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PODER JUDICIÁRIO

Tribunal de Justiça do Estado de Goiás

Gabinete do Desembargador Alan Sebastião de Sena Conceição


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APELAÇÃO CÍVEL
Nº 5254277.91.2020.8.09.0090
COMARCA DE JANDAIA
APELANTE : BANCO BMG S/A
APELADO : JOÃO DA SILVA PEREIRA
RELATOR : DES. ALAN SEBASTIÃO DE SENA CONCEIÇÃO

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO


DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE ATO
JURÍDICO C/C DANOS MORAIS E
REPETIÇÃO DE INDÉBITO. CARTÃO DE
CRÉDITO CONSIGNADO. INCIDÊNCIA DA
SÚMULA 63/TJGO. REPETIÇÃO DO
INDÉBITO. FORMA SIMPLES. DANO MORAL
CONFIGURADO. 1. Nos termos do enunciado
da Súmula 63/TJGO, “os empréstimos
concedidos na modalidade ‘Cartão de
Crédito Consignado’ são revestidos
de abusividade, em ofensa ao CDC,
por tornarem a dívida impagável em
virtude do refinanciamento mensal,
pelo desconto apenas de parcela
mínima devendo receber o tratamento
de crédito pessoal consignado, com
taxa de juros que represente a

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média do mercado de tais operações,


ensejando o abatimento no valor
devido, declaração de quitação do
contrato ou a necessidade de
devolução do excedente, de forma
simples ou em dobro, podendo haver
condenação em reparação por danos
morais, conforme o caso concreto”.
2. No caso, cuida-se de contrato de cartão de
crédito consignado, com prestações sem
número ou prazo determinado, com desconto
apenas do mínimo do valor da fatura mensal
efetuado direto no benefício previdenciário da
parte autora, em que o banco refinancia o
restante do valor total devido, tornando a dívida
impagável, devendo, assim, ser analisado
como crédito pessoal consignado, em benefício
do consumidor hipossuficiente. 3. Sob os
termos da modalidade crédito pessoal
consignado, deve ser apurada em liquidação
de sentença a necessidade de devolução de
excedente, caso em que a restituição de
valores ao consumidor deve ocorrer de forma
simples,. Não há elementos hábeis no feito
para autorizar a conclusão no sentido de que

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restou violada a boa-fé objetiva, tendo em vista


que se cuida de cobrança respaldada em
contrato. 4. Os descontos mensais e
sucessivos realizados na aposentadoria do
apelado ultrapassam o conceito de mero
dissabor, configurando dano moral..
APELAÇÃO CÍVEL CONHECIDA E
PARCIALMENTE PROVIDA.

DECISÃO MONOCRÁTICA

Trata-se de apelação cível interposta contra


sentença proferida nos autos da epigrafada “ação declaratória
de inexistência de débito c/c rescisão contratual
c/c repetição de indébito”, proposta por João da Silva
Pereira, aqui apelado, em desproveito de Banco BMG S/A, ora
apelante.

Extrai-se da parte dispositiva do decisum


objurgado (movimentação nº 28), in verbis:

“(…) Ante ao exposto, com fulcro no


art. 487, I, do Código de Processo
Civil, JULGO PROCEDENTES os pedidos

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vertidos na exordial para: a)


Determinar que o empréstimo de R$
838,00 (oitocentos e trinta e oito
reais), seja recalculado, incidindo
a taxa de 2,04%(dois vírgula quatro
por cento) ao mês, em 36 (trinta e
seis) parcelas; b) Condenar a
requerida à restituição em dobro,
dos valores pagos a maior, mediante
apuração da quantia na fase de
liquidação da sentença, nos termos
do art. 42, parágrafo único, do
Código de Defesa do Consumidor, com
juros de 1% ao mês, a contar da
citação, na forma dos artigos 405 e
406 do Código Civil, e correção
monetária pelo INPC, incidente a
contar dos descontos indevidos; c)
Condenar o banco requerido, ao
pagamento de indenização pelo dano
moral causado à requerente em R$
5.000,00 (cinco mil reais), com
juros de 1% ao mês, a contar da
citação, nos moldes do artigo 405
do Código Civil e correção

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monetária pelo INPC, a contar do


ajuizamento da ação; d) Confirmar a
tutela de urgência deferida no
evento nº 04. Condeno o réu ao
pagamento das custas processuais e
honorários advocatícios, os quais
arbitro em 10% sobre o valor
atualizado da causa, nos termos do
art. 85, do CPC. (…)”

O réu opôs aclaratórios em face do édito


sentencial na movimentação nº 31, os quais foram acolhidos para
“alterar parcialmente o dispositivo da sentença no
item ‘a’, passando a constar: ‘Determinar que o
empréstimo de R$ 838, 00 (oitocentos e trinta e
oito reais), além dos saques complementares no
valor de R$ 368,00 (trezentos e sessenta e oito
reais) e R$ 599,00 (quinhentos e noventa e nove
reais), sejam recalculados, incidindo a taxa de
2,04% (dois vírgula quatro por cento) ao mês, em
36 (trinta e seis) parcelas’, mantendo o restante
da sentença inalterada”.

Inconformado, o banco requerido (Banco BMG


S/A) apresentou suas razões de inconformismo perante a sentença

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através da interposição do apelo da movimentação nº 42, em que


aventa a legalidade do instrumento contratual relativo ao cartão de
crédito consignado, grifando que “o contrato de cartão de
crédito consignado foi formalizado em 2015,
contudo, a ação só foi ajuizada em 2020, portanto,
não há se falar que a autora não tinha
conhecimento da modalidade contratada”.

Defende a correção de sua conduta e a higidez


do negócio jurídico entabulado com o demandante/recorrido,
arguindo que a modalidade de contratação foi amplamente
explicada e evidenciada desde o início.

Explana que o demandante “realizou (03)


saques por meio do saldo do cartão de crédito
consignado, por vários anos, portanto, não há se
falar em aplicação da súmula 63 do TJGO (acórdão
anexo), vez que a autora utilizou o cartão para
realizar saque complementar”.

Grifa que não incorreu em nenhuma falha de


prestação de serviço e que “as características do cartão
de crédito consignado são diferentes de simples
cartão de crédito e do empréstimo consignado em
si”, mormente porque, “por se tratar de um CARTÃO de

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crédito consignado, a Ré realiza o desconto mínimo


em folha, ficando a cargo de a parte Autora
realizar o pagamento do restante da fatura”.

Enfatiza a suposta má-fé do autor/apelado,


expondo que este “solicitou o cancelamento do cartão
posterior ao recebimento do valor disponibilizado
pelo banco”.

Pondera que não há que se falar em vício de


consentimento na contratação do cartão de crédito com margem
consignável em benefício previdenciário, muito menos na conversão
da modalidade negocial avençada, e invoca precedentes em favor
de sua compreensão.

Propugna, nesta esteira, que inexiste ato ilícito


ensejador de qualquer espécie de indenização (sustentando a
legalidade dos juros contratados, com base na Súmula 596 do
STF), bem com que inexistem danos materiais ou morais no caso
em apreço, refutando, neste aspecto, a repetição em dobro do
indébito.

Por fim, requer o conhecimento e provimento


de sua apelação, sendo julgados improcedentes os pedidos
exordiais.

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Preparo recursal satisfeito (arquivo nº 2 da


movimentação nº 42).

Contrarrazões apresentadas pelo autor/


apelado na movimentação nº 45, em que rebate a argumentação
recursal e pede pelo desprovimento do apelo.

É o relatório.

Decido.

Inicialmente, impende invocar o artigo 932,


inciso V, alínea “a”, do Código de Processo Civil, segundo o qual
incumbe ao relator dar provimento a recurso se a decisão recorrida
for contrária a súmula do próprio tribunal.

Em resumo, assevera o autor/apelado na


exordial que entabulou contrato de empréstimo bancário com o
banco recorrente, e que não lhe teriam sido explicados a contento
os meandros do negócio jurídico em comento, de modo que não
tinha consciência do que se trataria o cartão de crédito consignado.

Pontua que nunca utilizou cartão magnético


ofertado pela instituição financeira ré e que a dívida é impagável,
não sendo amortizada mesmo com pagamentos mensais no

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montante de “R$ 46,85 (quarenta e seis reais e


oitenta e cinco centavos), de maneira ininterrupta
e sem prazo para o fim do contrato (descontos)”.

Da leitura do feito (especialmente cópia do


instrumento negocial no arquivo nº 4 da movimentação nº 11),
infere-se que o contrato foi entabulado no mês de novembro de
2015, sendo avençado o saque do valor de R$ 838,00 (oitocentos e
trinta e oito reais).

A propósito do contrato de cartão de crédito


consignado, nos moldes em que usualmente é pactuado no
mercado consumidor, sabe-se que este possui natureza híbrida,
autorizando à parte contratante que utilize o limite de crédito
disponível de duas formas: por meio de compras em
estabelecimentos conveniados ou realizando empréstimo de
valores, cujo pagamento é feito, ainda que parcialmente, por meio
de desconto da parcela mínima em folha de pagamento/benefício.

Dessa forma, quando realizado um saque de


maior valor, o consumidor acredita que está contratando um
empréstimo nos moldes tradicionais, a ser pago por meio de
parcelas mensais. No entanto, em contratos como o dos autos, este
montante é somado às demais compras e/ou saques realizados por
meio do cartão de crédito, sendo descontado apenas um valor

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mínimo da fatura (como visto na hipótese versada), o que leva,


mensalmente, ao refinanciamento do restante da dívida.

Nesse cenário, o débito principal jamais será


amortizado; ao contrário, apresentará um crescimento vertiginoso,
sujeitando a parte contratante a uma dívida vitalícia. Trata-se,
portanto, de negócio jurídico oneroso e lesivo ao consumidor, já que
a dívida, não obstante os descontos mensais realizados, aumenta
contínua e vorazmente.

Importa ainda registrar que em tais contratos


não existe informação clara acerca do número de parcelas e da
soma final a pagar, o que coloca o contratante/consumidor em
desvantagem na relação negocial, e reforça a configuração de
prática abusiva por parte da instituição financeira.

Assim, aplicando o artigo 47 do Código de


Defesa do Consumidor, a utilização do crédito por meio de saque de
valor mais elevado, isoladamente, deve ser interpretada como
contrato de crédito pessoal consignado.

Por seu turno, seu pagamento deve dar-se nos


moldes tradicionais para a operação em questão, ou seja, por meio
de parcelas fixas, com prazo determinado para a quitação e
incidência de juros remuneratórios segundo a taxa média de

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mercado praticada nas operações da mesma espécie à época da


contratação.

No caso vertente, como se observa do exame


atento das faturas alusivas ao cartão de crédito consignado em tela
(acostadas aos arquivos nº 5 a 6 da movimentação nº 11),
referentes ao período compreendido entre dezembro de 2015 e
agosto de 2020, não houve nenhum uso concreto e comprovado do
cartão magnético pelo autor/apelado, o que coaduna exatamente
com as alegações declinadas na petição exordial.

Portanto, observa-se que resta configurada a


afronta aos princípios da informação e da lealdade contratual
(artigos 4º e 6º do CDC), o que justifica a revisão judicial da avença.

A matéria em questão já foi amplamente


discutida neste Tribunal, cujo entendimento firmado encontra-se
sintetizado no enunciado da Súmula 63, aprovada pela Corte
Especial em 17/09/2018, in verbis:

“ENUNCIADO: Os empréstimos
concedidos na modalidade ‘Cartão de
Crédito Consignado’ são revestidos
de abusividade, em ofensa ao CDC,
por tornarem a dívida impagável em

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virtude do refinanciamento mensal,


pelo desconto apenas de parcela
mínima devendo receber o tratamento
de crédito pessoal consignado, com
taxa de juros que represente a
média do mercado de tais operações,
ensejando o abatimento no valor
devido, declaração de quitação do
contrato ou a necessidade de
devolução do excedente, de forma
simples ou em dobro, podendo haver
condenação em reparação por danos
morais, conforme o caso concreto.”

Neste ponto, cabe grifar que o conjunto fático


probatório se amolda perfeitamente à previsão genérica do
enunciado sumular prefalado. Considerando que a parte
autora/apelada não fora informada adequadamente acerca dos
termos do contrato, não há como considerar válida a contratação do
empréstimo na modalidade cartão de crédito consignado.

Ademais, há de se esclarecer que o fato de o


requerente/apelado ter efetuado 3 (três) saques - os quais, saliente-
se, foram efetivados por meio de TED em sua conta bancária, e não
através do uso de cartão, vide arquivos nº 7 a 9 da movimentação

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nº 11 - nao é suficiente para que lhe seja dado o tratamento de um


cartao de crédito, pois tal fornecimento de importâncias equivale à
liberação de pecúnia em mútuo feneratício consignado,
confundindo-se com o valor que lhe seria disponibilizado nesta
ultima espécie de contrato.

Se o demandante utilizasse o cartao para


compras, restaria suficientemente demonstrada a sua vontade
inequivoca de aderir a um cartao de crédito, impondo-se a
manutençao da espécie de contrato nos exatos moldes pactuados,
ante a ausencia de quaisquer abusividades. Ocorre que este nao é
o caso em tela, dai porque lhe deve ser dado o tratamento de
empréstimo consignado, tal como acertadamente restou registrado
na sentença a quo.

Assim, os valores sacados pela parte autora


deverão ser pagos na modalidade de crédito pessoal consignado
concedido à pessoa física, com a incidência de juros remuneratórios
na forma estipulada pelo Julgador de Origem.

Grife-se que não se está decretando o


desfazimento do negócio jurídico, mas tão somente sua adequação
aos lindes da legalidade da natureza de contratação de empréstimo
bancário simples.

Corroborando esta compreensão, confiram-se

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os precedentes:

“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA


DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO POR
SERVIÇO NÃO CONTRATADO, REPETIÇÃO
DE INDÉBITO C/C INDENIZAÇÃO POR
DANOS MORAIS. CARTÃO DE CRÉDITO
CONSIGNADO. UTILIZAÇÃO DO CRÉDITO
EXCLUSIVAMENTE POR MEIO DE SAQUE.
INCIDÊNCIA DAS REGRAS DO EMPRÉSTIMO
CONSIGNADO. RESTITUIÇÃO SIMPLES.
DANO MORAL. AUSÊNCIA. INDENIZAÇÃO
INDEVIDA. ÔNUS SUCUMBENCIAL. 1.
Consoante jurisprudência desta
Corte (súmula 63), os empréstimos
concedidos na modalidade ‘cartão de
crédito consignado’ são revestidos
de abusividade, em ofensa ao CDC,
por tornarem a dívida impagável em
virtude do refinanciamento mensal
pelo desconto apenas da parcela
mínima, devendo receber o
tratamento de crédito pessoal
consignado, com taxa de juros que
represente a média do mercado de

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tais operações. (…)” (TJGO - Apelação


Cível 5625508-61.2019.8.09.0019 - Relator:
Des. Marcus da Costa Ferreira - 5ª Câmara
Cível - DJe de 24/03/2021).

“DUPLO AGRAVO INTERNO NA APELAÇÃO


CÍVEL. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER
C/C REPETIÇÃO DE INDÉBITO C/C
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS.
CONTRATO DE CARTÃO DE CRÉDITO
CONSIGNADO. INEXISTÊNCIA DE COMPRAS
EFETUADAS NO CARTÃO. APLICAÇÃO DA
SÚMULA Nº 63 DO TJGO. DESNATURAÇÃO
DESSE TIPO DE CONTRATO PARA
EMPRÉSTIMO CONSIGNADO EM FOLHA DE
PAGAMENTO. DANOS EXTRAPATRIMONIAIS.
NÃO VERIFICADOS. (…) Nos termos da
Súmula 63 do TJGO, os empréstimos
concedidos na modalidade ‘Cartão de
Crédito Consignado’ são revestidos
de abusividade, em ofensa ao CDC,
por tornarem a dívida impagável em
virtude do refinanciamento mensal,
pelo desconto apenas da parcela
mínima, devendo receber o

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tratamento de crédito pessoal


consignado, com taxa de juros que
represente a média do mercado de
tais operações, ensejando o
abatimento no valor devido,
declaração de quitação do contrato
ou a necessidade de devolução do
excedente, de forma simples ou em
dobro, podendo haver condenação em
reparação por danos morais,
conforme o caso concreto. III.
Ressalte-se que, no presente caso,
o consumidor apenas realizou
empréstimo através dos saques
efetuados, não tendo ocorrido a
utilização de cartão de crédito
para compras, o que impõe a
aplicação da referida Súmula 63 ao
caso concreto. (…)” (TJGO - Apelação
Cível nº 5571326-29.2019.8.09.0051 - Relator:
Des. Roberto Horácio Rezende - 1ª Câmara
Cível - DJe de 10/05/2021).

“AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO


DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE

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DÉBITO C/C INDENIZAÇÃO POR DANO


MORAL. CARTÃO DE CRÉDITO
CONSIGNADO. PAGAMENTO POR DESCONTOS
DIRETOS NO BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO
RECEBIDO PELO AUTOR/AGRAVADO.
DISCUSSÃO JUDICIAL DO DÉBITO. FATO
NEGATIVO. SUSPENSÃO. POSSIBILIDADE.
ASTREINTES. VALOR RAZOÁVEL E
PROPORCIONAL. LIMITAÇÃO TEMPORAL DE
OFÍCIO. LIMINAR CONFIRMADA. (…)
Conforme entendimento consolidado
pela Corte Especial deste Tribunal
de Justiça, os empréstimos
concedidos na modalidade Cartão de
Crédito Consignado são revestidos
de abusividade, em ofensa ao CDC,
por tornarem a dívida impagável em
virtude do refinanciamento mensal,
pelo desconto apenas da parcela
mínima, devendo receber o
tratamento de crédito pessoal
consignado (Súmula n. 63). (…)”
(TJGO - Agravo de Instrumento nº 5152650-
86.2021.8.09.0000 - Relator: Des Guilherme
Gutemberg Isac Pinto - 5ª Câmara Cível - DJe

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de 10/05/2021).

Por outro lado, no tocante à repetição do


indébito, há que se recordar que, segundo o contido no artigo 42,
parágrafo único, do Código de Defesa do Consumidor, o
consumidor cobrado por quantia indevida tem direito a repetição do
indébito do valor em dobro ao que pagou em excesso; todavia, se o
engano para tal cobrança for justificável, e se não for demonstrada
a má-fé na exigência dos valores por parte da instituição financeira,
não cabe a repetição em dobro.

No caso vertente, a má-fé não foi atestada, de


modo que há que se reformar a condenação, a fim de que
contemple a restituição na forma simples. Ilustro:

“(…) Para que seja reconhecido o


dever da parte de restituir em
dobro os valores que recebeu, é
imprescindível a comprovação de má-
fé, circunstância essa que não
restou demonstrada no caso em
comento. Portanto, a restituição
deve ocorrer na forma simples. (…)”
(TJGO - Apelação Cível nº 5492796-
11.2019.8.09.0051 - Relator: Des. Alan
Sebastião de Sena Conceição - 5ª Câmara

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Cível - DJe de 08/03/2021).

Noutro giro, quanto aos danos morais, coaduno


com o entendimento exposto no decisum recorrido, porquanto os
descontos mensais realizados nos proventos de aposentadoria do
apelado - verba de caráter alimentar - ultrapassam o conceito de
mero dissabor, configurando o dano extrapatrimonial.

No que se refere ao valor da reparação, é certo


que não há critérios determinados e fixos para a quantificação do
dano moral, sendo recomendável, contudo, que o arbitramento seja
feito com moderação, atendendo às peculiaridades do caso
concreto, à luz dos princípios da razoabilidade e da
proporcionalidade, de modo a evitar o enriquecimento injustificado
do credor da verba indenizatória, bem assim desestimular o ofensor
a reiterar a prática censurada.

Nesses quadrantes, especialmente


consultando os precedentes desta Casa e do Superior Tribunal de
Justiça, vejo que o valor arbitrado na primeira instância - de R$
5.000,00 (cinco mil reais) - é prudente e coerente com os critérios
retro referenciados e às particularidades do caso, suficiente
inclusive para deter valor pedagógico, com o intuito de impedir
recidivas da instituição financeira recorrente no comportamento
desleal para com o consumidor.

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Sobre o tema:

“(…) O simples fato de a


instituição financeira descontar
indevidamente valores direto da
aposentadoria do consumidor,
certamente ultrapassa a esfera do
mero aborrecimento cotidiano,
principalmente considerando-se que
o referido desconto foi obstado
pela atuação do Poder Judiciário,
acionado para intervir na celeuma.
7. Para arbitramento da indenização
por dano moral, imprescindível a
análise dos fatos peculiares ao
caso com amparo na
proporcionalidade e razoabilidade,
devendo o quantum ser suficiente a
reparar o dano sofrido pelo
consumidor e desestimular a
repetição da conduta lesiva pela
instituição bancária. Respeitando
tais parâmetros, a manutenção do
valor da indenização em R$ 5.000,00
(cinco mil reais) se impõe. (…)”

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(TJGO - Apelação Cível nº 5456086-


08.2020.8.09.0002 - Relator: Des. Gerson
Santana Cintra - 3ª Câmara Cível - DJe de
10/05/2021 - original sem grifos).

“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA


DE INEXISTÊNCIA DE ATO JURÍDICO C/C
DANOS MORAIS E REPETIÇÃO DE
INDÉBITO. CARTÃO DE CRÉDITO.
DESCONTOS REALIZADOS APENAS QUANTO
À PARCELA MÍNIMA. ABUSIVIDADE. DANO
MORAL CONFIGURADO. (…) 2.
Reconhecida a patente abusividade
do banco, bem como o desgaste
sofrido pelo consumidor, que
ultrapassou os limites do mero
aborrecimento do cotidiano,
afigura-se flagrante o dano moral,
sendo inconteste o dever de
indenizar. APELAÇÃO CÍVEL CONHECIDA
E DESPROVIDA. SENTENÇA MANTIDA.”
(TJGO - Apelação Cível nº 5450983-
62.2019.8.09.0064 - Relator: Des. Marcus da
Costa Ferreira - 5ª Câmara Cível - DJe de
06/05/2021).

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Por derradeiro, ficam prequestionados todos os


dispositivos legais apontados pela parte apelante e toda a matéria
discutida nestes autos, com a finalidade de possibilitar a subida de
possíveis e eventuais recursos a serem interpostos aos Tribunais
Superiores.

Diante do exposto, conheço da apelação cível


e lhe confiro parcial provimento, reformando o édito sentencial
guerreado única e exclusivamente no ponto relacionado à repetição
do indébito, que não se dará em dobro, mas na forma simples.

Quanto ao mais, confirmo a sentença recorrida,


por estes e seus próprios fundamentos.

Intimem-se.

Transitada em julgado a presente decisão,


volvam-se os autos ao Juízo de origem.

Documento datado e assinado digitalmente.

ALAN SEBASTIÃO DE SENA CONCEIÇÃO


RELATOR

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