Isso é musica? — Pergunto-lhe.

— Sim. Eu estava tentando fazer você dançar quando te conheci,


April. Se isso não funcionar, não sei o que funcionará.

Há algo comovente nisso. Antiquado também, como uma cena de um


filme de John Hughes.

— Bem, posso ouvir?

— Sim. Mas em sua casa. Aqui não.

Eu concordo.

— OK. Vou entrar no chuveiro bem rápido, depois vou mostrar como
um DJ de verdade deve fazer isso.
Ele me dá um tapinha brincalhão no traseiro, depois se vira e sai da
sala. — Você estava certo, — grito atrás dele.

— O quê?

— Sobre as flores. — Eu seguro o lírio, ainda apertado na minha


mão. — Lírios são minhas flores favoritas.

Só não queria dar a você a satisfação de saber que descobriu isso tão
rápido, que pode ler meu rosto com tanta eficácia. Depois de apenas
alguns dias.

— Eu sei, — Miguel diz com arrogância característica. Então ele pisca


e desaparece pela porta.
Capítulo 6
Miguel
Ela está na minha cama. Sentada, pernas cruzadas, olhos
distantes. Esperando. Ela tem uma energia inquieta e nervosa.

Eu me aproximo, ainda um pouco molhado, a toalha enrolada na


minha cintura.

Parece irreal que ela esteja aqui agora. Lembro-me de vê-la no clube,
brevemente, uma nuvem passageira, mas mesmo assim, ela se
destacou. E então lá estava ela, no banheiro, de frente para
mim. Realmente só se passaram cinco dias? Pareceu mais tempo. Como se
houvesse uma diferença distinta entre o momento antes de conhecê-la e
o período logo depois.

Eu me aproximo com cautela. Subo na cama ao lado dela e dou-lhe


um leve empurrão.

— Tudo certo? — Eu pergunto a ela.

— Sim, — ela diz. — Por quê?

— Não sei, você parece... pensativa.

— Oh, então porque você teve sorte com as flores, você acha que me
conhece?
— Não sei se a sorte tem alguma coisa a ver com isso. Talvez você
seja um livro aberto, April Mackey. Já considerou isso?

— E você está cheio de si.

Seus olhos continuam baixando, passando rapidamente do meu rosto


para o meu torso e depois voltando com um movimento quase relutante
de cabeça.

— Então. — Eu estendo a mão e levanto seu queixo para olhar em


seus olhos. — Quatro encontros, hein?

— Certo, — ela sussurra, recusando-se a sustentar meu olhar.

Eu levanto seu queixo novamente. — Não sei se mencionei isso,


April, mas você é deslumbrante.

— Não. Eu não acho...

Eu me inclino e engulo o resto de suas palavras.

Há um breve momento em que tudo parece estar congelado em um


único momento sem fôlego. Então meus lábios estão nos dela, e eles são
quentes e úmidos. Ela suspira, então suas mãos envolvem meu pescoço e
ela me puxa para a frente, junto dela.

Eu a beijo com força, uma chama de desejo brotando de dentro e me


deixando mais ousado. Percebo, enquanto ela balança e eu deito em cima
dela, que os últimos dois dias foram um intervalo longo e
prolongado. Tínhamos simplesmente clicado em pausa. Eu toco seu rosto,
tentando traçar suas feições apenas com minhas mãos. Ela me beija de
volta com a mesma paixão, com um abandono imprudente que
definitivamente não existia antes.

O beijo é simultaneamente quente e suave, urgente e exigente. Ela


chupa meus lábios e eu mordo os dela. Ela tenta com a língua e eu a deixo
entrar, então luto contra sua língua com a minha. Seu corpo inteiro
treme. O meu está pegando fogo de necessidade. Quero mais. Eu preciso
de mais.

Mudo meu peso e meu joelho fica preso em uma dobra da toalha. Eu
quero vê-la. Quero sentir sua pele na minha. Eu me afasto, quebro o beijo
e pisco na cara dela. Suas sobrancelhas estão franzidas. Seus lábios ainda
estão separados, um convite, um protesto.

Eu a beijo mais uma vez, rápido, um sussurro em seus lábios. Então


me endireito e encontro a barra de sua camiseta. Ela me ajuda a puxar
pela cabeça. Seu sutiã se abre pela frente; eu o solto também. Ela balança
os quadris e a calça sai em seguida.

Beijo a parte interna de sua coxa. Não consegui ver muito bem
quando a estava colocando na cama, mas agora vejo a tatuagem melhor.

— Pena, — sussurra April. — É suposto ser uma pena. Eu a fiz estava


na faculdade e obcecada por poetas vitorianos.

Claro que ela fez.

Dedos impacientes giram em torno das tiras muito finas que


prendem sua calcinha e as trazem para baixo.
Suas mãos estão no meu cabelo, no meu rosto, movendo-se entre
nós, chamando-me para ela. Ela tem um cheiro maravilhoso, e o seu calor
é atraente. Resistindo com a pressão de seus dedos, corro minha língua ao
longo da parte interna de sua coxa direita, então, quando seu torso se
contrai e suas pernas enrijecem e relaxam, tiro minha língua para fora
mais uma vez, provando-a.

Ela geme e junta as pernas. Murmura algo, mas é incoerente. Suas


mãos são mais fortes, mais urgentes, e eu me puxo de volta para seu
rosto.

Suas mãos viajam entre nós mais uma vez, impaciente e


determinada. O calor queima em todos os lugares que ela toca. Acaricia
meu peito e abdômen, seus dedos macios, mas firmes. Quando chegam à
minha cintura, eles roçam impacientemente na toalha e desatam. Meu
pau salta livre quando a toalha cai.

Meus lábios estão nela novamente, mas estou perdendo o


controle. Seus dedos encontram e circundam meu eixo, e ela está
trabalhando seu pulso para cima e para baixo em movimentos
enlouquecedores. Beijo em seu pescoço, depois ao longo de sua
mandíbula. Sinto entre nós... minha palma se enche de um peito pesado e
aperto.

Ela se espalha debaixo de mim, suas pernas me envolvendo no calor


de suas coxas. Calor infinito e umidade convidativa. Eu a encosto mais
uma vez e ela responde ao meu apelo silencioso para abrir os olhos. Eu
fico olhando profundamente para aquelas profundezas marrom-
douradas e ela me encara de volta. Levanta os quadris e os empurra para
trás, empurrando-me para dentro. Deslizo dentro dela, tão lentamente
que parece levar uma eternidade. Em seguida, ela engasga e move os
quadris para cima, e eu me enterro ao máximo.

Eu a ouço resmungar incoerentemente novamente, e considero isso


uma súplica. Levanto a parte superior do meu corpo e prendo minhas
mãos em cada lado dela. Eu me esfrego nela, estocadas lentas, mas fortes,
que batem contra ela e fazem revirar seus olhos. O ritmo é lento, mas
mantenho os golpes longos e profundos. Eu amo vê-la se contorcer e seu
rosto se contorcer. Eu amo a sensação dela me apertando com todas suas
forças.

Acelero meu ritmo. Nossos corpos são misturados em uma dança


gloriosa. Eu bato cada vez mais rápido. Ela se mexe, usando uma perna
para me puxar ainda mais, em seguida, adicionando a outra perna, em
seguida, envolvendo as duas atrás de mim e, finalmente, agarrando
minhas nádegas e balançando no ritmo das minhas estocadas.

Ela endurece de repente, agarrando-me e me arrastando de volta


para ela. Desta vez, ouço o que ela murmura. — Estou gozando.

Eu cavo dentro. Minhas mãos vão ao redor do seu pescoço e estou


agarrando, segurando-a. Eu balanço meus quadris mais rápido, mais forte,
batendo agora. Suas costas levantam e eu levanto seu corpo também. Nós
giramos, e então ela está de costas para fora da cama completamente, e
estou apoiando seu peso em meus braços, e estamos unidos apenas na
virilha, e ela está recostada e gemendo alto. Sem aviso, seu corpo congela,
apertando tudo. Dedos rasgam minhas costas. Suas coxas são como
garras. Eu sinto meu próprio orgasmo derramar e então poder através de
mim. Nós nos debatemos juntos por vários momentos enquanto nossos
mundos explodem em mil estrelas brilhantes, então caímos, exaustos, em
uma pilha feita um do outro.

— Quatro encontros, — ela diz.

— Tenho certeza que encontraremos coisas para fazer até então, —


digo a ela, pegando-a em meus braços.

— Estou escrevendo sobre você, a propósito, — ela diz em meu


peito. — Não vai ser muito lisonjeiro.

— Mal posso esperar, — digo a ela.

— Então, você vai me mostrar como essas plataformas giratórias


antigas funcionam ou não?

— Em um minuto, — eu respondo. Eu me abaixo e encontro um


mamilo com meu indicador e polegar. — Há outra coisa que eu esperava
mostrar a você primeiro. Mais algumas vezes, quero dizer.
Epílogo
Emma bufa. Sadie fica olhando. Eu empurro Miguel de cima de mim,
e ele só concorda porque eu dou uma piscadela para
ele. Nosso sinal combinado de que ‘vamos pegar isso mais tarde’. Ele me
belisca bem na parte inferior e eu dou um tapa em sua mão. Eu
costumava pensar que isso me irritaria, mas ele nunca deixa de arrancar
um sorriso de mim com isso. Ele pede licença para ir preparar e eu volto
para minhas melhores amigas com as bochechas em chamas.

— Quem poderia imaginar, — Sadie diz.

— Eu não, — Emma responde imediatamente. — Nossa April.


Apaixonada.

— Não estou apaixonada, — protesto, mas sei que elas estão


certos. Eu nem saberia por onde começar a discutir.

— É engraçado, — Sadie continua. — Eu li este artigo


no Chronicle desta semana, não sei se você viu, Emma. Era para ser sobre
DJ, mas acabou parecendo uma carta de amor.

— Eu não vi isso, — Emma fornece. — Mas acredito em você.

— Esse artigo foi perfeitamente objetivo, — digo a elas,


endireitando-me e empinando o queixo. — Além disso, vocês duas
deveriam estar ajudando Graham e Juliet a se preparar. Não me
intimidando.
— Ok, ok, — Emma diz. Ela sorri e passa por mim com os ombros,
indo em direção à loja, onde será o palco.

— Estou orgulhosa de você, — Sadie diz quando estamos sozinhos.

— Por quê? — Eu pergunto a ela, sentindo um pouco mais de


provocação chegando.

— Por isto. Estou feliz que você esteja divulgando mais e fazendo
histórias mais positivas. E se eu tiver que agradecer ao seu namorado por
isso, então que seja.

Ele ainda não é meu namorado, quero dizer a ela.

— Obrigada, — eu digo ao invés. — Na verdade, eu deveria estar


agradecendo a você. Eu não teria conhecido Miguel se você não tivesse
me arrastado para fora naquela noite.

— Está vendo?

Ela me dá um abraço rápido e desaparece também.

Eu olho em volta e vejo Miguel olhando para mim. Sorrio para ele,
coro e olho para longe. É tudo o que pareço estar fazendo
atualmente. Talvez Hope não seja tão ruim assim.

FIM

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