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Manejo de pacientes adultos com suspeita de COVID-19

Hospital das Clínicas


Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG
Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares - Ebserh

Grupo de Apoio Técnico-Científico para enfrentamento da COVID-19

Anestesiologia: Alan Rezende Freitas Colares


CCIH: Juliana Fulgêncio
Clínica Médica: Carolina Coimbra Marinho
Divisão de Enfermagem: Ana Carolina de Oliveira Paiva
Divisão Médica: Saulo Fernandes Saturnino
Fisioterapia: Tatiane Moisés Murça
Infectologia: Helena Duani
Pediatria: Adriana Teixeira Rodrigues
Pneumologia: Valéria Maria Augusto
Pronto-Socorro: Marcus Vinícius Melo Andrade
Terapia Intensiva: Vandack Alencar Nobre Júnior

Apoio institucional:
Luciana Cristina dos Santos Silva
Chefe de Divisão Médica - HC – UFMG

Belo Horizonte, março de 2020


Este prococolo visa orientar a assistência aos pacientes adultos portadores da COVID-19, causada pelo novo
coronavírus (SARS-CoV2), no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais / Ebserh (HC-UFMG).
Dada a urgência imposta pela pandemia, à semelhança do que tem ocorrido em outras instituições e com
protocolos publicados por entidades de saúde nacionais e internacionais sobre a COVID-19, grande parte das
recomendações aqui presentes são baseadas em evidências científicas fracas, mas as melhores disponíveis, e em
princípios de boas práticas. Portanto, vale frisar que este documento será alvo de atualizações frequentes,
conforme forem disponibilizados novos dados na literatura científica.

Este documento foi produzido pelo Grupo de Apoio Técnico-Científico para enfrentamento da COVID-19 do HC-
UFMG.

Belo Horizonte, 24 de março de 2020


Capítulo 1. NOTIFICAÇÃO E DEFINIÇÕES

NOTIFICAÇÃO

Todos os casos de síndrome gripal atendidos em Belo Horizonte deverã o ser notificados imediatamente em
formulário on line em ficha própria (http://bit.ly/notificaCOVID19). Se necessário, os casos podem ser
discutidos com o GAERE (31 3277-4331, de 7 às 18h) ou Centro de Informaçõ es Estraté gicas em Vigilâ ncia
a Saú de – CIEVS – BH - Contatos: (31) 3277-7767 / 7768 (08:00 as 18:00 h de segunda a sexta-feira), (31)
98835-3120, (período noturno e finais de semana).

Casos de SRAG serão notificados eletronicamente como síndrome gripal (http://bit.ly/notificaCOVID19) e,


adicionalmente, em ficha de notificação física de SRAG
(http://www.pbh.gov.br/smsa/biblioteca/protocolos/ficha_srag.pdf).

CID COVID-19: U07.1

A coleta de material para isolamento viral está indicada nos pacientes com indicação de internação.

ATRIBUIÇÕES, COMPETÊNCIAS E RESPONSABILIDADES

Médico - Notificar os casos.


- Avaliar pacientes suspeitos e avaliar gravidade clínica.
- Realizar intubação orotraqueal se indicada.
- Observar e registrar em prontuário mudanças no quadro
clínico.
- Solicitar e interpretar exames complementares quando
indicado.
- Prescrever antiviral e antimicrobiano (ATM) quando indicado.
- Registrar em prontuário as atividades realizadas e comunicar
à equipe de enfermagem sobre mudanças no quadro clínico.
Enfermeiro - Avaliar as necessidades de saúde do paciente.
- Planejar a assistência de enfermagem de acordo com as necessidades
identificadas.
- Executar os procedimentos de enfermagem inerentes ao cuidado do
paciente.
- Partcipar dos procediemntos como intubação rotoraqueal e ressuscitação
cardiopulmonar.
- Observar, registrar e comunicar alterações no quadro clínico à equipe
médica.
- Registrar em prontuário as condições clíncias e a assistência prestada ao
paciente.
- Providenciar os materiais necessários ao diagnóstico e tratamento da
SRAG.
Técnico de - Realizar punção de acesso venoso.
enfermagem - Preparar e administrar medicamentos prescritos.
- Implementar os cuidados de enfermagem planejados pelo enfermeiro.
- Observar, registrar e comunicar ao médico e ao enfermeiro alterações no
quadro clínico do paciente.
- Anotar as atividades realizadas no prontuário do paciente.
Fisioterapeuta - Realizar avaliação, plano terapêutico e acompanhamento fisioterapêutico
conforme Protocolo Setorial.
- Realizar atividades de manejo da via aérea, participar dos procedimentos
de intubação orotraqueal e ressuscitação cardiopulmonar, monitorização
cardiopulmonar e ajustes ventilatórios conforme discussão com equipe
multidisciplinar.
- Participar das discussões multidisciplinares acerca das condutas clínicas
diárias e dos fluxos de atendimento.
- Registrar em prontuário as atividades realizadas.
Serviço de Controle - Auxiliar na elaboração de protocolos relacionados fluxo de
de Infecção pacientes, isolamento respiratório e tratamento dos pacientes.
Hospitalar/Comissão - Elaborar e realizar treinamento com a equipe de saúde para
de Controle de uso correto de equipamentos de proteção individual (EPIs).
Infecção Hospitalar
Laboratório - Coletar material para exames e encaminhá-lo de imediato
para processamento.
- Disponibilizar resultados pelo sistema MATRIX.
Farmácia - Monitorar e controlar estoques de medicamentos previstos no protocolo.
- Receber prescrições e pedidos de medicamentos e avaliá-los.
- Separar medicamentos solicitados e fornecer de forma
precisa e oportuna às unidades de cuidado.
- Em caso de dúvidas, fornecer informações técnicas a respeito
dos medicamentos.
Gesqualis - Aprovar e registrar atividades educativas e de treinamento.
- Aprovar e registrar atividades de intervenção nas unidades.
Gestores de área - Providenciar aquisição de suprimentos.
- Garantir o gerenciamento dos protocolos e aplicação das
medidas cabíveis diante de não conformidades.
Diretoria - Garantir infraestrutura adequada.
- Garantir cumprimento das atribuições desse protocolo.
- Garantir a provisão e gerenciamento de recursos humanos.
SOST - Elaborar e realizar treinamento com a equipe de saúde para
uso correto de equipamentos de proteção individual (EPIs).

DEFINIÇÕES

Caso provável de Infecção Humana. Caso suspeito com o teste inconclusivo para COVID-19 ou com teste
positivo em ensaio de pancoronavírus.

Caso confirmado. Pessoa com confirmaçã o laboratorial para COVID-19, independente de sinais e sintomas.

Caso descartado de Infecção Humana. Caso suspeito com resultado laboratorial negativo para COVID-19
ou confirmaçã o laboratorial para outro agente etioló gico.

Caso Excluído de Infecção Humana. Caso notificado que nã o se enquadrar na definiçã o de caso suspeito.
Nessa situaçã o, o registro será excluído da base de dados nacional.

Síndrome gripal e SRAG

1. Síndrome gripal (SG) - indivíduo com febre, mesmo que referida, acompanhada de tosse ou dor de garganta,
com início de sintomas nos últimos 7 dias.
2. Síndrome respiratória aguda grave (SRAG) - indivíduo hospitalizado com febre, mesmo que referida,
acompanhada de tosse ou dor de garganta e que apresente dispneia ou saturação de O 2 menor que 95% ou
desconforto respiratório ou que evoluiu para óbito por SRAG independentemente de internação.

As definições acima são independentes da história de viagem, contato com casos suspeitos ou confirmados de
COVID-19.

Febre: considera-se Temperatura axilar > 37,80C. Ressalta-se que pacientes muito debilitados podem não
apresentar febre.

DIAGNÓSTICOS

DIAGNÓSTICO CLÍNICO

O quadro clínico inicial da doença é caracterizado como síndrome gripal.

DIAGNÓSTICO LABORATORIAL

O diagnó stico laboratorial para identificaçã o do vírus COVID-19 está indicada nos pacientes com
SRAG.

DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL

As características clínicas nã o sã o específicas e podem ser similares a outras doenças causadas por
vírus respirató rios, que també m ocorrem sob a forma de surtos tais como influenza, parainfluenza,
rinovírus, vírus sincicial respirató rio, adenovírus, outros coronavírus, entre outros.

CONSIDERAÇÕES

Período de Incubação

O período mé dio de incubaçã o da infecçã o por coronavírus é de 5 a 6 dias, com intervalo que pode
variar de 0 -14 dias.

Período de Transmissibilidade

A transmissibilidade dos pacientes infectados por COVID-19 é, em média, de 7 dias após o início dos
sintomas.
Capítulo 2. Triagem dos pacientes com suspeita síndrome gripal (SG)/ síndrome respiratória aguda grave
(SRAG)

1. Síndrome gripal (SG) - indivíduo com febre, mesmo que referida, acompanhada de tosse ou dor de garganta,
com início de sintomas nos últimos 7 dias.

2. Síndrome respiratória aguda grave (SRAG) - indivíduo hospitalizado com febre, mesmo que referida,
acompanhada de tosse ou dor de garganta e que apresente dispneia ou saturação de O 2 menor que 95% ou
desconforto respiratório ou que evoluiu para óbito por SRAG independentemente de internação.

As definições acima são independentes da história de viagem, contato com casos suspeitos ou confirmados de
COVID-19.

Situações especiais para definição de encaminhamento (HC – UFMG)

INDIVÍDUO COM SINTOMAS RESPIRATÓ RIOS


(Tosse ou secreçã o nasal ou dificuldade respirató ria)
Com FEBRE*
Situacao 1 Situacão 2 Situacão 3
Paciente não Demanda espontânea ou encaminhado - Paciente encaminhado ao PS do HC-
pertence ao por médico do Ambulatório do HC- UFMG
Ambulatório do UFMG (principalmente se Hematologia, (ver Capítulo 3 – fluxo Pronto
HC Oncologia, Transplantes ou que fazem Socorro), até estabelecimento de
hemodiálise no HC). unidade de avaliação do sintomático
Obs: pacientes provenientes de outros respiratório.
ambulatórios devem seguir - Funcionários do HC-UFMG durante
preferencialmente a Situação 1, porém jornada de trabalho, com
na decisão deve predominar o memorando da chefia solicitando
julgamento clínico (eg. avaliação.
imunocomprometimento grave,
cirrótico Child-Pugh C, doenças
complexas).
Não passar pela
triagem Triagem (seguir fluxo 1)

Encaminhar o Definir indicação de isolamento domiciliar, observação ou internação


paciente para hospitalar
UPA-Centro Sul
* Ressalta-se que pacientes muito debilitados podem não apresentar febre
Fluxo 1. Triagem para decisão de isolamento domiciliar, observação ou internação hospitalar em
pacientes com SG / SRAG

Situação clínica 1 Situação clínica 2 Situação clínica 3


INTERNAR IMEDIATO SOLICITAR EXAMES E REAVALIAR ISOLAMENTO DOMICILIAR

PAS≤100 mmHg ou 1- Idade maior ou igual 60 anos. Todos os critérios abaixo devem
2- Febre no momento da consulta. ser preenchidos para liberação
FC >100 bpm ou 3- Paciente pneumopata que faz uso imediata:
de broncodilatador/corticoide com
FR≥22 irpm ou frequência.
4- Hemoptoicos. 1- Ter menos de 3 dias de
5- Distensão abdominal. sintomas respiratórios.
Sat O2 < 95%
6- Doença cardíaca além da de base: 2- Doença de base controlada.
IC conhecida, marcapasso, arritmia
ou conhecida ou presença de sopro de
fácil ausculta.
Alteração do sensório 7- Uso atual de anticoagulantes que
(ECG < 15) não AAS ou clopidogrel.
8- Alta hospitalar nos últimos 10 dias.
ou 9- Sabidamente diabético.
10- Uso de corticoide por mais de
Bacteremia presenciada 2 semanas.
ou referida 11- Creatinina basal superior a
1,5.
ou 12- Outros sintomas: urinários,
alteração de pele sugestiva de
Neutropenia febril infecção aguda, conjuntivite, placa
comprovada por ou lesões em orofaringe.
hemograma, ou provável 13- Presença de cefaleia de
(Febre mesmo que moderada ou forte intensidade ou
referida rigidez de nuca.
14- Relato de diarreia ou vômitos
ou sinais de desidratação.
E quimioterapia há
15- Ter doença fúngica invasiva
menos de 10 dias,
(aspergilose, mucormicose,
doença hematológica
fusariose, esporotricose).
grave ou ativa,
16- Estar em uso de antibióticos.
transplante recente)
17- Ter risco aumentado para
pneumonia por aspiração.
ou

uso de imunossupressor
potente.
Hemograma, lactato, gasometria Orientar retorno em caso de piora
arterial (se SaO2 <94% em a.a.), dos sintomas.
bilirrubinas, creatina, radiografia de Prescrever Oseltamivir sempre que
tórax. indicado.
7o. Norte (ou 3º leste) Ver capítulo 3 deste documento Isolamento domiciliar por 14 dias
via fluxo específico
COVID-19 – ver
capítulo 4
Capítulo 3. Fluxo no Pronto Socorro

Salas exclusivas para atendimento no PS: isolado da UDC, sala de procedimentos, consultório 6 e consultório 3,
sequencialmente.

Recomenda-se atendimento em coorte dos profissionais que atendem aos casos, para minimizar a exposição.
Capítulo 4. Suporte ao paciente internado e definição de encaminhamento para a terapia intensiva – adultos

UTI: unidade de terapia intensiva (3º leste é a referência atual)

£Indicações intubação orotraqueal §Pacientes pós-RCP Os procedimentos invasivos, sobretudo


aqueles que geram aerosol, como IOT
Insuficiência respiratória franca OU Em função do prognóstico reservado e da devem contar com o menor número
Demanda O2 > 5L/min p/ SaO2 > 93% OU eventual escassez de leitos de UTI, a possível de profissionais na cena e devem
FR > 30 resp/min OU indicação de transferência para a terapia
ser realizados pelos profissionais mais
PaCO2 >50 mmHg e/ou pH < 7,25) OU intensiva deverá ser discutida entre os
experientes da equipe, a fim de se
Inabilidade de proteger ou manter via membros do grupo de apoio técnico-
aérea, por alteração do sensório (ECG ≤8) minimizar a duração e aumentar a chance
centífico da COVID-19 e a coordenação da
ou inabilidade de fonação, indícios de de sucesso
unidade de destino.
disfagia ou ausência ou não efetividade do
reflexo de tosse.
1. Uso de ventilação não invasiva (VNI)

- Deve ser evitado devido ao risco de contaminação dos profissionais de saúde (geração de aerossóis) e ao
elevado índice de falha observado em epidemias prévias de infecção pulmonar por agentes virais. A experiência
com a COVID-19 também desaconselha o uso desse método.

- Se tentada a VNI, deve ser utilizada máscara sem válvula de exalação, conectada a circuito ventilatório com
ramo duplo e filtro trocador de calor e umidade. Na extremidade distal do ramo expiratório do circuito deverá
ser conectado um filtro de barreira antes da válvula exalatória.

- Considerar o uso em casos de disfunção respiratória leve, sobretudo em pacientes com DPOC ou suspeita de
congestão pulmonar ou sabidamente imunocomprometidos, e se houver condições ideais de precaução de
disseminação do vírus por aerossóis e por contato.

- No caso de se tentar a VNI, limitar a sua duração a no máximo 2h, e manter sessões apenas em caso de benefício
evidente. Caso contrário, avaliar intubação orotraqueal imediata.

- Se disponível, a administração de oxigênio por HFNC (high-flow nasal catheter) é preferível à VNI por gerar
menos aerosol. Vale frisar, contudo, que também neste caso, a frequência de falha é elevada.

2. Intubação orotraqueal (IOT)

- Avaliar potencial dificuldade para laringoscopia / intubação quando da admissão do paciente no hospital
e/ou na UTI. Escores como MACOCHA ou mnemônicos como LEMON podem auxiliar na determinação
de via aérea difícil e prévio acionamento de suporte.
- Se disponível, usar videolaringoscópio.

- Usar preferencialmente a técnica de sequência rápida.

- Pré-oxigenação: usar máscara com reservatório com o menor fluxo de ar possível para manter oxigenação
efetiva, evitando ventilação assistida com o dispositivo de bolsa-válvula-máscara ou o uso de dispositivos
supraglóticos, pelo potencial de aerossolização e contaminação dos profissionais. Ventilar apenas se saturação
<90%, com fluxo de oxigênio a 10-15L/min no dispositivo bolsa válvula máscara.

- O uso concomitante de cateter nasal a 5L/min, fornecido por fonte de oxigênio adicional durante o
procedimento, pode contribuir para a redução da velocidade da queda da saturação.

- Drogas:
 Bloqueio neuromuscular com rocurônio 1,2 mg/kg ou succinilcolina 1mg/kg.
 Dar preferência à cetamina 1,5-2mg/kg como droga indutora e analgésica.
 Se contraindicação à cetamina, usar etomidato 0,2-0,3mg/kg ou propofol 2-3mg/kg, associados ao fentanil
5-10µg/kg. Evitar etomidato em casos com suspeita de choque séptico.
 Lidocaína na dose de 1,5mg/kg pode ser usada como pré-medicação, em média 3 min antes da indução.
Drogas utilizadas para intubação orotraqueal e suas respectivas doses
Pré-medicação
fentanil (se indução com etomidato ou propofol) 1,5mg/kg
lidocaína 5-10 µg/kg
Indução
cetamina 1,5-2 mg/kg
etomidato 0,2-0,3 mg/kg
propofol 2-3 mg/kg
Bloqueio neuromuscular
rocurônio 1,2 mg/kg
succinilcolina 1 mg/kg

- A confirmação do posicionamento do TOT deve ser feita com capnografia (se disponível) ou com ausculta.

- A IOT deve ser realizada pelo profissional mais experiente disponível na cena.

- Após duas tentativas sem sucesso de IOT, solicitar cricotireostomia de urgência.

Link para calculadora de doses sequência rápida de IOT: https://emergenciarules.com/wp-


content/uploads/2020/03/covid.html

LEMON Mallampati

3. Ventilação mecânica

- Se possível, avaliar pressão de platô, pressão de distensão (pressão de platô – PEEP) e complacência logo após
a intubação aproveitando a curarização para o procedimento.

- Usar filtros apropriados no circuito expiratório e sistema de aspiração fechado (trach-care).

- O uso de broncodilatadores (beta-2 agonistas e brometo de ipatrópio) deve ser realizado com dosadores
milimetrados através de aerocâmara interposta após o filtro/humidificador do sistema de ventilação.

- Modo VCV ou PCV, com VT de 4-6 ml/kg de peso estimado, pressão de distensão < 15 cmH20, com PEEP
suficiente para manter SatO2 adequada (93%-96% ou 88%-92% se SARA moderada a grave), com FIO2 idealmente
< 60%. A pressão de platô deve ser limitada a 30 cmH2O. Excepcionalmente, se necessário para manter SatO2 >
88% e pH > 7,2, tolerar VT de até 8 ml/Kg em pacientes com complacência normal e pressão de platô de até 35
cmH2O, desde que drivind pressure < 15 cmH20.

- Em casos com necessidade de FIO2 acima de 60%, titular PEEP pela tabela conservadora da ARDSnet (se
PaO2/FIO2 ≥ 100), e se PaO2/FIO2 < 100, titular PEEP para menor pressão de distensão, sempre mantendo abaixo
de 15 cmH20.

- FR: 20 a 35 ipm para manter PaCO2 entre 45 e 55 mmHg.

- Se necessário para ventilação protetora, tolerar queda do pH até 7,2.

- Terapia de restrição de fluidos deve ser assumida em casos de SARA.

- Como medida de exceção, se PaO2/FIO2 < 150 já com PEEP adequada pelas tabelas PEEP/FIO2 da ARDSnet, pode-
se utilizar ventilação protetora em decúbito prono por 12-16 horas, com atenção para o risco de infecção dos
profissionais de saúde, já que para tal medida exige-se a presença de, no mínimo, quatro profissionais. Se
PaO2/FiO2 > 150 por 4h na posição supina, suspender prona.

- Considerar o uso de óxido nítrico (5-20 ppm) em pacientes com hipoxemia refratária para manter perfusão
pulmonar.

- Clampar o TOT com pinça sempre que for necessário desconexão do paciente e no momento de intubação.

4. Terapia antiviral específica

Considerar terapia antiviral / imunomoduladora em pacientes com suspeita de COVID-19 e indicação de


encaminhamento para a terapia intensiva - UTI (Prioridade 1 e Prioridade 2).

- Hidroxicloroquina 600 mg bid no D1, seguido de 200 mg bid do D2-D5, ou 200 mg bid por 14 dias. Solicitar ECG
e avaliar intervalo QT como critério de segurança do uso dessa droga. Não usar em pacientes com história de
deficiência de G6PD.

- Azitromicina intravenosa (IV) na dose de 500 mg do primeiro dia, seguido de 250 mg/dia por 4 dias.

- Oseltamivir por via oral (VO) ou cateter nasoentérico (CNE), na dose de 75 mg bid por 5 dias em todos os
pacientes que preencherem critério para SRAG (exceto se confirmação de infecção por coronavírus). Se
administrado por CNE, usar dose dobrada (150 mg bid).

Drogas a serem consideradas no tratamento dos pacientes com SRAG


Hidroxicloroquina VO ou CNE
600 mg bid D1 + 200 mg bid D2-D5
Ou
200 mg bid 14 dias
Azitromicina IV 500 mg D1 + 250 mg D2-D5
Oseltamivir VO 75 mg bid – 5 dias150 mg bid – 5 dias
CNE
5. Terapia antibiótica

A indicação de terapia antibiótica para pneumonia comunitária deve ser decidida pela equipe assistente, sendo
recomendada nos casos de SRAG, notadamente se houver infiltrado pulmonar visível na radiografia de tórax, em
pacientes com secreção respiratória aumentada e purulenta, e se houver elevação dos parâmetros inflamatórios
laboratoriais, como da proteína C reativa (PCR) e neutrofilia com desvio para a esquerda.

Considerar o uso de ceftriaxona ou amoxicilina – clavulanato, ambos em associação com azitromicina, devido ao
aparente benefício deste último fármaco na eliminação viral.

A prescrição de antibióticos deve ser sempre que possível precedida da coleta de cultura de sangue e de secreção
respiratória (quando esta coincidir com a coleta para pesquisa do SARS-CoV2).

6. Cuidados clínicos adicionais

1. À admissão hospitalar, solicitar revisão laboratorial incluindo hemograma, ureia, creatinina, gasometria
arterial com íons e lactato, perfil bioquímico hepático, coagulograma, dímero d, LDH e CK total.
2. Radiografia de tórax em todos os pacientes, idealmente no leito, para evitar transporte e reduzir risco
de transmissão.
3. Avaliar necessidade de tomografia computadorizada de tórax, levando em conta o risco de transmissão.
Solicitar preferencialmente em pacientes com dúvida diagnóstica (ex. disfunção respiratória e radiografia
de tórax normal ou pouco alterada).
4. Realizar ecocardiograma beira-leito e solicitar ecocadiograma feito pelo Serviço de Ecocardiografia do
HC-UFMG em todos os pacientes com indicação de transferência para a UTI (Prioridade 1 e Prioridade
2).
5. Realizar eletrocardiograma em todos os pacientes com indicação de transferência para a UTI (Prioridade
1 e Prioridade 2).
6. Acompanhamento diário da função renal durante a primeira semana de internação hospitalar. Na
sequência, acompanhar conforme indicação clínica.
7. Indicar terapia de substituição renal precoce se LRA KDIGO 3 e complacência estática < 40 ml/cmH2O
8. Para suporte clínico geral, como ressuscitação volêmica e manejo de choque séptico, seguir protocolos
institucionais específicos (disponível em “nossa intranet – HC-UFMG”).
9. Desaconselha-se o uso de corticóides direcionado exclusivamente para infecção pelo SARS-CoV2. Em
pacientes com choque séptico e em pacientes com SARA o uso de corticoides deve ser definido conforme
critérios habitualmente utilizados pelas equipes assistenciais nessas condições clínicas. Há relatos
retrospectivos de redução de mortalidade com o uso de metilprednisolona em pacientes que
apreentaram SARA no contexto de COVID-19.
10. Quando a PCR ocorrer em pacientes sob ventilação mecânica, deve-se manter o paciente conectado ao
ventilador em circuito de ventilação fechado, com fração inspirada de oxigênio a 100%, modo assíncrono,
frequência respiratória em torno de 10 a 12 por minuto. Alguns ventiladores apresentam a função
“RCP/PCR”, que ajusta automaticamente os limites de alarme e aciona os parâmetros alinhados
acima.
7. Ultrassonografia à beira-leito

Realizar ultrassom (US) pulmonar beira-leito em todos os pacientes internados com suspeita de COVID-19,
respeitando as medidas de segurança indicadas pela CCIH do HC-UFMG. Este exame pode reduzir a demanda de
outros exames de imagem pulmonar, notadamente de tomografia computadorizada, a qual demanda transporte
do paciente, e consequentemente maior risco de transmissão infecciosa. O US pulmonar poderá também auxiliar
nas decisões referentes à condução clínica dos casos. Contudo, os resultados desse exame não deverão ser
determinantes na decisão de se internar ou não um paciente com suspeita de COVID-19. Esta decisão seguirá as
instruções presentes nos fluxos de triagem presentes neste documento (Capítulo 1 e Capítulo 2). O US beira-leito
deverá ser utilizado também para avaliação do paciente em casos de disfunção hemodinâmica e renal.

Instruções para armazenamento, limpeza e liberação


http://nossaintranet.hc.ufmg.br/gesqualis/INSTRUCOES_TRABALHO/CIA_Cuidados_Intensivos_Adulto/ITO_001
_Armazenamento_limpeza_liberacao_aparelho_ultrassom_CTI_UCO_adulto_V2.pdf

Protocolo ultrassonográfico sugerido para pacientes com suspeita de COVID-19

8. Suporte clínico geral

A reposição volêmica, uso de vasopressores, inotrópicos, assim como o tratamento concomitante de doenças
crônicas descompensadas ficarão a cargo das decisões tomadas pelas equipes assistentes responsáveis pelos
pacientes. Deve-se observar em todos os casos medidas destinadas à segurança do paciente, sejam elas
farmacológicas ou não, destancando-se:

- Prevenção de TEP/TVP
- Profilaxia de lesão péptica de estresse
- Prevenção de infecção associada aos cuidados à saúde
- Controle glicêmico
- Prevenção de lesão por pressão
- Prevenção de queda
- Prevenção de delirium
- Mobilização precoce
- Controle álgico e conforto
Deve-se também atentar para o suporte nutricional desses pacientes, notadamente dos mais graves, que devem
preferencialmente ser acompanhados desde o início da internação pelo Serviço de Nutricão e Dietética.

9. Critérios de alta da UTI

Estarão aptos a receber alta da UTI os pacientes que preencherem todos os critérios abaixo.
Estes critérios poderão ser revistos de forma pontual pela equipe médica assistente conforme a necessidade de
liberação de leitos na UTI.

Características gerais
Fora da VM há > Ausência de hiperlactatemia por Sem droga vasoativa há mais de
48h déficit de perfusão 24h
Dados fisiológicos
FR < 26 ipm FC > 50 e < 120 pbm PA > 80/50 e < 180/110 mmHg
Diurese > 0,5 A alteração dos dados é relativa à doença crônica descompensada
ml/Kg/h ou TSR
Exames complementares
Uréia e creatinina pH≥ 7,30 Hb > 6 e estável
no basal do
paciente ou TSR
Potássio > 2,9 e < 6 PaO2 > 60 mmHg com CN ou Sódio > 128 e < 155 mEq/L EGG com
mEq/L cronicamente hipoxêmico ritmo de base do paciente ou FA /
flutter com resposta ventricular
controlada
ECG com ritmo de base do paciente ou FA / flutter com resposta ventricular controlada

10. Critérios de alta hospitalar e suspensão de isolamento

O paciente pode receber alta hospitalar logo que clinicamente indicado. Suspende-se o isolamento domiciliar ou
hospitalar após 14 dias do início dos sintomas, se paciente assintomático.
Bibliografia consultada

ASSOBRAFIR. COVID-19 Intervenção na insuficiência respiratória aguda. Indicação e uso da ventilação não-
invasiva e da cânula nasal de alto fluxo, e orientações sobre manejo da ventilação mecânica invasiva no
tratamento da insuficência respiratória aguda na COVID-19. 19 de mar. de 2020. Disponível em <
https://assobrafir.com.br/covid-19_vni/>

World Health Organization. (2020). Clinical management of severe acute respiratory infection (SARI) when
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Chacko B, Peter JV, Tharyan P, John G, Jeyaseelan L. Pressure-controlled versus volume-controlled ventilation for
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Guérin C, Reignier J, Richard J, Beuret P, Gacouin A, Boulain T et al. Prone Positioning in Severe Acute Respiratory
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Associação de Medicina Intnesiva Brasileira. Orientações sobre o manuseio do paciente com pneumonia e
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https://www.amib.org.br/fileadmin/user_upload/amib/2020/marco/20/1_Orientacoes_sobre_o_manuseio_do
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