No livro “1984” de George Orwell,é retratado um futuro distópico em que
um Estado totalitário analisa e altera fatos históricos com o intuito de moldar a opinião pública a favor do Partido.Nessa perspectiva,infere-se que através da intervenção em narrativas históricas, o poder exerce o controle do comportamento social.Diante disso,torna-se fundamental a discussão dos principais aspectos que acarretam nesse cenário.
Em primeiro lugar,é relevante abordar a intrínseca relação entre o
revisionismo histórico e a manipulação do senso crítico do indivíduo.Isso ocorre porque o controle da narrativa do passado está,vigorosamente, vinculado com o fortalecimento de ideologias que foram criadas para reger o pensamento da população em prol de interesses políticos.Nesse viés,percebe-se que a disseminação de discursos os quais alteram os fatos históricos gera um ambiente de dominação comportamental e ideológica. Esse panorama reforça a premissa do sociólogo francês Michel Foucault a qual definiu através da idéia de “dispositivos de controle” que a era moderna é definida por meio da persuasão que tem como objetivo domesticar o comportamento humano.Dessa forma,as narrativas históricas passam a ser mecanismos de manipulação e tornam-se reflexos da sociedade contemporânea,na qual as relações de lucro e interesse predominam.
Além disso, vale-se salientar que a padronização do pensamento da
coletividade configura-se como uma das decorrências da influência do poder nas narrativas históricas .De acordo com o conceito de “Mortificação do Eu”,do sociólogo Erving Goffman,a ação de fatores coercitivos faz com que o cidadão perca seu pensamento individual e junte-se a uma massa coletiva. Nessa lógica,evidencia-se que a difusão em massa da narrativa histórica criada pelo poder acarreta na uniformização da visão coletiva e por conseguinte, ocasiona a extinção da pluralidade de pensamentos.Sob esse viés,nota-se que a alteração de fatos históricos pelo poder infringe a autonomia intelectual do indivíduo e gera um ambiente provido pela alienação e submissão comportamental.
Torna-se claro,portanto,que a interferência do poder nas narrativas
históricas atua,fortemente, na coerção da conduta do indivíduo.Nesse viés,evidencia-se que tal cenário ocasiona a manipulação ideológica e dificulta o exercício da convivência com a diferença,o que reforça ações intransigentes,como a discriminação.Resta saber se,tornar-se-ia possível expor a população a uma narrativa histórica livre de interesses políticos e ideológicos e garantir que o quadro apresentado por Orwell transforme- se,finalmente,em ficcional.