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HUMANISMO (fundamento teórico do Renascimento)

"O homem é a medida de todas as coisas"


(Protágoras)

O Humanismo, no seu sentido etimológico, está relacionado com a palavra


latina humanitas, que expressava a essência da educação romana, sendo o
homem considerado como tal, independentemente de qualquer valor
transcendental.

As "Humanidades" constituíam um conjunto de disciplinas (gramática,


retórica, política, ética), que preparavam o homem para o exercício da sua
liberdade cívica e da sua atividade profissional.

Neste sentido amplo, o Humanismo sempre existiu e sempre existirá,


sendo a expressão de uma corrente do pensamento que afirma a importância
dos valores humanos.

O sofista Protágoras de Abdera, pela sua famosa frase "o homem é a


medida de todas as coisas", pode ser considerado o primeiro humanista.
Grandes pensadores humanistas antigos foram Sócrates, Cícero, Sêneca,
entre outros.

Nos tempos modernos, um grande humanista foi o filósofo e poeta francês


JeanPaul Sartre, que escreveu uma obra muito importante a respeito,
intitulada O Existencialismo é um Humanismo. Outro grande humanista francês
foi Claude Lévi-Strauss, que lecionou na Universidade de São Paulo e estudou
a cultura de tribos indígenas do Brasil (Tristes Trópicos). Como bom
antropólogo, imitou os sábios do Renascimento italiano, pois achava que a
cultura geral era fundamental para o conhecimento do ser humano.
Contrariando a moda da "especialização", estudou Lingüística, Filosofia,
Direito, Pintura, Música. Mas, no sentido estrito ou histórico do termo, o
Humanismo é o substrato ideológico da Renascença: movimento filosófico e
literário, iniciado na Itália (Pico della Mirandola, Marsílio Ficino, Lorenzo Valla,
Tommaso Campanella) e irradiado nos Países Baixos (Erasmo de Rotterdam)
e na Inglaterra (Thomas Morus e Francis Bacon), durante os séculos XV e XVI.
Precursores do Humanismo foram vários escritores da Baixa Idade Média,
especialmente os italianos Petrarca e Boccaccio, que se deram ao trabalho
de descobrir e divulgar textos da cultura greco-romana, escondidos nas
bibliotecas dos monastérios. O pensamento humanista devolve ao homem a
liberdade de construir seu próprio projeto de vida, fora das amarras das
instituições medievais do Império e da Igreja, os ápices da pirâmide do sistema
feudal (→ Medievalismo). O centro de interesse da cultura se desloca da
transcendência (Teocentrismo) para a imanência (Antropologia naturalista).

O pensamento ético retoma o princípio epicurista de que o sumo bem é o


prazer, não somente do espírito mas também do corpo, e a virtude reside na
"ataraxia", a ausência de preocupações, devendo-se viver segundo a natureza,
evitando-se quer privações quer excessos.

Daí a condenação da vida monástica e contemplativa, consideradas


formas de vida antinaturais. Mas tal revolução ideológica não se dá fora do
Cristianismo (→ Cristo). O frei agostiniano Erasmo de Rotterdam (1466–1536),
o pensador mais influente da época, tenta a conciliação dos dogmas da religião
crista com as virtudes naturais humanas encontráveis na tradição clássico-
pagã. Seu melhor amigo, o humanista e jurista inglês Thomas Morus (1478–
1535), mais tarde canonizado pela Igreja de Roma, defende a religião católica
contra o anglicanismo de Henrique VIII.

Na sua famosa obra Utopia, critica o sistema político da época e


apresenta um modelo ideal de governo comunitário e genuinamente
evangélico. Os mesmos ideais utópicos de vida social serão mais tarde
apregoados pelo filósofo italiano Campanella, especialmente através de sua
obra de inspiração platônica, A cidade do Sol, publicada em 1602.

Do ponto de vista propriamente filosófico, o Humanismo foi importante pela


revalorização da filosofia de Platão, preterida na Idade Média, época em que
predominou o pensamento de Aristóteles, base da filosofia "escolástica" de
Tomás de Aquino. Marsílio Ficino, com o tratado In convivium Platonis sive de
amore, publicado em 1468, retoma o tema de O banquete, diálogo
de Platão sobre o amor.

O neoplatonismo do humanista italiano afirma a nítida distinção entre o


amor venéreo, carnal, que se apega a uma forma corporal, e o amor espiritual,
que vê na beleza física da amada apenas uma imagem da beleza eterna. O
conceito de amor platônico constitui o substrato ideológico de uma vertente da
lírica renascentista, que tem em Camões seu melhor representante. Em
verdade, o verdadeiro princípio do Humanismo foi intuído pelo poeta e filósofo
epicurista Horácio, quando afirmou que in medio est virtus: a virtude está no
meio-termo, no equilíbrio entre o real e o ideal, entre os impulsos do instinto e
as forças racionais do homem.

Mas este humanismo somente será vivido e expresso em forma de arte a


partir do Renascimento quando, a religião cristã perdendo seu caráter
opressivo, o homem poderá novamente retomar a busca do equilíbrio
existencial, tentando conciliar as exigências da sua natureza física com os
valores espirituais.

Categoria: 
 Dicionário de Cultura Básica

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