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Paz entre nós: guerra aos senhores. Pela não violência em nossos espaços.

Carta da Articulação Nacional de Marchas da Maconha

Há quase um ano vimos construindo esta Articulação, como um espaço de organização coletiva
de lutas antiproibicionistas, com militantes de Marchas da Maconha, e outras organizações
afins, trabalhando pelas decisões em consenso e na perspectiva da horizontalidade e de
compromissos com os enfrentamentos ao racismo, ao machismo, à lgbtifobia e todas as outras
formas de opressão.

Neste tempo de convivência, já tivemos – felizmente em poucas oportunidades – situações nas


quais as discussões no grupo de whatsapp ultrapassaram os limites da crítica e do debate –
que é algo salutar em espaços nos quais existe abertura para as discussões de posições
divergentes acerca de diferentes temas – e chegaram ao campo de agressões verbais e
práticas de comunicação violentas.

Na semana passada, na quinta-feira, assistimos perplexas/os a um episódio de agressividade


verbal, quando se debatia acerca da morte de um senador do campo da extrema-direita.
Várias opiniões foram colocadas, entre as pessoas que afirmavam comemorar aquela morte,
outras que diziam jamais celebrar mortes, mesmo de inimigos políticos, e outras que
afirmavam nem comemorar e nem lamentar.

Vivemos tempos difíceis, numa pandemia onde já morreram mais de 290.000 pessoas, além de
um agravamento brutal da fome e da miséria, e uma piora geral nas condições de vida da
população, na qual nós estamos incluídes. Em vista disso, muitas pessoas encontram-se mas
sensíveis ou fragilizadas em suas condições emocionais, e isso poderia ser considerado em
situações como essa.

Entretanto, o que vimos naquele dia foi uma situação na qual um participante do grupo, ao
afirmar que comemorava a morte do referido senador, e ser questionado por uma
companheira sobre o sentido de se celebrar uma morte quando milhares estão perdendo suas
vidas, respondeu taxativamente que era um direito dele comemorar, e quando ela lhe afirmou
que estava com seu pai internado por covid19, ele respondeu que não tinha nada a ver com
isso. Ato contínuo, a companheira se desligou do grupo.

Precisamos urgentemente refletir e agir para que situações como essa não se repitam. Uma
companheira de luta se retirou do grupo por uma atitude de insensibilidade e de violência
discursiva, algo que não nos parece condizente com um espaço de organização de lutas contra
as opressões de todos os tipos.

Não podemos naturalizar violências nem banalizar situações como essas, sob pena de
acabarmos, por omissão, comprometendo um espaço que tem sido tão rico de construções de
iniciativas unitárias de lutas antiproibicionistas, mesmo em meio a esta tragédia da pandemia.

Acreditamos que é fundamental que as pessoas envolvidas nestes fatos tenham a grandeza de
olhar para tais situações e avaliar suas responsabilidades nestes processos de violências e de
exclusão, pois essa é praticamente uma premissa para que um diálogo construtivo acerca de
comunicação não violenta possa ter algum sentido.
Decidimos iniciar o processo de constituição de uma Comissão de Ética, para que situações
como essas tenham um espaço adequado de discussão e de solução, que evitem que certas
práticas acabem por se tornar cotidianas e banalizadas.

A Articulação Nacional de Marchas da Maconha repudia práticas de comunicação violenta de


quaisquer tipos, e manifesta sua solidariedade à companheira que se desligou do grupo, e
apela a esta companheira para que retorne a nossa Articulação, para a construção da luta
antiproibicionista e contra todas as opressões.

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