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A graça e a generosidade de Deus

"Mas o proprietário respondendo, disse a um deles: Amigo, não te faço


injustiça; não combinaste comigo um denário? Toma o que é teu e vai-te; pois
quero dar a este último tanto quanto a ti." (Mateus 20:13 e 14)

O início da remuneração pelo trabalho prestado por alguém a outrem é muito antiga
e perde-se no tempo. Nem sempre o pagamento era feito em dinheiro, mas em
espécie. As primeiras relações trabalhistas que a Bíblia nos mostra foram as de dois
parentes: Labão e Jacó; estas foram relações muito difíceis e Jacó desabafou com o
seu tio: "Vinte anos permaneci em tua casa; catorze anos te servi por tuas duas
filhas e seis anos por teu rebanho; dez vezes me mudaste o salário."(Gênesis
31:41). Em pleno Egito, Joquebede recebia salário para cuidar de seu próprio filho,
Moisés: "Então, lhe disse a filha de Faraó: Leva este menino e cria-mo; pagar-te-
ei o teu salário. A mulher tomou o menino e o criou." (Êxodo 2:9). Num princípio
de justiça ampla, a lei mosaica estabelecia que até os animais tinham o direito à
ração enquanto trabalhavam: "Não atarás a boca ao boi quando debulha."
(Deuteronômio 25:4). Jesus, em Lucas 10:7b, diz: "Porque digno é o trabalhador
do seu salário".

O salário é fruto de um serviço prestado, e o profeta Jeremias faz uma grave


advertência aos desavisados: "Ai daquele que edifica a sua casa com injustiça e
os seus aposentos, sem direito! Que se vale do serviço do seu próximo, sem
paga, e não lhe dá o salário do seu trabalho." (Jeremias 22:13). A recíproca
também é verdadeira e Paulo chega a ser bastante contundente quando sentencia:
"se alguém não quer trabalhar, também não coma." (2Tessalonicenses 3:10).

O texto de Mateus 20:1 diz: "Porque o reino dos céus é semelhante a um dono
de casa que saiu de madrugada para assalariar trabalhadores para a sua
vinha." (Mateus 20:1). Foram contratados trabalhadores em cinco diferentes
horários: alguns começaram a trabalhar às seis da manhã, outros às nove e ao meio
dia; outros, ainda, às quinze e outros, às dezessete horas. O expediente encerrava-
se às dezoito horas. Por conseguinte, uns trabalharam doze horas; outros, nove;
outros, seis; outros, três e outros, apenas uma hora. E o salário? Igual para todos.

Numa sociedade moderna e utilitarista, torna-se impossível à compreensão humana


o relato bíblico da parábola dos trabalhadores e o mesmo se deu com os próprios
trabalhadores que se julgaram injustiçados. A reação do líder foi imediata: "Estes
últimos trabalharam apenas uma hora; contudo, os igualaste a nós, que
suportamos a fadiga e o calor do dia." (Mateus 20:12). Na reclamação estava o
princípio de que salário é o preço pago ao trabalhador por um número determinado
de horas. Se o trabalhador não trabalhou o dia inteiro, ele não merecia a diária
completa. A acusação ao proprietário era de que ele não fora um homem justo. O
conceito humano baseia-se na troca, no labor, no esforço. Porém, Deus não
raciocina com a nossa cabeça: "Porque os meus pensamentos não são os

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vossos pensamentos, diz o Senhor." (Isaías 55:8 a). O homem quer limitar Deus na
sua própria limitação. Certa feita, Jesus usou de palavras duras para com Pedro, por
este não ter alcance das coisas espirituais: "Jesus, porém, voltou-se e, fitando os
seus discípulos, repreendeu a Pedro e disse: Arreda, Satanás! Porque não
cogitas das coisas de Deus, e sim das dos homens." (Marcos 8:33).

O proprietário não podia ser acusado de ser injusto, porque ele conhecia bem a lei e
a cumpriu fielmente. Fez o pagamento ao final do dia. A lei dizia: "Não oprimirás o
trabalhador pobre e necessitado, seja ele teu irmão, ou estrangeiro que está na
tua terra e na tua cidade. No mesmo dia lhe darás o seu salário, antes do pôr-
do-sol porquanto é pobre, e disso depende a sua vida; para que não clame
contra ti ao Senhor, e haja em ti pecado." (Deuteronômio 24:14 e 15). Mas o que
este senhor fez para contrariar a tantos? Foi a sua graça, ao distribuir o pagamento e
a inversão na ordem. Os trabalhadores rejeitados foram os primeiros a receber. Os
trabalhadores acharam que o proprietário não tinha o direito de agir daquela maneira.
O que diz a Bíblia? "Ao Senhor pertence a terra e a tudo o que nela se contém, o
mundo e os que nele habitam." (Salmos 24:1). E em Ageu 2:8 lemos: "Minha é a
prata, meu é o ouro, diz o Senhor dos Exércitos". Baseado única e
exclusivamente na Palavra, o senhor disse aos resmungadores: "Toma o que é teu
e vai-te; eu quero dar a este último tanto quanto a ti. Não me é licito fazer o que
quero do que é meu?" (Mateus 20:14 e 15).

O homem natural sempre tentou conter Deus dentro das sua próprias medidas.
Lutero, numa de suas cartas a Erasmo, escreveu: As tuas idéias sobre Deus são
demasiado humanas. Deus é soberano e exerce sua supremacia sobre tudo e todos.
Sua Palavra diz: "No céu está o nosso Deus e tudo faz como que lhe
agrada."(Salmos 115:3). O homem brinca de ensinar Deus. Paulo foi precioso na
exposição a respeito da soberania de Deus, em Romanos 9:13 a 15 e 20 e 21:
"Como está escrito: Amei Jacó, porém me aborreci de Esaú". Paulo pergunta:
"Que diremos, pois? Há injustiça da parte de Deus? De modo nenhum! Pois ele
diz a Moisés: Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia e
compadecer-me-ei de quem me aprouver ter compaixão. Quem és tu, ó homem,
para discutires com Deus?! Porventura, pode o objeto perguntar a quem o fez:
Por que me fizeste assim? Ou não tem o oleiro direito sobre a massa, para do
mesmo barro fazer um vaso para honra e outro, para desonra?" Uma mulher
veio, certa vez, encontrar-se com o pastor Spurgeon, citou o verso sobre Esaú e
Jacó e disse que esse verso a perturbava, porque pensava que Deus amava a todos
igualmente. A resposta foi esta: Isso não é o que me molesta, minha senhora. O que
me molesta é como podia Deus amar a Jacó, pois Jacó não o merecia.

G.S. Bishop definiu assim a graça: A graça é uma provisão para homens que se
acham tão decaídos que não podem erguer o machado da justiça, tão corruptos que
não podem mudar a sua própria natureza, tão contrários a Deus que não podem
voltar-se para ele, tão cegos que não podem vê-lo, tão surdos que não podem ouvi-
lo, e tão mortos que ele mesmo precisa abrir os seus túmulos e levantá-los para a
ressurreição. A graça é atributo de Deus na pessoa de Cristo: "Temos recebido da
sua plenitude e graça sobre graça." (João 1:16).

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Aquele Senhor da vinha, Jesus Cristo, ao entardecer de um dia, pagou um salário
que não devia. Era o salário do pecado, "porque o salário do pecado é a
morte."(Romanos 6:23a). Ele cumpriu um decreto de Deus que dizia: "A alma que
pecar, essa morrerá; e todos pecaram e carecem da glória de Deus." (Ezequiel
18:20a e Romanos 3:23). Esse é o salário que a humanidade merece, todos,
indistintamente. No relógio do tempo não se conta a data da chegada a este mundo,
nem mesmo o país, o salário será sempre o mesmo – a morte eterna. Jesus foi
colocado numa cruz e na sua morte satisfez a justiça de Deus; nos incluiu naquela
morte, matando nossa velha natureza e, na sua ressurreição, nos deu sua vida.
Somos agora uma nova criação. Tudo isso foi feito por sua graça e generosidade:
"Não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo sua misericórdia,
ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo,
que ele derramou sobre nós ricamente por meio de Jesus Cristo, nosso
Salvador, a fim de que, justificados por sua graça, nos tornemos seus
herdeiros, segundo a esperança da vida eterna." (Tito 3:5 a 7). Amém.

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