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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E DA EDUCAÇÃO


PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA
DISCIPLINA: Teoria e Metodologia da História – Linguagens e Identificações
Professora: Dra. Márcia Ramos de Oliveira
Discente: Patrícia Carla Mucelin
PAPER: REIS, José Carlos. Tempo & História: tempo histórico, história do
pensamento ocidental e pensamento brasileiro. Rio de Janeiro: FGV, 2012.

O texto de José Carlos Reis propõe pensar os conceitos de tempo, pois se a


noção de tempo existe, ela deve ser relativa a alguma coisa, que não seja ela mesma ou
o nada. Reis afirma que se a noção de tempo existe, o tempo é “alguma coisa” e é
justamente a linguagem que faz aparecer o tempo, que permite que possamos percebê-
lo. Para definir esses conceitos, então, o autor explora inicialmente as partes que o
compõem, que são o passado, o presente e o futuro, levantando um questionamento
também sobre a maneira como essas partes do tempo se relacionam. Citando Ricoeur,
Reis afirma, que o tempo é o que se fala dele, se torna visível por meio da linguagem,
desta maneira a melhor forma de abordá-lo é através da “história do tempo”, ou seja dos
discursos e representações que cada sociedade fazia dele.
Reis se pergunta se o passado é o que já não é mais observável, o conhecimento
histórico, então, seria possível? Para o autor, o tempo é tão necessário ao historiador que
ele acabou por naturalizá-lo. Se todo trabalho de história é uma organização temporal, o
historiador não deve separar a reflexão teórica sobre o tempo das suas pesquisas sobre a
experiência humana, assim sua teoria se torna prática e essa noção do tempo se torna
implícita à reconstrução histórica.
O sentido da investigação do historiador possui uma dimensão diacrônica, assim
o historiador busca acompanhar e compreender as mudanças nas vidas dos homens, por
meio de sua descrição, análise e avaliação. Ainda assim, o historiador se dirige, como
colocou Febvre, ao presente, aos seus contemporâneos e, portanto, o passado só é
apreensível quando comparado com o presente. Embora o anacronismo seja visto por
Febvre como um erro histórico, Dumolin e Loraux apontam para o aspecto positivo
desse conceito, que é a possibilidade que o anacronismo tem de proposição de questões
de hoje no passado que podem lançar novas luzes sobe ele.
O tempo histórico é a própria forma dos eventos humanos, que lhes confere
inteligibilidade e identidade. Os conceitos sobre o tempo histórico, se usados
conscientemente, podem tornar a abordagem do passado mais eficaz. Por conseguinte
Reis faz um levantamento desses conceitos de tempo histórico como representação
intelectual no debate entre os Annales e a história tradicional, o conceito de Paul
Ricoeur de tempo-calendário, as categorias de Reinhart Koselleck, campo de
experiência e horizonte de expectativa e, por fim, fala também sobre os regimes de
historicidade de François Hartog.
Embora o presente esteja enraizado no passado, tomar conhecimento dessa raiz
não esgota seu conhecimento, pois ele é também um conjunto de tendências para o
futuro, assim como o momento de uma iniciativa original. Por ser um momento
original, ele necessita de um estudo dele próprio que combine as origens passadas, as
tendências futuras, bem como a ação atual. A pesquisa histórica, por um lado, tem que
fazer uma reconstituição dos fatos, e por outro, possui uma dimensão problematizadora,
que afeta e modifica a reconstituição dos fatos, mas sem comprometê-la, permitindo que
o historiador possa enriquecê-la.
O tempo histórico é essa tensão entre experiência e expectativa, pois a
experiência é o passado atual, enquanto a expectativa é o passado atualizado no
presente, e desta maneira, formam conceitos assimétricos, pois passado e futuro não se
recobram, e de sua diferença se poderia deduzir algo que seria o tempo histórico. Isso
nos mostra que o tempo histórico não é um, mas múltiplos e os tempos se superpõem,
afinal as diferenças entre experiência e expectativa são plurais. Desta maneira, cada
presente constrói ritmos históricos diferenciados.
O conceito de regime de historicidade, por sua vez, se impõe imperiosamente
aos indivíduos, sem que eles se dêem conta, criando determinações em suas vidas.
Hartog dialogava com Koselleck quando criou seus regimes de historicidade, e se
referia ao modo como uma sociedade trata seu passado, e também ao modo de
consciência de si como comunidade humana. Essa noção nos ajuda a comparar tempos
históricos diferentes para lançar luz sobre formas singulares de experiência no tempo.
Um regime de historicidade é uma articulação em um presente entre um campo de
experiência e um horizonte de expectativa, ou seja, é a consciência histórica de si deste
presente, em relação ao que se lembra e ao que se espera.
Pensar o tempo na historia, não é tarefa fácil, mas é indispensável aos
historiadores, como pensar, então, a consciência história a partir do nosso regime de
historicidade: o do presentismo? Se o presentismo está centrado em um imediatismo que
tenta se bastar e rejeita um passado e futuro imediatos, é possível que nós historiadores
dele nos libertemos para articular as temporalidades que envolvem o fazer histórico: o
passado, o presente e o futuro?

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