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É possível falar sobre a acessibilidade cultural para a pessoa com deficiência sob os mais
diferentes aspectos, mas todos eles nos levam, na sua essência, a falar em oportunidades iguais
para todos. E esse processo terá sempre uma relação direta com um conceito fundamental:
autonomia. Uma sociedade verdadeiramente justa e pensada na diversidade é aquela em que
todos têm o direito e a real possibilidade de estar juntos nos mais diferentes momentos da vida
cotidiana. Para tal, é preciso eliminar as barreiras que ainda impedem que esse encontro
aconteça.
É comum ainda pensarmos somente nas barreiras arquitetônicas, que impedem a
mobilidade das pessoa com deficiência física, porém, boa parte dos obstáculos ainda está na
falta de acessibilidade comunicacional, na falta de recursos que permitam que pessoas cegas,
de baixa visão ou surdas possam acessar aos conteúdos.
No Brasil, segundo o Censo Demográfico IBGE de 2010 (IBGE, 2010), mais de 45 milhões
de pessoas têm algum tipo de deficiência, o que corresponde a mais de 20% do total da
população brasileira. Sendo a arte e a cultura no país essencialmente financiadas com dinheiro
público, via mecanismos de fomento direto ou indireto, temos uma parcela significativa da
população impedida de participar por inteiro desse processo. Impedida, não só de usufruir da
produção artística mas também, e não menos importante, de se expressar artisticamente.
Apesar de pagarem seus impostos normalmente, não têm acesso aos bens e produtos gerados
por eles.
A legislação relativa à pessoa com deficiência no Brasil já é bastante ampla e consistente,
e gradualmente está sendo posta em prática por todo o país. A luta hoje é muito mais por
colocar as ações em prática do que pela criação de novas normas. Leis e regulamentos sempre
podem, e devem, ser aprimorados, mas o que precisamos de mais urgente é fazer as coisas
acontecerem. E para que aconteçam é necessário que cada vez mais a sociedade entenda, e
adote, esta causa como sua.
Dois momentos, em especial, merecem o devido destaque no caminho percorrido pela
legislação brasileira: a Lei Brasileira de Inclusão e a Convenção Internacional sobre os Direitos
da Pessoa com Deficiência.
A Lei nº 13.146, promulgada em 6 de julho de 2015, foi chamada de Lei Brasileira de Inclusão da
Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência) por tratar especificamente do
tema de maneira bastante ampla. O seu texto de apresentação diz o seguinte:
“Art. 1º É instituída a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da
Pessoa com Deficiência), destinada a assegurar e a promover, em condições de
igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais por pessoa com
deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania.”
Alguns pontos da Convenção Internacional sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência,
assinada na ONU em 2007, também merecem ser destacados porque tocam diretamente na
questão da inclusão, ao falar do exercício dos direitos e principalmente da eliminação de
barreiras. O texto da Convenção diz:
Art. 1º - Propósito - O propósito da presente Convenção é promover, proteger e assegurar
o exercício pleno e equitativo de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais
por todas as pessoas com deficiência e promover o respeito pela sua dignidade inerente.
Pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos de longo prazo de natureza
física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras,
podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdades de
condições com as demais pessoas.
Para que a implementação das ações de acessibilidade aconteça na prática é preciso ter
em mente o processo como um todo. As barreiras ao acesso da pessoa com deficiência surgem
em momentos muito diferentes, e por isso é preciso um planejamento rigoroso para que todas
as etapas estejam devidamente cobertas. Para tal, existem diferentes recursos e estratégias de
acessibilidade específicos para cada tipo de deficiência, e para os mais diversos momentos. Se
um teatro, por exemplo, resolveu todos os seus problemas arquitetônicos que impediam o
acesso da pessoa com deficiência, mas não oferece outros recursos de acessibilidade que
eliminem as barreiras de comunicação, ele continua de fato inacessível a uma parcela da
população que precisa desses recursos. O objetivo a ser buscado deve ser a equidade de
informações e oportunidades entre as pessoas.
Cabe ressaltar que não existe apenas uma maneira de aplicar os recursos de acessibilidade em
um evento, não existe uma fórmula ou receita única. Cada espaço e cada tipo de evento tem a
melhor maneira de tratar suas diferentes demandas e especificidades.
Texto ou Roteiro, se houver, na versão mais recente possível, para produção do roteiro de
audiodescrição, das legendas descritivas e intérpretes de LIBRAS.
Registro em vídeo do espetáculo, na versão mais recente possível feito em plano aberto, para
produção do roteiro de audiodescrição, das legendas descritivas e disponibilização aos
intérpretes de LIBRAS. No caso da produção não dispor de registro em vídeo, será
necessário que a equipe de acessibilidade filme o espetáculo ou ensaio geral para fins de
produção de roteiro e estudo. Por último, caso esta filmagem por algum motivo não seja
possível, a equipe deve assistir a ensaios gerais ou espetáculos que antecedem a sessão
com as acessibilidades;
Caso a produção opte por distribuir material em Braille e/ou letra ampliada, é necessário
que este material seja disponibilizado com antecedência na versão final.
No caso de eventos como seminários, palestras ou espetáculos de improviso, um roteiro
contendo as informações e sequencias de acontecimentos, bem como os créditos dos
participantes deverá ser disponibilizado para a equipe de acessibilidade.
Visita técnica deve ser realizada uma visita técnica específica com os profissionais responsáveis
pelos recursos de acessibilidade. Nesta visita serão definidos o local para
posicionamento dos profissionais, para montagem de cabine, se for o caso, o correto
posicionamento dos profissionais de apoio envolvidos e como acontecerá a distribuição
de fones e o fluxo dos usuários nos dias de apresentação.
Ensaios: É fundamental a permissão do acesso dos profissionais em alguns ensaios prévios,
caso a equipe sinta necessidade. Nestas ocasiões eles poderão ajustar o material
previamente produzido, ensaiar sua execução e entrar em contato com a equipe artística
para que os recursos estejam adequados ao conteúdo original.
Apresentações: É essencial que a equipe de produção do evento, a equipe do espaço onde ele
será realizado e os artistas envolvidos, tenham ciência das datas de realização das
apresentações acessíveis e recebam as orientações necessárias sobre posicionamento
dos profissionais e dinâmica do público de usuários.
É recomendado que as apresentações acessíveis não sejam realizadas para um público
exclusivo de pessoas com deficiência mas sim em sessões correntes, durante das temporadas,
fazendo que a sessão seja compartilhada por todos.
Recomenda-se a produção de um áudio de abertura avisando a plateia sobre a presença dos
recursos de acessibilidade naquela sessão. Este aviso costuma evitar surpresas ou
estranhamentos por parte do público comum, além de agregar valor a sessão.
É importante que a produção se empenhe para divulgar as sessões acessíveis junto a grupos e
instituições de pessoas com deficiências e nas peças de divulgação na mídia convencional a fim
de que a informação da sessão acessível chegue ao usuários.
Texto ou Roteiro, na versão final, para produção do roteiro de audiodescrição, das legendas
descritivas e disponibilização aos intérpretes de LIBRAS.
No caso de conteúdo estrangeiro para o qual serão aplicados recursos de acessibilidade
em português, é importante que seja disponibilizado o texto já traduzido para o
português ou que deve ser previsto no orçamento a tradução;
Arquivo digital de referência com timecode aparente, na versão final, para produção do roteiro
de audiodescrição, das legendas descritivas e disponibilização aos intérpretes de LIBRAS.
A entrega dos recursos de acessibilidade por ser feito de duas formas: em arquivos
avulsos de áudio (audiodescrição), imagem (LIBRAS) e texto (legendas LSE) tratados e em
sincronismo com a versão original ou já aplicados no vídeo. Esta segunda forma inclui o serviço
de um profissional de edição e tempo de ilha de edição;
A AUDIODESCRIÇÃO EM PRODUTOS AUDIOVISUAIS
Para a produção da audiodescrição gravada, o processo se dá nas seguintes etapas:
Estudo e preparação: A equipe de intérpretes recebe uma cópia do filme com Time Code
aparente (referência de tempo que sincroniza áudio e vídeo). Recebe também o texto ou
roteiro contendo a lista de diálogos ou falas do filme. Realiza estudo e define a melhor
forma de sinalizar determinadas frases, expressões ou nomes próprios não usuais.
Define também o ritmo da sinalização em momentos críticos onde as falas são mais
rápidas ou quando há um acúmulo de informações faladas.
Gravação: Os intérpretes entram em estúdio, acompanhado de um diretor de gravação para
executar a filmagem da LIBRAS. Normalmente a filmagem é feita com fundo verde que
permite que a imagem do intérprete seja recortada e aplicada sobre a imagem principal.
Edição e Sincronização: Depois de gravada, a LIBRAS é editada para que o intérprete fique em
sync com a obra e apenas apareça quando há necessidade.
Aplicação no produto: Com o recurso da tela verde, o intérprete pode ser recortado ou aplicado
sobre uma cor ou textura que se adeque melhor ao produto. Normalmente se aplica a
janela de LIBRAS no canto inferior direito do vídeo, cuidando para que a imagem tenha
um tamanho adequado e de boa visualização.
Transmissão da LIBRAS: A janela de LIBRAS pode ser aplicada sobre o vídeo ou ser encodada em
um canal de transmissão paralelo, o que permite o acionamento ou não do recurso.
Existem também aplicativos que transmitem as LIBRAS em paralelo ao conteúdo que
estiver sendo exibido na TV ou na sala de cinema. Neste caso, o usuário assiste ao
intérprete no celular (ou outro suporte) enquanto a obra original está sendo exibida.