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CRITICANDO A CRITICA

ROGÉRIO LOPES

REVISTA DA EBD/MB: “DOUTRINA DAS ESCRITURAS”

INSPIRAÇÃO BÍBLICA

“Ninguém vai dizer que isso aqui (referencia à Bíblia) não é inspirada”
(autor desconhecido)

UM TEXTO PARA PENSAR OU FAZER QUESTIONAR

Os autores do livro do Gênese, segundo alguns propõem, seguramente


ouviram “palavra por palavra” atentamente e, fielmente, escreveram exatamente o que
a voz lhes soprava? Assim, já não sou eu quem está dizendo, mas os próprios
redatores do livro do Gênese. Eles e NÃO eu são os responsáveis pelo conteúdo do
livro. Logo, tudo o que lá está não é minha responsabilidade. Se eles, seja lá qual
tenha sido o motivo, cometeram erros na sua edição, devo informar que se esses
erros de fato existem são históricos e não podem ser mudados. Vão estar sempre lá,
geração após geração para quem se interessar. Não admiti-los ao detecta-los é ser
DESONESTO. E não informar os outros sobre tais após descobri-los é
MANIPULAÇÃO. DESONESTO entra no céu? HÁAAAA, se isso compromete a
CREDIBILIDADE das Escrituras (Antigo Testamento), é tema para outra ocasião.
Aqui vamos analisar se os erros cometidos pelos redatores desconstroem em parte a
ideia de INSPIRAÇÃO VERBAL, PALAVRA POR PALAVRA.

O que mais me chamou a atenção, em se tratando de crítica, é o que podemos


conferir na lição 1ª, subitem 1.3 – O Espírito Santo e as Escrituras, onde o
comentarista alega que: “[...] Embora Moisés, e os profetas tivessem se ocupado do
trabalho da escrita, É AFIRMADO QUE TUDO FOI CONFERIDO POR DEUS [...],
(grifo meu). Se o comentarista acredita piamente nessa afirmativa, talvez tenha
dificuldade em explicar por que Deus (?) não fez seu trabalho direito (eu não
comungo dessa premissa). Enfim, acredito que após ler esse artigo, você será capaz
de emitir seu PRÓPRIO juízo de valor e tirar suas PRÓPRIAS conclusões a respeito
dessa temática. Uma coisa é certa, todo ensino exige CRITICIDADE!!!
Inspirado e apoiado na máxima promulgada pelo comentarista na lição 7, onde
o mesmo deixa amplamente lógico que:

“Não há como examinar as Escrituras sem criticar, é uma


questão de discernimento (subitem 1.1 - julgar ou não
julgar, da Lição 7 – EXAMINAI AS ESCRITURAS)”.

Vamos nessa direção e usaremos e abusaremos da crítica textual que é um


excelente método para se buscar a VERDADE. Já afirmara Paulo em sua missiva
AUTÊNTICA aos Coríntios: “Nada podemos contra a VERDADE se não a favor da
VERDADE (2ªCo. 13.8)”. Se você como eu NÃO tem problema em ACATAR o mundo
REAL, a VERDADE dos FATOS vai seguramente se deleitar, ao contrário, pode se
encher de ódio, que vai caracterizar que de cristão não tem nada. Relembro que nas
cartas paulinas nunca há menção a dons de “INTERPRETAR TEXTOS”, logo
somente a hermenêutica e a exegese são instrumentos validos pra tal. Vamos à
diante agora:

CASO 1: OS SONHOS DE JOSÉ

Somos informados pela tradução da Bíblia para o português, que não é


o ORIGINAL (o original foi escrito em hebraico), de que José, filho de Jacó
com Raquel, teve dois sonhos. No primeiro os feixes de seus irmãos se
colocaram a volta do feixe dele e se curvavam a ele (Gn. 37.6-7). No segundo,
o Sol (Pai) a Lua (Mãe) e onze estrelas (irmãos) se curvaram a ele. Chamo a
atenção para o espanto de seu Pai (Gn. 37.9-10):

“O que quer dizer este sonho que você teve? Por acaso a
SUA MÃE, os seus irmãos e eu vamos nos ajoelhar diante
de você e encostar o rosto no chão?”.

Caríssimos leitores, agora que a coisa pode se complicar em relação à


máxima do autor de que “[...] Embora Moisés, e os profetas tivessem se ocupado do
trabalho da escrita, É AFIRMADO QUE TUDO FOI CONFERIDO POR DEUS [...],
(grifo meu), pois somos informados pelos redatores do livro do Gênese que nesse
tempo em que José teve seus sonhos, sua MÃE já havia morrido (Gn. 35.19), o que,
cá entre nós, inviabilizou a realização do segundo sonho. Notoriamente, a ideia de
“palavra por palavra”, fica neste caso, um pouco em suspense. Aliás, soa estranho o
que Jacó fala, no vs. 10, do cap. 37, onde menciona a MÃE de José, quando ele, na
VERDADE, sabia que ela já havia morrido. Um lapso? Não sabemos. Cogito que
alguém NÃO conferiu fielmente o que estava sendo escrito. NÃO VOU BOTAR A
CULPA EM DEUS.

*DICA: CUIDADO COM O QUE VOCÊ AFIRMA PRA DEPOIS NÃO FICAR EM APUROS!!!

CASO 2: QUANTAS VIAGENS PAULO VEZ A JERUSALÉM?

Como sabemos Atos dos Apóstolos registra que Paulo vez três viagens
para Jerusalém (At. 9.26; 11.27-30; e 15.1-4), o que nos faz pensar que esta
informação, embora esteja no Novo Testamento (na Bíblia), não se
configura uma verdade absoluta, ao menos para o próprio Paulo. Uma coisa é
o que o autor de Atos fala sobre Paulo, outra coisa é o que o próprio Paulo fala
sobre si. Não devemos esquecer que o livro de Atos é considerado livro de
História. Pois somos informados pela própria escrita de Paulo, que ele esteve
em Jerusalém apenas e tão somente duas vezes e não três como em Atos
(Gl. 1.18; 2.1). E o mais significativo disso tudo é o que Paulo declara: “Em
relação a essas coisas que vos escrevo, eis que perante Deus!, não estou
mentindo (Gl. 1.20)”. Corroborando com essa ideia, afirmou excepcionalmente
o nosso Patrono da Educação Paulo Freire: “Ensinar exige criticidade
(Freire, PAULO-2020)”.

Conclusão

Poderia passar horas escrevendo coisas do tipo. Contudo, esses dois


exemplos nos serve de norte para refletirmos que o discurso da coisa em si é
um, e o mundo real da coisa em si é outro. Minha humilde sugestão é que
antes de nos aventurarmos em assuntos complexos com este acima,
deveríamos fazer-nos a seguinte pergunta: estou apto a refutar tais
proposições? Domino o assunto minimamente para tentar uma resposta em
contrapartida? Enfim.......
Não que negue totalmente a teoria da inspiração bíblica verbal (Deus
soprou palavra por palavra), mas minha percepção da mesma seque outro
víeis. Como demonstrei acima, a teoria da inspiração verbal, não se encaixa
nos exemplos supracitados. Ainda que os force. Lógico que existem
explicações razoáveis para essas discrepâncias. Contudo, num mundo plural
como o nosso, deveríamos aprender a conviver com o diferente. Alias já
passou do tempo. Estamos atrasados e precisamos nos atualizar. A idade
média já ficou pra trás. Precisamos construir pontes, por meio do diálogo e da
reflexão, se quisermos conviver em paz. E não explodir em ódio, gritarias e
contendas, só por que alguém pensa ou ensina diferente de nós. Discordar é
natural no mundo do conhecimento e dos debates. Mas criar motim contra
quem pensa diferente e exclui-lo ou até mesmo cercear o seu direito de
expressão impondo-lhe o silêncio em nome de uma falsa paz é ridículo.
Assim, como explicaríamos com apenas esses dois exemplos (há muitos
outros), por exemplo, o que afirma o comentarista da Lição 1ª, item I - A
NATUREZA DA INSPIRAÇÃO, com as informações acima elencadas: “A Bíblia
é a revelação VERBAL EXATA de Deus, a ponto de Jesus dizer: Digo-lhes a
verdade: Enquanto existirem céus e terra, de forma alguma desaparecerá da
Lei, a menor letra ou o menor traço, até que tudo se cumpra (MT. 5.18)”. Não é
assunto pra mentes presas a dogmas. Para esse fim Ele mesmo (Deus)
estabeleceu alguns para [...] MESTRES na Igreja, conforme ensina o autor da
carta os Efésios no cap. 4, vs.11.
Relembro aos nobres irmãos que somos conhecedores que na
MEB/RIO, temos Bispos Calvinistas e Arminianos, e até onde sei, posso estar
equivocado, vive cada qual em seu quadrado. Sem ofensas ou
constrangimentos. Então por que não podemos como irmãos em Cristo Jesus
viver em paz, em nossa congregação, respeitando o modo de pensar diferente
do outro? Afinal de contas não somos os donos da verdade. Apenas sabemos
em parte. E assim, cada um contribui com o que sabe como sempre foi no
tempo do Bispo André e do Pr. Gustavo. A disposição.

“Χάρις ὑμῖν καὶ εἰρήνη ἀπὸ Θεοῦ Πατρὸς ἡμῶν καὶ Κσρίοσ Ἰησοῦ Χριστοῦ”

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