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Noção Geral de Contrato
O artigo 421 do Código Civil inicia a normativa dos contratos enunciando que a liberdade de
contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato.
É o acordo de vontades, ou negócio jurídico, entre duas ou mais pessoas (físicas ou jurídicas)
com finalidade de adquirir, resguardar, modificar ou extinguir direitos de natureza
patrimonial. Todos os contratos são atos jurídicos bilaterais, pois resultam de uma conjugação
de duas ou mais vontades.
Como se pode verificar, contrato é manifestação bilateral de vontade dirigida a um fim
querido pelas partes, a sua consubstanciação em instrumento escrito, ou não, nada tem a ver
com sua essência, embora esteja a facilitar a prova de que realmente tenha existido
consentimento.
Contrato é toda manifestação bilateral de vontade visando um fim querido pelas partes, ou
por, pelo menos, uma delas. Caio Mário da Silva Pereira, conceitua contrato como negócio
jurídico - e por isso exige-se o consentimento como sua própria essência - em conformidade
com a ordem legal, com a finalidade de adquirir, resguardar, transferir, conservar, modificar
ou extinguir direitos.
É importante que o recém iniciado nos estudos dos contratos perca o pré-conceito de que
somente seria contrato a manifestação bilateral de vontade escrita. Como se pode verificar,
contrato é manifestação bilateral de vontade dirigida a um fim querido pelas partes, a sua
consubstanciação em instrumento escrito, ou não, nada tem a ver com sua essência, embora
esteja a facilitar a prova de que realmente tenha existido consentimento.
Outro ponto a se destacar é que os contratos podem ser classificados de diversas formas: há
contratos nos quais o só consentimento das partes é capaz de realizar a finalidade, são os
contratos consensuais; outros há que somente operam efeitos com a tradição do objeto, são os
contratos reais; há também os contratos formais, que são aqueles que dependem de uma
forma rígida para que cumpram o seu mister. Os contratos podem ser típicos, atípicos e
mistos. Os típicos são aqueles que possuem normativa legal bem definida, possuindo boa
delineação legal; os atípicos são aqueles que possuem normativa legal indireta, ou seja, é dado
às partes uma maior margem de atuação, podendo definir mais ao seu modo a estrutura
contratual; os contratos mistos são aqueles que mesclam a tipicidade legal à atipicidade
querida das partes. Quanto à onerosidade, os contratos podem ser gratuitos e onerosos, os
onerosos são aqueles que representam modificação patrimonial de ambas as partes, sendo que
cada uma terá que despender uma prestação com apreciação econômica; os contratos
gratuitos somente serão gratuitos para uma das partes, sendo que a outra terá que despender
uma prestação com valor econômico. A doação é exemplo de contrato gratuito, pois uma das
partes ao doar a outra tem o seu patrimônio diminuído na razão da coisa doada. Pode ser
também onerosa a doação, quando é imposto um encargo ao donatário, que terá que realizar
alguma prestação para que receba a doação.
Os contratos tomados de sua formação serão sempre bilaterais, pois demandam o consenso dos
contratantes, mas se vistos do ângulo de seus efeitos poderão ser bilaterais ou unilaterais. O
contrato será bilateral quando criar obrigações para ambas as partes, já quando as obrigações
estiverem a cargo de somente uma delas, o contrato será unilateral. A doutrina em geral não
vê com bons olhos essa classificação, em razão de ela confundir o leitor menos atento em
razão da unilateralidade do contrato, que não é em sua formação, mas sim em seus efeitos.
Pode o contrato ser ainda comutativo ou aleatório. O contrato comutativo é aquele que possui
prestações bem definidas e equivalentes entre os contratantes, já o contrato aleatório é
aquele no qual as prestações não guardam equivalência estrita, podendo variar de acordo com
os acontecimentos. A álea contratual poderá versar sobre a própria existência da prestação ou
a sua quantificação, quer isso dizer que caso seja a vontade das partes pode a própria
prestação depender da sorte para existir, ou depender da álea para ter a sua quantificação
determinada. Nessa última hipótese, caso a prestação não exista o contrato será nulo, pois
estaria a depender da sorte somente a quantificação, não a própria existência da prestação. A
nulidade ocorreria pela perda do objeto.
No que se referem às prestações, os contratos podem ser de execução imediata, diferida ou
sucessiva. A prestação imediata é aquela que se dá de um só jato e no momento da conclusão
do contrato. A prestação diferida também se dá de uma só vez, porém o momento da
prestação não é o mesmo do da conclusão do contrato, ele ocorrerá em tempo posterior, a
depender de um termo ou condição. As prestações sucessivas são aquelas que se dão de
tempos em tempos, como no exemplo do aluguel. Caio Mário da Silva Pereira o define como o
contrato que sobrevive, com a persistência da obrigação, muito embora ocorram soluções
periódicas, até que, pelo implemento de uma condição, ou decurso de um prazo, cessa o
próprio contrato.
Os contratos poderão ser também, individuais ou coletivos. Os individuais são aqueles nos
quais a vontade das partes é individualmente considerada, ou seja, cada parte terá a sua
manifestação de vontade singularmente considerada. Os contratos serão coletivos quando a
vontade dos indivíduos integrantes for tomada em conjunto, ou seja, nesse caso, a soma da
vontade das partes irá determinar a vontade do grupo. O principal exemplo de um contrato
coletivo é o acordo coletivo de trabalho do Direito do Trabalho.
CONSTITUIÇÃO DA RELAÇÃO CONTRATUAL/ SUJEITOS, FORMA E OBJETO.
O contrato é um negócio jurídico, e assim, exige para sua existência legal, alguns elementos
fundamentais.
a) Capacidade do agente
Em relação ao Sujeito
Capacidade
A capacidade dos contratantes (podem ser duas ou mais pessoas), é requisito fundamental para
a validade dos contratos vez que a incapacidade absoluta ou relativa, torna o contrato nulo
(art. 166,I do CC) ou anulável (art. 171,I do CC), se não for suprida pela representação ou pela
assistência (CC, arts. 1.634, V, 1.747, I, e 1.781).
Em alguns casos a lei exige uma capacidade especial, como na doação, compra e venda de
imóveis (outorga uxória).
E essa capacidade deve existir no momento de declaração da vontade, quando se forma o
contrato.
Aptidão específica para contratar. Diz respeito a limitação à liberdade de celebrar certos
contratos.
Deve abranger o acordo sobre a existência e natureza do contrato, sobre o objeto e sobre as
cláusulas.
O consentimento precisa ser livre e espontâneo, sob pena de ter sua validade afetada pelos
vícios ou defeitos do negócio jurídico: erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão e fraude.
A manifestação de vontade pode ser tácita ou expressa (quando a lei exige – artigo 111 do CC).
O silêncio pode ser interpretado, também, como manifestação tácita da vontade, quando não
for necessária a declaração de vontade expressa (artigo 111 do CC) e quando as circunstâncias
ou a lei autorizarem.
Como o contrato, por definição, é um acordo de vontades, não se admite a existência de
autocontrato ou contrato consigo mesmo.
Em relação ao objeto
Assim:
a) objeto lícito – o objeto lícito é aquele que não vai contra a lei, a moral ou os bons
costumes. Contrário do objeto ilícito.
Pode ser em forma de conduta, que se chama de obrigação ou prestação (dar, fazer ou não
fazer) e pode ser em bens ou prestações obrigacionais.
O objeto ilícito muitas vezes é definido por ser contrários a moral e aos bons costumes, não
somente pela lei.
b) Possibilidade do objeto — O objeto deve ser, também, possível, de forma física ou jurídica.
Quando o objeto do contrato é impossível, o negócio é nulo (CC, art. 166, II). A impossibilidade
do objeto pode ser física ou jurídica. Impossibilidade física é a que emana das leis físicas ou
naturais.
A impossibilidade jurídica do objeto deriva da lei. Ocorre quando o ordenamento jurídico
proíbe negócios sobre aquilo, como exemplo, herança de pessoa viva (artigo 426 do CC).
c) Determinação do objeto — O objeto do negócio jurídico deve ser determinado ou
determinável. Ou seja, indeterminado relativamente ou determinado quando da execução.
Como exemplo, venda de coisa incerta, indicada pelo gênero e quantidade, ou venda
alternativa,
Também é necessário que objeto tenha valor econômico, que tenha valor jurídico.
Em relação a forma
Assim diz o artigo 107 do CC:“A validade da declaração de vontade não dependerá de forma
especial, senão quando a lei expressamente a exigir”.
É nulo o negócio jurídico quando “não revestir a forma prescrita em lei” ou “for preterida
alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade” (CC, art. 166, IV e V).
Algumas vezes a lei exige a publicidade, através dos Registros Públicos (artigo 221 do CC).
O formalismo e a publicidade são garantias que o direito necessita para alguns contratos.
PRINCÍPIOS CONTRATUAIS
Princípio da autonomia da vontade
Segundo este princípio a pessoa poderá regular seus direitos, ou seja, seus interesses próprios.
Através de sua liberdade de contratar a pessoa realiza suas contratações.
A liberdade contratual é prevista no art. 421 do Código Civil: “A liberdade de contratar será
exercida em razão e nos limites da função social do contrato" .
Fato que deve ser mencionado é a questão da limitação dessa liberdade em razão da ordem
pública. As pessoas possuem liberdade de contratar, só que a questão contratual fica limitada
a função social.
Princípio da supremacia da ordem pública
A liberdade contratual encontrou sempre limitação na ordem pública.
A ideia de ordem pública, entende-se que o interesse da sociedade deve prevalecer quando
colide com o interesse individual.
O princípio da autonomia da vontade, não é absoluto. É limitado pelo princípio da supremacia
da ordem pública, em que ampla liberdade de contratar provoca desequilíbrios e a exploração
do economicamente mais fraco.
A doutrina considera de ordem pública, as normas que instituem a organização da família
(casamento, filiação, adoção, alimentos); as que estabelecem a ordem de vocação hereditária
e a sucessão testamentária; as que pautam a organização política e administrativa do Estado,
as bases mínimas da organização econômica; os preceitos fundamentais do direito do trabalho;
Os bons costumes referem-se a um conceito que decorre da observância das normas de
convivência, segundo um padrão de conduta social estabelecido pelos sentimentos morais da
época. Serve para definir o comportamento das pessoas. Pode-se dizer que bons costumes são
aqueles que se cultivam como condições de moralidade social, matéria sujeita a variações de
época e lugar.
Em suma, a noção de ordem pública e o respeito aos bons costumes constituem freios e limites
à liberdade contratual.
Princípio da obrigatoriedade da convenção (pacta sunt servanda).
Tal princípio decorre da liberdade de contratar, visando fazer com que aquilo que foi
contratado se torne lei entre as partes. Assim as partes ficaram obrigadas ao conteúdo
contratual, o que gera limitação.
Esse princípio também é denominado de princípio da intangibilidade dos contratos, e
representa a força vinculante das convenções. Daí por que é também chamado de princípio da
força vinculante dos contratos.
Pelo princípio da autonomia da vontade, ninguém é obrigado a contratar. A ordem jurídica
concede a cada um a liberdade de contratar e definir os termos e objeto da avença.
Os que o fizerem, porém, sendo o contrato válido e eficaz, devem cumpri-lo, não podendo se
esquivarem da obrigação, a não ser com a anuência do outro contraente.
Fundamentos:
a) necessidade de segurança nos negócios, que deixaria de existir se os contratantes pudessem
não cumprir a palavra empenhada,
b) intangibilidade ou imutabilidade do contrato, decorrente da convicção de que o acordo de
vontades faz lei entre as partes, personificada pela máxima pacta sunt servanda (os pactos
devem ser cumpridos), não podendo ser alterado nem pelo juiz.
Qualquer modificação ou revogação terá de ser, também, bilateral. O seu inadimplemento
confere à parte lesada o direito de fazer uso dos instrumentos judiciários para obrigar a outra
a cumpri-lo, ou a indenizar pelas perdas e danos, sob pena de execução patrimonial (CC, art.
389).
A única limitação a esse princípio, dentro da concepção clássica, é a escusa por caso fortuito
ou força maior, consignada no art. 393 e parágrafo único do Código Civil.
Entretanto, tal fundamentação está sendo mitigada pela doutrina mais moderna, bem como,
pela jurisprudência. A visão atual é pela defesa da permanência do princípio, só que não mais
como regra geral.Princípio da revisão dos contratos ou da onerosidade excessiva
Opõe-se tal princípio ao da obrigatoriedade, pois permite aos contraentes recorrerem ao
Judiciário, para obterem alteração da convenção e condições
A teoria recebeu o nome de rebus sic stantibus e consiste basicamente em presumir, nos
contratos comutativos, de trato sucessivo e de execução diferida, a existência implícita (não
expressa) de uma cláusula, pela qual a obrigatoriedade de seu cumprimento pressupõe a
inalterabilidade da situação de fato.
A teoria da imprevisão consiste, portanto, na possibilidade de desfazimento ou revisão forçada
do contrato quando, por eventos imprevisíveis e extraordinários, a prestação de uma das
partes tornar-se exageradamente onerosa o que, na prática, é viabilizado pela aplicação da
cláusula rebus sic stantibus, já referida.
O Código de 2002 dedicou uma seção, composta de três artigos, à resolução dos contratos por
onerosidade excessiva.
Artigo 478:
“Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das partes se tornar
excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos
extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução do contrato. Os efeitos da
sentença que a decretar retroagirão à data da citação"
Artigo 479:
“A resolução poderá ser evitada, oferecendo-se o réu a modificar equitativamente as
condições do contrato".
Artigo 480:
“Se no contrato as obrigações couberem a apenas uma das partes, poderá ela pleitear que a
sua prestação seja reduzida, ou alterado o modo de executá-la, a fim de evitar a onerosidade
excessiva"
Princípio do consensualismo
De acordo com o princípio do consensualismo, basta, para o aperfeiçoamento do contrato, o
acordo de vontades. Decorre ele da moderna concepção de que o contrato resulta do
consenso, do acordo de vontades, independentemente da entrega da coisa.
A compra e venda, por exemplo, quando pura, torna-se perfeita e obrigatória, desde que as
partes acordem no objeto e no preço (CC, art. 482). O contrato já estará perfeito e acabado
desde o momento em que o vendedor aceitar o preço oferecido pela coisa,
independentemente da entrega desta. O pagamento e a entrega do objeto constituem outra
fase, a do cumprimento das obrigações assumidas pelos contratantes (CC, art. 481).Assim, a
forma é, em regra, livre. As partes podem celebrar o contrato por escrito, público ou
particular, ou verbalmente, a não ser nos casos em que a lei, para dar maior segurança e
seriedade ao negócio, exija a forma escrita, pública ou particular (CC, art. 107). O
consensualismo, portanto, é a regra, e o formalismo, a exceção.
Princípio da relatividade dos efeitos dos contratos
Funda-se tal princípio na ideia de que os efeitos do contrato só se produzem em relação às
partes, àqueles que manifestaram a sua vontade, vinculando-os ao seu conteúdo, não afetando
terceiros nem seu patrimônio.
Porém, o Código Civil, que não concebe mais o contrato apenas como instrumento de
satisfação de interesses pessoais dos contraentes, mas lhe reconhece uma função social.
Assim, há a possibilidade de terceiros que não são propriamente partes do contrato possam
nele influir, em razão de serem direta ou indiretamente por ele atingidos.
ClÁUSULAS GERAIS DE BOA FÉ
Consiste em um dever de probidade entre as partes, de transparência e lisura. Deve ser
observado em todas as fases do contrato. A boa-fé objetiva não está ligada ao ânimo interior
das pessoas envolvidas na relação; em verdade, constitui um conjunto de padrões éticos de
comportamento, modelo ideal de conduta que se espera de todos os integrantes de
determinada sociedade.
Artigo 422 do Código Civil:
“Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua
execução, os princípios de probidade e boa-fé".
O princípio da boa-fé exige que as partes se comportem de forma correta não só durante as
tratativas, como também durante a formação e o cumprimento do contrato.
Guarda relação com o princípio de direito segundo o qual ninguém pode beneficiar-se da
própria torpeza.
Pressupõem a boa-fé objetiva, que impõe ao contratante um padrão de conduta, de agir com
retidão, ou seja, com probidade, honestidade e lealdade, nos moldes do homem comum,
atendidas as peculiaridades dos usos.
A regra da boa-fé, como já dito, é uma cláusula geral para a aplicação do direito obrigacional,
que permite a solução do caso levando em consideração fatores metajurídicos e princípios
jurídicos gerais.
A probidade, mencionada no art. 422 do Código Civil, é um dos aspectos objetivos do princípio
da boa-fé, podendo ser entendida como a honestidade de proceder ou a maneira criteriosa de
cumprir todos os deveres, que são atribuídos ou cometidos à pessoa. Ao que se percebe, ao
mencioná-la teve o legislador mais a intenção de reforçar a necessidade de atender ao aspecto
objetivo da boa-fé.
Cláusula Geral - A Função Social
Artigo 421 do Código Civil:
“A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato".
Não limitou a liberdade de contratar e sim legitimou a liberdade contratual. O conteúdo
contratual será submetido a um controle de merecimento, averiguando se o mesmo se
encontra de acordo com uma ordem social. Ou seja, subordina a liberdade contratual à sua
função social, com prevalência dos princípios condizentes com a ordem pública
O contrato não pode gerar obrigações para terceiros estranhos à relação negocial. Em
decorrência da autonomia privada, ninguém pode tornar-se devedor de obrigação contratual
por força de declaração manifestada por outrem.
A cláusula geral da função social é uma expansão da relatividade, com vistas a impedir que
possam ser afetados negativamente pelo contrato quaisquer interesses públicos, coletivos ou
difusos acerca dos quais não possam dispor os contratantes.
Não atende à função social, assim, os contratos cuja execução possa sacrificar, comprometer
ou lesar, de qualquer modo, interesses metaindividuais.
A consequência para a inobservância da cláusula geral da função social do contrato é a
nulidade do negócio jurídico e a responsabilidade dos contratantes pela indenização dos
prejuízos provocados.
O descumprimento do dever geral de boa-fé importa repercussões restritas aos interesses dos
contratantes, e, por isso, a mera responsabilidade civil é consequência adequada à plena
coibição do ilícito, não sendo necessário fulminar a validade do contrato.
No desrespeito à cláusula geral da função social, contudo, a nulidade é imposta pela lei, sem
prejuízo da obrigação de indenizar, para que a ofensa à norma de ordem pública seja
reprimida por completo. Atente-se para a extensão da consequência legal: se o contrato não
atende a sua função social, é nulo; desse modo, o contratante inadimplente não pode ser
judicialmente compelido pelo outro a cumprir as obrigações assumidas.
Cumpre sua função social o contrato que não sacrifica, compromete ou lesa interesses
metaindividuais (públicos, difusos ou coletivos) acerca dos quais não têm os contratantes a
disponibilidade.
O contrato que descumpre a função social, prejudicando interesses dessa ordem, é nulo.
Deve-se ainda realçar o disposto no parágrafo único do art. 2.035 do novo Código: “Nenhuma
convenção prevalecerá se contrariar preceitos de ordem pública, tais como os estabelecidos
por este Código para assegurar a função social da propriedade e dos contratos". As partes
devem celebrar seus contratos com ampla liberdade, observadas as exigências da ordem
pública.
Formação dos Contratos
A proposta de contrato obriga o proponente, se o contrário não resultar dos termos dela, da
natureza do negócio, ou das circunstâncias do caso. Essa norma prevista no artigo 427 do
Código Civil ressalta que o proponente não é livre para a qualquer tempo se desobrigar da
proposta feita.
Fases
1) Negociações preliminares: fase de debates. Não existe formalização de contrato. Em regra
tal fase não vincula as partes a realização da contratação, mas defendo a vinculação ao
deveres anexos a boa-fé objetiva. Por faltar regulamentação de tal fase no atual Código a
doutrina explica que não haverá vinculação, porém excepcionalmente pode ser sustentada a
responsabilidade civil extracontratual ou aquiliana, fundada no princípio de que os
interessados na celebração de um contrato deverão comportar-se de boa-fé (Maria Helena
Diniz).
2) Fase de proposta: aqui existe formalização, sendo chamada de fase de policitação. Tal fase
vincula as partes. Pode se dar entre presentes e pode ocorrer entre ausentes.
Deixará de ser obrigatória a proposta quando:
a) se, feita sem prazo a pessoa presente, não foi imediatamente aceita. Considera-se também
presente a pessoa que contrata por telefone ou por meio de comunicação semelhante;
b) se, feita sem prazo a pessoa ausente, tiver decorrido tempo suficiente para chegar a
resposta ao conhecimento do proponente;
c) se, feita a pessoa ausente, não tiver sido expedida a resposta dentro do prazo dado;d) se,
antes dela, ou simultaneamente, chegar ao conhecimento da outra parte a retratação do
proponente.A oferta ao público equivale a proposta quando encerra os requisitos essenciais ao
contrato, salvo se o contrário resultar das circunstâncias ou dos usos.
Pode revogar-se a oferta pela mesma via de sua divulgação, desde que ressalvada esta
faculdade na oferta realizada.
Ocorrendo, aceitação fora do prazo, com adições, restrições, ou modificações, importará nova
proposta.
3) Contrato preliminar: apesar de não ser de regra obrigatória tal fase vincula as partes. Deve
conter todos os elementos do contrato definitivo, exceto quanto a forma.
Em relação ao local da aceitação e celebração
Quando os contratos forem feitos por contratantes que não se encontrem presentes, o contrato
será considerado concluído desde que a aceitação for expedida.
A regra de que os contratos entre ausentes serão reputados perfeitos desde o momento de
expedição da aceitação, sofrerá as seguintes exceções:
quando a aceitação chegar junto ou concomitantemente com a retratação do oblato;quando
houver sido dado prazo para resposta e este correr em branco;quando o proponente houver se
comprometido a esperar a resposta.
Note que o tempo da conclusão do contrato será o da expedição da aceitação (teoria da
expedição), e não qualquer outro, como, por exemplo, o de sua chegada na esfera de controle
do proponente (teoria da recepção), ou o momento em que o aceitante psicologicamente se
decide por concluir o contrato.
Já em relação ao lugar do contrato, o Código Civil o define como o lugar em que foi proposto o
ajuste.
A norma que se refere ao lugar do contrato, assim como a normativa do tempo do contrato, é
supletiva, só tendo lugar quando as partes não houverem estipulado regra expressa.
Para o lugar do contrato, o legislador optou por acolher a doutrina da proposta.
O lugar em que se reputa proposto o contrato tem grande repercussão na vida moderna, vez
que aumentou imensamente o número de contratos que se realizam entre partes ausentes e
também via rede mundial de computadores – internet.
Dos Vícios Redibitórios
Vício redibitório é aquele defeito oculto que macula a coisa e lhe diminui a utilidade ou o valor
econômico. É esse, em apertada síntese, o conceito de vício redibitório. Caio Mário, mais
analítico, define como: “defeito oculto de que portadora a coisa objeto de contrato
comutativo, que a torna imprópria ao uso a que se destina, ou lhe prejudica sensivelmente o
valor".
Observe que é necessário que se trate de um contrato comutativo, ou seja, aquele contrato no
qual as partes possuam obrigações correspectivas. O donatário de uma doação onerosa
também poderá enjeitar a coisa caso ela esteja maculada com vício redibitório, vez que não se
trata de mera liberalidade.
O artigo 472 do Código Civil enuncia que a coisa poderá ser enjeitada em razão de vício
redibitório. Aqui é necessário se ter em mente que também será possível o pedido de
abatimento de preço. Em atenção à boa-fé objetiva que norteia o direito contratual e também
em decorrência da política de primar pelo natural desfecho do contrato, qual seja a sua
execução específica, deverá ser dada preferência ao abatimento do preço, isso, porém, sem se
afetar drasticamente a economia contratual, tampouco o interesse de qualquer das partes.
A faculdade de se pleitear o abatimento do preço está disposta no artigo 442. Essa será a base
legal para a futura ação estimatória.
Tratando acerca do quantum a ser ressarcido pelo alienante, o artigo 443 do Código Civil,
dispõe que a indenização será apenas do valor recebido mais as despesas do contrato quando o
alienante não conhecesse os vícios. É natural que se impute as despesas do contrato ao
alienante, pois os vícios redibitórios existiam previamente ao ajuste. Caso, porém, o alienante
conhecesse os vícios, a sua má-fé contratual não poderia ser privilegiada, dessa forma, é
natural que a indenização lhe seja mais gravosa, ela compreenderá, então, o valor do objeto,
as despesas contratuais, mais as perdas e danos decorrentes da resolução do contrato. A letra
da lei fala tão somente em “perdas e danos", mas é fácil verificar que o valor da coisa e as
despesas contratuais estão compreendidos no que se entende por perdas, sendo que o que
sobejar esse valor será compreendido no que se entende por “danos". Os lucros cessantes
deverão ser ressarcidos, e estão inseridos no conceito de perdas e danos de acordo com o
artigo 402 do Código civil.
A responsabilidade do alienante subsistirá quando a coisa perecer em poder do comprador em
razão de vício oculto existente anteriormente à tradição. Esse é um temperamento da regra
res perit domino, e ocorre em razão do perecimento da coisa ter causa em um vício, oculto e
pré-existente ao contrato. Como o vício não estava à mostra, e como já existia anteriormente
à tradição, leva-se em consideração que o comprador não teria adquirido a coisa caso soubesse
de sua real situação.
Já em relação aos prazos para que o comprador exerça o seu direito de pleitear a redução de
preço ou enjeitar a coisa, o artigo 445 do Código Civil enuncia que “o adquirente decai do
direito de obter a redibição ou abatimento no preço no prazo de trinta dias se a coisa for
móvel, e de um ano se a coisa for imóvel, contado da entrega efetiva; se já estava na posse, o
prazo conta-se da alienação, reduzido à metade". Note que se trata de um prazo decadencial,
findo o qual o comprador perde o direito de ter o preço reduzido ou enjeitada a coisa. Aqui
não se está a falar da prescrição que somente retiraria a possibilidade de se exigir
judicialmente a garantia pelos vícios redibitórios. O que está em jogo é o próprio direito, razão
pela qual a situação se estabilizará quando o prazo transcorrer em branco. Importante
observar que por se tratar de prazo decadencial não haverá suspensão ou interrupção.
Quando for a hipótese da parte final do caput deste artigo, é de se observar que a redução do
prazo pela metade visa diminuir o tempo em que o alienante fica obrigado a garantir a coisa
quando o comprador já teria subsídios para ter verificado os vícios ocultos. Nesse caso é
primordial ter em mente que os prazos, mesmo reduzidos à metade, não poderão, nunca, ser
inferiores ao tempo de trinta dias para bens móveis e um ano para bens imóveis. Acreditar que
a redução dos prazos pudesse levar a situações nas quais o prazo se reduzisse aquém dos
marcos de trinta dias e um ano seria um desvio de perspectiva, pois nesse caso se estaria a
agravar sobremaneira a situação do comprador, sem que, no entanto, lhe fosse possível ter
verificado os defeitos da coisa.
O parágrafo primeiro desse artigo enuncia regra de difícil interpretação. A disposição de que
os prazos, quando o vício, por sua natureza, só puder ser conhecido mais tarde, contar-se-ão
do momento em que o comprador deles tomar ciência, até o prazo máximo de cento e oitenta
dias para coisas móveis e um ano para bens imóveis, quer dizer que o legislador não quis que o
alienante ficasse indefinidamente obrigado a garantir a regularidade da coisa. Nessa situação o
aplicador do direito deverá entender a norma da seguinte forma: quando se tratar de coisa
móvel, o comprador terá até 30 dias para pleitear a redução do preço ou enjeitar a coisa, isso
se o vício de difícil constatação houver aparecido dentro do prazo de 180 dias contados da
tradição; quando se tratar de bem imóvel, o comprador terá o prazo de um ano para fazer
valer seu direito em razão do vício redibitório, quando o vício se manifestar dentro do prazo
de um ano da alienação. A disposição do caput que reduz os prazos pela metade não incidirá
sobre os prazos de cento e oitenta dias e um ano previstos no parágrafo primeiro.
O parágrafo segundo do artigo 445 do Código Civil traz regra supletiva para a compra e venda
de animais. Dispõe que a matéria dos vícios redibitórios será regida por lei especial. Não
havendo, será regida pelos usos e costumes da região do contrato.
Quando, pelo contrato, houver cláusula de garantia, o prazo de decadência do direito
decorrente dos vícios redibitórios não fluirá até que a garantia se escoe completamente,
todavia será dever do comprador cientificar o alienante do vício no prazo decadencial de trinta
dias contado da verificação do defeito. O que essa norma do Código Civil quer dizer é que
haverá uma extensão do prazo no qual o comprador estará garantido da aparição de vícios,
mas caso se verifique o defeito ainda no prazo da garantia, em atenção à boa-fé contratual
deverá o comprador notificar o vendedor sob pena de perder o direito de abatimento do preço
ou de enjeitar a coisa.
CASO PRÁTICO:Leonardo compra de André um cavalo para que seja o reprodutor de seu haras.
Após a tradição, Leonardo descobre que o cavalo possui problemas de fertilidade, o que lhe
retira completamente a utilidade em razão de sua finalidade. Depois de tentativas
extrajudiciais de composição as partes não conseguiram chegar a um acordo. Na qualidade de
advogado, esclareça os direitos de Leonardo sabendo que dentre a verificação do vício e a
tradição passaram somente 29 dias.
Resposta: Leonardo possui direito a escolher entre enjeitar o cavalo ou pedir o abatimento de
seu preço na razão do que a infertilidade o desvaloriza. Não há que se falar em decadência do
direito, vez que entre a tradição e a verificação do vício redibitório passaram-se apenas 29
dias e o prazo decadencial do artigo 445 caput do Código Civil, para coisas móveis, é de 30
dias. Outra coisa a se ressaltar é que a natureza do vício faz com que ele seja de difícil
verificação, razão pela qual Leonardo teria a seu favor a extensão do prazo, na conformidade
do que dispõe o parágrafo 1º do mencionado artigo.