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Avaliação da Gramática • Versão 2

Gramática
Lê o texto. Se necessário, consulta as notas.

Que a racionalidade se expressa no cálculo, na medida ou na


quantificação é uma daquelas verdades que, de tão basilares, se tornam
triviais. Como a daquela máxima, atribuída a Pitágoras, que diz que “todas as
coisas são números”. E são. Por isso, cada uma das nossas existências se
5 parece com um extenso atlas de cifras que nos recontam: milhares e milhares
de números que se alistam, reconhecidos e impercetíveis, variáveis e fixos,
monumentais ou quase de bagatela, mas nem por isso com menor capacidade
de aferir a forma que a vida tem. Fernando Pessoa, pela mão heterónima de
Caeiro, explicava por que razão se considerava fácil de definir: “Se, depois de
1 eu morrer, quiserem escrever a minha biografia,/ não há nada mais simples./
0 Tem só duas datas — a da minha nascença e a da minha morte.” Mas mesmo
no radical exercício de depuração numérica que o poeta propõe, a presença de
um número torna “mais simples” coisas tão complexas como a morte e o
nascimento. É verdade, podemos perder quase todos os números, mas nunca
os conseguimos perder a todos. Por uma razão básica: precisamos deles.
1 Mas a história não termina aqui. Penso no livro que o historiador norte-
5 -americano Jerry Z. Muller escreveu com o título provocador “A Tirania das
Métricas” (2018), chamando a atenção para um dos tiques absurdos da nossa
atualidade. O afã1 de quantificar o desempenho humano predomina hoje nas
organizações, de A a Z. A divulgação desse tipo de resultados rodeia-se de um
alarido2 tal, como se deles dependesse, em exclusivo, a garantia de
2 credibilidade dos diversos percursos. A isso soma-se ainda a decisão que
0 desses números dependa a distribuição dos méritos, rankings e recompensas.
As instituições sociais passaram, assim, a assemelhar-se a pequenas
sucursais3 do serviço de estatística, infatigáveis usinas 4 de gráficos que, a um
certo ponto, encerram em si a sua própria finalidade. Como se o mero facto de
expressar em números um parâmetro fosse suficiente para fazê-lo científico,
2 fiável e transparente, e a quantidade fosse o indicador preponderante de
5 qualquer política da qualidade. Em especial nas escolas esta
estandardização tem produzido custos que é impossível não ver: um
estreitamento dos programas e dos objetivos, com uma interminável burocracia
de formalismos impostos, reduzindo a liberdade do espaço de aprendizagem,
de convivência e inovação.
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José Tolentino Mendonça, Expresso, 25 de janeiro de 2020

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NOTAS
1
afã – zelo; empenho.
2
alarido – gritaria.
3
sucursal – estabelecimentos comerciais que representam a sede; filiais.
4
usinas – fábricas.

1. Na linha 3, os vocábulos “que” são

(A) um pronome e uma conjunção, respetivamente.


(B) pronomes em ambos os casos.
(C) conjunções em ambos os casos.
(D) uma conjunção e um pronome, respetivamente.

2. As expressões “deles” (linha 15) e “custos” (linha 29) desempenham as funções


sintáticas de

(A) complemento indireto, no primeiro caso, e de complemento oblíquo, no segundo


caso.
(B) complemento oblíquo, no primeiro caso, e de complemento indireto, no segundo
caso.
(C) complemento oblíquo, no primeiro caso, e de complemento direto, no segundo
caso.
(D) complemento direto, no primeiro caso, e de complemento oblíquo, no segundo
caso.

3. Todas as orações abaixo apresentadas são subordinadas adjetivas relativas


restritivas, exceto a oração

(A) “que se alistam” (linhas 5 e 6).


(B) “que, de tão basilares, se tornam triviais” (linha 2).
(C) “que o poeta propõe” (linha 12).
(D) “que ‘todas as coisas são números’” (linhas 3 e 4).

4. Relativamente à expressão “os números” (linha 14), o recurso ao pronome pessoal


“os”, presente na linha 14 constitui uma

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(A) substituição por hiperonímia.


(B) anáfora.
(C) substituição por sinonímia.
(D) catáfora.

5. As palavras “aqui” (linha 16) e “Penso” (linha 16) são deíticos

(A) espacial, no primeiro caso, e pessoal e temporal, no segundo caso.

(B) pessoais, em ambos os casos.

(C) espaciais, em ambos os casos.

(D) pessoal, no primeiro caso, e espacial e temporal, no segundo caso.

6. No contexto em que ocorre, a palavra “para” (linha 27) contribui para a coesão

(A) temporal.

(B) frásica.

(C) interfrásica.

(D) lexical.

7. Identifica a função sintática desempenhada por:

a) “no cálculo” (linha 1).

b) “triviais” (linha 2).

8. Transcreve a oração subordinada adjetiva relativa presente em “Mas mesmo no


radical exercício de depuração numérica que o poeta propõe, a presença de um
número torna “mais simples” coisas tão complexas como a morte e o nascimento.”
(linhas 11 a 13).

Cotação:
1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. TOTAL

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25 25 25 25 25 25 30 20 200

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