Renan Massoto – Robson Hidalgo A reportagem publicada em 26 de abril de 2009, na revista O Globo, com entrevista ao sociólogo polonês Zigmunt Bauman, tenta, ineficientemente, criticar a sociedade da informação na qual vivemos atualmente. Ineficiente porque, para tal, além de ignorar o inevitável, foi tendenciosa, começando por apresentar apenas um exemplo negativo, em abordagem um tanto caricata, de um caso extremo – no personagem de José Camarano. As tecnologias são fruto da própria vivência, da condição evolutiva, e a facilidade da informação é a conseqüência natural da racionalidade do animal humano. A forma como o homem encara o seu tempo tem relação com a adaptação natural ao tempo a que pertence e aos cenários criados em sua realidade. Nesse contexto, figuras de perfis mais atrasados apresentam dificuldades em se adequar às novas tecnologias, buscando ambientes que condizem com seu tempo psicológico. Não podemos dissociar a sociedade da informação da sociedade do conhecimento. Não é possível se chegar a uma sem passar pela outra . As tecnologias que geram informações e a grande quantidade destas são fundamentais para a geração e busca do conhecimento. A maior quantidade de informações à disposição do homem jamais poderia ser considerada um malefício à condição humana. Muito pelo contrário, as informações e tecnologias devem estar a cada momento expandindo-se e aperfeiçoando-se, a fim de facilitar e melhorar a vida de todos. Distúrbios de inadaptabilidade podem haver, dentro do processo evolutivo, dos dois lados, na linha do tempo. Aqueles que não conseguem acompanhar a evolução e outros que se excedem e atropelam o tempo. A ansiedade, os distúrbios psicológicos, e todos os possíveis problemas a que se referem as idéias da reportagem, podem estar associados a um pequeno grupo de pessoas que não conseguem acompanhar o nosso tempo e a fazer o melhor uso do que a era da informação tem a oferecer. A informação simplesmente ficou mais fácil, mas não chegaremos ao ponto de nos exigir mais do que possamos dar. Pelo contrário, ao longo dos tempos, houve um empobrecimento da cultura do conhecimento. Com a especialização e divisão do trabalho, o homem inibiu grande parte do seu desenvolvimento intelectual, perdeu a capacidade de perceber o mundo como um todo, a visão holística. Os homens comuns do século XX passaram por um grande marasmo, até atingirmos essa etapa, da facilidade da informação que, de certa forma, o mantém mais acordado, interessado na vida e nas coisas. Comparando a atualidade às épocas anteriores, podemos observar, ao contrário do que os críticos de nossa era possam dizer, que a melhoria na geração de informação não nos fez perder tempo, mas sim ganhar. O tempo de trabalho de um cidadão comum hoje, para produzir o mesmo que se produzia há cinqüenta anos atrás, foi reduzido à metade ou ao terço, dependendo da atividade. O tempo para realizar tarefas secundárias em nossa vida, mas necessárias, hoje em dia, é insignificante diante daquele gasto há vinte anos atrás: compras, operações bancárias, comunicação... Resolvemos em uma hora de nossa vida o que demoraria até mesmo dias para ser resolvido. E ganhamos com isso! Tempo para nos dedicar à família, aos estudos, aos amigos. A relutância em encarar a mudança dos tempos, sim, gera alguns contratempos para a sociedade. Como exemplo, podemos citar legislações atrasadas e manutenção tradicional da carga de trabalho. Estamos em tempo de dar mais espaço aos homens para fazer parte dessa sociedade. Pois ela ainda é para poucos; ela é a qualidade de vida desses poucos. Em um país como o Brasil, muitos ainda vivem aquém da sociedade da informação. As horas são gastas em poucas atividades e isso não os faz ter mais tempo livre. Pelo contrário, não se adquire mais conhecimento, não se é mais completo por causa disso. O homem, na sociedade atrasada, trabalha oito ou mais horas por dia, enfrenta longas filas, não tem tempo para estudar, espera respostas que demoram a chegar, resolve os problemas com muito mais lentidão. E isso o beneficia? O tempo que se gasta de forma tradicional poderia ser muito reduzido se integrante da sociedade da informação. E poderia se fazer duas vezes mais e ainda ter o tempo livre para pensar em si e na vida. A expansão tecnológica tem nos garantido maior quantidade de informações, mas bem diferente do que a reportagem coloca, essa evolução tem garantido progressivamente a confiabilidade e qualidade das mesmas. À medida que o tempo passa, temos mais quantidade associada à qualidade. É um universo de coisas dentro do terreno humano. No entanto, nada é imposto ao homem. E as transformações de sua realidade estão condicionadas a sua transformação natural. As tecnologias e informações se fazem cada vez mais presentes e estão à disposição do homem, para atender às suas necessidades. O que exceder a isso não passa de mera escolha e distúrbio. E o excesso sempre esteve presente em qualquer sociedade. A quantidade é cada vez mais provida de qualidade e cada um seleciona aquilo que lhe será útil. Você tem a liberdade para decidir se perderá tempo com bobagens ou não – e de definir o que é bobagem para você.