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NOÇÕES E PRINCÍPIOS DO DIREITO CONTRATUAL 

 
Noção Geral de Contrato 
 
O  artigo  421  do  Código  Civil  inicia  a  normativa  dos  contratos  enunciando  que  a  liberdade  de 
contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato.  
 
 
É  o  acordo  de  vontades,  ou  negócio  jurídico,  entre  duas  ou  mais  pessoas  (físicas  ou  jurídicas) 
com  finalidade  de  adquirir,  resguardar,  modificar  ou  extinguir  direitos  de  natureza 
patrimonial.  Todos  os  contratos  são  atos  jurídicos bilaterais, pois resultam de uma conjugação 
de duas ou mais vontades. 
 
Como  se  pode  verificar,  contrato  é  manifestação  bilateral  de  vontade  dirigida  a  um  fim 
querido  pelas  partes,  a  sua  consubstanciação  em  instrumento  escrito,  ou  não,  nada  tem a ver 
com  sua  essência,  embora  esteja  a  facilitar  a  prova  de  que  realmente  tenha  existido 
consentimento. 
 
Contrato  é  toda  manifestação  bilateral  de  vontade  visando  um  fim  querido  pelas  partes,  ou 
por,  pelo  menos,  uma  delas.  Caio  Mário  da  Silva  Pereira,  conceitua  contrato  como  negócio 
jurídico  -  e  por  isso  exige-se  o  consentimento  como  sua  própria  essência  -  em  conformidade 
com  a  ordem  legal,  com  a  finalidade  de  adquirir,  resguardar,  transferir,  conservar,  modificar 
ou extinguir direitos.  
 
É  importante  que  o  recém  iniciado  nos  estudos  dos  contratos  perca  o  pré-conceito  de  que 
somente  seria  contrato  a  manifestação  bilateral  de  vontade  escrita.  Como  se  pode  verificar, 
contrato  é  manifestação  bilateral  de  vontade  dirigida  a  um  fim  querido  pelas  partes,  a  sua 
consubstanciação  em  instrumento  escrito,  ou  não,  nada  tem  a  ver  com  sua  essência,  embora 
esteja a facilitar a prova de que realmente tenha existido consentimento. 
 
Outro  ponto  a  se  destacar  é  que  os  contratos  podem  ser  classificados  de  diversas  formas:  há 
contratos  nos  quais  o  só  consentimento  das  partes  é  capaz  de  realizar  a  finalidade,  são  os 
contratos  consensuais;  outros  há que somente operam efeitos com a tradição do objeto, são os 
contratos  reais;  há  também  os  contratos  formais,  que  são  aqueles  que  dependem  de  uma 
forma  rígida  para  que  cumpram  o  seu  mister.  Os  contratos  podem  ser  típicos,  atípicos  e 
mistos.  Os  típicos  são  aqueles  que  possuem  normativa  legal  bem  definida,  possuindo  boa 
delineação legal; os atípicos são aqueles que possuem normativa legal indireta, ou seja, é dado 
às  partes  uma  maior  margem  de  atuação,  podendo  definir  mais  ao  seu  modo  a  estrutura 
contratual;  os  contratos  mistos  são  aqueles  que  mesclam  a  tipicidade  legal  à  atipicidade 
querida  das  partes.  Quanto  à  onerosidade,  os  contratos  podem  ser  gratuitos  e  onerosos,  os 
onerosos  são  aqueles  que  representam  modificação patrimonial de ambas as partes, sendo que 
cada  uma  terá  que  despender  uma  prestação  com  apreciação  econômica;  os  contratos 
gratuitos  somente  serão  gratuitos  para  uma  das  partes,  sendo  que  a outra terá que despender 
uma  prestação  com  valor  econômico.  A  doação  é  exemplo  de  contrato  gratuito,  pois  uma  das 
partes  ao  doar  a  outra  tem  o  seu  patrimônio  diminuído  na  razão  da  coisa  doada.  Pode  ser 
também  onerosa  a  doação,  quando  é  imposto  um  encargo  ao  donatário,  que  terá  que realizar 
alguma prestação para que receba a doação. 
 
Os  contratos  tomados de sua formação serão sempre bilaterais, pois demandam o consenso dos 
contratantes,  mas  se  vistos  do  ângulo  de  seus  efeitos  poderão  ser  bilaterais  ou  unilaterais.  O 
contrato  será  bilateral  quando  criar  obrigações  para  ambas  as partes, já quando as obrigações 
estiverem  a  cargo  de  somente  uma  delas,  o  contrato  será  unilateral.  A  doutrina  em  geral não 
vê  com  bons  olhos  essa  classificação,  em  razão  de  ela  confundir  o  leitor  menos  atento  em 
razão da unilateralidade do contrato, que não é em sua formação, mas sim em seus efeitos. 
 
Pode  o  contrato  ser  ainda  comutativo  ou aleatório. O contrato comutativo é aquele que possui 
prestações  bem  definidas  e  equivalentes  entre  os  contratantes,  já  o  contrato  aleatório  é 
aquele  no  qual  as  prestações  não  guardam equivalência estrita, podendo variar de acordo com 
os  acontecimentos.  A  álea  contratual  poderá  versar sobre a própria existência da prestação ou 
a  sua  quantificação,  quer  isso  dizer  que  caso  seja  a  vontade  das  partes  pode  a  própria 
prestação  depender  da  sorte  para  existir,  ou  depender  da  álea  para  ter  a  sua  quantificação 
determinada.  Nessa  última  hipótese,  caso  a  prestação  não  exista  o  contrato  será  nulo,  pois 
estaria  a  depender  da  sorte  somente  a quantificação, não a própria existência da prestação. A 
nulidade ocorreria pela perda do objeto. 
 
No  que  se  referem  às  prestações,  os  contratos  podem  ser  de  execução  imediata,  diferida  ou 
sucessiva.  A  prestação  imediata  é  aquela  que  se  dá  de um só jato e no momento da conclusão 
do  contrato.  A  prestação  diferida  também  se  dá  de  uma  só  vez,  porém  o  momento  da 
prestação  não  é  o  mesmo  do  da  conclusão  do  contrato,  ele  ocorrerá  em  tempo  posterior,  a 
depender  de  um  termo  ou  condição.  As  prestações  sucessivas  são  aquelas  que  se  dão  de 
tempos  em  tempos,  como  no  exemplo  do  aluguel.  Caio  Mário  da Silva Pereira o define como o 
contrato  que  sobrevive,  com  a  persistência  da  obrigação,  muito  embora  ocorram  soluções 
periódicas,  até  que,  pelo  implemento  de  uma  condição,  ou  decurso  de  um  prazo,  cessa  o 
próprio contrato. 
 
Os  contratos  poderão  ser  também,  individuais  ou  coletivos.  Os  individuais  são  aqueles  nos 
quais  a  vontade  das  partes  é  individualmente  considerada,  ou  seja,  cada  parte  terá  a  sua 
manifestação  de  vontade  singularmente  considerada.  Os  contratos  serão  coletivos  quando  a 
vontade  dos  indivíduos  integrantes  for  tomada  em  conjunto,  ou  seja,  nesse  caso,  a  soma  da 
vontade  das  partes  irá  determinar  a  vontade  do  grupo.  O  principal  exemplo  de  um  contrato 
coletivo é o acordo coletivo de trabalho do Direito do Trabalho. 
 
CONSTITUIÇÃO DA RELAÇÃO CONTRATUAL/ SUJEITOS, FORMA E OBJETO.  
 
O  contrato  é  um  negócio  jurídico,  e  assim,  exige  para  sua  existência  legal,  alguns  elementos 
fundamentais. 

Requisitos ou condições de validade de ordem geral: 

a) Capacidade do agente 

b) Objeto lícito, possível, determinado ou determinável 

c) Forma prescrita ou não defesa em lei (todos no Art. 104 do CC). 


Consentimento recíproco (ou acordo de vontades). 

Em relação ao Sujeito 

É necessário, inicialmente, para a formação da relação contratual 

a) capacidade dos contraentes; 

b) no consentimento e manifestação de duas ou mais vontades 

Capacidade 

A capacidade dos contratantes (podem ser duas ou mais pessoas), é requisito fundamental para 
a  validade  dos  contratos  vez  que  a  incapacidade  absoluta  ou  relativa,  torna  o  contrato  nulo 
(art.  166,I  do  CC)  ou  anulável (art. 171,I do CC), se não for suprida pela representação ou pela 
assistência (CC, arts. 1.634, V, 1.747, I, e 1.781). 

A capacidade é a capacidade de agir em geral, para os atos da vida civil. 

Em  alguns  casos  a  lei  exige  uma  capacidade  especial,  como  na  doação,  compra  e  venda  de 
imóveis (outorga uxória). 

E  essa  capacidade  deve  existir  no  momento  de  declaração  da  vontade,  quando  se  forma  o 
contrato. 

Aptidão  específica  para  contratar.  Diz  respeito  a  limitação  à  liberdade  de  celebrar  certos 
contratos. 

Consentimento  —  O  requisito  de  ordem  especial,  próprio  dos  contratos,  é  o  ​consentimento 


recíproco​ ou ​acordo de vontades.​  

Deve  abranger  o  acordo  sobre  a  existência  e  natureza  do  contrato,  sobre  o  objeto  e  sobre  as 
cláusulas. 

O  consentimento  precisa  ser  livre  e  espontâneo,  sob  pena  de  ter  sua  validade  afetada  pelos 
vícios ou defeitos do negócio jurídico: erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão e fraude. 

A manifestação de vontade pode ser tácita ou expressa (quando a lei exige – artigo 111 do CC). 

Expressa  é  a  exteriorizada  verbalmente,  de  forma  inequívoca.  A  manifestação  tácita  ocorre 


quando o sujeito passa a agir de acordo com o contratado. 

O  silêncio  pode  ser  interpretado,  também,  como  manifestação  tácita  da  vontade, quando não 
for  necessária  a  declaração  de  vontade  expressa  (artigo 111 do CC) e quando as circunstâncias 
ou a lei autorizarem. 
Como  o  contrato,  por  definição,  é  um  acordo  de  vontades,  não  se  admite  a  existência  de 
autocontrato​ ou ​contrato consigo mesmo. 

Em relação ao objeto 

Em  relação  ao  objeto  do  contrato,  este deve ser lícito, possível, determinado ou determinável 


(CC, art. 104, II). 

Assim: 

a)  objeto  lícito  –  o  objeto  lícito  é  aquele  que  não  vai  contra  a  lei,  a  moral  ou  os  bons 
costumes. Contrário do objeto ilícito. 

Pode  ser  em  forma  de  conduta,  que  se  chama  de  obrigação  ou  prestação  (dar,  fazer  ou  não 
fazer) e pode ser em bens ou prestações obrigacionais. 

O  objeto  ilícito  muitas  vezes  é  definido  por  ser  contrários  a  moral  e  aos  bons  costumes,  não 
somente pela lei. 

b) Possibilidade do objeto — O objeto deve ser, também, possível, de forma física ou jurídica. 

Quando o objeto do contrato é impossível, o negócio é nulo (CC, art. 166, II). A impossibilidade 
do  objeto  pode  ser  física  ou  jurídica.  Impossibilidade  ​física  é  a  que  emana  das  leis  físicas  ou 
naturais. 

A  impossibilidade  jurídica  do  objeto  deriva  da  lei.  Ocorre  quando  o  ordenamento  jurídico 
proíbe negócios sobre aquilo, como exemplo, herança de pessoa viva (artigo 426 do CC). 

Quando  a  impossibilidade  do  objeto  é  relativa,  ela  atinge  o  devedor  e  não constitui obstáculo 


ao negócio jurídico (artigo 106 do CC). 

c)  ​Determinação  do  objeto  —  O  objeto  do  negócio  jurídico  deve  ser  determinado  ou 
determinável.  Ou  seja,  indeterminado  relativamente  ou  determinado  quando  da  execução. 
Como  exemplo,  venda  de  coisa  incerta,  indicada  pelo  gênero  e  quantidade,  ou  venda 
alternativa, 

Também é necessário que objeto tenha valor econômico, que tenha valor jurídico. 

Em relação a forma 

O  terceiro  requisito  para  a formação do contrato é a ​forma,​  que é o meio de exteriorização da 


vontade. 

Deve ser a prescrita ou não defesa em lei. 

Existe o consensualismo, quando há liberdade de forma e o formalismo, ou forma obrigatória. 


Em  regra,  a  forma  é  livre.  As  partes  podem  celebrar  o  contrato  da  melhor  forma  que  lhes 
aprouver. Pode ser por escrito, instrumento publicou ou particular, verbal. 

Porém, em alguns casos, a lei exige a forma escrita (pública ou particular). 

Assim  diz  o  artigo  107  do  CC:​“A  validade  da  declaração  de  vontade  não  dependerá  de  forma 
especial, senão quando a lei expressamente a exigir​”. 

É  nulo  o  negócio  jurídico  quando  “​não  revestir  a  forma  prescrita  em  lei”  ou  ​“for  preterida 
alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade”​ (CC, art. 166, IV e V). 

Algumas vezes a lei exige a publicidade, através dos Registros Públicos (artigo 221 do CC). 

O formalismo e a publicidade são garantias que o direito necessita para alguns contratos. 

O formalismo na expressão da vontade serve como prova. 

 
 
PRINCÍPIOS CONTRATUAIS 
 
Princípio da autonomia da vontade  
 
Segundo  este  princípio  a  pessoa  poderá regular seus direitos, ou seja, seus interesses próprios. 
Através de sua liberdade de contratar a pessoa realiza suas contratações.  
 
A  liberdade  contratual  é  prevista  no  art.  421  do  Código  Civil:  “​A  liberdade  de  contratar  será 
exercida em razão e nos limites da função social do contrato"​ .  
 
Fato  que  deve  ser  mencionado  é  a  questão  da  limitação  dessa  liberdade  em  razão  da  ordem 
pública.  As  pessoas  possuem  liberdade  de  contratar,  só  que  a questão contratual fica limitada 
a função social.  
 
Princípio da supremacia da ordem pública 
 
 
A liberdade contratual encontrou sempre limitação na ordem pública.  
 
 
A  ideia  de  ordem  pública,  entende-se  que  o  interesse  da  sociedade  deve  prevalecer  quando 
colide com o interesse individual. 
 
 
 
 
O  princípio  da  autonomia  da  vontade,  não  é  absoluto.  É limitado pelo princípio da supremacia 
da  ordem  pública,  em  que  ampla  liberdade de contratar provoca desequilíbrios e a exploração 
do economicamente mais fraco.  
 
 
A  doutrina  considera  de  ordem  pública,  as  normas  que  instituem  a  organização  da  família 
(casamento,  filiação,  adoção,  alimentos);  as  que  estabelecem a ordem de vocação hereditária 
e  a  sucessão  testamentária;  as  que  pautam  a  organização  política  e  administrativa  do Estado, 
as bases mínimas da organização econômica; os preceitos fundamentais do direito do trabalho; 
Os  bons  costumes  referem-se  a  um conceito que decorre da observância das normas de 
convivência,  segundo  um  padrão  de  conduta  social  estabelecido  pelos  sentimentos  morais  da 
época.  Serve  para  definir  o  comportamento  das  pessoas.  Pode-se  dizer que bons costumes são 
aqueles  que  se  cultivam  como  condições  de  moralidade  social,  matéria  sujeita  a  variações  de 
época e lugar. 
 
Em  suma,  a  noção de ordem pública e o respeito aos bons costumes constituem freios e limites 
à liberdade contratual.  
 
Princípio da obrigatoriedade da convenção (pacta sunt servanda). 
 
Tal  princípio  decorre  da  liberdade  de  contratar,  visando  fazer  com  que  aquilo  que  foi 
contratado  se  torne  lei  entre  as  partes.  Assim  as  partes  ficaram  obrigadas  ao  conteúdo 
contratual, o que gera limitação.  
 
Esse  princípio  também  é  denominado  de  princípio  da  intangibilidade  dos  contratos,  e 
representa  a  força  vinculante  das  convenções.  Daí  por que é também chamado de princípio da 
força vinculante dos contratos. 
 
Pelo  princípio  da  autonomia  da  vontade,  ninguém  é  obrigado  a  contratar.  A  ordem  jurídica 
concede a cada um a liberdade de contratar e definir os termos e objeto da avença.  
 
Os  que  o  fizerem,  porém,  sendo  o  contrato  válido  e  eficaz,  devem  cumpri-lo, não podendo se 
esquivarem da obrigação, a não ser com a anuência do outro contraente. 
 
 
Fundamentos: 
 
a)  necessidade  de  segurança  nos negócios, que deixaria de existir se os contratantes pudessem 
não cumprir a palavra empenhada,  
 
b)  intangibilidade  ou  imutabilidade  do  contrato,  decorrente  da  convicção  de  que  o  acordo  de 
vontades  faz  lei  entre  as  partes,  personificada  pela  máxima  pacta  sunt  servanda  (os  pactos 
devem ser cumpridos), não podendo ser alterado nem pelo juiz. 
 
 
Qualquer  modificação  ou  revogação  terá  de  ser,  também,  bilateral.  O  seu  inadimplemento 
confere  à  parte  lesada  o  direito  de  fazer  uso  dos  instrumentos judiciários para obrigar a outra 
a  cumpri-lo,  ou  a  indenizar  pelas  perdas  e  danos,  sob  pena  de  execução  patrimonial (CC, art. 
389). 
 
A  única  limitação  a  esse  princípio,  dentro  da  concepção  clássica,  é  a  escusa  por  caso  fortuito 
ou força maior, consignada no art. 393 e parágrafo único do Código Civil. 
 
 
 
Entretanto,  tal  fundamentação  está  sendo  mitigada  pela  doutrina  mais  moderna,  bem  como, 
pela  jurisprudência.  A  visão  atual  é  pela  defesa  da  permanência do princípio, só que não mais 
como regra geral.​Princípio da revisão dos contratos ou da onerosidade excessiva 
 
Opõe-se  tal  princípio  ao  da  obrigatoriedade,  pois  permite  aos  contraentes  recorrerem  ao 
Judiciário, para obterem alteração da convenção e condições 
 
A  teoria  recebeu  o  nome  de  rebus  sic  stantibus  e  consiste  basicamente  em  presumir,  nos 
contratos  comutativos,  de  trato  sucessivo  e  de  execução  diferida,  a  existência  implícita  (não 
expressa)  de  uma  cláusula,  pela  qual  a  obrigatoriedade  de  seu  cumprimento  pressupõe  a 
inalterabilidade da situação de fato. 
 
A  teoria  da  imprevisão  consiste, portanto, na possibilidade de desfazimento ou revisão forçada 
do  contrato  quando,  por  eventos  imprevisíveis  e  extraordinários,  a  prestação  de  uma  das 
partes  tornar-se  exageradamente  onerosa  o  que,  na  prática,  é  viabilizado  pela  aplicação  da 
cláusula rebus sic stantibus, já referida. 
 
O  Código  de  2002  dedicou  uma  seção,  composta  de  três  artigos, à resolução dos contratos por 
onerosidade excessiva.  
 
Artigo 478: 
 
“Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das partes se tornar 
excessivamente  onerosa,  com  extrema  vantagem  para  a  outra,  em  virtude  de acontecimentos 
extraordinários  e  imprevisíveis,  poderá  o  devedor  pedir  a  resolução do contrato. Os efeitos da 
sentença que a decretar retroagirão à data da citação" 
 
Artigo 479:  
 
“A  resolução  poderá  ser  evitada,  oferecendo-se  o  réu  a  modificar  equitativamente  as 
condições do contrato". 
 
Artigo 480: 
 
“Se  no  contrato  as  obrigações  couberem  a  apenas  uma  das  partes,  poderá  ela  pleitear  que  a 
sua  prestação  seja  reduzida,  ou  alterado  o  modo  de  executá-la,  a fim de evitar a onerosidade 
excessiva" 
 
 
Princípio do consensualismo 
 
 
 
De  acordo  com  o  princípio  do  consensualismo,  basta,  para  o  aperfeiçoamento  do  contrato,  o 
acordo  de  vontades.  Decorre  ele  da  moderna  concepção  de  que  o  contrato  resulta  do 
consenso, do acordo de vontades, independentemente da entrega da coisa. 
 
A  compra  e  venda,  por  exemplo,  quando  pura,  torna-se  perfeita  e  obrigatória,  desde  que  as 
partes  acordem  no  objeto  e  no  preço  (CC,  art.  482).  O  contrato  já  estará  perfeito  e  acabado 
desde  o  momento  em  que  o  vendedor  aceitar  o  preço  oferecido  pela  coisa, 
independentemente  da  entrega  desta.  O  pagamento  e  a  entrega  do  objeto  constituem  outra 
fase,  a  do  cumprimento  das  obrigações  assumidas  pelos  contratantes  (CC,  art.  481).Assim,  a 
forma  é,  em  regra,  livre.  As  partes  podem  celebrar  o  contrato  por  escrito,  público  ou 
particular,  ou  verbalmente,  a  não  ser  nos  casos  em  que  a  lei,  para  dar  maior  segurança  e 
seriedade  ao  negócio,  exija  a  forma  escrita,  pública  ou  particular  (CC,  art.  107).  O 
consensualismo, portanto, é a regra, e o formalismo, a exceção. 
 
 
Princípio da relatividade dos efeitos dos contratos  
 
Funda-se  tal  princípio  na  ideia  de  que  os  efeitos  do  contrato  só  se  produzem  em  relação  às 
partes,  àqueles  que manifestaram a sua vontade, vinculando-os ao seu conteúdo, não afetando 
terceiros nem seu patrimônio. 
 
Porém,  o  Código  Civil,  que  não  concebe  mais  o  contrato  apenas  como  instrumento  de 
satisfação de interesses pessoais dos contraentes, mas lhe reconhece uma função social. 
 
Assim,  há  a  possibilidade  de  terceiros  que  não  são  propriamente  partes  do  contrato  possam 
nele influir, em razão de serem direta ou indiretamente por ele atingidos. 
 
ClÁUSULAS GERAIS DE BOA FÉ 
 
Consiste  em  um  dever  de  probidade  entre  as  partes,  de  transparência  e  lisura.  Deve  ser 
observado  em  todas  as  fases  do  contrato.  A  boa-fé  objetiva  não  está  ligada  ao  ânimo  interior 
das  pessoas  envolvidas  na  relação;  em  verdade,  constitui  um  conjunto  de  padrões  éticos  de 
comportamento,  modelo  ideal  de  conduta  que  se  espera  de  todos  os  integrantes  de 
determinada sociedade.   
 
Artigo 422 do Código Civil: 
 
“Os  contratantes  são  obrigados  a  guardar,  assim  na  conclusão  do  contrato,  como  em  sua 
execução, os princípios de probidade e boa-fé". 
 
O  princípio  da  boa-fé  exige  que  as  partes  se  comportem  de  forma  correta  não  só  durante  as 
tratativas, como também durante a formação e o cumprimento do contrato.  
 
Guarda  relação  com  o  princípio  de  direito  segundo  o  qual  ninguém  pode  beneficiar-se  da 
própria torpeza.  
 
Pressupõem  a  boa-fé  objetiva,  que  impõe  ao  contratante  um  padrão  de  conduta,  de  agir com 
retidão,  ou  seja,  com  probidade,  honestidade  e  lealdade,  nos  moldes  do  homem  comum, 
atendidas as peculiaridades dos usos. 
 
  A regra da boa-fé, como já dito, é uma cláusula geral para a aplicação do direito obrigacional, 
que  permite  a  solução  do  caso  levando  em  consideração  fatores  metajurídicos  e  princípios 
jurídicos gerais. 
 
A  probidade,  mencionada  no  art.  422 do Código Civil, é um dos aspectos objetivos do princípio 
da  boa-fé,  podendo  ser  entendida  como  a  honestidade  de  proceder ou a maneira criteriosa de 
cumprir  todos  os  deveres,  que  são  atribuídos  ou  cometidos  à  pessoa.  Ao  que  se  percebe,  ao 
mencioná-la  teve  o legislador mais a intenção de reforçar a necessidade de atender ao aspecto 
objetivo da boa-fé.  
 
 
Cláusula Geral - A Função Social  
 
 
Artigo 421 do Código Civil: 
 
“A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato".  
 
Não  limitou  a  liberdade  de  contratar  e  sim  legitimou  a  liberdade  contratual.  O  conteúdo 
contratual  será  submetido  a  um  controle  de  merecimento,  averiguando  se  o  mesmo  se 
encontra  de  acordo  com  uma  ordem  social.  Ou  seja,  subordina  a  liberdade  contratual  à  sua 
função social, com prevalência dos princípios condizentes com a ordem pública 
 
O  contrato  não  pode  gerar  obrigações  para  terceiros  estranhos  à  relação  negocial.  Em 
decorrência  da  autonomia  privada,  ninguém  pode  tornar-se  devedor  de  obrigação  contratual 
por força de declaração manifestada por outrem.  
 
A  cláusula  geral  da  função  social  é  uma  expansão  da  relatividade,  com  vistas  a  impedir  que 
possam  ser  afetados  negativamente  pelo  contrato  quaisquer  interesses  públicos,  coletivos  ou 
difusos acerca dos quais não possam dispor os contratantes. 
 
Não  atende  à  função  social,  assim,  os  contratos  cuja  execução  possa  sacrificar,  comprometer 
ou lesar, de qualquer modo, interesses metaindividuais.  
 
A  consequência  para  a  inobservância  da  cláusula  geral  da  função  social  do  contrato  é  a 
nulidade  do  negócio  jurídico  e  a  responsabilidade  dos  contratantes  pela  indenização  dos 
prejuízos provocados. 
 
O  descumprimento  do  dever  geral  de  boa-fé  importa  repercussões  restritas  aos  interesses  dos 
contratantes,  e,  por  isso,  a  mera  responsabilidade  civil  é  consequência  adequada  à  plena 
coibição do ilícito, não sendo necessário fulminar a validade do contrato.  
 
No  desrespeito  à  cláusula  geral  da  função  social,  contudo,  a  nulidade  é  imposta  pela  lei, sem 
prejuízo  da  obrigação  de  indenizar,  para  que  a  ofensa  à  norma  de  ordem  pública  seja 
reprimida  por  completo.  Atente-se  para  a  extensão  da  consequência  legal:  se  o  contrato  não 
atende  a  sua  função  social,  é  nulo;  desse  modo,  o  contratante  inadimplente  não  pode  ser 
judicialmente compelido pelo outro a cumprir as obrigações assumidas. 
 
Cumpre  sua  função  social  o  contrato  que  não  sacrifica,  compromete  ou  lesa  interesses 
metaindividuais  (públicos,  difusos  ou  coletivos)  acerca  dos  quais  não  têm  os  contratantes  a 
disponibilidade. 
 
O contrato que descumpre a função social, prejudicando interesses dessa ordem, é nulo. 
 
 
Deve-se  ainda  realçar  o  disposto  no  parágrafo  único  do  art.  2.035  do  novo  Código:  “Nenhuma 
convenção  prevalecerá  se  contrariar  preceitos  de  ordem  pública,  tais  como  os  estabelecidos 
por  este  Código  para  assegurar  a  função  social  da  propriedade  e  dos  contratos".  As  partes 
devem  celebrar  seus  contratos  com  ampla  liberdade,  observadas  as  exigências  da  ordem 
pública. 
 
 
Formação dos Contratos 
 
A  proposta  de  contrato  obriga  o  proponente,  se  o  contrário  não  resultar  dos  termos  dela,  da 
natureza  do  negócio,  ou  das  circunstâncias  do  caso.  Essa  norma  prevista  no  artigo  427  do 
Código  Civil  ressalta  que  o  proponente  não  é  livre  para  a  qualquer  tempo  se  desobrigar  da 
proposta feita.  
 
Fases 
 
1)  ​Negociações  preliminares​:  fase  de  debates.  Não  existe  formalização  de  contrato.  Em  regra 
tal  fase  não  vincula  as  partes  a  realização  da  contratação,  mas  defendo  a  vinculação  ao 
deveres  anexos  a  boa-fé  objetiva.  Por  faltar  regulamentação  de  tal  fase  no  atual  Código  a 
doutrina  explica  que  não  haverá  vinculação,  porém  excepcionalmente  pode  ser  sustentada  a 
responsabilidade  civil  extracontratual  ou  aquiliana,  fundada  no  princípio  de  que  os 
interessados  na  celebração  de  um  contrato  deverão  comportar-se  de  boa-fé  (Maria  Helena 
Diniz). 
 
2)  Fase  de  proposta:  aqui  existe  formalização,  sendo  chamada de fase de policitação. Tal fase 
vincula as partes. Pode se dar entre presentes e pode ocorrer entre ausentes. 
 
Deixará de ser obrigatória a proposta quando: 
 
a)  se,  feita  sem  prazo  a  pessoa  presente, não foi imediatamente aceita. Considera-se também 
presente a pessoa que contrata por telefone ou por meio de comunicação semelhante; 
 
b)  se,  feita  sem  prazo  a  pessoa  ausente,  tiver  decorrido  tempo  suficiente  para  chegar  a 
resposta ao conhecimento do proponente; 
 
c)  se,  feita  a  pessoa  ausente,  não  tiver  sido  expedida  a  resposta  dentro  do  prazo  dado;d)  se, 
antes  dela,  ou  simultaneamente,  chegar  ao  conhecimento  da  outra  parte  a  retratação  do 
proponente.A  oferta  ao  público  equivale  a  proposta quando encerra os requisitos essenciais ao 
contrato, salvo se o contrário resultar das circunstâncias ou dos usos. 
 
Pode  revogar-se  a  oferta  pela  mesma  via  de  sua  divulgação,  desde  que  ressalvada  esta 
faculdade na oferta realizada. 
 
Ocorrendo,  aceitação  fora  do  prazo,  com adições, restrições, ou modificações, importará nova 
proposta.  
 
3)  Contrato  preliminar:  apesar  de  não  ser  de  regra  obrigatória  tal fase vincula as partes. Deve 
conter todos os elementos do contrato definitivo, exceto quanto a forma. 
 
 
Em relação ao local da aceitação e celebração 
 
 
Quando os contratos forem feitos por contratantes que não se encontrem presentes, o contrato 
será considerado concluído desde que a aceitação for expedida. 
 
A  regra  de  que  os  contratos  entre  ausentes  serão  reputados  perfeitos  desde  o  momento  de 
expedição da aceitação, sofrerá as seguintes exceções: 
 
 
 
quando  a  aceitação  chegar  junto  ou  concomitantemente  com  a  retratação  do  oblato;quando 
houver  sido  dado  prazo  para  resposta  e  este  correr em branco;quando o proponente houver se 
comprometido a esperar a resposta. 
 
Note  que  o  tempo  da  conclusão  do  contrato  será  o  da  expedição  da  aceitação  (teoria  da 
expedição),  e  não  qualquer  outro,  como, por exemplo, o de sua chegada na esfera de controle 
do  proponente  (teoria  da  recepção),  ou  o  momento  em  que  o  aceitante  psicologicamente  se 
decide por concluir o contrato. 
 
Já  em  relação  ao lugar do contrato, o Código Civil o define como o lugar em que foi proposto o 
ajuste.  
 
A  norma  que  se  refere  ao  lugar  do  contrato,  assim  como  a normativa do tempo do contrato, é 
supletiva, só tendo lugar quando as partes não houverem estipulado regra expressa. 
 
 
Para o lugar do contrato, o legislador optou por acolher a doutrina da proposta. 
 
 
O  lugar  em  que  se  reputa  proposto  o  contrato  tem  grande  repercussão  na  vida  moderna,  vez 
que  aumentou  imensamente  o  número  de  contratos  que  se  realizam  entre  partes  ausentes  e 
também via rede mundial de computadores – internet. 
 
 
 
Dos Vícios Redibitórios 
 
Vício redibitório é aquele defeito oculto que macula a coisa e lhe diminui a utilidade ou o valor 
econômico.  É  esse,  em  apertada  síntese,  o  conceito  de  vício  redibitório.  Caio  Mário,  mais 
analítico,  define  como:  “defeito  oculto  de  que  portadora  a  coisa  objeto  de  contrato 
comutativo,  que  a  torna  imprópria  ao  uso  a  que  se  destina,  ou  lhe  prejudica  sensivelmente  o 
valor". 
 
Observe  que  é  necessário que se trate de um contrato comutativo, ou seja, aquele contrato no 
qual  as  partes  possuam  obrigações  correspectivas.  O  donatário  de  uma  doação  onerosa 
também  poderá enjeitar a coisa caso ela esteja maculada com vício redibitório, vez que não se 
trata de mera liberalidade. 
 
O  artigo  472  do  Código  Civil  enuncia  que  a  coisa  poderá  ser  enjeitada  em  razão  de  vício 
redibitório.  Aqui  é  necessário  se  ter  em  mente  que  também  será  possível  o  pedido  de 
abatimento  de  preço.  Em  atenção à boa-fé objetiva que norteia o direito contratual e também 
em  decorrência  da  política  de  primar  pelo  natural  desfecho  do  contrato,  qual  seja  a  sua 
execução  específica, deverá ser dada preferência ao abatimento do preço, isso, porém, sem se 
afetar drasticamente a economia contratual, tampouco o interesse de qualquer das partes. 
 
A  faculdade  de  se  pleitear  o  abatimento do preço está disposta no artigo 442. Essa será a base 
legal para a futura ação estimatória. 
 
Tratando  acerca  do  ​quantum  a ​   ser  ressarcido  pelo  alienante,  o  artigo  443  do  Código  Civil, 
dispõe  que  a  indenização será apenas do valor recebido mais as despesas do contrato quando o 
alienante  não  conhecesse  os  vícios.  É  natural  que  se  impute  as  despesas  do  contrato  ao 
alienante,  pois  os  vícios  redibitórios  existiam previamente ao ajuste. Caso, porém, o alienante 
conhecesse  os  vícios,  a  sua  má-fé  contratual  não  poderia  ser  privilegiada,  dessa  forma,  é 
natural  que  a  indenização  lhe  seja  mais  gravosa,  ela  compreenderá,  então, o valor do objeto, 
as  despesas  contratuais,  mais  as  perdas  e  danos  decorrentes  da resolução do contrato. A letra 
da  lei  fala  tão  somente  em  “perdas  e  danos",  mas  é  fácil  verificar  que  o  valor  da  coisa  e  as 
despesas  contratuais  estão  compreendidos  no  que  se  entende  por  perdas,  sendo  que  o  que 
sobejar  esse  valor  será  compreendido  no  que  se  entende  por  “danos".  Os  lucros  cessantes 
deverão  ser  ressarcidos,  e  estão  inseridos  no  conceito  de  perdas  e  danos  de  acordo  com  o 
artigo 402 do Código civil. 
 
A  responsabilidade  do  alienante  subsistirá  quando  a  coisa  perecer  em  poder do comprador em 
razão  de  vício  oculto  existente  anteriormente  à  tradição.  Esse  é  um  temperamento  da  regra 
res  perit  domino,  e  ocorre  em  razão  do  perecimento  da  coisa  ter  causa  em um vício, oculto e 
pré-existente  ao  contrato.  Como  o  vício  não  estava  à  mostra, e como já existia anteriormente 
à  tradição, leva-se em consideração que o comprador não teria adquirido a coisa caso soubesse 
de sua real situação.  
 
Já  em  relação  aos  prazos  para  que  o  comprador  exerça  o  seu  direito  de pleitear a redução de 
preço  ou  enjeitar  a  coisa,  o  artigo  445  do  Código  Civil  enuncia  que  “o  adquirente  decai  do 
direito  de  obter  a  redibição  ou  abatimento  no  preço  no  prazo  de  trinta  dias  se  a  coisa  for 
móvel,  e  de  um  ano  se a coisa for imóvel, contado da entrega efetiva; se já estava na posse, o 
prazo  conta-se  da  alienação,  reduzido  à  metade".  Note  que se trata de um prazo decadencial, 
findo  o  qual  o  comprador  perde  o  direito  de  ter  o  preço  reduzido  ou  enjeitada  a  coisa.  Aqui 
não  se  está  a  falar  da  prescrição  que  somente  retiraria  a  possibilidade  de  se  exigir 
judicialmente a garantia pelos vícios redibitórios. O que está em jogo é o próprio direito, razão 
pela  qual  a  situação  se  estabilizará  quando  o  prazo  transcorrer  em  branco.  Importante 
observar que por se tratar de prazo decadencial não haverá suspensão ou interrupção. 
 
Quando  for  a  hipótese  da  parte  final  do  caput  deste artigo, é de se observar que a redução do 
prazo  pela  metade  visa  diminuir  o  tempo  em  que  o  alienante  fica  obrigado  a  garantir  a  coisa 
quando  o  comprador  já  teria  subsídios  para  ter  verificado  os  vícios  ocultos.  Nesse  caso  é 
primordial  ter  em  mente  que  os  prazos,  mesmo  reduzidos  à  metade,  não  poderão,  nunca, ser 
inferiores  ao  tempo  de trinta dias para bens móveis e um ano para bens imóveis. Acreditar que 
a  redução  dos  prazos  pudesse  levar  a  situações  nas  quais  o  prazo  se  reduzisse  aquém  dos 
marcos  de  trinta  dias  e  um  ano  seria  um  desvio  de  perspectiva,  pois  nesse  caso  se  estaria  a 
agravar  sobremaneira  a  situação  do  comprador,  sem  que,  no  entanto,  lhe  fosse  possível  ter 
verificado os defeitos da coisa.  
 
O  parágrafo  primeiro  desse  artigo  enuncia  regra  de  difícil  interpretação.  A  disposição  de  que 
os  prazos,  quando  o  vício,  por  sua  natureza,  só  puder  ser  conhecido  mais  tarde,  contar-se-ão 
do  momento  em  que  o  comprador  deles  tomar ciência, até o prazo máximo de cento e oitenta 
dias  para  coisas  móveis  e um ano para bens imóveis, quer dizer que o legislador não quis que o 
alienante  ficasse  indefinidamente obrigado a garantir a regularidade da coisa. Nessa situação o 
aplicador  do  direito  deverá  entender  a  norma  da  seguinte  forma:  quando  se  tratar  de  coisa 
móvel,  o  comprador  terá  até  30  dias  para  pleitear a redução do preço ou enjeitar a coisa, isso 
se  o  vício  de  difícil  constatação  houver  aparecido  dentro  do  prazo  de  180  dias  contados  da 
tradição;  quando  se  tratar  de  bem  imóvel,  o  comprador  terá  o  prazo  de  um  ano  para  fazer 
valer  seu  direito  em  razão  do  vício  redibitório,  quando  o  vício  se  manifestar  dentro  do  prazo 
de  um  ano  da  alienação.  A  disposição  do  caput  que  reduz  os  prazos  pela  metade  não  incidirá 
sobre os prazos de cento e oitenta dias e um ano previstos no parágrafo primeiro. 
 
O  parágrafo  segundo  do  artigo  445  do  Código  Civil  traz  regra  supletiva  para  a compra e venda 
de  animais.  Dispõe  que  a  matéria  dos  vícios  redibitórios  será  regida  por  lei  especial.  Não 
havendo, será regida pelos usos e costumes da região do contrato.  
 
Quando,  pelo  contrato,  houver  cláusula  de  garantia,  o  prazo  de  decadência  do  direito 
decorrente  dos  vícios  redibitórios  não  fluirá  até  que  a  garantia  se  escoe  completamente, 
todavia será dever do comprador cientificar o alienante do vício no prazo decadencial de trinta 
dias  contado  da  verificação  do  defeito.  O  que  essa  norma  do  Código  Civil  quer  dizer  é  que 
haverá  uma  extensão  do  prazo  no  qual  o  comprador  estará  garantido  da  aparição  de  vícios, 
mas  caso  se  verifique  o  defeito  ainda  no  prazo  da  garantia,  em  atenção  à  boa-fé  contratual 
deverá  o  comprador  notificar  o  vendedor sob pena de perder o direito de abatimento do preço 
ou de enjeitar a coisa.  
 
CASO  PRÁTICO:Leonardo  compra  de  André  um  cavalo  para que seja o reprodutor de seu haras. 
Após  a  tradição,  Leonardo  descobre  que  o  cavalo  possui  problemas  de  fertilidade,  o  que  lhe 
retira  completamente  a  utilidade  em  razão  de  sua  finalidade.  Depois  de  tentativas 
extrajudiciais  de  composição  as  partes  não  conseguiram  chegar  a  um  acordo. Na qualidade de 
advogado,  esclareça  os  direitos  de  Leonardo  sabendo  que  dentre  a  verificação  do  vício  e  a 
tradição passaram somente 29 dias. 
 
Resposta:  Leonardo  possui  direito  a  escolher  entre  enjeitar  o  cavalo ou pedir o abatimento de 
seu  preço  na  razão  do  que  a  infertilidade o desvaloriza. Não há que se falar em decadência do 
direito,  vez  que  entre  a  tradição  e  a  verificação  do  vício  redibitório  passaram-se  apenas  29 
dias  e  o  prazo  decadencial  do  artigo  445  caput  do  Código  Civil,  para  coisas  móveis,  é  de  30 
dias.  Outra  coisa  a  se  ressaltar  é  que  a  natureza  do  vício  faz  com  que  ele  seja  de  difícil 
verificação,  razão  pela  qual  Leonardo  teria  a  seu  favor  a  extensão  do prazo, na conformidade 
do que dispõe o parágrafo 1º do mencionado artigo.  
 

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