Você está na página 1de 29

Capítulo 1

Introdução aos Sistemas Elétricos

1. CONCEITOS BÁSICOS
Após a revolução industrial , a energia elétrica assumiu um papel deci-
sivo no mundo moderno e a cada dia o consumo de energia vem sendo incre-
mentado. Esta importância da energia elétrica está associada a três fatores:
a) Facilidade de se converter qualquer forma de energia em energia
elétrica.
b) Facilidade de se transmitir esta energia através de grandes dis-
tâncias com custo relativamente baixo.
c) Facilidade de se converter energia elétrica em outras formas de
energia utilizadas na vida moderna como eletrodomésticos, bom-
bas, lâmpadas, elevadores.

Com este consumo de energia sendo incrementado dia após dia, a pro-
dução de energia obrigatoriamente teve que acompanhar este ritmo. Nos sis-
temas elétricos a energia é produzida pelo processo de conversão de energia,
isto é:
a) Pela utilização de energia térmica em energia mecânica através de tur-
binas à vapor, turbinas à gás e motores diesel.
b) Pela utilização da força das quedas de água para acionar turbinas hi-
dráulicas.
c) Pela conversão da energia solar em energia elétrica.
d) Pela conversão de energia eólica em energia mecânica e desta em elé-
trica...

I- 1
Capítulo 1 - Introdução aos Sistemas Elétricos

Esta energia elétrica é gerada em centrais de geração através de má-


quinas síncronas que operam normalmente com tensões nominais abaixo de
25 kV. No Brasil, estas centrais são predominantemente hidrelétricas e na sua
quase totalidade estão situadas longe dos grandes centros de carga.
O transporte de energia das centrais de geração até os centros de car-
ga são realizadas pelas linhas de transmissão, elas são as “artérias” dos sis-
temas elétricos. O crescimento econômico e populacional, as restrições ambi-
entais e o uso corrente de energia elétrica levaram progressivamente a ne-
cessidade de mais linhas de transmissão ocupando o menor espaço possível.
A solução natural foi o emprego de níveis de tensão cada vez maiores
para a transmissão de energia elétrica, praticamente dobrando a cada 20
anos. Apareceram assim linhas em 69 kV, 138 kV, 345 kV, 500 kV e 750 kV. O
primeiro sistema elétrico em 765 KV entrou em operação em 1965 no Canadá (
735 KV da Hydro Quebec). No Brasil, atualmente, o maior nível de tensão é o
de 765 KV do sistema de Itaipu.
Para ilustrar este fato apresentamos a figura 1 que procura dar uma
idéia do aumento da capacidade de transmissão a medida que se eleva o nível
de tensão. O tamanho das estruturas e a ocupação de espaço físico estão em
uma mesma escala. Para valores típicos de transporte apresentados na Figura
1, concluímos que uma linha de 765 kV carrega o equivalente a 30 linhas de
138 kV, com uma estrutura de transmissão de mais ou menos o dobro do ta-
manho daquela de 138 kV.

Figura 1 – Análise comparativa de estruturas de diferentes tipos de tensão

I-2
Capítulo 1 - Introdução aos Sistemas Elétricos

O controle do fluxo de energia elétrica é realizado nas subestações ao


longo do sistema elétrico. Nas subestações a energia é transformada para ní-
veis de tensão mais adequados, permitindo o transporte de energia de forma
mais segura e econômica.
Define-se uma subestação como um conjunto de componentes e equi-
pamentos elétricos usados para controlar e direcionar o fluxo de energia elétri-
ca em um sistema elétrico de potência.

2. ESTRUTURA GERAL DE UM SISTEMA ELÉTRICO

A estrutura geral de um sistema de potência pode ser visualizada atra-


vés da Figura 2. Nesta figura estão mostrados as diferentes partes constituintes
de um sistema elétrico caracterizados por diferentes níveis de tensão separa-
dos por transformadores.
A produção de energia é formada por centrais de geração constituída
por um conjunto de geradores síncronos. Estes geradores por limitações físi-
cas não são fabricados em tensões acima de 25 KV e são movidos por máqui-
nas primárias ou turbinas.
As usinas hidrelétricas e termelétricas são os dois tipos mais comuns de
centrais de geração. A Figura 3 mostra o perfil típico de uma usina hidrelétrica,
onde a energia potencial da água armazenada no reservatório é transformada
em energia cinética e energia de pressão dinâmica pela passagem da água
pelos condutos forçados. Ao fazer o acionamento da turbina hidráulica, essa
energia é convertida em mecânica que por sua vez transmite pelo eixo ao ge-
rador, onde finalmente a energia mecânica é convertida em energia elétrica.
A transmissão num sistema elétrico constitui um conjunto de linhas de
transmissão e subestações que operam em níveis de ultra alta tensão ( ten-
sões acima de 500 KV ) e extra alta tensão ( tensões acima de 138 KV e 500
KV ) como função transportar grandes blocos de potência dos centros de gera-
ção até as subestações de maior carga do sistema elétrico, geralmente em
volta de grandes centros urbanos ou industriais.

I-3
Capítulo 1 - Introdução aos Sistemas Elétricos

Figura 2 - Esquema geral de uma sistema elétrico de potência

Figura 3 - Perfil típico de uma usina hidrelétrica

I-4
Capítulo 1 - Introdução aos Sistemas Elétricos

Dentro dos sistemas de transmissão destacamos as linhas de interliga-


ção ( ‘tie lines’ ) que interligam sistemas elétricos permitindo: um aumento da
confiabilidade de ambos os sistemas, uma possibilidade de um intercâmbio de
energia entre os diversos sistemas de acordo com as disponibilidades e ne-
cessidades diferenciadas, uma redução nos custos da construção, na opera-
ção e manutenção de unidades de reserva.
A subtransmissão consiste de um conjunto de linhas e subestações que
operam em níveis de E.A.T. e A.T. ( alta tensão, tensões entre 69 KV e 138
KV) com a função de distribuir a energia entre às subestações situadas em
torno de grandes centros urbanos e industriais.
É importante salientar que não existe uma separação clara entre os cir-
cuitos de transmissão e subtransmissão. O aumento de demanda na carga
torna geralmente necessário superpor uma nova rede numa tensão mais alta a
uma já existente, fazendo com que uma rede que era de transmissão passe a
ser de subtransmissão.
O nível de distribuição constitui a malha mais refinada do sistema elétri-
co; nele, são alimentados a partir de subestações de distribuição, pequenos e
médios consumidores. Usualmente dois níveis de tensão de distribuição são
utilizados: o de distribuição primária com tensões da ordem de 15 KV (13.8
KV) e outra de distribuição secundária com tensões abaixo de 500V
(380V/220V/110V). O nível de subtransmissão é o responsável pela interliga-
ção das diversas subestações de distribuição de uma dada área geográfica e
tem tensões entre 13.8 KV e 138 kV.
Hoje, toda a estrutura de um sistema elétrico é gerenciada e monitorada
continuamente em sistemas de controle computadorizados. O aumento do ta-
manho e da complexidade dos sistemas elétricos, acarretou a necessidade de
ferramentas eficientes para garantir a confiabilidade e a qualidade do forneci-
mento de energia elétrica a um baixo custo. Cada importante nó ou barra de
um sistema elétrico tem suas ações de comando e supervisão locais realiza-
das por uma U.T.R. (unidade terminal remota). As unidades terminais remotas

I-5
Capítulo 1 - Introdução aos Sistemas Elétricos

de uma dado conjunto de subestações é comando e controlado por centros de


controle regionais.
Centros de controle regionais centralizam todas as informações, ações
e dados regionais a partir de ações definidas pelo Centro de Controle Principal
ou Geral.
O Centro de Controle Principal é modernamente constituído por um
conjunto de computadores que operam o sistema elétrico tomando decisões a
partir de dados e informações geradas por estudos on-line e off-line.
As funções de sistemas de controle deste tipo vão desde de funções
SCADA ( Supervisory Control And Data Acquisition - controle supervisório e
aquisição de dados) até operação econômica, verificando o desempenho e a
segurança na rede, de modo a manter adequados os padrões de qualidade e
quantidade de energia suprida ao longo do tempo.
A Figura 4 mostra um esquema de um sistema de controle supervisório
deste tipo.

Figura 4 – Sistema de Controle Supervisório

I-6
Capítulo 1 - Introdução aos Sistemas Elétricos

3. HISTÓRICO DO CRESCIMENTO DOS SISTEMAS ELÉTRICOS

O primeiro sistema elétrico de potência a entrar em funcionamento foi


nos anos de 1880, construído por Edson, em Nova York, incluindo a usina de
Pearl Street. Este sistema fornecia energia para iluminação pública de parte da
cidade e alimentação de pequenos motores. Vale salientar que, sem a inven-
ção da lâmpada da incandescente por Thomas Alva Edson e dos trabalhos da
Siemens, Grammee Pacinotti na área da produção de energia elétrica a partir
da energia mecânica, este primeiro sistema elétrico não teria sido construído.
Com a entrada em funcionamento deste primeiro sistema elétrico em
corrente contínua, ficou evidenciado as limitações do uso de corrente contínua
para transporte de energia. As perdas por efeito Joule no transporte de ener-
gia elétrica em corrente contínua, se tornavam tão elevadas a medida que se
afastava das usinas que quando se queria transportar energia a distâncias
maiores, era obrigatório a construção de novas usinas.
O desenvolvimento dos sistemas em corrente alternada teve início em
1885, quando Jorge Westinghouse comprou as patentes do sistema de trans-
missão em corrente alternada desenvolvidas por L. Goulad e J. D. Gibbs.
William Stanley, antigo sócio de Westinghouse, em Greet Barrington e
Massachusetts nos anos de 1885/1886, instalou nesta cidade o primeiro sis-
tema experimental de distribuição em corrente alternada que alimentava 150
lâmpadas. Porém, o grande impulso dos sistemas de corrente alternada só
aconteceu por volta de 1886/1887, quando foi inventado o transformador que
permitia elevar e diminuir a tensão, com grande rendimento, desde que a
energia fosse em corrente alternada.
As primeiras linhas de transmissão eram monofásicas, e a energia con-
sumida em geral era para a iluminação. Duas realizações se destacaram neste
período:
a) Em 1886 foi construída uma linha monofásica com 29,5 km na Itália,
conduzindo 2700 HP para Roma
b) Em 1888, foi construída uma linha de 11KV trifásica, com um compri-
mento de 180 Km na Alemanha

I-7
Capítulo 1 - Introdução aos Sistemas Elétricos

A invenção entre 1885 e 1888 dos motores de indução, por Ferraris e


Tesla, deu novo impulso aos sistemas de corrente alternada. A partir deste fato
os sistemas de corrente continua ficaram restritos a pequenas aplicações con-
de os motores em corrente continua ainda apresentavam algumas vantagens.
No Brasil, a indústria de eletricidade teve seu início em 1889, com a
construção da primeira hidroelétrica da América do Sul, pela Cia. Mineira de
Eletricidade, em Juiz de Fora - MG, oriunda da visão empresarial e da capaci-
dade empreendedora de Bernardo Mascarenhas.
Durante esta época com a economia brasileira ainda bastante incipien-
te, surgiram as primeiras companhias de eletricidade. Neste período a entrada
do capital estrangeiro nas companhias de eletricidade teve bastante importân-
cia na evolução do setor elétrico, não apenas pelo capital investido mais tam-
bém pela tecnologia transferida.
Em 9 de outubro de 1899, o grupo Light começa a atuar na cidade de
São Paulo, sob o nome de “The São Paulo Railway, Light and Power Co. Ltd.”,
assumindo os direitos e obrigações do contrato de concessão para exploração
de serviços públicos de energia elétrica. Posteriormente em 16 de outubro de
1905, o mesmo grupo assume os mesmos serviços na cidade do Rio de Janei-
ro. Com a denominação de “The Rio de Janeiro Tramways, Light and Power
Co. Ltd.”
Em 1924, com o grupo Light já bem instalado no Brasil, instala-se no
país a AMFORP (“American Foreign Power Company”), do grupo Bond and
Share Co. no interior de São Paulo na região de produção do café. A partir de
1927, o grupo passa a adquirir o controle de diversos concessionários já exis-
tente entre eles a Pernambuco Tramways and Power Co. Ltd com sede em
Recife.
Dentre os muitos eventos de interesse na década de 30, é importante
destacar a criação do código de águas, instituído por Decreto no dia 10 de ju-
lho de 1934. Este código dotou finalmente o país de uma legislação específica
em relação aos aproveitamentos hidroelétricos. Dentre as modificações intro-
duzidas destaca-se:

I-8
Capítulo 1 - Introdução aos Sistemas Elétricos

a) Incorporações das terras em que se encontram as quedas d’água ao


patrimônio
b) A união passou a ser responsável pela outorga de autorização e con-
cessão para aproveitamento de energia elétrica de origem hidráulica
para uso privativo ou serviço público.
c) Instituir o princípio do custo histórico e do serviço pelo custo, de lucro
limitado e assegurado.

Outros marcos notáveis da história da energia elétrica no Brasil são os


seguintes:
• Constituição da CEMIG, em Minas Gerais, objetivando realizar
um plano global de eletrificação do estado mineiro, em 1952. Ini-
ciou-se a construção de Três Marias.
• Criação da CHESF, em 1954, com o intuito de promover o apro-
veitamento do Rio São Francisco, garantindo o esforço de indus-
trialização do Nordeste, Iniciou-se o complexo de Paulo Afonso.
• Criação de FURNAS , empresa destinada inicialmente a construir
uma grande usina no Rio Grande, na divisão entre os estados de
Minas Gerais e São Paulo, em 1957.
• Em 1960, foi criado o Ministério das Minas e Energia, responsá-
vel pela política energética do país e pela definição da orientação
básica na área de sua competência.
• Criação em 1966, da CESP, em São Paulo, reunindo diversas
empresas do Estado.

Cabe ainda mencionar a promulgação da lei da ELETROBRÁS, em


1961, tendo sido a empresa constituí da no dia 11 de junho de 1962.
O período inicial de funcionamento da ELETROBRÁS caracterizou-se
pela implantação da realidade tarifária e também pelas aquisições de direitos e
ações das concessionárias estrangeiras controladas pelos grupos AMFORP
(American Foreign Power Co.) e BEPCO( Brazilian Electric Power Co.).

I-9
Capítulo 1 - Introdução aos Sistemas Elétricos

A Eletrobrás assumiu desde o início as características de holding, nú-


cleo de um conjunto de concessionárias com grande autonomia administrativa.
A gestão dos recursos do Fundo Federal de Eletrificação transformou-a rapi-
damente na principal agência financeira setorial. Em 1964, foram ultimadas as
negociações para a compra pelo governo brasileiro das concessionárias atu-
antes no Brasil do grupo Amforp. O negócio foi realizado em 14 de outubro e
essas empresas passaram à condição de subsidiárias da Eletrobrás.
Em 1968, foi criada outra subsidiária de âmbito regional, a Centrais Elé-
tricas do Sul do Brasil (Eletrosul) e em 1973, a última subsidiária regional da
Eletrobrás foi instituída: a Centrais Elétricas do Norte do Brasil (Eletronorte).
Neste último ano, a Eletrobrás estabeleceu, juntamente com a Administración
Nacional de Electricidad, empresa estatal paraguaia, a Itaipu Binacional, vi-
sando à construção da hidrelétrica de Itaipu, no rio Paraná, na fronteira dos
dois países.
Neste período a ELETROBRÁS controlava as quatro grandes empresas
regionais ( ELETRONORTE, FURNAS, CHESF e ELETROSUL), coordenava o
planejamento e o atendimento ao mercado de energia elétrica, definindo crité-
rios e procedimentos para a operação do sistema elétrico nacional, deixando
as tarefas executivas ao cargo das empresas controladas. A figura 5 mostra a
área de concessão de cada uma das empresas controladas que eram respon-
sáveis pela produção e transmissão de energia em grosso e ainda em promo-
verem as necessárias interligações regionais. As concessionárias locais ou
estaduais, interligadas as empresas regionais, se encarregavam da subtrans-
missão e distribuição de energia. Durante este período algumas concessioná-
rias locais ou estaduais na região Sul e Sudeste construíram centrais de gera-
ção de energia como a COPEL no Paraná, a CEMIG em Minas Gerais e a
CESP em São Paulo, enquanto nas demais regiões do país as concessionári-
as locais se encarregam apenas da subtransmissão e distribuição de energia.
Ao final da década de 1970, todas as concessionárias do setor de ener-
gia elétrica tinham capital nacional, com a compra pelo governo brasileiro das
ações da Light à multinacional Brascan Limited, em janeiro de 1979.

I - 10
Capítulo 1 - Introdução aos Sistemas Elétricos

Figura 5 – Áreas de atuação das empresas controladas pela Eletrobrás

No início da década seguinte, o desempenho da Eletrobrás passou a se


ressentir das dificuldades que vinham sendo enfrentadas pela economia
brasileira. A recessão e a crise da dívida externa criaram um quadro de grave
estrangulamento financeiro no setor. Essa situação agravou-se em 1988, com
a extinção do Imposto Único sobre Energia Elétrica e a transferência para os
estados da arrecadação tributária equivalente.
No início da década de 1990, o programa de obras de geração foi prati-
camente paralisado e foi iniciada uma reorganização institucional do setor,
com o fim de reduzir a presença do Estado na economia.
Em março de 1993, diminuiu-se o controle da União sobre os preços
dos serviços de energia elétrica. Em setembro do mesmo ano, foi criado o
Sistema Nacional de Transmissão de Energia Elétrica (Sintrel), pacto operativo
entre as empresas detentoras de instalações de transmissão, baseado no
princípio do livre acesso à rede de transporte de energia. Em 1995, foi sancio-
nada pelo Executivo uma nova legislação de serviços públicos, fixando regras
específicas para as concessões dos serviços de eletricidade, reconhecendo a
figura do produtor independente de energia, liberando os grandes consumido-

I - 11
Capítulo 1 - Introdução aos Sistemas Elétricos

res do monopólio comercial das concessionárias e assegurando livre acesso


aos sistemas de transmissão e distribuição.
Com a dificuldade do governo brasileiro de conseguir recursos para
atender as crescentes demandas de energia, ele seguindo os passos de ou-
tros países do mundo iniciou um processo de privatização.
Iniciando o processo de privatização a ELETROBRÁS, passou para o
setor privado a posse de duas concessionárias regionais que estavam sobre
seu controle acionário a ESCELSA do estado do Espírito Santo e a LIGHT do
Rio de Janeiro. A ESCELSA foi privatizada em 21/05/96, tendo sido vendido a
um consorcio liderado pela IVEN S.A. e a LIGHT em 12/07/95 a um consorcio
liderado pela Eletricité de France.
Em 1998 dando continuidade ao reformulação do modelo do setor elé-
trico nacional, a ELETROSUL foi cindida em duas empresas, uma de geração,
incluindo todas as usinas, a GERASUL que foi recentemente privatizada e ou-
tra de transmissão que permaneceu com o nome ELETROSUL.

4. NOVO MODELO DO SETOR ELÉTRICO


De um modelo no qual os Governos, Estadual e Federal, construíam e
operavam a geração, a transmissão, a distribuição e a comercialização de
energia elétrica, passou-se para um sistema ‘desverticalizado’, onde estes se-
tores forma segregados com o objetivo de expandir a oferta a preços atrativos
para o consumidor, dentro de padrões de qualidade e de segurança.
No novo modelo, o serviço de energia elétrica será dividido em seus
principais segmentos, geração, transmissão, distribuição e comercialização,
seja contabilmente, seja pela criação de empresas separadas. No caso, a
transmissão será constituída por instalações de tensão maior ou igual a 230
KV que formam a Rede Básica, e outras instalações de transmissão que aten-
dam exclusivamente às necessidades de usuários específicos do sistema de
transmissão. A partir da publicação da Lei 8.987, de 13 de fevereiro de 1995,
que modificou o regime de concessão e permissão da prestação de serviços

I - 12
Capítulo 1 - Introdução aos Sistemas Elétricos

públicos, o setor elétrico nacional pode iniciar o seu processo de reestrutura-


ção.
A primeira etapa da reestruturação do setor elétrico ocorreu através da
publicação da Lei 9.074 de 07 de julho de 1995, que estabeleceu o produtor
independente de energia elétrica e definiu que consumidores poderiam optar
por contratar com eles seu fornecimento. Esta lei foi regulamentada Decreto
2.003, de 10 de setembro de 1996, que estabeleceu as normas para produção
de energia elétrica por produtor independente e por autoprodutor, asseguran-
do-lhes o livre acesso aos sistemas de transmissão e distribuição.
Os principais pontos do novo modelo do setor elétrico são:
• O sistema elétrico deve ser ‘desverticalizado’ entre quatro segmentos: ge-
ração, transmissão, distribuição e comercialização. Dentro destas premis-
sas as empresas subsidiárias do Sistema Eletrobrás estão sendo separa-
das em empresas de geração, que serão privatizadas, e empresas de
transmissão que, num primeiro momento, permanecerão como subsidiárias
da Eletrobrás. A primeira subsidiária da ELETROBRÁS a passar por este
processo foi a Centrais Elétricas do Sul do Brasil S. A. – ELETROSUL. A
GERASUL - Centrais Geradoras do Sul do Brasil S. A., sediada em Floria-
nópolis (SC), originou-se desta cisão, tendo assumido as atividades de ge-
ração e comercialização que foram desmembradas da ELETROSUL que fi-
cou responsável pelo segmento de transmissão. A GERASUL passou à ini-
ciativa privada em 15.09.98. Cerca de 50,01% do controle acionário, per-
tencente ao Governo Federal, foi adquirido, em leilão, pelo Grupo TRAC-
TEBEL, de origem belga especializado em energia elétrica, gás, engenha-
ria e gestão de resíduos.

• O papel do governo será apenas o de definir as políticas e ter uma forte


ação reguladora, disciplinando os diversos segmentos envolvidos. Em 26
de dezembro de 1996, foi publicada a Lei 9.427, que instituiu a Agência
Nacional de Energia Elétrica – ANEEL para exercer o papel de agente re-
gulador.

I - 13
Capítulo 1 - Introdução aos Sistemas Elétricos

• A concorrência deve ser estabelecida de imediato nos segmentos de gera-


ção e comercialização. Os segmentos de transmissão e distribuição serão
monopólio porém com a legislação garantindo o livre acesso a qualquer
consumidor, produtor independente ou unidade de geração.

• A operação do sistema elétrico interligado deve ser realizada por um


agente operador independente. Criação do Operador Nacional do Sistema,
entidade privada responsável pela operação e planejamento operacional do
sistema elétrico interligado.

5. CRESCIMENTO DO SETOR ELÉTRICO DO NORDESTE

Quando a CHESF foi oficialmente inaugurada atendia apenas 2% da


energia total produzida no Brasil. Nos anos 60 o contínuo aumento do consu-
mo de energia na região Nordeste, com taxas acima de 10% exigiu pesados
investimentos durante este período.
No início dos anos 60 apenas as capitais dos estados de Pernambuco,
Bahia e Sergipe eram atendidas pela CHESF, cuja área de concessão até
1973, atingia apenas até o Nordeste do Ceará. Neste ano a CHESF incorporou
a Companhia Hidrelétrica de Boa Esperança (COHEBE), ampliando-se assim a
área de atuação da CHESF a toda o Nordeste. De 1973 à 1980, a CHESF foi
responsável por praticamente todo o atendimento do mercado de energia elé-
trica do Nordeste, uma vez que a autoprodução e a geração própria de algu-
mas concessionárias locais, de base diesel, foram sendo progressivamente
desativadas.
Em 1981, foi colocada em operação a linha de transmissão Sobradinho
Presidente Dutra em 500KV, que interligando a região Norte com a região
Nordeste, propiciou substituir as termelétricas que atendiam o Pará. Por força
de decreto federal em 1983, motivado por forte pressão política, o estado do
Maranhão passou a integrar a área de concessão da ELETRONORTE. Esta
situação foi mantida até os dias atuais conforme está apresentado na figura 5.

I - 14
Capítulo 1 - Introdução aos Sistemas Elétricos

Atualmente, a CHESF gera e transmite toda a energia elétrica produzida


no Nordeste e está interligado ao sistema elétrico da ELETRONORTE através
de uma linha de transmissão em 500KV.
A figura 6 apresenta o sistema de transmissão da CHESF, indicando
toda a malha primária, a interligação entre CHESF e ELETRONORTE e as
interligações entre as principais usinas do sistema CHESF.

Figura 6 - Sistema de transmissão CHESF

A atual estrutura do setor elétrico na região é formada por uma conces-


sionária regional a CHESF, que era responsável pela geração e transmissão
de energia as concessionárias locais para distribuição de energia.
A implantação do novo modelo do setor elétrico no Nordeste implicará
na cisão da CHESF em uma empresa de transmissão e duas ou mais empre-
sas de geração. As concessionárias estaduais do Nordeste que são responsá-
veis pela distribuição de energia estão em processo de privatização, embora

I - 15
Capítulo 1 - Introdução aos Sistemas Elétricos

ainda existam algumas empresas pertencentes aos governos estaduais, como


pode ser visto na tabela 1.

Tabela 1 - Empresas concessionárias de energia na região Nordeste

Controle Área de
Empresa
Acionário atuação

Estadual Piauí Companhia Energética do Piauí -CEPISA


Privada Ceará Companhia Energética do Ceará -COELÇE
Privada Rio G. Norte Companhia Energética do Rio G. do Norte -COSERN
Estadual Paraíba Soc. Anônima de Eletrificação da Paraíba - SAELPA
Estadual Pernambuco Companhia Energética de Pernambuco -CELPE
Privada Bahia Companhia Energética da Bahia -COELBA
Estadual Alagoas Companhia Energética de Alagoas -CEAL
Privada Sergipe Companhia Energética da Sergipe - ENERGIPE
Municipal Paraíba Companhia de Eletricidade da Borborema - CELB
Privada Sergipe SULGIPE

A primeira concessionária estadual privatizada foi a COELBA em


31/07/97 adquirida por um consorcio liderado pelo grupo espanhol Iberdrola. O
mesmo grupo adquiriu o controle acionário da COSERN em 13/12/97. A
ENERGIPE foi privatizada em 03/12/97 pelo grupo Cataguazes-Leolpodina.
Durante o ano de 1999 devem ser privatizadas a COELCE, a CEPISA e
a CEAL e a CELPE.
A CHESF, além das concessionárias de distribuição listadas na tabela
1, tem treze grandes consumidores industriais alimentados em 230KV localiza-
dos nos estados de Pernambuco, Ceará, Bahia, Alagoas e Sergipe. São eles:
Dow Química, Alcan, Alunordeste, Sibra, Usiba, Ferbasa, Copene, Caraíba
Metais, Mineração Caraíba e a CQR na Bahia, Aço Norte em Pernambuco,
Salgema em Alagoas, Sibra no Ceará e a Nitrofértil em Sergipe.

I - 16
Capítulo 1 - Introdução aos Sistemas Elétricos

Examinando a Figura 7 que mostra como está distribuído o mercado de


energia da região Nordeste, é importante destacar que 75% da energia vendi-
da pela CHESF é consumida pela concessionárias de distribuição.

Consumo Próprio
Perdas
1%
7%
Consumidores
Industriais
17%

Concessionárias
de Distribuição
75%

Figura 7 - Mercado de Energia Elétrica do Nordeste

Como pode ser visto na Figura 8, o consumidor Salgema é o maior con-


sumidor industrial da CHESF, ele compra a CHESF 23.1% de toda a energia
vendida aos consumidores industriais.

CARAÍBA SALGEMA
METAIS 23,1%
USIBA
7,2%
4,5%

FERBASA
10,9% DOW
NITROFÉRTI
L QUÍMICA
2,7% 16,6%

COPENE
14,0% AÇO NORTE
SIBRA ALCAN 2,3%
9,7% 7,3%

Figura 8 - Consumidores Industriais CHESF - 1996

A tabela 2 apresenta a capacidade instalada de cada central de geração


localizada na região Nordeste, apresentando número de unidades e potência
de cada unidade.

I - 17
Capítulo 1 - Introdução aos Sistemas Elétricos

Tabela 2 - CAPACIDADE INSTALADA DE GERAÇÃO NO NORDESTE

Usinas Número de Potência por Potência


unidades unidade (MW) Total (MW)
Hidrelétrica de Paulo Afonso I 3 60 180
Hidrelétrica de Paulo Afonso II-A 3 75 225
Hidrelétrica de Paulo Afonso II-B 3 85 255
Hidrelétrica de Paulo Afonso III 4 216 864
Hidrelétrica de Paulo Afonso IV 6 410 2460
Hidrelétrica de Sobradinho 6 175 1050
Hidrelétrica de Itaparica 6 250 1500
Hidrelétrica de Moxotó 4 110 440
Hidrelétrica de Xingó 6 500 3000
Hidrelétrica de Boa Esperança A 2 54 108
Hidrelétrica de Boa Esperança B 2 63 126
Hidrelétrica de Funil 3 10 30
Hidrelétrica de Pedra 1 23 23
Hidrelétrica de Araras 2 2 4
Hidrelétrica de Coremas 2 1.76 3.52
Termelétrica de Camaçari 5 58 290
Termelétrica de Bongi* 5 28.5 142

6. QUALIDADE DE ENERGIA

Um sistema elétrico de potência é um conjunto de componentes e equi-


pamentos elétricos que permitem gerar, transmitir, controlar e distribuir a
energia elétrica a todos os seus consumidores dentro de certos padrões de
qualidade. Estes padrões de qualidade são determinados pelos seguintes fa-
tores:
• continuidade do fornecimento;
• freqüência elétrica constante;
• tensão constante;
• oscilações rápidos de tensão;
• desequilíbrio de tensão;
• distorções harmônicas de tensão;
• nível de interferência em sistemas de comunicação.

I - 18
Capítulo 1 - Introdução aos Sistemas Elétricos

A continuidade de fornecimento está regulamentada pelo DNAEE (De-


partamento Nacional de Águas e Energia Elétrica) através da Portaria 046/78,
de 17/04/78, que define os índices de continuidade por conjunto de consumi-
dores e os valores de continuidade para um consumidor especifico. Os índices
de continuidade por conjunto de consumidores são: DEC ( Duração Equiva-
lente de Interrupção por Consumidor de um Conjunto ) e o FEC ( Freqüência
Equivalente de Interrupção por Consumidor de um Conjunto).
O DEC exprime o espaço de tempo em que, em média cada consumidor
do conjunto considerado ficou privado do fornecimento de energia elétrica e é
pela seguinte equação:
n

∑ Ca(i).t(i)
DEC = i =1
[1]
Cs
onde:
DEC - Duração Equivalente de Interrupção por Consumidor de
um conjunto
Ca(i) - número de consumidores, do conjunto considerado, atingi-
dos nas interrupções
t(i) - tempo de duração das interrupções em horas
Cs - número de consumidores total do conjunto.

O FEC pode ser calculado pela seguinte equação:


n

∑ Ca(i)
FEC = i =1
[2]
Cs
onde:
FEC - Freqüência Equivalente de Interrupção por Consumidor de
um Conjunto
Ca(i) - número de consumidores, do conjunto considerado, atingi-
dos nas interrupções
Cs - número de consumidores total do conjunto.

I - 19
Capítulo 1 - Introdução aos Sistemas Elétricos

A Portaria 046/78 do DNAEE, de 17/04/78, que define os valores máxi-


mos anuais de DEC e FEC apresentados na Tabela 3.

Tabela 3 - Valores máximos anuais de DEC e FEC

FEC
DEC
Conjunto de Consumidores (número
(horas)
de vezes)

Atendido por sistema subterrâneo com secundário reticula- 15 20


do
20 25
Atendido por sistema subterrâneo com secundário radial
Atendido por sistema aéreo com mais de 50.000 consumi- 30 45
dores
Atendido por sistema aéreo com número de consumidores 40 50
entre 15.000 e 50.000
Atendido por sistema aéreo com número de consumidores 50 60
entre 5.000 e 15.000
Atendido por sistema aéreo com número de consumidores 70 70
entre 1.000 e 5.000
Atendido por sistema aéreo com menos de 1000 consumi- 120 90
dores

Exemplo 1 :
Uma concessionária de distribuição que alimenta 60.000 consumidores através
de sua rede aérea, apresentou o seguinte relatório de interrupções de forneci-
mento de energia no último trimestre:
• 5 interrupções de 140 minutos ( 2,33 horas) : 7800 consumidores;
• 2 interrupções de 100 minutos ( 1,66 horas) : 6300 consumidores;
• 3 interrupções de 40 minutos ( 0,66 horas) : 9850 consumidores;
• 6 interrupções de 180 minutos ( 3,00 horas) : 12700 consumidores;
• 8 interrupções de 150 minutos ( 2,50 horas) : 19000 consumidores;
• 5 interrupções de 120 minutos ( 2,00 horas) : 17500 consumidores.

I - 20
Capítulo 1 - Introdução aos Sistemas Elétricos

5x7800x2,33 + 2x6300x1,66 + 3x9850x0,6 6 + 3x0,66x9850


DEC = +
60000
[3]

6x3x12700 + 8x2,5x1900 0 + 5x2x17500


= 15,24 horas
60000

5x7800 + 2x6300 + 3x9850 + 6x12700 + 8x19000 + 5x17500


FEC =
60000
[4]

FEC = 6,61 interrupções/consumi dor

Estes números exprimem que, em média, cada cliente desta concessio-


nária esteve 15,24 horas privado do fornecimento de energia elétrica no tri-
mestre e que em média cada consumidor teve 6,61 interrupções.
A Portaria 046/78 do DNAEE, estabelece que, na apuração dos índices,
não devem ser computadas as interrupções por racionamento de energia, de
consumidor isolado e aquelas com duração inferior a três minutos.
No que se refere a manutenção da tensão constante, o DNAEE emitiu a
Portaria 047/78 que estabelece as condições mínimas que a concessionária
deve atender quanto ao nível de tensão de fornecimento prestado aos seus
consumidores. Serão relacionados a seguir os principais pontos constantes da
referida Portaria, ou seja:

− Atendimento em tensão de transmissão, subtransmissão ou primária de


distribuição:
• A tensão de fornecimento no ponto de entrega de energia pode
ser fixada entre + 5% e - 5% com relação à tensão nominal do
sistema.
• Os limites de variação da tensão de fornecimento no ponto de
entrega de energia são + 5% e - 7,5%.

− Atendimento em tensão secundária de distribuição

I - 21
Capítulo 1 - Introdução aos Sistemas Elétricos

• Os limites de variação de tensão de fornecimento no ponto de


entrega de energia constam da Tabela. As disposições cons-
tantes na portaria não se aplicam nos seguintes casos: Variações
momentâneas de tensão, ocasionadas por defeitos, manobras,
alterações bruscas de carga ou perturbações similares e venda
de energia em grosso. A mesma Portaria estabelece ainda as
condições de verificação das medições de tensão e as providên-
cias que devem ser tomadas para regularizar os limites de ten-
são.

Tabela 4 - Limites de Variação da Tensão de Alimentação

Tensão Limites Inferiores Limites Superiores

Nominal Condições Condições Condições Condições


(V) Precárias Adequadas Precárias Adequadas

127 109 116(110*) 135 132

220 189 201(190*) 233 229

380 327 348 403 396


* - Exclusivamente para ligações fase-neutro

A tensão de fornecimento não sendo constante afeta significativamente


o desempenho dos diversos equipamentos conectados a rede. Cada equipa-
mento tem sua tensão nominal e operá-lo numa tensão diferente da nominal
provoca um mau desempenho operacional e até redução de sua vida útil. Para
ilustrar este fato, consideremos um motor de indução. Ele operando fornecen-
do uma dada potência mecânica no seu eixo, quando sua tensão de alimenta-
ção está abaixo da nominal ele solicita da rede mais corrente para continuar
fornecendo a mesma potência e tem suas perdas e elevações de temperatura
incrementadas, podendo assim comprometer a sua própria vida útil.

I - 22
Capítulo 1 - Introdução aos Sistemas Elétricos

As reclamações dos consumidores quando ocorrerem variações de ten-


são perceptíveis. Essas variações podem ser as normais que ocorrem entre os
horários de pico e os horários de carga leve, ou, ainda as oscilações rápidas
de tensão. O primeiro tipo de variações apresenta uma relativa facilidade de
medição e correção, uma vez que a variação de tensão é lenta, acompanhan-
do a variação da carga. Já o segundo tipo é de difícil medição, devido às vari-
ações bruscas de tensão, que provocam o fenômeno denominado flicker.
As cargas que podem provocar oscilação; de tensão são os fornos à
arco, aparelhos de raio X, máquinas de solda e motores acionando carga vari-
ável (compressores, britadores, laminadores, guindastes, elevadores, etc. ).
A freqüência elétrica é um parâmetro que também exerce influência no
desempenho dos equipamentos dos consumidores de um sistema elétrico.
Como exemplo podemos citar a influência nas perdas, na elevação de tempe-
ratura e nas velocidades mecânicas dos motores elétricos.
De acordo com o IBGE o Brasil ainda tem 47% da sua população sem
energia elétrica, talvez este fato possa justificar a baixa exigência dos consu-
midores brasileiros durante ao anos 70 e 80 com relação a qualidade do forne-
cimento de energia elétrica. Entretanto, no inicio dos anos 90, com a crescente
modernização do parque industrial e com a invasão dos microcomputadores
nas mais diferentes atividades produtivas e recreativas, os clientes dos servi-
ços de energia elétrica passaram a pleitear melhor qualidade de energia para
essas novas cargas.
A promulgação da Lei 8.078 de 11 de setembro de 1990, denominada
Código de Defesa do Consumidor, despertou a sociedade brasileira no sentido
de requerer, em todos os níveis, a qualidade desejável, tanto dos produtos ad-
quiridos, quanto dos serviços recebidos das empresas públicas e privadas.
Com a atual política de privatização do setor elétrico nacional, sinaliza-
se uma competição de mercado entre as empresas responsáveis pelo serviço
público de energia elétrica. Dentro desse cenário, em que o consumidor pode-
rá escolher o seu fornecedor, abre-se um enorme campo para a discussão da
qualidade de energia elétrica no Brasil, estabelecendo, de forma mais ampla

I - 23
Capítulo 1 - Introdução aos Sistemas Elétricos

que o atual, novos limites de continuidade, níveis de tensão e outros parâme-


tros, como distorções harmônicas permitidas, níveis de flicker, etc., que orien-
tem tanto os clientes quanto as concessionárias de energia elétrica, além de
definir penalidades quanto as transgressões aos limites impostos pela normali-
zação. Devem ser estabelecidas as responsabilidades dos clientes quanto à
injeção de poluentes elétricos no sistema supridor, e quais as penalidades so-
fridas pelas concessionárias, se os níveis de qualidade de energia não forem
atendidos.
Como se pode perceber, com o advento de novas tecnologias incorpo-
radas à carga do consumidor, os procedimentos normativos, anteriormente
expostos, não fazem mais sentido serem o instrumento balizador do nível de
qualidade de energia nos tempos atuais.
O atual órgão regulador - ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica)
prepara uma nova proposta que deverá ser exaustivamente discutida por usuá-
rios do sistema elétrico e concessionárias de energia.

7. EVOLUÇÃO E PERSPECTIVAS FUTURAS DOS SISTEMAS


ELÉTRICOS

Nos últimos anos a evolução dos sistemas elétricos ocorreu sempre


tendendo a:
• reduzir o nível de investimentos,
• reduzir o impacto ambiental causado pelo número excessivo
de linhas de transmissão e subestações;
• incrementar a qualidade no fornecimento de energia elétrica;
• descobrir novas tecnologias para geração de energia elétrica
encarando uma provável futura escassez de recursos naturais
como carvão e óleo mineral.

Dentro destas linhas de ação foram:

I - 24
Capítulo 1 - Introdução aos Sistemas Elétricos

• construídas linhas de transmissão em níveis de tensão cada


vez mais elevadas ocupando o menor espaço possível, surgin-
do assim linhas de transmissão em 69kV, 138kV, 345kV,
500kV e 750kV;
• construídas linhas interligando sistemas isolados e ainda, am-
pliando as interligações entre sistemas elétricos já interligados;
• colocadas em operação pequenas centrais acionadas por fon-
tes primárias alternativas como a energia solar e a energia eó-
lica;
• construídas linhas de transmissão em corrente contínua para
transporte de grandes blocos de energia em grandes distânci-
as.

A interligação de sistemas elétricos aumenta a confiabilidade e reduz


novos investimentos, pois permite que:
• unidades geradoras de alto custo sejam substituídas por outras
de custo menor;
• ocorra ajuda mútua em casos de emergência em um dos sis-
tema elétricos operando interligado;
• sejam reduzidos novos investimentos em centrais elétricas
para ampliar e manter a reserva girante de um sistema elétrico,
• sejam aproveitadas a diversidade de carga entre sistemas in-
terligados;
• sejam aproveitadas a diversidade hidrológica entre bacias hi-
drográficas distintas.
É importante destacar que interligações entre sistemas elétricos não
trazem apenas vantagens, uma vez que distúrbios de um sistema são transmi-
tidos para o outro e que interligar sistemas elétricos significa elevar o nível de
curto circuito, aumentando o custo dos equipamentos e instalações.
Com o aparecimento nos anos sessenta da tecnologia dos tiristores e
com a necessidade cada vez maior de transportar grandes blocos de energia

I - 25
Capítulo 1 - Introdução aos Sistemas Elétricos

por grandes distâncias, a transmissão de energia em corrente contínua passou


a ser uma alternativa atraente. É importante ressaltar que a idéia não é elimi-
nar os sistema em corrente alternada e sim superpor uma linha CC a uma CA
ou interligar dois sistema ca por um link ou elo CC.
A Figura 9 apresenta o diagrama unifilar de um elo CC com seus principais
componentes: filtros de harmônicos CA, conversores e reatores série CC. Os
conversores podem operar como inversores ou como retificadores. Os filtros
CA são responsáveis pela eliminação dos harmônicos do lado CA e os reato-
res série impedem que os harmônicos circulem pelo lado CC do elo.
Os disjuntores são instalados apenas no lado CA dos conversores e não
são utilizados para eliminar faltas no lado CC ou nos conversores. Para falhas
no sistema CC, o sistema de controle de ignição dos tiristores atua bloqueando
o fluxo de potência no elo.

Sistema Sistema
CA CA

Figura 9 – Diagrama unifilar de um elo de corrente contínua

As principais aplicações dos sistema de transmissão em corrente contí-


nua são:
• para o caso de travessias marítimas utilizando cabos de alta
tensão em trechos longos (maior que 40Km). Este fato não se
deve apenas ao menor custo do cabo mas também é uma de-
corrência do fato de não existir solução econômica para com-
pensação da corrente de carga dos cabos;
• para interconectar sistemas CA com freqüências diferentes ou
onde não há interesse em sincronizar os dois sistemas CA;
• para limitar os níveis de curto circuito, pois com dois sistemas
CA interligados por um link CC, a ocorrência de um curto num
sistema CA não implicaria em uma alimentação para falta por
parte do outro sistema.

I - 26
Capítulo 1 - Introdução aos Sistemas Elétricos

Do ponto de vista econômico, o uso de elos CC, geralmente, está rela-


cionada com a potência a ser transmitida e a distância. O custo por unidade de
comprimento de uma linha CC é bastante inferior ao de uma linha CA para a
mesma potência e comparável confiabilidade, entretanto, o custo dos equipa-
mentos terminais são muito mais elevados que os de uma linha CA. Portanto
existe uma distância crítica na faixa de 500Km à 1500Km a partir da qual o
custo do elo CC é menor que a interligação por linha de transmissão em cor-
rente alternada.
Para ilustrar a comparação entre as opções de corrente contínua e al-
ternada para interligar dois sistemas elétricos, vamos apresentar o resultado
de um dos estudos efetuados para a decisão da melhor alternativa para o sis-
tema elétrico Ekibestug-Centre na antiga URSS. A Figura 10 mostra as estruturas
e os principais dados das duas alternativas estudadas. A Figura 11 apresenta a
análise preliminar de custos, justificando a decisão em corrente contínua para
o elo com uma extensão de 1350Km.

Figura 10 - Comparação entre estruturas CC x CA

Na Figura 11 os pontos onde as retas (representando os custos) intercep-


tam o eixo vertical definem os custos dos equipamentos terminais. A inclinação
de cada curva é correspondente ao custo da linha por unidade de comprimento
e dos equipamentos acessórios que variam por comprimento de linha. Para
distâncias inferiores àquela determinada pelo ponto crítico, a transmissão CA
apresenta menor custo e o oposto ocorre para distâncias superiores.

I - 27
Capítulo 1 - Introdução aos Sistemas Elétricos

10000
9000
8000
7000

US$ x 1000
6000
5000
CC
4000
CA
3000
2000
1000
0

00

00

00
0

20

40

60

80

10

12

14
Extensão (Km)

Figura 11 – Custos comparativos dos elos CC x CA

Com relação a perspectivas futuras, algumas possibilidades se apre-


sentam promissoras, merecendo comentários:

1. Transmissão em Ultra Alta Tensão na faixa de 1000KV à 1200KV - A


transmissão nestes níveis de tensão permitirá transportar substanci-
ais blocos de energia por longas distâncias, permitindo o aproveita-
mento econômico de fontes de geração mais remotas e com reduzido
impacto ambiental. Os países que atualmente mantém pesquisas
nesta área são a União Soviética, que tem um sistema de 1200KV em
operação comercial, o Japão com um sistema em 1000KV previsto
para operação comercial em 1997. O Brasil tem atuado como parceiro
de um projeto de pesquisa denominado “Projeto 100KV” com a em-
presa estatal italiana ENEL. O objetivo final deste projeto é a constru-
ção e operação de um projeto piloto de 1050KV possuindo todos os
componentes de um futuro sistema de U.A.T;

2. Transmissão em Alta Tensão em Corrente Contínua - Muitos projetos


em todo o mundo tem considerado a tecnologia C.C., destes, o pro-
jeto de Itaipu em operação desde 1985, é o que utiliza o mais elevado
nível de tensão +/- 600 kV. O mais extenso sistema elétrico já ope-

I - 28
Capítulo 1 - Introdução aos Sistemas Elétricos

rando em corrente contínua está localizado em Moçambique, na Áfri-


ca em +/- 533KV com uma extensão de 1700Km. De forma geral
pode-se dizer que a tecnologia em corrente contínua caminha no
sentido de aumentar seus parâmetros principais tensão e potência;

3. Transmissão hexafásica e transmissão em meio comprimento de


onda são alternativas que sendo pesquisadas porém sem nenhuma
experiência significativa no mundo.

I - 29

Você também pode gostar