Você está na página 1de 6

Módulo Incidência e Crédito Tributário

SEMINÁRIO I: ISENÇÕES TRIBUTÁRIAS E REGRA-MATRIZ DE


INCIDÊNCIA TRIBUTÁRIA
Turma: 2021.02-ICT-BHZ-T
Aluna: Alessandra Cristina Nunes da Cunha Borges

Questões
1. Que é isenção (vide anexo I)?
Nos termos do Art. 175 do CTN, a isenção é causa de exclusão do
crédito tributário, in verbis:

Art. 175 – Excluem o crédito tributário:


I – a isenção;
Parágrafo único. A exclusão do crédito tributário não dispensa o
cumprimento das obrigações dependentes da obrigação principal cujo
crédito seja excluído, ou dela consequente.

O Supremo Tribunal Federal exarou julgado no sentido de que a isenção


é a dispensa do pagamento de um tributo devido em face da ocorrência de seu
fato gerador. Constitui exceção instituída por lei à regra jurídica (ADI n.º 286,
Min. Maurício Corrêa), sendo esta a teoria clássica. Assim, a isenção é definida
como sendo mera dispensa legal de pagamento de tributo.
Entretanto, a doutrina não é uníssona neste ponto.
Partidários da corrente doutrinária que se contrapõe à visão clássica
entendem como a isenção seria uma derrogação legal da lei de incidência
fiscal. Isto quer dizer que a isenção impediria a ocorrência do próprio fato
gerador do tributo tornando impossível, assim, se cogitar do nascimento da
obrigação tributária e, muito menos, da constituição do crédito através do
lançamento.
Sendo assim, existem duas principais correntes:
a) A primeira corrente defende que a norma de isenção não afeta a
lei de tributação, limitando-se a dispensar o pagamento do tributo, o qual não
deixaria de incidir validamente. Assim, a concessão da isenção ensejaria a
identificação de hipótese de incidência tributária associada à dispensa do
pagamento.
Módulo Incidência e Crédito Tributário

b) A segunda corrente, mais moderna, entende que a norma isentiva


suprime a parcela da eficácia da norma da tributação, a resultar que o fato
isento deixaria de ser enquadrado como fato gerado de obrigação tributária. Ou
seja, a isenção produziria uma hipótese de não incidência tributária.
A corrente mais moderna encontra como grande expoente em sua
estruturação Paulo de Barros Carvalho. Entende o autor a isenção como norma
de estrutura, que modifica a norma de conduta correspondente à regra-matriz
de incidência do tributo. Essa modificação não é total, mas parcial, podendo
atingir um ou mais critérios da regra-matriz de incidência tributária.

2. Elaborar quadro comparativo a respeito de: (i) isenção; (ii) imunidade;


(iii) não incidência; (iv) anistia; e (v) remissão.

3. A expressão “crédito tributário” utilizado no art. 175 do CTN tem o


mesmo conteúdo de significação para a isenção e para a anistia?
Justificar.
Não. O teor do Art. 175 do CTN ao utilizar-se da expressão “exclusão do
crédito tributário” engloba tanto o caso da isenção, quanto o da anistia. Porém,
esses institutos se diferem.
Módulo Incidência e Crédito Tributário

O inciso I do supracitado artigo refere-se à isenção, apontando para


alterações ocorridas nos aspectos da regra-matriz tributária. Considerando que
a exclusão do crédito tributário seria o fenômeno jurídico da não incidência que
decorre da modificação da norma tributária geral e abstrata.
Por sua vez, o inciso II do Art. 175 do CTN alude a exclusão do crédito
tributário pelas anistia, essa extinção refere-se à relação de multa que é
diferente da que se opera a norma de isenção.
Vale ressaltar que o autor Paulo de Barros Carvalho adverte sobre a
amplitude semântica do Art. 175 do CTN onde expõe que existe certa
desordem de conceitos em relação a anistia, tendo em vista que o legislador
reúne o crédito do tributo e o crédito da penalidade fiscal na expressão “crédito
tributário”.
Em suma, a exclusão do crédito tributário conforme enunciado do Art.
175 do CTN, aponta para as seguinte concepções, no caso de isenção admite-
se como norma de comportamento se pressupondo a ligação com a regra-
matriz de incidência, essa ligação refere-se à relação jurídica entre o
contribuinte e o fisco. Tratando-se da anistia há a previsão de ocorrência da
exitência pertinente a norma primária que trata da relação de multa.

4. Tratando-se de isenção com prazo certo, ou de isenção por prazo


indeterminado, responda: (i) equivalem, necessariamente, à isenção
condicionada e à isenção incondicionada, respectivamente? Quais
critérios são utilizados nessas classificações? (ii) a revogação da
isenção, que reinstitui a norma tributária no sistema, apenas
restabelece sua eficácia ou requer a publicação de nova regra tributária
no ordenamento? Neste último caso, deverá ser respeitado o princípio
da anterioridade (nonagesimal / exercício)? Há direito adquirido (vide
anexo II e III)?
Não equivalem necessariamente. A característica do prazo certo ou
indeterminado é independente da condição, isto é, uma isenção por por de pra
certo e ser incondicionada.
A revogação, sozinha, não reestabelece sua eficácia, necessitando de
outra norma para se fazer valer. Nesse caso, deverá respeitar o princípio da
Módulo Incidência e Crédito Tributário

anterioridade, geral e nonagesimal (conforme a Constituição Federal de 1988


em seu Art. 150, alíneas “a” e “b” do inciso II).
Não existe direito adquirido, pois o ato de instituir ou não o imposto é
prerrogativa da administração pública, mediante devido processo legislativo, no
que tange às suas competências consagradas na Constituição. Não há que se
falar em direito adquirido à isenção, pois esta atenderá à necessidade e
interesse público.

5. Há distinção entre alíquota 0% e isenção? Os insumos isentos, não


tributados e tributados à alíquota 0%, adquiridos no processo de
industrialização, conferem direito ao crédito tributário? Por quê? Em
caso afirmativo, qual critério deveria ser utilizado para determinar o
crédito presumido de IPI? Se o produto for adquirido da ZFM, isso
alteraria a resposta? Se sim, por quê? (Vide anexos IV, V, VI, VII, VIII e
IX)
Apesar de serem figuras aparentemente distintas, para Paulo de Barros
Carvalho a alíquota zero é uma forma de isenção “difarçada”, com a mesma
natureza e efeitos.
Quanto ao direito a crédito, segundo o RE n.º 353.657/PR, não há direito
ao creditamento, pois não há compensação, já que o efeito prático da alíquota
zero é o mesmo da isenção. Porém, em julgados mais recentes (como o RE
1.259.343/AM), as empresas na ZFM têm direito a creditar PIS e o COFINS na
aquisição de insumos isentos, não tributados ou sujeitos à alíquota zero.
Só não haveria creditamento quando os bens e serviços fossem
utilizados como insumos em produtos ou serviços sujeitos à alíquota zero. Em
outros casos há possibilidade de direito a crédito.

6. Considerando o art. 155, §2º, II, alíneas “a” e “b” da CF, pergunta-se:
a) Existe isenção parcial? Redução de base de cálculo pode ser
considerada hipótese de isenção parcial?
Conforme entendimento de Paulo de Barros Carvalho, admite-se a
existência de isenções parciais, porém, deixa claro que tal figura não se
confunde com a isenção tributária, afirmando que a redução que se processa
no critério quantitativo não condiz ao desaparecimento do objeto, não
Módulo Incidência e Crédito Tributário

configurando isenção, traduzindo singela modificação a redução do quantum


de tributo que deve ser pago, caracterizando-se a isenção parcial.
A redução da base de cálculo, configura-se como o benefício fiscal
concedido pelas administrações tributárias, em sua maioria através de atos do
Poder Executivo, com o objetivo de diminuir a carga fiscal de determinados
segmentos da economia e que se equivale a isenção parcial, nos termos do
artigo 155, parágrafo 2º, inciso II, alínea “b” da CF/88 e conforme precedente
do STF.
b) É possível lei estadual que determine a exigência do estorno do crédito
do ICMS, relativo à entrada de insumos, proporcional à parcela
correspondente à redução da base de cálculo do imposto incidente na
operação de saída da mercadoria, com fundamento no art. 155, § 2º, II,
da CF/88? (Vide anexos X, XI e Parecer da Procuradoria-Geral da
República no RE n. 635.688/RS RG, de 09/12/11).
É possível aproveitamento integral dos créditos relativos ao ICMS pago
na operação antecedente, nas hipóteses em que a operação subsequente seja
beneficiada pela redução da base de cálculo.

7. A concessão de benefício fiscal relativo à isenção do ICMS incidente


sobre a aquisição de veículo automotor por deficiente físico demanda a
aprovação por convênio, nos termos do art. 155, §2º, XII, g, da CF,
regulamentado pela Lei Complementar 24/75? Caso considere a
dispensa de convênio nesse caso, ela poderá ser justificada pela
garantia fundamental, cuja concessão do benefício visa a assegurar?
(Vide anexo XII e XIII).
Sim, pois para que haja concessão de benefício fiscal de isenção do
ICMS sobre aquisição de veículo automotor por deficiente físico demanda
aprovação por convênio não havendo como se falar em garantia de um direito
sem que exista norma que o crie, que no caso surge com a celebração dos
convênios.
A LC 24/75 dispõe no seu caput do artigo 1º que “As isenções do
imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias serão
concedidas ou revogadas nos termos de convênios celebrados e ratificados
pelos Estados e pelo Distrito Federal, segundo esta Lei”.
Módulo Incidência e Crédito Tributário

8. Determinado Estado institui isenção de ICMS, com fundamento em


convênio CONFAZ, exclusivamente para operações realizadas pelo
contribuinte atacadista de determinado produto. A legislação (i)
expressamente veda que essa isenção seja utilizada por
estabelecimentos industriais e varejistas e (ii) nada fala sobre a
possibilidade de manutenção de crédito pelo atacadista. Qual o efeito
prático desta isenção para a cadeia do ICMS? Essa isenção é
constitucional? Poderia o estabelecimento atacadista renunciar à
isenção tributária e decidir tributar regularmente sua operação? Esse
valor pago, em renúncia à isenção, seria tributo? Há relação entre essa
isenção tributária e o princípio da legalidade estrita tributária?
A LC 24/75 consigna que os convênios de ICMS celebrados no âmbito
do CONFAZ, serão incorporados à legislação dos Estados-membros e do
Distrito Federal por Decreto emanado do Poder Executivo de cada ente
federativo, de modo a ensejar a dispensa de manifestação por parte do
legislativo local. Se nada sobre a possibilidade de manutenção do crédito pelo
atacadista, entendo que essa isenção seria sim constitucional.
Quanto a renunciar a isenção tributária e decidir recolher o tributo,
entendo que não seria possível, pois não há essa prerrogativa disposta na
legislação do ICMS, sendo assim não haveria valor pago e tampouco seria
como tributo.
Por fim, por se tratar de uma isenção com fundamento em convênio
CONFAZ, que por sua vez é amparado pela LC 24/75, está obedecendo o
princípio da legalidade tributária.

Você também pode gostar