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DIREITOS FUNDAMENTAIS II

Prof. Me. Cleber V. T. Vianna


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I. ANTINOMIAS ENTRE REGRAS
 Coerência entre as normas:

 Já foi apresentada a ideia de ordenamento jurídico como


sistema, como uma totalidade de entes que obedecem a uma
lógica interna. Para se falar em sistema, não é suficiente que
os entes estejam relacionados apenas com o todo; deve haver
coerência entre eles, ou como Tércio Sampaio diz,
consistência.
 Essa coerência é fundamentada basicamente na não
existência de antinomias, ou seja, na não ocorrência de
normas que sejam contraditórias, incompatíveis. Essa
incompatibilidade pode ser observada em três casos:

 Uma norma ordena fazer algo e uma norma proíbe fazê-lo;

 Uma norma ordena fazer e uma norma permite fazer;

 Uma norma permite fazer e uma norma proíbe fazer.


Obs: Para que realmente ocorra antinomia são necessárias
duas condições:
A primeira condição é que as normas contraditórias pertençam
ao mesmo sistema, e a segunda é que as normas tenham o
mesmo âmbito de validade (temporal, espacial, pessoal ou
material).
 No tocante ao conteúdo, o vocábulo “princípio” identifica:
 Normas que expressam decisões políticas fundamentais:
Ex: República; Estado democrático de direito; Federação, etc.
 Valores a serem observados em razão de sua dimensão
ética:
Ex: dignidade humana, segurança jurídica, razoabilidade, etc.
 Fins públicos a serem realizados:
Ex: desenvolvimento nacional, erradicação da pobreza, busca
do pleno emprego, etc.
Obs: os princípios podem referir-se tanto a direitos individuais
como a interesses coletivos.
 Baseados em Tércio Sampaio (2003:212-215), podemos
classificar as antinomias em:
 Antinomias reais (aquelas para as quais não há regra normativa de
solução prevista no ordenamento, o intérprete deve solucionar por si
mesmo, por falta de critérios ou por conflito dos critérios existentes);
 Antinomias aparentes (aquelas para quais existem critérios normativos
de solubilidade);
 Antinomias próprias (ocorrem por motivos formais, como uma norma
permitir e outra proibir);
 Antinomias impróprias (ocorrem em virtude do conteúdo das normas, por
questões de princípios, valores ou teleologia, ou seja, o conflito é entre o
comando estabelecido e a consciência do aplicador).
 Há também antinomias de classificação quanto ao
âmbito:
 Antinomias de direito interno (que ocorrem dentro de um
ordenamento estatal e podem ser dentro de um ramo do
Direito, como o Civil).

 Antinomias de direito internacional (ocorrem entre duas


normas internacionais).

 Antinomias de direito interno-internacional (ocorrem


entre uma norma interna e uma norma internacional).
 Há também critérios de classificação quanto à extensão da
contradição. Para explicar esses critérios, faremos uso do
gráfico presente no livro Introdução ao Estudo do Direito, pág.
215, do multicitado Tércio Sampaio:

 Antinomia total-total, quando uma das normas não pode


ser aplicada em nenhuma circunstância sem entrar em conflito
com outra;
 Antinomia total-parcial, quando uma das normas não
pode ser aplicada em nenhuma circunstância sem entrar em
conflito com a outra, mas a outra tem um campo de aplicação
em parte livre de conflitos.
 Antinomia parcial-parcial, quando as duas normas só
entram em parte em contradição.
 Depois de detalhar o que são antinomias e como classificá-
las, passamos ao principal, que é como solucionar esses
impasses.
 Há basicamente três critérios para a solução de antinomias:

 o critério hierárquico (lex superior derogat inferius);


 o critério de especialidade (lex specialis derogat generalis);
e
 o critério cronológico (lex posterior derogat priori).
 O critério hierárquico dita que entre duas normas
incompatíveis, prevalece a norma hierarquicamente. As
normas superiores podem revogar as inferiores, nunca o
contrário.
 O critério da especialidade é aquele em que entre uma
norma geral incompatível com uma norma específica,
prevalece à específica. A específica (ou especial) não revoga
a norma geral, só revoga a parte da norma onde está o
conflito.
 E no critério cronológico, em caso de antinomias a norma
que prevalece é a norma posterior.

 Esse critério faz muita referência ao princípio da não-


retroatividade das leis, onde nenhuma lei pode aplicar-se a
fatos anteriores, só tem eficácia durante sua vigência (regra).

 A exceção seria a retroatividade da norma para beneficiar o


agente e não o contrário.
 Se esses critérios de solução entrarem também em conflito,
será usada a hierarquia que há entre eles: o hierárquico e o de
especialidade prevalecem sobre o cronológico.

 Não existe hierarquia entre os critérios de hierarquia e de


especialidade; em caso de conflito entre eles, o intérprete
aplicará ou um ou outro, de acordo com as circunstâncias.
 O intérprete também tem a possibilidade de não fazer
prevalecer nenhum desses critérios. Ele pode fazer uso de um
poder que Bobbio denomina poder discricionário do intérprete,
que engloba três alternativas:

 Em caso de antinomia aparente, ele pode conservar as


duas.
 Em caso de antinomia real, ele pode ou eliminar uma das
regras, aplicando a outra (ab-rogação simples), ou eliminar
as duas, aplicando uma terceira (dupla ab-rogação).
 Recepção: considera-se um processo abreviado de criação de
normas jurídicas, pelo qual a nova Constituição alberga as leis já
existentes, se com ela compatíveis, dando-lhes validade e evitando o
trabalho de se elaborar toda a legislação infraconstitucional novamente.
 Repristinação: restauração de lei revogada.
 Desconstitucionalização: ocorre quando matérias tratadas pela
Constituição anterior não hajam sido tratadas na nova e nesta nova
Constituição não se encontra nada que seja obstáculo àqueles artigos
existentes na anterior. Nessas condições, os artigos da Constituição
substituída permaneceriam em vigência sob a forma de lei ordinária. No
Brasil, prevalece a ideia de que para haver a desconstitucionalização
necessitaria de previsão expressa na nova Constituição.
II. Exercício de Fixação
 Direito dos Usuários
 Código de Defesa do Consumidor (Lei n.º 8.078/90), art. 22
e 42.
 Lei n.º 8.987/95, art. 6º, §3º, II.
Observe os diplomas legais acima e desenvolva um raciocínio
jurídico no tocante a interrupção do fornecimento de energia elétrica,
a uma família de baixa renda, com filhos menores e um idoso, por
inadimplemento de sua conta. Considere ainda, que a
Concessionária prestou o serviço de forma regular e fez a devida
notificação do corte.

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