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FACULDADE ANÍSIO TEIXEIRA (FAT)

CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO

MARIA EDUARDA DE SOUZA CUNHA MENEZES


MARLLISE ARAÚJO DE SENA
VICTÓRIA ESTHER DE SÁ SANTOS

ANÁLISE DE ARTIGO ACADÊMICO

Feira de Santana – BA
2020
MARIA EDUARDA DE SOUZA CUNHA MENEZES
MARLLISE ARAÚJO DE SENA
VICTÓRIA ESTHER DE SÁ SANTOS

ANÁLISE DE ARTIGO ACADÊMICO


Trabalho apresentado ao curso de Bacharelado
em Direito da Faculdade Anísio Teixeira, como
requisito para avaliação da I Unidade, na
disciplina Direito Empresarial I. Semestre
2020.1, Turma V01.

Orientador: Inácio Patrício.

Feira de Santana – BA
2020
O artigo Desconsideração da Personalidade Jurídica: um Estudo Doutrinário,
Normativo e Jurisprudencial Atualizado (Incluindo o Novo Código de Processo Civil),
elaborado por Carlos da Fonseca Nadais versa sobre a desconsideração da personalidade
jurídica, abarcando o posicionamento mais moderno das normas, da doutrina e da
jurisprudência acerca do tema.
Inicialmente, o autor trata sobre a distinção entre o patrimônio dos sócios e da
sociedade, trazendo como um dos mecanismos de proteção ao empreender a
possibilidade de criação de uma personalidade própria, que é utilizada no
desenvolvimento do seu empreendimento, a fim de evitar que o patrimônio do
empresário/empreendedor seja responsabilizado pelas dívidas decorrentes da atividade
empresarial.

Segundo Carlos, a pessoa jurídica é um artificio jurídico, criado para estimular e


facilitar a produção de bens e serviços, ou seja, o empreendedorismo. No entanto,
alguns empreendedores utilizam da proteção conferida a eles com a finalidade de
fraudar credores, o que acaba por prejudicar o mercado, o Estado, bem como toda a
sociedade. Neste sentido, o ordenamento jurídico cria o mecanismo para impedir tais
indivíduos, ou seja, a desconsideração da personalidade jurídica.

O Código Civil de 2002 normatizou a conduta que já vinha sendo adotada pela
jurisprudência, de desconsiderar a personalidade jurídica, a fim de imputar aos sócios ou
administradores a responsabilidade pelo ato ilícito praticado pela empresa. De tal sorte,
os bens particulares dos sócios que concorreram para a prática do ato respondem pela
reparação dos danos provocados pela sociedade.

Assim dispõe o art. 50 do CC/2002: “em caso de abuso da personalidade


jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade ou pela confusão patrimonial, pode o
juiz, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no
processo, desconsiderá-la para que os efeitos de certas e determinadas relações de
obrigações sejam estendidos aos bens particulares de administradores ou de sócios da
pessoa jurídica beneficiados direta ou indiretamente pelo abuso”.

É importante ressaltar que o Estado, por meio do Poder Judiciário, é que tem a
prerrogativa de desconsiderar a personalidade jurídica, através do devido processo legal.
Além disto, esta desconsideração é incidental e unicamente no processo em que foi
requerido, isto significa de dizer que fora do processo, a personalidade jurídica continua
intacta para todos os seus efeitos. Neste sentido, a teoria da desconsideração da
personalidade jurídica não tem como finalidade acabar com a pessoa jurídica, mas
apenas suspender seus efeitos.

É a denominada disregard doctrine do direito norte-americano, que autoriza o


Poder Judiciário a ignorar a autonomia patrimonial entre a empresa e seus sócios ou
administradores, sempre que for manipulada para prejudicar os credores. Desta forma, o
patrimônio dos sócios é alcançado na reparação de danos provocados pela empresa a
terceiros, quando houver desvio de finalidade ou confusão patrimonial, para os quais os
gestores tenham concorrido.

O autor apresenta quatro formas distintas de efetivação da desconsideração da


personalidade jurídica, quais sejam: direta; incidental; inversa e indireta. A primeira se
caracteriza quando a fraude aos credores se apresenta de logo, podendo a
desconsideração ser intentada para alcançar apenas aqueles que praticaram o ato lesivo
aos credores. Já a modalidade incidental se observa quando a fraude aos credores não é
detectada no início do processo, mas sim quando ele já está em curso, podendo a
desconsideração ser intentada sem necessidade de ingressar com uma ação autônoma,
devendo ser assegurado o contraditório.

A terceira forma, ou seja, a inversa, é totalmente diferente da que vimos até o


momento. Ao contrário de desconsiderar a autonomia patrimonial da pessoa jurídica
para alcançar os bens dos sócios ou dos administradores, a intenção é de avançar sobre
os bens da própria pessoa jurídica, para satisfação dos credores ou dos sócios. A
aplicação da desconsideração inversa segue os mesmos requisitos da direta, ou seja,
pressupõe abuso de direito, consubstanciado pelo desvio de finalidade da pessoa jurídica
ou pela confusão patrimonial.

A última forma, a desconsideração indireta, manifesta-se quando atinge um


grupo econômico, que se utiliza de uma controlada como algum objetivo ilício. Neste
caso, a sociedade controladora se submete a sociedade controlada, utilizando-se da sua
posição dominante com a finalidade de fraudar credores, assim, a desconsideração se
aplica ao grupo, desconsiderando a personalidade jurídica da sociedade controlada para
alcançar a sociedade controladora.

Em seguida o autor faz menções as figuras jurídicas inseridas na


desconsideração da personalidade jurídica, inicialmente trazendo o conceito de “pessoa
jurídica” na visão de Diniz que uma realidade autônoma, capaz de direitos e obrigações,
independente de seus sócios, e atua sem qualquer ligação com a vontade deles; desse
modo, a priore, o patrimônio dos sócios não se confunde com o patrimônio socia e essa
autonomia patrimonial deixa uma abertura razoável, para que os credores sejam lesados,
mediante abuso de direito, caracterizado por desvio de finalidade ou confusão
patrimonial, como destacado no art. 50 do Código Civil (supracitado).

Explica ainda as posições dos adeptos a teoria objetiva ou teoria maior que
segundo o mesmo, consideram abusivo o direito exercido contrariamente aos seus fins
sociais e econômicos, independentemente do interesse do agente. E entende que os
adeptos da teoria subjetiva ou teoria menor consideram abusivo o direito quando
identificada a intenção do agente em causar prejuízo ou, pelo menos, a consciência da
inexistência de interesse pelo titular do direito, irregularmente exercido. Essas duas
teorias levam ao cabimento da Disregad of legal entity (Desconsideração da
Personalidade Jurídica), mas, a regra geral está na Teoria Maior, entretanto, na prática, é
a teoria Menor que tem ganhado mais relevância nos Poderes Legislativo e Judiciário.

Já no o ordenamento jurídico brasileiro, o Código de Defesa do Consumidor –


Lei nº 8.078/1990 – foi o primeiro instrumento normativo brasileiro com menção
expressa da desconsideração da pessoa jurídica, presente no art. 28, que dispõe: “O juiz
poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade quando, em detrimento do
consumidor, houver abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato
ilícito ou violação dos esta tutos ou contrato social. A desconsideração também será
efetivada quando houver falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade
da pessoa jurídica provocados por má administração.”

A Lei de Concorrência ou Lei Antitruste – Lei nº 8.884/1994 – vem com o


mesmo sentido, também para não punir, mas para assegurar interesse do mercado.
Revogada pela Lei nº 12.529/2011, faz referência também à desconsideração da
personalidade jurídica, valendo-se das figuras elencadas no art. 28 do CDC: “A
personalidade jurídica do responsável por infração da ordem econômica poderá ser
desconsiderada quando houver da parte deste abuso de direito, excesso de poder,
infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social. A
desconsideração também será efetivada quando houver falência, estado de insolvência,
encerramento ou inatividade da pessoa jurídica provocados por má administração”.
Adiante, no texto legislativo da Lei Proteção ao Meio Ambiente, também
destaca, expressamente, a desconsideração da personalidade jurídica como se depreende
na leitura dos arts. 225, § 3º, e 170, inciso VI, da Constituição Federal. E, segundo o
autor, embora não replique, expressamente, as figuras jurídicas dos outros dispositivos
legais, não há que se falar de sua inaplicabilidade na seara ambiental, sendo a
responsabilidade é objetiva, pois o mote da legislação ambiental é retirar obstáculos ao
ressarcimento dos danos ambientais (art. 4º da Lei nº 9.605/1998).

Ademais, o Código Civil, no art. 50, permite a desconsideração da personalidade


jurídica em caso de abuso de direito que causa prejuízo a terceiros, mais adequado à
teoria maior, ou seja, a responsabilidade é subjetiva, sendo preciso comprovar a má
utilização da personalidade jurídica. O Código Tributário Nacional, também aplica tal
teoria, em suas execuções fiscais, o requisito indispensável para a desconsideração da
personalidade jurídica é existência de atos praticados pelos sócios ou administradores,
segundo Torres (2005, p. 68), com excesso de poder ou infração à lei, contrato social ou
estatutos.

No § 2º do art. 2º da Consolidação das Leis do Trabalho, como as legislações


supramencionas, possibilita-se a aplicação da teoria da desconsideração da
personalidade jurídica:”§ 2º Sempre que uma ou mais empresas, tendo embora, cada
uma delas, personalidade jurídica própria, estiverem sob a direção, controle, ou
administração de outra, constituindo grupo industrial, comercial ou qualquer outra
atividade econômica, serão, para os efeitos da relação de emprego, solidariamente
responsáveis a empresa principal e cada uma das subordinadas”. Sendo a
responsabilidade objetiva, não é necessário prova da fraude ou abuso de direito.

Além disto, no que tange a legislação societária que está amparada pela Lei De
Sociedades Anônimas, administradores e acionistas terão algumas responsabilidades se
causarem danos; ou por culpa, dolo ou violação ao estatuto da lei, ou por abuso de
poder. Dessa maneira, ocorre a imputação de responsabilidade direta e pessoal dos
sócios e administradores e não efetivamente a desconsideração da personalidade
jurídica. Outro caso em que os condutores da empresa serão atingidos diretamente
ocorre na fase de liquidação extrajudicial decretada, onde os bens destes ficarão
indisponíveis até que se cumpra a fase.
Também, nos casos em que se referem a licitações, disposto no art. 37 da CF/88
não será considerado a desconsideração da personalidade jurídica se forem amparados
pelo princípio da legalidade. Entretanto, como não há posicionamento normativo, os
casos serão tratados pelo princípio da moralidade, ocorrendo à desconsideração da
personalidade jurídica e por fim, os efeitos das sanções administrativas recairão sobre o
grupo econômico, que possui os sócios, corpo diretivo e endereço. Outra situação onde
também ocorre a desconsideração da personalidade jurídica das sociedades são os dos
atos de improbidade administrativa, que se configuram como uma espécie de corrupção
na esfera pública, de acordo com a Lei n° 12.846/1913.

De acordo com o Código de Processo Civil de 2015, algumas obrigações


processuais devem ser reconhecidas e obedecidas para a análise da desconsideração da
personalidade jurídica, sendo elas: a boa-fé processual, o dever de cooperação efetiva e
o efetivo contraditório. Estes norteadores serão utilizados nos ramos, administrativos ou
judiciais, em que não há procedimento especifico para a desconsideração da
personalidade jurídica. Do artigo 133 aos 137 do NCPC, é abordado o viés processual
de todo o processo de desconsideração da personalidade jurídica, estes aparatos são
necessários para que haja satisfação do credor, tendo a finalidade da prestação
jurisdicional.

Portanto, diretores, gerentes ou representantes serão responsabilizados por


obrigações da pessoa jurídica, em situações em que se apliquem a desconsideração da
personalidade jurídica, sendo esta uma importante ferramenta jurídica para se atingir a
pacificação do direito esbulhado. Em suma, a desconsideração da personalidade jurídica
busca uma decisão eficaz para a prestação jurisdicional.

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