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PAPEL DAS ENERGIAS RENOVÁVEIS PARA O ATINGIMENTO DAS

METAS CONSTRUÍDAS PARA O ACORDO DE PARIS E AS FORMAS DE


PARCERIAS E CONTRATAÇÕES NA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA.

CRISTINA KAKAWA
DAIANE MEDIDO WOTKOSKI
TALITA COSTA REBELLO BARBOSA

Resumo:

Palavra chave: Energias renováveis, Acordo de Paris, contratações e geração distribuída

1. Introdução

O aumento progressivo da temperatura mundial trouxe consigo consequências que não


se resumem à alteração paisagem. O que se prevê é uma verdadeira catástrofe: degelo das
calotas polares e elevação do nível dos oceanos, a ponto de tornar-se submersas ilhas e
cidades litorâneas; redução significativa na biodiversidade; severos impactos na produção de
alimentos; desertificação; intensificação dos eventos climáticos; entre outros.
Podemos chamar o agravamento do efeito estufa de “Impacto Homem”, já que decorre
diretamente de hábitos humanos de produção e consumo, dentre os quais: o consumo e a
queima de combustíveis fósseis1 (carvão, gás e petróleo) que são fontes não renováveis e
desprendem carbono na atmosfera; o consumo excessivo de produtos de origem animal,
tornando a pecuária um dos principais focos de emissão de gases-estufa e o desmatamento,
1
O seu uso, especialmente, na indústria, no transporte urbano, na geração de energia elétrica e por atividades
agrícolas.
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cuja esmagadora maioria serve ao aumento de áreas produtivas (produção de grãos para a
alimentação do gado) e à criação de animais – o que ocupa cerca de 75% das terras aráveis do
planeta2.
No Brasil, a questão do meio ambiente relacionada à energia elétrica foi
regulamentada com a publicação do Código de Águas e da Constituição de 1934, quando a
União passou a centralizar a outorga de todas as fases da indústria de energia elétrica:
geração, transmissão e distribuição. A União assumiu a construção de grandes usinas e do
sistema de transmissão e os estados membros, em regra, ficaram responsáveis pela
distribuição. Esse acordo tácito também teve suas exceções, em relação à construção de
grandes usinas por empresas estatais, tais como Cemig, Cesp, Copel, CEEE, entre outras.3
Nos meados dos anos de 1990 houve o início da privatização das estatais para
estimular o investimento do capital privado nos empreendimentos de geração, instituindo-se o
modelo de regulação, com a criação das Agências Reguladoras, no caso, a Agencia
Reguladora de Energia Elétrica – ANEEL que passou a estabelecer as tarifas de energia para
os consumidores e as condições de contratação.
Em ano 2000, diante da relevância do tema sustentabilidade, a Organização das
Nações Unidas, por meio do documento intitulado Declaração do Milênio das Nações Unidas,
elencou os chamados “Objetivos de Desenvolvimento do Milênio” (recentemente
aperfeiçoados pela “Agenda 2030”) sendo, os “Objetivos de Desenvolvimento Sustentável”
(ODS)4, um dos focos principais.
Ato contínuo, em dezembro de 2015, realizou-se, na Cidade de Paris, a COP21, da
Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) – conhecida

2
Disponível em: https://epocanegocios.globo.com/colunas/noticia/2018/04/maior-parte-dos-graos-vira-racao-e-
nao-alimento-humano.html. Acesso em:13.03.2021.
3
TOLMASQUIM, Mauricio T, Novo Modelo do Setor Elétrico Brasileiro, 2ª ed, Rio de Janeiro: Synergia:
EPE: Brasília, 2015. p. 4.
4
Os “ODS” foram instituídos na Cúpula das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável em setembro
de 2015. São divididos em 17 objetivos e 169 metas. Os objetivos são: 1) Erradicação da pobreza; 2) Fome zero;
3) Boa saúde e bem-estar; 4) Educação de qualidade; 5) Igualdade de gênero; 6) Água limpa e saneamento; 7)
Energia acessível e limpa; 8) Emprego digno e crescimento econômico; 9) Indústria, inovação e infraestrutura;
10) Redução das desigualdades; 11) Cidades e comunidades sustentáveis; 12) Consumo e produção
responsáveis; 13) Combate as alterações climáticas; 14) Vida debaixo d’água; 15) Vida sobre a terra; 16) Paz,
justiça e instituições fortes; 17) Parcerias em prol das metas
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como Acordo de Paris –, com objetivo de estabelecer compromissos nacionais voluntários
tendentes a desacelerar a elevação da temperatura do planeta.
Cerca de 195 países aprovaram o tratado mundial, comprometendo-se a reduzir as
emissões de gases do efeito estufa, a fim de manter o aumento da temperatura mundial de
1,5ºC a 2º acima dos níveis pré-industriais.
Uma das premissas da COP 21 foi o conceito de “responsabilidade comum, porém
diferenciada” (desenvolvido à época do Protocolo de Kyoto), que atribui, aos países que
historicamente mais contribuíram com a elevação da temperatura do planeta 5, maior
responsabilidade em relação à estabilização dos gases da atmosfera (razão pela qual seus
compromissos são importantíssimos).

2. As metas do acordo de Paris o e papel das energias renováveis a partir da


geração distribuída.

O Brasil, um dos primeiros países a assinar o Acordo de Paris, comprometeu-se a


reduzir as emissões de GEE (Gases de Efeito Estufa) em 37% no ano de 2025 e 43% no ano
de 2030. Comprometeu-se, ainda, a restaurar 15 milhões de hectares de pastagens degradadas,
a reflorestar 12 milhões de hectares e combater ativamente o desmatamento ilegal
na Amazônia, até cessá-lo, em 2030.
O atingimento das metas estabelecidas depende de vários setores da economia, dentre
eles – e especialmente – o setor elétrico 6, responsável pela implementação de grande parte das
mudanças planejadas, a citar: (i) uso sustentável da bioenergia; (ii) aumentar a participação da
bioenergia para aproximadamente 18%; (iii) alcançar a participação de 45% de energias
renováveis além da hídrica, dentre as quais a eólica, a biomassa e a solar.
Neste aspecto, as fontes de energia hídricas são ainda mais utilizadas para geração de
energia, entretanto, cada vez encontram-se empecilhos para sua instalação, tornando-se
escassas, principalmente diante da abrangência de grandes áreas territoriais para sua

5
Considera-se que, na atualizada, os Estados Unidos e a China, sozinhos, sejam responsáveis pela emissão de
40% dos gases-estufa.
6
Em termos globais, o setor de energia é responsável por 25% da emissão dos gases-estufa, conforme
https://www.epa.gov/ghgemissions/global-greenhouse-gas-emissions-data
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instalação e alagamento de reservatórios, podendo haver impactos significativos no meio
ambiente.
Neste contexto, chama a atenção o fato de a matriz energética brasileira já ser
composta, em quase 50%, por energias renováveis 7 e em relação à matriz hidráulica, importa
destacar que, a despeito de o Brasil ser o detentor de um dos maiores potenciais hidrelétricos
do mundo8, ele não é uniforme em toda a sua extensão territorial 9. Em períodos de estiagem,
revela-se necessária a ativação de usinas térmicas (à base de carvão mineral, petróleo ou gás
natural) para fins de suprir a demanda nacional. Por isso o compromisso do Brasil com a
redução da emissão de gases-estufa passa apela expansão do uso de fontes renováveis além da
hídrica, como a eólica, a solar e a biomassa, conhecidas como fontes de energia alternativas.
Além disso, observa-se que os chamados “Objetivos de Desenvolvimento do Milênio
(ODM)”10 foram recentemente aperfeiçoados pela “Agenda 2030”, dentro da qual os
“Objetivos de Desenvolvimento Sustentável” (ODS)11 é um dos focos principais.
O Brasil é um pais em desenvolvimento que enfrenta o desafio de melhorar o padrão
de vida da maioria de sua população, aliado ao desenvolvimento sustentável de forma
sustentável e ao mesmo tempo se manter a matriz energética de fontes, numa trajetória de
desenvolvimento com baixas emissões de GEE do sistema energético, lançando novas
estratégias de descarbonização de sua economia.

7
https://www.epe.gov.br/pt/abcdenergia/matriz-energetica-e-eletrica
8
A Usina Hidrelétrica de Itaipu, que é atualmente “a maior geradora de energia limpa e renovável do planeta”.
Disponível em http://www.usp.br/portalbiossistemas/?p=7865. Acesso em: 13.03.2021.
9
https://geopoliticadopetroleo.wordpress.com/2010/10/14/uso-de-termoeletricas-para-garantir-a-seguranca-
energetica-deve-custar-r-500-milhoes-este-ano/potencial-hidreletrico-brasileiro-mapa/
10
Os “Objetivos de Desenvolvimento do Milênio” (ODM) surgiram da Declaração do Milênio das Nações
Unidas, adotada pelos 191 Estados – Membros, no dia 08 de setembro de 2000. São eles: 1) Erradicar a pobreza
extrema e a fome; 2) Atingir o ensino básico universal; 3) Promover a igualdade de gênero e a autonomia das
mulheres; 4) Reduzir a mortalidade infantil; 5) Melhorar a saúde materna; 6) Combater o HIV/AIDS, a malária e
outras doenças; 7) Garantir a sustentabilidade ambiental; 8) Estabelecer uma parceria mundial para o
desenvolvimento. De acordo com o PNUD, o Brasil foi um dos países que mais avançou no cumprimento das
metas dos ODM.
11
Os “ODS” foram instituídos na Cúpula das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável em setembro
de 2015. São divididos em 17 objetivos e 169 metas. Os objetivos são: 1) Erradicação da pobreza; 2) Fome zero;
3) Boa saúde e bem-estar; 4) Educação de qualidade; 5) Igualdade de gênero; 6) Água limpa e saneamento; 7)
Energia acessível e limpa; 8) Emprego digno e crescimento econômico; 9) Indústria, inovação e infraestrutura;
10) Redução das desigualdades; 11) Cidades e comunidades sustentáveis; 12) Consumo e produção
responsáveis; 13) Combate as alterações climáticas; 14) Vida debaixo d’água; 15) Vida sobre a terra; 16) Paz,
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Considerando-se assim, os compromissos assumidos pelo Brasil no Acordo de Paris,
durante a  21ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a
Mudança do Clima (COP21)12 para a redução de gases do efeito estufa (GEE) e para a
ampliação da participação de fontes de energia renováveis na matriz energética, no Estado do
Paraná foi criado o Programa Paranaense de Energias Renováveis pelo Governo do Paraná
por meio do Decreto nº 11.671 de 2014, alterado pelo Decreto nº 8.673, de 2018 13, que prevê
medidas de incentivo à produção e uso de energia oriunda de fontes renováveis, em especial a
biomassa, a eólica e a solar, contribuindo para o desenvolvimento sustentável do estado, com
prioridade para as regiões de menor desenvolvimento humano.
Além disso, a Companhia Paranaense De Energia – COPEL, uma das maiores
empresas paranaense no setor de energia brasileira, participa ativamente da “Agenda 2030”.
Ela foi a empresa escolhida pela ONU para coordenar o escritório do “Programa Cidades do
Pacto Global na região sul do Brasil”. A proposta do Programa Cidades é estabelecer
parcerias multissetoriais envolvendo governo, empresas, sociedade civil e universidades para
desenvolver projetos inovadores e buscar soluções para os desafios urbanos. Os projetos
devem contemplar as dimensões sociais, econômicas, ambientais, político-institucionais e
culturais, colaborando no cumprimento da agenda 2030 da ONU.
Desta forma, o setor elétrico brasileiro estimula e incentiva o desenvolvimento e a
implantação de empreendimentos de usinas eólicas, solar e biomassa, principalmente através
de geração distribuída por se tratarem de um combustível de energia limpa, renovável e,
quando comparado aos demais combustíveis fósseis, é bastante interessante por ser menos
poluente, com baixa emissão de gases, inclusive os causadores de efeito estufa.
Nesse sentido, com intuito de diversificação da matriz elétrica, o Decreto Federal nº
5.163/2004 instituiu o conceito de geração distribuída como a produção de energia elétrica
proveniente de empreendimentos de agentes concessionários, permissionários ou autorizados,
conectados diretamente no sistema elétrico de distribuição do comprador, com exceção das
12
Disponívelem:https://www.mma.gov.br/clima/convencao-das-nacoes-unidas/acordo-de-paris. Acesso em
13.03.2021.
13
Com o objetivo de “promover e incentivar a produção e o consumo de energia oriunda de fontes renováveis,
em especial a biomassa, a eólica e a solar, contribuindo para o desenvolvimento sustentável do Estado do Paraná,
com prioridade para as regiões de menor desenvolvimento humano”. Disponível em:
http://www.planejamento.pr.gov.br/Pagina/Programa-Paranaense-de-Energias-Renovaveis.Acesso em:
13.03.2021.
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hidrelétricas com capacidade instalada superior a 30 MW; e das termelétricas, inclusive
cogeração, com eficiência energética inferior a setenta e cinco por cento, sendo que a
limitação não se aplica para os empreendimentos termelétricos que utilizem biomassa ou
resíduos de processo como combustão.
A geração distribuída é caracterizada pela instalação de geradores de pequeno porte,
(tais como usinas de biomassa ou painéis solares fotovoltaicos, ou pequenas turbinas eólicas,
etc.), normalmente a partir de fontes renováveis ou mesmo utilizando combustíveis fósseis,
localizados próximos aos centros de consumo de energia elétrica.14
A instituição da geração distribuída de energia foiconsiderada uma inovação no
modelo existente com intuito de estimular a economia financeira, a consciência socio
ambiental e a auto sustentabilidade, sendo regulamentada pela Agência Nacional de Energia
Elétrica – ANEEL em 12 de abril de 2012, através da Resolução Normativa - REN nº
482/2012, que estabeleceu as condições gerais para o acesso de microgeração e minigeração
distribuída aos sistemas de distribuição de energia elétrica e autorizou o sistema de
compensação de energia elétrica possibilitando ao consumidor, usuário do serviço público,
gerar sua própria energia e fornecer o excedente para a rede de distribuição de sua localidade.
Para a ANEEL, “os estímulos à geração distribuída se justificam pelos potenciais
benefícios que tal modalidade pode proporcionar ao sistema elétrico. Entre eles, estão o
adiamento de investimentos em expansão dos sistemas de transmissão e distribuição, o baixo
impacto ambiental, a redução no carregamento das redes, a minimização das perdas e a
diversificação da matriz energética15“.
Como senso comum, destaca-se que a geração distribuída amplia a eficiência na
geração e utilização de energia elétrica, fornece serviços de estabilização de frequência de
tensão, reduz custos devidos às perdas de transmissão, reduz a emissão de gases poluentes,
reduz o congestionamento da rede de concessionária, diminui a tensão de pico na rede da
concessionária, serve como fonte de potência, aumenta o valor das energias eólicas e solares
por meio do uso de sistema de armazenamento, estimula o uso de tecnologia alternativas,
14
Cadernos Temáticos ANEEL, Micro e Minigesração Distribuída. Sistema de Compensação de energia. 2ª
edição. Disponível em
https://www.aneel.gov.br/documents/656877/14913578/Caderno+tematico+Micro+e+Minigera
%C3%A7%C3%A3o+Distribuida+-+2+edicao/716e8bb2-83b8-48e9-b4c8-a66d7f655161. Acesso em 21.03.2021.
15
Brasil: ANEEL, disponível em: https://www.aneel.gov.br/geracao-distribuida. Acesso em: 10 mar.2021
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além de ser uma forma de utilizar o suprimento de gás natural e reduzir o custo do não
atendimento da demanda16.
Inicialmente, observa-se que o sistema de compensação de energia, era permitida para
autoconsumo remoto17.Posteriormente, a REN nº 482/2012 foi alterada através das REN nº
687 de 24 de novembro de 2015 e REN nº 786 de 17 de outubro de 2017, modificando a
abrangência do sistema de compensação de energia com a criação de novos modelos de
geração distribuída, ser dividida em três modalidades18, quais sejam:
a) autoconsumo remoto:caracterizado por unidades consumidoras de titularidade
de uma mesma pessoa jurídica, incluídas matriz e filial, ou pessoa física que
possua
b) diferente das unidades consumidoras, dentro da mesma área de concessão ou
permissão, nas quais a energia excedente será compensada;
c) geração compartilhadacaracterizada pela reunião de consumidores, dentro da
mesma área de concessão ou permissão, por meio de consórcio ou cooperativa,
composta por pessoa física ou jurídica, que possua unidade consumidora com
microgeração ou minigeração distribuída em local diferente das unidades
consumidoras nas quais a energia excedente será compensada;e
d) empreendimentos com múltiplas unidades consumidoras (condomínios):
caracterizado pela utilização da energia elétrica de forma independente, no qual
cada fração com uso individualizado constitua uma unidade consumidora e as
instalações para atendimento das áreas de uso comum constituam uma unidade
consumidora distinta, de responsabilidade do condomínio, da administração ou
do proprietário do empreendimento, com microgeração ou minigeração
distribuída, e desde que as unidades consumidoras estejam localizadas em uma
mesma propriedade ou em propriedades contíguas, sendo vedada a utilização de

16
DAVID, Solange, “A geração distribuída no Brasil a “Espiral da Morte” e o desafio da sustentabilidade, -
Temas relevantes no direito de energia, Tomo VIII, pág. 114.-115.
17
Conforme redada dada pela REN 517/2012 Disponível em: http://www2.aneel.gov.br/cedoc/ren2012517.pdf.
Acesso em 06/03/2021.
18
Cadernos Temáticos ANEEL, Micro e Minigesração Distribuída. Sistema de Compensação de energia. 2ª
edição. Disponível em
https://www.aneel.gov.br/documents/656877/14913578/Caderno+tematico+Micro+e+Minigera
%C3%A7%C3%A3o+Distribuida+-+2+edicao/716e8bb2-83b8-48e9-b4c8-a66d7f655161. Acesso em 21.03.2021.
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vias públicas, de passagem aérea ou subterrânea e de propriedades de terceiros
não integrantes do empreendimento.
Portanto, a geração distribuída estimulou os investimentos privados para a
implantação das usinas de menor porte, quando permitiu o uso de qualquer fonte renovável
para geração de energia elétrica, através da cogeração qualificada, denominando-se
microgeração distribuída a central geradora com potência instalada até 75 quilowatts (KW) e
minigeração distribuída aquela com potência acima de 75 kW e menor ou igual a 5 MW,
conectadas na rede de distribuição por meio de instalações de unidades consumidoras,
podendo ainda ser realizada por meio da figura da “geração compartilhada” em determinados
casos.
Desta forma, com a ampliação de novos negócios para aumento da utilização do
potencial elétrico os empreendimentos da Geração distribuída contribui para a redução das
emissões de gases de efeito estufa (GEE) e com medidas corretas de incentivo e de políticas
públicas,auxiliam também o desenvolvimento social/socioambiental das regiões mais carentes
do, em cumprimento das metas estabelecidas nas ODS.

3. A geração compartilhada e os instrumentos jurídicos de contratação para a


formação de parceria.

A Resolução Normativa nº 687/2015 trouxe algumas inovações importantes para a


geração distribuída: 1- Ampliou a potência para permitir geradores de até 5MW; 2-Os créditos
obtidos pela auto produção são válidos por até 60 meses; 3-Introduziu o formato de GC
(geração compartilhada) de consumidores, que permite que diversos clientes compartilhem os
créditos de energia de uma instalação de geração única; 4-Autorizou a formação de
condomínios geradores, onde proprietários de unidades consumidoras individuais distribuam
os créditos entre diversas contas de energia elétrica (Empreendimento com Múltiplas
Unidades Consumidoras).

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De acordo com Rodrigo Brandão Fontoura19 uma das mudanças mais importante
trazidas pela Resolução 687/15 é a confirmação de diferentes modalidades técnico-jurídicas,
com o objetivo de revogar a vedação anterior instituída, em relação a empreendimentos de
múltiplas unidades consumidoras, unidas por comunhão de fato ou de direito.

A nova norma estatuiu três formas de associação entre usuários-geradores, visando


regrar o abatimento sistemático e compartilhado de consumo: o empreendimento de múltiplas
unidades consumidoras, a geração compartilhada e o autoconsumo20.

Dentre as formas acima, a geração compartilhada é uma das modalidades possíveis


para parcerias junto a pequenos e grandes investidores, visto que é considerada como
empreendimento caracterizado pela união de consumidores, através de consórcios ou
cooperativas, onde haveria compensação de energia em função da geração excedente.

Tendo em vista a necessidade de reunião de consumidores distintos na geração


compartilhada, o primeiro requisito para sua instituição é que seja estabelecido documento
que comprova a efetiva reunião de vontades, tanto para o consórcio de empresas quanto para
as cooperativas de consumidores, de forma a estabelecer o compromisso de solidariedade
entre os participantes, para os fins previstos no § 6º21, do art. 4º, da Resolução Normativa nº
482/12.

Dessa forma, o instrumento jurídico que comprova a solidariedade existente entre os


componentes do consórcio ou da cooperativa é seu ato constitutivo, nos moldes previstos no §
6º, do art. 4º (REN 482/12). Portanto, para os consórcios será necessário o contrato de
consórcio, já para as cooperativas a ata da assembleia geral de constituição ou instrumento
público de constituição e o estatuto social.

19
VIVIAN, Alexei Macorin; MARLETTI, Pedro Pontual (Coord.) Direito e Geração de Energia Elétrica – São
Paulo: QuartierLatin, 2017. - Rodrigo Brandão Fontoura. Pag. 181.
20
VILELA; SILVA, 2017
21
§6º Para os casos de empreendimento com múltiplas unidades consumidoras e geração compartilhada, a
solicitação de acesso deve ser acompanhada da cópia de instrumento jurídico que comprove o compromisso de
solidariedade entre os integrantes.
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Destarte, para implantação desse modelo de geração distribuída na modalidade
“geração compartilhada”, deve-se analisar brevemente os modelos de negócios e contratos
possíveis para formação de parcerias.

Da interpretação literal do inciso VII do art. 2º da Resolução Normativa nº 482/12,


extrai-se que a geração compartilhada poderá se dar por meio de consórcio ou cooperativa,
composta por pessoa física ou jurídica, ou seja, a possibilidade da composição por pessoa
física é apenas para as cooperativas. Conclui-se, da interpretação literal, que os consórcios
instituídos para este fim devem ter sempre natureza de pessoa jurídica.
No caso do consórcio para a reunião de consumidores e o rateio de créditos de energia
para os fins da geração compartilhada, ainda há discussões quanto à legislação aplicável e
aceita a ser utilizada.
Acerca da formação de consórcio e cooperativa no âmbito da Resolução Normativa –
REN n° 482/2012, a Procuradoria Federal junto à ANEEL elaborou o Parecer
n°00433/2016/PFANEEL/PGF/AGU22, de 30/08/2016 na qual concluiu que para os fins de
geração compartilhada, a constituição de consórcio deve seguir o disposto na Lei n°
6.404/1976(Lei das S/A – art. 278 e 279)23.
O referido Parecer indica ainda a necessidade de observar o disposto na alínea III do
Art. 4° da Instrução Normativa da Receita Federal do Brasil n.º 1.634/2016, para fins de
inscrição no CNPJ/MF. Ou seja, o consórcio de sociedades (empresas) deve necessariamente
possuir personalidade jurídica.

O consórcio previsto no artigo 278 da Lei de Sociedades Anônimas, trata de uma


"comunhão de interesses e atividades que atende a específicos objetivos empresariais, que se
originam nas sociedades consorciadas e delas se destacam". Este é formado para acumular
meios para a consecução de um fim comum (consórcio operacional), ou para somar recursos
para contratarem com terceiros a execução de determinados serviços, obras, ou concessões
(consórcio instrumental).

22
Disponivel em: http://www.consultaesic.cgu.gov.br/busca/dados/Lists/Pedido/Attachments/1339468/
PEDIDO_Parecer%20n%20004332016-PFANEEL-PGF-AGU.pdf. Acesso em 21.03.2021
23
Ao conferir a redação do artigo 278 fica claro que o consórcio pode se aplicar a todos os tipos societários, inclusive
sociedades civis, mas somente pode ser composto por sociedades, não por pessoas naturais ou outro tipo de organização
que não seja sociedade.
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Acerca dos consórcios, cumpre transcrever a lição de Marlon Tomazette24:

As reuniões de sociedades podem ter diversos motivos e, eventualmente,


podem se destinar a um empreendimento específico, como a construção de uma obra,
a participação em um leilão ou a participação em uma licitação. Nesses casos, há a
formação de consórcios isto é, de reuniões de sociedades, para a execução de
determinado empreendimento.O consórcio é um contrato associativo entre sociedades
independentes ou subordinadas que não é dotado de personalidade jurídica, embora
haja o arquivamento do contrato. Diferencia-se dos grupos de sociedades,
primordialmente, pela permanência inerente aos grupos que é alheia à caracterização
dos consórcios, que se destinam a empreendimentos determinados.O consórcio não é
dotado de personalidade jurídica, de modo que cada integrante é dotada de
personalidade jurídica própria, e, por conseguinte, de direitos e obrigações próprios.
Quaisquer obrigações comuns atinentes à execução do empreendimento devem ser
disciplinadas pelo contrato de consórcio. Excepcionalmente, o artigo 28, § 3º, da Lei
n 8.078/90 estabeleceu que, pelos danos causados ao consumidor, as integrantes do
consórcio têm responsabilidade solidária. De modo similar, a lei de licitações
estabelece que as sociedades consorciadas serão solidariamente responsáveis pelos
atos praticado sem consórcio, tanto na fase de licitação quanto na de execução do
contrato (Lei 8.666/93– art. 33, V)

Portanto, o consórcio decorre de um contrato firmado entre duas ou mais sociedades


com atividades em comum e complementares, que objetivam juntar esforços para a realização
de determinado empreendimento.

Com efeito, conforme indicado no parecer acima, uma vez que o consórcio de
empresas não possui personalidade jurídica própria, não pode ele ser sujeito de direitos e
obrigações, de modo que todas as pessoas jurídicas que o compõem figuram como parte no
ato do Poder Público que as possibilita, por exemplo, explorar um empreendimento de
geração e energia elétrica (ato de competência da União, nos termos do art. 21, XII, “b”, da
Constituição). Ou seja, como o consórcio não tem personalidade própria, quem por ele
responde são os consorciados, estes sim, sujeitos de direitos e obrigação.

24
Marlon Tomazette. Curso de Direito Empresarial. Teoria Geral do Direito Societário –Volume I, Editora Atlas, São Paulo,
2008, p. 596
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Contudo, surgiram novos questionamentos quanto a possibilidade de se utilizar para a
geração compartilhada os consórcios instituídos pela Lei n°11.795/2008.
Pois bem, a Lei nº 11.795/2008 dispõe, em seu art. 1º, sobre o Sistema de Consórcios,
como o instrumento de progresso social que se destina a propiciar o acesso ao consumo de
bens e serviços, constituído por administradoras de consórcio e grupos de consórcios.
O art. 2° define consórcio como “a reunião de pessoas naturais e jurídica em grupo,
com prazo de duração e número de cotas previamente determinados, promovida por
administradora de consórcio, com a finalidade de propiciar a seus integrantes, de forma
isonômica, a aquisição de bens e serviços, por meio de autofinanciamento”.
Ou seja, de acordo com o disposto no art. 2º acima citado, percebe-se que no consórcio
de bens existem dois sujeitos: o grupo de consórcio e a administradora de consórcio.
Já o art. 3º preceitua que o grupo de consórcio é formado pelos consorciados, para a
aquisição de bens ou serviços, por meio de autofinanciamento, e não possui personalidade
jurídica. Dessa forma, quem o representa é a administradora do consórcio, ativa ou
passivamente, em juízo ou fora dele, na defesa dos seus interesses e para a execução do
contrato de participação em grupo de consórcio
Quanto a natureza jurídica do grupo de consórcio Felipe Fernandes Ribeiro Maia 25
explica:
A natureza do grupo é outra: é uma massa despersonalizada -associação de
fato. Com efeito, se os consorciados não são reunidos com o fim de exercerem
atividade econômica no intuito de dividir resultados, porém, para se
coordenarem em uma atividade sem fins lucrativos, tem-se presente o elemento
caracterizador da pessoa jurídica associação: a reunião de pessoas com fins
não lucrativos.É uma associação de fato porque não levada a registro e
constituída como pessoa jurídica. Somente será de direito (e, portanto, terá
personalidade jurídica) quando tiver seu ato constitutivo registrado no órgão
competente, ou seja, o estatuto social registrado no Cartório de Registro de
Pessoas Jurídicas (art. 45 do CC/2002 c/c o art. 4.° da Lei 6.015/1973), o que
não acontece com o grupo de consorciados.O grupo é, assim, uma massa
25
MALA, Felipe Fernandes Ribeiro Maia. O sistema de consórcio financeiro na lei 11.795/2008.Revista de Direito
Bancário e do Mercado de Capitais, vol. 47, p. 66, Jan /2010.
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destituída de personalidade jurídicauma mera comunhão de interesses e
direitos. Por não se tratar de reunião com finalidade de lucro, não pode ser
uma sociedade, mas, somente, uma associação (de fato).

Questionada sobre a possibilidade de utilizar a formatação da Lei nº 11.795/2008 para


geração compartilhada a Procuradoria Federal junto à ANEEL, respondeu de acordo com o
Parecer n. 00113/2017/PFANEEL/PGF/AGU26 que em que pese a natureza do grupo de
consórcio27 ser uma massa despersonalizada, afirmou-se a necessidade de que o “consórcio”
possua personalidade jurídica, sendo portanto a gestora – administradora do grupo de
consórcio (pessoa jurídica) a representante legal:

20. Ora, de acordo com o que foi dito anteriormente, somente a


administradora dos grupos de consórcio, como sociedade empresária,
devidamente constituída, e que possui personalidade jurídica é que poderá
representar o grupo dos consorciados (entidade desprovida de personalidade
jurídica).
21. Existe um ente dotado de personalidade jurídica, a administradora do
consórcio, pessoa jurídica prestadora de serviços com objeto social principal
voltado à administração de grupos de consórcio, constituída sob a forma de
sociedade limitada ou sociedade anônima.
22. (…)

26
Parecer n. 00113/2017/PFANEEL/PGF/AGU.
http://www.aneel.gov.br/documents/656827/15234696/PARECER_00113-2017-PFANEEL-PGF-AGU/
afc7ab11-3524-a5be-a287-e75bc5d21906 . Acesso em 28/01/2021

27 o
Art. 1 O Sistema de Consórcios, instrumento de progresso social que se destina a propiciar o acesso ao consumo de bens
o
e serviços, constituído por administradoras de consórcio e grupos de consórcio, será regulado por esta Lei. Art. 2
Consórcio é a reunião de pessoas naturais e jurídicas em grupo, com prazo de duração e número de cotas previamente
determinados, promovida por administradora de consórcio, com a finalidade de propiciar a seus integrantes, de forma
o
isonômica, a aquisição de bens ou serviços, por meio de autofinanciamento. Art. 3 Grupo de consórcio é uma sociedade
o
não personificada constituída por consorciados para os fins estabelecidos no art. 2 . Acesso em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11795.htm
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25. Face o exposto, entendo que:a) o consórcio previsto na Lei n. 11.795/2008
é composto pelo grupo de consórcio (ente sem personalidade jurídica e com
prazo determinado) e pela administradora do consórcio (sociedade
empresária, portadora de personalidade jurídica, responsável pela
constituição, organização e administração dos grupos de consorciados e
gestão dos recursos dos consorciados);b) a fim de avaliar se o tipo de
consórcio previsto na Lei n. 11.795/2008 enquadra-se na Resolução
Normativa ANEEL n. 482/2012 para fins de geração compartilhada, cabe à
área técnica, em cada caso, analisar se este tipo legal permite a utilização dos
créditos de energia gerados entre os integrantes do consórcio conforme
indicado à distribuidora.

Concluí-se que, tanto para os consórcios estabelecidos na Lei das S.A. ou na Lei nº
11.795/2008, quando um empreendimento de geração é atribuído a um consórcio, seus
integrantes passam a responder diretamente e de forma solidária (§6º, do art. 4, da RN
842/12), ou seja, todos os consorciados respondem pela integralidade das obrigações
decorrentes do contrato. Devendo ainda observar o disposto na Instrução Normativa da
Receita Federal do Brasil nº 1.634/2016, art. 4º, para fins de inscrição no CNPJ.
Já no caso das cooperativas, a validação das regras da constituição está presente nos
artigos 1.093 a 1.096 do Código Civil e a Lei nº 5.764/71, sendo necessário, portanto, pessoas
Físicas e Pessoas Jurídicas, constituição em Assembleia, admissibilidade de membros através
de Termo de Adesão, Princípios Cooperativistas: -Adesão Livre e Voluntária, -Gestão
Democrática, -Participação Econômica, -Autonomia e Independência.
Nos dizeres de Gina Copola28, “as cooperativas podem ser singelamente conceituadas
como sociedades de pessoas, que visam a objetivo comum, sem fins lucrativos, e realizam
atividades econômicas, que,porém, não se referem a operações de comércio, porque não
objetivam lucro, mas, sim, a consecução de interesses comuns de seus sócios.”

28
COPOLA, Gina. A participação das cooperativas em licitações: o direito de preferência previsto pela Lei Federal nº 11.488,
de 15 de junho de 2007. Fórum de Contratação e Gestão Pública – FCGP, Belo Horizonte, a n o 6 , n . 68, ago. 2007 . citado
em: http://www.consultaesic.cgu.gov.br/busca/dados/Lists/Pedido/Attachments/1339468/PEDIDO_Parecer%20n
%20004332016-PFANEEL-PGF-AGU.pdf
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De acordo com Meyer 29, celebram contrato de sociedade cooperativa as pessoas que
reciprocamente se obrigam a contribuir com bens ou serviços para o exercício de uma
atividade econômica, de proveito comum, sem objetivo de lucro.
As cooperativas são sociedades de no mínimo 20 pessoas físicas com forma e natureza
jurídica próprias, de natureza civil, não sujeitas a falência, constituídas para prestar serviços
aos associados, distinguindo-se das demais sociedades por dentre outras características:

Adesão voluntária, com número ilimitado de associados, salvo impossibilidade técnica


de prestação de serviços; Variabilidade do capital social representado por quotas-
partes; •Limitação do número de quotas-partes do capital para cada associado,
facultado, porém, o estabelecimento de critérios de proporcionalidade, se assim for
mais adequado para o cumprimento dos objetivos sociais; •Inacessibilidade das
quotas-partes do capital a terceiros, estranhosà sociedade; 30

De acordo com os arts. 3º e 4º da Lei 5.764/1971, as cooperativas são sociedades de


pessoas que celebram contrato de sociedade cooperativa e, reciprocamente, se obrigam a
contribuir com bens ou serviços para o exercício de uma atividade econômica (visa à criação
ou aumento de riquezas), de proveito comum, sem objetivo de lucro (não há lucro a ser
dividido entre os cooperados ou pelo menos não é o intuito principal), com forma e natureza
jurídica próprias, de natureza civil, não sujeitas à falência, constituídas para prestar serviços
aos associados.
De acordo com Sanches31, o objetivo dos cooperados não é o lucro a ser repartido, mas
a redução dos custos dos bens ou serviços que interessam aos sócios:
Os cooperados são ao mesmo tempo sócios e usuários dos serviços da
cooperativa. No primeiro caso, têm o poder de se manifestar, votar e
fiscalizar; no segundo caso, se beneficiam da estrutura da cooperativa,

29
MEYER, M. Aspectos regulatórios contratos em geração distribuída. EXPO Solar 2018. Anais...São Paulo:
2018Disponível em: <http://www.exposolarbrasil.com.br/ppt/MARINA MEYER FALCÃO -KRAG BRASIL.pdf>
30
Idem,.
31
Sanchez, Alessandro. Direito empresarial: sistematizado. / Alessandro Sanchez. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo:
MÉTODO, 2018
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prestando serviço aos sócios a preços menores em um ambiente de trabalho
com condições convenientes.

De acordo com as lições de Arnaldo Rizzardo 32, tendo em vista que as cooperativas
são enquadradas como sociedades simples, o seu registro deve ser feito perante o Cartório de
Registro Civil das Pessoas Jurídicas, o que não afasta o registro na Junta Comercial,
especialmente no que diz respeito às cooperativas que exercem atividade empresarial, nos
termos do § 6º, do art. 18 da Lei n. 5.764/71.
Assim, para fins de geração compartilhada o inciso VII do art. 2º da Resolução
Normativa nº 482/12 estabelece a necessidade de constituição de cooperativa ou consorcio,
contudo, não especifica o tipo de consórcio ou cooperativa a ser constituído pela reunião de
consumidores, dentro da mesma área de concessão ou permissão, que possua unidade
consumidora com microgeração ou minigeração distribuída em local diferente das unidades
consumidoras nas quais a energia excedente será compensada.
Entretanto, a formação de um consórcio ou cooperativa tem como finalidade permitir a
divisão entre os consorciados e cooperados dos créditos de energia gerados, de modo que, não
há uma forma precisa, pré-definida de qual tipo de cooperativa ou consórcio que devem ser
adotados pelos interessados em adotar a geração compartilhar.
No caso, o que deve ser ressaltado é que a forma elegida pelo consórcio ou cooperativa
possibilite a utilização dos créditos de energia gerados entre os integrantes do consórcio ou da
cooperativa conforme indicado à distribuidora de energia elétrica.
Por fim, com a inscrição no CNPJ tanto para o consórcio quanto para cooperativas
possibilita a criação de parcerias com empresas que queiram investir em instalação de
microgeração ou minigeração distribuída.
Com a possibilidade de criação de parcerias, haverá a disseminação e ampliação de
modelos de negócios de geração distribuída, auxiliando assim atingir as metas do acordo de
Paris aumentando as a implantação de energias renováveis a partir da geração distribuída.

32
Rizzardo, Arnaldo. Direito de Empresa. 4ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2012. p. 777

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4. Conclusão

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5. Referências

1. BRAGA. Rodrigo Bernardes.Manual de Direito de Energia, Belo Horizonte, Editora D


´Placito,2016
2. DAVID, Solange. A Tríade Energia Elétrica, Desenvolvimento Sustentável e
Tecnologia – Bases e Desafios para uma Regulação Evolutiva no Brasil”. Tese
Doutorado, disponível Biblioteca USP, http://www.teses.usp.br/teses/
disponiveis/3/3143/tde-04092018-132826/pt-br.php
3. DAVID, Solange. Geração de energia elétrica no Brasil: uma visão legal-regulatória
sobre riscos para o desenvolvimento da atividade e mecanismos de incentivo
estabelecidos pelo poder público. Dissertação Mestrado, disponível Biblioteca USP,
http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/3/3143/tde-19112013-102914/pt-br.php;
4. GANIN, Antonio, Setor Elétrico Brasileiro – aspectos regulamentares, tributário e
contábeis, Brasília, Canal Energia, Synergia, 2009;
5. Marlon Tomazette. Curso de Direito Empresarial. Teoria Geral do Direito Societário –
Volume I, Editora Atlas, São Paulo, 2008
6. MALA, Felipe Fernandes Ribeiro Maia. O sistema de consórcio financeiro na lei
11.795/2008.Revista de Direito Bancário e do Mercado de Capitais, vol. 47, Jan /2010.
7. MEYER, M. Aspectos regulatórios contratos em geração distribuída. EXPO Solar 2018.
Anais. São Paulo: 2018. Disponível em: http://www.exposolarbrasil.com.br/ppt/MARINA
MEYER FALCÃO -KRAG BRASIL.pdf
8. Rizzardo, Arnaldo. Direito de Empresa. 4ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2012.
9. ROCHA, Fábio Amorim da (coord.). Temas relevantes no direito de energia elétrica.
Synergia - vols. 1 a 7;
10. ROLIN, Maria João C. Pereira. Reconciling
Energy,theEnvironmentandSustainableDevelopment. The Role of Law andRegulation.
Woltes Kluwer.2019.

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11. TOLMASQUIM, Maurício Tiomno. Novo modelo do setor elétrico brasileiro.Synergia,
2015;
12. VIANA, Alexandre G. Leilões como mecanismo alocativo para um novo desenho de
mercado deenergia elétrica no Brasil. Tese Doutorado, disponível Biblioteca
USP,http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/3/3143/tde-06042018-082743/pt-br.php
13. VIVIAN, Alexei Marcolin: Silveira, Rodrigo Maito da (Org.). Direito e Energia – São
Paulo: QuatierLatin, 2014;
14. VENOSA, Sílvio de Salvo Direito Empresarial / Sílvio de Salvo Venosa, Cláudia
Rodrigues. – 9. ed. – São Paulo: Atlas, 2019
15. SANCHEZ, Alessandro Direito empresarial: sistematizado. / Alessandro Sanchez. –
Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2018.

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