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O que é o Evangelho?

por

John W. Robbins

Há mais de duas mil organizações, somente nos Estados


Unidos, que professam ser cristãs. Todavia, estas organizações,
para não citar os indivíduos que a compõem, diferem
dramaticamente entre si.

Historicamente, por exemplo, tanto a Igreja Católica Romana


como os Puritanos reivindicavam ser cristãos. Todavia, alguém
negará que o Catolicismo Romano — com sua veneração de
santos; sua adoração de Maria; seu uso de imagens, rosários e
estátuas; sua hierarquia clerical; e seu ritual elaborado e
costumes ostentosos — é uma religião diferente do Puritanismo
iconoclasta? Qual delas, então, é cristã?

Hoje o contraste é igualmente dramático, se não tão óbvio como


no século dezessete. Há pequenos grupos de pessoas que ainda
crêem na religião dos Reformadores Protestantes e dos
Puritanos. Eles crêem que somente a Bíblia é a Palavra de Deus
e que ela é, portanto, inerrante; que Jesus Cristo foi uma figura
real da história humana, como George Washington ou Abraham
Lincoln; que Ele foi o Deus encarnado, nascido da Virgem
Maria; que Ele foi crucificado pelos pecados do Seu povo,
ressuscitou novamente ao terceiro dia e mais tarde ascendeu ao
céu, de onde Ele retornará para julgar os vivos e os mortos. Eles
crêem que Cristo morreu para salvar somente o Seu povo, e que
Ele, sendo todo-poderoso, realmente lhes salvou tanto do
pecado como do inferno. Eles crêem que os homens, sendo
pecadores, obtêm uma posição de justiça diante de Deus
somente sobre a base da justiça imputada de Cristo, não por
alguma coisa que eles tenham feito ou possam fazer, e nem por
alguma coisa que Deus tenha feito em suas vidas, nem por
quaisquer experiências que eles possam ter tido, mas
simplesmente pela obra que Cristo realizou na Terra há dois mil
anos atrás.

Em contraste com estes poucos herdeiros da Reforma


Protestante, há não somente os 800 milhões de membros da
Igreja Católica Romana, mas há também inúmeras igrejas
Protestantes que têm repudiado a Reforma com suas afirmações
ressoantes de “A Bíblia somente” como a fonte da verdade, “a fé
somente” como o meio de justificação diante de Deus, “a graça
somente”, não o mérito humano, como a razão da salvação do
homem, e “Cristo somente” como o provedor desta salvação. Há
também grupos tais como a Igreja Mórmon, que reivindica ser
cristã; a igreja da Unificação, que reivindica ser cristã, os
Cientistas Cristãos, e assim indefinidamente. No século vinte há
milhares de grupos diferentes que reivindicam ser cristãos. O
que, então, em toda esta confusão, é Cristianismo?

A confusão que pragueja o mundo religioso não é restrita ao


significado da palavra cristão. O próprio Evangelho, com o qual
todos aqueles que chamam a si mesmos de cristãos deveriam
concordar, tornou-se tão confuso pelas opiniões de homens ao
ponto de ser quase sem sentido. A antiga Torre de Babel foi
substituída pelas torres de rádio e televisão, à medida que
dezenas de líderes religiosos ensinam os seus próprios
evangelhos nas transmissões de rádio e televisão, todos os dias.

Pat Robertson, como muitos outros líderes religiosos, é


chamado de um “evangélico”. A palavra tem suas raízes no Novo
Testamento Grego, onde o Evangelho é chamado de euaggelion,
as Boas Novas. No tempo da Reforma Protestante, no século
dezesseis, a palavra evangélico foi aplicada aos Reformadores;
porque eles criam e pregavam as Boas Novas, o Evangelho, que
Cristo tinha adquirido salvação para o Seu povo, que os
homens não precisam e não podem adquirir a salvação por suas
próprias obras e experiências, e que estas Boas Novas — este
Evangelho — era encontrada na Bíblia somente. A palavra
evangélico originalmente significa duas coisas: (1) que a Bíblia,
não os líderes da igreja, nem o clero, nem as experiências
humanas, é a única fonte da verdade; e (2) que um pecador
recebe uma posição de justiça diante de Deus por ter a justiça
de Cristo computada em sua conta, através da fé na pessoa e
na obra de Cristo. Estas idéias foram expressas em dois
slogans: sola Scriptura — Escritura somente — e sola fide — fé
somente.

Hoje, contudo, há uma grande quantidade de confusão sobre o


que o Evangelho é, e o que um evangélico é, assim como há
confusão sobre o que um cristão é. Por causa desta confusão,
muitas pessoas, que não crêem no Evangelho, são chamadas de
evangélicos. Seria melhor começar a classificar esta confusão
esclarecendo algumas das idéias religiosas populares que não
são o Evangelho.

Evangelhos Falsificados

O Evangelho não é “Você precisa nascer de novo”.

O Evangelho não é “Você precisa ser cheio com o Espírito


Santo”.

O Evangelho não é “Você precisa ser batizado no Espírito


Santo”.

O Evangelho não é “Você precisa falar em línguas”.

O Evangelho não é “Você pode realizar milagres”.

O Evangelho não é “Deixe Jesus entrar em seu coração”.

O Evangelho não é “Você deve ter uma relação (ou experiência


ou encontro) pessoal com Cristo”.

O Evangelho não é “Arrependa-se”.

O Evangelho não é “Espere um milagre”.

O Evangelho não é “Coloque Jesus no trono de sua vida”.

O Evangelho não é “Jesus deixou um exemplo para nós, de


forma que podemos segui-Lo até o céu”.

O Evangelho não é “Confie em Jesus”.

O Evangelho não é “Deixe tudo nas mãos de Deus”.

O Evangelho não é “Aproxime-se de Deus”.

O Evangelho não é “Cristo morreu por todos os homens e deseja


a salvação de todos”.

O Evangelho não é “Decida-se por Cristo”.

O Evangelho não é “Os cristãos devem dominar a Terra”.


O Evangelho não é “Faça de Jesus o Senhor da sua vida”.

O Evangelho não é “Jesus está voltando novamente”. 

Todas estas mensagens, e presumivelmente muitas outras que


eu nunca ouvi nem sequer imaginei, estão sendo pregadas dos
púlpitos americanos e dos estúdios de televisão como sendo o
Evangelho. Algumas poucas delas são mandamentos tomados
da Escritura. Mas nenhuma delas é o Evangelho. Nem tudo na
Bíblia é o Evangelho. O Evangelho é Boas Novas.

Mas o Evangelho é Boas Novas de uma espécie particular. Não é


boas novas sobre o que os cristãos desfrutarão no céu. Não é
boas novas sobre o que Deus pode fazer ao mudar sua vida.
Não é boas novas sobre o sucesso, prosperidade, saúde,
dinheiro e viver poderoso que Deus deseja que você desfrute.
Muitas pessoas, como Pat Robertson, confundem o Evangelho
com histórias sobre o que Deus tem feito ou pode fazer em suas
vidas. Alguém olhará em vão para os livros e panfletos de Pat
Robertson em busca de uma apresentação do Evangelho de
Jesus Cristo. O que essa pessoa encontrará, ao invés disso, são
numerosos relatos de milagres, falar em línguas, e outras
experiências religiosas impressionantes e excitantes. Nenhuma
dessas coisas é o Evangelho.

Robertson e os carismáticos cometem o mesmo engano que os


setenta discípulos cometeram, como Lucas registra no capítulo
10. Deixe-me repetir a história:

E, depois disso, designou o Senhor ainda outros setenta e


mandou-os adiante da sua face, de dois em dois, a todas as
cidades e lugares aonde ele havia de ir...E voltaram os setenta
com alegria, dizendo: Senhor, pelo teu nome, até os demônios
se nos sujeitam.

E disse-lhes: Eu via Satanás, como raio, cair do céu. Eis que


vos dou poder para pisar serpentes, e escorpiões, e toda a força
do Inimigo, e nada vos fará dano algum. Mas não vos alegreis
porque se vos sujeitem os espíritos; alegrai-vos, antes, por estar
o vosso nome escrito nos céus.

Diferentemente de muitos religiosos que falsamente reivindicam


que eles podem realizar milagres divinos, aqui havia setenta
homens que podiam verdadeiramente realizar milagres divinos.
Deus estava fazendo coisas maravilhosas em suas vidas. Eles
tinham domínio até mesmo sobre os demônios. Mas Jesus lhes
disse explicitamente, “Não vos alegreis nisto”. Cristo lhes deu
um mandamento direto e explícito para não se alegrarem em
suas próprias experiências — experiências que algumas
pessoas hoje promoveriam como “evangelismo de poder” e “cura
de poder”. Os discípulos estavam se focando em suas próprias
experiências, antes do que no que Deus tinha feito desde toda a
eternidade e no que Cristo estava para realizar na cruz. Eles
estavam se alegrando em suas experiências subjetivas. Mas
Cristo lhes disse para regozijarem em algo que eles nunca
tinham experimentado, algo que Deus tinha feito totalmente
fora deles, mesmo antes deles terem nascido. Ele lhes disse
para se regozijarem na doutrina da eleição — que seus nomes
estavam escritos nos céus. Que a eleição é permanente: Seus
nomes estão escritos. Mas muitos, se não todos, daqueles que
estão promovendo curas e milagres hoje, na verdade negam a
doutrina da eleição. Eles crêem que o homem é livre do controle
de Deus. Portanto, eles não têm nada no que se alegrar, senão
nas suas próprias experiências.

A maioria dos livros, artigos, programas de televisão e sermões


chamados “evangélicos” consistem de nada mais do que
histórias sobre as coisas maravilhosas que Deus está fazendo
na vida de uma estrela de cinema, ou na vida de um jogador de
futebol, ou do que Ele pode fazer na sua vida. Eles não contêm
nem sequer uma ligeira sugestão do Evangelho. É impossível
super-enfatizar este ponto. Virtualmente tudo o que é pregado
dos púlpitos e dos estúdios de televisão da América, tanto em
igrejas conservadoras como liberais, não é o Evangelho. É uma
falsificação astuta, e milhões de membros de igreja e
espectadores de televisão estão sendo enganados.

O Evangelho de Jesus Cristo

Em contraste com a quase total dependência de Robertson das


experiências religiosas subjetivas, o apóstolo Paulo nos diz o
que é o Evangelho em 1 Coríntios 15:

Também vos notifico, irmãos, o evangelho que já vos tenho


anunciado, o qual também recebestes e no qual também
permaneceis; pelo qual também sois salvos, se o retiverdes tal
como vo-lo tenho anunciado, se não é que crestes em vão. 

Porque primeiramente vos entreguei o que também recebi: que


Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras, e
que foi sepultado, e que ressuscitou ao terceiro dia, segundo as
Escrituras.

Este é o Evangelho, e este Evangelho é pregado em mui poucas


das assim chamadas igrejas cristãs hoje: Cristo morreu pelos
nossos pecados segundo as Escrituras, Ele foi sepultado, e
ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras.

Por causa da confusão religiosa contemporânea, há vários


aspectos do Evangelho de Paulo que demandam elucidação.
Primeiro, o Evangelho diz respeito à história, não a uma lenda
ou mito. Ele não é, como Pedro diz, “fábulas engenhosamente
inventadas”. Quando Paulo menciona Jesus Cristo, ele quer
dizer uma personalidade histórica real como George
Washington ou Julius Caesar. Ele não está falando de um
“Cristo” experiencial que imaginamos. Há muitos “Cristos” e
“Deuses” diferentes sendo pregados hoje. As
palavras Jesus, Cristo e Deus tornaram-se quase sem sentido
no século vinte, como temos visto, e a menos que alguém diga
exatamente qual “Cristo” ele quer dizer, ninguém, incluindo ele
mesmo, não pode saber. Paulo faz isso. Seu Cristo é uma figura
histórica, não uma voz, nem uma visão, nem um sonho.

Segundo, o Evangelho diz respeito ao passado, não ao presente


ou futuro. É história. O Evangelho não descreve qualquer ação
presente ou futura que Deus ou o homem possa fazer. O
Evangelho é novas sobre ações que Deus, em Cristo, realizou há
2.000 anos atrás para salvar o Seu povo, ações que são
totalmente externas às nossas experiências. Assim como todos
os homens foram condenados pelo pecado de Adão, que foi algo
totalmente externo à nós, assim também todos do povo
escolhido de Deus foram salvos pela obediência de Cristo até a
morte, que foi totalmente externa à experiência deles. Assim
como o Evangelho é história, e não lenda; e assim como o
Evangelho diz respeito ao passado, não ao presente ou futuro;
assim também o Evangelho é sobre algo que Deus fez, não algo
que devamos ou possamos fazer. Cristo é tanto o autor como o
consumador da nossa salvação. Não completamos o que Ele
começou; Cristo disse, “Está consumado”.
Terceiro, o Evangelho diz respeito ao que Cristo fez
pelo Seu povo: Cristo morreu pelos nossos pecados, não pelos
pecados de todos no mundo, mas pelos pecados do Seu povo
somente. Ele não morreu pelos pecados de Judas, por exemplo,
porque Judas foi para o inferno. Se Cristo tivesse morrido pelos
pecados de Judas, porque Judas foi para o inferno? Foi por
causa da sua incredulidade, por sua falha em “deixar Jesus
entrar em seu coração”? Mas a incredulidade e a falha em
“aceitar” Cristo são admitidamente pecados, e Cristo, segundo
este falso, mas popular evangelho, morreu por todos os pecados
de Judas. Assim, a pergunta permanece sem resposta: Se Cristo
morreu por todos os homens, porque alguns destes homens são
castigados no inferno?

As Escrituras ensinam que Cristo não morreu por todos os


homens. Ele veio à Terra para salvar alguns homens, aos quais
a Bíblia chama “Seu povo”, “as ovelhas”, “amigos” e “a igreja”,
entre outros nomes, e que Ele realmente adquiriu salvação para
eles. Ele não veio meramente oferecer salvação a todos homens
e esperar que alguns destes homens aceitariam Sua oferta. Ele
veio para salvar o Seu povo, e assim Ele o fez.

O Evangelho é uma mensagem objetiva e histórica. Ele não diz


respeito às nossas experiências, de forma alguma. Ele não diz
respeito às nossas obras, mas às obras de Deus. Ele não diz
respeito aos nossos alegados milagres, mas à morte e
ressurreição de Cristo. Regeneração — algumas vezes chamada
de novo nascimento — santificação, fé e a Segunda Vinda — são
todas conseqüências do que Cristo realizou há 2.000 anos atrás
na Judéia. Elas não devem ser confundidas com o Evangelho,
porque efeitos não devem ser confundidos com causas.

Todo o Conselho de Deus

Mas há mais no relato de Paulo do Evangelho do que pode


parecer numa leitura superficial. O que temos descoberto até
agora é totalmente diferente do que se passa por Evangelho
nesta era decadente. Mas há muito o que dizer ainda. Paulo usa
a frase “segundo as Escrituras” duas vezes neste relato conciso
do Evangelho. Seu sumário inteiro do Evangelho usa somente
27 palavras na tradução New King James (e um pouco menos
no grego), e oito daquelas palavras são “segundo as
Escrituras...segundo as Escrituras”. A frase é obviamente muito
importante. Por que Paulo a repete? O que ela significa?

O Evangelho, segundo Paulo, está incorporado numa coisa


muito maior: ele está incorporado em todas as Escrituras. Não
somente são as Escrituras a única fonte de informação confiável
que temos sobre a vida, morte, sepultamento e ressurreição de
Cristo, mas somente as Escrituras explicam aqueles eventos. O
Evangelho não é meramente que Cristo morreu; assim também
aconteceu com Paulo. O Evangelho não é meramente que Ele foi
sepultado; assim o foi Abraão. O Evangelho não é meramente
que Cristo ressuscitou, pois Lázaro também ressuscitou. O
Evangelho é que Cristo morreu pelos nossos pecados segundo
as Escrituras. E que Ele ressuscitou ao terceiro dia segundo as
Escrituras. O Evangelho está de acordo com e é explicado pelas
Escrituras, todos os sessenta e seis livros dela. Quando Cristo
explicou Sua ressurreição aos discípulos, Ele o fez explicando
as Escrituras:

E, começando por Moisés e por todos os profetas, explicava-lhes


o que dele se achava em todas as Escrituras....Abriram-se-lhes,
então, os olhos, e o conheceram, e ele desapareceu-lhes. E
disseram um para o outro: Porventura, não ardia em nós o
nosso coração quando, pelo caminho, nos falava e quando nos
abria as Escrituras?...Então, abriu-lhes o entendimento para
compreenderem as Escrituras. 

Ao enfatizar a frase “segundo as Escrituras”, Paulo está


enfatizando o fato de que o Evangelho é parte de um sistema de
verdade nos dado na Bíblia. Todas as partes deste sistema se
encaixam. Todas as declarações da Bíblia são logicamente
consistentes umas com as outras. Para dar um único exemplo
disto, o nascimento, vida, morte e ressurreição de Cristo
cumpriram profecias específicas dadas séculos antes. A cidade
exata onde Ele nasceria foi predita centenas de anos antes do
Seu nascimento; o fato de que Seu nascimento seria incomum,
pois Sua mãe seria uma virgem, foi predito séculos antes do
Seu nascimento; Sua morte no meio dos ímpios e Seu
sepultamento entre os ricos fora predito; e o próprio Cristo
predisse Sua ressurreição. As proposições específicas que Paulo
chama de Evangelho em 1 Coríntios 15 não permanecem
sozinhas. Elas implicam e são implicadas por muitas outras. A
escolha de Deus o Pai daqueles que deveriam ser salvos, o
sofrimento do castigo devido à eles, por causa dos seus
pecados, por Jesus Cristo no Calvário, e o dom da fé aos eleitos
por Deus o Espírito são todos partes do sistema de verdade
ensinado na Bíblia. Eles são os três grandes aspectos da
redenção: eleição, expiação e fé. E o Evangelho, a doutrina da
expiação, é o tema central. É impossível defender o Evangelho,
ou mesmo pregar o Evangelho, sem defender e explicar o
sistema de verdade do qual ele é uma parte.

As frases enfáticas de Paulo em 1 Coríntios 15 indicam que


aqueles que desejam separar o Evangelho do sistema de
verdade encontrado na Bíblia não o podem fazer. O Evangelho,
embora uma parte distinta do sistema bíblico, é, todavia, uma
parte do sistema. Este sistema é totalmente expresso na
Escrituras. As proposições que Paulo chama de Evangelho são
algumas das proposições da Escritura. Porque o Evangelho é
parte do sistema escriturístico de verdade, é impossível
defender o Evangelho sem defender todo o sistema. Uma ênfase
exclusiva nos “fundamentos” da fé, em vez de uma ênfase em
“todo o conselho de Deus”, que é a frase que a Bíblia usa, é
fútil. Seis ou oito verdades desconexas, mesmo que sejam as
doutrinas principais do Cristinianismo, não é todo o conselho
do Cristianismo, e não podem ser defendidas eficazmente. O
fundamentalismo não oferece nenhuma ameaça às filosofias
seculares pois ele é logicamente não-sistemático e
desconjuntado, uma mera sombra do robusto Cristianismo que
encontramos na Bíblia.

Paulo enfatizou as Escrituras, mas esta ênfase nos escritos não


é exclusiva de Paulo. Quando explicando e defendendo o
Cristianismo, Cristo sempre apelava às Escrituras, e nunca às
Suas próprias experiências. Durante Sua tentação no deserto,
Cristo citou a Escritura em resposta a cada uma das tentações
do Diabo: “Está escrito”, “Está escrito”, “Está escrito”. O que faz
este apelo ainda mais significante é o contexto no qual ele
ocorreu. Cristo tinha acabado de ser batizado no rio Jordão por
João o Batista. Ele tinha ouvido uma voz do Céu dizendo, “Este
é o meu Filho amado, em quem me comprazo”. O Espírito Santo
tinha descido sobre Ele na forma de uma pomba. Fale sobre
estas experiências religiosas! Ninguém mais, nem antes nem
depois, teve tais surpreendentes experiências. Todavia, Cristo
não disse ao Diabo o que tinha Lhe acontecido, a voz do Céu e a
doação do Espírito Santo. Por que não? Por que Cristo ignorou
tudo isto e citou o que muitos hoje chamariam de letra morta
da Bíblia? Por que Cristo respondeu ao Diabo citando a
Escritura ao invés de relatar Suas experiências espirituais
recentes e únicas? Porque a Escritura é a palavra escrita
objetiva de Deus. A Bíblia, não a nossa experiência, é
autoritativa. Se Cristo não apelou à Sua experiência, e ela foi
muitíssimo maior do que a experiência que qualquer mero
homem possa esperar ter, não há absolutamente nenhuma
justificativa para o nosso apelo às nossas miseráveis e
possivelmente enganosas experiências.

Era, na verdade, o Diabo que queria que Cristo apelasse às


Suas experiências pessoais: Ele queria que Cristo realizasse um
milagre; Cristo se recusou. Ele queria que Cristo desse um salto
de fé do pináculo do tempo, presumindo que Deus o Pai
realizaria um milagre; Cristo se recusou. Ele queria que Cristo
O adorasse, evitando os sofrimentos infernais da cruz, e através
disso, ganhar domínio sobre todos os reinos do mundo;
novamente Cristo se recusou.

O Diabo usou o mesmo apelo à experiência no Jardim, quando


ele tentou Eva: ele prometeu à Eva que ela se tornaria como
Deus, quando ela comesse o fruto proibido. E Eva “viu que a
árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore
desejável para dar entendimento”. Confiando na sua
experiência, e buscando uma experiência ainda mais
maravilhosa, Eva abandonou a Palavra de Deus. O segredo da
resistência intransigente de Cristo à tentação diabólica foi
precisamente o fato de que Ele não preferiu as Suas próprias
experiências à Palavra de Deus.

O apóstolo Pedro também enfatiza a Palavra escrita de Deus.


Ele climatiza seu relato do testemunho concernente à verdade
da fé cristã mencionando a Escritura. Em sua segunda carta,
Pedro diz,

Porque não vos demos a conhecer o poder e a vinda de nosso


Senhor Jesus Cristo seguindo fábulas engenhosamente
inventadas, mas nós mesmos fomos testemunhas oculares da
sua majestade, pois ele recebeu, da parte de Deus Pai, honra e
glória, quando pela Glória Excelsa lhe foi enviada a seguinte
voz: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo. Ora,
esta voz, vinda do céu, nós a ouvimos quando estávamos com
ele no monte santo. 

Temos, assim, tanto mais confirmada a palavra profética, e


fazeis bem em atendê-la, como a uma candeia que brilha em
lugar escuro, até que o dia clareie e a estrela da alva nasça em
vosso coração.

Uns poucos versos antes Pedro tinha escrito que “pelo seu [de
Deus] divino poder, nos têm sido doadas todas as coisas que
conduzem à vida e à piedade, pelo conhecimento completo
daquele que nos chamou para a sua própria glória e virtude”.
Por favor, note a frase “todas as coisas”. Mais tarde, no mesmo
capítulo, Pedro novamente diz que a Escritura é a única forma
de termos este conhecimento: a Escritura, a palavra profética
tanto mais confirmada, é a luz que brilha em lugar escuro —
não num lugar luminoso, nem mesmo num lugar vagamente
luminoso, mas num lugar escuro. Não há outras fontes para
este conhecimento, incluindo o conhecimento do Evangelho,
além das Escrituras. A Bíblia reivindica ter um monopólio da
verdade. Os carismáticos, como todas as outras seitas e
religiões falsas, negam este monopólio. Eles denigrem a Bíblia e
baseiam sua religião nas suas experiências religiosas.

Mas o Evangelho não são relatos das nossas experiências


pessoais, nem mandamentos que devamos obedecer. O
Evangelho são as Boas Novas do que Cristo fez pelo Seu povo
há 2.000 anos atrás. Ele não é sobre o novo nascimento, nem
sobre a Segunda Vinda, nem sobre as atividades do Espírito
Santo em nossos corações. O Evangelho são proposições sobre
eventos históricos que aconteceram totalmente fora de nós. Ele
tem conseqüências e implicações para nós hoje, certamente,
mas estas conseqüências são efeitos do Evangelho, e não devem
ser confundidas com o próprio Evangelho. O erro fatal da Idade
das Trevas foi confundir a obra de Deus por nós com a obra de
Deus em nós, e assim perverter o Evangelho. O mesmo erro
está espalhado entre os assim chamados evangélicos hoje, os
quais não distinguem entre o que Cristo fez por nós e o que o
Espírito Santo pode fazer em nós. Nós re-entramos rapidamente
na Idade das Trevas porque a luz e a clareza do Evangelho se
perderam. 

Março/Abril 1988
Traduzido por: Felipe Sabino de Araújo Neto
Cuiabá-MT, 08 de Abril de 2005.

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Proclamando o Evangelho Genuíno de CRISTO JESUS, que é o poder de DEUS para salvação de todo
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