UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ

CENTRO HUMANIDADES
SECRETARIA DE APOIO ÀS TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS
CURSO DE LICENCIATURA EM ARTES VISUAIS EAD

TURMA 2020 – Semestre 2021.1

DISCIPLINA: Fundamento das Artes Plásticas – NPC 06/06/2021
Profa. Ma. Bianca Ziegler de Souza
Profa. Dra. Leandra Fernandes do Nascimento
Aluna: Maria Regina Monteiro da Silva

INTRODUÇÃO

Rosana Paulino é Artista Plástica, Doutora em Artes Visuais pela Escola de

Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo – ECA/USP. A artista tem mais de
130 trabalhos produzidos entre 1993 e 2018 e possui obras em importantes museus tais
como MAM-SP, MASP e UNM – University of New Mexico Art Museum (EUA). Em
2018 teve seus trabalhos exibidos na Pinacoteca de São Paulo com a exposição “Rosana
Paulino: A costura da memória”.

Em uma realidade brasileira onde poucos artistas negros tem a devida

valorização, Rosana se destaca com um trabalho cheio de personalidade e
ancestralidade. A artista utiliza-se de várias linguagens em seus trabalhos, tais como o
desenho, a gravura a escultura e técnicas mais contemporâneas como a xilogravura, a
fotografia e a impressão além de utilizar objetos e tradições ligados ao ambiente
doméstico como tecidos, agulhas linhas bordado e costura.

A obra Bastidores, exibida na Pinacoteca de São Paulo em 2018 trata-se de

fotografia de mulheres negras transferidas para um tecido amparado por bastidores de
madeira. Nas imagens as mulheres têm sua boca, olhos, garganta e testas rudemente
suturadas com um bordado grosseiro. A obra escancara a violência sofrida por mulheres
negras no âmbito doméstico e intelectual. O bordado grosseiro é chocante comparado às
características suaves do bordado tradicional. É a denuncia da relação de silenciamento,
violência e invisibilidade encontrados em um ambiente que simboliza a segurança e a
dignidade.
OBRA

FOTO Bastidores (1997), da artista Rosana Paulino. Obra esteve em exposição na Pinacoteca de São
Paulo em 2018. Fonte da imagem: https://mam.org.br/acervo/1997-076-000-paulino-rosana/

Bastidores (1997) é uma obra plástica, contemporânea, criada pela artista

Rosana Paulino, Doutora em Artes Visuais pela Escola de Comunicações e Artes da
Universidade de São Paulo – ECA/USP. Graduada em Artes Plásticas também pela
USP. Atua na arte desde os anos 1990, porém, só teve sua primeira exposição individual
em 2018, na Pinacoteca de São Paulo. “Seus trabalhos têm como foco principal a
posição da mulher negra na sociedade brasileira e os diversos tipos de violência sofridos
por esta população decorrente do racismo e das marcas deixadas pela escravidão
(PAULINO, 2018)”.

ASPECTOS VISUAIS

A obra é composta por seis peças que consistem em fotografias impressas

através da técnica de xerografia em tecido sendo sustentados por bastidores de madeira.
Nas imagens as mulheres têm a partes especificas do rosto e pescoço costurados com
uma linha preta. As peças estão dispostas lado a lado. As imagens são em preto e
branco. A mulher da primeira imagem tem a boca e a garganta tapadas pelo bordado, a
mulher aparenta-se jovem, tem os cabelos curtos em estilo black power, a mulher
aparece do ombro para cima e no seu lado esquerdo aparece uma serie de números. A
segunda mulher da imagem tem os olhos costurados, também se aparenta jovem, tem
cabelos curtos e usa uma blusa ou vestido de cor clara, talvez branco. A terceira jovem
tem a boca costurada, assim como a segunda, esta tem cabelos curtos ou presos e assim
como a primeira esta imagem apresenta uma serie numérica na parte inferior á esquerda
da jovem. A quarta mulher tem a testa bordada, assim como as demais é uma moça
jovem. A quinta imagem a moça tem a garganta costurada e está posicionada com a
cabeça levemente inclinada para o lado, está jovem aparenta-se estar usando uma roupa
clara, a sexta e última imagem a mulher tem a boca costurada assim como as demais se
apresenta posicionada do ombro para cima, a mulher aparenta-se um pouco mais velha
que as demais, seus cabelos também são curtos. As imagens apresentam características
de fotografias 3x4. A costura no tecido do bastidor é apresentada por um trabalho
rustico e grosseiro como em uma espécie de zig zag com o tecido sendo repuxado dando
aspectos amassados ao mesmo.

ASPECTOS CONCEITUAIS

As imagens são fortes e traz uma sensação de incomodo, reação contraria ao

se olhar um bordado floral em um bastidor. A imagem em que a mulher tem a testa
suturada me remete imediatamente as privações intelectuais que as mulheres negras
sofreram (e sofrem, frente a um país ainda racista) assim como toda a comunidade
negra. Como dito anteriormente, a costura sempre se faz presente no trabalho de Paulino
assim como os utensílios domésticos como linha, agulha, algodão, material têxtil.
Okasaki (2019) ressalta que: “As fotos usadas para o trabalho foram retiradas do álbum
de sua família da própria Rosana e a ideia de representar mulheres em situações de
silenciamento veio de relatos de sua irmã quando essa trabalhava como assistente
social”

As imagens em preto e branco dão um contraste de temporalidade e

reforçam a ideia de um problema social que existiu naquela época e existe hoje ainda,
são mulheres que uma após a outra, de geração em geração, foram sofrendo
apagamento. O nome bastidores tem aqui um duplo sentido, por remeter também aos
bastidores da vida privada, o nome me traz uma leitura da condição de repressão e
violência que as mulheres sofrem nos “bastidores do seu lar”. As fotos da obra
Bastidores me remetem também aos utensílios de tortura usados na escravidão, como as
gargalheiras, usado para dificultar ou impossibilitar a fuga, utensílios de ferro que
cobriam a boca, os olhos como castigos por desobediência ou roubo. Bevilacqua (2018
apud KIMBERLY, 2018) percebe que os números de identificação em duas das seis
imagens, lembram fotografias de criminosos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A obra de Paulino e de tantas outras mulheres que durante muito tempo se
viram invisibilidades por uma instituição patriarcal é uma arte politica que conversa
com a modernidade e parece fazer ainda mais sentido no movimento contemporâneo.
As artistas, mulheres e negras que não se viam representadas nesse campo, hoje elas são
sua própria referência. A mulher negra sempre foi retratada, em todos os campos da
arte, em uma posição de servidão, exotismo e erotismo, e ainda hoje seus corpos são
erotizados e suas personas ainda são deslocados do meio intelectual.

A obra Bastidores é o retrato do silenciamento, da violência, da

invisibilização de mulheres negras em todos os períodos do tempo. Sua arte dá sentido a
esses sentimentos de indignação que muitas vezes estão presos na garganta, é uma
perspectiva de expressar e expor as injustiças da sociedade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

PAULINO, Rosana. Rosana Paulino - Site Oficial. 2018. Disponível em:

https://www.rosanapaulino.com.br/. Acesso em: 03/05/2021

BEVILACQUA, Juliana Ribeiro da Silva. O vazio na obra de Rosana Paulino. São

Paulo: Pinacoteca de São Paulo, 2018. Disponível em: http://pinacoteca.org.br/wp-
content/uploads/2019/07/AF_ROSANAPAULINO_18.pdf. Acesso em: 03/05/2021

OKASAKI, Aymê. Os avessos dos bastidores: a visibilidade da mulher negra nos

trabalhos de Rosana Paulino. REVISTA D'OBRAS (ONLINE), v. 11, 2019. p, 268-
275. Disponível em: https: https://mam.org.br/acervo/1997-076-000-paulino-
rosana///dobras.emnuvens.com.br/dobras/article/view/868. Acesso em: 26/05/2021