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João Coviello
João Coviello
IESDE BRASIL
2020
© 2020 – IESDE BRASIL S/A.
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detentor dos direitos autorais.
Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: Andrei Sikorskii/muratart/Shutterstock
Coviello, João
Estética e história da arte / João Coviello. - 1. ed. - Curitiba [PR] :
IESDE, 2020
122 p. : il.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-6612-4
Gabarito 119
APRESENTAÇÃO
Este livro apresenta a estética como campo do saber que reflete a respeito
da noção do belo e mostra como essa reflexão se deslocou também para a
arte. No decorrer dos séculos, a estética ampliou o diálogo com outras áreas,
principalmente com a história da arte, marcando a interação mais vigorosa
empreendida nesta obra.
O primeiro capítulo traz a definição de estética, elucidando o belo com
base em nossas experiências contemporâneas. Existem questões recorrentes
há muito tempo, entre elas: por que gostamos do que gostamos? A capacidade
que temos de julgar é o elemento ético no cerne dessa questão.
No segundo capítulo, estão relacionados os aspectos históricos da estética
clássica, moderna e contemporânea. Nossa capacidade de julgar mobilizou
e mobiliza um número grande de pesquisadores e pensadores e, portanto,
foi necessário selecionar alguns deles a fim de mantermos a objetividade da
obra.
O terceiro capítulo pretende trazer uma contribuição ao estudo da estética
compreendendo o vínculo entre arte e cultura. Definimos o que é cultura e
depois analisamos a arte como construção, conhecimento e expressão.
Outra contribuição à pesquisa estética está no capítulo quatro, que traz
um estudo sobre as manifestações culturais e a cultura popular, além da visão
de alguns artistas sobre esses temas.
No último capítulo retomamos as manifestações expressivas, dessa vez
no contexto dos diversos grupos que originaram a cultura do Brasil. Aqui o
estudo recai sobre os aspectos artístico, histórico e social da cultura popular
brasileira, encerrando com a noção de arte brasileira.
São muitos os temas deste livro, todos tratados sob o ponto de vista da
estética e da história da arte, e que podem contribuir para a compreensão
da força expressiva da humanidade. Os diversos temas se associam ou se
aproximam porque os objetos que pesquisamos são construídos há milênios.
Essa capacidade de criar ou construir é o que nos fascina.
Bons estudos!
1
Fundamentos de estética
Antes de adentrarmos ao estudo da estética, é importante
responder às seguintes questões: o que é estética e qual é o seu
objeto? A palavra estética surgiu no âmbito filosófico, no campo de
reflexão sobre o belo e depois sobre o fenômeno artístico, mas
acabou sendo utilizada também em outras áreas do conhecimento.
Junto à estética, também vemos o uso do termo belo, núcleo
da discussão em torno desta disciplina, a qual chamamos de esté-
tica. Aqui surgem também os primeiros temas de debates: o que
é o belo e quem determina que um objeto, uma pessoa ou uma
obra de arte é belo.
Mais dúvidas surgirão. O belo está no próprio objeto ou nos
olhos de quem o vê? Ou seja, o gosto (tratado também como juí-
zo) é objetivo ou subjetivo? Gosto se discute? Essa é a razão desta
disciplina: mostrar duas posições. Há aqueles que dizem que gosto
não se discute e há aqueles que dizem o contrário.
Por fim, também abordaremos outras categorias estéticas,
como o sublime, o feio, o repugnante e o grotesco.
Fundamentos de estética 9
Saiba mais Isso leva a muitas questões, dentre elas: uma obra se torna obra de
A definição mais simples de arte arte apenas por ser bela? Se você respondeu que sim, lembraremos
contemporânea é a arte feita
que os modernistas do século XX trataram de questionar essa afirma-
neste momento, que abrange a
arte feita nos últimos 50 anos, ção. A arte contemporânea, aquela que se faz agora, tratou de ser
já que esse período é muito ainda mais radical nesse assunto.
pequeno quando pensamos em
termos históricos. Ela representa O termo estética surgiu em 1735 no livro de um jovem doutorando
uma mudança radical no uso de de Filosofia chamado Alexander Gottlieb Baumgarten (1714-1762). No
materiais e suportes utilizados
pelos artistas. O uso da expressão penúltimo parágrafo de sua tese, ele criou a palavra que seria utilizada
arte contemporânea também é para sempre. Nele, Baumgarten afirma que as coisas inteligíveis são
útil para diferenciá-la de arte mo- conhecidas por meio de uma faculdade de conhecimento superior,
derna, ou seja, aquela realizada
pelos artistas vanguardistas do a lógica; enquanto as coisas sensíveis são objetos da ciência estética
final do século XIX . (BAUMGARTEN, 1993).
O termo estética parece não ter nascido por acaso no século XVIII,
período em que há mudanças significativas na relação entre o público e
a obra de arte. Nos referimos a um público que tinha condições finan-
ceiras para desfrutar do prazer estético de um objeto artístico. Des-
se período em diante, um grupo emergente se tornou importante: a
burguesia, que detinha o poder econômico, mas não o poder político.
Com a derrocada dos regimes absolutistas na Europa, principalmente
PP
PP
PP
P/
W
após a Revolução Francesa e as primeiras décadas da Revolução Indus-
iki
trial, ocorreu uma inversão de poder.
m
ed
ia
Co
mm
ons
1735
Baumgarten cunha o termo
estética em sua tese.
1750
Lançamento do Tratado
chamado Estética.
1763
Publicação de História da Arte
Antiga, de Johann Joachim
Winckelmann.
LANGOIS, N. O Salão de 1699 [Academie Royale de Peinture et Sculpture, Louvre]. 1700. Gravura. Biblioteca Nacional da França.
O Salão Parisiense foi criado em 1667, pela Academia Real de Pintura e Escultura. O nome salão 1768
se tornou popular quando passou a ser realizado, a partir de 1699, em um dos salões do prédio Criação da Real Academia de
onde seria criado o futuro Museu do Louvre. Londres.
Contemporaneidade
Fundamentos de estética 11
Figura 2
O interesse pela obra de arte
História da arte + Crítica de arte
Teorias da arte
Filosofia da arte
Demais
áreas do
conhecimento Estética
ock
ock/Shutterst
es/Shutterst
HappyPictur
Psicanálise Sociologia
? ?
individual, pense em mais algumas questões apresentadas a seguir.
Fundamentos de estética 13
Você já deve ter ouvido uma frase sugerindo que o gosto é subjeti-
Grécia
vo, como “cada um tem seu próprio gosto”. Também já deve ter ouvido
uma outra frase, que sugere objetividade: “ele tem mau/bom gosto”.
1635
Criação da Escola de Belas Essa polarização sempre existiu. Estética, belo e gosto parecem insepa-
Artes de Paris.
ráveis. A apreciação (o ato de atribuir valor) de uma obra de arte pode
derivar de uma opinião subjetiva, mas também de uma exigência de
1640 – 1688
Revolução Inglesa objetividade, como no caso da crítica de arte.
Figura 3
Um mundo proporcional e harmonioso
Photographee.eu/Shutterstock
Nesse exemplo, a escolha das formas e cores é exclusivamente
nossa ou a beleza das proporções e o equilíbrio das cores estão nos
próprios objetos? Perceba que, na Figura 3, as cores dos móveis combi-
nam com a parede e o tapete. Além disso, a perspectiva colabora com
a percepção que temos do espaço, tornando-o ainda mais harmonioso,
e os objetos parecem belos.
Fundamentos de estética 15
Alberto Caeiro, no canto XXVI do poema “O Guardador de Rebanhos”,
que apresenta as seguintes ideias:
SSS
SSSSSSSS SSSSSSSS/Shut
Sim, mesmo a mim, que vivo só de viver,
SS
Invisíveis, vêm ter comigo as mentiras dos homens
Perante as cousas,
terst
Perante as cousas que simplesmente existem.
ock
Que difícil ser próprio e não ver senão o visível!
1.3 O sublime
1
Vídeo Se o belo gera tantas questões, outra categoria estética (derivada
dele) também gera: trata-se do sublime. Afirma-se que o termo belo já era
utilizado e tomou corpo no século XVIII. No mesmo período, o termo
sublime também passou a ser usado com mais frequência pelos filósofos.
Fundamentos de estética 17
designar o momento de grande espanto, admiração ou mesmo terror
(BURKE, 2016). Um exemplo pode ser uma enorme onda, vazada pelos
raios do sol. Ela poderá representar um grande perigo, mas também pro-
porcionar uma experiência sublime, de imensa beleza,
a qual teremos dificuldade de expressar em palavras.
Bumble Dee/Shutterstock
eram belos nem sublimes. Ainda assim, tentou
compreender suas sensações diante deles. Se não
eram para serem contemplados, o que eram?
Fundamentos de estética 19
O sentimento atribui um valor no sentido de aceitação ou rejeição, pra-
zer ou desprazer, capaz de alterar até nossa disposição de ânimo, ou
seja, nosso humor (JUNG, 2009b).
Fundamentos de estética 21
O crítico americano Clement Greenberg (2002) dizia que o juízo es-
tético é intuitivo e, portanto, involuntário. Não se escolhe gostar ou dei-
xar de gostar, disse. Tudo depende de nosso foco de atenção. Dessa
forma, o juízo estético é acolhido, e não oferecido. Como para Kant e
Schopenhauer, para Greenberg também não valorizamos esteticamen-
te uma obra pelo raciocínio.
há várias ideias: refletir sobre quem é o autor, por que a fonte não
com
Assim, uma obra de arte não precisa ser bela, precisa ser provo-
cativa. Duchamp nunca disse essa frase, mas suas reflexões sobre a
noção da estética sugerem uma busca por outros sentidos da arte,
não somente com as categorias estéticas clássicas, como o belo.
Fundamentos de estética 23
1.4 Outras categorias estéticas
Vídeo Além do belo, a estética tratou de outras categorias, como o feio. É
inevitável a pergunta: se a estética é a “ciência do belo”, como tratar do
feio no interior dessa “ciência”? O feio é o contrário do belo? Se a res-
posta for positiva, a definição é simples: feio é todo objeto sem propor-
ção e harmonia. Inspirados em outra definição, a de Kant (2002),
podemos afirmar que belo é o que nos dá prazer logo após a faísca do
juízo entrar em ação. Nesse caso, o feio não oferece o mesmo prazer
estético que obtemos com o belo.
MUNCH, E. O Grito. 1893. Óleo sobre cartão, têmpera e pastel sobre cartão. 91 x 73,5 cm. Galeria
Nacional, Oslo.
brasileira Anita Malfatti (1889-1964), que estudou na Alemanha e nos Vanguarda artística se refere
principalmente a um grupo
Estados Unidos na segunda década do século XX e entrou em contato com
de artistas que exerce o papel
o expressionismo. Quando retornou ao Brasil, apresentou os trabalhos pioneiro no desenvolvimento de
realizados durante seu período no exterior. É possível imaginar o novas técnicas e ideias. O termo
entusiasmo com que ela viu as obras de vanguardas nesse período. Anita em português é decorrente da
palavra francesa avant-garde,
estava na Europa no mesmo momento em que aconteciam as primeiras utilizada no meio militar como
exposições que mostravam a arte moderna a um público mais amplo. à frente da guarda. Ela foi
absorvida pelo mundo artístico
É possível fazer outro exercício: imaginar o impacto que o antina- para retratar a aspiração que
turalismo (por não se inspirar diretamente na natureza e não retratá- os artistas modernos tinham
-la com fidelidade) das vanguardas históricas causou em Anita, bem de estar à frente e mostrar que
criavam uma arte nova, que
como o impacto que suas próprias obras antinaturalistas provocaram eram radicais e contrários à
no espectador que, em 1917, visitou sua exposição e que nunca tinha imagem realista e ao gosto pelo
entrado em contato com alguma obra de arte moderna. A própria famí- decorativo. Utiliza-se também o
termo vanguardas históricas para
lia, que se esforçou para enviá-la ao exterior, sentiu-se desconfortada fazer referência ao conjunto de
quando a artista mostrou os trabalhos que trouxera. Provavelmente, movimentos que transformaram
não foi diferente com os amigos. Neste momento, podemos continuar a arte na primeira metade do
século XX, como o cubismo e o
a imaginar a reação da família e dos amigos: as obras eram feias. Ape- expressionismo.
sar dos comentários, Anita resolveu expor seus trabalhos no final de
1917. O título que escolheu foi: Exposição de Arte Moderna Anita Malfatti.
Essa exposição se tornou famosa e é considerada a primeira exposição
de arte moderna realizada no país.
Fundamentos de estética 25
Saiba mais A exposição seguiu tranquila nos primeiros dias, até a publicação do
Ainda há dúvidas sobre se a pri- artigo de Monteiro Lobato (1882-1948) intitulado “A propósito da expo-
meira exposição de arte moderna sição Malfatti”, no jornal O Estado de São Paulo. Quando o publicou em
realizada no Brasil foi a do artista
lituano Lasar Segall (1889-1957), livro, Lobato alterou o título para “Paranoia ou Mistificação?”. O crítico
em 1913, ou a de Anita Malfatti Lobato valorizava a arte naturalista e os artistas que viam “normalmen-
(1889-1964), em 1917. Segall te” as coisas. Não era o caso do expressionismo de Anita. Lobato com-
havia se associado ao movimento
expressionista alemão antes de parou o grupo dos artistas antinaturalistas aos pacientes psiquiátricos;
vir ao Brasil para visitar sua irmã por isso, modificou o título do artigo.
mais velha, que residia em São
Paulo. Tempos depois, retornou Para Lobato, as artes eram regidas por princípios imutáveis, por
à Alemanha e voltou ao Brasil leis. É muito provável que tivesse em mente as medidas de proporção
definitivamente em 1923. Em e equilíbrio. Anita, contudo, só pensava no que viu na Europa e nos
1913, realizou uma exposição
com obras feitas na Europa, quase Estados Unidos. Para Lobato, a “atitude estética” de Anita era forçada e
todas de sua fase impressionista extravagante. Chamou os quadros da artista de “quadrinhos” e utilizou
e pós-impressionista. Os pesqui- o termo caricatura em seu texto.
sadores se dividem: alguns dizem
que havia um ou dois trabalhos Eis uma questão interessante: a vanguarda modernista para Lobato
expressionistas; outros afirmam era caricatura da cor e da forma, em que não há prazer nem beleza.
que não, em razão de Segall ter
feito uma seleção cautelosa. Essa,
Para ele, a arte deveria promover o prazer estético e só o belo era capaz
talvez, seja a causa da exposição disso. A arte deveria ser bela se quisesse ser arte; caso contrário, era
de Segall não ter chamado a mistificação, paranoia, fruto de mentes doentes. O termo caricatura, no
atenção, o que não aconteceu
entanto, foi um achado importante de Lobato, utilizado anos mais tarde
com Anita Malfatti em 1917.
pelo historiador da arte Ernst Gombrich para explicar o expressionismo.
O historiador cita uma carta de Van Gogh em que afirma ser seu tra-
balho comparável ao de um caricaturista. Gombrich dá razão ao artista,
Livro
pois acredita que a caricatura sempre foi “expressionista”. Ele explica: ao
No capítulo “A minissérie
distorcer a aparência do modelo retratado, o artista expressionista quer
‘Um Só Coração’ e os anos
heroicos do Modernismo”, expressar seus sentimentos em relação ao outro (GOMBRICH, 2013).
do livro A novela brasileira
e a filosofia, há uma versão A questão levantada por Lobato também é avaliada por Argan
ampliada do debate sobre (1992): a deformação expressionista não é a caricatura da realidade,
Anita Malfatti e Monteiro
Lobato. Naquela ocasião,
mas uma beleza que procura estar mais próxima do real, tornando-se,
no início do modernismo por isso, feia. Podemos, então, chamar o expressionismo de uma esté-
brasileiro, estava em
tica do embaralhamento, pois mistura as noções de belo e feio. Argan
jogo um dos temas
fundamentais desse livro: procura explicar o expressionismo da seguinte forma: o artista expres-
o belo na arte, um tema
sionista revela uma beleza quase demoníaca da cor, acompanhada de
ainda atual.
figuras feias, segundo os cânones correntes. A força dessas imagens
COVIELLO, J. In: SILVEIRA, R. A. T.
de (org.). Porto Alegre: Editora FI, torna-se tão intensa que passamos a achar que nada existe além de-
2016. Disponível em: http://www. las. Gombrich (2013) concorda com Argan (1992): o que incomodava na
editorafi.org/134ronie. Acesso em:
6 fev. 2020. arte expressionista não era a distorção em si, mas o fato de que a obra
se afastava da beleza.
Fundamentos de estética 27
Há outras categorias estéticas, como o grotesco, que surgiu antes
mesmo da ciência criada por Baumgarten. Assim como outras catego-
rias diferentes do belo e do sublime, o grotesco nem sempre foi aceito
pelos estudiosos. O termo surgiu a partir da descoberta de pinturas
ornamentais romanas no século XV, chamadas grotesca, como deriva-
ção da palavra italiana grotta (gruta). Chamou a atenção a combinação
de formas humanas misturadas com formas animais e vegetais, que
causavam estranhamento. Essas formas fantásticas foram muitas ve-
zes consideradas monstruosas.
É possível, no entanto, perceber traços grotescos em uma variedade
grande de artistas, de várias épocas. Com o tempo, o grotesco passou
a ser analisado principalmente em contraposição a uma arte que bus-
cava apenas o belo. Um exemplo do grotesco é o trabalho a seguir, de
Pieter Bruegel, o Velho (1525-1569).
BRUEGEL, P. A queda dos anjos rebeldes. 1562. Óleo sobre painel. 117 x 162 cm. Museus Reais de Belas Artes da Bélgica, Bruxelas.
Fundamentos de estética 29
ATIVIDADES
1. Como e quando surgiu a palavra estética?
REFERÊNCIAS
ARGAN, G. C. Arte Moderna. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
BAUMGARTEN, A. G. Estética: a lógica da arte e do poema. Petrópolis: Vozes, 1993.
BURKE, E. Investigação filosófica sobre a origem de nossas ideias do Sublime e da Beleza. São
Paulo: Edipro, 2016.
CINTRÃO, R. As montagens de exposições de arte: dos Salões de Paris ao MoMA. In:
RAMOS, A. D. (org.). Sobre o ofício do curador. Porto Alegre: Zouk, 2010.
ECO, U. História da Beleza. Rio de Janeiro: Record, 2015.
GOMBRICH, E. A História da Arte. Rio de Janeiro: LTC, 2013.
GREENBERG, C. Estética Doméstica – observações sobre a arte e o gosto. São Paulo: Cosac
Naify, 2002.
JUNG, C. G. Relação da psicologia analítica com a obra de arte poética. In: JUNG, C. G. O
espírito na arte e na ciência. Petrópolis: Vozes, 2009a.
JUNG, C. G. Tipos Psicológicos. Petrópolis: Vozes, 2009b.
KANT, I. Crítica da Faculdade do Juízo. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2002.
NIETZSCHE, F. Assim falou Zaratustra: um livro para todos e para ninguém. São Paulo:
Companhia das Letras, 2011.
PESSOA, F. Poesia completa de Alberto Caeiro. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.
SCHOPENHAUER, A. O mundo como vontade e como representação. Tomo I. São Paulo:
Unesp, 2005.
7
de proporção e harmonia que atravessaram o tempo
sofreram duro golpe com a revolução artística de
½ Picasso. A comparação com a obra Les Demoiselles
d’Avignon, de 1907, permite analisar o processo lento
de substituição do cânone elaborado por Policleto.
POLICLETO, Doríforo, cópia romana c. 440 a.C.
Curiosidade Figura 1
Sete cabeças e as HQs
Os jardins de esculturas eram os ambientes mais apreciados nas casas
dos homens influentes de Roma. Por isso, é possível contemplar, atual-
IESDE
mente, várias cópias de obras de Policleto em museus do mundo.
tador das coisas que existem na natureza e imitador das obras dos
artesãos. Pior, o pintor é imitador da aparência (a cama criada pelo 1750
Lançamento do Tratado
marceneiro) e não da realidade. O pintor, para Platão, atrapalha o chamado Estética.
Segundo o Mundo da Ideias de Platão, há uma única ideia para di- 1768
Criação da Real Academia de
ferentes coisas. Todas as camas existentes partem de uma única ideia Londres.
de cama: o marceneiro fabrica essa cama a partir da ideia de cama; o 1776 – 1783
Revolução Americana
artista pinta essa cama imitando aquilo que o marceneiro criou. Esse
artista, desse modo, está distante das ideias que constituem a ver-
1789 – 1799
dadeira realidade, fazendo uma imitação da imitação. O Mundo das Revolução Francesa
Ideias é aquele que não pode ser apreendido pelos sentidos. O mun- 1793
do material é uma cópia do Mundo das Ideias e, portanto, uma imi- Inauguração do Museu do
Louvre.
tação. Essas noções permitiram que Platão conferisse ao sentido de
belo um papel transcendente, ou seja, algo além da realidade sensível,
a realidade que percebemos por meio dos sentidos. 1907
Picasso
Contemporaneidade
Wikimedia Commons
SANZIO, R. Escola de Atenas. c. 1511. 1 Afresco, 500 cm x 700 cm. Palácio Apostólico, Vaticano.
Todos os personagens foram inspirados em filósofos ou artistas. Estão representados Plotino, Michelangelo, o próprio artista, entre outros. No
centro estão Platão e Aristóteles. O primeiro aponta para cima, o Mundo das Ideias, e o segundo indica o que está ao redor, o mundo natural.
O autor nos dá uma definição de estética que poderá ser utilizada Filme
em qualquer época, desde que não se tenha o objetivo único de veri-
ficar se ela se confirma em um período distante. O cuidado que todo
pesquisador deve ter é de não ser anacrônico, ou seja, atribuir ideias
que são de uma época a outro tempo. Em palavras mais simples, po-
de-se definir anacronismo como o ato de se analisar um determinado
fenômeno do passado, com os “olhos” de hoje. Os adeptos dessa tese,
dizem que evitar o anacronismo é impossível. Mesmo assim, Eco nos
deu, de modo claro, alguns dos objetos de nossa disciplina.
De olho na arte
Há um momento da história cujo destino da arte foi definido por causa
Wikimedia Commons
de um monge, que depois se tornou papa, e viveu em um dos momen-
tos mais conturbados da Europa. Seu nome é Gregório I, que foi papa de
590 a 604 d.C., justamente no período após a queda de Roma.
São Gregório achava que devia difundir as palavras dos Evangelhos aos
povos que dominavam parte do que era o Império Romano e continua-
vam a atacar Roma. Ele próprio precisou defender a cidade. Como eram
povos que não dominavam a escrita, São Gregório achou que deveria levar
o conteúdo das Escrituras por meio de imagens. Foi quando proferiu a
famosa frase: “a imagem é o livro daqueles que não sabem ler”.
Essas palavras foram usadas em defesa contra aqueles que se opunham
ao uso de imagens. O iconoclasta (aquele que destrói imagens) tinha
medo da adoração de imagens religiosas e se amparava em trechos das
Escrituras que condenavam as imagens. Apesar de ser uma questão
inacabada, o uso delas possibilitou que o clero se transformasse no
maior patrocinador da arte por muitos séculos, o que geraria um patri-
mônio artístico sem precedentes. Esse é mais um exemplo das questões
que envolveram a arte durante a Idade Média.
1596
A palavra renascimento está ligada à ideia de retomada de valores Nascimento de René Decartes.
Wikimedia Commons
http://www.editorafi.org/religiosidade-
brasileira. Acesso em: 12 fev. 2020.
Glossário
perspectiva: técnica que
utiliza a geometria para obter
a ilusão de um espaço idêntico
à realidade dentro do espaço
plano da tela.
Linha do Horizonte
L P
O
Figura 4
Aula de Dança, de Degas e o uso de perspectiva.
Wikimedia Commons
no século XVIII e seguiu influenciando o mundo.
Preocupado com os aspectos profundos do homem,
acabou por revolucionar a arte. É no interior do
romantismo que ressurge o gênio intuitivo, investido
de uma força capaz de criar arrebatamento. Era como
o próprio Michelangelo se via no Renascimento, mas
agora o sujeito romântico era dotado de complexidade
psicológica jamais descrita. Estamos falando da arte,
mas é preciso lembrar que o espírito romântico pairou
sobre todas as atividades humanas da época. O belo,
portanto, também foi questionado. O “belo romântico”
não censura situações angustiantes ou “feias”, pois seu
mundo é subjetivo, ainda que sua fatura esteja filiada
à tradição renascentista, que estava em voga há mais
de três séculos. Contudo, havia algo de diferente, que
acabou por antecipar o impressionismo: a ênfase na DELACROIX, E. Liberdade guiando o povo. 1830. Óleo sobre tela. 260 cm x 325 cm. Museu do
Louvre, França.
imaginação do artista, que questionava a imitação
pura e simples.
Quando Kant fala em julgamentos, quer dizer que o juízo estético é di-
ferente do juízo lógico (ou racional), e que a fonte de referência desse tipo
de juízo é o próprio sujeito. A estética kantiana possibilita uma experiência
subjetiva, livre de qualquer conceito, cuja imaginação torna possível uma
satisfação tão livre que não interessa se os objetos são ou não coerentes.
Wikiart
Danto aproveitou para refletir e
concluir que aquilo era arte. Na
volta para os Estados Unidos,
resolveu ver mais trabalhos da
arte pop. Em 1964, viu a segunda
exposição de Andy Warhol,
relatando ter sido uma experiência
transformadora (DANTO, 2012).
Essa “experiência transformadora”
fez, segundo as próprias palavras
de Danto, com que ele se tornasse
um filósofo da arte. Admitiu
LICHTENSTEIN, R. O Beijo V. 1964. 14,6 X 15,2 cm. Coleção privada.
que unir filosofia e arte não era
um de seus interesses, mas, então, como era essa exposição que o
transformou? A exposição continha objetos comuns de supermercados,
incluindo caixas de um sabão muito conhecido nos Estados Unidos,
chamado Brillo. O nome Brillo Box refere-se àquela caixa que é guardada
nos depósitos dos armazéns e supermercados. Foram essas caixas que
o levaram a refletir sobre como definir a arte.
A tese de Dickie (2008) afirma que uma pintura pode se tornar obra
Quem?
de arte se um representante do mundo da arte conferir o estatuto de ar-
Professor emérito de filosofia na
tefato e torná-la candidata à apreciação. Essa apreciação é a apreciação
Universidade de Illinois, Chicago,
estética, sobre a qual já discutimos e que pode ser definida como juízo George Dickie (1926) escreveu
estético (o estalo que experimentamos com uma obra de arte), valor vários livros sobre estética e arte
e é um dos mais conceituados
estético (a excelência que observamos em determinada obra de arte)
teóricos contemporâneos da
ou, como consequência, a fruição estética (o prazer que desfrutamos estética.
durante a contemplação de uma obra).
Ainda que o artista faça parte do mundo da arte, ele mesmo não
pode conferir a condição de arte à sua obra. Apesar dessa constatação,
Dickie (2008) lembra que os requisitos para uma obra ser obra de arte
não podem bloquear a criatividade. Não há restrições, já que uma obra
pode nascer de qualquer coisa.
1750
Roda de Bicicleta é de 1913, anterior à Fonte, Lançamento do Tratado
chamado Estética.
ia Commons
1776
tava desde o século XVIII. A guerra marcava o auge
Declaração de independência
de um movimento que começara com a instituição de dos Estados Unidos. Morte de
David Hume.
um conceito, a estética, e um grupo que tomou pos- 1784
se desse conceito. Para os dadaístas, aqueles que Neoclassicismo: Retorno do
ideal greco-romano com o
tinham dinheiro e podiam contemplar coisas belas neoclassicismo.
1793
fizeram a guerra e acabaram com todas as possíveis
Inauguração do Museu do
ilusões estéticas. A própria palavra dadaísmo não Louvre.
DUCHAMP, M.
Roda de Bicicleta, significa nada. Daí em diante, a estética tomaria ou- 1907
Picasso
1913 (versão 1964).
tro rumo.
1,3 m x 64 cm x 42
cm. Museu de Israel.
Contemporaneidade
ATIVIDADES
1. O núcleo das teses de Policleto é a noção de proporção baseada em
princípios matemáticos. De acordo com o texto, como essa proporção
é aplicada pelo artista?
REFERÊNCIAS
AGOSTINHO, S. Confissões. Trad. de Lorenzo Mammì. São Paulo: Companhia das Letras,
2017.
ARISTÓTELES. Poética. Trad. de Paulo Pinheiro. São Paulo: Editora 34, 2015.
DA VINCI, L. Tratado da pintura. In: LICHTENSTEIN, J. (org.). A Pintura. Textos essenciais.
Vol. 7. O paralelo das artes. Coordenação da tradução: Magnólia Costa. São Paulo: Editora
34, 2005.
DA VINCI, L. Trattato della Pittura. Roma: Liber Liber, 2006. https://www.liberliber.it/
mediateca/libri/l/leonardo/trattato_della_pittura/pdf/leonardo_trattato_della_pittura.pdf.
Acesso em: 11 fev. 2020.
Wikimedia Commons
Edward Tylor (1832-1917) sintetizou estas informações no vocábulo
culture, que se tornou corrente e utilizado até hoje. Para Tylor, o termo
cultura poderia incluir conhecimentos, arte, moral, leis, costumes e há-
bitos que adquirimos como membros de um grupo. Na visão de Laraia
(2001, p. 25), Tylor conseguiu abranger “em uma só palavra todas as
possibilidades de realização humana, além de marcar fortemente o ca-
Saiba mais
ráter de aprendizado da cultura em oposição à ideia de aquisição inata,
Pode-se definir a antropologia
transmitida por mecanismos biológicos”. Percebe-se que Tylor incluiu a como a área de conhecimento
arte no conjunto de realizações humanas que formam a cultura. que estuda o ser humano e suas
realizações. Tal definição é resulta-
No decorrer do século XX, essa primeira definição de cultura pensa- do da própria origem da palavra,
da por Tylor foi ampliada para dezenas de outras definições. Para nós, que é composta por duas raízes
gregas: anthropos, que significa
no entanto, é importante compreender que no interior da definição de
homem, ser humano, e logos que
cultura como realização humana, encontra-se a arte. Se vemos o mun- significa estudo ou compreensão.
do através da cultura que herdamos – que chamamos de herança cul- Esta é uma definição ampla, já
que outras áreas das ciências
tural –, vemos o mundo também através da arte. Por isso, trataremos humanas também estudam o ser
expressões humanas e realizações humanas como similares. Contudo, humano. A definição de antro-
por causa da especificidade da arte, utilizaremos a primeira. pologia se torna mais específica
quando se delimita seu objeto
É possível perceber que há outro campo para a estética, resultado de estudo para os costumes e
condicionamentos que compõem
da constatação de que a arte é também um fato cultural. Essa é a maior
a cultura de diferentes grupos.
contribuição da antropologia para a estética e abre um campo vasto Nesse caso, a antropologia está
para a pesquisa sobre a linguagem artística. Se a linguagem é o princi- relacionada com a dimensão
cultural. No entanto, é importante
pal fato cultural (no sentido de nos diferenciar dos animais e estabe-
lembrar que cultura não é defi-
lecer formas de vida social), a linguagem artística a acompanha. Se a nida apenas como conjunto de
cultura é também um conjunto de conhecimentos de um determinado crenças e costumes, mas também
pela arte e pela moral, entre
grupo, a linguagem – mais precisamente, a linguagem artística – com- outros aspectos.
põe um sistema de símbolos também adquirido e transmitido coleti-
vamente. Portanto, cultura, linguagem e arte constituem a essência
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Figura 2
Pintura de bisão do Período
Paleolítico I
1 Estética
artística
Derivada da nossa
experiência com os
2 Estética
natural
Estabelecida por filósofos
do século XVIII, como
3 Estética
cultural
Baseada na noção de
cultura da antropologia,
objetos de arte. Kant; refere-se à nossa extraída do conjunto de
experiência e fruição com o expressões humanas, da
belo natural. qual a arte faz parte.
1635
antropólogos, estamos inclinados a vê-los como obras de arte e que-
Criação da Escola de Belas remos colecioná-los. Este desejo é fruto de um vínculo com o objeto
Artes de Paris.
que tem como origem um prazer estético ou não, pois poderá ser
1640 – 1688
apenas um investimento econômico em algo que em algum momento
Revolução Inglesa se valorizará. No entanto, a devoção a objetos antigos que passaram
a fazer parte da história da arte não é recente. Ela ganhou destaque
1677
O Salão Parisiense passou a ser no período que chamamos de estético, a partir do século XVIII, com as
aberto ao público anualmente.
primeiras escavações arqueológicas, a criação da estética, da crítica
1698 – 1777
de arte e dos museus. Neste momento, nasceu também a ideia de
Desenvolvimento do motor
a vapor. patrimônio cultural, a noção de bens materiais ou simbólicos de um
determinado grupo.
passado. Fugia dos artistas do modernismo que queriam contatá-lo, Em 1764, Johann Joachim
Winckelmann publicou História
seduzidos pelas ideias psicanalíticas. Escreveu livros sobre Leonardo
da arte da antiguidade – uma
da Vinci e Michelangelo, e sempre associou a psicanálise à arqueologia das obras mais importantes
por causa da palavra escavação, que relacionava, metaforicamente, ao da história da arte –, em que
defende que a arte grega é a
seu próprio trabalho de psicanalista. origem de tudo. Ao contemplar
tantas obras da antiguidade, em
Artigo
Roma, percebeu a inspiração nas
fontes gregas. Também valorizou
https://revistacult.uol.com.br/home/freud-e-a-arte/ a estética como o alicerce para
uma nova forma de sabedoria.
O artigo Freud e a arte, publicado na Revista Cult, analisa relatos do pai da Contribuiu, assim, para a união
psicanálise sobre o modo particular que ele utilizava para observar obras de de três saberes que emergiram
arte, em especial do campo da literatura e das artes plásticas. No texto, é apre-
no século XVIII: a estética, a
sentado como, ao contribuir inconscientemente para a formulação do que mais
história da arte e a arqueologia.
tarde viria a ser chamado de estética da recepção, o próprio Freud confirma a
relação estreita entre a psicanálise e a crítica contemporânea das artes.
A estética de Winckelmann se
baseava na imitação dos gregos,
Acesso em: 6 mar. 2020. mas não em sua cópia. Dizia
que bastava seguir o cânone de
O acervo de Freud foi transferido para Londres, quando precisou Policleto, “uma regra perfeita
da arte” (1975, p. 40). Suas
se exilar após a perseguição dos nazistas em 1938. A casa na qual vi-
reflexões estéticas nasceram
veu o último ano de vida foi transformada no Museu Freud de Londres de seu contato pessoal com as
(Figura 6). Assim como o Museu Freud de Londres, grandes museus obras, muitas vezes quando
eram descobertas. Por isso, ele é
começaram com empenho individual de colecionadores, por exemplo, associado à arqueologia.
o Museu de Arte Contemporânea (MAC), da Universidade de São Paulo,
fundado em 1963, após as doações dos acervos particulares de Ciccillo
Matarazzo (1892-1977) e Yolanda Penteado (1903-1983).
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Figura 6
Estúdio de Sigmund Freud
com uma parte de sua
coleção
Site
Visite o site do Freud
Museum London e conheça
os objetos que compõem
o acervo pessoal de
Sigmund Freud. É também
uma oportunidade de
observar um exemplo de
amor à arte e à história da
arte, capaz de transformar
uma casa em museu.
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arte é liberdade. Hábito, nesse caso, significa fazer
assim porque assim se faz, o modo usual de se fa-
zer algo, ou seja, a regra. A arte não faz concessões,
por isto é a mais pessoal de todas as criações cul-
turais. Cultura e arte, para Coelho (2008), não são a
mesma coisa, apesar da arte fazer parte da cultura.
Curiosidade
Você pode ter pensado: “novamente a Mona Lisa!”, mas ela não é uma imagem
qualquer. É um exemplo a que recorremos com frequência, pois tudo parece estar
concentrado nesta pequena tela. Até mesmo em um texto especializado, como
o de Teixeira Coelho, o autor a utiliza como exemplo. Isto sempre aconteceu. O
pintor e arquiteto Giorgio Vasari publicou, em 1550, o livro que é considerado
fundador da história da arte: Vidas dos artistas. Trinta e um anos após a morte
de Da Vinci, Vasari (2011, p. 448) escreveu: “quem quiser ver até que ponto a
arte consegue imitar a natureza, poderá compreendê-lo facilmente observando
aquele semblante, pois nele estão produzidas todas as minúcias que é (sic)
possível pintar com sutileza”. Depois de descrever cada detalhe da figura pintada,
Vasari comenta algo que reflete a preocupação de todos que a contemplam há
séculos: nesse retrato “há um sorriso tão agradável, que mais parece coisa divina
que humana, tão admirável por não ser diferente do natural”. Mona Lisa nos serve
e nos interroga há quinhentos anos.
DA VINCI, Leonardo. Mona Lisa, (1452-1519). Óleo sobre tela. 77 x 53 cm. Museu
do Louvre, Paris.
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família, sem estímulo por parte da crítica”. Chegou a
duvidar de sua vocação.
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1880, é considerado o primeiro movimento moder-
no. Perceba que tratamos a arte renascentista como
a primeira revolução moderna nas artes visuais. A
razão é o espaço renascentista, ainda utilizado como
modelo, e é onde a perspectiva e as proporções são
empregadas como regras. Não foi diferente com
o impressionismo, que se mostrou revolucionário
não só ao começar a alterar (não em destruir) a
perspectiva, mas também em outros aspectos,
como a negação da mimese, provocando mudança
brusca na relação com o espectador, acostumado a
ver o quadro como uma janela para o mundo, uma
cópia da realidade.
O nome impressionismo define a tentativa do artista
em captar a impressão visual daquilo que vê. Esta MONET, Claude. Impressão, sol nascente (1872), 48 x 63 cm, Museu Marmottan, Paris.
liberdade em pintar o objeto “da forma que se está
vendo” não foi recebida de forma positiva. O advento da tinta industrial, vendida em tubos, permitiu ao artista impressionista pintar ao
ar livre. Antes, a preparação das tintas, a partir de pigmentos, era realizada nos ateliês, o que dificultava o uso externo. A liberdade para
aproveitar a luz natural foi um dos ganhos. As possibilidades cromáticas eram tão grandes que esses artistas se permitiram pintar uma
mesma paisagem várias vezes, em diferentes momentos e horários. Não foi só uma nova maneira de pintar, mas de ver. O subjetivismo
romântico atingiria o ápice.
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Claude Monet (1840-1926), contemporâneo de Cézanne, também CÉZANNE, Paul. Montanha Santa Victoria vista
de Les Lauves (1902-1906). Óleo sobre tela.
pintou uma mesma paisagem várias vezes. Não era um mero exercí- 63,5 cm x 83 cm. Kunsthaus, Zurique, Suiça.
cio visual. Entre 1892 e 1893, Monet pintou dezoito vezes a fachada
da Catedral de Rouen, em diversos horários. Quando a luz se altera-
va, o artista começava a pintar outra tela. É a construção de um ins-
tante, aquele em que o olhar do artista percebe a transição da luz no
decorrer de seu trabalho. Pode-se perguntar: há imitação da realidade
no trabalho de Monet? É uma pergunta provocativa, apenas para mos-
trar o apagamento dos contornos da Catedral de Rouen e, o que é mais
inovador, a diluição de sua forma. Não se pode afirmar que é uma obra
abstrata, mas Monet, com o objetivo de retratar a luminosidade, pare-
ce dissolver a imagem. Não é, portanto, mera imitação.
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MONET, Claude. A Catedral de Rouen – Efeito matinal (Harmonia Branca), 1893. MONET, Claude. A Catedral de Rouen – Fachada (Pôr do sol). (1892-1894). Óleo
Óleo sobre tela. 106 cm x 73 cm. Museu d’Orsay, Paris. sobre tela. 100 cm x 65 cm. Museu Marmottan Monet.
Curiosidade Monet não se preocupava com o cânone da representação exata da
Em 1893, Monet se instalou em Catedral de Rouen, nem Cézanne se preocupa em representar a Montanha
um quarto alugado, em frente
Santa Victória como ela é. O caráter subjetivo é acentuado pela liberdade
à Catedral de Rouen, de onde
podia ver sua fachada. Isto o construtiva dos dois artistas. É o jeito que encontraram para exprimir, no
ajudou a pintar mais de uma tela sentido de revelar, a montanha e a catedral. É preciso conhecê-las. Cons-
durante o dia, conforme a luz
trução, conhecimento e expressão se misturam mais uma vez.
mudava. Não foi a primeira série
de Monet, que parecia fascinado A teoria que apresenta a arte como expressão das emoções do artista
pela possibilidade de pintar essas
mudanças de luz, e, também, nasceu no período do romantismo (lembramos que ele é um pouco ante-
pela possibilidade de pintar de rior ao impressionismo), a partir das críticas à noção de imitação. Cézanne
uma vez, com pinceladas rápidas. e Monet são exemplos do abandono da ideia de se copiar a natureza com
Segundo Rewald (1991), as
séries de Monet fizeram sucesso exatidão. Há, neste caso, uma valorização da arte e do artista como al-
público, mas receberam críticas guém especial que consegue tornar visível o que nem sempre consegui-
de especialistas e dos próprios
mos ver. Pareyson (1997), contudo, acredita que a arte não seja somente
companheiros. Um dos críticos
das séries, o pintor Armand expressão, pois há o caráter formativo da arte, que caracteriza o próprio
Guillaumin (1841-1927), criticou fazer artístico. Pareyson lembra que a arte é também invenção. “Ela é
a “absoluta falta de construção”
um tal fazer que, enquanto faz, inventa o por fazer e o modo de fazer”
de Monet. É preciso tempo para
se compreender um artista. (1997, p. 26). Mais que exprimir, a arte cria, inventa, descobre. Assim, para
CONSIDERAÇÕES FINAIS
No texto lido pelo diretor Jean-Luc Godard em seu pequeno filme, há
uma lista daquilo que considera cultura: cigarro, computador, camisetas,
TV, turismo, guerra. Na lista de artistas estão escritores, músicos, pintores
e diretores de cinema. Lá estão Dostoiévski, Mozart, Cézanne, entre ou-
tros. Pode-se interpretar o texto da seguinte forma: arte é a terapia contra
todos os problemas do mundo. Godard separa arte e vida.
Contudo, ultrapassar esta separação ajudará na superação de outra
divisão: a divisão entre cultura e arte. A obra de arte será o agente destas
superações. A ampliação dos limites da estética também será útil nesta
tarefa. Compreender as três vias de reflexão estética (o fazer, o conhecer
e o exprimir), mesmo com discordâncias, ampliará o repertório de análi-
ses da obra de arte, das imagens e daquele que inventa e cria, o artista. O
empenho contra as separações (cultura e arte, arte e vida, obra e artista)
parece ser o núcleo do debate estético contemporâneo.
ATIVIDADES
1. Defina cultura do ponto de vista antropológico.
REFERÊNCIAS
BOSI, A. Reflexões sobre a arte. São Paulo: Ática, 2005.
BURKE, J. Deuses de Freud: a coleção de arte do pai da psicanálise. Trad. de Mauro Pinheiro.
Rio de Janeiro: Record, 2010.
COELHO, T. A cultura e seu contrário: cultura, arte e política pós-2001. São Paulo: Iluminuras/
Itaú Cultural, 2008.
Giulio Carlo Argan (1994, p. 17, grifo do original) escreveu que a arte
“não é um fato estético que tem também um interesse histórico: é um
fato que possui valor histórico porque tem um valor artístico, é uma
obra de arte”. Assim, a obra de arte de um grande artista é uma reali-
dade histórica como as grandes revoluções econômicas e políticas. Ela
pode, portanto, ser explicada historicamente. Há influência de Hegel
nos comentários de Argan, para o qual os parâmetros do juízo de valor
do passado – como o belo, a imitação perfeita da natureza, a confor-
midade aos cânones etc. – foram substituídos pelo parâmetro de juízo
de nossa cultura, a História. Assim, diz Argan (1994, p. 19, grifo do ori-
ginal), uma “obra é vista como obra de arte quando tem importância
na história da arte e contribui para a formação e desenvolvimento de
oposição à
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iconografia, tório capaz de explicar imagens que acreditava serem também símbolos.
preocupada mais
com a iden- Warburg rompeu com a ideia de evolução histórica que era hege-
tificação e mônica desde o século XVIII. Desse modo, buscou identificar nas ima-
classificação
gens analisadas um modelo de história da cultura. Assim, a imagem
das imagens.
Figura 1 passava a ser um documento revelador de significados simbólicos que
Aby Warburg (por volta
de 1900)
exigiam o exame de forças sociais, morais e religiosas que nem sempre
se manifestam claramente.
De olho na arte
Em sua tese de doutorado chamada O nascimento de Vênus e A primavera de Sandro Botticelli (1893), Warburg comparou as duas pinturas do
pintor renascentista, que tratam da mitologia grega, à literatura poética da Antiguidade, principalmente a poesia de Homero. Ele afirma que é
provável que Botticelli conhecesse a descrição de “O nascimento de Vênus”, narrada por Homero e nela tenha se baseado. Os hinos homéricos –
Warburg informa – foram publicados em 1488, tendo por base um manuscrito florentino. Por isso, ele acredita que os círculos humanistas de
Florença já conheciam essa versão.
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BOTTICELLI, S. O nascimento de Vênus. c. 1485. Têmpera sobre tela, BOTTICELLI, S. A primavera. c. 1480. Têmpera sobre madeira,
172,5 x 278,5 cm. Galleria degli Uffizi, Florença. 315 x 205 cm. Galleria degli Uffizi, Florença.
Todo tipo de documentação faria parte desse Atlas, pois são úteis
para a compreensão do significado da arte em um determinado perío-
do ou de um determinado grupo, como os índios hopis.
Direção: Carol Reed. Estados Unidos; A relação entre Júlio II e Michelangelo reflete como os artistas li-
Itália: 20th Century Fox, 1965. davam com os contratantes. Em carta de outubro de 1512, também
ao pai, o artista informa que terminou o trabalho na Capela Sistina: “o
Papa ficou muito satisfeito, mas as outras coisas não saíram como eu
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Detalhe da
Sibila Délfica
Detalhe do
Profeta Jeremias
ter sido imenso”. Alberti foi um daqueles que ficou fascinado pelas
mm
mm
mm
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KLEE, P. No estilo de Kairouan.1914. Aquarela, 12,3 x 19,5 cm. Fundação Paul Klee, Berna.
KLEE, P. As portas de Kairouan. 1914. Aquarela, 20,7 x 31,5 cm. Fundação Paul Klee, Berna.
O mesmo ocorreu com Picasso alguns anos antes. Seu contato com
máscaras e esculturas africanas tinha um objetivo artístico, que era
diferente daquele para o qual os objetos foram inicialmente criados.
Apesar da grandeza da arte africana, as máscaras que Picasso conhe-
ceu foram produzidas a fim de serem usadas em rituais e cerimônias
especiais. Contudo, elas acabaram influenciando alguns artistas do mo-
dernismo do início do século XX. Em 1906, um ano antes de pintar Les
Demoiselles d’Avignon, Picasso foi apresentado por Henri Matisse a uma
escultura africana, o que o inspirou a produzir uma série de desenhos
com rostos femininos desestruturados (PLAZY, 2016). Este contato com
a arte africana foi essencial para a criação de Les Demoiselles. O artis-
ta fez pesquisas sobre a arte primitiva da África e da Oceania durante
alguns meses, passou horas no Museu Etnográfico do Trocadéro, hoje
chamado de Museu do Homem de Paris, e usou dezesseis cadernos de
esboços. Por fim, Picasso apresentou uma obra surpreendente, mera-
mente plástica, no sentido de forma, estrutura e organização.
características desse gênero é a representação de todos os detalhes da- LICHTENSTEIN, J. (org.). São Paulo:
Editora 34, 2004. (14 volumes).
quilo que se está pintando. Ainda que uma figura humana esteja distante,
ela será representada com todos os pormenores.
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família e o emprego seguro. Entre os artistas do
final do século XIX, havia uma atração pelas culturas
que julgavam “primitivas”, como a africana e a das
ilhas do oceano pacífico.
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Ao explicar a ida de Gauguin ao Taiti, Gombrich
(2013, p. 424) aborda também o interesse pela cultu-
ra que encontrou: o artista buscava uma vida simples,
pois estava convencido que a vida na Europa havia se
tornado superficial e que havia perdido o maior de
todos os dons: “a força e a intensidade das emoções,
além de uma maneira direta de expressá-las”. No
Taiti, tinha esperança de reencontrar esses dons.
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ROUSSEAU, H. A Guerra. 1894. Óleo sobre tela, 113 x 193 cm. Museu d’Orsay, Paris.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Foi um longo caminho até o artista associar, sem nenhuma crítica, a
aprendizagem artesanal (popular) à racionalidade dos cânones artísticos vi-
gentes (as regras das escolas de arte). É possível que, enfim, essa separação
tenha sido ultrapassada. Basta pensar em Rousseau, artista que influenciou
Picasso, mas não era considerado um verdadeiro artista. O próprio termo
naïf, que significa inocente, tende a manter a separação entre arte culta e
arte popular. Uma possível solução é esquecer a atividade classificatória
que a história da arte utilizou com objetivos didáticos, e estimular a expe-
riência estética, livre de ideias exageradamente planejadas. Ou seja, evitar
a visita a uma exposição “sabendo” o que será visto. É melhor, portanto,
ATIVIDADES
1. Defina o significado de manifestação cultural.
REFERÊNCIAS
ALBERTI, L. B. Da Pintura. Trad. de Antonio da Silveira Mendonça. Campinas: Editora da
Unicamp, 2009.
ARGAN, G. C. Arte Moderna. Trad. de Denise Bottmann e Federico Carotti. São Paulo:
Companhia das Letras, 1992.
ARGAN, G. C. Preâmbulo ao estudo da história da arte. In: Giulio Carlo Argan e Maurizio
Fagiolo (orgs.). Guia de História da arte. Trad. de M. F. Gonçalves de Azevedo. Lisboa:
Editorial Estampa, 1994.
BAXANDALL, M. O Olhar Renascente: pintura e experiência social na Itália da Renascença.
Trad. de Maria C. P. R. Almeida. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1991.
BAZIN, G. História da História da Arte. Trad. de Antonio de P. Danesi. São Paulo: Martins
Fontes, 1989.
BURCKHARDT, J. A cultura do Renascimento na Itália: um ensaio. Trad. de Sérgio Tellaroli.
São Paulo: Companhia das Letras, 1991.
BURKE, P. Cultura popular na Idade Moderna: Europa, 1500-1800. Trad. de Denise Bottmann.
São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
CAQUELIN, A. Teorias da Arte. Trad. de Rejane Janowitzer. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
DAMÁSIO, A. A estranha ordem das coisas: as origens biológicas dos sentimentos e da
cultura. Trad. de Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras, 2018.
GAYFORD, M. Michelangelo: uma vida épica. Trad. de Donaldson M. Garschagen e Renata
Guerra. São Paulo: Cosac Naify, 2015.
GINZBURG, C. Mitos, emblemas e sinais: morfologia e história. Trad. de Federico Carotti. São
Paulo: Companhia das Artes, 1989.
GOMBRICH, E. A História da Arte. Trad. de Cristiana de Assis Serra. Rio de Janeiro: LTC, 2013.
GOMBRICH, E. Hegel e a História da Arte. Trad. de Teresa da Costa. Revista Gávea, Rio de
Janeiro, n. 5, p. 57-72, abr. 1988.
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do estético, há preocupação com a forma e uma
sensibilidade necessária até mesmo para a esco-
lha do material. Por isso, a tradução de tékhne mais
utilizada é arte e não técnica.
Figura 1
marcosvelloso/Shutterstock
Saiba mais
O termo registro rupestre é
usado quando se pretende tirar
a dimensão estética do objeto. O
pesquisador da estética utiliza“ar-
te”, pois percebe a manifestação
estética em todos os objetos. O
termo pré-história pode sugerir
que há povos sem história. Contu-
do, até os povos ágrafos possuem
história, as imagens que criaram
são provas disso.
Sibéria Alasca
Ásia
Europa
América
do Norte
Oceano Oceano
Deserto Pacífico Atlântico
do Saara Filipinas
África Terra de Sunda
Nova Guiné
JJ
J
O vermelho é extraído da planta chamada urucum, já o
JJ
J
azul-escuro ou o preto são obtidos do jenipapo. O agluti-
nante é o suco do babaçu ou de outra planta. Eles utilizam,
também, o carvão ou algum tipo de calcário. Não há uma
total simetria, mas é possível perceber padrões geométri-
cos. Essas pinturas refletem um modo de ser dos indígenas.
Figura 2
Indígena da tribo Pataxó durante o 2º Encontro
de Povos da Floresta, em 2007
Aspectos da cultura popular brasileira 99
A arte de trançar fibras de alguma planta da região
onde a tribo está instalada atingiu alto grau de so-
k
toc
fisticação. Sua elaboração não é tão simples, ain-
ters hut
http://www.macvirtual.usp.br/mac/arquivo/noticia/Kabengele/Kabengele.asp
061 Filmes/Shutterstock
O crítico de arte Mário Pedrosa, ao ver o tamanho do empreendimento que seria a construção de Brasília, escreveu que ela é “um
apelo à imaginação criadora de nossos artistas, nossos arquitetos, nossos urbanistas” (PEDROSA, 2015a, p. 90). Antes, o crítico havia
lembrado que Ouro Preto, a capital da civilização do ouro, havia se constituído em menos de um século nas serras de Minas Gerais.
Todo o conjunto da
fachada, incluindo
o medalhão, foi
executado em pedra-
-sabão, material que
o artista introduziu
na arquitetura e
usava com precisão.
A pedra-sabão é
uma rocha de baixa
rocharibeiro/Shutterstock
dureza encontrada
na região de Ouro
Preto.
T photography/Shutterstock
ceu em Mariana, importante cidade produtora de
ouro do século XVIII, próxima de Ouro Preto. Sua
obra mais conhecida é a pintura do teto da Igreja
de São Francisco.
Drummond diz que Mestre Ataíde derramou sobre nós “no azul-es-
paço/ do teatro barroco do céu/ o louvor cristalino coral orquestral dos
serafins/ à Senhora Nossa e dos Anjos” (2006, p. 478). Por tudo isso,
Mestre Ataíde é considerado um dos grandes pintores do período colo-
nial e o principal representante do barroco-rococó.
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MEIRELES, Victor. Moema (1866). Óleo sobre tela, 129 x 190 cm. Museu de Arte de São Paulo – MASP.
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AMÉRICO, Pedro. Independência ou Morte (1888). Óleo sobre tela. 415 x 760 cm. Museu Paulista, São Paulo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Há um grupo grande de intérpretes do Brasil. Apenas neste capítulo
foram citados Darcy Ribeiro, Gilberto Freyre, Mário de Andrade e Mário
Pedrosa, sem contar Oswald de Andrade, de quem tratamos brevemen-
te. Entretanto, vale a pena falar dele um pouco mais nestas considerações
finais.
Em seu livro Pau-Brasil (1924) escreveu um poema chamado Falação,
longo e com linguagem diferente de outros poemas do livro, que eram cur-
tos e sintéticos. O título é uma ironia com ele mesmo. Oswald fala de uma
nova arte brasileira, mas poderia falar também de um novo Brasil, com so-
ATIVIDADES
1. Defina a palavra sincretismo em seus aspectos religioso, filosófico e
antropológico.
REFERÊNCIAS
AMARAL, T. Pintura Pau-Brasil e Antropofagia. Publicado originalmente na RASM – Revista
Anual do Salão de Maio. São Paulo, 1939. In: Crônicas e outros escritos de Tarsila do Amaral.
Pesquisa e organização Laura Taddei Brandini. Campinas: Unicamp, 2008.
ANDRADE, M. Aspectos da literatura brasileira. São Paulo: Livraria Martins Editora, 1974.
ANDRADE, M. de. O Aleijadinho. In: Aspectos das artes plásticas no Brasil. Belo Horizonte:
Itatiaia, 1984.
ANDRADE, C. D. de. Poesia Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2006.
ANDRADE, O. Manifesto da Poesia Pau-Brasil. In: ROCHA, J. C. de C.; RUFFINELLI, J. (orgs.).
Antropofagia hoje?: Oswald de Andrade em cena. São Paulo: É Realizações, 2011.
BAZIN, G. O Aleijadinho e a escultura barroca no Brasil. Trad. de Marisa Murray. Rio de
Janeiro: Record, 1971.
BAZIN, G. Barroco e rococó. Trad. de Álvaro Cabral. São Paulo: Martins Fontes, 1993.
CONDURU, R. Arte afro-brasileira. Belo Horizonte: C/Arte, 2007.
CUNHA, M. C. da. Arte afro-brasileira. In: ZANINI, W. (org.). História geral da arte no Brasil.
Volume II. São Paulo: Instituto Walther Moreira Salles, 1983.
FREYRE, G. Casa-grande & senzala: Formação da família brasileira sob o regime da economia
patriarcal. São Paulo: Ed. Global, 2003.
GELL, A. Arte e agência: uma teoria antropológica. Trad. de Jamille Pinheiro Dias. São Paulo:
Ubu, 2018.
MARTINS, A.; KOK, G. Roteiros visuais no Brasil: Artes indígenas. São Paulo: Ed. Claro Enigma,
2014.
Gabarito 119
3. a) finalidade de aproximar o homem de Deus; b) figuras sem
corporeidade; c) bidimensionalidade; d) as figuras não sugerem
movimento; e) as cores possuem finalidades simbólicas.
Gabarito 121
Este livro apresenta a estética como campo do saber que
João Coviello