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INSTITUTO DE EDUCAÇAO SUPERIOR DA PARAÍBA

BIBLIOTECA – SERVIÇO DE DOCUMENTAÇÃO


IESP- FATEC/PB

A ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO NA PREVENÇÃO DA HANSENÍASE

JOÃO PESSOA - PB
2014
INSTITUTO DE EDUCAÇAO SUPERIOR DA PARAÍBA
BIBLIOTECA – SERVIÇO DE DOCUMENTAÇÃO
IESP- FATEC/PB

A ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO NA PREVENÇÃO DA HANSENÍASE

LAURA

TCC apresentado ao Instituto de Ensino


Superior da Paraíba como requisito parcial
para a obtenção do grau de Bacharel em
Enfermagem.
Orientadora: Profa.

JOÃO PESSOA - PB
2014
A ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO NA PREVENÇÃO DA HANSENÍASE

LAURA

TCC apresentado ao Instituto de Ensino


Superior da Paraíba como requisito parcial
para a obtenção do grau de Bacharel em
Enfermagem.

Aprovado em __ de ___ de ______.

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________________
Profa. MsC. xxxxxxxxxxxxxx (Orientadora)
Instituto de Ensino Superior da Paraíba

_____________________________________________
Prof. Educação Superior da Paraíba

JOÃO PESSOA - PB
2014
RESUMO

Este estudo teve como objetivo descrever a atuação do enfermeiro no controle de endemias e
discutir a formação profissional dele para atuar em tal controle, enfocando, principalmente, as
ações do enfermeiro na prevenção da hanseníase. Utilizou-se a metodologia qualitativa, com
abordagem descritiva e exploratória, que descreve a complexidade de determinada hipótese
ou problema, procurando descobrir e classificar a relação entre variáveis. A revisão da
literatura concentrou-se nas bases de dados de Lilacs, Bedenf, entre outros. Como a
enfermagem é uma atividade aplicada, a formação do enfermeiro deve ter um alto conteúdo
de formação não somente teórica, mas prática e humanística, enfatizando-se a aprendizagem
cognitiva dos fundamentos teóricos da enfermagem, e é na prática que o objetivo se centra em
sua aplicação. O estudo mostrou que o enfermeiro precisa estar qualificado para atuar, com
sentido de responsabilidade social e compromisso com o paciente e sua família, como
promotor da saúde integral do ser humano, capacitando-se para trabalhar em diversos setores
da saúde, considerando ações do cuidar, educativas, gerenciais e de pesquisa com um olhar
humanizado. Assim, é preciso maior compromisso dos profissionais de saúde quanto ao
encaminhamento do usuário a outro profissional ou a outra unidade básica de saúde,
principalmente em suas ações e comportamentos frente aos pacientes e seus familiares.
Palavras-chave: Enfermagem. Capacitação. Hanseníase.
ABSTRACT

This study aimed to describe the role of nurses in the control of endemic diseases
and discuss training him to act in such control, focusing mainly on the actions of
the nurse in the prevention of leprosy. We used a qualitative methodology with a
descriptive and exploratory approach, which describes the complexity of a
particular event or issue, trying to discover and classify the relationship between
variables. Keywords: Nursing. Training. Leprosy. The literature review focused
on databases Lilacs, Bedenf, among others. As nursing is an applied activity,
nursing education must have a high content of not only theoretical but practical
and humanistic, emphasizing the cognitive learning of the theoretical foundations
of nursing, and is in practice that focuses on the objective its application. The
study showed that nurses need to be trained to act with a sense of social
responsibility and commitment to the patient and his family, as a promoter of the
integral health of human beings, enabling them to work in different sectors of
health and consider actions of caring, educational, managerial and research with
a humanized look. Thus, we need greater commitment of health professionals
regarding referring the user to other professional or other basic health unit,
especially in their actions and behaviors against patients and their families.
Keywords: Nursing. Training. Leprosy.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................1
2 METODOLOGIA..................................................................................................................2
3 REFERENCIAL TEÓRICO.................................................................................................3
3.1 HANSENÍASE................................................................................................................................3
3.2 DIAGNÓSTICO, QUADRO CLÍNICO E TRATAMENTO........................................................5
3.3 AÇÕES EDUCATIVAS DE ENFERMAGEM NA PREVENÇÃO DA HANSENÍASE.8
3.4 CAPACITAÇÃO DA ENFERMAGEM NA PREVENÇÃO DA HANSENÍASE.....................15
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................................17
1

1 INTRODUÇÃO

Conhecida desde a Antiguidade, a lepra é uma enfermidade crônica, infectocontagiosa,


causada pelo Mycrobacterium leprae. A doença foi descoberta e descrita por Gerhard H. A.
Hansen, no ano de 1868, na Noruega. Mundialmente conhecida, ela recebeu várias
denominações, como: lepra, doença da pele, enfermidade lazarina. Pode-se afirmar,
certamente, que a denominação lepra é uma terminologia atualmente evitada por ser
estigmatizante, pejorativa e marginalizadora, sobretudo para os doentes e seus familiares.
Devido a essas discriminações, o termo lepra e seus derivados caíram em desuso, no Brasil,
com a Lei n. 9.010, de 29/03/1995, e foi substituído por hanseníase (TAVARES; MARINHO,
2007)1.

No Brasil, a hanseníase é considerada endêmica, atinge pessoas de todas as idades e de


ambos os sexos, principalmente a faixa etária economicamente ativa, sendo que sua maior
ocorrência é no sexo masculino, atingindo basicamente pele e nervos periféricos e podendo
afetar outros órgãos, como, fígado, testículos e olhos. A transmissão não ocorre pelo contato
com as manchas do portador, mas se dá mediante contato direto e constante com o doente não
tratado que expele a bactéria pelas vias aéreas (BEIQUELMAN, 2012).

Essa doença constitui um desafio para a saúde pública em todo o território brasileiro
por sua alta taxa de detecção e por seu potencial infectante e endêmico. A Secretaria de
Vigilância em Saúde (SVS) mostra uma queda de 27,5 % dos casos de hanseníase no Brasil,
entre 2003 a 2009, passando de 51. 900 casos para 37.610, todavia esta taxa ainda é muito
alta. Nesse mesmo período de tempo o total de casos por 100 mil habitantes em toda a
população mudou de 29,37 para 19,64, representando uma diminuição de 4,5% (BRASIL,
2011).

Diante de tais informações, entende-se que a hanseníase é uma enfermidade de


interesse de saúde pública e, apesar de a incidência da doença ter diminuído, é preciso contar
com ferramentas para o diagnóstico apropriado e o consequente tratamento dessa patologia.
Esta pesquisa servirá como referência a outros estudiosos, profissionais e pesquisadores que
adotem a linha de investigação saúde e sociedade, tendo como área predominante a

1
TAVARES, W; MARINHO, LAC. Rotinas de Diagnóstico e tratamento das doenças infecciosas e
parasitárias. 2 ed. São Paulo: Atheneu; 2007.
2

enfermagem em saúde coletiva e, especialmente, a hanseníase. Servirá, ainda, como auxílio


para melhorar a construção do conhecimento dos futuros profissionais de enfermagem e para
facilitar possíveis consultas.

Dessa forma, o estudo se mostra relevante devido à necessidade de refletir sobre o


tema proposto para um trabalho educativo e continuado de prevenção do cuidado no sentido
de adotar medidas eficazes de controle e prevenção da hanseníase. Daí o questionamento:
Como atua o enfermeiro no controle e prevenção dessa enfermidade?

Propôs-se, assim, como objetivo descrever a atuação do enfermeiro no controle de


endemias e discutir a formação profissional dele para atuar em tal controle, enfocando,
principalmente, as ações do enfermeiro na prevenção da hanseníase.

2 METODOLOGIA

De acordo com o objetivo, este estudo classifica-se como descritivo e exploratório. O


estudo descritivo tem como principal objetivo a descrição das características de determinada
população ou fenômeno e o exploratório abrange o levantamento bibliográfico ou entrevista
com pessoas que tiveram experiências práticas com o problema estudado.

O enfoque utilizado foi o qualitativo que descreve a complexidade de determinada


hipótese ou problema, procurando descobrir e classificar a relação entre variáveis. O estudo
realizou uma revisão da literatura nas bases de dados de Lilacs, Bedenf, entre outros. Destaca-
se que a revisão tem como propósito orientar sobre o que é e o que não é conhecido na área de
investigação, para confirmar qual é o melhor caminho investigativo que possa trazer maior
contribuição ao conhecimento.

Partindo dos levantamentos bibliográficos, foi realizada uma pré-leitura, pois, segundo
Cervo e Bervian, nessa fase inicial da leitura, o pesquisador deve certificar-se da existência
das informações que procura, além de obter uma visão global delas. São duas, pois, as
finalidades dessa leitura: a primeira é permitir a seleção dos documentos bibliográficos que
contêm dados ou informações suscetíveis de serem aproveitadas na fundamentação do
trabalho; a segunda é dar uma visão global do assunto focalizado, visão indeterminada, mas
3

indispensável para o avanço do conhecimento. Realizou-se, ainda, a leitura seletiva,


escolhendo as informações que interessam na elaboração do estudo em perspectiva.

Finalmente, após a seleção da bibliografia foi realizada a leitura interpretativa,


relacionando o que o autor afirmou ao problema para o qual se propõe uma solução,
finalizando com a análise textual, assinalando o estilo, o vocabulário, fatos, épocas, autores,
ou seja, um levantamento dos elementos importantes do texto.

3 REFERENCIAL TEÓRICO

3.1 HANSENÍASE

A hanseníase é uma das mais antigas doenças que acometem o homem. Isso se percebe
nos relatos históricos e bíblicos, como a história de Lázaro. As medidas tomadas no
enfrentamento dessa enfermidade são mais estigmatizantes que de saúde, decorrendo o
isolamento dos doentes do convívio social e da própria família. Todavia, essas atitudes não
foram capazes de evitar uma epidemia e contribuíram para aumentar o medo e o preconceito
sobre a doença e seu portador (OPROMOLLA, 1981).
Trata-se de uma doença infectocontagiosa, causada pela bactéria Mycobacterium
leprae ou bacilo de Hansen, parasita intracelular obrigatório que se instala no organismo da
pessoa infectada, podendo se multiplicar, com evolução lenta manifestando-se basicamente
através de sinais e sintomas dermatológicos acometendo principalmente as populações em
condições precárias de vida (BRASIL, 2010).

O estigma de que a contaminação ocorre só de encostar-se à pessoa infectada ainda


prevalece na sociedade devido à falta de esclarecimento para a população a respeito da
doença, sua forma de contágio, tratamento e cura (BRASIL, 2008). É válido comentar que se
somente a pele fosse acometida pelo M. leprae, a hanseníase não teria a atenção que recebe
em saúde pública, o fato de acometer também o sistema nervoso periférico (terminações
nervosas livres e troncos nervosos), a perda da sensibilidade, as atrofias, paresias e paralisias
musculares que, quando não diagnosticadas e tratadas convenientemente, acabam evoluindo
4

para incapacidades físicas permanentes é que preocupa as autoridades em saúde no Brasil e no


mundo (BRASIL, 2011).

É importante informar que é compromisso do Ministério da Saúde a eliminação da


hanseníase como problema de saúde pública até 2015, ou seja, alcançar menos de 1 caso por
10.000 habitantes. Devido a isso,

[...] verificou-se redução do coeficiente de detecção de 35,1% no período de


2001 a 2010. Embora o Brasil registre decréscimos contínuos nos
coeficientes de prevalência e de detecção de casos novos de hanseníase, as
regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste são consideradas mais endêmicas,
com áreas de importante manutenção da transmissão. Casos de hanseníase
em menores de 15 anos refletem circuitos de transmissão ativos. Em 2010,
foram registrados 2.461 casos de hanseníase em menores de 15 anos e um
coeficiente de detecção desse grupo etário de 5,4 por 100.000 habitantes. As
medidas de vigilância são voltadas ao aumento do percentual de exame de
contatos, que em 2010 foi considerada regular, com 58%; 82,6% de cura nas
coortes (paucibacilar e multibacilar) e 89,4% de avaliação do grau de
incapacidade física no diagnóstico, resultados considerados regulares,
segundo parâmetros oficiais. A avaliação do grau de incapacidade na cura
foi de 72,9%, considerado precário [...]. Apesar da importante redução do
coeficiente de prevalência de hanseníase do Brasil, algumas regiões
demandam intensificação das ações para eliminação da doença, justificadas
por um padrão de alta endemicidade (BRASIL, 2012, p. 13-14).

Há muito, o Brasil vem tentando eliminar essa doença de seu quadro e, mesmo assim,
continua sendo um dos primeiros em casos no mundo. A taxa de prevalência de hanseníase
caiu 65%, nos últimos 10 anos, passando de 4,33, em 2002, para 1,51 por 10 mil habitantes,
em 2012. A queda é resultado das ações de combate à doença, intensificada nos últimos anos.
O Brasil registrou 33.303 casos novos da doença (BRASIL, 2014).

Em 2012, o coeficiente de detecção foi de 17,17/100 mil habitantes na população em


geral. Em menores de 15 anos, esse coeficiente foi de 4,81/100 mil habitantes, redução
percentual acumulada de 40% na comparação com o período de 2003 (7,98/100 mil
habitantes) a 2012. Cinco estados apresentam coeficiente de prevalência acima de três casos
por 10 mil habitantes (Mato Grosso, Tocantins, Maranhão, Pará e Rondônia) e três estados a
menor taxa de prevalência (Rio Grande Sul com 0,12/10 mil habitantes; Santa Catarina
0,29/10 mil e São Paulo 0,34/10 mil) (BRASIL, 2014).
5

3.2 DIAGNÓSTICO, QUADRO CLÍNICO E TRATAMENTO

O diagnóstico de hanseníase pode ser dado quando o paciente manifesta as seguintes


características clínicas: lesões ou lesão na pele com alteração da sensibilidade, baciloscopia
positiva ou a manifestação súbita no tronco nervoso com espessamento neural, sendo ameaça
à vida individual e coletiva a distribuição espacial da doença é considerada agravo endêmico
nos países em desenvolvimento, com correlação das condições socioeconômicas, culturais, de
escolaridade acesso a informações e principalmente aos serviços de saúde (SOBRINHO et al,
2009).

Grassi pontuou que, em 2004, uma força tarefa internacional para o

[...] desenvolvimento de testes laboratoriais para o diagnóstico da hanseníase


foi estabelecida. Essa força tarefa foi denomidada “IDEAL- Initiative for
Diagnostic and Epidemiological Assays for Leprosy”. Na qualidade de
parceiros dessa iniciativa, esse estudo se propôs a avaliar dois formatos de
testes rápidos para a detecção de anticorpos anti-PGL-I do M. leprae. Uma
versão bem avaliada, o ML Flow, detecta anticorpos da classe IgM anti-
PGL-I em sangue-total e soro, porém apresenta baixa sensibilidade para
casos paucibacilares. A outra versão do teste rápido anti-PGL-I, o ML-ICA
apresenta kits diferentes para sangue total e soro e detecta anticorpos das
classes IgM, IgG e IgA anti-PGL-I. Não existem estudos na literatura sobre
o teste ML-ICA e, portanto, estudos comparativos entre os dois testes são
necessários para se definir o teste com melhor desempenho, principalmente
para situações de campo (GRASSI, 2007, p. 13).

Não sendo tratada quando diagnosticada, a hanseníase pode evoluir para deformidades
e incapacidades físicas, que induzem à diminuição do trabalho, problemas psicológicos e,
consequentemente, limitação da vida social. O grau de incapacidade, segundo Pimentel et al.
(2009), termina mediante avaliação neurológica dos olhos, mãos/pés, com resultados
expressos em números que vão de zero a dois, essa avaliação e registro da incapacidade são
importantíssimas na educação e promoção do autocuidado, buscando-se evitar o
estabelecimento da incapacidade após a alta, a hanseníase atinge os nervos em todos os seus
estágios e/ou formas.
O controle e a detecção da doença encontram-se na identificação adequada de novos
casos e no tratamento poliquimioterápico, controlando-se os contatos domiciliares unidos à
6

prevenção da incapacidade e na reabilitação do paciente. Para que isso aconteça, é necessário


descentralizar a atenção primária à saúde, representada, no Brasil, pela Estratégia de Saúde da
Família (BRASIL, 2011).
A quimioterapia específica deve ser abordada durante o tratamento da doença devido
às reações específicas por ela provocadas, essas reações ainda são vistas como reações
imunológicas persistentes no pós-tratamento, o reconhecimento imediato dos quadros
reacionais, garantem a interrupção da cadeia de transmissão e a prevenção das incapacidades
físicas. (FIGUEIREDO et al, 2009; SIMÕES et al, 2009).

O período de incubação da doença vai de três a cinco anos, sua classificação clínica
divide-se basicamente em quatro: indeterminada, tuberculoide, dimorfa, e virchowiana, sendo
que a tuberculoide e a virchowiana ou lepromatosa são as formas mais importantes. A forma
tuberculoide caracteriza-se pela presença de nódulos sobre a pele e regiões circunscritas de
anestesia e pelas lesões dos nervos periféricos, a forma mais grave que é a virchowiana ou
lepromatosa provoca lesões e deformidades, com mutilações de mãos, nariz e orelha
(FERNANDES, 2012).

A neurite é um processo agudo com dor intensa e edema, não havendo inicialmente
comprometimento funcional do nervo, mas frequentemente torna-se crônica, evidenciando
através da perda de capacidade de suar que o nervo já foi comprometido o que causa
ressecamento da pele, perda de sensibilidade, dormência e perda de força muscular, além de
paralisia nas áreas de inervações (BRASIL, 2001).

A incapacidade e a deformidade causadas pela hanseníase podem acarretar problemas


para o indivíduo, começando pela incapacidade de trabalhar ou a redução dela, limitação da
vida social e problemas psicológicos, principalmente gerado pelo preconceito e estigma
contra a doença. Assim, a alta detecção dos casos, no Brasil, associada a essa incapacidade do
doente, transforma a hanseníase em preocupante problema de saúde pública. O tratamento
denominado PQT, ou seja, poliquimioterapia é constituída por uma combinação de fármacos
(rifampicina, dapsona e clofazimina), seguido por período de tratamento rigoroso no prazo de,
no mínimo, 6 meses para os acometidos por PB e um ano para os com MB (DONNELLY,
2009; WHO 2010).

Encontra-se, em Brasil (2011), que, no início de 2011, a Secretaria de Vigilância em


Saúde criou a Coordenação Geral de Hanseníase e Doenças em Eliminação - CGHDE
(Decreto nº 7.530/2011), na tentativa de fortalecer a resposta para um grupo de doenças em
7

que os resultados dos programas nacionais foram considerados insuficientes e incompatíveis


com a capacidade do SUS de resolução dos problemas de saúde da população. Incluem-se,
nesse grupo, “a hanseníase, esquistossomose, filariose linfática, geohelmintíases, oncocercose
e tracoma”.
O programa de controle da hanseníase requer profissionais com capacidade de prestar
uma assistência de qualidade, formação do enfermeiro com conhecimentos, habilidades e
atitudes condizentes com uma prática clínica e gerencial em hanseníase, que atendam as
necessidades de saúde do cliente, família e comunidade. Somado a isso, requer, ainda, um
programa de educação continuada que renove a prática do cuidado que reflita seu próprio
desempenho (ACIOLE, 2008; DUARTE et al, 2009).
Segundo Lehman et al. (2009), ao realizar o exame neurológico durante a consulta do
paciente, sob o ponto de vista social, cria-se uma rotina prática e de baixo custo operacional,
que permitirá abranger os portadores de todas as camadas sociais, os testes neurológicos
sendo bem utilizados dentro do contexto clínico do portador, irá diminuir e muito a
necessidade dos exames complementares que são bem mais caros.

O exame dermato-neurológico, para grande parte dos pesquisadores, é uma maneira


simples de avaliar a doença com padronização de testes de sensibilidade, força muscular e
palpação dos nervos periféricos, o que permite monitorar, registrar e fazer um intercâmbio dos
dados. As avaliações do desempenho dos atendimentos nos serviços de saúde constatam a
baixa qualidade desse exame e as atividades de prevenção das incapacidades físicas
ocasionadas pela enfermidade, o tempo de diagnóstico e tratamento é variável, sendo um
mínimo de seis meses e o máximo de um ano, sendo a forma multibacilar a mais presente nos
tratamentos (LEHMAN et al, 2009; WHO, 2007).

Convém comentar que a avaliação neurológica do paciente com hanseníase deve ser
feita com frequência para que, precocemente, tomem-se medidas adequadas de prevenção e
tratamento. A avaliação neurológica deve ser realizada concomitantemente com o diagnóstico
periódico, por ocasião da alta, na ocorrência de neurites e reações, ou se houver suspeita
delas, durante ou após o tratamento PQT e sempre que houver queixas (BRASIL, 2002).

A baciloscopia constitui um dos parâmetros laboratoriais integrantes da definição de


caso, mesmo assim o diagnóstico da hanseníase é clínico,quando a baciloscopia estiver
disponível e for realizada, enquanto se espera o resultado deve-se iniciar o tratamento do
paciente. O tratamento é iniciado assim que se tem o diagnóstico de hanseníase e a
classificação do paciente em pauli ou multibacilar, baseado no número de lesões de pele. Para
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não confundir a hanseníase com o diagnóstico de outras doenças deve-se fazer o diagnóstico
diferencial essa diferenciação se dá pelo fato de que, na hanseníase, há a perda de
sensibilidade ao redor das lesões, o que não ocorre com as outras doenças (BRASIL, 2002).

3.3 AÇÕES EDUCATIVAS DE ENFERMAGEM NA PREVENÇÃO DA


HANSENÍASE

Segundo o Manual do Ministério da Saúde, o papel do enfermeiro no controle de


endemias é realizar o diagnóstico precoce, instituir o tratamento adequado e imediato e/ou
acompanhá-lo; desenvolver ações educativas e de mobilização social que possam contribuir
nas medidas de controle individual e coletivo, com impacto na melhoria das situações
identificadas.

Nas ações educativas, segundo Nascimento et al. (2011), o enfermeiro deve


implementar medidas de prevenção e, para isso, é preciso conhecer as alterações ambientais,
os locais onde as pessoas vivem e trabalham, entre outros. O enfermeiro deverá também
desenvolver medidas de proteção individual, familiar e da comunidade, de combate a vetores
e outros micro-organismos. Na prevenção e promoção da melhoria de condições ambientais
da população, juntamente com sua equipe que atua no controle de endemias, deverá realizar
ações de educação em saúde e de mobilização social, mobilizando a comunidade para
desenvolver medidas simples de manejo ambiental; preencher e enviar ao setor competente a
ficha de notificação, conforme a estratégia local; preencher adequadamente e enviar ao setor
competente o boletim de atividade diária; participar nas reuniões de planejamento e avaliar os
resultados das ações de controle.

O processo de educação em saúde deve aliar a aquisição de informações e


aptidões básicas com o senso de identidade, autonomia, solidariedade e
responsabilidade dos indivíduos por sua própria saúde e da comunidade. É
necessário combinar conhecimentos que visem à capacitação de indivíduos
com o uso de metodologias adequadas às suas necessidades e que estejam
voltadas para o desenvolvimento de múltiplas atividades de acordo com a
realidade local (NASCIMENTO et al., 2011, p. 747-48).
9

A educação e formação da enfermagem no contexto das ciências da saúde devem ser


integradas à evolução do sistema sanitário. É necessária total compreensão que não se trata só
da necessidade de preparar novos profissionais em saúde epidemiológica, mas sim de injetar
novo ânimo e infraestrutura a esse setor que tem permanecido isolado nas atualizações em
saúde, principalmente as faculdades de saúde pública e dos serviços verticais de controle e
prevenção das doenças transmissíveis como é o caso da hanseníase (ACIOLE, 2008;
SANTOS, 2009).

Também compete aos enfermeiros e equipe de saúde da família e da unidade básica de


saúde, identificar casos suspeitos, realizar diagnósticos precoces; realizar tratamento imediato
e adequado dos casos conforme o manual de cada endemia; orientar o paciente sobre a
necessidade de concluir o tratamento; solicitar e orientar o paciente para retorno depois da
finalização do regime de tratamento.

Entende-se, assim, que a atuação do enfermeiro na vigilância epidemiológica


desenvolve ações de pesquisa epidemiológica e diagnóstico situacional, de planejamento e
implementação de medidas de prevenção, controle e tratamento. Destacam, também, que no
âmbito da enfermagem em saúde comunitária, a vigilância epidemiológica vem sendo
utilizada como uma ação que precisa ser incorporada ao cotidiano do trabalho do enfermeiro.

Nascimento et al. (2011) argumentou também que, acerca da assistência prestada

[...] pelo enfermeiro para a produção do cuidado à pessoa com hanseníase,


pode- se constatar que é realizada por meio das consultas, supervisão das
doses e visita domiciliar. Sobre as ações de educação em saúde percebe-se
que se resume a palestras e campanhas realizadas de maneira pontual e com
orientações baseadas em sinais e sintomas, estas orientadas por processos
hegemônicos no campo da saúde. Nas ações de vigilância epidemiológica
denota-se investigação (busca ativa de casos) e controle dos comunicantes
(NASCIMENTO et al., 2011, p. 749).

Nesse sentido, pode-se afirmar que a atuação do enfermeiro no controle de endemias


se baseia na participação da coordenação dos dados, na produção de novas informações, na
realização de análises das limitações, na seleção de aplicação das metodologias adequadas
para alcançar os objetivos propostos pelo programa que seja mais adequado ao conhecimento
da enfermidade e sua evolução; na participação da seleção de alternativas, prioridades e
colaborar na elaboração, na execução dos programas de controle, assim como na avaliação do
alcance dos objetivos propostos (NASCIMENTO et al., 2012).
10

É nesse contexto que o enfermeiro atua como figura central para implementação das
políticas de controle e tratamento desses doentes, à proporção em que atua diretamente com o
cuidado junto com as comunidades afetadas. Assim, quando uma pessoa doente precisa de
cuidados, ela se fragiliza, e essa fragilidade aumenta quando se ouve falar de hanseníase,
devido aos prejuízos sociais que se somam às incompetências advindas com a própria
enfermidade. O cuidar desses pacientes abrange objetivos, como, avaliar, reconfortar, ajudar,
favorecer, promover, restabelecer, restaurar (BRASIL, 2012).

Esse cuidado tem como meta curar; deve ser um cuidado permanente e holístico,
abrangendo os diversos aspectos da vida do paciente. Por sua vez, o cuidar em enfermagem
prioriza levar alívio ao sofrimento humano, manter a dignidade e encontrar meios para lidar
com as crises e com as experiências de viver e de morrer.

Paralelo a esses eventos, destaca-se a estratégia do Programa Saúde da Família (PSF),


um importante movimento com a intenção de reorganizar o modelo de atenção à saúde
pública no Brasil, o Sistema único de Saúde (SUS). Essa estratégia busca maior racionalidade
na utilização dos demais níveis de assistência e resultados positivos nos principais indicadores
de saúde das populações assistidas pelas equipes de saúde que atuam com ações de promoção
de saúde, prevenção e queixas mais frequentes entre a comunidade. A responsabilidade pelo
acompanhamento das famílias e a necessidade de ultrapassar os limites onde existe
tradicionalmente um tipo de cuidado deve ser mais evidente nas ações dos enfermeiros
(BRASIL, 2012).

O monofilamento Semmes Weinstein de nylon deve ser nos treinamentos para que os
enfermeiros aprendam a usar e aplicar esta técnica muito pouco divulgada na Capacitação dos
enfermeiros que atuarão com hanseníase utilizado para auxiliar no diagnóstico precoce e
monitoração da doença e na solução da lesão nervosa periférica, permitindo a verificação da
melhora, piora ou estabilidade do quadro, através da aferição das alterações de sensibilidade
antes de sua perda. Avaliar a incapacidade dos membros e de vital importância, para que se
saiba a atual situação em que se encontram os pacientes, acompanhando a progressão da
hanseníase. A Terapia Ocupacional é de importância fundamental na terapêutica dessa
patologia, já que possui recursos terapêuticos que contribuem para a reintegração do
hanseniano, ou mesmo em termos de prevenção ou redução das deformidades tão
incapacitantes. Por isso é muito importante demonstrar a importância do uso dos
monofilamentos de Semmes-Weinstein em pacientes com hanseníase (BRASIL, 2012).
11

Os monofilamentos de Semmes-Weinstein (SW) são constituídos por fios de nylon de


38 milímetros de comprimentos e diâmetros diferentes. Sendo introduzidos em 1962, para
avaliar a sensação cutânea. Segundo Bell apud DUERKEN F.; VIRMOND M., em 1978
realizou-se um estudo no membro superior de pacientes portadores de neuropatia hansênica e
outras patologias. Este trabalho foi referência para que se recomenda-se a utilização de um
conjunto de 5 monofilamentos. Em 1993, a Sociedade Internacional de neuropatia periférica
adotou os monofilamentos como instrumento útil para uso no diagnóstico (BRASIL, 2012).

Utiliza-se o monofilamento de nylon no auxílio do diagnóstico precoce e monitorar a


solução da lesão nervosa periférica, permitindo assim, identificar melhora, piora ou
estabilidade do quadro, alterações de sensibilidade antes da perda da sensibilidade protetora e
indicar a conduta terapêutica, o uso dos monofilamentos substitui com vantagem os demais
testes. Teste quantitativo, fácil de aplicar, seguro e de baixo custo, que identifica e monitora a
sensibilidade, sendo considerado um dos melhores para uso no trabalho de campo, nas
unidades de saúde e nos centros de referências para hanseníase (BRASIL, 2012).

Cada monofilamento relaciona-se com uma força específica para curvá-lo, que varia
de 0,05g a 300,0g no conjunto de seis monofilamentos. Quanto maior o diâmetro do fio,
maior será a força necessária para curvá-lo no momento da aplicação sobre a pele. A
aplicação de estímulos com forças progressivas permite avaliar e quantificar o limiar de
percepção do tato e pressão, estabelecendo correspondência com os níveis funcionais. Para a
realização da pesquisa de sensibilidade com os monofilamentos de nylon de SW, faz-se
necessário dar ao paciente as seguintes informações: explicar ao paciente o exame a ser
realizado, certificando-se de sua compreensão para obter maior colaboração; concentração do
examinador e do paciente; ocluir o campo de visão do paciente; selecionar aleatoriamente a
sequência de pontos a serem testados e na presença de calosidades, cicatrizes ou úlceras
realizar o teste em área próxima, dentro do mesmo território específico (BRASIL, 2012).

Antes de iniciar o teste, os monofilamentos devem ser retirados do tubo e encaixados


cuidadosamente no furo lateral do cabo, dispondo-os em ordem crescente do mais fino para o
mais grosso, como demonstrado nas figuras abaixo:
12

Figura(1)

Fonte: Brasil, ministério da Saúde, 2012.

Segurar o cabo do instrumento de modo que o filamento de nylon fique perpendicular


à superfície da pele, a uma distância de mais ou menos 2cm. A pressão na pele deve ser feita
até obter a curvatura do filamento e mantida durante aproximadamente um segundo e meio,
sem permitir que o mesmo deslize sobre a pele, conforme Figura (2) abaixo:

Figura(2)

Fonte: Brasil, Ministério da Saúde, 2012.


13

O teste deverá começar com o monofilamento mais fino 0,05g (verde). Na ausência de
resposta utiliza-se o monofilamento 0,2g (azul) e assim sucessivamente. Os filamentos de
0,05g (verde) e 0,2g (azul) devem ser aplicados três vezes seguidas em cada ponto específico,
e os demais uma vez. Aplica-se o teste nos pontos específicos dos nervos e registra-se
colorindo os pontos específicos com a cor do monofilamento que o paciente sente. No quadro
abaixo a análise dos monofilamento:

Segundo Opromolla; Bacarelli, 2003, na hanseníase avaliar a sensibilidade é


procedimento necessário no diagnóstico e manejo da neuropatia. Hoje em dia, os
monofilamentos de nylon SW são utilizados e muito confiáveis para avaliar a sensibilidade
cutânea. Ressalta-se ainda que SW é um método empregado na avaliação das fibras sensitivas
táteis, pois trata-se de um estesiômetro no qual aplicam-se estímulos táteis e embora possa
haver uma correlação com as perdas das sensibilidades térmicas e dolorosas, não é de forma
alguma específico para estas modalidades de sensibilidade.
14

Nas figuras abaixo mostra-se o local onde deve ser aplicado o estensiômetro nas mãos
e no pé.

Figura: 3

Fonte: Brasil, Ministério da Saúde, 2012.

Figura: 4
15

De acordo com o Guia de Controle da Hanseníase (2002), usar o monofilamento na


prevenção e controle das incapacidades auxilia a identificar e monitorar a função neural, a
planejar recursos na identificação de pessoas que necessitam de cuidados especiais, devido à
perda da sensibilidade protetora, padronizando estudos comparativos. O uso dos
monofilamentos de SW é eficaz para mensurar quantitativamente o limiar de percepção do
tato e pressão da pele e detectar sinais, objetivos e subjetivos dos nervos nos membros
superiores e inferiores, promovendo maior acompanhamento por meio das orientações nas
Atividades de vida diária (AVDs), Atividade de vida prática (AVPs), trabalho e lazer devendo
sempre ser empregado pelos enfermeiros que trabalharem com epidemiologia e mais
diretamente com hanseníase.

3.4 CAPACITAÇÃO DA ENFERMAGEM NA PREVENÇÃO DA HANSENÍASE

Também com o objetivo de melhoria da prática de enfermagem com a implantação de


conhecimentos disponíveis sobre o controle da doença o Programa de controle da Hanseníase
vem atuando nos serviços locais de saúde das regiões, em conjunto com os enfermeiros em
todas as áreas básicas: “busca e diagnóstico dos casos, prevenção da hanseníase, tratamento e
seguimento dos pacientes, prevenção e tratamento de incapacidade, gerência das atividades de
controle, sistema de registro e vigilância epidemiológica e pesquisas” (BRASIL, 2012, p. 17).

É importante frisar que a prevenção da hanseníase é uma das tarefas fundamentais na


promoção da saúde e prevenção da doença onde está incluída a capacitação do pessoal de
enfermagem e a conscientização da população, sendo o mais adequado e importante para
desenvolver a autorresponsabilidade e o autocuidado do paciente e da família e, para realizar
essa tarefa, os profissionais precisam de capacitação.

Opas (2009) acentuou que a busca e o diagnóstico dos casos são responsáveis por
tarefas importantes considerando os princípios da plenitude, no atendimento, contribuindo
para que o enfermeiro possa estabelecer relação efetiva com os pacientes. Com relação ao
tratamento e acompanhamento dos pacientes, ressalta-se a necessidade de conduta crítica,
permitindo um aprimoramento no saber diário do enfermeiro onde ele incorpora todo seu
conhecimento técnico-científico que está sendo adotado nessa área, exemplificando o caso da
multidrogaterapia, cujo conhecimento e manejo ele busca em cursos e em pesquisas na área.
16

Vale esclarecer que, na área administrativa, o enfermeiro atua em dois seguimentos:


gerência da assistência de enfermagem e coordenação dos programas de controle. Entretanto,
o que se tem observado é que são poucos os estudiosos da área que se interessam por
epidemiologia, sendo necessário, então, efetuar campanhas de informação para despertar o
interesse destes profissionais para tão importante campo de atuação. (SBH, 2012).

Para Legendre et al. (2012), a capacitação dos enfermeiros é um instrumento


importante e que contribui com a aquisição dos conhecimentos, contribuindo para a atuação
dos profissionais envolvidos na assistência e auxiliando a corrigir erros no tocante ao combate
efetivo da eliminação da doença. É conveniente que o enfermeiro atue de forma integrada
com os demais membros da equipe, colaborando com uma assistência de qualidade à saúde do
paciente.

Assim, a capacitação da enfermagem em epidemiologia é urgente e necessária, como,


também, do pessoal que faz parte desses serviços, sobretudo, no que se refere ao cuidado com
os pacientes portadores de hanseníase, doença com escassos profissionais capacitados. Vale
destacar que o único estado que realiza esse tipo de capacitação e treina seus profissionais,
visto até agora em publicações científicas é o estado de São Paulo, todavia deveria ser este
exemplo copiado em todo o Brasil (PEDRAZZANI et al, 1998, PEDRAZZANI, et al, 2010).

É preciso lembrar que a relação enfermagem-paciente-família deve ser vista como


uma forma humana de comunicação e cuidado na qual se concretiza a relação indivíduo-
sociedade. Trata-se de uma relação baseada em um modelo de cuidado que confere uma base
fisiológica e gnoseológica aos paradigmas vigentes nas ciências da saúde e deve ser
compreendida como uma relação de comunicação que pode transcorrer sob a forma sujeito-
objeto aos fins de curar e reabilitar (ACIOLE, 2008; BERNARDES; SANTOS; PADOVANI;
SANTOS; HANS FILHO, 2009).

Convém frisar que os modelos de aprendizagem basearam-se, por muito tempo, em


uma enfermagem tradicionalmente hospitalar. Em contrapartida, a enfermagem de uma
unidade básica de saúde atua mais dentro de um papel autônomo e voltado ao cuidado,
baseando esse cuidado em um plano de atuação interdisciplinar, oferecendo uma atenção
individualizada e considerando o entorno familiar e social do indivíduo para ajudá-los no
processo de perdas ou fomento da autonomia para uma posterior reinserção social (ACIOLE,
2008).
17

Assim, as práticas educativas devem possibilitar aos indivíduos sujeitos sociais,


históricos e culturais, o ato de conhecer ou reconhecer a aquisição de habilidades para a
tomada de decisões na busca de uma melhor qualidade de vida. Devem fazer com que os
indivíduos resgatem sua cidadania, colocando-a em evidência na promoção da saúde do
paciente portador do mal de Hansen.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A enfermagem faz parte de um processo coletivo de trabalho composto de áreas


técnicas especificas e, particularmente, dentro do Programa de Controle da Hanseníase, deve
contar com o trabalho de uma equipe multiprofissional, onde se possa compartilhar parcelas
das diferentes atuações visando ser um conjunto complementar e interdependente como forma
de contribuir para a integralidade da assistência à saúde.
Conclui-se, por fim, que ao longo de toda a história, a enfermagem constituiu-se em
um tipo de percepção ativa, dinâmica e em contínuo desenvolvimento. Assim, como a
enfermagem é uma atividade aplicada, a formação do enfermeiro deve ter um alto conteúdo
de formação não somente teórica, mas prática e humanística. Na formação teórica se enfatiza
a aprendizagem cognitiva dos fundamentos teóricos da enfermagem, e é na prática que o
objetivo se centra em sua aplicação.

Ao trazer o assunto para discussão, percebeu-se uma deficiência nas publicações


científicas, evidenciando a necessidade de mais pesquisas com ênfases na valorização do
profissional de enfermagem como instrumento articulador do processo, sendo necessário dar
maior importância ao tema, mediante reformulação nos currículos dos cursos de Graduação
em Enfermagem, introduzindo estratégias de ensino que valorizem e mostrem a verdadeira
importância da epidemiologia no papel do enfermeiro para o controle de endemias.

É evidente que o enfermeiro incluído nessa área deverá prover-se de técnicas de


prevenção e promoção da saúde, atendendo a uma melhor qualidade de vida para a
comunidade. Isso trará, como propostas de ações educativas, o treinamento de seus agentes,
tendendo sempre a analisar como a enfermidade se distribui conforme as características das
pessoas e o que determina sua ocorrência, a fim elaborar ações para saber até que ponto as
medidas contribuirão na prevenção da hanseníase. No que diz respeito às ações tomadas pelo
18

enfermeiro na detecção da hanseníase conclui-se que, para detectar os casos, a enfermeira


realiza ações isoladas e associadas.

Destaca-se, assim, que muitos enfermeiros encaminham os usuários quando julgam


que estão diante de um caso de hanseníase. Outra reserva é a não realização da consulta de
enfermagem e do teste por todos, ações essas essenciais para a detecção da hanseníase.
Quanto ao cuidado às pessoas afetadas pela hanseníase, tendo como foco a humanização, a
maioria dos enfermeiros realiza um cuidado isolado: a educação em saúde, porém com
amplitudes diferenciadas, que vão desde a única guia sobre o tratamento até uma educação
com o foco no cuidado holístico, social e psicológico.

O estudo mostrou que o enfermeiro precisa estar qualificado para atuar, com sentido
de responsabilidade social e compromisso com o paciente e sua família, como promotor da
saúde integral do ser humano, capacitando-se para trabalhar em diversos setores da saúde,
considerando ações do cuidar, educativas, gerenciais e de pesquisa com um olhar
humanizado. Convém que o profissional enfermeiro esteja qualificado para o exercício da
profissão, baseado no rigor científico e intelectual e pautado em princípios éticos que atuem
em diferentes meios, capazes de conhecer e intervir sobre os problemas e situações de saúde-
doença, identificando as dimensões biopsicossociais de seus usuários, especialmente do
enfermo hanseniano, visto que o indivíduo com hanseníase foi estigmatizado desde a
Antiguidade.

Acredita-se que o enfermeiro deve se mostrar como uma pessoa importante por meio
de apoio, diálogo e esclarecimento da enfermidade, assim como enfrentar a crise, suscitada
pela doença. Por isso, é importante assinalar que alguns enfermeiros relataram não saber
como cuidar de pessoas afetadas pela hanseníase.

Nesse sentido, convém que o enfermeiro se atenha às dificuldades dos usuários do


programa de hanseníase não só aparentes, mas também a sua essência, para que a assistência
possa ser conduzida de forma individual e integral. Para isso, é necessário que haja um
cuidado humanizado a esses usuários, respeitando-os dignamente, tratando-os de forma a
assegurar a assistência prestada, para que se sintam seguros, com a autoestima elevada e
tenham segurança.

Assim, é preciso maior compromisso dos profissionais de saúde quanto ao


encaminhamento do usuário a outro profissional ou a outra unidade básica de saúde,
principalmente em suas ações e comportamentos frente aos pacientes e seus familiares. Dessa
19

forma, pensa-se que deve haver uma mudança no olhar do enfermeiro sobre as pessoas
afetadas pela enfermidade, de modo que seu cuidar seja eficaz, promova o bem-estar e
contribua na diminuição do número de casos novos, assim como do prejuízo social. O atuar
do enfermeiro deve ser proativo e composto de medidas efetivas para diminuir o sofrimento
dessas pessoas.

O enfermeiro, ao minimizar os sentimentos de dúvidas e angústias dos indivíduos


afetados pela hanseníase, ajudará a eles e a suas famílias na identificação, no controle e no
cuidado aas pessoas afetadas, diminuindo o impacto da enfermidade, criando um vínculo com
essas pessoas, facilitando a atuação dos cuidados à saúde e à melhoria de sua qualidade de
vida.
20

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