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Infecção pelo HPV:

O papilomavírus humano (HPV) é considerado o agente da infecção viral sexualmente


transmissível mais prevalente em todo o mundo. No entanto, as infecções serão
predominantemente assintomáticas e serão clareadas em cerca de dois anos.

Já foram identificados mais de 200 tipos de HPV, cerca de 40 infectam o trato anogenital e algo
em torno de 12 são efetivamente oncogênicos, ou seja, associados a tumores invasivos.
Desses, o que tem mais sido estudado é o câncer de colo uterino.

O vírus é composto por uma cápsula dentro da qual há um DNA em dupla fita de cerca de 8 mil
pares de bases. O genoma do HPV é dividido em áreas com funções determinadas: uma que
codifica proteínas não estruturais, chamada de E, dividida em E1, E2, E4, E5, E6 e E7; outra
região que codifica as proteínas do capsídeo viral chamada L, dividida em L1 e L2; e uma região
de controle que regula a replicação viral e a expressão de genes.

O vírus é genótipo hospedeiro específico e há preferência de determinados tipos por sítios


anatômicos, onde causam lesões com características clínicas e patológicas distintas.

O gene E5 parece ser importante no início da infecção do vírus, por estimular crescimento
celular pela formação de um complexo com receptores do fator de crescimento epidérmico,
do fator de crescimento derivado de plaquetas e do fator estimulante de colônia-1. Além disso,
previne a apoptose de células com DNA alterado. Já os genes E6 e E7 e suas respectivas
proteínas são expressos em tecidos de lesões invasoras e, de forma independente, são hábeis
em imortalização celular.

O HPV tem a capacidade de aderir de forma não integrada ao DNA celular (forma epissomal)
ou se integrar. Na maioria das lesões intraepiteliais escamosas de alto grau, o DNA viral se
integra ao DNA do hospedeiro por uma quebra no nível de E2.

Os HPVs são classificados como de baixo e alto risco oncogênico, conforme sua associação com
tumores invasivos. Como exemplo de baixo risco há os tipos 6, 11, 40, 42, 43 e 44 e de alto
risco são exemplos os tipos 16, 18, 31, 33, 35, 39, 45, 51, 52, 56, 58, 59 e 66.

Transmissão do HPV:
A infecção é transmitida por contato, e não apenas pelo coito. O uso regular de preservativo
pode conseguir algo em torno de 60% de proteção, mas áreas não protegidas podem estar
associadas à transmissão. Há grande possibilidade de transmissão genital sem que tenha
havido a coitarca, apenas com o contato pele a pele dos genitais dos parceiros.

Pode haver passagem de HPV de mãe para o concepto, em especial em casos de lesões
genitais na passagem do canal de parto, o que pode causar a papilomatose respiratória. No
entanto, a maioria dos neonatos elimina a infecção até o primeiro ano de vida.

Manifestação da infecção:
O vírus tem predileção por células imaturas em divisão celular. A infecção pode ocorrer em
células da camada basal do epitélio escamoso, células subcilíndricas de reserva, células
reparativas.

Dependendo da forma em que o vírus interaja com a célula e com o tipo celular, podem
aparecer, ou não, lesões morfológicas diagnosticadas clinicamente ou por citologia ou biópsia.
A maioria das infecções será identificada apenas por métodos de detecção do DNA viral (por
biologia molecular), não havendo lesão morfologicamente detectável. São as infecções
latentes. Tendem a desaparecer espontaneamente em cerca de dois anos.

Algumas infecções podem causar lesões identificadas por métodos de magnificação


(colposcopia ou citologia), não sendo visíveis a olho nu. É a manifestação subclínica da lesão.

Por fim, a infecção pode se manifestar clinicamente, ou seja, com lesão visível a olho nu. A
maioria desses casos é de lesões verrucosas genitais e associadas a HPV de baixo risco.

Nomenclatura das lesões associadas ao HPV:


Em cada sítio, em especial as lesões escamosas, eram classificadas com nomenclatura
específica, tal como NIC (neoplasia intraepitelial cervical) no colo do útero, NIVA (neoplasia
intraepitelial vaginal) na vaginal, NIA (neoplasia intraepitelial anal) no ânus, e assim por diante.
Um grupo de pesquisadores sugeriu recentemente a adoção de nomenclatura única e bimodal
de todas as lesões, especificando o sítio delas. Assim, ficou recomendado que as lesões
passariam a ser diagnosticadas como lesão intraepitelial escamosa de baixo grau (do inglês
LSIL) e lesão intraepitelial escamosa de alto grau (do inglês HSIL).

Diagnóstico:
Técnicas de biologia molecular:
É importante entender que as técnicas de detecção do DNA-HPV diagnosticam a infecção, mas
não a lesão. É um recurso que tem um custo, por isso deve ser usado apenas em situações com
evidência de benefício para a paciente.

Correntemente duas plataformas têm sido utilizadas: a captura híbrida de segunda geração e a
técnica de PCR.

Citopatologia:
O exame citopatológico é um método de estudo morfológico de alterações celulares, em
esfregaços, que, no caso do epitélio escamoso, podem ser classificadas conforme o tipo de
lesão causada pelo HPV, como lesão intraepitelial escamosa de baixo grau (LSIL) e lesão
intraepitelial escamosa de alto grau (HSIL). A infecção, no entanto, pode ocorrer e o exame de
citologia não ter alteração ou ter alterações ditas como equívocas e denominadas de células
escamosas de significado indeterminado (ASC-US), células escamosas atípicas, em que não é
possível afastar lesão de alto grau (ASC-H), e células glandulares endocervicais atípicas.

O material a ser estudado pode ser na forma convencional (exame de Papanicolaou) ou em


base líquida. Em todos os sítios, a citopatologia pode ser empregada, no entanto tem sido mais
útil no rastreio de lesões pré-cancerosas do colo uterino e do ânus.

Colposcopia:
A colposcopia é um método de magnificação que exige habilidade do examinador para
determinar, em caso de anormalidade, o sítio adequado para a realização de biópsia, se
indicada.

Histopatológico:
O exame histopatológico é considerado o padrão-ouro no diagnóstico das lesões induzidas
pelo HPV, mas não do HPV. O padrão-ouro para diagnóstico da infecção é a biologia molecular,
pesquisa do DNA do vírus. O diagnóstico das lesões glandulares endocervicais
(adenocarcinoma) não mudou em termos de nomenclatura, mantendo-se em dois estágios o
adenocarcinoma in situ e o adenocarcinoma invasor.

Tratamento:
A conduta deve variar conforme a apresentação do quadro infeccioso.

1. Infecção latente em qualquer sítio: conduta expectante.


2. Lesão subclínica:
 LSIL: pode ser expectante com seguimento até sua involução. Quadros persistentes
podem ser tratados com métodos destrutivos, imunomodulação ou exérese
dependendo do sítio;
 HSIL: dependendo da idade pode ser seguimento (≤ 24 anos) ou tratamento (> 24
anos).
3. Lesão clínica: pode ser por imunomodulação, exérese ou destruição conforme o sítio,
número de lesões e experiência do especialista.

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