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A primeira década do séc. XIX foi marco de grandes mudanças sociais e culturais
no Brasil, que desde o “descobrimento” pertencia ao sistema colonial português. Hospedaram-
se no Brasil, em 1808, a família real portuguesa e toda sua corte, que fugiam da investida do
exército de Napoleão. Dom João VI instalou sua corte no Rio de Janeiro e para adaptar a
cidade as exigências dos nobres que o acompanhavam ele inicia uma “série de reformas
administrativas, socioeconômicas e culturais, assim são criadas as primeiras fábricas e
fundadas instituições como o Banco do Brasil, a Biblioteca Real, o Museu Real e a Imprensa
Régia” (PROENÇA, 2007, p. 195). Nesse período o Brasil recebe forte influência da cultura
europeia, que desde o século passado vivia sob a influência dos ideais iluministas.
Taunay já tinha uma carreira notória na França como pintor de paisagens, que era
sua especialidade, porém, produziu algumas telas históricas, sobretudo, os feitos do exercito
Napoleônico. Chegando ao Brasil com a família, o pintor se instalou na Tijuca. Porém, apesar
de encantando com a paisagem local, em uma carta enviada à França (não se sabe para quem)
o pintor “queixava-se do ‘retardo cultural’ do Brasil que estaria ainda submetido ao domínio
religioso e longe da influência do espírito das Luzes” (SCHWARCZ, 2017, p. 133). Taunay
pintou mais de trinta quadros sobre o Brasil e em alguns trabalhos podemos perceber ícones e
símbolos clássicos nas paisagens que aqui pintou, como a inserção de pontes em formato de
arco romano e edifícios com características romanas em algumas pintura, tais como,
Cascatinha da Tijuca e Vista Tomada da Propriedade do Chamberlain. Alencar (2017, p.
2451) observou que enquanto morava na França Taunay estudou três anos em Roma e lá teve
contato com a obra de Claude Lorrain (1600-1682) artista do classicismo barroco que viveu
na Itália, suas telas de paisagens pastorais inspirará Taunay no uso da luminosidade em suas
pinturas.
Taunay também não se deu bem com a escravidão do Brasil e diferente de Debret
preferiu minimizar a presença de escravos de sua obra. Segundo Schwarcz (2017, p. 133)
Taunay enviava quadros para a França, algumas vezes para o Instituto e outras para o Salão de
Paris, sendo assim, era inconveniente para o pintor expor o regime escravista do Brasil á uma
França onde se privilegiava as virtudes e a liberdade. Esse fato nos faria pensar em como
Taunay contribuiu para apresentar uma visão idealizada do que seria a cultura do Brasil, se
não fosse, como bem explicita Schwarcz (2017, p. 134) a estratégia do pintor em retratar os
escravos diminutos, mas, com um olhar critico sobre sua situação. Os escravos, nas suas telas,
estavam sempre trabalhando em alguma ocupação, seja quebrando pedras, seja carregando
tijolos, literalmente construindo a cidade para os nobres. Taunay também irá se pintar ao lado
dos escravos, como na pintura Retorno dos pastos: caminhada dos animais ao nascer do sol,
e Cascatinha da Tijuca, só para citar alguns exemplos. Taunay também pintou retratos
enquanto esteve no Brasil, como o retrato da filha de Carlota Joaquina intitulado Retrato de
Ana de Jesus Maria de Bragança e o Retrato da Marquesa de Belas. Pintou também um
único quadro com temática histórica, Primeiro Passeio de D. João VI e D. Carlota Joaquina
na Quinta da Boa Vista, Infelizmente essa pintura foi destruída no incêndio do Museu
Nacional, em 2018.
Assim como Taunay não se deu bem com os trópicos, os artistas locais não se
deram bem com os franceses. A construção da Academia tomou rumos problemáticos e
rodeada de intrigas por parte dos “artistas locais com o apoio do cônsul geral francês que não
viam com bons olhos a presença dos bonapartistas” (BARDI, 1975, p. 150). Além disso, os
artistas da Missão também sofreram os desafios de fixar o neoclassicismo no Brasil.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARDI, Pietro Maria. História da arte Brasileira. Ed. Melhoramentos, São Paulo, 1975.
228p
PROENÇA, Graça. História da Arte. Ed. Ática, São Paulo, 2011. 448p