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Número de Reynolds: teoria e prática

Marco Antonio Ribeiro, ITA E 1969


marcotek@uol.com.br
Salvador, BA, 22 FEV 1991

1. Conceito
O número de Reynolds é o parâmetro adimensional que relaciona as forças inerciais e as
forças viscosas da vazão de um fluido incompressível, na ausência de campo gravitacional. Ele
foi formulado em 1883 por Osborne Reynolds e recebeu este nome em 1923. Ele é simbolizado
por Re ou NRe. É também chamado de número V de Damkohler V (DaV).

2. Significado físico
O número Re somente reflete os efeitos do fluido e não considera os outros fatores, tais
como rugosidade das paredes da tubulação, obstruções e curvas da tubulação.
O número Re determina a relação de duas quantidades de trabalho feitas no fluido que se
move: a energia cinética e o trabalho contra o atrito interno. Re pequeno significa que o
trabalho feito contra o atrito predomina e Re grande significa que a energia cinética predomina.
O fluido ideal, sem viscosidade e sem atrito interno possui Re infinito.

3. Relação matemática
A expressão matemática do número Re é a seguinte:

Lv
Re =

onde
L é a dimensão característica do corpo
v é a velocidade do fluido,
 é a densidade do fluido,
 é a viscosidade absoluta do fluido.
Outro modo de apresentar Re é

Re = Lv

onde
 é a viscosidade cinemática do fluido, que vale


= .

A dimensão L do corpo pode se referir ao diâmetro da placa de orifício.


A viscosidade absoluta deve ser constante. Assim, quando se expressar o Re relativo a um
fluido não-newtoniano, deve-se assumir que a viscosidade seja constante; a relação matemática
de Re para fluidos não newtonianos é complexa.
A densidade deve ser constante. O número Re se aplica ao gás, desde que sua densidade
seja assumida constante e sejam definidas as condições de pressão e temperatura.
Por ser adimensional, o número Re possui o mesmo valor, qualquer que seja o sistema
consistente de unidades usado para definir os constituintes. No Sistema Internacional, por
exemplo,

[Re] = [kg/m3] [m/s] [m]/ [kg/m.s] = 1

4. Outros significados
O termo número de Reynolds crítico é usado em um sentido levemente diferente, quando
corpos de forma arredondada, como a esfera ou o cilindro são colocados perpendiculares a
vazão. Neste caso o número Re crítico é o valor em que ocorre uma queda repentina do
coeficiente de arraste do corpo. O número Re agora é definido usando o diâmetro D da esfera
ou cilindro. Por exemplo, o número crítico de Reynolds da esfera vale 325.000 e o do cilindro
450.000
Ocasionalmente são encontrados conduítes com seção transversal não-circular ou tubulações
com seção circular porem não totalmente preenchidas pelo fluido. Quando se calcula o número
Re, nestas situações, utiliza se o conceito de raio hidráulico, que é a relação entre a área
transversal da vazão e o perímetro molhado.
Na teoria clássica da lubrificação, Reynolds explicou os princípios em termos de equações
diferenciais, envolvendo a viscosidade do fluido, a velocidade de rotação do e as dimensões do
suporte. Quando se tem o estudo da lubrificação, define-se o número Re modificado, que
incorpora a espessura do filme de lubrificação, H:

2
Lvρ  H 
Re =  
μ L

Na teoria do medidor magnético de vazão se introduz o conceito de número Re magnético,


igual ao produto da viscosidade, da condutividade elétrica, da velocidade do fluido e do
diâmetro do tubo.

5. Utilidade do número de reynolds


As vantagens de se usar o número Re adimensional são as seguintes:
1. a redução no número de variáveis consideradas, o número Re agrupa várias
propriedades como a velocidade, a densidade e a viscosidade absoluta do fluido,
2. a obtenção de resultados independentes da escala do sistema e das unidades utilizadas,
pois o número Re é adimensional,
3. a previsão ou a determinação do efeito da alteração das variáveis individuais no
processo, pela alteração do número adimensional que contenha este parâmetro.
4. a simplificação dos resultados obtidos pela varredura crescente ou decrescente dos
valores com os modelos.
Na medição industrial da vazão, o número Re é utilizado para
1. estabelecer o estado laminar ou turbulento da vazão,
2. determinar as perdas por atrito e quedas de pressão ao longo das tubulações
3. verificar a aplicabilidade de determinado medidor de vazão.

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4. estudar a precisão, a linearidade e a rangeabilidade do medidor de vazão,
5. fornecer as bases para a criação de sistemas similares, para a calibração de medidores
de vazão.

6. Regime da vazão
Osborne Reynolds observou que um fluido newtoniano pode possuir dois perfis distintos de
velocidade, quando em vazão uniforme: vazão laminar e vazão turbulenta. Para fins de
engenharia, a vazão em tubulações é usualmente laminar se Re é menor que 2.000 e a vazão é
considerada turbulenta para Re maiores que 4.000. Entre estes dois valores há uma região de
transição, onde a vazão pode ser laminar ou turbulenta, dependendo das condições anteriores.
Experiências de laboratório mostram que a zona laminar pode ser estendida desde 1.200 até
40.000; porém, estas condições não são fáceis de serem conseguidas no processo real.
Como o líquido é praticamente incompressível, ele possui a densidade constante. A variação
do número Re do líquido é devida a variação da viscosidade, que é o parâmetro difícil de ser
determinado. Embora a viscosidade absoluta seja bem definida para um determinado líquido,
em determinadas condições de operação, as pequenas variações da temperatura podem causar
grandes variações na viscosidade, que afetam o número de Re e pode alterar o regime da
vazão, laminar, turbulenta ou de transição. Assim, o regime da vazão e o número Re para
vazões de líquidos são muito variáveis e imprecisos.
O gás é compressível e a sua densidade vária com a pressão e a temperatura. Porem, a sua
viscosidade é pequena e praticamente constante. Os fatores que influem em Re são a vazão e a
densidade, que são os parâmetros bem determinados. Por isso, o número Re e o regime da
vazão são bem definidos em aplicações de gases. Devido a baixa viscosidade dos gases, a vazão
de gás é tipicamente em regime turbulento (Re elevado).
Geralmente se faz confusão com o regime da vazão e o perfil de sua velocidade. Fala-se que
a vazão deve ser laminar para ser precisa e corretamente medida. O que realmente se deseja
conseguir é uma vazão turbulenta com perfil de velocidade plenamente desenvolvido. Este perfil
é achatado, com a velocidade media aproximadamente igual à máxima; ele é chamado de perfil
de Re infinito ou perfil retilíneo.
Quando a vazão é laminar, o seu perfil é parabólico e a velocidade no centro da tubulação é
igual ao dobro da velocidade media.
Os medidores de vazão que extraem a energia do processo para o seu funcionamento
requerem vazões em regime de turbulência completa, conseguida com Re acima de
determinado valor mínimo.

7. Perda de carga por atrito


O fator de atrito para as condições de vazão laminar (Re < 2.000) é uma função apenas do
número Re; para as vazões turbulentas (Re > 4.000) o fator de atrito é função do número Re e
da parede interna da tubulação.
Para a região critica e instável da vazão com números de Reynolds entre 2.000 e 4.000, o
fator de atrito é indeterminado e tem limites inferiores baseados na vazão laminar e limites
superiores baseadas na vazão turbulenta.
Quando a vazão é turbulenta, o fator de atrito depende do número Re e da rugosidade das
parede da tubulação. Para tubulações muito lisas, p. ex., de cobre e de vidro, o fator de atrito
diminui mais rapidamente com o aumento do número Re, do que para tubulações com paredes
comparativamente mais rugosas.

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8. Influencia nos medidores de vazão
Em termos simples, os medidores de vazão podem ser classificados sob dois enfoques
diferentes relacionados com a energia: ou extraem energia do processo medido ou adicionam
energia ao processo medido.
Como o fluido através da tubulação possui energia, sob várias formas diferentes, como
cinética, potencial, de pressão e interna, pode-se medir a sua vazão extraindo alguma fração de
sua energia. Este enfoque de medição envolve a colocação de um elemento sensor no jato da
vazão. O elemento primário extrai alguma energia do fluido suficiente para faze-lo operar. Sob o
ponto de vista de influência do número Re, os medidores extratores de energia necessitam de
um valor mínimo de Re para poder operar satisfatoriamente.
A vantagem desta filosofia é a não necessidade de uma fonte externa de energia. Porem, o
medidor é intrusivo e oferece algum bloqueio a vazão, o que é uma desvantagem inerente a
classe de medição.
Exemplos de medidores extratores de energia: placa de orifício, venturi, bocal, alvo, cotovelo,
área variável, pitot, resistência linear, vertedor, calha, deslocamento positivo, turbina e vortex.
O segundo enfoque básico para medir a vazão é chamado de energia aditiva. Neste enfoque,
alguma fonte externa de energia é introduzida no fluido vazante e o efeito interativo da fonte e
do fluido é monitorizado para a medição da vazão. A medição com adição de energia é não-
intrusivo e o elemento primário oferece nenhum ou pequeno bloqueio a vazão. Como
desvantagem, é necessário o uso de uma fonte externa de energia. Sob o ponto de vista de
influência do número Re, os medidores aditivos de energia praticamente independem do
número Re.
Exemplos de medidores aditivos de energia: magnético, sônico, calorimétrico e
anemômetros. O número de medidores baseados na adição da energia é menor que o de
medidores com extração da energia. Isto é apenas a indicação do desenvolvimento mais recente
destes medidores e este fato não deve ser interpretado de modo enganoso, como se os
medidores baseados na adição da energia sejam piores ou menos favoráveis que os medidores
baseados na extração da energia.

8.1. Placa de orifício


A placa de orifício opera gerando uma pressão diferencial proporcional ao quadrado da vazão
volumétrica do fluido. Ela extrai energia do sistema.
Pode se deduzir o número Re da expressão da vazão volumétrica de líquidos, em uma
tubulação com seção circular:

4Q
R=
d

onde
Q é a vazão volumétrica do líquido,
p é a densidade do líquido,
 é a viscosidade do líquido
d é o diâmetro interno do furo da placa.
O número Re para gases pode ser deduzido da combinação da expressão acima com a
expressão do volume especifico, obtendo-se

4
4 Q
Re =
  d Z R T

onde
T é a temperatura absoluta do gás,
R é a constante universal do gás,
Z é o coeficiente de compressibilidade
O número Re influi na medição de vazão pela placa de orifício de vários modos: no valor
mínimo para a aplicação da placa, no dimensionamento e nos desvios posteriores do valor de
projeto.
Enquanto as normas diferem acerca do mínimo número Re aceitável para a aplicação da
placa de orifício, o valor de 104 é o consensual. O máximo número Re pode ser igual a 3,3 x
107.
Quando o número Re esta' abaixo de 104 (p. ex., fluidos viscosos, tubulações com pequenos
diâmetros), é mais conveniente o uso de placa com o canto do orifício a montante arredondado
ou cônico, que possui coeficientes de descarga mais constantes e previsíveis, para números de
Reynolds baixos. Para Re baixo, o coeficiente de um orifício com canto vivo reto pode variar
de até 30%, mas para canto arredondado ou cônico o efeito é apenas 1% a 2%.
As limitações de Re são as seguintes:

Placa Limites de Re
Concêntrica (menor que 2") >1000
(igual e maior que 2") >5000 d
Cônica 250 < Rd <200 000
Excêntrica 10+4 a 10+6
Orifício integral >103 d/D

Os medidores pressão diferencial são também afetados pela variação no número Re do fluido
cuja vazão esta' sendo medida. Um simples e único fator de correção para o número Re
compensa os efeitos combinados da viscosidade, velocidade e diâmetro relativo da tubulação.
Para grandes tubulações, altas velocidades e baixas viscosidades dos fluidos, o número Re é
grande e as correções requeridas são geralmente desprezíveis. Entretanto, quando a vazão
passa de turbulenta para laminar, diminuindo o número Re, a correção se torna necessária e
importante.
No dimensionamento da placa de orifício vários fatores devem ser considerados e os cálculos
relacionados são usualmente feitos por iterações sucessivas, envolvendo a vazão máxima, a
pressão diferencial do elemento secundário e do coeficiente de descarga.
O coeficiente de descarga, definido como a relação da vazão ideal (sem a placa) pela vazão
medida (com a placa), depende das tomadas da pressão diferencial, do beta da placa e do
número Re.
O coeficiente de descarga da placa de orifício é constante dentro dos limites de +- 0,5%
sobre a faixa de número Re entre 2 x 104 a 106. Esta consistência do coeficiente de descarga
garante a limitação correspondente das imprecisões baseadas na vazão real, sobre uma faixa
que é mais larga que o transmissor de pressão pode manipular.

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8.2. Turbina
Os medidores de vazão tipo turbina são largamente usados por causa de sua altíssima
precisão e repetitividade, mesmo que possua pecas moveis. Por possuir uma condição bem
definida para a vazão zero, a precisão da turbina é expressa em % do valor medido e não como
% do fundo de escala.
A turbina consiste de um rotor, que é posicionado no fluido vazante de tal modo que a
velocidade angular do rotor seja proporcional a velocidade do fluido, e como conseqüência, da
vazão volumétrica. A turbina é um medidor de vazão do tipo extrator da energia do processo.
Como conseqüência, a operação e o desempenho da turbina dependem do número de Re e do
momentum do fluido que deve acionar o rotor. A maioria das turbinas opera linearmente no
regime turbulento, com Re típicos entre 4 x 103 e 2 x 104, para líquidos e entre 105 a 107 para
gases, com as rangeabilidades variando de 10:1 a 100:1. Quando se utilizam técnicas de
linearização para pequenas vazões ou fluidos muito viscosos, a turbina pode operar com Re tão
baixo quanto 400.
O número Re influi na medição feita pela turbina porque ele determina o torque que o fluido
exerce no rotor da turbina. O número Re relaciona as forças de inércia com as forças viscosas.
O denominador do número esta' relacionado com as forças de retardo do rotor e o numerador
esta' relacionado com o momento do fluido. Para a turbina funcionar corretamente é necessário
que o momento do fluido prevaleça sobre as forças de atrito, ou seja que o numerador seja
muito maior que o denominador. Para um medidor tipo turbina funcionar devidamente,
recomenda-se que esteja operando em estado de vazão turbulento, que é descrito por Re maior
que 4000. Quando o momento do fluido é alterado, a rangeabilidade deve ser alterada a fim de
proporcionar o mesmo torque mínimo necessário do rotor no extremo inferior da força de vazão.
Ao ajustar a vazão mínima do medidor tipo turbina, a repetitividade e a faixa linear se alteram.
Na calibração da turbina é uma pratica comum substituir o número Re pela relação v/f, onde
v é a viscosidade cinemática do fluido e f é a freqüência de do sinal de saída da turbina. Esta
calibração, que relaciona o fator K da turbina com o fator v/f, é chamado de calibração com
viscosidade universal. Para uma dada geometria, o fator v/f é equivalente ao número Re.

8.3. Rotâmetro de área variável


No passado, o rotâmetro de área variável era um medidor muito utilizado, por causa de sua
economia e simplicidade. O medidor consiste de um tubo cônico, com um flutuador que se
posiciona em função da vazão. Como o tubo é cônico, as diferentes posições implicam em
diferentes áreas de passagem do fluido.
Os rotâmetros, que são disponíveis em tamanhos de ate 3", podem ser usados para medir
vazões entre 0,05 a 200 gpm de líquidos com viscosidade menor que 30 cP. O menor Re típico
esta' entre 250 e 1000, para vazões menores que 90 gpm e 4.400 para vazões acima de 90
gpm. As vazões de gases não possuem restrição do Re, mas os gases devem ter densidade
suficiente para acionar o medidor.
O coeficiente de arraste depende da viscosidade e portanto do número Re. Assim, se o efeito
devido a variação na viscosidade é eliminado, o medidor independe da viscosidade. Isto pode
ser conseguido fazendo se o coeficiente de arraste constante, através do projeto adequado do
flutuador. O flutuador cônico invertido possui coeficiente de arraste constante.

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8.4. Medidor vortex
O medidor vortex é cada vez mais usado por causa de suas vantagens inerentes: não possui
pecas moveis e o mesmo medidor pode medir líquidos e gases e vapores.
O principio de medição do vortex é a introdução de um probe de formato definido no jato da
vazão, que produz os vórtices de von Karman. A freqüência de geração destes vórtices é
linearmente proporcional à velocidade e portanto a vazão volumétrica do fluido.
Como o vortex é um medidor que extrai energia do fluido, há limitações de velocidade e de
número Re. Embora o número Re mínimo dependa do fabricante, o valor típico é de 104 . A
formação dos vórtices de von Karman cessa para Re menores que 3x103 e há grande não-
linearidade para Re entre 4x103 e 104.
No estudo destes fenômenos, introduz-se outro número adimensional, chamado de Strouhal
(Sr), que relaciona a velocidade do fluido, a dimensão do probe e a freqüência gerada pelos
vórtices. O número Sr depende do número Re para os valores extremos e independe de Re
para a região de números médios de Re.

8.5. Alvo (target)


O medidor de vazão tipo alvo (target) representa uma alternativa econômica para a medição
de vazão de gases e líquidos, especialmente para tubulações de grandes diâmetros.
Seu principio de operação é a medição da força exercida em um corpo, chamado de alvo,
suspenso no fluido que vazão na tubulação. A força resultante é proporcional ao quadrado da
vazão (análoga a pressão diferencial gerada pela placa de orifício).
Como o medidor é extrator da energia do processo, ele depende do número de Re. Para a
vazão turbulenta, a força independe da viscosidade do fluido; para vazão laminar a força
depende também da viscosidade do fluido. Quando a equação para a força gerada pelo alvo é
diferente para os regimes laminar e turbulento, o medidor é aplicado para vazões turbulentas,
com Re maiores que 4000, de modo que a força independa da viscosidade do fluido e apenas
do quadrado da vazão. A variação da viscosidade pode diminuir a rangeabilidade do medidor,
que é típica de 3,5:1.

8.6. Medidor magnético


O tubo magnético é um medidor de vazão não intrusivo, com adição de energia externa e
não possui nenhuma limitação de número Re mínimo e a medição da vazão independe das
variações de Re e da viscosidade. Há limites da velocidade do fluido: o limite mínimo é de cerca
de 1 m/s e o máximo em torno de 10 m/s. As velocidades muito elevadas podem provocar o
desgaste físico do revestimento e as velocidades muito pequenas geram milivoltagem difícil de
ser manipulada e ainda há o inconveniente de deposição e criação de lodo nos eletrodos.

8.7. Medidor ultra-sônico


As vantagens dos medidores ultra-sônicos são a possibilidade de medição sem disturbar o
fluido (não intrusivo), pois não há pecas em contato com o fluido.
Há dois tipos de funcionamento: tempo de transporte e efeito Doppler.
Como a energia ultra-sônica passa através de apenas uma parte do líquido sendo medido, o
número Re afeta o desempenho do medidor. O medidor a efeito Doppler requer um Re mínimo
de 4.000 e o de tempo diferencial requer Re mínimo de 10.000. O medidor é não-linear para
regimes com Re entre 2.000 e 4.000.

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8.8. Medidor de resistência linear para vazão laminar
O medidor de vazão laminar com resistência linear consiste de um tubo capilar, por onde
passa a vazão e produz uma pressão diferencial linear com a vazão, diferentemente da placa
de orifício que produz uma pressão diferencial proporcional ao quadrado da vazão.
Pelo principio de funcionamento, o medidor de vazão laminar, baseado na resistência linear
so' se aplica a configuração com baixo número
Re (< 2.000).

8.9. Medidor de massa Córiolis


O medidor direta de massa tipo Córiolis é o medidor da moda atual. Ele consiste de um tubo
que é oscilado eletromagneticamente e a vazão que passa pelo tubo gera uma força inercial
proporcional à vazão mássica.
Não há limites de número Re; mas a bomba efetivamente limita as aplicações para fluidos
com viscosidades menores que 50 cP. Grandes variações na viscosidade causam desvios na
precisão original do sistema de medição.

9. Similaridade e calibração
A similaridade ou similitude é o uso de comportamentos correspondentes entre sistemas
grandes e pequenos de mesma natureza, para estudos científicos e projetos de engenharia.
Duas estruturas possuem comportamentos similares se elas possuem similaridades geométrica,
cinemática e dinâmica.
A similaridade geométrica requer as relações iguais das dimensões criticas dos dois sistemas.
A similaridade cinemática requer as relações iguais das velocidades criticas dos dois sistemas.
Ela pode ser considerada uma conseqüência da similaridade dinâmica. Para a similaridade
dinâmica as relações de todas as forças dentro das duas estruturas devem ser iguais. As forças
podem ser de natureza gravitacional, elétrica, magnética, inercial, viscosa e superficial.
No estudo da vazão, os sistemas geometricamente similares não possuem necessariamente a
similaridade dinâmica. A similaridade dinâmica entre dois sistemas de vazão acontece se eles
são geometricamente similares e se certos parâmetros adimensionais, envolvendo outras
variáveis como a densidade, a viscosidade, a velocidade do som, a tensão superficial e a
compressibilidade possuem o mesmo valor nos dois sistemas.
Para dois sistemas tendo a similaridade dinâmica determinada pela igualdade do número Re,
deve se determinar as relações ou escalas da velocidade, da força, do tempo e de todas as
variáveis derivadas delas. Para a similaridade do número Re há duas escolhas independentes ou
graus de liberdade para a obtenção da similaridade dinâmica. As escolhas podem ser da relação
dos tamanhos físicos dos dois sistemas e a escolha do fluido usado em um sistema, onde se
assume que o fluido do outro sistema ja' esta' definido. A escolha do fluido determina as
relações ou escaladas da densidade e da viscosidade. Se o valor de L para o modelo é menor,
para se manter o mesmo Re, deve se aumentar proporcionalmente a velocidade. Porem, quando
se atinge velocidades próxima a do som no fluido (340 m/s), o ar não pode ser considerado
incompressível. Assim, para algumas experiências, é necessário usar modelos de dimensões
iguais ao processo real.
No planejamento de um modelo experimental ou no uso de dados experimentais existentes,
o número Re dos testes deve ser o mais próximo possível da situação ou do equipamento real.
Se isto é impraticável, o efeito da diferença do número Re deve ser considerado e corrigido.
Na medição da vazão, a importância relativa dos efeitos das forças devidas à inércia, à
viscosidade, à gravidade, à tensão superficial e à compressibilidade é estabelecida por diferentes

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números adimensionais. Estes números adimensionais são particularmente úteis no estudo de
problemas complexos e nos critérios de similaridade em estudos de modelos. A consideração
fundamental é que em dois sistemas geometricamente similares, que podem ter dimensões
diferentes na mesma escala, se os números adimensionais característicos são iguais nos dois
sistemas, então os sistema são dinamicamente similares.
Quanto maior o número de forças individuais requeridas para descrever a vazão, menor é o
grau de liberdade para escolher e projetar o sistema dinâmico similar. Na seleção dos grupos
adimensionais que são usados para estabelecer a similaridade dinâmica, deve se enfatizar a
importância relativa das forças individuais com relação a natureza geral da vazão. Um conjunto
de grupos adimensionais de dadas variáveis é completo se cada grupo é independente do outro
e se cada outra combinação adimensional das variáveis é um produto destes grupos.
Por exemplo, um completo conjunto de grupos adimensionais para um problema envolvendo
as variáveis

L – distancia critica
v – velocidade do fluido
vs – velocidade do som
 – densidade do fluido
g – aceleração da gravidade
 - densidade absoluta do fluido
 – tensão superficial do fluido

Lv quando há predominância das forças viscosas,


Re =

v2 quando é importante a aceleração da gravidade,
Fr =
Lg
v quando não se pode desprezar a compressibilidade,
Ma =
vs
v2 quando é significativa a tensão superficial.
We =
L

Nenhum desses números é o produto de potência de outros, desde que u ocorre somente
no Re, g somente em Fr, Vs somente em Ma e somente em We. É interessante notar que as
relações de tempo e de comprimento estão relacionadas com expoentes que diferem de 1/2,
começando com a relação de Froude e terminando com Reynolds.
A relação das forças de inércia e as forças da gravidade é chamada de número de Froude, Fr
ou NFr. A força predominante no número de Froude é a força da gravidade. A lei de similaridade
de Froude estabelece que, em um mesmo campo gravitacional, o perfil de onda em torno de
dois objetos com similaridade geométrica, movendo em uma superfície livre, é similar se
possuem o mesmo número de Froude. O número de Froude é particularmente útil no estudo do
movimento de navios em água, com formação de ondas superficiais e redemoinhos.
O número de Mach indica se os efeitos da compressibilidade devem ser considerados ou não,
no comportamento da vazão, pois este número relaciona a força de inércia do fluido com a força
de elástica ou de compressibilidade. A força predominante no número de Mach é a força
elástica. Para Ma > 0,3 os efeitos da compressibilidade se tornam significativos. Os efeitos
viscosos se tornam desprezíveis em velocidades muito altas. Para M > 1,1 os efeitos das

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variações da densidade e da temperatura do fluido e da transferência de calor se tornam
importantes. A lei de similaridade de Mach diz que, quando apenas os efeitos de
compressibilidade são significativos e os efeitos de viscosidade são desprezíveis, os corpos
geometricamente similares desenvolvem vazão e ondas de choque idênticas quando operarem
com igual número de Mach.
A relação das forças de inércia e as forças capilares é definida como número de Weber, We
ou NWe. O número de Weber é um número adimensional usado no estudo da tensão superficial
e na formação de bolha em fluidos. Se a tensão superficial é importante, então se necessita do
número de Weber para caracterizar o sistema.
Quando se considera apenas a igualdade do número Re em dois sistemas dinamicamente
similares, esta' se assumindo que as outras forças são desprezíveis, ou seja, que não há força
gravitacional, o fluido é incompressível, não há superfície livre, não há diferenças de
temperatura e as propriedades reológicas do fluido podem ser caracterizadas apenas pela
viscosidade. Quando esta hipótese não pode ser assumida, devem também ser considerados os
outros números adimensionais.

10. Conclusão
O presente trabalho mostra como é complexo o estudo rigoroso da vazão. O número Re
relaciona apenas as propriedades densidade e viscosidade do fluido. De um modo análogo,
poderia se fazer o estudo da vazão considerando as propriedades da compressibilidade, da ação
da gravidade, da tensão superficial, da temperatura, do tempo de relaxação.

11. Bibliografia
1. AMERICAN SOCIETY OF MECHANICAL ENGINEERS, Fluid Meters, New York, ASME, 1983.
2. MILLER, R.W., Flow Measurement Engineering Handbook, New York, McGraw-Hill, 1989.
3. PARKER, S.P. (editor), Fluid Mechanics Source Book, New York, McGraw-Hill, 1987.
4. SCOTT, R.W. (editor), Developments in Flow Measurement - 1, Great Yarmouth, ASP, 1982.
5. SPITZER, d.w., Industrial Flow Measurement, Research Triangle Park, ISA, 1984.

 Apostilas\Artigos Reynolds.DOC 22 FEV 1991

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