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Tribunal de Justiça do Estado da Bahia


PODER JUDICIÁRIO
ITABUNA
2ª VARA DO SISTEMA DOS JUIZADOS - ITABUNA (MAT) - PROJUDI

RUA A, S/N, FÓRUM MODULO 2 / 2º ANDAR, NOSSA SENHORA DAS GRAÇAS - ITABUNA
itabuna-2vsj@tjba.jus.br - Tel.: (73)3214-0969
PROCESSO N.º: 0010623-65.2020.8.05.0113

AUTORES:
ROSILVA CARVALHO DE SOUZA SANTANA

RÉUS:
COELBA COMPANHIA DE ELETRICIDADE DO ESTADO DA BAHIA COELBA
SENTENÇA

DISPENSADO O RELATÓRIO. FUNDAMENTO E DECIDO.

Trata-se de ação de indenização por danos morais onde a parte Demandante,


ROSILVA CARVALHO DE SOUZA SANTANA, alega, em suma, que é consumidora
dos serviços fornecidos pela ré através da conta contrato nº 7057770419; que em
05/05/2020 recebeu visita dos prepostos onde lhe foi informado que haveria uma
inspeção de rotina no seu aparelho medidor; que estes apenas a solicitaram que
assinassem um papel e disseram que depois iria chegar o resultado da averiguação;
que, passado algum tempo recebeu uma multa que entende indevida no valor de R$
745,06 (setecentos e quarenta e cinco reais e seis centavos).

Informa, ainda, que pelo não pagamento da multa, em 03/10/2020 teve seu serviço
suspenso. Entende que a conduta da ré lhe causou danos. Isto posto requereu a
declaração de inexistência da multa e danos morais no valor de R$ 30.000,00 (trinta
mil reais).

Em contestação (Evento 14), o Demandado, COELBA, alega que houve constatação


de fraude da unidade consumidora, o que gerou a multa guerreada; que mesmo
sendo possível a suspensão imediata dos serviços, fez a troca do medidor e enviou o
medidor antigo para análise técnica; que o medidor foi reprovado; que o consumidor
foi informado da ocorrência e da aplicação da multa; que, tendo em vista a
irregularidade, foi realizado o refaturamento conforme resolução 414 da ANEEL;
atenta-se contra os danos morais e a inversão do ônus da prova. Isto posto, requer a
improcedência da ação. Preliminarmente requer a extinção do feito por incompetência
desta especializada

A audiência de conciliação restou infrutífera e as partes declararam que não há mais


provas a serem produzidas.

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Vieram-me os autos conclusos.

Quanto a preliminar de incompetência do juízo, rejeito. Os documentos juntados aos


autos, bem como as normas previstas no Código de Defesa do Consumidor, são
suficientes para o deslinde do feito. Ademais a ré informou em audiência de
conciliação que não possuía mais provas a produzir, assim, se a prova não é
requerida, também por falta dela, o feito não pode ser extinto.

No mérito a ação merece parcial procedência.

Na situação ora analisada, observa-se que a acionada não juntou aos autos qualquer
documento assinado pelo Autor que comprovasse acerca da apuração dos cálculos
apontados pela Ré. Verifica-se, assim, que houve uma apuração unilateral da
concessionária, sem contraditório, tendo ocorrido todo o procedimento à revelia do
Autor.

Ressalto que no TOI anexado aos autos é de difícil entendimento, não sendo
documento hábil a afastar a irregularidades procedimentais realizadas pelo réu, tais
como não observação do contraditório e da ampla defesa.

Nesse prisma, urge ressaltar que a forma como é realizada a inspeção na residência
dos usuários da energia elétrica fornecida pela ré não permite um verdadeiro exercício
do direito de defesa pelo consumidor, pois que é feita de forma unilateral pela
concessionária que se vale de sua superioridade financeira e técnica.

Além disso, descendo ao plano da legislação infraconstitucional, o código consumerista


reconhece a vulnerabilidade do consumidor e coíbe a prática de condutas abusivas no
fornecimento de produtos ou serviços. 

Como partiu da ré a notícia de que houve adulteração daquele dispositivo, competiria


à demandada comprovar que isso ocorreu, pois foi sua a iniciativa de gerar um débito
e promover cobranças a tal título.

A concessionária apontou a violação ao medidor com base em inspeção técnica


unilateral, por si patrocinada, que culminou na cobrança retroativa de valores por ela
arbitrados sem qualquer critério razoável aparente.

A cobrança retroativa não decorre, portanto, do consumo real aferido para o período
pretérito que indica. O que se observa na espécie é uma tentativa de ressarcimento
levada a cabo pela ré com lastro em uma presunção desarrazoada e desprovida de
elementos idôneos que a embasem, já que, mesmo admitida a violação do dispositivo,
não é possível precisar qual teria sido o consumo pretérito da unidade. Além disso,
não poderia a fornecedora, a quem é franqueado frequente acesso ao dispositivo de
apuração de consumo, pretender atribuir culpa ao consumidor por vício pretérito e
injustificadamente não detectado a tempo.

Com efeito, havendo defeito ou irregularidade no medidor de energia e não sendo


provada a responsabilidade da usuária pelo fato, deve a acionada suportar a perda
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advinda do mau funcionamento de um aparelho seu.

Destarte, não pode subsistir qualquer fatura com valor decorrente da indigitada
inspeção, devendo, portanto, prevalecer a presunção de boa-fé da parte autora, que
não foi desconstituída pela reclamada (artigo 4º, I e III, da Lei nº 8.078/90). Até
porque, de acordo com o STJ, ¿a presunção de boa-fé é princípio geral de direito
universalmente aceito, sendo milenar parêmia: a boa-fé se presume; a má-fé se
prova¿ (STJ - REsp: 956943 PR 2007/0124251-8, Relator: Ministra NANCY ANDRIGHI,
Data de Julgamento: 20/08/2014, CE - CORTE ESPECIAL, Data de Publicação: DJe
01/12/2014).

Diante da falta de provas que apontem para a adulteração do dispositivo e para o


consumo que a ré afirma ter existido, procede a impugnação à dívida cobrada.

Quanto ao dano moral, considerando que suspensão dos serviços evidente o dano, ora
que in re ipsa.

Deste modo, mediante criterioso juízo de razoabilidade e proporcionalidade e,


sobretudo, e levando-se em conta a capacidade econômica da acionada, as
circunstâncias do caso em tela e ainda a falta de solução por parte do réu, tenho
como justa a fixação da indenização dos danos morais no valor de R$ 4.000,00
(quatro mil reais).

Ex positis, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE o pleito formulado pela parte autora


para:

a) DECLARAR a inexistência do débito referente a multa de R$ 745,06 (setecentos e


quarenta e cinco reais e seis centavos), determinando que a ré a cancele no prazo de
10 dias, sob pena de multa de R$ 2.000,00 (dois mil reais);

b) CONDENAR o réu ao pagamento de indenização por danos morais no valor de R$


4.000,00 (quatro mil reais), acrescidos de correção monetária a partir desta decisão
(arbitramento), conforme Súmula n. 362 do STJ e juros de mora de um por cento ao
mês, a partir da citação.

DECLARO EXTINTO o processo, com análise de mérito, com fulcro no art. 487, I, do
CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL.

Sem custas e honorários advocatícios (Arts. 54 e 55 da Lei 9.099/95).

P. R. I. Cumpra-se. Após o trânsito em julgado e as cautelas de praxe, arquivem-se


com baixa.

À consideração da Sra. Juíza de Direito para homologação.

Itabuna-BA, 21 de maio de 2021.

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Reule T. de Miranda

Juíza Leiga

SENTENÇA HOMOLOGATÓRIA

Homologo a sentença, em todos os seus termos, para que produza seus efeitos
jurídicos e legais, com fundamento no art. 40 da Lei n. 9.099/95.

Itabuna-BA, 21 de maio de 2021.

CARLA RODRIGUES DE ARAÚJO


Juíza de Direito
Documento assinado eletronicamente

Assinado eletronicamente por: CARLA RODRIGUES DE ARAUJO


Código de validação do documento: 7b651bf4 a ser validado no sítio do PROJUDI - TJBA.

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