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Sou professora! Feliz pela profissão que escolhi, hoje não saberia desenvolver outra
atividade com tanto carinho e dedicação como as que me proponho realizar em sala de aula.
Esse ano iniciei pela oficina 1 em que os alunos faziam a leitura do texto de Tatiana
Belinky “Transplante de menina”, no qual trabalhamos com a descrição de espaço e tempo,
onde fizemos com que os alunos atentassem para essas características do gênero memórias
literárias. Reforçamos a ideia que o objetivo do autor e de seu estilo e que são elas
(características) fundamentais para que o leitor possa construir imagens da época, dos lugares,
das pessoas e de como os fatos foram vivenciados, além de ser utilizada como um recurso
para aproximar o leitor da experiência relatada pelo autor do texto.
Para introduzir a proposta do que seria realizado, li alguns trechos de alguns escritores
sobre o tema. Destaquei o trecho de Bartolomeu Campos de Queirós.
Vestida de noite, olhar prudente, movimentos brandos, minha avó batia, com dois garfos,
as claras para nos servir, de repente, brancos suspiros, com aroma de limão, desmanchando
no céu da boca. QUEIRÓS, Bartolomeu Campos de. Por parte de pai. Belo Horizonte: RHJ,
1995. p. 12.
O gênero textual memórias literárias remete ao estudante o resgate das histórias de vida
de seus antepassados, das pessoas que lhe são próximas ou de sua comunidade, permitindo-
lhes descobrir e registrar passagens marcantes de personalidades anônimas ou importantes.
Nos dias seguintes, reservei o final das aulas para leitura em voz alta de textos finalistas
das edições anteriores do concurso. Antes, porém, pedia para que os alunos fechassem os
olhos e se deixassem retroceder no tempo por meio da minha leitura. Pedia para que eles
deixassem despertar o máximo de seus sentidos para que pudessem sentir os cheiros,
sabores, texturas; ver as paisagens, casas, pessoas; ouvir as melodias, ruídos, vozes de cada
memória lida. Depois pedia para que tentassem expressar as sensações que vivenciaram. Eles
pareciam gostar dessa atividade, pois todas as aulas destinadas as olimpíadas me lembravam
da leitura.
No entanto, a maior dificuldade foi com o uso dos tempos verbais. Confesso que
cheguei a ficar preocupado. Mas o uso do texto "O menino no espelho", de Fernando Sabino,
sugerido na Oficina 6, em que o foco narrativo é do narrador-personagem, que permitiu que os
alunos compreendessem a narrativa em primeira pessoa.
Para explorar a temática "O lugar onde vivo", pedi para que os alunos conversassem
com seus familiares e depois fizessem anotações sobre como era aquele lugar no passado. Na
aula pelo meet, compartilhamos as anotações.
Outro texto explorado foi “Memória de livros”, de João Ubaldo Ribeiro, que através da
nossa mediação, serviu de inspiração para a escrita de novas produções textuais, em grupos
como também individuais. Mostrei aos alunos, por meio do diálogo com o texto, a importância
dos livros para a nossa formação social, principalmente intelectual. Revelei aos estudantes, por
intermédio de seus próprios textos, a necessidade da reescrita produzida, verificando a
pertinência do domínio da linguagem padrão, do reconhecimento e respeito a outros tipos de
linguagens. Incentivei-os a lerem livros de memórias, pesquisando em site e baixando-os em
PDF ou fazendo a leitura virtual mesmo, e para minha surpresa adoraram a ideia.
Aos poucos as entrevistas foram chegando. Foram poucas. Parte da turma não se
sentiu encorajada a entrevistar alguém, e como não havia muito tempo hábil para nova
estratégia, precisei improvisar e optei pelo compartilhamento das entrevistas realizadas e a
produção individual das memórias.
Em todas as etapas devemos contar com os desafios e planejarmos bem para atingir os
objetivos propostos em cada oficina, buscando sempre melhorar e superar a dificuldades
surgidas. Trabalho em uma sala virtual, onde o uso do WhatsApp, Google Meet, vídeos, slides
e atividades em PDF são ferramentas fundamentais das aulas
Sempre enfrentei resistência para conseguir que os alunos realizassem as oficinas, já que
eles demonstraram muita desmotivação e dificuldade para participarem das atividades,
desinteresse pelo assunto abordado e também com baixa autoestima diziam logo que não
sabiam fazer, sendo que alguns não têm acesso a internet dificultando ainda mais a
produtividade. Dessa forma cheguei até duvidar da minha capacidade em alcançar a todos,
pois a maioria apresenta certas dúvidas na estrutura do texto e na organização das ideias.
A partir dos passeios virtuais pelos museus e entrevistas propostas, percebi que a Olimpíada
pode ser caminho também para estreitar laços familiares por meio do conhecimento e
valorização da própria história de seus entes e da comunidade.
Foi a partir dessa experiência que os alunos refizeram as entrevistas, cientes de que a
escolha acertada do entrevistado, suas lembranças e sentimentos eram fundamentais para a
produção de textos significativos.
Confesso que, por muitas vezes, senti vontade de abandonar tudo, de voltar para a
tranquilidade do que era conhecido, mas então alunos me diziam que estava sendo um
momento maravilhoso e estava aprendendo muito, outros relatavam ser impossível depois
dessa experiência, olhar o hoje, sem perceber que existiu um ontem. E houve também quem
relatasse que a partir do trabalho, passou a estabelecer um contato mais intenso com seus
familiares. Somado a tudo isto, percebi um grande avanço da maioria dos alunos no domínio da
escrita, leitura e oralidade ao comparar suas primeiras produções com os textos aprimorados.
A entrevista de Antonio Gil, retextualizada em Como num filme, eliminou as dúvidas sobre
a tarefa desafiadora de transformar dados coletados na entrevista em texto de memória. A
reescrita e aprimoramento do texto final deixaram claro para os alunos que um texto ganha
qualidade depois de revisto; para esse trabalho foi fundamental utilizar o roteiro de revisão.
Nesse momento em que encerro meu relato, que os objetivos foram alcançados, pois nós
conseguimos expandi o aprendizado, nos aproximamos do nosso passado. Juntos, concluímos
que os conhecimentos são a fortaleza para toda a vida. Finalizo com o autor Walter Benjamin
(2004), afirma: "Quem pretende se aproximar do próprio passado soterrado, deve agir como o
homem que escava. É assim que termino o relato sobre a participação de meus alunos de 6º e
7º anos na categoria Memórias Literárias da Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o
Futuro Edição 2021.