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AUTORA: LUZIA VANESSA PINHEIRO

E.E.F. CINCINATO FURTADO LEITE


DISTRITO DE ASSUNÇÃO/SOLONÓPOLE/CE

RELATO DE PRÁTICA – OLP

ENFRENTANDO TODOS OS LIMITES – EMBARCANDO EM UMA AVENTURA


DE MEMÓRIAS

Quando as inscrições para a Olimpíada de Língua Portuguesa iniciaram, fiquei um


pouco preocupada, surgiu muitas indagações como trabalhar as Olímpiadas de forma remota?
Assim como sugiram os questionamentos, vieram também muitas ideias de como ministrar
essas aulas da melhor maneira. Como professora, eu sabia que teríamos um grande desafio
pela frente, mas com muita dedicação, teríamos êxito.

Sou professora! Feliz pela profissão que escolhi, hoje não saberia desenvolver outra
atividade com tanto carinho e dedicação como as que me proponho realizar em sala de aula.

Estamos vivemos momentos difíceis, em que precisamos desenvolver em nós as


competências socioemocionais, para nós ajudar e também contribuir com as pessoas que nos
cercam. Também estamos cercados a todo momento, por imagens e sons que nos falam, nos
instigam e nos tocam. Através dos textos midiáticos tomamos consciência não só do que
acontece em nossa sociedade, como também do que acontece em todo o planeta ou fora dele.
Dessa forma, quando se pensa em produção textual hoje, sabe-se que os textos não estão
limitados ao papel e sua linguagem não é só a da modalidade escrita. Assim, foi com alegria
que

Apesar de sempre me entusiasmar em trabalhar as olímpiadas, ao acessar o Caderno


Virtual do gênero em questão, a impressão que tive foi a de um choque e de que "não daria
conta do recado", como se costuma dizer quando se visualiza uma aventura quase impossível.
Tratava-se, para mim, de um grande desafio. E foi assim que, de cara, percebi que a jornada
seria um desafio para nós e que só poderia ser vencido com uma parceria: eles anulando
minha inexperiência com a captura das imagens e técnicas de edição e eu os ajudando a
planejar, escrever, reescrever, revisar e refazer o texto escrito.

Na minha trajetória, nas edições anteriores sempre participei na categoria Memórias


literárias, as aulas despertavam o entusiasmo e empolgação dos meus alunos. A
participação nas oficinas era sempre bem animada e fazia se aventurar no mundo das
memórias, sendo que a realização era presencial, bem diferente como acontece esse ano. Tive
que adaptar o material para que fosse possível trabalha-las com eficácia

Conforme as informações apresentadas no Caderno "Se bem me lembro…", produzido


pela Olimpíada, o texto de memórias literárias nasce de uma entrevista, ou seja, nossos alunos
são orientados a buscar uma pessoa idosa do bairro, da escola ou mesmo de outros cantos da
cidade que possa reviver, pelo relato oral, lembranças relativas às histórias pessoais e do lugar
onde vive.

Esse ano iniciei pela oficina 1 em que os alunos faziam a leitura do texto de Tatiana
Belinky “Transplante de menina”, no qual trabalhamos com a descrição de espaço e tempo,
onde fizemos com que os alunos atentassem para essas características do gênero memórias
literárias. Reforçamos a ideia que o objetivo do autor e de seu estilo e que são elas
(características) fundamentais para que o leitor possa construir imagens da época, dos lugares,
das pessoas e de como os fatos foram vivenciados, além de ser utilizada como um recurso
para aproximar o leitor da experiência relatada pelo autor do texto.

Para introduzir a proposta do que seria realizado, li alguns trechos de alguns escritores
sobre o tema. Destaquei o trecho de Bartolomeu Campos de Queirós.

Vestida de noite, olhar prudente, movimentos brandos, minha avó batia, com dois garfos,
as claras para nos servir, de repente, brancos suspiros, com aroma de limão, desmanchando
no céu da boca. QUEIRÓS, Bartolomeu Campos de. Por parte de pai. Belo Horizonte: RHJ,
1995. p. 12.

É preciso muito bem esquecer para experimentar a alegria de novamente lembrar-se.


Tantos pedaços de nós dormem num canto da memória, que a memória chega a esquecer-se
deles. E a palavra _ basta uma só palavra para sangrar o abstrato morto. Há, contudo, dores
que a palavra não esgota ao dizê-las. QUEIRÓS, Bartolomeu Campos de. Vermelho Amargo.
São Paulo: Cosac Naify, 2011. p. 16.
Li o texto Histórias da velha Arigó pertence ao gênero memórias literárias, uma vez que
narra fatos a partir das lembranças do neto da narradora-personagem que, provavelmente,
ouvia a história contada pela avó, recontado-a à autora das memórias. Com isso, mostra ao
leitor determinada época (início do século XX, no Brasil), e podemos conhecer as dificuldades
enfrentadas pelos cearenses que partiam para a Amazônia em busca de melhores condições
de vida.

O gênero textual memórias literárias remete ao estudante o resgate das histórias de vida
de seus antepassados, das pessoas que lhe são próximas ou de sua comunidade, permitindo-
lhes descobrir e registrar passagens marcantes de personalidades anônimas ou importantes.

Nos dias seguintes, reservei o final das aulas para leitura em voz alta de textos finalistas
das edições anteriores do concurso. Antes, porém, pedia para que os alunos fechassem os
olhos e se deixassem retroceder no tempo por meio da minha leitura. Pedia para que eles
deixassem despertar o máximo de seus sentidos para que pudessem sentir os cheiros,
sabores, texturas; ver as paisagens, casas, pessoas; ouvir as melodias, ruídos, vozes de cada
memória lida. Depois pedia para que tentassem expressar as sensações que vivenciaram. Eles
pareciam gostar dessa atividade, pois todas as aulas destinadas as olimpíadas me lembravam
da leitura.

No entanto, a maior dificuldade foi com o uso dos tempos verbais. Confesso que
cheguei a ficar preocupado. Mas o uso do texto "O menino no espelho", de Fernando Sabino,
sugerido na Oficina 6, em que o foco narrativo é do narrador-personagem, que permitiu que os
alunos compreendessem a narrativa em primeira pessoa.

A discussão sobre a temática do texto a partir de comentários das partes marcantes e


de questões que conduzam os alunos a identificar o tempo e o espaço em que a história se
passa;

Para explorar a temática "O lugar onde vivo", pedi para que os alunos conversassem
com seus familiares e depois fizessem anotações sobre como era aquele lugar no passado. Na
aula pelo meet, compartilhamos as anotações.

Outro texto explorado foi “Memória de livros”, de João Ubaldo Ribeiro, que através da
nossa mediação, serviu de inspiração para a escrita de novas produções textuais, em grupos
como também individuais. Mostrei aos alunos, por meio do diálogo com o texto, a importância
dos livros para a nossa formação social, principalmente intelectual. Revelei aos estudantes, por
intermédio de seus próprios textos, a necessidade da reescrita produzida, verificando a
pertinência do domínio da linguagem padrão, do reconhecimento e respeito a outros tipos de
linguagens. Incentivei-os a lerem livros de memórias, pesquisando em site e baixando-os em
PDF ou fazendo a leitura virtual mesmo, e para minha surpresa adoraram a ideia.

O próximo passo foi pedir a primeira produção: os alunos deveriam escrever as


memórias de sua própria infância. Algum fato marcante, contado de forma bem clara. Muitos
alunos revelavam já ali talento literário, mas recebi também alguns textos que não passavam de
frases. Selecionei os textos mais próximos de memórias e pedi para que os alunos lessem para
sala. Recortei trechos desses textos, coloquei-os no slide e explorei sua estrutura: "são
justamente os pequenos fragmentos dessas memórias que me embarcam no passado (...)
finalmente ia conversar com a areia novamente"- Ana Lígia.

Na próxima fase, para o preparo da entrevista, construímos coletivamente um roteiro


com várias perguntas para o propósito. Deixei claro que se tratava de perguntas norteadoras.
Pedi também para que os alunos, antes da entrevista, deixassem o entrevistado bem calmo,
incentivando-os a mostrarem a importância dos mesmos. Assim, ele teria mais estímulos para
se lembrar de detalhes marcantes das vivências e sentimentos coletivos.

Aos poucos as entrevistas foram chegando. Foram poucas. Parte da turma não se
sentiu encorajada a entrevistar alguém, e como não havia muito tempo hábil para nova
estratégia, precisei improvisar e optei pelo compartilhamento das entrevistas realizadas e a
produção individual das memórias.

Em todas as etapas devemos contar com os desafios e planejarmos bem para atingir os
objetivos propostos em cada oficina, buscando sempre melhorar e superar a dificuldades
surgidas. Trabalho em uma sala virtual, onde o uso do WhatsApp, Google Meet, vídeos, slides
e atividades em PDF são ferramentas fundamentais das aulas

Sempre enfrentei resistência para conseguir que os alunos realizassem as oficinas, já que
eles demonstraram muita desmotivação e dificuldade para participarem das atividades,
desinteresse pelo assunto abordado e também com baixa autoestima diziam logo que não
sabiam fazer, sendo que alguns não têm acesso a internet dificultando ainda mais a
produtividade. Dessa forma cheguei até duvidar da minha capacidade em alcançar a todos,
pois a maioria apresenta certas dúvidas na estrutura do texto e na organização das ideias.

A partir dos passeios virtuais pelos museus e entrevistas propostas, percebi que a Olimpíada
pode ser caminho também para estreitar laços familiares por meio do conhecimento e
valorização da própria história de seus entes e da comunidade.
Foi a partir dessa experiência que os alunos refizeram as entrevistas, cientes de que a
escolha acertada do entrevistado, suas lembranças e sentimentos eram fundamentais para a
produção de textos significativos.

Confesso que, por muitas vezes, senti vontade de abandonar tudo, de voltar para a
tranquilidade do que era conhecido, mas então alunos me diziam que estava sendo um
momento maravilhoso e estava aprendendo muito, outros relatavam ser impossível depois
dessa experiência, olhar o hoje, sem perceber que existiu um ontem. E houve também quem
relatasse que a partir do trabalho, passou a estabelecer um contato mais intenso com seus
familiares. Somado a tudo isto, percebi um grande avanço da maioria dos alunos no domínio da
escrita, leitura e oralidade ao comparar suas primeiras produções com os textos aprimorados.

A entrevista de Antonio Gil, retextualizada em Como num filme, eliminou as dúvidas sobre
a tarefa desafiadora de transformar dados coletados na entrevista em texto de memória. A
reescrita e aprimoramento do texto final deixaram claro para os alunos que um texto ganha
qualidade depois de revisto; para esse trabalho foi fundamental utilizar o roteiro de revisão.

Nesse momento em que encerro meu relato, que os objetivos foram alcançados, pois nós
conseguimos expandi o aprendizado, nos aproximamos do nosso passado. Juntos, concluímos
que os conhecimentos são a fortaleza para toda a vida. Finalizo com o autor Walter Benjamin
(2004), afirma: "Quem pretende se aproximar do próprio passado soterrado, deve agir como o
homem que escava. É assim que termino o relato sobre a participação de meus alunos de 6º e
7º anos na categoria Memórias Literárias da Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o
Futuro Edição 2021.

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