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arminianismo:
um guia teológico
Kenneth G. Talbot e W. Gary Crampton
Calvinismo, hipercalvinismo e arminianismo é uma expressão da fé
reformada em linguagem não técnica. Os Drs. Talbot e Crampton
deram à igreja um livro que estabelecerá o pensamento dos novos
estudantes de teologia reformada e desafiará os arminianos de
forma bíblica. Recomendo o livro a pastores, estudantes e leigos
que defendem as doutrinas da graça, bem como a quem busca a
verdade.
— Dr. Loraine Boettner
Escritor e teólogo
Este é sem dúvida o livro introdutório mais importante que você lerá
a respeito do calvinismo, hipercalvinismo e arminianismo. Os Drs.
Talbot e Crampton deram à igreja uma exposição clara e concisa
sobre o entendimento bíblico da salvação. O livro é perfeito para
salas de aula ou para estudo pessoal. Eu o recomendo a pastores,
estudantes e leigos.
— Jerry Johnson, M. Phil.
Diretor executivo de The Apologetics Group
■
Todos os direitos em língua portuguesa reservados por
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SCRN 712/713, Bloco B, Loja 28 — Ed. Francisco Morato Brasília, DF, Brasil — CEP
70.760-620
www.editoramonergismo.com.br
1ª edição, 2020
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto
Revisão: Rogério Portella
P ,
, .
Phyllis Talbot
&
Ann Crampton
P :
1. Quão importante é para a igreja disputar sobre questões
doutrinárias?
2. Por que os cristãos devem sempre ser honestos na análise e
apresentação da doutrina a partir de diferentes pontos de vista?
3. Qual é o padrão para determinar se uma doutrina é bíblica ou
não?
4. O que você pensa que o Dr. Loraine Boettner quer dizer quando
declara não existir o meio-termo entre o calvinismo e o ateísmo?
2. A soberania de Deus
T E :
Deus é soberano em todas as coisas, incluindo a salvação
“Pelo que Davi louvou ao S perante a congregação toda e
disse: Bendito és tu, S , Deus de Israel, nosso pai, de
eternidade em eternidade. Teu, S , é o poder, a grandeza, a
honra, a vitória e a majestade; porque teu é tudo quanto há nos
céus e na terra; teu, S , é o reino, e tu te exaltaste por chefe
sobre todos. Riquezas e glória vêm de ti, tu dominas sobre tudo, na
tua mão há força e poder; contigo está o engrandecer e a tudo dar
força.” (1Cr 29.10-12) “Assim, abençoou o S o último estado
de Jó mais do que o primeiro; porque veio a ter catorze mil ovelhas,
seis mil camelos, mil juntas de bois e mil jumentas.” (Jó 42.12) “No
céu está o nosso Deus e tudo faz como lhe agrada.” (Sl 115.3)
“Jurou o S dos Exércitos, dizendo: Como pensei, assim
sucederá, e, como determinei, assim se efetuará. Quebrantarei a
Assíria na minha terra e nas minhas montanhas a pisarei, para que
o seu jugo se aparte de Israel, e a sua carga se desvie dos ombros
dele. Este é o desígnio que se formou concernente a toda a terra; e
esta é a mão que está estendida sobre todas as nações. Porque o
S dos Exércitos o determinou; quem, pois, o invalidará? A
sua mão está estendida; quem, pois, a fará voltar atrás?” (Is 14.24-
27) “Lembrai-vos das coisas passadas da antiguidade: que eu sou
Deus, e não há outro, eu sou Deus, e não há outro semelhante a
mim; que desde o princípio anuncio o que há de acontecer e desde
a antiguidade, as coisas que ainda não sucederam; que digo: o meu
conselho permanecerá de pé, farei toda a minha vontade; que
chamo a ave de rapina desde o Oriente e de uma terra longínqua, o
homem do meu conselho. Eu o disse, eu também o cumprirei; tomei
este propósito, também o executarei.” (Is 46.9-11) “Assim será a
palavra que sair da minha boca: não voltará para mim vazia, mas
fará o que me apraz e prosperará naquilo para que a designei.” (Is
55.11) “Mas ao fim daqueles dias, eu, Nabucodonosor, levantei os
olhos ao céu, tornou-me a vir o entendimento, e eu bendisse o
Altíssimo, e louvei, e glorifiquei ao que vive para sempre, cujo
domínio é sempiterno, e cujo reino é de geração em geração. Todos
os moradores da terra são por ele reputados em nada; e, segundo a
sua vontade, ele opera com o exército do céu e os moradores da
terra; não há quem lhe possa deter a mão, nem lhe dizer: Que
fazes? Tão logo me tornou a vir o entendimento, também, para a
dignidade do meu reino, tornou-me a vir a minha majestade e o meu
resplendor; buscaram-me os meus conselheiros e os meus grandes;
fui restabelecido no meu reino, e a mim se me ajuntou extraordinária
grandeza.” (Dn 4.34-36) “Jesus, fitando neles o olhar, disselhes: Isto
é impossível aos homens, mas para Deus tudo é possível.” (Mt
19.26)
P :
1. O que se quiser dizer com a expressão “soberania de Deus”?
2. Deus é dependente do homem para algo? Explique.
3. O que significa a “santidade” de Deus?
4. O que se quer dizer com a expressão “Deus é a primeira causa
de todas as coisas”?
5. Quais são as 11 áreas listadas neste capítulo que declaram a
soberania divina sobre toda a criação?
6. Por que é importante entendermos a imutabilidade de Deus?
7. Quais são os seis princípios dos decretos soberanos de Deus
discutidos no capítulo e por que eles são importantes?
8. De todas as doutrinas ensinadas na teologia calvinista, qual é a
mais básica?
3. O homem e a desgraça do pecado
T E :
T E :
Deus tem um povo eleito
“Eis que os céus e os céus dos céus são do S , teu Deus, a
terra e tudo o que nela há. Tão somente o S se afeiçoou a
teus pais para os amar; a vós outros, descendentes deles, escolheu
de todos os povos, como hoje se vê.” (Dt 10.14,15) “Feliz a nação
cujo Deus é o S , e o povo que ele escolheu para sua
herança.” (Sl 33.12) “Bem-aventurado aquele a quem escolhes e
aproximas de ti, para que assista nos teus átrios; ficaremos
satisfeitos com a bondade de tua casa — o teu santo templo.” (Sl
65.4) “Tudo me foi entregue por meu Pai. Ninguém conhece o Filho,
senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a
quem o Filho o quiser revelar.” (Mt 11.27) “Porque muitos são
chamados, mas poucos, escolhidos.” (Mt 22.14)
“Não fará Deus justiça aos seus escolhidos, que a ele clamam dia e
noite, embora pareça demorado em defendê-los?” (Lc 18.7)
“Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que
amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu
propósito. Porquanto aos que de antemão conheceu, também os
predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de
que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que
predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses
também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou.”
(Rm 8.28-30) “Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus?
É Deus quem os justifica.” (Rm 8.33)
“Paulo, servo de Deus e apóstolo de Jesus Cristo, para promover a
fé que é dos eleitos de Deus e o pleno conhecimento da verdade
segundo a piedade.” (Tt 1.1) “A eles foi revelado que, não para si
mesmos, mas para vós outros, ministravam as coisas que, agora,
vos foram anunciadas por aqueles que, pelo Espírito Santo enviado
do céu, vos pregaram o evangelho, coisas essas que anjos anelam
perscrutar.” (1Pe 1.12)
É Deus quem escolhe os indivíduos para a salvação pela graça
“Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos
escolhi a vós outros e vos designei para que vades e deis fruto, e o
vosso fruto permaneça; a fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai
em meu nome, ele vo-lo conceda.” (Jo 15.16) “Querendo ele
percorrer a Acaia, animaram-no os irmãos e escreveram aos
discípulos para o receberem. Tendo chegado, auxiliou muito aqueles
que, mediante a graça, haviam crido.” (At 18.27) “E não ela
somente, mas também Rebeca, ao conceber de um só, Isaque,
nosso pai. E ainda não eram os gêmeos nascidos, nem tinham
praticado o bem ou o mal (para que o propósito de Deus, quanto à
eleição, prevalecesse, não por obras, mas por aquele que chama),
já fora dito a ela: O mais velho será servo do mais moço. Como está
escrito: Amei Jacó, porém me aborreci de Esaú. Que diremos, pois?
Há injustiça da parte de Deus? De modo nenhum! Pois ele diz a
Moisés: Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia e
compadecer-me-ei de quem me aprouver ter compaixão. Assim,
pois, não depende de quem quer ou de quem corre, mas de usar
Deus a sua misericórdia. Porque a Escritura diz a Faraó: Para isto
mesmo te levantei, para mostrar em ti o meu poder e para que o
meu nome seja anunciado por toda a terra. Logo, tem ele
misericórdia de quem quer e também endurece a quem lhe apraz.
Tu, porém, me dirás: De que se queixa ele ainda? Pois quem jamais
resistiu à sua vontade? Quem és tu, ó homem, para discutires com
Deus?! Porventura, pode o objeto perguntar a quem o fez: Por que
me fizeste assim? Ou não tem o oleiro direito sobre a massa, para
do mesmo barro fazer um vaso para honra e outro, para desonra?
Que diremos, pois, se Deus, querendo mostrar a sua ira e dar a
conhecer o seu poder, suportou com muita longanimidade os vasos
de ira, preparados para a perdição, a fim de que também desse a
conhecer as riquezas da sua glória em vasos de misericórdia, que
para glória preparou de antemão, os quais somos nós, a quem
também chamou, não só dentre os judeus, mas também dentre os
gentios?.” (Rm 9.10-24) “Nos predestinou para ele, para a adoção
de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua
vontade.” (Ef 1.5) “Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus
para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que
andássemos nelas.” (Ef 2.10) “Porque vos foi concedida a graça de
padecerdes por Cristo e não somente de crerdes nele.” (Fp 1.29)
“Entretanto, devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos
amados pelo Senhor, porque Deus vos escolheu desde o princípio
para a salvação, pela santificação do Espírito e fé na verdade, para
o que também vos chamou mediante o nosso evangelho, para
alcançardes a glória de nosso Senhor Jesus Cristo.” (2Ts 2.13,14)
P :
1. Qual é a diferença entre a visão arminiana e calvinista da eleição
divina?
2. Eleição é salvação? Explique.
3. A eleição ocorre de acordo com a presciência ou previsão? O que
a Bíblia ensina e qual é a diferença entre essas duas visões?
4. O que se quer dizer com o termo “presciência”?
5. A expiação realizada por Jesus
T E :
Cristo morreu pelos pecados de seu povo — não pelos pecados
de todas as pessoas no mundo
“Ela dará à luz um filho e lhe porás o nome de Jesus, porque ele
salvará o seu povo dos pecados deles.” (Mt 1.21)
“Tal como o Filho do Homem, que não veio para ser servido, mas
para servir e dar a sua vida em resgate por muitos.” (Mt 20.28)
“Rodearam-no, pois, os judeus e o interpelaram: Até quando nos
deixarás a mente em suspenso? Se tu és o Cristo, dize-o
francamente. Respondeu-lhes Jesus: Já vo-lo disse, e não credes.
As obras que eu faço em nome de meu Pai testificam a meu
respeito. Mas vós não credes, porque não sois das minhas ovelhas.
As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me
seguem. Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as
arrebatará da minha mão. Aquilo que meu Pai me deu é maior do
que tudo; e da mão do Pai ninguém pode arrebatar.” (Jo 10.24-29)
“Nem considerais que vos convém que morra um só homem pelo
povo e que não venha a perecer toda a nação. Ora, ele não disse
isto de si mesmo; mas, sendo sumo sacerdote naquele ano,
profetizou que Jesus estava para morrer pela nação e não somente
pela nação, mas também para reunir em um só corpo os filhos de
Deus, que andam dispersos. Desde aquele dia, resolveram matá-lo.”
(Jo 11.50-53) “Tendo Jesus falado estas coisas, levantou os olhos
ao céu e disse: Pai, é chegada a hora; glorifica a teu Filho, para que
o Filho te glorifique a ti, assim como lhe conferiste autoridade sobre
toda a carne, a fim de que ele conceda a vida eterna a todos os que
lhe deste. E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único
Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste. Eu te glorifiquei
na terra, consumando a obra que me confiaste para fazer; e, agora,
glorifica-me, ó Pai, contigo mesmo, com a glória que eu tive junto de
ti, antes que houvesse mundo. Manifestei o teu nome aos homens
que me deste do mundo. Eram teus, tu mos confiaste, e eles têm
guardado a tua palavra. Agora, eles reconhecem que todas as
coisas que me tens dado provêm de ti; porque eu lhes tenho
transmitido as palavras que me deste, e eles as receberam, e
verdadeiramente conheceram que saí de ti, e creram que tu me
enviaste. É por eles que eu rogo; não rogo pelo mundo, mas por
aqueles que me deste, porque são teus; ora, todas as minhas coisas
são tuas, e as tuas coisas são minhas; e, neles, eu sou glorificado.
Já não estou no mundo, mas eles continuam no mundo, ao passo
que eu vou para junto de ti. Pai santo, guarda-os em teu nome, que
me deste, para que eles sejam um, assim como nós.” (Jo 17.1-11)
“Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo
vos constituiu bispos, para pastoreardes a igreja de Deus, a qual ele
comprou com o seu próprio sangue.” (At 20.28) “Bendito o Deus e
Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com
toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo,
assim como nos escolheu, nele, antes da fundação do mundo, para
sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor nos
predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus
Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade, para louvor da glória
de sua graça, que ele nos concedeu gratuitamente no Amado, no
qual temos a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados,
segundo a riqueza da sua graça, que Deus derramou
abundantemente sobre nós em toda a sabedoria e prudência,
desvendando-nos o mistério da sua vontade, segundo o seu
beneplácito que propusera em Cristo, de fazer convergir nele, na
dispensação da plenitude dos tempos, todas as coisas, tanto as do
céu como as da terra; nele, digo, no qual fomos também feitos
herança, predestinados segundo o propósito daquele que faz todas
as coisas conforme o conselho da sua vontade, a fim de sermos
para louvor da sua glória, nós, os que de antemão esperamos em
Cristo.” (Ef 1.3-12) “Maridos, amai vossa mulher, como também
Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela, para que a
santificasse, tendo-a purificado por meio da lavagem de água pela
palavra, para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula,
nem ruga, nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito.” (Ef
5.25-27) “Por isso mesmo, ele é o Mediador da nova aliança, a fim
de que, intervindo a morte para remissão das transgressões que
havia sob a primeira aliança, recebam a promessa da eterna
herança aqueles que têm sido chamados.” (Hb 9.15) “Assim
também Cristo, tendo-se oferecido uma vez para sempre para tirar
os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos
que o aguardam para a salvação.” (Hb 9.28) “E entoavam novo
cântico, dizendo: Digno és de tomar o livro e de abrir-lhe os selos,
porque foste morto e com o teu sangue compraste para Deus os
que procedem de toda tribo, língua, povo e nação.” (Ap 5.9)
P :
1. O que o calvinismo ensina sobre a suficiência da expiação
realizada por Jesus?
2. Como a expiação realizada por Jesus é eficiente?
3. Cristo morreu por todos os pecados de todos os homens?
4. Qual é o dilema que envolve os arminianos com respeito à
expiação universal?
5. Como a “doutrina da expiação” é afetada pela “doutrina da
justificação”?
6. Qual é a doutrina da apropriação?
6. Chamando os homens a Cristo
T E :
A salvação é operada no pecador pela obra de Deus Espírito
Santo, não pelo homem.
“O S , teu Deus, circuncidará o teu coração e o coração de tua
descendência, para amares o S , teu Deus, de todo o coração
e de toda a tua alma, para que vivas.” (Dt 30.6) “Dar-vos-ei coração
novo e porei dentro de vós espírito novo; tirarei de vós o coração de
pedra e vos darei coração de carne. Porei dentro de vós o meu
Espírito e farei que andeis nos meus estatutos, guardeis os meus
juízos e os observeis.” (Ez 36.26,27) “Dar-lhes-ei um só coração,
espírito novo porei dentro deles; tirarei da sua carne o coração de
pedra e lhes darei coração de carne.” (Ez 11.19) “Por aquele tempo,
exclamou Jesus: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra,
porque ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos e as revelaste
aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque assim foi do teu agrado. Tudo
me foi entregue por meu Pai. Ninguém conhece o Filho, senão o
Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o
Filho o quiser revelar.” (Mt 11.25-27) “Mas vós, continuou ele, quem
dizeis que eu sou? Respondendo Simão Pedro, disse: Tu és o
Cristo, o Filho do Deus vivo. Então, Jesus lhe afirmou: Bem-
aventurado és, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue que
to revelaram, mas meu Pai, que está nos céus.” (Mt 16.15-17)
“Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer; e
eu o ressuscitarei no último dia. Está escrito nos profetas: E serão
todos ensinados por Deus. Portanto, todo aquele que da parte do
Pai tem ouvido e aprendido, esse vem a mim.” (Jo 6.44,45)
“Contudo, há descrentes entre vós. Pois Jesus sabia, desde o
princípio, quais eram os que não criam e quem o havia de trair. E
prosseguiu: Por causa disto, é que vos tenho dito: ninguém poderá
vir a mim, se, pelo Pai, não lhe for concedido.” (Jo 6.64,65) “Mas, a
todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos
de Deus, a saber, aos que creem no seu nome; os quais não
nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do
homem, mas de Deus.” (Jo 1.12,13) “A isto, respondeu Jesus: Em
verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo,
não pode ver o reino de Deus. Perguntou-lhe Nicodemos: Como
pode um homem nascer, sendo velho? Pode, porventura, voltar ao
ventre materno e nascer segunda vez? Respondeu Jesus: Em
verdade, em verdade te digo: quem não nascer da água e do
Espírito não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da
carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito. Não te
admires de eu te dizer: importa-vos nascer de novo. O vento sopra
onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para
onde vai; assim é todo o que é nascido do Espírito.” (Jo 3.3-8) “Não
por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo sua
misericórdia, ele nos salvou mediante o lavar regenerador e
renovador do Espírito Santo.” (Tt 3.5)
P :
1. O homem é capaz de resistir ao poder regenerador do Espírito
Santo? Explique.
2. Por que as igrejas reformadas não fazem “apelos” no
evangelismo?
3. O que é o chamado externo do evangelho?
4. O que se quer dizer com a expressão chamado eficaz do
evangelho?
5. O que vem primeiro: a regeneração ou a fé? Explique.
7. Perseverança, ou uma vez salvo sempre
salvo?
É possível para a pessoa salva pela graça cair da graça? O
arminianismo responde de forma positiva, o calvinismo de modo
negativo. De acordo com a teologia arminiana, a salvação decorre
dos esforços combinados de Deus e do homem. Deus toma a
iniciativa, mas o homem deve responder. A resposta é o fator
determinante na salvação. Como o homem determinou, por si
mesmo, vir a Cristo, então ele pode também, de forma deliberada,
afastar-se de Cristo e cair da graça.
De acordo com a teologia reformada e calvinista, o Deus triúno é o
único Autor da salvação — do princípio ao fim. Dessa forma, uma
vez que alguém tenha de fato nascido de novo, essa pessoa jamais
poderá cair da graça: o poder de Deus a guarda até o fim. Lê-se na
Confissão de fé de Westminster: Os que Deus aceitou no seu Bem-
amado, chamou eficazmente e santificou pelo seu Espírito, não
podem decair do estado de graça, nem total, nem finalmente, mas,
com toda a certeza, hão de perseverar nesse estado até o fim, e
serão eternamente salvos.
Essa perseverança dos santos não depende do livre-arbítrio
deles, mas da imutabilidade do decreto da eleição, procedente
do livre e imutável amor de Deus Pai, da eficácia do mérito e
intercessão de Jesus Cristo, da permanência do Espírito e da
semente de Deus neles, e da natureza do pacto da graça; de
todas essas coisas vêm a sua certeza e infalibilidade.
Eles, porém, pelas tentações de Satanás e do mundo, pela força
da corrupção neles restante e pela negligência dos meios de
preservação, podem cair em graves pecados e, por algum
tempo, continuar neles; incorrem, assim, no desagrado de Deus,
entristecem o seu Santo Espírito e, de algum modo, vêm a ser
privados das suas graças e confortos; têm o seu coração
endurecido e a sua consciência ferida; prejudicam e
escandalizam os outros e atraem para si juízos temporais.[22] (V.
tb.: Confissão de fé de Londres (batista), 1689, Cap. 17, Seções
1-3).
A Confissão de Westminster afirma que os crentes são guardados
na fé pelo poder do Deus triúno; todavia, eles são responsáveis em
perseverar. O cristianismo não é fatalista. O homem não é um robô;
antes, ele é portador da imagem do Deus altíssimo. O homem deve
perseverar, mas em todo o momento ele deve reconhecer que a
graça divina o preserva até o fim. Em Filipenses 1.6, Paulo
escreveu: “Estou plenamente certo de que aquele que começou boa
obra em vós há de completá-la até ao Dia de Cristo Jesus”. Adiante,
em 2.12b,13, ele declarou: “Desenvolvei a vossa salvação com
temor e tremor; porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer
como o realizar, segundo a sua boa vontade”. E em Salmos 37.28,
lemos: “O S [...] não desampara os seus santos; serão
preservados para sempre”.
Em João 10.27-29, o Senhor Jesus declarou: “As minhas ovelhas
ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem. Eu lhes dou
a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as arrebatará da minha
mão. Aquilo que meu Pai me deu é maior do que tudo; e da mão do
Pai ninguém pode arrebatar”. Observe que é Cristo quem dá às
ovelhas (crentes) a vida eterna, e é o Pai e o Filho que prometem às
ovelhas que elas nunca perecerão; a vida eterna é delas em Cristo
(v. 28,29). Todavia, o crente é responsável por ouvir a Palavra de
Cristo e ser obediente a ele (v. 27).
A Confissão de Westminster também diz que a doutrina da
perseverança não significa que os verdadeiros crentes não sofrerão
provas e tribulação. Nem significa que os santos não cairão algumas
vezes em pecados sérios. Esses pecados, deve-se acrescentar,
trarão o juízo temporário divino. Mas os verdadeiros cristãos
acabarão voltando-se para Deus e tendo a comunhão com ele
restaurada. O Rei Davi é um exemplo dessa verdade.
Davi era um homem segundo o coração de Deus (At 13.22).
Todavia, ele caiu em profundo pecado com Bate-Seba — a mulher
de Urias, o hitita (2Sm 11). Quando o rei foi confrontado pelo pecado
por Natã, o profeta, ele se arrependeu e recebeu o perdão divino
(2Sm 12.13). Contudo, ele ainda teve que experimentar os juízos
temporários como consequência dos pecados. O texto de 2 Samuel
12.14-20.26 é o comentário divino sobre esse fato.
Outra forte razão para aderir à doutrina da perseverança dos santos
é a doutrina da adoção — decorrente dessa. A Bíblia ensina que
quem veio a Cristo e foi justificado também foi adotado e participa
de numa relação filial com o Pai. Essa pessoa conta com o privilégio
de chamá-lo aba —termo aramaico que reflete intimidade,
equivalente à palavra portuguesa “papai” (Rm 8.15; Gl 4.5). James I.
Packer escreveu: “O que é o cristão? A questão pode ser
respondida de muitas formas, mas a resposta mais rica que
conheço é: o cristão é alguém que tem a Deus por Pai”.[23]
É importante observar que a Bíblia ensina a realidade presente da
adoção. Lemos em 1 João 3.1,2: “Vede que grande amor nos tem
concedido o Pai, a ponto de sermos chamados filhos de Deus; e, de
fato, somos filhos de Deus. Por essa razão, o mundo não nos
conhece, porquanto não o conheceu a ele mesmo. Amados, agora,
somos filhos de Deus”. Adoção na família de Deus não é algo pelo
que o crente deve esperar; ele já é filho agora. A Confissão de fé de
Westminster declara: A todos os que são justificados, é Deus
servido, em seu único Filho Jesus Cristo e por ele, tornar
participantes da graça da adoção, pela qual eles são recebidos no
número dos filhos de Deus e gozam da liberdade e dos privilégios
deles, têm sobre si o nome dele, recebem o Espírito de adoção, têm
acesso, com confiança, ao trono da graça, e são habilitados a
clamar: “Abba, Pai”; eles são tratados com comiseração, protegidos,
supridos e por ele corrigidos, como por um pai; nunca, porém,
abandonados, mas selados para o dia da redenção, e herdam as
promessas, como herdeiros da eterna salvação.[24] (V. tb.: Confissão
de fé de Londres (batista), 1689, Cap. 12, Seção 1).
Observe que a Confissão de fé de Westminster enfatiza o cuidado
paternal do Deus todo-poderoso para com quem já participa da
relação filial consigo. Essa pessoa lhe pertence; é seu filho; ele
nunca a lançará fora. Ela perseverará!
A partir do que foi estudado acima, deveria ser óbvio que a doutrina
calvinista da perseverança dos santos não equivale ao sentido da
expressão “uma vez salvo, sempre salvo”. Essa doutrina
pseudocristã afirma que quem fez a profissão de fé é salvo. A
pessoa pode viver como quiser — realmente não importa, pois “uma
vez salvo, sempre salvo”.
Um dogma importante da doutrina “uma vez salvo, sempre salvo” é
o conceito de que Cristo pode ser o Salvador de alguém e ao
mesmo tempo não ser seu Senhor. Esse ensino é prevalente em
especial em círculos dispensacionalistas. A Bíblia de Estudo
Scofield, por exemplo, alega que há dois tipos de cristãos: o
espiritual e o carnal (cf. as notas de Scofield sobre 1Co 2.14). O
último não se rende ao senhorio de Cristo, mas é salvo.
Outro teólogo dispensacionalista, Charles Ryrie, declarou: “A
questão é simplesmente esta: alguém precisa fazer de Cristo o
Senhor de sua vida ou estar disposto a fazê-lo para ser salvo?”. A
resposta de Ryrie é ![25]
Esse tipo de teologia está longe de ser bíblica. A mera profissão de
fé não salva ninguém. A teologia reformada, com a Palavra de
Deus, sempre manteve que a falta de comprometimento com o
senhorio de Cristo na vida constitui a ausência da fé salvadora.
Arthur W. Pink escreveu: “Ninguém pode receber Jesus como
Salvador e rejeitá-lo como Senhor”.[26] Buswell disse que a fé
salvadora: “Não é [...] credulidade que não questiona, mas a reação
positiva de todo o ser do homem em direção a Jesus Cristo como
Filho de Deus”.[27]
Vimos que Paulo admoestou os filipenses a “desenvolver a [sua]
salvação com temor e tremor”. Então em Romanos 10.9: “Se, com a
tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu coração, creres
que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo”. Isso é
teologia do senhorio.
Da mesma forma, Pedro chama os santos a “com diligência cada
vez maior, confirmar a [sua] vocação e eleição” (2Pe 1.10). O autor
de Hebreus afirma que quem não “busca a santificação” não verá o
Senhor (12.4). Em Lucas 6.46, o Senhor Jesus Cristo perguntou:
“Por que me chamais Senhor, Senhor, e não fazeis o que vos
mando?”. Essas passagens advertem fortemente contra uma visão
de fé salvadora que negue o senhorio de Cristo.
Vários exemplos bíblicos demonstram que a mera profissão de fé
não torna ninguém cristão. Em Atos 8 lemos sobre Simão, o Mago,
que fez uma profissão de fé em Cristo (v. 13). Mas no final do
capítulo ele se afastou de Deus (v. 20,21). Sua profissão era
espúria.
Outro exemplo é o de Demas, que trabalhou no ministério do
evangelho durante alguns anos com Paulo e Lucas (v. Cl 4.14; Fm
24). Mais tarde, porém, ele abandonou o cristianismo pelas coisas
do mundo (2Tm 4.1). Steele e Thomas escreveram: A doutrina da
perseverança dos santos não ensina que todos os que professam a
fé cristã chegarão com certeza ao céu. Os santos — os separados
pelo Espírito — perseveram até o fim. Os crentes — os recipientes
da fé viva e verdadeira em Cristo — estão seguros e salvos nele.
Muitos que professam crer cairão, mas eles não caem da graça pois
nunca estiveram nela. Os crentes verdadeiros caem em tentações, e
cometem pecados graves, mas esses pecados não fazem com que
percam a salvação ou sejam separados de Cristo.[28]
Isso de forma alguma implica que o calvinismo ensine que as obras
merecem a salvação. Nada poderia estar mais longe da verdade.
Em Efésios 2.8,9, Paulo afirmou: “Porque pela graça sois salvos,
mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras,
para que ninguém se glorie”.
A teologia reformada mantém, com Paulo, que a justificação decorre
só da graça por meio da fé em Cristo. Martinho Lutero chamou essa
doutrina de “a doutrina pela qual a igreja cai ou permanece de pé”.
Calvino a chamou de “dobradiça da Reforma”.[29]
Contudo, o calvinismo concorda com a conclusão de Paulo na
passagem de Efésios 2.8-10. Lê-se no versículo 10: “Pois somos
feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais
Deus de antemão preparou para que andássemos nelas”. As boas
obras, diz o apóstolo, não merecem a salvação, mas elas
necessariamente aparecerão se alguém foi verdadeiramente salvo.
Elas são obras de necessidade, não de mérito (Tg 2.26). O grito de
batalha da Reforma era o da “justificação pela graça por meio só da
fé, mas não da fé que anda sozinha”. As boas obras
necessariamente seguirão a fé salvadora.
Uma observação a ser feita é que a doutrina da perseverança dos
santos não existe de forma isolada. Ela é parte da ampla obra de
salvação de Deus em todos e cada um dos seus filhos eleitos.
Boettner observou: Esta não é uma doutrina isolada, e sim parte
necessária do sistema teológico calvinista. As doutrinas da eleição e
da graça eficaz implicam logicamente na salvação segura de quem
recebe essas bênçãos. Se Deus escolheu, de maneira absoluta e
incondicional, determinadas pessoas para a vida eterna, e se o
Espírito aplica a essas pessoas os benefícios da redenção com
eficácia, então a conclusão iniludível é que essas pessoas serão
salvas para sempre.[30]
Por último, a doutrina da perseverança dos santos garante que os
cristãos verdadeiramente nascidos de Deus alcançarão o estágio
final da salvação que consiste na glorificação. John Murray
escreveu: A glorificação é a fase final da aplicação da redenção. É a
conclusão do processo iniciado pelo chamado eficaz. Na verdade, é
a conclusão de todo o processo de redenção, pois significa alcançar
o objetivo para o qual o eleito de Deus foi predestinado de acordo
com o propósito eterno do Pai, e envolve a consumação da
redenção garantida e assegurada pela obra vicária de Cristo.[31]
A glorificação ocorre em dois estágios:
1. Quando o crente morre, Cristo o leva para a glória (Jo 14.1-3). Lá
ele estará com todos os santos (Hb 12.22), e presente com o
Senhor para sempre (2Co 5.8). Esse estágio ocorrerá sem o corpo
ressurreto.
2. Há o segundo estágio que alcança a glória ainda maior. Ele
ocorrerá no dia final, quando o Senhor Jesus Cristo retornar para
iniciar o reino de glória. Nesse dia, os cristãos serão revestidos com
seu corpo da ressurreição: “E, quando este corpo corruptível se
revestir de incorruptibilidade, e o que é mortal se revestir de
imortalidade (1Co 15.54). Paulo mencionou isso de maneira mais
completa em 1 Coríntios 15.20-58 e 1 Tessalonicenses 4.13-17.
A Confissão de fé de Westminster declara no Capítulo 32, Seções 1-
3: Os corpos dos homens, depois da morte, convertem-se em pó e
vêm a corrupção; mas as suas almas (que nem morrem nem
dormem), tendo uma substância imortal, voltam imediatamente para
Deus que as deu. As almas dos justos, sendo então aperfeiçoadas
na santidade, são recebidas no mais alto dos céus onde vêm a face
de Deus em luz e glória, esperando a plena redenção dos seus
corpos; e as almas dos ímpios são lançadas no inferno, onde
ficarão, em tormentos e em trevas espessas, reservadas para o
juízo do grande dia final. Além destes dois lugares destinados às
almas separadas de seus respectivos corpos as Escrituras não
reconhecem nenhum outro lugar.
No último dia, os que estiverem vivos não morrerão, mas serão
mudados; todos os mortos serão ressuscitados com os seus
mesmos corpos e não outros, posto que com qualidades
diferentes, e ficarão reunidos às suas almas para sempre.
Os corpos dos injustos serão pelo poder de Cristo ressuscitados
para a desonra, os corpos dos justos serão pelo seu Espírito
ressuscitados para a honra e para serem semelhantes ao
próprio corpo glorioso dele.
T E :
Deus salva o seu povo para a eternidade e eles não perdem a
sua salvação.
“Mas agora, assim diz o S , que te criou, ó Jacó, e que te
formou, ó Israel: Não temas, porque eu te remi; chamei-te pelo teu
nome, tu és meu. Quando passares pelas águas, eu serei contigo;
quando, pelos rios, eles não te submergirão; quando passares pelo
fogo, não te queimarás, nem a chama arderá em ti. Porque eu sou o
S , teu Deus, o Santo de Israel, o teu Salvador; dei o Egito por
teu resgate e a Etiópia e Sebá, por ti.” (Is 43.1-3) “Porque os montes
se retirarão, e os outeiros serão removidos; mas a minha
misericórdia não se apartará de ti, e a aliança da minha paz não
será removida, diz o S , que se compadece de ti.” (Is 54.10)
“Farei com eles aliança eterna, segundo a qual não deixarei de lhes
fazer o bem; e porei o meu temor no seu coração, para que nunca
se apartem de mim.” (Jr 32.40) “Porque Deus amou ao mundo de tal
maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê
não pereça, mas tenha a vida eterna.” (Jo 3.16) “Em verdade, em
verdade vos digo: quem ouve a minha palavra e crê naquele que me
enviou tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou da morte
para a vida.” (Jo 5.24) “Declarou-lhes, pois, Jesus: Eu sou o pão da
vida; o que vem a mim jamais terá fome; e o que crê em mim jamais
terá sede. Porém eu já vos disse que, embora me tenhais visto, não
credes. Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim; e o que vem
a mim, de modo nenhum o lançarei fora. Porque eu desci do céu,
não para fazer a minha própria vontade, e sim a vontade daquele
que me enviou. E a vontade de quem me enviou é esta: que
nenhum eu perca de todos os que me deu; pelo contrário, eu o
ressuscitarei no último dia. De fato, a vontade de meu Pai é que
todo homem que vir o Filho e nele crer tenha a vida eterna; e eu o
ressuscitarei no último dia.” (Jo 6.35-40) “Em verdade, em verdade
vos digo: quem crê em mim tem a vida eterna.” (Jo 6.47)
“As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me
seguem. Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as
arrebatará da minha mão. Aquilo que meu Pai me deu é maior do
que tudo; e da mão do Pai ninguém pode arrebatar. Eu e o Pai
somos um.” (Jo 10.27-30) “Já não estou no mundo, mas eles
continuam no mundo, ao passo que eu vou para junto de ti. Pai
santo, guarda-os em teu nome, que me deste, para que eles sejam
um, assim como nós. Quando eu estava com eles, guardava-os no
teu nome, que me deste, e protegi-os, e nenhum deles se perdeu,
exceto o filho da perdição, para que se cumprisse a Escritura.” (Jo
17.11,12) “Porquanto aos que de antemão conheceu, também os
predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de
que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que
predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses
também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou.”
(Rm 8.29,30) “Quem nos separará do amor de Cristo? Será
tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou
perigo, ou espada? Como está escrito: Por amor de ti, somos
entregues à morte o dia todo, fomos considerados como ovelhas
para o matadouro. Em todas estas coisas, porém, somos mais que
vencedores, por meio daquele que nos amou. Porque eu estou bem
certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os
principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os
poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra
criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo
Jesus, nosso Senhor.” (Rm 8.35-39) “O Senhor me livrará também
de toda obra maligna e me levará salvo para o seu reino celestial. A
ele, glória pelos séculos dos séculos. Amém!” (2Tm 4.18) “Por isso
mesmo, ele é o Mediador da nova aliança, a fim de que, intervindo a
morte para remissão das transgressões que havia sob a primeira
aliança, recebam a promessa da eterna herança aqueles que têm
sido chamados.” (Hb 9.15) “Porque, com uma única oferta,
aperfeiçoou para sempre quantos estão sendo santificados.” (Hb
10.14)
“Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo
a sua muita misericórdia, nos regenerou para uma viva esperança,
mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, para uma
herança incorruptível, sem mácula, imarcescível, reservada nos
céus para vós outros que sois guardados pelo poder de Deus,
mediante a fé, para a salvação preparada para revelar-se no último
tempo.” (1Pe 1.3-5).
“E o testemunho é este: que Deus nos deu a vida eterna; e esta vida
está no seu Filho. Aquele que tem o Filho tem a vida; aquele que
não tem o Filho de Deus não tem a vida. Estas coisas vos escrevi, a
fim de saberdes que tendes a vida eterna, a vós outros que credes
em o nome do Filho de Deus.” (1Jo 5.11-13) “Também sabemos que
o Filho de Deus é vindo e nos tem dado entendimento para
reconhecermos o verdadeiro; e estamos no verdadeiro, em seu
Filho, Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna.” (1Jo
5.20)
P :
1. De acordo com a teologia arminiana, por que o homem é capaz
de perder a salvação?
2. O que o calvinismo ensina sobre a salvação eterna?
3. Qual é a diferença entre as doutrinas de “perseverança” e “uma
vez salvo sempre salvo”?
4. O que se quer dizer por salvação do senhorio e por que isso é
importante?
5. Quais são os dois estágios de glorificação? Explique.
8. Providência divina ou humanismo cristão?
T E :
“Pelo que Davi louvou ao Senhor perante a congregação toda e
disse: Bendito és tu, Senhor, Deus de Israel, nosso pai, de
eternidade em eternidade. Teu, Senhor, é o poder, a grandeza, a
honra, a vitória e a majestade; porque teu é tudo quanto há nos
céus e na terra; teu, Senhor, é o reino, e tu te exaltaste por chefe
sobre todos. Riquezas e glória vêm de ti, tu dominas sobre tudo, na
tua mão há força e poder; contigo está o engrandecer e a tudo dar
força.” (1Cr 29.10-12) “Jurou o S dos Exércitos, dizendo:
Como pensei, assim sucederá, e, como determinei, assim se
efetuará. Quebrantarei a Assíria na minha terra e nas minhas
montanhas a pisarei, para que o seu jugo se aparte de Israel, e a
sua carga se desvie dos ombros dele. Este é o desígnio que se
formou concernente a toda a terra; e esta é a mão que está
estendida sobre todas as nações. Porque o S dos Exércitos o
determinou; quem, pois, o invalidará? A sua mão está estendida;
quem, pois, a fará voltar atrás?” (Is 14.24-27) “Lembrai-vos das
coisas passadas da antiguidade: que eu sou Deus, e não há outro,
eu sou Deus, e não há outro semelhante a mim; que desde o
princípio anuncio o que há de acontecer e desde a antiguidade, as
coisas que ainda não sucederam; que digo: o meu conselho
permanecerá de pé, farei toda a minha vontade; que chamo a ave
de rapina desde o Oriente e de uma terra longínqua, o homem do
meu conselho. Eu o disse, eu também o cumprirei; tomei este
propósito, também o executarei.” (Is 46.9-11) “Ele, que é o
resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser, sustentando
todas as coisas pela palavra do seu poder, depois de ter feito a
purificação dos pecados, assentou-se à direita da Majestade, nas
alturas.” (Hb 1.3) “Pois, nele, foram criadas todas as coisas, nos
céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam
soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado por
meio dele e para ele. Ele é antes de todas as coisas. Nele, tudo
subsiste.” (Cl 1.16,17)
P :
1. O que se quer dizer por providência divina?
2. Por que o arminianismo deve ser considerado pouco mais que
uma forma de “humanismo religioso”?
3. Quais são os três elementos da providência divina?
4. Liste as onze áreas sobre as quais a providência de Deus
governa (apresentadas neste capítulo).
5. O que é fatalismo e como ele se distingue do calvinismo?
6. De que forma o arminianismo é similar ao fatalismo?
9. Deus é o autor do pecado?
T E :
“Assim, não fostes vós que me enviastes para cá, e sim Deus, que
me pôs por pai de Faraó, e senhor de toda a sua casa, e como
governador em toda a terra do Egito.” (Gn 45.8) “As coisas
encobertas pertencem ao S , nosso Deus, porém as reveladas
nos pertencem, a nós e a nossos filhos, para sempre, para que
cumpramos todas as palavras desta lei.” (Dt 29.29) “A glória de
Deus é encobrir as coisas, mas a glória dos reis é esquadrinhá-las.”
(Pv 25.2)
“Varões israelitas, atendei a estas palavras: Jesus, o Nazareno,
varão aprovado por Deus diante de vós com milagres, prodígios e
sinais, os quais o próprio Deus realizou por intermédio dele entre
vós, como vós mesmos sabeis; sendo este entregue pelo
determinado desígnio e presciência de Deus, vós o matastes,
crucificando-o por mãos de iníquos; ao qual, porém, Deus
ressuscitou, rompendo os grilhões da morte; porquanto não era
possível fosse ele retido por ela.” (At 2.22-24) “Porque
verdadeiramente se ajuntaram nesta cidade contra o teu santo
Servo Jesus, ao qual ungiste, Herodes e Pôncio Pilatos, com
gentios e gente de Israel, para fazerem tudo que a tua mão e o teu
propósito predeterminaram.” (At 4.27,28)
P :
1. Deus preordenou a queda do homem no pecado?
2. Isso significa que Deus é o autor do pecado? Explique.
3. O que se quer dizer por causas secundárias?
4. Quais são os três conceitos antibíblicos do mal apresentados no
capítulo?
5. Deus usa o mal para seus próprios propósitos a fim de realizar
sua vontade? Explique.
10. Calvinismo, hipercalvinismo e
arminianismo
No livro analisamos de forma breve três sistemas teológicos:
calvinismo, hipercalvinismo e arminianismo. O foco, por certo, ficou
no primeiro: o que cremos ser o mais bíblico. A teologia calvinista ou
reformada enfatiza a soberania absoluta de Deus sobre cada parte
do universo, da menor à maior. Destacamos em particular a área da
soteriologia: a doutrina da salvação.
Nosso estudo mostrou que a Bíblia ensina ser o homem caído em
sentido ético (legal) totalmente depravado. Isso não significa que o
homem não seja um agente moral livre; significa que ele tem total
incapacidade a respeito das questões espirituais. O homem caído
está morto em pecado e incapaz de fazer qualquer coisa agradável
a Deus. Ele não consegue alcançar a Deus. Deus é o único autor da
salvação. Ele elegeu, por sua vontade soberana, quem será salvo.
Nosso estudo também revelou que a morte do Senhor Jesus Cristo
consistiu na expiação dos pecados dos eleitos de Deus. Sua obra
sacrifical mereceu a salvação dos eleitos. As pessoas escolhidas
pelo Pai, e por quem o Filho morreu, são trazidas de forma
irresistível a Cristo pelo Pai. Elas são chamadas à união com o
Filho. São regeneradas pelo Espírito Santo, de forma que
responderão ao chamado do evangelho. Os três membros da
Trindade sempre trabalham em perfeita harmonia entre si.
Assim que o indivíduo chega a Cristo para ser salvo, com toda a
certeza perseverará até o fim. Ele nunca cairá de forma
permanente, pois o poder de Deus o guarda até a glorificação final.
A graça divina é eficaz in toto. A salvação é do Senhor do princípio
ao fim.
O hipercalvinismo e o arminianismo erram nas respectivas tentativas
de lidar com a doutrina bíblica da soteriologia. Os dois sistemas são
diametralmente opostos. Os erros do primeiro estão em uma
direção, e os erros do último em outra. O hipercalvinismo, como o
nome indica, é uma perversão do calvinismo. Ele ultrapassa (hiper)
o ensino do calvinismo, vai muito além. Destaca a soberania divina
na eleição ao excluir a responsabilidade humana. Na tentativa de
exaltar a honra e a glória de Deus, o hipercalvinismo enfatiza de tal
forma a eleição e graça irresistível que acaba por eliminar a
necessidade de evangelizar. A vontade secreta de Deus é tão
acentuada que se ignora a vontade revelada. O resultado é uma
visão truncada do calvinismo. Duas coisas precisam ser
mencionadas. Primeira, devemos deixar claro que a eleição não é
salvação! A eleição é para Cristo, em quem está a salvação.
Portanto, crer que pelo fato de Deus ter elegido um povo e que este
povo é salvo pelo ato eletivo, por meio do qual será então
irresistivelmente levado a Deus, é uma perversão do calvinismo
bíblico. Segunda, deve-se observar também que na história recente
alguns teólogos buscaram estabelecer o hipercalvinismo como uma
manifestação do supralapsarianismo. Ou seja, o conceito
supralapsário da ordem lógica dos decretos de Deus demanda a
crença hipercalvinista. Isso não é verdade! Ao longo da história, o
supralapsarismo consistiu na visão de João Calvino e muitos outros
teólogos calvinistas.
Já o arminianismo acentua a habilidade do homem no estado caído
em detrimento da soberania divina. No esquema arminiano, o
homem não é totalmente depravado. Ele ainda conta com a
capacidade de responder ao chamado do evangelho. Enquanto os
calvinistas ensinam que a regeneração precede a fé, os arminianos
alegam o oposto. Uma vez que o homem responda, com fé, ao
chamado do Espírito, então Deus lhe regenerará o coração. Como
vimos, isso não está em sintonia com a revelação bíblica. A
incapacidade total significa incapacidade total (v. Rm 8.78; 1Co
2.14). É importante observar que a Bíblia ensina ser a fé salvadora
um dom de Deus (Ef 2.89). A fé é fruto do Espírito (Gl 5.22). Mas
nem todos os homens têm a fé salvadora (2Ts 3.2).
O arminianismo aparece sob muitas sombras e cores; isto é, há
visões diferentes no próprio sistema. Contudo, o arminianismo puro
defende o seguinte: 1. O homem não perdeu a capacidade de
responder com fé ao evangelho. Ele não está morto no pecado.
2. A eleição é condicionada pela resposta humana ao chamado do
evangelho, e se fundamenta na previsão divina, ou reconhecimento,
de como o homem responderá.
3. A expiação realizada por Jesus tem caráter universal. Ou seja,
Cristo morreu por todas as pessoas que já viveram.
4. A graça de Deus no chamado eficaz do evangelho é resistível. A
vontade do homem se eleva acima do poder da vontade divina.
5. As pessoas regeneradas podem cair da graça. Mais uma vez, o
poder humano sobrepuja a capacidade divina de salvar.
Esperamos que seja óbvio o quão distante o hipercalvinismo e o
arminianismo estão do que a Bíblia ensina. O calvinismo é o único
sistema verdadeiro à Palavra de Deus. A teologia reformada alega
que o Deus triúno da Escritura é soberano na salvação do princípio
ao fim. Todavia, de acordo com a Bíblia, o calvinismo mantém que o
homem é um ser responsável e moral. Nenhuma das duas doutrinas
deve excluir a outra. Ambas são verdades bíblicas.
Fechamos o capítulo com uma breve olhadela na história do
calvinismo. O sistema doutrinário que carrega o nome de João
Calvino não foi originado por ele. Já se afirmou antes que o
calvinismo é um mero apelido pelo qual os teólogos reformados se
referem aos dogmas ensinados por toda a Escritura. Ao longo da
história, a igreja cristã tem sido predominantemente calvinista.
Os calvinistas afirmam que o principal teólogo da igreja do primeiro
século foi o apóstolo Paulo. Cremos que este livro documentou a
contento o fato de a doutrina apostólica ser a da teologia reformada.
O segundo e terceiro séculos não produziram um tratado de teologia
sistemática per se, mas os escritos do período patrístico revelam
fortes inclinações ao calvinismo. As doutrinas desses primeiros anos
foram desenvolvidas mais tarde, nos dias de Agostinho de Hipona
(354-430 d.C.), uma das maiores mentes teológicas e filosóficas já
concedidas por Deus à igreja. Agostinho era tão fortemente
calvinista que João Calvino referiu a si mesmo como um teólogo
agostiniano.
A teologia de Agostinho predominou na igreja durante mil anos.
Nesse período da Idade Média (400-1500 d.C.), vários calvinistas (p.
ex., John Wycliffe e Jan Hus) apareceram no cenário teológico.
Embora muitos não percebam, Tomás de Aquino era calvinista em
vários pontos de sua teologia. Por exemplo, Tomás era
predestinacionista.
Com a chegada dos séculos 16 e 17, a igreja entrou no período da
Reforma. Não há dúvida de que homens como Martinho Lutero,
Ulrico Zuínglio, Heinrich Bullinger, Martin Bucer, João Calvino,
Teodoro Beza, John Knox, François Turrettini, e uma centena de
outros, defendiam as doutrinas básicas delineadas neste livro.
Os puritanos ingleses eram fortemente calvinistas. Homens como
Thomas Cartwright, Thomas Goodwin, John Owen, John Bunyan,
John Milton, Thomas Manton, John Flavel, Richard Sibbes, John
Howe (entre outros) adotaram esse sistema teológico. Os
arminianos eram a minoria entre os protestantes.
Os grandes credos reformados foram formulados nesse período. A
Confissão escocesa (1560), Confissão belga (1561), Catecismo de
Heidelberg (1563), Segunda confissão helvética (1566), Os trinta e
nove artigos de religião (da Igreja da Inglaterra, 1562, 1571),
Cânones do Sínodo de Dort (1619), Confissão de fé de Westminster
(1647), Declaração de Savoy (1658), Fórmula helvética de consenso
(1675), e a Confissão de fé londrina (batista) (1689), são todos
credos calvinistas.
O século 18 viu calvinistas tais como John Gill, George Whitefield e
Jonathan Edwards usados poderosamente por Deus. Os séculos 19
e 20 trouxeram outros calvinistas para o primeiro plano. Charles H.
Spurgeon, Charles A. Hodge, William Carey, Archibald Alexander,
Abraham Kuyper, R. L. Dabney, James P. Boice, James H.
Thornwell, Archibald A. Hodge, Benjamin B. Warfield, J. Gresham
Machen, Gordon H. Clark, Arthur W. Pink e uma multidão de outros
expoentes das principais denominações, sustentaram as doutrinas
da teologia reformada. Charles H. Spurgeon certa feita escreveu: O
que eu prego, então, não é novidade; nenhuma nova doutrina.
Adoro proclamar essas doutrinas fortes e antigas, chamadas pelo
nome de , mas elas são, de modo real e seguro, a
verdadeira revelação divina como ela se encontra em Cristo Jesus.
Por essa verdade eu faço uma peregrinação ao passado, e vejo, pai
após pai, confessor após confessor, mártir após mártir, em pé para
me cumprimentar. Fosse eu pelagiano, ou alguém que cresse na
doutrina do livre-arbítrio, eu teria de andar por vários séculos
totalmente só. Aqui ou ali um herege sem nenhum caráter poderia
surgir e me chamar de irmão. Todavia, ao me apoderar dessas
coisas para serem meu padrão de fé, vejo as terras dos anciãos
com meus irmãos na fé — contemplando multidões que confessam
o mesmo que eu, e reconhecem ser essa a religião da própria igreja
de Deus.[41]
P :
1. O que é hipercalvinismo?
2. De que forma o hipercalvinismo se assemelha ao arminianismo?
3. Defina as diferenças entre calvinismo e arminianismo ao
comparar cinco pontos básicos: 1) Depravação total, 2) eleição, 3)
expiação, 4) chamado e 5) salvação eterna.
Apêndice A: Uma exposição do arminianismo
John Owen
A alma do homem, por causa da corrupção da natureza, não só está
obscurecida com uma névoa de ignorância, pela qual é incapacitada
de compreender a verdade divina, mas também está armada com
preconceito e oposição contra algumas partes dela por serem muito
elevadas ou muito contrárias a alguns falsos princípios que ela
formulou para si mesma. Como o desejo de autossuficiência foi a
primeira causa dessa enfermidade, ela ainda possui essa
presunção; por nada luta mais que pela independência de qualquer
poder supremo que possa ajudar, impedir ou controlá-la em suas
ações. Essa é a raiz de amargura de onde procedem todas as
heresias e contendas que têm perturbado a igreja, concernente ao
poder humano de produzir a própria felicidade, e da isenção da
providência ampla do Deus todo-poderoso. Todas as ruidosas
disputas da razão carnal contra a Palavra de Deus chegam ao final
neste ponto: as primeiras e principais partes, na disposição das
coisas deste mundo, devem ser atribuídas a Deus ou ao homem? A
maioria dos homens reivindica a preeminência para si, por meio de
exclamações que assim deve ser, ou então Deus é injusto ou seus
caminhos são desiguais. Homem algum desejou erigir essa Babel
com mais ânsia que os arminianos — os modernos patronos cegos
da autossuficiência humana. Todas as inovações deles na doutrina
recebida das igrejas reformadas objetivam e tendem a um desses
dois fins: P , tentar isentar-se da jurisdição divina — livrar-se
do domínio supremo de sua providência que a tudo governa; não
viver nem se mover nele, mas contar com um poder independente e
absoluto em todas as suas ações, de modo que a ocorrência de
todas as coisas de seu interesse possam contar com nada além do
acaso, da contingência e da própria vontade — uma tentativa muito
nefasta e sacrílega! Para esse fim, eles: 1. Negam a eternidade e
imutabilidade dos decretos de Deus. Sendo esses estabelecidos,
eles temem ser impedidos de fazer algo cuja realização foi
determinada por seu conselho. Se os propósitos da Força de Israel
são eternos e imutáveis, o ídolo deles do livre-arbítrio deve ser
limitado, e sua independência prejudicada. Assim preferem afirmar
que os decretos divinos são temporários e mutáveis; sim, que ele na
verdade os muda de acordo com as muitas variáveis observadas em
nós: uma concepção extremamente selvagem, contrária à natureza
pura de Deus e destrutiva dos seus atributos.
2. Questionam a presciência ou pré-conhecimento de Deus; pois se
são conhecidas de Deus todas as suas obras desde o princípio, se
ele certamente conhece todas as coisas que virão a acontecer, isso
parece fazer todas as ações deles ocorrerem de modo infalível, o
que invade o grande território de sua nova deusa, a contingência.
Não, isso destronaria totalmente a rainha do céu, e induziria um tipo
de necessidade em tudo que se faz; assim, nada ocorreria senão o
que Deus sabe de antemão. Ora, negar essa presciência destrói a
própria essência da Divindade, e puro ateísmo será declarado.
3. Depõem a providência do Rei das nações que a tudo governa,
negando seu poder enérgico e eficaz, de transformar o coração,
governar os pensamentos, determinar as vontades e dispor das
ações dos homens, concedendo-lhe nada além de um poder e
influência gerais, limitados e usados de acordo com a inclinação e
vontade de todo agente particular; tornam o Deus Todo-Poderoso
alguém que deseja coisas que não ocorrerão, um espectador ocioso
da maioria das coisas que acontecem no mundo: a falsidade de
cujas afirmações será provada.
4. Negam o poder irresistível e incontrolável da vontade de Deus,
afirmando que muitas vezes ele deseja e pretende com seriedade o
que não pode realizar, e assim seus objetivos são frustrados; não,
embora ele deseje, e de fato pretenda salvar todos os homens, está
inteiramente no poder deles se Deus salvará alguém ou não; caso
contrário, o ídolo deles, o livre-arbítrio, seria apenas uma deidade
pobre, se Deus pudesse, como e quando quisesse, cruzar seu
caminho e lhe resistir em seu domínio. A natureza corrupta ainda
está pronta, quer de forma nefasta, com Adão, para tentar ser como
Deus, ou a pensar por tolice que ele é totalmente semelhante a nós
— salmo 1; algo que incomoda a todos os homens que não
aprenderam a submeter suas frágeis vontades à vontade todo-
poderosa de Deus, e cativar seu entendimento à obediência da fé.
S , limpar a natureza humana da pesada imputação de ser
pecaminosa, corrompida, astuta para fazer o mal, porém incapaz de
fazer o bem; e assim de reivindicar para si mesmos o poder e a
capacidade de fazer todo o bem que Deus pode exigir com justiça
que seja feito por eles no estado em que se encontram — tornando-
se diferentes dos outros que não farão bom uso das investiduras de
sua natureza; de forma que a primeira e principal parte na obra de
sua salvação pode ser atribuída a eles mesmos: um orgulhoso
empreendimento luciferiano! Para esse fim, eles: 1. Negam a
doutrina da predestinação que afirma ter Deus escolhido alguns
homens, antes da fundação do mundo, para que sejam santos e
obtenham a vida eterna pelo mérito de Cristo, para o louvor de sua
gloriosa graça, — qualquer predestinação que possa ser a fonte e
causa da graça ou glória —, determinando as pessoas, de acordo
com o bom propósito de Deus, sobre quem elas serão concedidas.
Essa doutrina torna a graça divina especial a única causa de todo o
bem que está mais no eleito que nos réprobos; que torna a fé obra e
dom divinos, com diversas outras coisas, que demostrariam seu
ídolo não ser nada, de nenhum valor. Assim, que heresia corrupta
eles colocaram em seu lugar.
2. Negam o pecado original e seu demérito; sendo entendido da
maneira correta, ele demostraria com facilidade que, não obstante
todo o trabalho do ferreiro, do carpinteiro e do pintor, o ídolo
construído não passa de um bloco imprestável; será descoberta não
apenas a impotência de fazer o bem que está em nossa natureza,
mas também que temos.
3. Caso atribuamos a repugnância à lei de Deus à nossa natureza
humana, eles sustentarão que isso também estava em Adão quando
foi criado, e dessa forma procede do próprio Deus.
4. Negam a eficácia do mérito da morte de Cristo — tanto que Deus
pretendeu por sua morte redimir sua igreja, ou adquirir para si um
povo santo; como também que Cristo, por sua morte, mereceu e
adquiriu para nós graça, fé, justiça e poder para obedecer a Deus,
no cumprimento da condição do novo pacto. Não, isso claramente
levantaria uma arca para quebrar o pescoço do Dagom deles; pois,
“que louvor”, dizem eles, “pode ser devido a nós mesmos por crer,
se o sangue de Cristo tiver conquistado que Deus nos conceda fé?”.
5. Dentre os que nunca ouviram falar do Salvador, eles concederão
a alguns obter a salvação completa sem Cristo, se Cristo reivindicar
essa participação na salvação do seu povo, dos que nele creem. De
fato, em nada eles avançam seu ídolo para mais próximo do trono
de Deus do que por meio dessa blasfêmia.
6. Tendo assim roubado a Deus, a Cristo e sua graça, eles adornam
seu ídolo do livre-arbítrio com muitas propriedades gloriosas de
forma alguma devida a ele.
7. Não só reivindicam para a sua deidade nova e recém-criada um
poder salvador, como também afirmam que ela é muito ativa e
operativa na grande obra de nos salvar a alma: a. Ao nos preparar
do modo correto para a graça de Deus, e nos dispor de tal maneira
que ela passa a se dever a nós.
b. Na operação eficaz de nossa conversão junto com ela [...] e
assim, finalmente, com muito trabalho e labor, eles colocaram um
altar para seu ídolo no santo templo, à mão direita do altar de Deus,
e nele oferecem sacrifício. No final, nem tudo para Deus, nem tudo
para o livre-arbítrio. Que o sacrifício de louvor, por todas as coisas
boas, seja dividido entre eles.
Apêndice B: O calvinismo nos EUA
Loraine Boettner
Ao estudarmos a influência exercida pelo calvinismo como força política na
história dos Estados Unidos da América do Norte, deparamo-nos com uma
das páginas mais brilhantes da história calvinista. O calvinismo chegou à
América do Norte no barco Mayflower. Bancroft, o mais proeminente dos
historiadores americanos, declarou que os peregrinos eram “calvinistas do
sistema mais rigoroso”.[42] John Endicott, o primeiro governador do
Masschusetts Bay Colony, John Wintrop, o segundo governador dessa
colônia, Thomas Hooker, o fundador de Connecticut, John Davenport, o
fundador da colônia New Haven, e Roger Williams, o fundador da colônia de
Rhode Island eram todos calvinistas. William Penn foi discípulo dos
huguenotes. Estima-se que dos 3 milhões de americanos que viviam no
tempo da Revolução, 900 mil eram de origem escocesa ou de descendência
escocesa e irlandesa; 600 mil eram puritanos ingleses e 400 mil eram da
Igreja Reformada da Holanda ou da Alemanha. Além do mais, os episcopais
tinham uma confissão de fé calvinista nos Os trinta e nove artigos de religião;
e muitos dos huguenotes franceses também vieram para esta terra. Portanto,
vemos que em torno de um terço da população colonial foi educada na escola
de Calvino. Na história do mundo, nunca houve uma nação fundada por
pessoas como essas. Além do mais, elas não vieram à América do Norte com
o propósito primário de desenvolver interesses comerciais, e sim por conta de
suas profundas convicções religiosas. É como se as perseguições religiosas
em vários países da Europa servissem de modo providencial para selecionar
as pessoas mais progressistas e ilustres e levar a bom termo a colonização
da América do Norte. Seja como for, admite-se de forma geral que os
ingleses, os escoceses, os alemães e os holandeses foram as pessoas da
mais marcante influência na Europa. Além disso, devemos ter em mente que
os puritanos, que compunham a maior parte dos habitantes da Nova
Inglaterra, trouxeram consigo o protestantismo calvinista, e eram fiéis adeptos
das doutrinas dos grandes reformadores, que sentiam uma grande repulsa ao
formalismo e à opressão, na igreja e no Estado. O calvinismo seguiu como a
teologia prevalente na Nova Inglaterra em todo o período colonial.
Com essa tela de fundo, não nos causará surpresa descobrir que os
presbiterianos desempenharam um papel muito importante na Revolução. O
historiador Bancroft escreveu: “A influência exercida pela religião na
Revolução de 1776 veio de forma direta dos presbiterianos. O fruto dos
princípios foram semeados pelo presbiterianismo do Velho Mundo em seus
filhos: os puritanos da Inglaterra, os covenanters da Escócia, os huguenotes
da França, os calvinistas da Holanda e os presbiterianos de Ulster”. Tão
apaixonados e agressivos eram os presbiterianos no zelo pela liberdade, que
a guerra era conhecida na Inglaterra como “a religião presbiteriana”. Um
fervoroso colono, partidário do rei Jorge III escreveu em uma carta: “Eu
atribuo a culpa de todos esses extraordinários acontecimentos aos
presbiterianos. Eles têm sido a causa principal de todas estas manifestações
malditas. Eles sempre se opõem e sempre se oporão ao governo por causa
do inquieto e turbulento espírito antimonárquico que os caracteriza em todos
os lugares”.[43] Quando a notícia desses “extraordinários acontecimentos”
chegou à Inglaterra, o primeiro-ministro Horatio Walpole disse no Parlamento:
“Nossa prima América escapou com um pastor presbiteriano” (John
Witherspoon, presidente de Princeton, signatário da Declaração de
Independência).
A história declara com eloquência que a democracia dos Estados Unidos
nasceu do cristianismo e que esse cristianismo não é nada menos que o
calvinismo. O grande conflito revolucionário resultante na formação da nação
foi levado a bom termo principalmente por calvinistas dentre os quais muitos
foram educados na escola estritamente presbiteriana de Princeton. Esta
nação é a sua dádiva a todos os que amam a liberdade.
J. R. Sizoo afirmou: “Quando, por fim, se conseguiu que Cornwallis
retrocedesse e se rendesse em Yorktown, quase todos os coronéis do
exército colonial, exceto um, eram presbíteros da Igreja Presbiteriana. Mais da
metade de todos os soldados e oficiais do exército dos EUA, durante a
Revolução, eram presbiterianos”.[44]
O testemunho de Emilio Castelar, o famoso estadista, orador e erudito
espanhol, é interessante e de grande valor. Castelar havia sido professor de
Filosofia na Universidade de Madri antes de entrar na política, e foi nomeado
presidente da República estabelecida pelos liberais em 1873. Como católico
romano, ele odiava Calvino e o calvinismo. Afirmou: “Era necessário que o
movimento republicano surgisse da moralidade mais austera que a de Lutero,
a saber, de Calvino, e uma igreja mais democrática que a da Alemanha, a
saber, a de Genebra. A democracia anglo-saxônica teve como fundamento o
livro da sociedade primitiva — a Bíblia. Essa democracia é o produto de uma
rigorosa teologia apreendida pelos poucos refugiados cristãos nas lúgubres
cidades da Holanda e Suíça, onde a vetusta figura de Calvino ainda lança sua
sombra [...] uma democracia que permanece serena em sua grandeza,
constituindo a parte mais nobre, moral e ilustre da raça humana”.[45]
Motley disse: “Na Inglaterra, as sementes da liberdade incorporadas no
calvinismo e preservadas ao longo dos anos de prova e, por fim, estavam
destinadas a espalhar-se e a produzir as mais fartas colheitas da liberdade
em repúblicas que ainda não haviam nascido”.[46] “Os calvinistas fundaram as
democracias da Inglaterra, Holanda e dos Estados Unidos”. E anexa: “As
liberdades políticas da Inglaterra, da Holanda e dos Estados Unidos se devem
mais aos calvinistas que a qualquer outro grupo de homens”.[47]
Merece nossa consideração o testemunho de outro famoso historiador, o
francês Hippolyte Taine, que não mantinha nenhum credo religioso pessoal.
Com respeito aos calvinistas, ele disse: “Esses homens são os verdadeiros
heróis da Inglaterra. Foram eles que a fundaram, e isto apesar da corrupção
dos Stewards; e conseguiram tal façanha pelo exercício do dever, pela prática
da justiça, pelo trabalho assíduo, pela defesa do direito, pela resistência à
opressão, pela conquista da liberdade e pela repressão do vício. Eles
fundaram a Escócia e os Estados Unidos da América do Norte; e hoje estão,
através dos seus descendentes, fundando a Austrália e colonizando o
mundo”.[48]
No livro, The Creed of Presbyterians [O credo dos presbiterianos], Egbert W.
Smith formula uma pergunta com referência aos colonos dos Estados Unidos:
“Onde estes aprenderam os imortais princípios dos direitos do homem, da
liberdade humana, da igualdade e da autonomia sobre os quais cimentaram
sua república e que são hoje a glória distintiva dessa civilização da América
do Norte? Eles os aprenderam na escola de João Calvino. Ali o mundo
moderno os aprendeu. É isso que nos ensina a história”.[49]
Passemos agora a considerar a influência exercida pela Igreja Presbiteriana
na formação da República nos Estados Unidos. Na afirmação do dr. W. H.
Roberts, em um discurso que pronunciara diante da Assembleia Geral, “foi por
três quartos do século, a única representante neste continente de governo
republicano, como se encontra organizado hoje na nação”, e acrescenta:
“Desde 1706 até o início da Revolução, a única instituição existente que
representava nossa organização política nacional atual era o Sínodo Geral da
Igreja Presbiteriana da América do Norte. Só ela, entre as organizações
coloniais, eclesiásticas e políticas, exerceu autoridade derivada dos próprios
colonos sobre as comunidades espalhadas por todas as colônias desde a
Nova Inglaterra até a Geórgia. É preciso lembrar-se de que as colônias, nos
séculos 17 e 18, ainda que dependentes da Inglaterra, eram independentes
entre si. Até 1774, ainda não existia um corpo como o Congresso Continental.
A condição religiosa do país era semelhante à condição política. As igrejas
congregacionais da Nova Inglaterra não estavam vinculadas umas às outras,
e à parte do governo civil careciam de poder. Nas colônias, a Igreja Episcopal
ainda não estava organizada, e seu sustento e ministério dependiam da Igreja
da Inglaterra; além disso, estava saturada de uma intensa lealdade à
monarquia britânica. Até 1771, a Igreja Reformada holandesa ainda não tinha
uma organização eficiente e independente, e a Igreja Reformada alemã não
chegou a alcançar essa condição até 1793. As igrejas batistas eram
organizações separadas, as metodistas eram quase desconhecidas e os
quacres eram pacifistas”.
Delegados das igrejas presbiterianas se reuniam a cada ano no Sínodo Geral,
e a igreja veio a ser, como nos informa o dr. Roberts, “uma fonte de união e
reciprocidade entre grandes setores da população das colônias divididas”.
Portanto, porventura causa estranheza que sob a sua influência os
sentimentos de verdadeira liberdade, da mesma forma que os princípios do
evangelho puro, fossem pregados ao longo de todo o território desde Long
Island até Carolina do Sul, e que, sobretudo, o espírito de unidade entre as
colônias começasse a se fazer sentir? É incalculável a influência que essa
república eclesiástica exerceu no que diz respeito à origem da nação, sendo
ela, desde 1706 a 1774, a única representante no continente de instituições
republicanas bem desenvolvidas. Os Estados Unidos da América do Norte
devem muito à mais antiga das repúblicas americanas, a Igreja Presbiteriana”.
[50]
Certamente isto não significa que a Igreja Presbiteriana fosse a única fonte da
qual foram obtidos os princípios sobre os quais se fundou dita República; no
entanto, afirma-se que os princípios que aparecem nos Padrões de
Westminster foram o principal fundamento: “A Igreja Presbiteriana foi a
primeira que ensinou, praticou e sustentou nesta terra a forma de governo em
concordância com o qual a República foi organizada” (Roberts).
No início da luta revolucionária, os ministros e igrejas presbiterianas se
encontravam ao lado dos colonos, e Bancroft atribui a eles o primeiro passo
para a independência.[51] O Sínodo que se reuniu na Filadélfia em 1775 foi o
primeiro corpo religioso a expressar aberta e publicamente o desejo de se
separar da Inglaterra. O referido Sínodo exortou quem se encontrava sob sua
jurisdição a não deixarem de contribuir, de todas as formas, com a promoção
do fim a que se propuseram, e instou com eles a orar pelo Congresso que
então se encontrava reunido.
Naquele tempo, a Igreja Episcopal estava ainda unida à Igreja da Inglaterra;
portanto, se opunha à Revolução. No entanto, um número considerável de
pessoas dentro dessa igreja lutava com intensidade pela independência,
participando com suas riquezas e influência. Vale dizer que George
Washington, o comandante em chefe dos exércitos dos Estados Unidos, “o
pai da nossa pátria”, era membro dessa igreja. O próprio Washington assistiu
aos cultos celebrados pelos seus capelães (que eram ministros das distintas
igrejas), e ordenou a todos os seus homens que assistissem a eles. Além
disso, em certa ocasião, doou 40 mil dólares com o fim de estabelecer um
colégio presbiteriano em seu estado natal, que em reconhecimento à sua
doação se chamou Washington College.
N. S. McFetridge lançou luz sobre outro importante acontecimento durante o
período revolucionário. Visando a maior exatidão e inteireza, lançaremos mão
do privilégio de citá-lo extensamente. “Outro fator importante no movimento de
independência”, diz ele, “foi o que se conhece como a Declaração de
Mecklenburg. Esta foi proclamada pelos presbiterianos escoceses e
irlandeses da Carolina do Norte em 20 de maio de 1775, ou seja, um ano
antes da redação da Declaração de Independência. Esta foi a cordial
saudação dos escoceses e irlandeses aos valorosos irmãos do Norte, e seu
intrépido desafio ao poder da Inglaterra. Os presbiterianos escoceses e
irlandeses seguiram bem de perto o desenvolvimento da luta entre as colônias
e a coroa, e ao ouvir a declaração apresentada pelo Congresso ao rei,
declarando às colônias em franca rebelião, estimaram que era o tempo de
expressar abertamente seu sentimento. Como consequência, organizaram um
grupo representativo em Charlotte, Carolina do Norte, que, por decisão
unânime, declarou os colonos livres e independentes, e também declarou
que, desse momento em diante, todas as leis e comissões do rei ficavam
invalidadas”. E continua: Na Declaração aparecem resoluções como as que seguem:
“Pela presente, dissolvemos os vínculos políticos que nos têm unido à pátria mãe, e por
esse meio ficamos eximidos de toda lealdade à coroa britânica. Pela presente, declaramo-
nos um povo livre e independente; somos, e por direito devemos ser, uma associação
soberana e autônoma, sob o controle único do nosso Deus e do governo geral do
Congresso; e para a apresentação dessa associação, comprometemos solenemente nossa
cooperação e até mesmo a própria vida, nossas fortunas e a nossa sagrada honra”. Esta
assembleia se compunha de 27 calvinistas tenazes, dos quais uma terça parte se
compunha de presbíteros da Igreja Presbiteriana, inclusive o presidente e o secretário; e
um deles era ministro presbiteriano. O homem que redigiu esse famoso e importante
documento foi o secretário, Efrain Brevard, presbítero regente da Igreja Presbiteriana,
graduado do Colégio de Princeton. Bancroft registrou que essa Declaração foi “de fato uma
declaração em pé de igualdade com um sistema completo de governo”.[52] A Declaração
foi enviada ao Congresso em Filadélfia por mãos de um mensageiro especial, e foi
publicada no Cape Fear Mercury, distribuída por todo o país. Também foi remetida com
toda rapidez à Inglaterra, onde causou grande comoção.
A identidade de sentimento e a similaridade de expressão entre essa Declaração e a
grande Declaração escrita por Jefferson não podiam passar desapercebidas do
historiador; por isso Tucker, em seu livro, Life of Jefferson [Vida de Jefferson], disse:
“Todos podiam perceber que um desses escritos foi copiado do outro”. No entanto, é
óbvio que Brevard não poderia ter “copiado” do documento de Jefferson, já que ele
escreveu o seu mais de um ano antes. Portanto, Jefferson, em consonância com seu
biógrafo, teria tomado de “empréstimo” de Brevard. No entanto, este foi um plágio tão
proveitoso, que o mundo o perdoará sem reservas. Ao corrigir a primeira cópia da
Declaração, pode-se observar em várias partes que Jefferson apagou as palavras
originais e intercalou as que aparecem originalmente na Declaração de Mecklenberg.
Ninguém poderá nutrir dúvida de que Jefferson tinha diante de si as resoluções de
Brevard enquanto escrevia sua imortal Declaração.[53]
A notável semelhança entre os princípios expressos na Forma de Governo da
Igreja Presbiteriana e os expostos na Constituição dos Estados Unidos da
América do Norte produziu um grande volume de comentários. O dr. E. W.
Smith se expressa nestes termos: Quando os pais da nossa República se sentaram
para redigir um sistema de governo popular e representativo, a sua tarefa não foi difícil
como alguns têm suposto, porque eles já tinham um modelo pelo qual se guiar.[54]
Caso se pergunte a um cidadão comum dos Estados Unidos da América do Norte
quem foi o fundador da sua pátria, o autor da nossa grande república, pode ser que o
mesmo não saiba responder. Podemos imaginar o seu assombro ao ouvir a resposta
dada a esta pergunta pelo famoso historiador alemão, Ranke, um dos mais
destacados eruditos dos tempos modernos. Ranke escreveu: “João Calvino foi, de
fato, o fundador virtual dos Estados Unidos”.[55]
Jean-Henri M. D’Aubigné, cuja história da Reforma constitui um clássico,
escreveu: “Calvino foi o fundador da mais grandiosa das repúblicas. Os
puritanos que deixaram sua pátria no reinado de James I e chegaram às
áridas terras da Nova Inglaterra, fundando populosas e poderosas colônias,
foram seus filhos; e a nação americana, que tão rapidamente temos visto
crescer, ostenta por pai o humilde reformador das margens do lago Leman”.
[56]
O dr. Egbert W. Smith afirma: “Estes princípios revolucionários de liberdade e
autocracia republicana, expostos e incorporados no sistema de Calvino, foram
semeados nos Estados Unidos, onde produziram uma colheita farta; e quem
foram os semeadores? Sem dúvida, foram os calvinistas. Apesar de soar
estranho aos ouvidos de alguns as palavras de Ranke, a relação vital que
existe entre Calvino e o calvinismo, por um lado, e a fundação das instituições
livres dos Estados Unidos, por outro lado, os historiadores de todos os países
e de todos os credos reconhecem e sustentam esse fato”.[57]
Tudo isso é entendido com clareza e reconhecido com imparcialidade por
historiadores perspicazes e filosóficos da estirpe de Bancroft, o qual, ainda
que longe de ser calvinista, considera Calvino “o pai dos Estados Unidos”, e
anexa: “Quem não honra a memória e respeita a influência de Calvino,
conhece bem pouco a origem da liberdade nos Estados Unidos”.
Podemos apreciar ainda mais claramente a veracidade dos testemunhos
citados antes quando nos lembramos de que dois terços da população na
época da Revolução foram instruídos na escola de Calvino, e quando nos
recordamos de que forma tão unida e entusiástica os calvinistas lutaram pela
causa da independência.
Na época da Revolução quase não havia metodistas nos Estados Unidos; e,
de fato, a Igreja Metodista só foi organizada oficialmente na Inglaterra em
1784, ou seja, três anos depois de terminada a Revolução. John Wesley,
ainda que um homem bom e nobre, era um membro do Partido Conservador e
adepto da não-resistência política. Embora tenha escrito contra a “rebelião”
americana, aceitou o afortunado resultado. McFetridge afirmou: “Os
metodistas eram uma pequena minoria nas colônias quando teve início a luta
pela independência. Em 1773, afirmavam ter cerca de 160 membros. Seus
ministros eram quase todos ingleses e fiéis partidários da coroa e opostos à
independência. Portanto, quando a guerra teve início, eles fugiram do país.
Suas ideias políticas naturalmente concordavam com as do grande líder, John
Wesley, que se valia de todo o poder da sua eloquência e influência contra a
independência das colônias.[58] Wesley, não obstante, não podia prever que
os Estados Unidos independentes seriam o campo onde sua nobre igreja
haveria de recolher as mais fartas colheitas e que naquela Declaração, à qual
ele se opôs com tanta insistência, jazia a segurança das liberdades dos seus
seguidores”.[59]
As grandes lutas pela liberdade civil e religiosa na Inglaterra e nos Estados
Unidos foram fomentadas e inspiradas pelo calvinismo, e levadas a bom
termo, em grande medida, pelos calvinistas. Mas, como a maioria dos
historiadores nunca estudou o calvinismo a fundo, jamais nos deram um relato
verídico e completo do que o dito credo fez nesses países. Faz-se necessária
a luz da investigação histórica para demonstrar como os antepassados nos
dois países creram e se pautaram pelos princípios calvinistas. Vivemos na
época em que se tem ignorado em grande medida os serviços dos calvinistas
na fundação dos Estados Unidos, razão da tamanha dificuldade para debater
o tema sem dar a impressão de que aqui se faz um mero encômio ao
calvinismo. Todavia, é possível, com toda a confiança, render honra ao credo
que produziu tão doces frutos e ao qual os Estados Unidos da América do
Norte tanto devem.
O
Ainda que não exista conexão orgânica entre a liberdade civil e a religiosa,
não obstante elas possuem uma forte afinidade entre si; e onde uma não
existe, tampouco a outra poderá prevalecer por muito tempo. A história
manifesta com eloquência que a religião de um povo depende de sua
liberdade ou de sua escravidão. As doutrinas que sustentam e os princípios
que adotam são, portanto, de suprema importância, já que se tornarão a base
sobre a qual a estrutura da sua vida e do seu governo haverão de repousar.
Nesse sentido, o calvinismo tem sido revolucionário, já que tem ensinado a
igualdade natural dos homens, e a sua tendência essencial tem sido a de
destruir toda distinção de classe e toda presunção de superioridade baseada
em riquezas e privilégios adquiridos. Pelo amor à liberdade, os calvinistas se
converteram em combatentes das distinções artificiais que colocam alguns
homens acima dos demais.
Em sentido político, o calvinismo é a principal fonte do governo republicano
moderno. O calvinismo e o republicanismo estão relacionados entre si como
causa e efeito; e, onde um povo possui o primeiro, o segundo prontamente se
desenvolverá. O próprio Calvino sustentou que a igreja, sob a égide de Deus,
era uma república espiritual; isso demonstra seu caráter teoricamente
republicano. James I conhecia muito bem os efeitos do calvinismo, quando
afirmou: “O presbiterianismo e a monarquia são tão afins como o são Deus e
o diabo”. Bancroft menciona o “caráter político do calvinismo, o qual os
monarcas daquela época com unanimidade e com juízo distintivo
consideravam republicanismo”. Outro historiador americano, John Fiske,
escreveu: “Seria difícil superestimar o que a humanidade deve a João
Calvino. O pai espiritual de Coligny, de Guilherme, o Taciturno, e de Cromwell
deve ocupar o primeiro lugar entre os maiores chefes de estado da
democracia moderna. A promulgação dessa teologia foi um dos passos mais
importantes já dados pela humanidade rumo à liberdade individual”.[60] Emilio
Castelar, o líder dos espanhóis liberais, afirmou que “a democracia anglo-
saxônica é o produto de uma teologia severa aprendida nas cidades da
Holanda e da Suíça”. Buckle, no livro History of Civilization [História da
civilização], registrou: “Em essência, o calvinismo é democrático” (I, 669). E
De Tocqueville, um hábil escritor político, o denomina “religião democrática e
republicana”.[61]
Esse sistema não só inspirou em seus seguidores o espírito de liberdade, mas
também os preparou de modo prático para seus direitos e deveres como
homens livres. Além disso, deu a cada congregação o direito de eleger os
próprios oficiais e dirigir os próprios assuntos. Fiske a considera “uma das
escolas mais efetivas que já existiu no treinamento de homens para a
administração do governo autônomo local”.[62] A liberdade espiritual é a fonte
e o sustentáculo de todas as outras liberdades; portanto, não nos deve causar
surpresa quando passamos a conhecer que os princípios norteadores desses
homens nos assuntos eclesiásticos também moldaram suas ideias políticas.
Por instinto, preferiram o governo representativo e resistiram com obstinação
a todo governante injusto. Uma vez derrotado o despotismo religioso, o
despotismo civil não pode prevalecer por muito tempo.
Poderíamos dizer que a república espiritual fundada por Calvino repousa
sobre quatro princípios básicos. Estes foram resumidos por um eminente
estadista e jurista inglês, sir James Stephen, da seguinte maneira: “Esses
princípios foram: Em primeiro lugar, que a vontade do povo era a única fonte
legítima do poder dos governantes; em segundo lugar, que o poder era
delegado pelo povo aos governantes por meio de eleições, nas quais todo
homem adulto podia exercer o direito ao voto; em terceiro lugar, que na esfera
eclesiástica o clero e o laicato tinham o direito de exercer autoridade igual e
forma coordenada; e, em quarto lugar, que nenhuma aliança ou dependência
mútua, ou qualquer outra relação definida, deveria existir entre a igreja e o
estado”.[63]
O princípio da soberania divina, quando foi aplicado aos assuntos do governo,
demonstrou ser de grande importância. Deus, o governante supremo, é
soberano; toda autoridade exercida pelo homem se deve ao fato de lhe ter
sido conferida espontaneamente por Deus. As Escrituras, por conterem
eternos princípios normativos para todas as idades e para todas as pessoas,
foram tomadas como a autoridade final. As seguintes palavras das Escrituras
declaram que o estado é uma instituição divinamente estabelecida: “Todo
homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade
que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele
instituídas. De modo que aquele que se opõe à autoridade resiste à
ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos condenação.
Porque os magistrados não são para temor, quando se faz o bem, e sim
quando se faz o mal. Queres tu não temer a autoridade? Faze o bem e terás
louvor dela, visto que a autoridade é ministro de Deus para o teu bem.
Entretanto, se fizeres o mal, teme; porque não é sem motivo que ela traz a
espada; pois é ministro de Deus, vingador, para castigar o que pratica o mal.
É necessário que lhe estejais sujeitos, não somente por causa do temor da
punição, mas também por dever da consciência. Por esse motivo, também
pagais tributos, porque são ministros de Deus, atendendo, constantemente, a
este serviço. Pagai a todos o que lhes é devido: a quem tributo, tributo; a
quem imposto, imposto; a quem respeito, respeito; a quem honra, honra” (Rm
13.1-7).
No entanto, cabe dizer que nenhum tipo de governo, seja democracia ou
república ou monarquia, foi considerado divinamente estabelecido para uma
época ou povo em particular, ainda que o calvinismo mostrasse preferência
pelo sistema republicano. “Qualquer que fosse o sistema de governo”, diz H.
H. Meeter, “fosse monarquia ou democracia ou qualquer outra forma, em cada
caso o governante (ou os governantes) teria que atuar como representante de
Deus, e administrar os assuntos do governo em conformidade com as leis
divinas. Esse princípio fundamental fornece, ao mesmo tempo, o mais
elevado incentivo para a preservação da lei e da ordem entre os cidadãos
que, por amor a Deus, deveriam render obediência aos poderes superiores,
sem importar quais fossem. Daqui o calvinismo deduz um governo altamente
estável”. E continua: No entanto, em contrapartida, o mesmo princípio da soberania
divina serviu também como poderosa defesa da liberdade dos cidadãos contra os
governantes despóticos. Quando os governantes não faziam caso da vontade divina,
menosprezavam os direitos dos governados e se tornavam abusivos, os cidadãos, em
razão da responsabilidade para com Deus, o Soberano, tinham o privilégio e o dever de
recusar a obediência, e até mesmo, caso fosse necessário, destituir o déspota por meio
das autoridades menores estabelecidas por Deus para a proteção dos direitos do povo.[64]
As ideias calvinistas sobre o governo e os governantes foram expostas com
habilidade por J. C. Monsma no seguinte parágrafo: “Os governos são
instituídos por Deus mediante a instrumentalidade do povo. Nenhum
imperador ou presidente tem em si mesmo poder inerente; qualquer poder
que possua, a autoridade que exerça, é poder e autoridade derivados da
suprema Fonte divina; portanto, o que tais governantes possuem, na
realidade não é poder, e sim a justiça, e justiça que provém da eterna Fonte
de justiça. Daí é muito fácil para os calvinistas respeitarem as leis e
ordenanças do governo. Se o governo fosse apenas questão de um grupo de
homens obrigados a satisfazer os desejos da maioria popular, os calvinistas,
por seu profundo amor à liberdade, prontamente se rebelariam. Mas, como
sua firme crença é que por trás do governo está Deus, em vez de se rebelar,
se prostra diante dele com profunda reverência. Nesta convicção jaz também
a razão fundamental desse profundo e quase fanático amor à liberdade,
incluindo a liberdade política, sempre característico do calvinismo genuíno.
Para os calvinistas, o governo é servo de Deus e, portanto, todos os oficiais,
como homens, estão no mesmo plano que os seus súditos; e em nenhum
sentido podem se considerar superiores. Por essa mesma razão, os
calvinistas preferem o governo do tipo republicano. A soberania de Deus, o
caráter derivativo dos poderes do governo e a igualdade dos homens não
encontra expressão mais clara e eloquente em nenhuma outra forma de
governo”.[65]
A teologia calvinista exalta o único Soberano e exige que todos os outros
soberanos se prostrem diante de sua majestosa presença. Portanto, o direito
divino dos reis e os decretos infalíveis dos papas não puderam prevalecer
entre pessoas que atribuíam soberania apenas a Deus. Mas ainda que essa
teologia exalte a Deus infinitamente como o Governante onipotente do céu e
da terra e demande que todos os homens se prostrem diante dele, não
obstante também incrementa a dignidade do indivíduo e ensina que todos os
homens são iguais. Os calvinistas, por temerem a Deus, não temem ninguém.
E sabendo que ele o escolheu, nos conselhos eternos, e o destinou para as
glórias celestiais, possui algo que dissipa a tendência de render favores aos
homens, e opaca o brilho de toda a grandeza terrena. Se a orgulhosa
aristocracia traça sua linhagem através das gerações de antepassados de
elevada estirpe, ainda com maior orgulho, os calvinistas apontam para o livro
da vida que registra a mais nobre concessão de direitos decretada desde a
eternidade pelo Rei dos reis. Os calvinistas, pela linhagem superior a qualquer
linhagem terrena, na realidade são os verdadeiros nobres, os nobres do céu,
filhos e sacerdotes de Deus, coerdeiros com Cristo, e reis e sacerdotes
divinamente ungidos e consagrados. Infunda-se à mente e ao coração do
homem a verdade da soberania de Deus, e será como se introduzisse ferro no
sangue. A fé reformada se rende ao serviço muito valioso ao ensinar aos
indivíduos seus direitos.
O arminianismo, pela tendência aristocrática radical, se contrasta de maneira
impressionante com as tendências democráticas e republicanas inerentes à fé
reformada. Nas igrejas presbiterianas e reformadas, o presbítero vota no
presbitério, no sínodo ou na assembleia geral em completa igualdade com
seu pastor; nas igrejas arminianas, por sua vez, o poder jaz em grande
medida nas mãos do clero e é bem pouca a autoridade da parte do laicato. O
sistema episcopal finca o pé no governo hierárquico. O arminianismo e o
catolicismo romano (que quase é arminiano) vicejam sob governos
monárquicos, mas o calvinismo acha sua vida limitada ali. O romanismo, por
sua vez, não viceja em uma república, mas ali o calvinismo se expande. No
plano civil, o governo eclesiástico aristocrático tende à monarquia, enquanto o
governo eclesiástico republicano tende à democracia. McFetridge diz: “O
arminianismo é desfavorável à liberdade civil, e o calvinismo é desfavorável
ao despotismo. Os governantes despóticos dos tempos antigos puderam dar-
se conta da verdade dessas premissas; e, reclamando o direito divino dos
reis, temiam o calvinismo e o republicanismo”.[66]
Apêndice C: A justificação só pela fé
Kenneth G. Talbot & W. Gary Crampton
O teólogo americano Charles A. Hodge escreveu certa vez:
Como o homem pode ser justo perante Deus? A resposta dada
a essa pergunta decide o caráter de nossa religião, e, se
adotada na prática, nosso destino futuro. Dar a resposta errada
significa confundir o caminho para o céu. É errar onde o erro é
fatal, pois não pode ser corrigido. Se Deus requer uma coisa, e
nós apresentamos outra, como podemos ser salvos? Se ele
revelou um método no qual ele pode ser justo e justificar o
pecador, e rejeitamos esse método e insistimos em buscar um
caminho diferente, como podemos esperar ser aceitos? A
resposta, portanto, que é dada a questão acima, deve-se
ponderar com seriedade por todos os que assumem o ofício de
mestres religiosos e por todos os dependentes de suas
instruções.[67]
Dr. Hodge está certo. Se quisermos salvaguardar a pureza da
mensagem do evangelho, devemos ser cuidadosos em evitar a má
representação da doutrina da justificação, pois ela é central para a
fé cristã e a existência da igreja de Jesus Cristo. Este apêndice
tenta lidar com o assunto.
A doutrina da justificação só pela graça (sola gratia), por meio só da
fé (sola fide), só em Cristo (solus Christus), estava no próprio cerne
da Reforma. Martinho Lutero a chamava o artigo pelo qual a igreja
cai ou permanece de pé. João Calvino se referiu a ela como a
dobradiça da Reforma.[68] A Igreja Católica Romana, no Concílio de
Trento (1546-1563), reconheceu essa doutrina como a diferença
central entre o protestantismo e o catolicismo romano. Embora essa
doutrina seja o dogma central do cristianismo, o catolicismo romano
decaiu mediante sua rejeição.
Em sentido básico, há cinco visões principais, diferentes e
conflitantes a respeito da doutrina da justificação só pela fé:
liberalismo, neo-ortodoxia, antinomismo, catolicismo romano e
evangelicalismo bíblico.[69] A primeira visão, o liberalismo teológico,
nega a necessidade da fé em Jesus Cristo para a justificação,
mesmo que os outros quatro pontos de vista aleguem a
necessidade da profissão de fé em Cristo como Salvador. O
liberalismo é a religião da justiça pelas obras; sem levar em
consideração o que for necessário à salvação, isso pode ser obtido
pelos esforços da própria pessoa. O ensino desse ponto de vista
claramente não é bíblico.
Em segundo lugar temos a neo-ortodoxia, o movimento teológico
que denuncia o liberalismo e o evangelicalismo bíblico, e tenta
preencher a lacuna entre os métodos previamente mencionados.
Trata-se de uma tentativa fracassada. No ensino neo-ortodoxo, há a
suposta necessidade da fé em Jesus Cristo para a salvação, mas há
uma grande ambiguidade quanto a quem é Cristo. Ele é
verdadeiramente Deus, a segunda pessoa da Trindade, ou é apenas
um homem? Em quem devemos colocar a confiança? Por não
existir a resposta definitiva a essa pergunta na neo-ortodoxia, somos
aparentemente deixados com um paradoxo lógico a respeito da fé e
do objeto da fé. Além disso, a neo-ortodoxia ensina que a fé
salvadora não é necessariamente seguida de boas obras. Alguém
pode genuinamente professar fé em Jesus Cristo sem sua vida ser
transformada a ponto de viver em conformidade com a Palavra de
Deus. A neo-ortodoxia promove um falso evangelho; portanto, não é
o cristianismo bíblico.
Em terceiro lugar está a doutrina do antinomismo,
predominantemente encontrada hoje no dispensacionalismo
(embora não restrita a ele), que alega crer na justificação só pela fé
e só em Jesus Cristo. Os antinomistas também enfatizam a
natureza “fiduciária” da fé salvadora em Jesus Cristo, revelada na
Escritura. Algumas explicações são necessárias a respeito do
significado da natureza da fé “fiduciária”.
Primeiro, nem toda fé é fé justificadora. A Bíblia menciona vários
tipos de fé, sendo apenas um deles a fé genuína e que justifica. A fé
histórica é um tipo de fé que não justifica. Tudo que está envolvido
nela é o assentimento histórico às alegações de veracidade do
evangelho. Como o texto de Tiago 2.19 ensina, mesmo os demônios
possuem esse tipo de fé: “Crês, tu, que Deus é um só? Fazes bem.
Até os demônios creem e tremem”. A Escritura também se refere à
fé temporal, que não justifica. Esse tipo de fé não dura; pode
persistir por um tempo, mas desaparece nos tempos de
perseguição. Vemos esse ensino em Mateus 13.20,21: “O que foi
semeado em solo rochoso, esse é o que ouve a palavra e a recebe
logo, com alegria; mas não tem raiz em si mesmo, sendo, antes, de
pouca duração; em lhe chegando a angústia ou a perseguição por
causa da palavra, logo se escandaliza”. Há também a fé miraculosa,
que crê em milagre ou até mesmo os realiza, como em 1 Coríntios
13.1,2: “Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se
não tiver amor, serei como o bronze que soa ou como o címbalo que
retine. Ainda que eu tenha o dom de profetizar e conheça todos os
mistérios e toda a ciência; ainda que eu tenha tamanha fé, a ponto
de transportar montes, se não tiver amor, nada serei”. Paulo nos diz
que mesmo o anticristo pode realizar tais “prodígios de mentira” (2Ts
2.9). Essa também não é a fé que justifica.
O Breve catecismo de Westminster afirma de forma muito clara: A
“fé em Jesus Cristo é uma graça salvadora, pela qual o recebemos
e confiamos só nele para a salvação, como ele nos é oferecido no
evangelho”.[70] A fé bíblica aceita e crê na Palavra de Deus como a
verdade divina a respeito de seu Filho. É esse tipo de fé que une o
crente a Cristo, com base em sua pessoa e obra. Somos informados
em João 7.38: “Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu
interior fluirão rios de água viva”. É esse o tipo de fé pela qual um
pecador é justificado perante Deus, conforme ensinado pelo
apóstolo Paulo em Romanos 3.22-26: “justiça de Deus mediante a
fé em Jesus Cristo, para todos [e sobre todos] os que creem; porque
não há distinção, pois todos pecaram e carecem da glória de Deus,
sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a
redenção que há em Cristo Jesus, a quem Deus propôs, no seu
sangue, como propiciação, mediante a fé, para manifestar a sua
justiça, por ter Deus, na sua tolerância, deixado impunes os
pecados anteriormente cometidos; tendo em vista a manifestação
da sua justiça no tempo presente, para ele mesmo ser justo e o
justificador daquele que tem fé em Jesus”.
Na fé justificadora o crente se apropria e descansa só em Cristo
como Mediador em todos os seus ofícios, baseado no testemunho
divino da Palavra. Portanto, o cristianismo ortodoxo ensina que a fé
justificadora envolve três elementos: conhecimento (notitia),
assentimento (assensus) e confiança (fiducia). Não é suficiente
conhecer a verdade sobre Jesus Cristo; nem é suficiente só assentir
às reinvindicações de veracidade do evangelho (como na fé
histórica), não importa quão essenciais sejam. A fé salvadora é
também a que aquiesce de todo coração ao Cristo revelado na
Escritura. A conversão bíblica envolve o compromisso de toda a
alma. A fé justificadora dá a resposta fiducial (isto é, que confia) às
promessas do evangelho. Como ensinou o Senhor Jesus Cristo em
Mateus 10.22, trata-se da fé que persevera até o fim: “Aquele,
porém, que perseverar até ao fim, esse será salvo”. Essa fé não
deposita a confiança em sinais e maravilhas (Jo 6.26-29). É a fé que
produz fruto espiritual, “frutificando a trinta, a sessenta e a cem por
um” (Mc 4.20) Em geral isso é ensinado, e de maneira correta, pelos
antinomistas.
Qual é o erro do antinomismo? Está na visão defeituosa da
necessidade de boas obras. A negação da necessidade de boas
obras no processo de santificação, após a justificação, equivale à
negação da fé salvadora genuína, pois a “fé sem obras é morta” (Tg
2.26). Não dizemos que os antinomistas se opõem às boas obras.
Na verdade, muitos deles são zelosos por elas.
Todavia, quando essa escola afirma que pode ocorrer a justificação
pela fé sem boas obras “necessárias” (diferente de meritórias), ela
invalida a doutrina da justificação pela fé, pois a fé não operosa não
é a fé justificadora. O antinomismo, então, é outro evangelho.
Em quarto lugar temos o catolicismo romano. Primeiro, enquanto no
cristianismo bíblico a “justificação é um ato da livre graça de Deus,
no qual ele perdoa todos os nossos pecados, e nos aceita como
justos diante de si, somente por causa da justiça de Cristo a nós
imputada, e recebida só pela fé”,[71] no romanismo a justificação é
infundida no crente, pelo que ele se torna justo.[72] O crente, então,
pode perder o estado de justificação ao cair da fé. Essa é uma visão
falsa da justificação. Segundo, no romanismo o indivíduo é
justificado pela fé acrescida de obras.[73] As boas obras meritórias
são necessárias para completar a fé; as obras precedem a
justificação, em vez de segui-la. As obras tornam-se fundamentais
para a justificação; elas não são boas obras “necessárias” que
adornam a fé viva e demonstram que o indivíduo foi “aceito” por
Deus; antes, são boas obras meritórias necessárias para sermos
“aceitos” por Deus. Portanto, o pecador crente é capaz de alcançar
a própria justificação; ele conquista sua salvação. Este é um ensino
fatalmente errôneo e absolutamente um outro evangelho.
Em quinto lugar temos o cristianismo evangélico, que ensina a
justificação só pela graça, por meio só da fé, só em Cristo. A
doutrina da justificação é admiradamente ensinada pela Confissão
de fé de Westminster: Os que Deus chama eficazmente, também
livremente justifica. Esta justificação não consiste em Deus infundir
neles a justiça [como no catolicismo romano], mas em perdoar os
seus pecados e em considerar e aceitar as suas pessoas como
justas. Deus não os justifica em razão de qualquer coisa neles
operada ou por eles feita, mas somente em consideração da obra
de Cristo; não lhes imputando como justiça a própria fé, o ato de
crer ou qualquer outro ato de obediência evangélica, mas
imputando-lhes a obediência e a satisfação de Cristo, quando eles o
recebem e se firmam nele pela fé, que não têm de si mesmos, mas
que é dom de Deus.
A fé, assim recebendo e assim se firmando em Cristo e na
justiça dele, é o único instrumento de justificação; ela, contudo
não está sozinha na pessoa justificada, mas sempre anda
acompanhada de todas as outras graças salvadoras; não é uma
fé morta, mas obra por amor.[74]
É claro que, quando os teólogos de Westminster falam da
justificação só pela fé, eles não dizem que a fé seja em algum
sentido meritória. A fé é o que une alguém a Cristo, o único que
salva. Ter fé significa confiar em Cristo, o único que justifica.
A justificação é pela graça de Deus (sola gratia), por meio só da fé
(sola fide). A Confissão de Westminster ensina claramente que a fé
é “o único instrumento da justificação”, não a causa dela. Além
disso, a justificação é forense; isto é, trata-se de um ato ou
declaração legal de Deus. A justificação é imputada, não infundida.
Como Paulo ensinou em 2 Coríntios 5.21, a justiça que justifica é
alheia; é a justifica de Cristo: “Aquele [Cristo] que não conheceu
pecado, ele [Deus] o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos
feitos justiça de Deus”. O pecador culpado é “declarado” justo, em
Cristo, por Deus. Deveríamos considerar cuidadosamente também o
que a posição evangélica e reformada ensina, como observado em
2 Coríntios 5.21 e na Confissão de fé de Westminster, ou seja, que
existe uma dupla imputação que ocorre na justificação.
A justiça de Cristo é imputada aos eleitos, embora ao mesmo tempo
seus pecados são imputados a Cristo. Não é suficiente que os
pecadores eleitos sejam perdoados (e seus pecados retirados), eles
devem também ser declarados justos quando a justiça perfeita de
Cristo lhes é imputada. Nas palavras do Breve catecismo de
Westminster, na justificação Deus não só “perdoa todos os nossos
pecados”, mas também “nos aceita como justos diante de si,
somente por causa da justiça de Cristo a nós imputada, e recebida
só pela fé”.[75]
O cristianismo bíblico também ensina que a fé salvadora genuína
envolve a resposta fiduciária a Jesus Cristo como Salvador e
Senhor. Como explica o Catecismo maior de Westminster: A fé
justificadora é a que salva. É operada pelo Espírito e pela Palavra
de Deus no coração do pecador que, sendo por eles convencido do
seu pecado e miséria e da sua incapacidade, e das demais
criaturas, para o restaurar desse estado, não somente aceita a
verdade da promessa do Evangelho, mas recebe e confia em Cristo
e na sua justiça, que lhe são oferecidos no Evangelho, para o
perdão de pecados e para que a sua pessoa seja aceita e reputada
justa diante de Deus para a salvação.[76]
Além do mais, como ensinou a Confissão de fé de Westminster
(citada acima), o evangelismo bíblico mantém que, embora a
justificação seja só pela graça, por meio só da fé, só em Cristo, a fé
justificadora “não está sozinha na pessoa justificada, mas sempre
anda acompanhada de todas as outras graças salvadores; não é
uma fé morta, mas obra por amor”. Isto é, a fé salvadora produzirá
boas obras: “a raiz dos justos produz o seu fruto” (Pv 12.12). A fé
justificadora não significa a fé acrescida de obras (como no
catolicismo romano), nem a fé sem obras (como no
antinomianismo); trata-se da fé operante. As obras, contudo, não
são obras de mérito, mas de necessidade, pois “a fé sem obras é
morta” (Tg 2.26).
A fé salvadora “necessariamente” produzirá boas obras, pois, como
explicou João Calvino, a justificação e a santificação são
inseparáveis. A santificação flui por necessidade da justificação:
Cristo a ninguém justifica, a quem, ao mesmo tempo, não santifique
[...] Portanto, faz-se evidente quão verdadeiro é que somos
justificados não sem as obras, contudo nem por meio das obras,
porque na participação de Cristo, na qual consiste toda nossa
justiça, não se contém menos a santificação que a justiça [...] o
Senhor graciosamente justifica os seus, para que, ao mesmo tempo,
os restaure à verdadeira justiça, mediante a santificação de seu
Espírito.[77]
Ao enfatizar mais a necessidade de boas obras, Calvino comentou:
Pois embora as obras de modo algum concorram para a causa
da justificação, quando os eleitos filhos de Deus foram
justificados graciosamente pela fé, suas obras, ao mesmo
tempo, foram tidas por justas por essa mesma liberalidade
graciosa. Assim, ainda permanece verdadeiro que a fé sem
obras justifica, embora isto necessite de prudência e uma sã
interpretação; pois esta proposição, de que a fé sem obras
justifica, é verdadeira e, todavia, falsa, segundo os diferentes
sentidos que ela porta. É falsa a proposição de que a fé sem
obras justifica por si mesma, porque a fé sem obras é nula.[78]
Devemos distinguir a justificação da santificação, mas nunca
devemos separá-las. A justificação é um ato da livre graça de Deus
baseado na imputação da justiça de Cristo aos pecadores eleitos.
Trata-se de um ato único, de uma vez por todas, pelo qual Deus
perdoa os pecadores eleitos. Já a santificação é um processo. É um
ato contínuo da livre da graça de Deus. O Catecismo maior de
Westminster explica a diferença da seguinte forma: Ainda que a
santificação seja inseparavelmente unida com a justificação,
contudo elas diferem nisto: na justificação Deus imputa a justiça de
Cristo, e na santificação o seu Espírito infunde a graça e dá forças
para a exercer. Na justificação o pecado é perdoado, na santificação
ele é subjugado; aquela liberta a todos os crentes igualmente da ira
vingadora de Deus, e isto perfeitamente nesta vida, de modo que
eles nunca mais caem na condenação; esta não é igual em todos os
crentes e nesta vida não é perfeita em crente algum, mas vai
crescendo para a perfeição.[79]
No ato forense da justificação, Deus perdoa todos os pecados dos
eleitos, livrando-os igualmente de sua ira. Na justificação, todos os
membros do povo de Deus são declarados justos e adotados em
sua família. Eles nunca podem cair de novo no estado de
condenação (isto é, não podem perder seu status legal perante
Deus, pois Cristo é o fiador legal por meio de quem eles foram
plenamente perdoados e recebidos na família de Deus). Já no
processo de santificação, o remanescente do pecado é subjugado
na vida do crente. Embora esse processo nunca seja perfeito nesta
vida (isto é, é completado apenas no estado de glória), os crentes
buscam de todo o coração alcançar o estado de perfeição ao
mortificar o pecado (fazendo o pecado morrer) e andar nos
caminhos da justiça por amor ao nome de Cristo.
Sobre os autores
O Rev. Kenneth Gary Talbot, Ph.D., Th.D. é presidente do Whitefield
Theological Seminary e serve como professor de Teologia e Apologética. Dr.
Talbot é ministro ordenado da Reformed Presbyterian Church General
Assembly e atualmente pastoreia a Christ Presbyterian Church de Lakeland,
Flórida. Ele reside em Lakeland, Flórida, com sua esposa (Phyllis) e filha
(Alyssa). É o autor do livro Confirmação da nossa fé sobre a visão reformada
dos sacramentos.
O Rev. W. Gary Crampton, Th.D., Ph.D. é ministro ordenado da Reformed
Presbyterian Church General Assembly. Dr. Crampton serve como professor
de Sistemática e Teologia Exegética no Whitefield Theological Seminary. Ele é
o autor de diversos livros, entre eles O escrituralismo de Gordon Clark e
Cristo, o Mediador. Atualmente reside em Glenn Allen, Virgínia, com sua
esposa (Ann).