O documento discute o histórico do surgimento da internet, desde as primeiras redes na década de 1950 até a popularização da World Wide Web na década de 1990. Também aborda os princípios de design da rede, como a modularidade e as camadas, e argumenta que o acesso à internet deve ser considerado um direito fundamental.
O documento discute o histórico do surgimento da internet, desde as primeiras redes na década de 1950 até a popularização da World Wide Web na década de 1990. Também aborda os princípios de design da rede, como a modularidade e as camadas, e argumenta que o acesso à internet deve ser considerado um direito fundamental.
O documento discute o histórico do surgimento da internet, desde as primeiras redes na década de 1950 até a popularização da World Wide Web na década de 1990. Também aborda os princípios de design da rede, como a modularidade e as camadas, e argumenta que o acesso à internet deve ser considerado um direito fundamental.
PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO DIGITAL, GESTÃO DA INOVAÇÃO
E PROPRIEDADE INTELECTUAL
Aspectos Constitucionais da Internet I: Histórico de surgimento da internet e
visão libertária. Aspectos técnicos para a regulação da internet. O acesso à internet como direito fundamental. Princípios no uso da internet no Brasil e direitos fundamentais. Neutralidade de rede.
Histórico de surgimento da internet
Os antecedentes da internet encontram-se na década de 1950. O mundo
vivia a Guerra Fria. Nesse período, a comunicação mais rápida se processava por telefone. A rede telefônica era muito vulnerável a ataques militares e o Departamento de Defesa dos EUA desejava criar uma alternativa mais segura. Ainda na década de 1950, Paul Baran sugeriu um modelo de rede computacional semelhante à internet. Em outubro de 1957, a União Soviética lança o satélite Sputnik. Em reação a isto, o então Presidente norte-americano, Dwight Eisenhower criou uma agência para projetos de pesquisa avançada (ARPANET – Advanced Reseacrh Projects Agency) dedicada ao aprimoramento das redes de comunicação. Na década de 70 já existiam várias redes locais (Local Area Networks – LAN) nos Estados Unidos da América, mas que não estavam interconectadas. O desafio era desenvolver um padrão universal de comunicação, capaz de interconectar todas elas, dando origem a uma rede e redes. Para isso, a ARPANET passou a fomentar pesquisas na área, as quais resultaram, em 1978, na criação dos protocolos TCP/IP, ainda hoje o padrão da internet. Com base neles, as várias redes locais se integraram e possibilitaram um intercâmbio de dados e experiências acadêmicas nunca antes visto. Na década de 70, tivemos o primeiro uso do termo internet. Foi criado o primeiro vírus (quando a pessoa tentava acessar o computador, aparecia a mensagem “im the creeper, catch me if you can!). a ideia de e-mail também surgiu nesse contexto e foi criado o protocolo TCP/IP, conhecido como o coração da internet. A ARPANET foi substituída por uma rede mais robusta, denominada NSFNET (National Science Foundation Network), alcançando todo o país. A internet se descolava das origens militares. Na década de 80, surge o primeiro Personal Computer. A Arpa- Internet é utilizada pela NSF e é proposto o sistema www. Na década de 90, o www (World Wide Web) entra em atividade. A internet se torna pública. Surgem os browsers. Esse fomento da internet gera uma cadeia de novos negócios e explode a primeira bolha da internet, pois muitos desses novos negócios quebram. Foi criada uma sociedade privada controlada pelo Estado (ANS – Advanced Networks and Services) para gerenciar a progressiva transferência da rede à exploração comercial (privatização da internet). Isto se consolidou na década de 1990, quando inúmeras empresas privadas já atuavam como provedoras de acesso e a ARPANET foi definitivamente encerrada. A internet não surgiu por iniciativa do mercado. A rede mundial de computadores foi fruto de uma parceria entre o Governo norte-americano e instituições de ensino superior. Sua gênese é tanto militar quanto acadêmica.
Design da rede e suas camadas
No que toca às redes informatizadas, a etapa preliminar denomina-se
arquitetura de redes. Ela define como será toda a infraestrutura de uma rede informatizada, condicionando o seu funcionamento, o custo e as possibilidades de modificação futura. Existem diversas possibilidades para a arquitetura de rede, a depender do direcionamento seguido pelos seus idealizadores. Este direcionamento é dado pelos princípios da arquitetura das redes. No desenvolvimento da internet, foram aplicados 4 princípios fundamentais: 1) comutação de pacotes, 2) modularidade, 3) camadas de rede e 4) execução de aplicações na camada superior. A característica básica da internet é dividir os dados em parcelas menores, denominadas pacotes (packets), transmitindo-os separadamente. Cada pacote recebe informações a respeito de quem é o seu remetente e qual o destino (addressing). Os vários pacotes podem trafegar simultaneamente, por rotas diversas, inclusive mudando de trajeto durante o percurso, para privilegiar o que for para formar o dado original e então são entregues. Este princípio viabiliza a transmissão de dados mesmo se um ou alguns dos componentes da rede estiverem desconectados. Com base na modularidade, a rede deve ser formada por diversos componentes, independentes uns dos outros, chamados de módulos. A intenção é reduzir ao máximo a dependência da rede, como um todo, em relação a cada componente. Para isso, todo modulo possui dois tipos de informação, a visível e a invisível. A informação visível é aquela que qualquer componente da rede precisa conhecer para se conectar com determinado módulo. Deve permanecer inalterada e disponível a qualquer interessado, durante toda a vida da rede, para não prejudicar a comunicação entre os módulos. A informação necessária para o funcionamento interno de cada módulo é chamada de informação invisível. Ela normalmente é conhecida apenas pelo fabricante do módulo. A grande vantagem da modularidade é possibilitar aprimoramentos internos em cada componente da rede sem que para isto seja preciso alterar sua infraestrutura como um todo. A comunicação entre os diversos módulos se faz por meio de suas especificações internas e da conexão com as camadas que lhe são imediatamente superiores e inferiores. As camadas de rede são organizadas verticalmente, com relativa autonomia entre si. No tocante especificamente à internet, há divergência sobre quantas e quais seriam elas, mas optou-se aqui pela descrição que compreende 6 camadas: i) física (pysical), ii) de conexão (data link), iii) de rede (network), iv) de transporte de dados (transport), v) de aplicações (application) e vi) de conteúdo (content). A camada física compreende os equipamentos que transmitem os dados em sua forma bruta. A seguir vem a camada de conexão, responsável por realizar a conexão entre os equipamentos que transmitem os dados brutos e a rede propriamente dita. A camada de rede é a que atribui identificação aos dados, por meio do protocolo de internet. Qualquer dispositivo conectado à internet deve possuir um número de identificação. É por meio desse número que o protocolo IP individualiza o dispositivo, assegurando o envio e o recebimento corretos dos dados que lhe são direcionados. Cada dispositivo possuir um único IP, mas o mesmo sujeito pode ter vários dispositivos conectados à rede, simultaneamente, cada qual com um IP diferente. Após a identificação dos dados com os IPs, de origem e destino (end hosts), vem a quarta camada, denominada TCP (transfer control protocol), responsável por individualizar os dados originais em pacotes menores, se necessário, e efetivamente transmiti-los corretamente à outra camada. O IP e o TCP funcionam em conjunto: um individualiza os dados, inserindo os endereços de origem e destino; o outro os fraciona, transmite e reagrupa no destino. A quinta camada de rede é a de aplicações. Nela são executados todos os softwares e funcionalidades típicos da internet. O resultado final dessas aplicações é transmitido ao usuário, pela sexta e última camada. O traço característico dessa arquitetura de rede é que as camadas centrais, como o TCP/IP, não são capazes de identificar o conteúdo dos dados que estão transmitindo. Quem fica responsável por identificar o conteúdo dos dados e para qual finalidade devem ser aplicados são apenas as aplicações, situadas na penúltima camada superior. Essa simplicidade no funcionamento das camadas centrais da interne, aliada à ausência de filtros, possibilita que qualquer nova aplicação possa ser disseminada imediatamente, em âmbito mundial, sem que para isto seja necessária qualquer adaptação na infraestrutura básica da rede. O sucesso da internet, portanto, está intimamente relacionado ao design original da rede. Como a especificação interna de cada módulo permanece visível apenas ao seu fabricante, a integração entre eles não é a melhor possível.
Direito fundamental de acesso à internet?
O mundo virtual é, em sua essência, um novo espaço social, que permite
diferentes tipos de comunicações entre indivíduos. O mundo virtual é um novo tipo de realidade, um outro eixo de existência. A internet vem se transformando no principal meio de comunicação no Brasil e no mundo. O acesso à internet é, hoje, elemento fundamental para o desenvolvimento pleno da cidadania e para o crescimento profissional de todas as pessoas. A eventual falta de acesso à internet limita de modo irremediável as oportunidades de aprendizado e de crescimento de educação e de emprego, comprometendo não apenas o futuro das pessoas individualmente, mas o próprio progresso nacional. Estima-se atualmente que 3,2 bilhões de pessoas estejam conectadas à Internet e bilhões sem acesso, mas não por falta de oportunidades geográficas e econômicas, mas sim por ações governamentais. É manifesta a violação aos direitos fundamentais da liberdade de expressão, acesso à informação e até mesmo privacidade, uma vez que o acesso à Internet de forma universal é pressuposto da própria sociedade. A ONU declarou que o “acesso à informação na internet facilita vastas oportunidades, como a educação acessível e inclusiva, entre outros pontos”, bem como que o “acesso à internet não deve ser interrompido por governos ou agências governamentais, uma vez que representa um verdadeiro direito inerente ao homem”. A Comissão Canadense de Rádio e Televisão, anunciou que o acesso à internet de forma eficiente e célere se tornou um direito fundamental do país, bem como uma obrigação do Estado em fornecê-lo. A Lei nº 12.965/14 (Marco Civil da Internet) em seu art. 7º dispõe que o acesso à internet é essencial ao exercício da cidadania. O exercício de alguns direitos fundamentais depende ou ao menos se solidifica com o acesso à internet, como é o caso do livre acesso ao Poder Judiciário, na medida em que os processos judiciais em todos os estados federativos serão virtuais em algum tempo. Corolário à Internet, o exercício de direitos como a liberdade de expressão, acesso à educação e expressão artística, tornam-se mais completos e eficazes com a utilização dos meios digitais. O direito da livre iniciativa do comércio também ganhou expansão na era digital (ex.: e-commerce e startups). Direitos fundamentais são aqueles direitos básicos, submetidos para quaisquer indivíduos que estejam inseridos sobre a égide de um ordenamento jurídico. Por outro lado, direitos do homem são aqueles inerentes a todo ser, independente de positivação. O direito à informação no Brasil (art.5º, XIV, CF) é universal, impessoal e genérico, sendo direito fundamental de todo cidadão brasileiro. A sociedade não é estática, movendo-se constantemente no sentido de evoluir a partir da própria cultura e intelecção das necessidades do bem comum. Nesse avanço geracional dos meios de comunicação, o imediatismo informacional proporcionado pela internet garante a amplitude nos debates de assuntos pertinentes ao Estado, de forma que o povo possa participar ativamente na prevenção e repreensão de atos que atentem aos seus direitos fundamentais. O art.5º, §2º da CF prevê que aqueles direitos materialmente fundamentais não previstos no rol numerus apertus podem agregar ao ordenamento, de tal forma que são subsidiados pela “cláusula de abertura constitucional”. Tendo como norte que um direito fundamental reside no princípio basilar da dignidade da pessoa humana é que se depreende que o acesso à Internet possibilita ao ser humano a dignidade de ter contato com diversos direitos fundamentais, como informação, livre expressão, cidadania e afins, potencializando. Para um 'novo' direito ser entendido como fundamental, é necessário que seja preenchido um requisito basilar. Falamos aqui do elemento de "equivalência" entre um novo direito fundamental e aqueles já previamente descritos no ordenamento jurídico. A livre expressão, o acesso à informação e a liberdade de comunicação são os fundamentos intrínsecos ao uso da Internet, já que funcionam de forma a intercambiar a comunicação entre os seres humanos, gerando a modernização da democratização. Essa perspectiva de democratização moderna decorre do próprio fato de que a Internet está ligada aos direitos políticos do cidadão. Propostas de iniciativas populares, plebiscitos, abaixo-assinados, manifestos, cada um desses atos populares demonstram a força concretizadora do sonho da democracia direta no Brasil. Frisamos que o controle do Estado, através do balanço dos três órgãos que compõem o país, é elemento essencial de um Estado Democrático de Direito. A legitimação dos atos da administração pública só ocorre quando os titulares do poder - o povo - saibam e concordem com o que é feito pelo Estado. Trata-se do princípio constitucional da publicidade e o acesso à Internet é meio para a realização do citado princípio, por exemplo, do pregão eletrônico. A Internet funciona como otimizadora dos atos da administração pública, permitindo-se a locação de recursos públicos em áreas que são mais necessárias. O requisito da equivalência encontra parâmetro entre o controle de uma cidadania plena, acesso à Internet e atos estatais. Um Estado informatizado requer igualmente uma sociedade informatizada, permitindo-se interação plena e proteção dos direitos fundamentais. A relevância do acesso à Internet para o indivíduo manifesta-se tanto nos direitos de defesa como nos direitos a prestações. A liberdade que fundamenta o direito a livre expressão e o abordado direito a liberdade informativa está intrinsicamente associada ao intercâmbio da informação, a comunicação entre os seres humanos. O acesso à Internet decorre da própria Constituição e dos valores da cidadania e dignidade da pessoa humana. Da mesma forma, seu reconhecimento como direito fundamental implica na concretização da liberdade de expressão e de informação, permitindo-se desenvolvimento social no que diz respeito à autodeterminação e valoração da cultura e do saber. Não há hoje alternativa mais propícia a potencialização do direito à informação. Todavia, é importante ressaltar que aqui se trata de mais que o direito do indivíduo de receber a informação, e por isso um direito ao acesso à Internet nisso não se resume. Diante da ameaça de monopólio informativo do Estado, a sociedade democrática deve reivindicar o pluralismo informativo, o livre acesso e a livre circulação de informações. A perspectiva oposta é a chamada liberdade informática. As possibilidades de armazenamento e obtenção de informações pessoais, viabilizadas pelas novas tecnologias, principalmente a Internet, resultaram em uma nova necessidade histórica. Essa corresponde ao controle dos próprios dados pessoais. Implica uma dimensão negativa de diversas restrições impostas ao Estado e particulares na compilação e manutenção de dados pessoais, associada a uma dimensão positiva representada pelo direito do indivíduo em saber e determinar os dados que sobre ele se mantêm, bem como saber e determinar as condições em que são mantidos. A primeira das obrigações estatais possui caráter negativo. O Estado não deve intervir no uso, gozo e fruição da Internet de seus usuários, ressalvada prática ou indícios de atividade delituosa. A iniciativa privada, em conjunto com o poder público, é quem atuará de forma a gerir e regular os limites de acesso e segurança virtual. O Estado, nesse ambiente, atuará da mesma forma que age no mercado financeiro: combatendo o monopólio da venda de serviços e garantido a segurança e os direitos dos usuários, efetivando a livre iniciativa e concorrência do mercado, permitindo- se que o indivíduo opte pela operadora que melhor atenda suas necessidades. A iniciativa privada, de forma livre e com ampla concorrência, é quem detém o dever de conceder o serviço de acesso à internet. Se a iniciativa privada possui o dever de gerir o mercado digital e esse tema é de ordem pública, qual será, então, a atuação que o poder público no tocante à segurança? O dever do Estado é obrigar as operadoras de serviços digitais a concederem detalhes de para onde os dados pessoais dos usuários vão, como são armazenados e qual o grau de segurança auferido por essas empresas. O próprio Poder Legislativo deve legislar no sentido de aplicar sanções a quem descumprir tais diretrizes ou estiver atuando de forma viciosa. Deverá o Poder Público atuar de forma coercitiva e repressiva sobre as empresas que se recusem a conceder informações ou para quem atuar fora dos limites legais. O acesso do cidadão brasileiro à Internet é um requisito para a eficiência da Administração. É também pressuposto para a concretização de direitos a prestações físicas como o direito à saúde, a educação e a seguridade social, entre outros. Ainda, é essencial para a realização do direito de prestação jurisdicional. Um Executivo informatizado requer uma sociedade igualmente informatizada para que possa fiscalizá-lo. O conteúdo de um direito ao acesso à Internet é a faculdade do indivíduo de conectar-se a rede mundial de computadores. O acesso à Internet impõe uma prestação estatal fática, similar aquela do direito a educação ou direito a saúde. O que importa para a efetividade do direito é a qualidade do acesso, que deve ser adequado para permitir à pessoa realizar os tipos mais comuns de tarefas. O acesso deve ser livre, não monitorado ou excessivamente limitado, sofrendo restrições apenas quando não afetem o alcance da finalidade do exercício do direito. O direito de acesso à Internet decorre de e pode ser justificado, principalmente, pelos valores da cidadania e da dignidade da pessoa humana. Implica realização do postulado de cidadania ao ponto em que se concretiza a liberdade de expressão e a liberdade informática. Resulta como consequência direta ou indireta, dependendo do caso concreto da exigência de respeito à dignidade da pessoa humana quando proporciona a realização de condições a ela necessárias, como a satisfação do direito a saúde e a educação. Está intrinsecamente ligado o direito de acesso à Internet ao valor da dignidade humana, em razão de sua relação com a autonomia individual e autodeterminação. O direito de acesso à Internet representa uma garantia do indivíduo de respeito de sua esfera particular, na medida em que viabiliza a identificação dos dados pessoais que sobre ele circulam e são armazenados, decorrência do direito fundamental a proteção de dados pessoas ou direito a liberdade informática. Na mesma linha, caracteriza direito contra o Estado e particulares, pois efetiva o direito à liberdade de expressão. Ainda, representa uma garantia contra o Estado ao permitir o controle da atuação do mesmo, através da realização daquilo que é postulado pelo princípio da publicidade. Uma norma de direito fundamental de acesso à internet é compatível com a perspectiva subjetiva porque pressupõe e garantir um direito subjetivo de cada endivido de obter condições para que possa conectar-se a rede. assim, cada um pode exigir do poder público um meio de acesso adequado, na forma de um terminal, como um computador, que esteja em funcionamento e obtenha qualidade suficiente de conexão à internet. A perspectiva objetiva seria vislumbrada pela existência de obrigações de conduta do Estado que não estão necessariamente abrangidas pelo direito subjetivo. A dimensfão negativa consiste na proibição de restrições não justificadas ao acesso. O Estado não pode limitar o direito através da determinação do conteúdo que será disponibilizado ao endivido, a não ser em casos excepcionais. A dimensão positiva pressupõe uma atuação do estado no sentido de suprir a impossibilidade de acesso à internet da maior parte da população em razão da carência econômica, pois obriga o poder público a providenciar terminais de acesso que esteja alcance de todos. Contudo, a outra necessidade, incita ao direito de acesso, que é a de inclusão digital. Em relação a segurança digital contra cybercrimes, a presença dos departamentos especializados das polícias Federal e Civil são de estrita importância pra garantir a efetividade da norma penal também no âmbito virtual. A concessão universal da Internet é essencial para que se concretize o objetivo de tornar tal instrumento um direito fundamental inerente a todos brasileiros e, efetivamente, um direito do homem. O cidadão tenha ao menos um contato prévio com a Internet, garantindo um conhecimento e preparo para acessar o universo digital. Necessária a atuação do Ministério da Educação no sentido de efetivar aulas básicas de informática, programação e de educação digital nas escolas públicas e privadas desde o ensino fundamental. O ensino básico de 'direito digital' é essencial para que se elimine as pragas virtuais, como é o caso das fake News. Da mesma forma que saber os direitos e deveres básicos do cidadão no âmbito virtual. A questão da inclusão digital não é meramente material: não basta que o governo providencie computadores para todos. O nível de instrução de milhões os impede de, mesmo tendo acesso regular a internet, manipular o instrumento da maneira adequada, procurar as informações que deseja e mesmo compreender o que estão lendo. Essa capacidade em questão foi denominada information literacia. Assim, o conceito de inclusão digital envolve “não só a aquisição de habilidades básicas para o uso de computadores e da internet, mas também a capacitação para utilização dessas mídias, em favor dos interesses e necessidades individuais e comunitários, com responsabilidade e senso de cidadania”. Conclui-se que o reconhecimento da Internet como direito fundamental decorre da própria evolução histórica do direito, tendo sua mutabilidade um cunho internacional e inerente ao homem, alterando-se a realidade das necessidades sociais.
Direitos fundamentais relacionados
a) direitos políticos e teledemocracia: algumas críticas são tecidas a
essa nova esfera. Diz-se que permite que o indivíduo se informe apenas do que quer, além de propiciar o isolamento em grupos fechados de discussão. Há quem discorde daqueles que entendem que o espaço público virtual tem influência dessocializadora sobre as pessoas, influenciando-as no sentido de propiciar a individualização. Trata-se de um meio que incentiva a comunicação aberta, indiscriminada, de maneira plural e democrática. A teledemocracia fraca é apon6tada como aquela em que a Internet é usada apenas para reforçar a atuação parlamentar, não implicando em um rompimento com a democracia indireta. A teledemocracia forte pressupõe a substituição da democracia parlamentar representativa por novos tipos de democracia direta ancorados na participação popular. N A Internet configura a possiblidade de concretizar um poder democrático real, de deslocar o protagonismo político dos partidos para o indivíduo, de evitar as disfunções dos sistemas eleitorais e distorções do sistema de representação, de impedir a corrupção da democracia representativa e de acabar com a manipulação da opinião pública. Por outro lado, há também os riscos decorrentes da democracia direta: a promoção de uma cultura vertical das relações políticas, a apatia e despolitização dos cidadãos, resultando em uma atitude passiva, diante de uma possível manipulação e controle ideológico, a mercantilização da esfera pública, o empobrecimento da produção legislativa, a vulnerabilidade diante dos crimes informáticos e, por fim, ameaça o direito a intimidade. O uso de democracia direta para a determinação do caminho a seguir nos temi caldi da atualidade: aborto, maioridade penal, eutanásia, etc. Ademais, a questão envolve muito cuidado quando se amplia o demos-poder além do demos- saber. A teledemocracia não poderá amadurecer antes que a informação, a maturidade e a consciência política cívica atinjam toda população. b) direito à liberdade informática: frente ao totalitarismo, de que faz parte o monopólio informativo do Estado, uma sociedade democrática requer um pluralismo informativo, bem como o livre acesso e livre circulação da informação. Resolvidos alguns problemas de inclusão digital, a Internet será a solução para a comunicação. O verdadeiro desafio constitui assegurar o uso democrático da informaton technology. Proliferam na rede discursos discriminatórios, ao mesmo tempo em que grandes empresas intentam obter controle do espaço virtual. Mas a maior ameaça aos direitos civis dos indivíduos continua sendo a atuação do próprio Estado. O direito à privacidade está diretamente ligado ao intercâmbio, voluntário ou não, de informações entre os indivíduos e entre estes e o Estado. O conceito de privacy precisa evoluir para adaptar-se ao mundo informatizado. O poder de polícia do Estado que ameaça a liberdade de expressão é o mesmo que quebra constantemente a barreira da vida privada dos cidadãos. Uma das razões de existência da intimidade privada é a impossibilidade material de uma monitoração e investigação individual e minuciosa de cada cidadão. Mas o aparato policial dos Estados começa lentamente a superar essa barreira com o uso da tecnologia. O uso de dados pessoais deve respeitar também o princípio da igualdade, que é violado constantemente através da criação de perfis em banco de dados de empresas. A coleta de informações deve seguir o princípio norteador segundo o qual são coletados e mantidos apenas os dados relevantes para a finalidade para a qual foi criado o banco de dados, ao mesmo tempo em que o acesso a estes dados deve ser permitido apenas em razão desta finalidade. A evolução desse direito à liberdade informático se deu com seu desprendimento da ideia de intimidade e privacy, passando a ser um “direito fundamental à proteção de dados de cunho pessoal”. Esse direito é, agora, independente e autônomo. Já se reconhece inclusive a proteção mesmo dos dados pessoais que sejam públicos e notórios. Quanto à efetivação da liberdade informática, necessário abordar a questão dos mecanismos de contenção dos riscos de violação, bem como os instrumentos processuais adequados para combater violações de fato O habeas data se conforma muito bem com a salvaguarda do direito de proteção de dados de cunho pessoal, já que consiste em ação que visa garantir o direito de acesso a registros e direitos de retificação e complementação dos mesmos. Todavia, a previsão é de cabimento da ação apenas em razão de dados armazenados em registros públicos ou a estes equiparados. Esta delimitação não respeita a eficácia horizontal do direito de proteção de dados pessoais, que permite ao indivíduo requerer os mesmos direitos de acesso e retificação, porém contra bancos de dados particulares. Da mesma maneira, o entendimento reinante é o de que o instrumento serve apenas para retificar dados considerados inverídicos. A ação de habeas data necessita ampliação para permitir a adequada tutela do direito fundamental à proteção de dados pessoais. c) direito administrativo e teleadministração: o conceito de teleadministração é diferente do governo eletrônico, pois pressupõe a existência e validade de atos administrativos realizados no mundo virtual. A teleadministração deve, assim como a administração, seguir os princípios do art. 37 da Constituição Federal: legalidade, impessoalidade, moralidade e publicidade, além da eficiência. Os atos administrativos eletrônicos são aqueles praticados por um servidor, à distância ou não, através de um sistema computadorizado; os atos administrativos automáticos são aqueles meramente burocráticos, executados pelo próprio computador. A prática de tais atos sob a perspectiva da teleadministração traz diversos benefícios para a atuação do Poder Executivo. Em primeiro lugar, a publicidade da atuação do Estado é fundamental para o verdadeiro exercício da democracia. Sem atendimentos face a face entre servidor e cidadão, haverá uma drástica redução das diferenças de tratamento, atingindo máxima incidência do princípio da impessoalidade. A administração será mais ágil e eficiente. Uma melhor organização do trabalho permitirá evitar o uso do sistema postal, abrir longas filas para atendimento em órgãos previdenciários, impossibilitar a perda de documentos e registros, e talvez introduzir até o trabalho domiciliar dos servidores públicos.
Princípios no uso da internet no Brasil
Quando pensamos em aspecto constitucionais da Internet, temos uma
multiplicidade de temas que não são vinculados o direito constitucional, mas que exigem pensar nele. Não temos um direito constitucional que demande uma interface tão grande com as tecnologias. Os principais pontos do Marco Civil na Internet são garantir a liberdade de expressão, preocupar com a privacidade dos usuários. Nos remete à proteção de dados pessoais e direitos autorias. Também fala a neutralidade de rede e da responsabilidade civil dos provedores. De acordo com o art. 3º da Lei nº 12.965/14, a disciplina do uso da internet no Brasil tem os seguintes princípios: i. garantia da liberdade de expressão, comunicação e manifestação de pensamento, nos termos da Constituição Federal; ii. proteção da privacidade; iii. proteção dos dados pessoais, na forma da lei; iv. preservação e garantia da neutralidade de rede; v. preservação da estabilidade, segurança e funcionalidade da rede, por meio de medidas técnicas compatíveis com os padrões internacionais e pelo estímulo ao uso de boas práticas; vi. responsabilização dos agentes de acordo com suas atividades, nos termos da lei; vii. preservação da natureza participativa da rede; viii. liberdade dos modelos de negócios promovidos na internet, desde que não conflitem com os demais princípios estabelecidos nesta Lei. O marco civil aborda de forma expressa a proteção aos registros, aos dados pessoais e às comunicações privadas (art. 11). O Decreto nº 8.771/2016 regulamenta essa proteção e traz a necessidade de interoperabilidade de dados. No momento em que existe a quebra de pacotes e envio aos destinatários, o que acontecia de forma irregular é que as empresas responsáveis pela comutação de pacotes estavam verificando o conteúdo do pacote e, a depender dele, dando mais ou menos velocidade à entrega do pacote. O marco civil da internet busca garantir a neutralidade da rede, de modo a evitar que essa análise aconteça, estabelecendo, em seu art. 9º, que “o responsável pela transmissão, comutação ou roteamento tem o dever de tratar de forma isonômica quaisquer pacotes de dados, sem distinção por conteúdo, origem e destino, serviço, terminal ou aplicação”. Comparando o art. 18 com o art. 19, verificamos que a Lei prevê uma sistemática de responsabilidade civil diferente para o provedor de conexão à internet e o provedor de aplicações de internet. Nesse sentido, o art. 5º considera como conexão à internet, a habilitação de um terminal para envio e recebimento de pacotes de dados pela internet, mediante a atribuição ou autenticação de um endereço IP (inc. V) e como aplicações de internet, o conjunto de funcionalidades que podem ser acessadas por meio de um terminal conectado à internet (inc. VII). O art. 19 coloca que o provedor de aplicações somente pode ser civilmente responsabilizado se após uma ordem judicial específica não tomar as providências para tornar indisponível o conteúdo apontado como infringente. Essa ordem judicial deve conter identificação clara e específica do conteúdo apontado como infringente, que permita a localização inequívoca dele. A doutrina divide os provedores de serviços de internet em algumas espécies: a) provedor de backbone: pessoa jurídica que efetivamente detém as estruturas de rede capazes de manipular grandes volumes de informações, constituídas, basicamente, por roteadores de tráfego interligados por circuitos de alta velocidade. b) provedor de acesso: pessoa jurídica fornecedora de serviços que consistem em possibilitar o acesso de seus consumidores à internet. c) provedor de correio eletrônico: pessoa jurídica fornecedora de serviços para possibilitar o envio de mensagens do usuário, seu armazenamento e o filtrar o acesso ao sistema e às mensagens. d) provedor de hospedagem: pessoa jurídica fornecedora de serviços que consistem em possibilitar o armazenamento de dados em servidores próprios de acesso remoto, permitindo o acesso de terceiros a esses dados, de acordo com as condições estabelecidas com o contratante do serviço. e) provedor de conteúdo: pessoa natural ou jurídica que disponibiliza na internet as informações criadas ou desenvolvidas pelos provedores de informação, utilizando servidores próprios ou os serviços de um provedor de hospedagem para armazená-las. f) provedor de informação: pessoa natural ou jurídica responsável pela criação das informações divulgadas através da internet, ou seja, o efetivo autor da informação disponibilizada por um provedor de conteúdo. É importante entender o provedor para destrinchar qual será o tipo de responsabilidade civil. Antes do Marco Civil da Internet, a responsabilidade civil dos provedores de backbone, de acesso à internet de correio eletrônico de hospedagem, em virtude de atos ilícitos praticados pelos usuários desses serviços, era subjetiva. Sua configuração depende da prova de que o provedor foi previamente cientificado da ocorrência do ato ilícito e não agiu imediatamente de modo a impedi-lo. Por outro lado, a responsabilidade do provedor de conteúdo na internet, em virtude dessas informações por ele divulgadas, era objetiva e baseava-se no risco inerente a essa atividade, nos termos do art. 927, parágrafo único, do Código Civil, sem prejuízo da aplicação das disposições específicas do Código de Defesa do Consumidor, caso se configure relação de consumo.
Neutralidade de rede
Alterações posteriores viabilizaram a transmissão de dados a velocidade
antes inimagináveis, o que rendeu às novas tecnologias o nome de banda larga. Ao longo da evolução da internet, foram criados protocolos para a transferência direta de arquivos entre os dispositivos (FTP – file transfer protocol) e a comunicação via e-mail (simple mail transfer protocol – SMTP). Uma das mudanças de maior impacto na forma como se utiliza a internet foi o desenvolvimento do DNS (domain name system). Essa aplicação é capaz de associar cada endereço IP a um nome específico, de modo que a digitação do nome substituída a digitação do endereço numérico. É responsável, ainda, pela maneira fluída e intuitiva como se navega atualmente na rede. O DNS não fazia parte da arquitetura original da rede, tendo sido introduzido posteriormente, pouco antes de sua exploração comercial. Outra importante mudança é a transição do IPv4 para o IPv6. Com efeito, o IPv refere-se à versão do protocolo IP. Quando a internet foi criada, adotou-se a versão de número 4(IPv4). Nela, os endereços eram formados por quatro sequências numéricas, cada uma variando de 0 a 255. Desenvolveu-se outra versão do protocolo IP, denominada IPv6. Por meio dela é possível oferecer, simultaneamente, alguns trilhões de vezes o número máximo de endereços suportados pelo IPv4. O IPv6 baseia-se num sistema hexadecimal, combinando letras e números. Nenhuma dessas mudanças indicadas alterou os princípios do design original. Ocorre que esse tipo de mudança já está acontecendo. Ela consiste na introdução de tecnologia para o monitoramento do próprio conteúdo dos pacotes. O DPI consiste num software capaz de examinar tanto as informações de roteamento dos pacotes, que indicam sua origem e destino, quanto o próprio conteúdo de cada pacote de dados. Deste ponto em diante, é possível discriminar pacotes, definindo se eles devem prosseguir ou ser descartados, bem como impor velocidades diferenciadas para a transmissão de cada um deles. O acesso aos headers é necessário e lítico, pois é indispensável ao fluxo de dados na internet. O que não se admite é a discriminação entre pacotes, feita a parti dessas informações. A partir desta tecnologia, os provedores de serviços na internet passaram a ser capazes de manipular a forma como os usuários percebem a rede, conferindo maior velocidade a alguns pacotes de dados em detrimento de outros ou até mesmo interrompendo a transmissão de determinados pacotes. Essa mudança estrutural na interne desnaturou a sua principal característica, que era justamente a neutralidade dos protocolos TCP/IP em relação ao conteúdo transmitido. Nas redes que apresentam design integrado, o custo de qualquer alteração tende a ser maior, pois não basta a mudança em apenas um ou alguns módulos, é necessária a adaptação da infraestrutura por inteiro. E quanto maior o custo, mais difícil se torna para os pequenos empreendedores lançarem novos produtos ou serviços. Consequentemente, as redes integradas tendem a concentrá-la em número menor de sujeitos, justamente aqueles que disponham dos recursos suficientes para suportar os custos de alterações profundas na infraestrutura da rede. A arquitetura de uma rede de computadores certamente influencia quem é capaz de inovar. Ela repercute, ainda, sobre outros aspectos. Assim, a inovação tende a se concentrar apenas nas grandes companhias, então são os interesses destas companhias que irão pautar o que deve ser criado e quando. Mesmo quando necessário financiamento externo, a arquitetura modular mostra-se mais favorável. Ela permite a captação de recursos de forma alternativa ao mercado financeiro e a menor custo, como no caso do crowdfunding, consistente numa forma alternativa de financiamento que conecta diretamente, por meio da internet e das redes sociais, aqueles que podem ofertar, emprestar ou investir recursos com aqueles que necessitam de financiamento para projetos ou negócios específicos. Ocorre que o design original da internet, capaz de propiciar a inovação descrita anteriormente, mesmo contra a vontade das grandes companhias do setor, está sofrendo várias mudanças. Dependendo do tipo e da maneira como elas se consolidarem, podem ficar comprometidas: a inovação, a liberdade de expressão, a privacidade e o próprio funcionamento dos mercados. A internet vem sofrendo alterações com o nítido propósito de possibilitar maior monitoramento e controle. Uma das mais agressivas mudanças é a interferência nos protocolos TCP/IP, substituindo a característica original da neutralidade pelo monitoramento dos pacotes de dados, não apenas quanto à origem e ao destino, mas também em relação ao próprio conteúdo de cada pacote. Não só os Estados têm interferido no funcionamento da internet, o mercado também tem feito isso. Os dados adquirem considerável valor econômico, sendo os principais responsáveis por custear serviços aparentemente gratuitos. Em todos estes casos, o pagamento é feito indiretamente. Permite-se que o prestador do serviço tenha acesso à privacidade do usuário e lucre a partir dela. Outra forma de discriminação baseada no interesse econômico é o traffic shaping. Ela consiste em aumentar a velocidade e a qualidade dos serviços próprios e, ao mesmo tempo, reduzir a dos concorrentes, para prejudicar estes últimos. Isto causa no usuário final a falsa impressão de que um dos serviços é melhor do que o outro. Outra espécie de traffic shaping ocorre quando o provedor de acesso à internet deliberadamente reduz a velocidade de certas aplicações, não para prestigiar serviço próprio, mas simplesmente porque deseja inviabilizar o uso dessas aplicações. Diante das inúmeras repercussões que acarreta, a mudança na infraestrutura da internet vem atraindo a atenção das mais diversas áreas da ciência, inclusive do Direito. A principal resposta jurídica a esse problema é conhecida como princípio da neutralidade da rede (net neutrality). A neutralidade da rede foi um dos pontos mais polêmicos do Marco Civil da Internet. Essa lei não é um fim em si mesma. Ela representa tão somente mais um passo rumo à regulação jurídica do tema. Para que a neutralidade de rede de fato atinja os objetivos a que se propõe é preciso: 1) contextualizá-la segundo o design original da internet e sua infraestrutura; e 2) compreender os seus limites. O debate sobre a neutralidade da rede é altamente polarizado. De um lado, aqueles contrários a ela argumentam, basicamente, que a neutralidade absoluta contraria a própria noção de mercado, pois elimina vantagens competitivas, desestimulando o investimento em pesquisa e inovação. Os que assim pensam também defendem que o tratamento diferenciado a certos pacotes de dados é ínsito ao próprio gerenciamento das redes informatizadas, de modo que uma rede plenamente neutra teria baixa qualidade dos serviços e acarretaria a insatisfação dos usuários. No extremo oposto encontram-se os defensores da neutralidade de rede. Sustentam que a neutralidade de rede se coaduna com o design original da internet, tendo sido a grande responsável pelo fato de a rede mundial de computadores ter se tornado o sucesso que é. Acrescentam que preservar este design é vital para manter o caráter colaborativo e o potencial inovador da internet. Assim, qualquer filtragem dos pacotes de dados seria, a priori, nociva. Mesmo aquelas baseadas em razões de segurança ou no gerenciamento da rede deveriam ser justificadas e adotada apenas em caráter excepcional. Além disso, a filtragem de pacotes poderia ocasionar censura ou restringir ilegalmente as escolhas do usuário. Busca-se uma via intermediária, que reconheça a necessidade de preservar as vantagens competitivas do empresário e, ao mesmo tempo, possibilitar que desenvolvedores independentes e pessoas comuns utilizem a internet como ferramenta para a inovação e o compartilhamento de conteúdo. Propõe-se uma regulação jurídica que primeiro compreenda o funcionamento da internet para então fixar limites à neutralidade de rede, consentâneos com as mudanças estruturais experimentadas nos últimos anos. Dois princípios jurídicos merecem destaque: 1) comunicação de ponta a ponta (end-to-end) e 2) preservação das camadas de rede (layers principle). No caso da internet, os protocolos TCP/IP deveriam sofrer mínimo possível de intervenções. A inovação deveria ocorrer, preferencialmente, na camada superior, com o desenvolvimento de novas aplicações. Transposto para o Direito, este princípio dispõe que a regulação jurídica da internet deve focar na camada de aplicações, preservando, tanto quanto possível, o design original das demais camadas de rede. Há autores que destrincham o princípio em duas vertentes. Pela vertente ampla (broad version), o end-to-end determina que as camadas de rede inferiores devem prestar serviços cada vez mais padronizados e simplificados. A versão restrita desse princípio (narrow version) dispõe que todas as alterações que não possam ser implementadas exclusivamente numa camada da rede, ou que não beneficiem indistintamente todos os serviços que se utilizam dessa camada, devem ser implementadas na camada de aplicações, funcionando de ponta a ponta, exclusivamente entre remente e destinatário. Outro princípio jurídico relevante é a preservação das camadas de rede. Segundo ele, somente em casos excepcionais a regulação direcionada a uma camada pode interferir no funcionamento dos demais. A regulação que extrapola camadas de rede traz dois problemas aparentemente antagônicos: abrangência excessiva (over inclusiveness) e abrangência insuficiente (under inclusiveness). Por isso, a melhor regulação jurídica é aquela direcionada exclusivamente à camada onde se situa o problema, sem produzir efeitos nas demais. Tanto o end-to-end quanto o layers principle servem de fundamento à neutralidade de rede. A neutralidade de rede não é um valor absoluto. Ela deve ceder diante de certas razões jurídicas ou das próprias características fáticas da rede. Com efeito, algumas características fáticas da internet demandam tratamento diferenciado a certos pacotes de dados, a fim de que o resultado final do seu processamento seja satisfatório. O Marco Civil da Internet no Brasil admite, expressamente, esse tipo de discriminação no art. 9º, §1º, I, desde que amparada em razões técnicas, em prol da maior qualidade dos serviços. Essas limitações alcançam apenas os provedores de conexão e de aplicações de internet. Outra causa fática lícita para a discriminação no fluxo de dados diz respeito aos serviços de emergência mencionados no art. 9º, § 1º, II, da Lei nº 12.965/2014. Quais são especificamente esses serviços é matéria que deverá constar de normativa a ser expedida pela Agência Nacional de Telecomunicações – ANATEL, conforme art. 8º, I, do Decreto nº 8.771/2016. Em situações ainda mais excepcionais, como a guerra formalmente declarada, seria lícito até mesmo interferir nas camadas física e de conexão, a fim de dificultar ou suprimir o acesso à internet do Estado beligerante. Mesmo nos casos em que razões técnico-operacionais justificam o tratamento diferenciado de dados, é dever do administrador da rede informar aos usuários quais são os critérios utilizados e como serão tratadas as diversas espécies de dados. A nomenclatura neutralidade de rede talvez não seja a mais adequada. O que esse princípio busca, na realidade, é prevenir e coibir discriminações abusivas. O que a neutralidade de rede proíbe é o tratamento discriminatório a pacotes de dados da mesma natureza, com base no seu conteúdo, origem ou destino. É plenamente admissível que os provedores de acesso ofereçam variados pacotes de serviços, com características diferentes em cada um deles. O que na se admite é que o administrador da rede, fora das exceções legalmente admissíveis, manipule a conexão de seus usuários, influenciando, ainda que indiretamente, na maneira como eles utilizarão seu pacote de dados. Além disso, a neutralidade de rede incide sobre as camadas inferiores, principalmente os protocolos TCP/IP, preservando a sua compatibilidade com quaisquer aplicações que já existem ou venham a existir. Entende-se que é possível assegurar, de um lado, a livre concorrência, as estratégias empresariais e suas vantagens competitivas; e, de outro, a privacidade, a liberdade de expressão, a inovação e a autonomia decisória dos usuários. Há que se questionar o art. 2º, caput, do Decreto nº 8.771/2016, na parte em que se estende a neutralidade também aos provedores de aplicações de internet, ou seja, à camada superior. Esse dispositivo padece de dois vícios. O primeiro é a ilegalidade, uma vez que inova em relação ao Marco Civil da Internet, ampliando restrição que no está expressamente prevista em lei. Entende-se que a neutralidade da rede é direcionada especificamente aos provedores de conexão, enquanto as demais disposições do capítulo, como a Proteção aos Registros, aos Dados Pessoais e às Comunicações Privadas, dirigem-se também aos provedores de aplicações. Padece ainda de um segundo vício. Estender a neutralidade de rede também aos provedores de aplicações, que atuam exclusivamente na camada superior da internet, conflita com os princípios constitucionais da livre iniciativa e da livre concorrência. Reitera-se que a neutralidade de rede incide sobre as camadas inferiores, principalmente os protocolos TCP/IP, preservando a sua compatibilidade com quaisquer aplicações que já existem ou que venham a existir. Na camada de aplicações, por sua vez, a regra é a livre concorrência. Sendo assim, neutralidade de rede é a proibição de que os administradores da rede manipulem a conexão dos usuários, a fim de discriminar pacotes de dados da mesma natureza, com base no seu conteúdo, origem ou destino, fora das exceções legalmente admitidas. Aspectos constitucionais da Internet II: Conflito de princípios constitucionais: direito à intimidade, direito à informação e liberdade de expressão. Regulação atual: Marco Civil da Internet e Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais. Introdução ao direito ao esquecimento.
Conflito de princípios constitucionais
Os direitos de personalidade associados à intimidade e à privacidade
individual assumem nova dimensão na sociedade da informação digital, em detrimento do direito de informação e das liberdades comunicativas. Nesse contexto está inserido o direito ao esquecimento que preconiza que os atos praticados no passado não podem ecoar para sempre. O reconhecimento do direito ao esquecimento tem grave impacto sobre as liberdade comunicativas. Nos termos formulados pelo STJ, ele não é compatível com a Constituição Federal de 1988, em face das evidentes ameaças que encerra às liberdades comunicativas, à História e à memória coletiva. Contudo, há um espaço legítimo para o seu reconhecimento no campo da proteção dos dados pessoais despidos de interesse público. Em maio de 2013, o Tribunal de Justiça da União Europeia determinou que o Google retirasse do ar links que atrelassem o nome do espanhol Mario Costeja González a um leilão de imóvel de sua propriedade para pagamento de dívida à Seguridade Social. A decisão baseou-se no direito ao controle da exposição de informações particulares e consagrou o chamado direito de ser esquecido. Criou-se um precedente para que os sites de busca possam ser obrigados a remover dados considerados inadequados ou que não sejam mais relevantes. O direito de ser esquecido preconiza que as pessoas têm o direito de serem esquecidas pela opinião pública e pela imprensa. Segundo o Enunciado 531 da VI Jornada de Direito Civil, a tutela da dignidade da pessoa humana na sociedade da informação inclui o direito ao esquecimento, que se justifica pela possibilidade de discussão quanto ao modo como fatos pretéritos são memorados e à finalidade dessa recordação. A Quarta Turma do STJ debruçou-se sobre dois casos concretos nos quais o direito de ser olvidado foi invocado. O primeiro foi o caso Ainda Curi, em que a família propôs demanda indenizatória em face da TV Globo por conta de programa veiculado pela emissora. O segundo foi referente à Chacina da Candelária. Inúmeras questões e possibilidades emergem dessa controvérsia: 1) Um órgão de comunicação pode ser impedido de veicular determinada informação, ainda que atinja, em razão dos gravames emocionais ocasionados a alguém ou a seus familiares? 2) E no caso dos sites de busca na Internet, podem ser eles obrigados a excluir determinada informação relativa a uma pessoa de sua base de dados? 3) Não se trataria de caso de censura às liberdades comunicativas? 4) Em que pese hipóteses o direito coletivo à informação deve prevalecer sobre o direito individual de ser esquecido? 1) Deve haver relevância histórica no fato narrado? A inclusão do direito ao esquecimento na proteção da dignidade da pessoa humana na sociedade da informação teria maior projeção ao possibilitar a discussão quanto ao “uso que é dado aos fatos pretéritos, mais especificamente o modo e a finalidade com que são lembrados”, com a ressalva de que não se atribuiria a ninguém o direito de apagar fatos ou de reescrever a própria história. O direito ao esquecimento é aplicado a partir da concepção de que os fatos públicos divulgados no passado perderiam o interesse coletivo e histórico com o decorrer do tempo, de forma que deveriam ser retirados do conhecimento geral quando sobreviesse a necessidade de proteger o nome, a reputação e o “direito de ser deixado em paz” dos envolvidos. O direito ao esquecimento seria mais uma forma de assegurar a dignidade da pessoa humana, sobretudo no que concerne à proteção da privacidade, da imagem e da honra dos envolvidos em fatos que se tornaram públicos, resguardando a intimidade do indivíduo e as informações que deseja que saibam ou não sobre si. O resguardo à privacidade não pode apagar parte da história tampouco obstar o direito da imprensa de divulgar fatos relevantes e de interesse público. O direito à informação desdobra-se em três dimensões: o direito de informar, o direito de se informa e o direito de ser informado. Distingue-se o direito de informar do direito à liberdade de expressão sticto sensu. Enquanto o primeiro envolve estritamente a comunicação dos fatos e pressupõe a observância de veracidade, o segundo diz respeito à manifestação de ideias, juízos de valor e sentimentos e dispensaria qualquer exigência similar. Todas as questões que envolvam interesse público e relevo social encontram-se sob a égide do direito à informação. A atividade política, a atuação da Administração Pública, os aspectos relativos à criminalidade, à economia, aos costumes, às práticas e relações sociais, etc., fazem parte do seu alcance. Discuti- las é essencial para a formação de convicções pessoais e preferências e, em consequência, para a realização de escolhas conscientes, o que somente pode ser alcançado com eficácia quando assegurado o amplo acesso à informação – de qualquer tipo. O direito à informação é imprescindível para o livre desenvolvimento da personalidade humana, uma vez que habilita o cidadão a reivindicar melhor todos os demais direitos, fortalecendo o controle social sobre as políticas públicas que visam a promovê-los. As informações ser revelam como alicerces para que seja possível a construção de escolhas pessoais livres e autônomas. O direito ao esquecimento representa grave ameaça para a pesquisa, o estudo e a divulgação da História. Os direitos fundamentais devem ser assegurados igualmente para todos os que se encontram na mesma situação. Afirmar que há um direito fundamental a não ser lembrado é atribuir esse direito a todos. Todavia, quase todos os acontecimentos são compostos de aspectos cuja recordação pode acarretar constrangimento ou desagrado para alguém. Embora seja natural preferir que as falhas sejam esquecidas, erigir esse desejo à condição de direito fundamental é o mesmo que impedir o conhecimento da História. Isso não significa que o direito à informação sobre fatos pretéritos se sobreponha incondicionalmente e em qualquer hipótese a outros direitos da personalidade. Se um fato era lícito quando aconteceu, o passar do tempo não pode torná-lo ilícito. Os acórdãos do STJ asseveram que, em decorrência do princípio da dignidade da pessoa humana, no conflito entre liberdade comunicativas e direitos à intimidade, vida privada, honra e imagem, as soluções protetivas da pessoa humana, em regra, contrariam com predileção constitucional, embora, em razão das circunstâncias fáticas, isso não tenha sido observado no caso Ainda Curi. Há violação das liberdades comunicativas quando o Estado proíbe que determinada temática seja abordada e quando limita o modo dessa abordagem, suas peculiaridades ou personagens que serão evidenciados ou ignorados pelo emissor. No julgamento da ADPF nº 130, a Ministra Carmen Lúcia rechaçou a existência de tensão entre a dignidade da pessoa humana e as liberdades comunicativas. A liberdade de imprensa se compõe, exatamente, para a realização da dignidade da pessoa humana, ao contrário de uma equação que pretendem ver como se fossem dados adversos. A não ser em casos excepcionalíssimos, a tutela dos direitos da personalidade deve ocorrer a posteriori, por meio do exercício do direito de resposta e da responsabilização dos que exerceram abusivamente as suas liberdades expressivas. A proteção de dados pessoais, também chamada de autodeterminação informativa, é a faculdade de o particular determinar e controlar os seus dados pessoais. A intimidade e a vida privada são esferas diversas compreendidas em um conceito mais amplo: o de direito de privacidade. Dele decorre o reconhecimento da existência, na vida das pessoas, de espaços que devem ser preservados da curiosidade alheia, por envolverem o modo de ser de cada um, as suas particularidades. Como regra geral, não haverá interesse público m ter acesso a esse tipo de informação. A doutrina e a jurisprudência costumam identificar um elemento decisivo na determinação da intensidade de sua proteção: o grau de exposição pública da pessoa, em razão de seu cargo ou atividade, ou até mesmo de alguma circunstância eventual. Também se entende que não há ofensa à privacidade se o fato divulgado, sobretudo por meios de comunicação de massa, já ingressou no domínio público, pode ser conhecido por outra forma regular de obtenção de informação ou se a divulgação limita-se a reproduzir informação antes difundida. Não se cogita de lesão à privacidade nem tampouco ao direito de imagem. A honra procura proteger a dignidade pessoal do indivíduo, sua reputação diante de si próprio e do meio social no qual está inserido. A doutrina e a jurisprudência estabelecem que o direito à honra é limitado pela circunstância de ser verdadeiro o fato imputado ao indivíduo; nessa hipótese, não se poderia opor a honra pessoal à verdade. Excepcionalmente, porém, a doutrina admite que se impeça a divulgação de fatos verdadeiros mas detratores da honra individual: é o que se denomina de “segredo da desonra”. É importante registrar que o conflito potencial entre a proteção à honra dos acusados e a divulgação de fatos criminosos ou de procedimentos criminais (no momento de sua apuração ou posteriormente) tem sido examinado com frequência pela doutrina e jurisprudência. E, a propósito, existe amplo consenso no sentido de que há interesse público na divulgação de tais fatos, sendo inoponível a ela o direito do acusado à honra. São elementos que conduzem a essa conclusão: (i) a circunstância de os fatos criminosos divulgados serem verdadeiros e a informação acerca deles haver sido obtida ilicitamente afasta por si só a alegação de ofensa à honra; (ii) não se aplica a exceção do “segredo da desonra” porque fatos criminosos, por sua própria natureza, repercutem sobre terceiros e tanto não dizem respeito exclusivamente à esfera íntima da pessoa que são considerados criminosos; (iii) há o interesse público específico na prevenção geral própria do Direito Penal. O direito à imagem protege a representação física do corpo humano ou de qualquer de suas partes, ou ainda de traços característicos da pessoa pelos quais ela possa ser reconhecida. A reprodução da imagem depende, em regra, de autorização do titular. A imagem é objeto de um direito autônomo. A circunstância de já ser público o fato divulgado juntamente com a imagem afasta a alegação de ofensa à honra ou à intimidade, mas não interfere com o direito de imagem. A doutrina brasileira distingue as liberdades de informação e de expressão, registrando que a primeira diz respeito ao direito individual de comunicar livremente fatos e ao direito difuso de ser deles informado; a liberdade de expressão, por seu turno, destina-se a tutelar o direito de externar ideias, opiniões, juízos de valor, em suma, qualquer manifestação do pensamento humano. A informação não pode prescindir da verdade pela circunstância de que é isso que as pessoas legitimamente supõem estar conhecendo ao buscá-la. A distinção deve pautar-se por um critério de prevalência: haverá exercício do direito de informação quando a finalidade da manifestação for a comunicação de fatos noticiáveis, cuja caracterização vai repousar sobretudo o critério da sua veracidade. A liberdade de imprensa designa a liberdade reconhecida aos meios de comunicação em geral, de comunicarem fatos e ideias, envolvendo, desse modo, tanto a liberdade de informação como a de expressão. As liberdades de informação e de expressão servem de fundamento para o exercício de outras liberdades, o que justifica uma posição de preferência em relação aos direitos fundamentais individualmente considerados. No mundo atual, no qual se exige que a informação circule cada vez mais rapidamente, seria impossível pretender que apenas verdades incontestáveis fossem divulgadas pela mídia. Em muitos casos, isso seria o mesmo que inviabilizar a liberdade de informação, sobretudo de informação jornalística, marcada por juízos de verossimilhança e probabilidade. O requisito da verdade deve ser compreendido do ponto de vista subjetivo, equiparando-se à diligência do informado, a quem incumbe apurar de forma séria os fatos que pretende tornar públicos. Fala-se ainda de um limite genérico às liberdades de informação e de expressão que consistiria ao interesse público. Vale lembrar que o pleno exercício das liberdades de informação e de expressão constitui um interesse público em si mesmo, a despeito dos eventuais conteúdos que veiculem. Quando se faz referência à necessidade de se atender ao requisito do interesse público no exercício da liberdade de informação e de expressão, na verdade se está cuidando do conteúdo veiculado pelo agente. O interesse público na divulgação de informações – reiterando-se a ressalva sobre o conceito já pressupor a satisfação do requisito da verdade subjetiva – é presumido. A ponderação deverá decidir não apenas qual bem constitucional deve preponderar no caso concreto, mas também em que medida ou intensidade ele deve preponderar. São elementos que devem ser considerados na ponderação entre a liberdade de expressão e informação, de um lado, e os direitos à honra, à intimidade, à vida privada e à imagem, de outro. São parâmetros constitucionais para a ponderação na hipótese de colisão: a veracidade do fato: os veículos de comunicação têm o dever de apurar, com boa-fé e dentro de critérios de razoabilidade, a correção do fato ao qual darão publicidade. Não se trata de uma verdade objetiva, mas subjetiva, subordinada a um juízo de plausibilidade e ao ponto de observação de quem a divulga. licitude do meio empregado a obtenção da informação; personalidade pública ou estritamente privada da pessoa objeto da notícia; local do fato; natureza do fato; existência de interesse público na divulgação em tese: o interesse público na divulgação de qualquer fato verdadeiros se presume, como regra geral. existência de interesse público na divulgação de fatos relacionados com a atuação de órgãos públicos; preferência por sanções a posteriori, que não envolvam a proibição prévia da divulgação: retificação, retratação, direito de resposta e responsabilização, civil ou penal, e a interdição da divulgação. Pode ser proibida, a requerimento do interessado, a utilização da imagem de alguém ou a divulgação de fatos sobre a pessoa, em circunstâncias capazes de lhe atingir a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, inclusive para fins jornalísticos. As exceções ao preceito são: a) autorização da pessoa envolvida ou a circunstância de a exibição ser necessária para b) a administração ou justiça ou c) a manutenção da ordem pública. A divulgação de informações verdadeiras e obtidas licitamente sempre se presume necessária ao bom funcionamento da ordem pública e apenas em casos excepcionais, que caberá ao intérprete definir diante de fatos reais inquestionáveis, é que se poderá proibi-la.
Introdução ao direito ao esquecimento
Salvo data excepcional e extremamente marcante, é da natureza humana,
é biológico, esquecer as coisas. Nosso padrão é o esquecimento. O esquecimento desempenha na vida do homem um papel relevante: é como se fosse uma faxina. Esquecer certas coisas porque desnecessárias, desimportantes, descontextualizadas, abre espaço para que possamos reter informações mais relevantes. A arquitetura da Internet foi moldada para dificultar ou, até mesmo, impossibilitar o esquecimento. A Internet é feita para propiciar o contrário do que a natureza humana propicia. Várias nomenclaturas são dadas ao direito ao esquecimento: direito de ser deixado em paz (right to be let alone), direito de esquecer (right to forget), de ser esquecido (right to be forgotten) e direito de apagar (right to delete). O direito ao esquecimento tem um objeto muito específico. Os dados que produzimos são, grosso modo, classificados em dois grandes grupos. Primeiro os dados que se referem a um sujeito identificado ou passível de ser identificado. São os chamados dados pessoais. Dentro dos dados pessoais, temos algumas classificações. Há uma subdivisão interessante que é a dos dados pessoais sensíveis, aqueles que têm a ver com o mais íntimo dos indivíduos, proteção às convicções sexuais, políticas de modo geral. E, por exclusão, o que não se refere ao indivíduo é dado anônimo. O direito ao esquecimento só pode ter como objeto os dados pessoais. O Marco Civil da Internet brasileira trata expressamente do direito ao esquecimento. O art. 7º, X diz que é direito fundamental do usuário a exclusão definitiva dos dados pessoais que tiver fornecido a determinada aplicação de internet, a seu requerimento, ao término da relação entre as partes, ressalvadas as hipóteses de guarda obrigatória de registros previstas a Lei. Há quem afirme não ser o direito ao esquecimento um direito por três motivos: (1) ele não encontra previsão no ordenamento jurídico brasileiro; (2) ele tem servido, a verdade, para dar novo nome a lesões a outros direitos fundamentais ou da personalidade. O chamado direito ao esquecimento não é uma categoria jurídica, mas sim uma “categoria emocional”; (3) a sua implementação trata, na verdade, de questões envolvendo o apagamento de dados, a remoção de conteúdo ou a desindexação de chaves de busca. Convencionar o nome de algo como direito ao esquecimento obscurece o tratamento do que está em seu cerne: a proteção de direitos como a privacidade, a imagem e nome por mecanismos como apagamento de dados, remoção de conteúdo e desindexação de chaves de busca. O direito ao esquecimento é um engano conceitual de perigosos efeitos para a liberdade de expressão e para o acesso ao conhecimento e à informação, em especial na Internet.
Aspectos Constitucionais da Internet III e IV: Direito ao esquecimento:
regulação, conceito e natureza jurídica. Casos paradigmáticos. Direito ao esquecimento: direito brasileiro e aspectos práticos. Nuances processuais e análise de situações cotidianas. Perspectivas.
A regra na Internet é a lembrança, mas o esquecimento a exceção. A
própria estrutura da rede facilita a perpetuação da informação e dificulta o seu controle. Por que caberia então ao Direito engendrar um mecanismo falho como o chamado direito ao esquecimento para fazer com que informações sejam apagadas ou mesmo acessíveis? É possível decidir ex ante o que deve ser esquecido? É possível saber ex ante se um fato que hoje parece trivial o futuro não poderá atrair interesse coletivo? Quais seriam as condições que tornariam possível algo ser esquecido? A resposta imediata geralmente é encontrada na dicotomia entre interesse público e interesse privado. A implementação do chamado direito ao esquecimento é feita através de uma tutela sempre parcial. Há um risco de se permitir com o chamado direito ao esquecimento a revisão da história e de fatos de interesse coletivo, o que afronta diretamente os direitos à liberdade de expressão, à informação e à verdade histórica. A melhor reação a um discurso ou relato considerado problemático é a resposta a ele na esfera pública. Em vez de supressão ou tolhimento, mais discursos, mais versões, mais contraditório. Essa é a praxe saudável de uma sociedade que se governa sob um Estado Democrático de Direito. Deve-se assim estimular mecanismos alternativos ao chamado direito ao esquecimento. Contextualizar uma informação, atualizar o seu conteúdo ou ainda oferecer o direito de resposta são alternativas preferíveis ao que se convencionou chamar de direito ao esquecimento. Autores procuram enxergar a sua positivação o art. 7º, X, da Lei nº 12.965/2014. O que existe é apenas o direito do titular de dados pessoais solicitar o seu apagamento quando do término da relação contatual existente entre o mesmo e um provedor. O direito ao apagamento de dados não se confunde com o chamado direito ao esquecimento. “Direito ao esquecimento”, geralmente, refere-se a uma solução que, em algumas circunstâncias, permite às pessoas exigirem dos buscadores online a desindexação de certos tipos de informações sobre eles, descobertas quando se buscam seus nomes. Pode se referir às demandas dos hospedeiros de sites para apagar certas informações. Tem sido considerado como um direito dos indivíduos “para determinar por si mesmos quando, como e em que medida as informações sobre eles são comunicadas aos outros”, ou como um direito que dá ao indivíduo mais controle sobre suas informações. Tem sido classificado como um direito à privacidade. O escopo do “direito ao esquecimento” permanece, em grande parte, indefinido: varia entre um direito mais limitado, protegido pela existência de uma lei de proteção de dados, até noções mais amplas, abrangendo a proteção da reputação, honra e dignidade. O “direito ao esquecimento” não é expressamente reconhecido em padrões internacionais de direitos humanos. A seguir, as principais referências internacionais de direitos humanos relacionadas ao tema e o contexto latino-americano. No marco jurídico nacional o aparato normativo existente que poderia amparar eventuais reivindicações de “direito ao esquecimento”. O direito à liberdade de expressão e de informação protege o livre fluxo de informações, opiniões e ideias. Aplica-se a todos os meios e inclui o direito de transmitir, de buscar e receber informações. A liberdade de expressão tem sido reconhecida como fundamental tanto para a autonomia individual quanto para uma sociedade livre em geral. A liberdade de expressão é essencial para o gozo de outros direitos humanos. No entanto, não é absoluta. Ela não é um direito qualificado, que pode ser limitado, desse que a restrição esteja em conformidade com um teste de três partes. A restrição deve: ser prevista em lei; perseguir objetivos legítimos, explicitamente enumerados o art. 19 do PIDCP; ser necessária em uma sociedade democrática. A medida adotada deve ser proporcional ao objetivo almejado. A privacidade é um conceito amplo relativo à proteção da autonomia individual e da relação entre o indivíduo e a sociedade, incluindo governo, empresas e particulares. É um direito fundamental subjacente à dignidade humana e a outros valores como a liberdade de expressão e a de associação. O direito à privacidade não é um direito absoluto e está sujeito ao mesmo teste de três partes que o direito à liberdade de expressão, a saber: legalidade, necessidade e proporcionalidade. Por um lado, a proteção do direito à privacidade nas comunicações online é essencial para garantir que os indivíduos tenham confiança para exercer livremente o seu direito à liberdade de expressão. No entanto, a publicação de informação privada constitui uma clara violação ao direito à privacidade. O direito à privacidade evoluiu para abordar questões relacionadas à coleta, utilização e divulgação de informações pessoais, mantidas por governos e entidades privadas em sistemas de informação. Há princípios que regem a coleta e o tratamento dessas informações: a) princípio da coleta limitada: deve haver limites para a coleta de dados pessoais e eles devem ser obtidos por meios legais, justos e, quando apropriado, com o conhecimento ou consentimento, da pessoa em causa. b) princípio da qualidade dos dados: dados pessoais coletados devem ser relevantes aos fins para os quais estão sendo utilizados e devem ser precisos, completos e mantidos atualizados. c) princípio da especificação de propósitos: os fins devem ser especificados antecipadamente ou no momento da coleta. d) princípio de limitação de uso: dados pessoais não devem ser divulgados, disponibilizados ou utilizados para fins diferentes daqueles especificados anteriormente, exceto: (i) com o consentimento da pessoa em causa; ou (ii) pela autoridade da lei. e) princípio das salvaguardas de segurança: dados pessoais devem ser protegidos por garantias razoáveis de segurança contra riscos, como perda ou acesso não autorizado, destruição, uso, modificação ou divulgação. f) princípio de abertura: meios devem estar prontamente disponíveis para estabelecer a existência e a natureza dos dados pessoais e os principais efeitos da sua utilização bem como a identidade habitual do controlador dos dados. g) princípio da participação individual: um indivíduo deve ter o direito a (i) obter do controlador de dados, ou de outra forma, a confirmação da existência, ou não, de dados relativos a ele ou a ela; (ii) obter tais dados dentro de um prazo razoável, mediante taxa, se for o caso, mas não excessiva, de maneira razoável e que seja facilmente compreensível para ele ou ela; (iii) conhecer as razões pelas quais um pedido tenha sido negado; (iv) modificar o registro de dados que lhe dizem respeito e, se o recurso for bem sucedido, ter os dados apagados, retificados, completados ou alterados. h) princípio da prestação de contas: um controlador de dados deve prestar contas pelo cumprimento de medidas para tornar efetivos os princípios antes enumerados. Um dos principais receios quando se defende a existência do direito ao esquecimento, em especial no contexto da internet, é que ele permita a censura, ou mesmo o “reescrever da história”, conforme a convivência de quem pretende reescrevê-la. Permitir a exclusão de dados, ou mesmo sua desindexação, seria violar a liberdade de expressão, marco da democracia pós 1988, bem como desrespeitar o direito a uma memória coletiva. A sociedade teria direito a registros históricos fidedignos e o esquecimento representaria a possibilidade de que interesses particulares afetassem a visão do passad9o, com impactos no presente e no futuro. De um lado, posicionam-se o princípio da liberdade e de expressão e o direito à informação e, de outro, o direito à privacidade, à imagem e o princípio da dignidade da pessoa humana. Acredita-se que o direito ao esquecimento não intenciona apenas tutelar o sujeito interessado na exclusão. Pelo contrário, a possibilidade, em certos casos, de se excluir ou desindexar conteúdos impacta, positivamente, toda a coletividade. Controle difere de censura e a privacidade é direito casuístico por excelência, suscitando, por isso mesmo, proteção que seja dúctil e que possa servir não como uma forma de censura, mas como critérios para orientar a imprensa livre. Surge o “direito à autodeterminação informativa” como a possibilidade de maior controle sobre os dados pessoais. Isso significa que a individualidade da pessoa deve ser incorporada ao conceito de bem comum, e não entendida como seu contraponto e que não se deve entender a tutela da privacidade como a proteção exclusiva de um indivíduo, mas sim como uma proteção necessária para a manutenção da estrutura social. Apesar de correlatar, a desindexação e a exclusão podem ser vistas como independente. A apuração de qual a forma adequada de tutela somente será possível no caso concreto, sabendo-se que as justificativas para a exclusão devem ser mais rigorosas que para a desindexação. Os provedores de serviços nas internet, dentre os quais destacam-se os chamados provedores de conteúdo, aqueles responsáveis pela disponibilização de informação na internet, dos provedores de informação, responsáveis pela criação ou desenvolvimento dessas informações. O provedor de conteúdo, portanto, nem sempre se confunde com o provedor de informação, este o verdadeiro responsável pela criação das informações divulgadas através da Internet. Provedor de conteúdo ou de informação é a instituição cuja finalidade principal é coletar, manter e/ou organizar informações online para acesso pela Internet por parte dos assinantes da rede. Essas informações podem ser de acesso público incondicional, caracterizando assim um provedor não-comercial ou, no outro extremo, constituir um serviço comercial em que existem tarifas ou assinaturas cobradas pelo provedor. O provedor de conteúdo é toda pessoa natural ou jurídica que disponibiliza na Internet as informações criadas ou desenvolvidas pelos provedores de informação, utilizando para armazená-las servidores próprios ou serviços de um provedor de hospedagem. O exercício do direito ao esquecimento pode ocorrer nas situações em que se deseja que mecanismos de busca de internet removam a indexação da informação, não apresentando mais os links referentes à informação pessoal defasada, irrelevante ou inútil para a sociedade, e que seja constrangedora a seu titular. Há ainda a questão quanto a real possibilidade técnica em se excluir dados disponíveis na rede. Ainda que a resposta se mostre no sentido da impossibilidade técnica, há alternativas para garantir o esquecimento que não apenas a desindexação, como impedir o acesso aos dados determinados, ou torá- los ininterpretáveis, inclusive por meio da criptografia. A possibilidade de exclusão de conteúdo prescindindo de processo judicial remete à ideia de notice and take down: noticia-se o responsável, para que ele mesmo retire o conteúdo, divulgado na rede. Entretanto, a garantia do direito ao esquecimento apenas pela via extrajudicial acarreta também, paralelamente a seus benefícios, diversos problemas. Primeiramente, pelo fato de conceder a particulares a discricionariedade de decidir em quais casos retirar, ou não, os dados em questão, em detrimento da segurança jurídica. Em segundo lugar, por facilitar pedidos abusivos de retirada, sem comprovação dos motivos da formulação. Acredita-se, aqui, que o direito ao esquecimento pode ser garantido extrajudicialmente -, com a simples notificação do responsável ou do mecanismo de busca, mas que o notificado não possui obrigação jurídica de retirar o conteúdo em questão, salvo se tratar-se de conteúdo ilegal; de caráter erótico ou sexual, divulgado sem o consentimento dos envolvidos, ou, no caso de plataformas digitais, se em desconformidade com seus termos de uso. É imprescindível que o particular que decida por remover o conteúdo notifique os sujeitos que i tenham disponibilizado, a fim de permitir um eventual direito de resposta, em prol da segurança jurídica dos envolvidos. O ajuizamento pode, respeitados os limites da Lei nº 9.099/1995, ser efetivado perante Juizados Especiais, como expressa o art. 19, §3º, do Marco Civil da Internet. O art. 19, §4º, possibilita também a antecipação dos efeitos da tutela, o que vem em consonância com o espírito do direito ao esquecimento a internet. Quanto ao foro competente para ajuizamento, vale pontuar que a regra geral, tratando-se de processo com fundamento em direito pessoal, é a competência do domicílio do réu. Caso a ação decorra de relação de consumo, contudo, o ajuizamento poderá ocorrer no domicílio do autor, conforme art. 101, I, CDC. A possibilidade de ajuizamento de ação em face de intermediários permite, indiretamente, um controle sobre conteúdos disponibilizados por sujeitos sem vínculo no território nacional. O direito ao esquecimento, como direito da personalidade, deve se considerado absoluto, com sua tutela possuindo oponibilidade erga omnes. Para assegurar a tutela do direito ao esquecimento por meio da “des- listagem”, não é necessário, a princípio, cogitar de uma responsabilização civil com fins indenizatórios, por culpa ou dolo dos buscadores. Em situação em que cabível o direito ao esquecimento na internet, parece evidente que o sujeito afetado deve buscar a responsabilização direta daquele que disponibilizou seus dados pessoais. O autor da eventual publicação é o principal responsável pela remoção do conteúdo a ser esquecido e, se for o caso, pelo pagamento de indenização ao indivíduo lesado. Porém, inúmeras são as situações em que a identificação e responsabilização desse sujeito mostra-se excessivamente onerosa, impraticável tecnicamente, ou mesmo em que o número de páginas contendo aquela informação inviabilize a listagem de todas as URL a serem removidas. É muito questionado se a indexação é um fenômeno neutro, sem que os dados sejam tratados pelos buscadores. Há fortes indícios de que há um controle sobre os resultados (indexação) e a ordem em que aparecem (rankeamento). Os mecanismos de busca nem sempre se limitam a um papel de meros intermediários. Alguns mecanismos de busca armazenam partes substanciais do conteúdo da Web – incluindo os dados pessoais constantes desse conteúdo – em seus servidores. Não é claro até que ponto os mecanismos de busca estão ativamente direcionando as informações pessoalmente identificáveis no conteúdo que processam. Nos Estados Unidos, houve decisão no sentido de que a ordem em que os resultados aparecem (o ranking dos resultados) poderia ser considerado um “discurso” dos buscadores, logo protegido pela Primeira Emenda da Constituição norte-americana (defesa ao free speech). Na experiência norte-americana, esse controle sobre a lista de resultados funciona como uma proteção indireta contra o direito à “de-listagem”. Esse entendimento não usufruiria da mesma proteção no ordenamento brasileiro. Essa discussão exige análise técnica dos sigilosos algoritmos utilizados por cada buscador, a fim de verificar sua objetividade. O intermediário não é o próprio autor do ilício, nem responsável pelo dano causado, mas possui a capacidade técnica de implementar as medidas necessárias para a efetivação da tutela específica ou obtenção do resultado prático equivalente desejado pela vítima e determinado pelo julgador. Os mecanismos de busca são serviços que pesquisam automaticamente na Internet por um conteúdo que tenha sido identificado por alguns “termos de busca” determinados pelo usuário. O mecanismo de busca oferece ao usuário em espectro de hiperlinks que podem levar ao conteúdo desejado. Há buscadores globais, com pesquisas generalizadas na rede, e buscadores verticais, com pesquisas mais especializadas, em determinados segmentos do mercado ou em determinadas bases de dados.
Aspectos Constitucionais da Internet V: Redes sociais, controle estatal e livre
exercício profissional. Liberdade de expressão vs. anonimato. Era do desinformacionismo (fake news). O conceito de fake News indica histórias falsas que, ao manterem a aparência de notícias jornalísticas, são disseminadas pela Internet, sendo normalmente criadas para influenciar posições políticas, ou como piadas. A intenção de obter algum tipo de vantagem, seja financeira, política ou eleitoral. Há fatores que influenciam substancialmente a disseminação de notícias falsas, como a origem, o grau de credibilidade das pessoas que a disseminaram ou que a referendaram, bem como a quantidade de pessoas que está disseminando a informação. Nesse ponto, adquirem especial relevância os denominados “ciborgues de mídias sociais” (social media cyborgs), termo utilizado para definir pessoas que, isoladamente, criam diversas contas em redes sociais, implementam ligações com terceiros e passam a disseminar opiniões sobre diversos temas. A criação e disseminação de notícias falsas tem capacidade potencial de influenciar o resultado de um pleito eleitoral, atingindo o Estado Democrático de Direito em sua essência: a emanação do poder pelo povo, no exercício da escolha de seus representantes políticos, que consiste em cláusula constitucional pétrea. O procedimento de identificação de uma notícia falsa não é muito complexo: (i) considerar a fonte, (ii) ler mais, (iii) investigar fontes de apoio, (iv) apurar se o autor é pessoa desconhecida ou não há indicação do autor, (v) analisar a manchete e/ou lead. A primeira inciativa brasileira no combate à veiculação e disseminação de notícias falsas encontrava-se na Lei de Imprensa, declarada como não recepcionada pela Constituição de 89. Hodiernamente, tem-se o Marco Civil da Internet (Lei nº 12.965/14). O art. 19 da Lei que instituiu o Marco Civil da Internet traz importante norma referente ao combate e à disseminação de informações falsas. No aspecto eleitoral, temos as Leis nº 13.165/2015, 13.487/2017 e 13.488/2017. Conquanto a Lei Eleitoral, desde a sua edição original, tenha previsto o direito de resposta ao candidato ofendido por conceito, imagem ou afirmação sabidamente inverídica, apenas em 2009 passou a norma a contemplar a suspensão do acesso a conteúdo eleitoralmente ilícito veiculado a Internet. As notícias deliberadamente falsas sempre terão um objetivo específico, podendo este ser lícito ou ilícito, que possam causar danos a uma pessoa ou coletividade. Há dois grupos de instrumentos processuais disponíveis ao combate à disseminação de fake news, sendo aqui chamados ordinários aqueles contidos no Código de Processo Civil e especiais aqueles que dizem respeito à legislação eleitoral. O tempo é o primeiro elemento crucial para o processo. Em segundo lugar, questões referentes à eficácia das medidas de urgência. Por último, medidas de identificação do agente, estabilização da demanda judicial, instrução e responsabilização. A Lei que estabelece o Marco Civil da Internet ratificou expressamente a possibilidade de antecipação dos efeitos da tutela, precisamente em seu §4º, do artigo 19. Conquato o Marco Civil não tenha feito alusão expressa à criação e disseminação de fake news, a norma em comento oferece, de maneira suficiente, e, ao menos por ora, suporte legal para o combate a essa prática. O Marco Civil da Internet previu, no §1º de seu art. 10, que o provedor responsável pela guarda de dados pessoais deverá disponibilizá-los mediante ordem judicial; e, em seu art. 22, disciplinou a requisição judicial de dados. Uma vez verificado pelo provedor de rede social que a conta responsável pelo conteúdo ilícito não esteja claramente vinculada a um indivíduo, deverá aquele desativá-la, não apenas impedindo a reiteração da conduta, mas também dando cumprimento à vedação constitucional ao anonimato. Em relação à responsabilização pelo conteúdo infringente, de natureza patrimonial, o provedor da aplicação somente poderá ser responsabilizado se não adotar a providências para tornar indisponível o conteúdo ilícito. Fora esta hipótese excepcional, a responsabilização pelo material será exclusivamente da pessoa que o disponibilizou.