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PEDRO ABREU

FAMÍLIA ABREU
DE
MARANGUAPE

Honório José de Abreu


caminhos e rotas dos seus descendentes
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Título
FAMÍLIA ABREU
DE
MARANGUAPE
Honório José de Abreu
Caminhos e rotas dos seus descendentes

Direitos Autorais: Reprodução, divulgação e tradução só poderão ser


feitas com autorização do Autor.

Revisão textual: Leida Patrício Pessoa

Capa: Brasão da Família Abreu

Edição:
Tiprogresso Gráfica e Editora – Fortaleza/CE
2a. Edição – Ano: 2020
Prellus Editora: alonsohigino@outlook.com

Catalogação:
Rita de Cássia Alencar
Reg. CRB – 3/671

ISBN978-85-98766-85-0

A162a Abreu, Pedro

Conhecimento/Genealogia/Pedro Abreu-Fortaleza/2014
Tiprogresso Gráfica e Editora.
300; il.
1- Educação 2- História 3 – Família
I - Título
CDD 370

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Nota sobre o Autor

O autor descreve de forma pioneira um típico tratado educacional familiar


utilizando suas experiências, ideias e pensamentos trabalhados na sociedade e Esco-
las do país, visando criar condições para o desenvolvimento e compreensão de um
agir sociocultural destinado às gerações atuais e futuras da Família Abreu do Muni-
cípio de Maranguape ramo correspondente a Honório José de Abreu e seus descen-
dentes do século XVII ao século XXI. Para tanto usou como referência acadêmica e
outras atividades profissionais relatos obtidos junto ao mundo do conhecimento com
o intuito de ofertar um saber “uno” acerca da vida.

Professor da Faculdade de Filosofia do Crato (CE);


Professor da Escola Técnica Federal do Ceará (CE);
Professor da Universidade de Fortaleza (CE);
Professor da Universidade Estadual Vale do Acaraú (CE);
Mestrado, Especialização e Graduação em Engenharia Elétrica;
Licenciatura em Ciências Religiosas, Filosofia, Língua Portuguesa, Biologia e Ba-
charelado em Farmácia e Psicologia;
Especialização em Psicopedagogia, Ciências dos Alimentos, Educação Infantil e Psi-
comotricidade e Psicanálise.

Livros do autor publicados:


1. ENERGÉTICA VISÃO NOVA DA REALIDADE – Novo Modo de Trabalhar a
Saúde, 1994.
2. CIDADANISMO – Pensar para Realizar, 1998.
3. A ARTE DE EDUCAR – Vivenciando o Monismo, 2003.
4. EDUCAÇÃO MONISTA – Uma Pedagogia da Unidade do Conhecimento Apli-
cada a Escola, 2012.
5. CUIDAR NA TERCEIRA IDADE – Uma Abordagem Farmacêutica Aplicada a
Saúde, 2020.

E-mail: pedrojabreu@hotmail.com

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Agradecimentos

Sendo um texto constituído por mais de cem mil palavras, fiz o possível
para evitar deslizes gramaticais de qualquer natureza, após diversas revisões cansa-
tivas no propósito de atender aos leitores e leitoras. Aqueles encontrados, fugiram à
percepção e ao controle de quem é humano e se atreve a escrever para o público.
Esta obra é dedicada a todas as pessoas praticantes da Educação e amantes
do conhecimento, uma espécie de aretê brasileira que em seu dia a dia, creem ser
possível um vivenciar capaz de realizá-la. Em particular aos descendentes de Honó-
rio José de Abreu pertencentes à Família Abreu de Maranguape que desejam mudar
de paradigma.
A pesquisa envolvendo conhecimento, educação, inteligência, formação,
genealogia e socialização dos membros dessa família, foi iniciada por Capistrano de
Abreu, continuada por Sebastião de Abreu, Cristovam de Abreu, Américo de Abreu
e concluída por mim, Pedro João de Abreu, após mais de cento e cinquenta anos de
investigação, ampliando seu enfoque e dando um novo redirecionamento voltado
para unificação familiar. O texto não seria passível de realização caso não fosse o
auxílio dos diversos colaboradores e descendentes.

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Sumário

Apresentação 7

Gerenciando nossas escolhas 17

Educação na Família de Honório José de Abreu 33

Sementes da Família Abreu no Brasil 59

Raízes da linhagem de Honório José de Abreu 75

Os caminhos dos descendentes de Honório José de Abreu 91

Terra Prometida a Honório José de Abreu 109

Troncos e Ramos da Família de Honório José de Abreu 131

Polinização dos descendentes de Honório José de Abreu 203

Flores do Jardim da Família de Honório José de Abreu 225

Espinhos da Família de Honório José de Abreu 245

Transgênicos da Família de Honório José de Abreu 263

Rotas dos Cravos e Botões da Família de Honório José de Abreu 273

Considerações finais 297

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Apresentação

Para se falar da instituição “família” e seus tentáculos, o ponto de partida


incide na questão da não igualdade quiral, relacionada a qualquer situação, um termo
da atualidade que se torna reflexo do vivenciar humano.
A não igualdade social e a pobreza são problemas que afetam todos os
países. A pobreza existe em todas as nações do mundo mas, a não igualdade social é
um fenômeno que ocorre mais em países não desenvolvidos como o Brasil. O enten-
dimento da não igualdade social é um guarda-chuva que compreende diversos tipos
de não igualdades, desde a falta de oportunidade de saúde, escolaridade, renda, raça,
gênero, etc.
Em nosso país, a não igualdade social tem sido um cartão de visita para o
mundo, pois é um dos países mais não igual que existe. O coeficiente de Gini é uma
medida de não igualdade social desenvolvida pelo italiano Corrado Gini, em 1912,
ela é utilizada para calcular a distribuição de renda em regiões socialmente habitá-
veis.
Dados observados no PNUD (Plano das Nações Unidas para o Desenvolvi-
mento) indicam que o índice de Gini, vem caindo no Brasil desde o ano 2000 pas-
sando do terceiro país mais não igual do mundo para o oitavo, porém ainda é gritante.
Pesquisadores que estudam a não igualdade social brasileira atribuem a fa-
tores que remontam a colonização do Brasil ao afirmar que são três os “pilares soci-
ais” que apoiam a não igualdade: a influência ibérica, os padrões de títulos de posse
de latifúndios e a escravidão preconizada pelas famílias.
Junto com o desenvolvimento econômico, cresceram a miséria, as dispari-
dades sociais – educação, renda, saúde, etc. – a flagrante concentração de renda, a
falta de emprego, a fome que atinge milhões de brasileiros, a falta de nutrição, a
corrupção, a mortalidade infantil, a baixa escolaridade e a violência são alguns fato-
res gritantes.
Essas são expressões do grau a que chegaram as não igualdades sociais no
Brasil. A não igualdade social se dá desde os tempos de Nação colonizada em que
Portugal detinha os recursos advindos da própria Colônia, administrados por pessoas
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designadas pela Coroa, cuja relação de não igualdade dava-se entre os senhores e
os/as escravos/as exercida principalmente pelas famílias abastadas.
O resultado dessa situação no Brasil, é a “normalidade” com que as pessoas
convivem com o problema, sem nada notar e procurar por um final numa questão
estrutural que os políticos, donos de indústria, banqueiros e pessoas que detêm o ca-
pital, criaram isolando ricos, de pobres e miseráveis.
Para entender a origem de tais disparidades no Brasil é necessário introduzir
uma perspectiva ampla, abrangendo o passado histórico, sem deixar de considerar as
dimensões continentais do país que não logrou, cumprir constitucionalmente com
seus objetivos básicos, entre os quais se inclui, a Educação.
Em minhas andanças e contatos, por locais onde residem, trabalham e exis-
tem pessoas com o sobrenome “Abreu”, oriundas principalmente do Município de
Maranguape, geralmente a palavra que mais se destaca envolvendo-as é que as mes-
mas são muito inteligentes, mas nada quando se refere à Educação.
Qual a relação entre inteligência, genética e Educação desenvolvidos no
meio social dos Abreus capaz de produzir conhecimento? Sendo nossas origens ad-
vindas de um núcleo de portugueses que se instalou no Ceará a partir do século
XVIII, como nossos antepassados que não tiveram conhecimento escolar para trans-
mitir a seus descendentes, usaram da inteligência para ter o nível de educação que
possuem atualmente?
Qual o motivo de escrever um tratado envolvendo inteligência e educação
capaz de produzir conhecimento em uma Família? Um conto árabe diz que “Se duas
pessoas se encontrarem carregando cada uma um pão e conversarem por algum
tempo, na despedida, cada uma levará apenas pão. Mas se conversarem sobre “edu-
cação”, sairão pelo menos com mais ideias e até mesmo sabendo que não se vive só
de pão”.
Trocar ideias com pessoas e parentes acerca da origem da família de Ho-
nório José de Abreu e seu desenvolvimento, a partir do Município de Maranguape
nos aspectos formais, educacionais e sociais visando constituir um texto básico e
orientativo, foi o desejo que tive em escrever este livro.
Muitos perguntam qual o propósito para se escrever um livro voltado para
orientar educacionalmente as pessoas de uma família, não sendo um simples texto de
genealogia familiar? Todo/a autor/a tem um argumento que lhe impulsiona dando
inspiração para escrever. Uma descoberta, um problema, um ideal visando apregoar
suas experiências enquanto pessoa, enfim sempre se tem um motivo para escrever e
produzir conhecimento.
Por isso, considero importante explicar o que me levou a elaborar este livro.
Foi a história da evolução educacional de uma família a partir de uma ideia concebi-

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da, já não temos que ser os melhores no assunto, para escrever, pois as pessoas pre-
cisam e querem ler mantendo o interesse de conhecer e aprender na construção do
social e na manutenção do compreender cultural quando o assunto trata de Educação.
Nossa preocupação com relação ao escrito reside no fato de esclarecer como
personagens de um núcleo familiar aristocrático português denominado “Abreu”, se
constituiu em colonos numa região do Nordeste brasileiro e vêm galgando os estágios
da cidadania onde a Educação se estabelece como principal meta.
Ao escrever este livro procuro deixar um registro na Terra, uma lembrança
justa e poética dos resquícios das famílias de meus pais, pertencentes a Família Abreu
de Maranguape, um recado que toda pessoa deve oferecer para seus parentes e des-
cendentes acerca do que é ter e viver em família, procurando compreender o mundo
e se educar. Um pingo de luz da alma de um escritor na compreensão deste mundo
tão sublime.
Tradição (do latim: traditio, tradere = entregar, "passar adiante"), é a con-
tinuidade, permanência de uma doutrina, visão de mundo, costumes e valores de um
grupo social e escola de pensamento. Em nível de educação, a tradição revela um
conjunto de costumes, comportamentos, memórias, rumores, crenças, lendas, mú-
sica, práticas, doutrinas e regras que são transmitidos para pessoas em uma comuni-
dade, com tais elementos passando fazer parte da cultura.
Para muitos, a tradição é o fundamento conservador dos conhecimentos
acerca do Sagrado, Universo, Natureza e dos preceitos culturais e éticos. Em grego,
na acepção do termo, corresponde à expressão paradosis que é a transmissão de prá-
ticas e de valores, um conjunto de crenças, que são conservadas e seguidas com res-
peito e ao longo do tempo entre distintas famílias. Baseia-se em três pontos: a) as
pessoas são mortais; b) a necessidade de haver um nexo de conhecimento entre as
gerações; c) a família se distingue de comunidade.
Pesquisadores que estudam a não igualdade social brasileira atribuem a fa-
tores que remontam a colonização do Brasil ao afirmar que são três os “pilares soci-
ais” que apoiam a não igualdade: a influência ibérica, os padrões de títulos de posse
de latifúndios e a escravidão preconizada pelas famílias.
A tradição toma feições peculiares em cada agrupamento social e pode-se
destacar sua presença nos grupos religiosos, familiares e culturais, deste modo, nem
toda a tradição oral foi registrada, socialmente sendo hoje transmitida de geração para
geração tendo sua base no quiralismo.
A não igualdade social no Brasil tem sido percebida nas últimas décadas,
não como herança pré-moderna, mas como decorrência do processo de modernização
que tomou o país a partir do início do século XIX. Junto com o desenvolvimento
econômico, cresceram a miséria, as disparidades sociais – educação, renda, saúde,

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etc. – a flagrante concentração de renda, a falta de emprego, a fome que atinge mi-
lhões de brasileiros, a desnutrição, a corrupção, a mortalidade infantil, a baixa esco-
laridade e a violência.
O tradicionalismo coloca a tradição como critério e regra de decisão en-
tendendo-a como o conjunto de hábitos e tendências que procuram manter uma soci-
edade no equilíbrio quiral das forças que lhe deram início. Na tradição o saber é a
cultura transmitida de uma geração para outra, quando repassada em discurso pode
formar e transmitir conhecimento entre as gerações.
Origina-se dos primórdios dos tempos, quando havia pouca escrita e ma-
teriais que pudessem manter e circular os registros orais, sendo própria de cada povo.
A partir da expansão dos centros urbanos e o deslocamento de pessoas do campo para
as cidades grandes, a tradição começou a se extinguir e não mais ser cultuada, resul-
tando na sociedade atual.
Nas sociedades antigas, se conta que, quando um desejo iniciado por algum
ancestral envolvendo o relato da origem e tradição de sua família não era cumprido
por algum descendente encarregado de fazê-lo, a maldição dos deuses se instalava
sobre todos adquirindo mazelas distintas e daí, começavam adoecer, até que em de-
terminado momento algum ente familiar se incumbisse de evitar a continuidade de
tal vaticínio resgatando a origem do caminho do equilíbrio.
Assumo que tal profecia na família de Honório José de Abreu e seus des-
cendentes se iniciou com Capistrano de Abreu, passou por Sebastião de Abreu, pros-
seguiu com Cristovam de Abreu, atingiu Américo de Abreu dentre outros que tenta-
ram e se estabeleceu em minha pessoa escolhida para relatar acontecimentos desse
núcleo familiar, desejando que um dia, outro parente possa assumir e retomar essa
corrente.
O propósito dos escritores que me antecederam, pautava-se em mostrar
quem é e alguns retalhos da localidade e de personagens que compõem a família de
Honório José de Abreu, instalada no Município de Maranguape bem como os ár-
duos caminhos que seus descendentes seguiram, como evoluíram e que horizonte
desejavam vislumbrar um dia, no sentido de corrigir o caminho e as rotas que não
produziram resultados esperados.
Meu descrever se inicia e se direciona para o rumo em que novos aspectos
educacionais envoltos na mídia começam a se delinear na Família Abreu de Maran-
guape a partir do momento em que se observa a maioria dos descendentes tendo ad-
quirido formação acadêmica, mas, não apresentando o fluir do cidadanismo educaci-
onal tão desejado por Capistrano de Abreu com a fundação da Escola Popular e a de
Sebastião de Abreu, com a criação de grupos escolares espalhados pelos rincões
desse Estado tentando libertar seus conterrâneos da única escravidão social, que é

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“não ter conhecimento”, não ter educação, vivenciando normalmente a não igualdade
social, sem nada fazer para interrompê-la.
Estabeleço de início a distinção que faço entre formação acadêmica se cons-
tituindo principalmente em: aprender e compreender acerca do por que, para que,
quem e quanto, e educação complementando aquela em termos de; que, como e para
onde seguir na busca do caminho da vida.
Além da busca contextualizada ligando o assunto desde os grotões sertane-
jos do Brasil Colônia passando pelo Império, adentrando nos meandros e turbulências
da República, me envolvo com os enlaces da Antiguidade e da Contemporaneidade
até atingir os paradigmas que se delineiam na globalização e na luta por um novo
agir educacional através de um singelo retrospecto da história da Educação que será
utilizado como norteio para comparação familiar com um grupo social específico.
Enquanto chineses, egípcios e babilônicos se utilizavam da quiralidade e
iconografia por volta de 3000 mil anos antes da era atual, somente tempos depois foi
que os gregos através da civilização micênica começaram a praticá-la na forma de
escrita simplificada por volta do século VII a.C., procurando superar o saber oral.
Já nossos antepassados tardiamente começaram tal feito, ocorrendo apenas
no início do século XIX visto, o evoluir dos ancestrais de Honório José de Abreu
se basear na tradição da memória de longa duração lusitana, com o predomínio de
prosas ainda hoje comentadas por alguns descendentes e curiosos.
Observando alguns levantamentos obtidos junto a quem pesquisou acerca
da família de Honório José de Abreu e seus descendentes nota-se atualmente a exis-
tência de muitos professores, facilitadores, gestores, especialistas e treinadores, cada
um se orientando por um tipo isolado de abordagem acerca da Realidade.
Entretanto se consegue encontrar raríssimos educadores, principalmente
com relação aos filhos e filhas, é por tal motivo que decidi chamar atenção de meus
parentes e descendentes procurando incentivá-los na busca por tal patamar, suplan-
tando a necessidade de ser inteligente e a destreza de ser sábio.
Todos humanos são elaboradores de poesias, são contadores de prosa, quer
seja cordelista, historiador, cientista e educador, modificamos apenas a aparência
mas, a essência explicativa continua, o que muda é o modo como se fala acerca da
Realidade, do espaço e do tempo.
Existe o/a contador/a de prosa, alguém do tipo que não frequentou escola
denominado por outros de “analfabeto/a” como Patativa do Assaré, cultuado em Sor-
bone, França, ele/a é considerado/a um estereótipo do saber desde os tempos idos,
acunhado de “estoriador/a”, com “e”, assumido pelos cordelistas e no mundo formal
como um paradidático.

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Existe o/a contador/a de prosa, aquele/a tipo que não cursou Faculdade de-
nominado por outros de “autodidata”, como o grego Heródoto no século V a.C. fun-
dador da historiografia ocidental e de Capistrano de Abreu um brasileiro de Colu-
minjuba no município de Maranguape, um dos criadores da história brasileira com
“h”.
Existe também o/a contador/a de prosa, do tipo que frequentou Universi-
dade, a conhecida escola formal, hoje denominado de “cientista”, um termo oriundo
dos gregos, próprio da pessoa que estuda, escreve e pesquisa usando principalmente
de argumentos conhecidos academicamente como: modelo, método e metodologia e
que geralmente se tornam um “dogmático paulino”.
Existe ainda o/a contador/a de prosa, do tipo Monista aquela pessoa não
satisfeita com as alcunhas anteriores, um quiralista que decidiu reunir os saberes
acerca do conhecimento em todos os âmbitos deixando de ser estoriador/a com “e”,
autodidata e historiador/a com “h”, um título dado as pessoas consideradas “educa-
das, sábias, loucas e inteligentes”, por outras.
Agindo como um monista convicto, situação que explicarei mais a frente,
não pretendo assumir a elaboração do texto como uma estória e tampouco como a
história de uma família envolvendo fatos. Mais, descrever de forma “una” trechos da
vida de pessoas que se relacionam de forma quiral, genética, epigenética, comporta-
mental, simbólica e virtualizante, no sentido de criar e alertar para o resgate de uma
herança educacional e sua continuidade que está a se perder em um imenso núcleo
familiar.
Neste âmbito, afirmo nunca ter conhecido uma pessoa educada, nos moldes
que o mundo do conhecimento, a sociedade e a vida exigem isto é, segundo os crité-
rios que a Educação estabelece.
Ao fazer tais considerações que muitos, senão todos os parentes não irão
aceitar, julgando-me um prepotente, baseio-me no que aprendi principalmente com
minha nobre irmã Ireuda, uma cópia fiel de minha bisavó paterna com seus gestos
simples, austeros e sem meias palavras afirmando que “roupa suja” deve sempre ser
lavada em casa.
Para quem compreende o saber, a Educação é uma meta, um longo processo
ligado a unidade do conhecimento visando atingir um horizonte que se inicia com os
quiralistas, atinge os contidos e restritos, passa por aqueles que dizem ter bons mo-
dos, envolve os que apresentam formação acadêmica e inteligência, ultrapassa os gê-
nios e os sábios e se plenifica na unidade da nousética (ética do conhecimento).
Envolver-se com Educação exige que nossas ações sejam orientadas e pau-
tadas por um “preceptor” o qual toma como origem a unidade do conhecimento, um
quiralista.

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Tal fato obriga seu início logo nos primeiros anos de vida em criança.
Quando não agimos desse modo, e como isto ocorre com a maioria das pessoas, po-
demos assumir para corrigir o problema, ter que refazer ao longo do tempo e à custa
de muito sacrifício, tempo, vontade e condições financeiras adequadas um processo
interrompido geralmente na infância e adolescência.
Por mais remota que pareça esta possibilidade meu interesse no tema reside
na divulgação do assunto de modo a não permitir nossa extinção familiar por conta
do individualismo exagerado que domina a sociedade e de nossos atuais descenden-
tes infonautas que nem sabem mais quem somos, tal como ocorreu com o “Latim”,
uma língua que hoje as pessoas denominam de “morta” deixando para sociedade,
apenas lembrança.
Pretendo contribuir para que todos meus parentes possam consultar este
material como um documento revelador de suas origens educacionais, repassando
para seus descendentes o evoluir de um tronco familiar instalado inicialmente no
Município de Maranguape e que ao longo de séculos habita este país.
Escrever um livro é entregarmo-nos aos outros, e o que isso tem de exal-
tante e devastador? É exaltante porque nos permite dizer que existimos, dizer quem
somos, partilhar juntos, de tal modo que se encontre em nós o que nem mesmo con-
seguimos revelar. Exaltante porque satisfaz o nosso desejo de sermos admirados e
conhecidos.
Mas é também devastador porque alimenta a nossa vaidade, permitindo de-
vassas e distorções e toda forma de manipulação que leitores com suas “doxas - opi-
niões”, hermenêuticas, onomatopeias, prosódias e comparações distorcidas acerca do
conhecimento e que sem saber o significado do que falam chegam a denominar tal
feito de “crítica”.
Que abordagem foi utilizada na elaboração do livro? Diante dos dados dis-
poníveis, procurei destacar em forma de prosa monista, detalhando de maneira una,
os aspectos educacionais resultantes da sobrevivência ao longo do tempo dos ascen-
dentes e descendentes da família de Honório José de Abreu a partir do século XVII
envolvendo várias gerações, destacando a evolução de suas principais características
tais como: pobreza, religiosidade, distúrbios, degeneração, enfermidades, analfabe-
tismo, inteligência, status, longevidade, conhecimento, ensino, aprendizagem e com-
portamento.
Quais os critérios utilizados na elaboração do texto? O estabelecimento do
enredo na composição do texto não teve cunho religioso, filosófico, científico e tam-
pouco tecnológico como linha mestra.
Adotou-se uma literária de cunho alegórico metafórico, oriundo do quira-
lismo, um procedimento descritivo e uno do conhecimento, distinto do clássico, se-

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guindo os caminhos vividos pelos personagens e articulado aos seus ambientes, onde
se passam os acontecimentos, em que época ocorreu, como se comportaram as pes-
soas que viveram e vivem nesses lugares em seus tempos, os costumes e trajes soci-
ais, conflitos existentes e resolução dos mesmos, com seus sentimentos, amores e
paixões e de tudo que foram deixando pelo caminho.
Procuro assumir no texto que teorias, ideias e paradigmas formulados por
outros autores e que foram citados no trabalho em questão, seguiram um linguajar
gramatical próprio de quem é monista, de quem é quiralista, de quem desenvolve o
texto sem qualquer tendência que possa fugir da unidade do conhecimento aplicada
na elaboração do livro. Livre do uso da conjunção “OU”.
Comentar sobre as questões de parentesco, pessoas e sentimentos, proble-
mas do dia a dia, saúde, jeito de falar e de se expressar, contar uma parte curricular e
evolutiva de uma família não é trabalho simples.
Conhecer obstáculos e vitórias enfrentados por meus ancestrais em seu vi-
venciar em conformidade com os eventos vinculados aos acontecimentos no mundo
que se globalizou será tema de todos os capítulos. Neste propósito lembro o pensador
Abraham Maslow quando através de seus esquemas comportamentais de necessida-
des, nos mostra uma possível sequência do viver humano na sociedade.
Para Maslow a pessoa inicia sua jornada de necessidades procurando solu-
cionar os problemas de sobrevivência, em seguida busca proteção, segurança e famí-
lia, depois os sentimentos de aceitação e amizade a direcionam para formação de
esteios sociais procurando confiança e reputação que garantam tudo que conquistou,
e finalmente para atingir o topo de sua realização se pauta em ideologias e metas
estabelecidas como um horizonte de vida revelador.
Na família de Honório José de Abreu e seus descendentes a partir do Mu-
nicípio de Maranguape, muitos procuraram de modo consciente seguir este caminho,
quebrando paradigmas assumindo novos horizontes, entretanto pouquíssimos conse-
guiram este propósito chegando a um final estabelecido. Sobram dedos na mão para
contar, aqueles que atingiram se aproximar de feito nessa luta familiar.
Após quase 300 anos de existência ainda somos no universo dos Abreus,
uma família simplória sem expoentes educacionais no dizer de Capistrano, não temos
uma meta familiar, um rumo ético que possa ser assumido e partilhado por todos ao
longo de suas caminhadas de modo a preservar quem somos. Notamos isso princi-
palmente na comemoração de datas festivas e significativas que envolvem os famili-
ares.
As reuniões em família e as alterações sociais globalizadas estão a nos levar
para formação de um aglomerado de pessoas denominado de comunidade “Babel”,
onde todos vivem de forma isolada sem qualquer vínculo entre seus/as irmãos/as de

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sangue, suor e lágrimas, indicando que a cidadania nunca esteve presente entre nós.
Evoluímos em busca de sobrevivência desde o estado de artesão, escravo,
assalariado e empregado até atingir o nível do especialista e ficamos apenas nisso
não se consegue superar essa barreira cultural.
Nessa caminhada forçada abdicamos até mesmo de nosso torrão natal, e
hoje tentamos resgatar nossas raízes, e não mais encontramos resposta. Muitos pa-
rentes até perguntam o que isso significa, quem somos, outros até retiraram o sobre-
nome “Abreu”, com o propósito de evitar qualquer ligação de parentesco. Tamanho
é o nível de ignorância parental desses ingênuos humanos que chega a nos constran-
ger.
Através de embasamento envolvendo biografias, pesquisando e ouvindo
conversações acerca do assunto proposto, observando a realidade em nosso entorno,
resolvi partilhar minhas ideias com leitores/as e familiares.
Em assim sendo, proponho relatar momentos de resgate sócio-educativo da
família de Honório José de Abreu de onde procedo, o que ninguém na família foi
capaz de realizar de forma una até hoje.
Quem consultar este livro há de tomar contato com um possível “relato”
educativo de uma família estabelecida no Município de Maranguape, feita por ho-
mens, mulheres e crianças desbravadores do Estado do Ceará. Uma espécie de índice
espaço-temporal, político, econômico, social e cultural familiar que, desde o século
XVIII aos nossos dias, se constrói no território aprazível da consciência humana des
tas pessoas.
Deixo claro que todas as considerações feitas acerca de meus ascendentes,
parentes e descendentes são frutos de experiências, observações retiradas de conver-
sações e materiais bibliográficos obtidos junto aos diversos familiares que auxiliaram
na elaboração do texto, pois venho pesquisando a evolução do desempenho educaci-
onal da família de Honório José de Abreu e seus descendentes desde o início da
década de 1980.
Na elaboração do texto, tomei como base principalmente meus estudos, lei-
turas e entrevistas com residentes em diversas localidades do Município de Maran-
guape, Fortaleza e outros rincões destacando-se: Alice Augusta de Abreu Brasil, Al-
fredo Marques, Américo de Abreu, Antônio de Abreu, Antônio Honório de Abreu
(Totônio), Antônio Barbosa de Abreu, João Capistrano de Abreu, Cristovam de
Abreu, Claudio de Abreu Braga, Deborah Motta Evangelista, Elio de Abreu Braga,
Francisco de Andrade Barroso, Francisco Augusto de Araújo Lima, José Airton de
Farias, José Aurélio Saraiva, Mário Julião de Abreu, Fco. Vasconcelos de Sousa
(Nem), Paracelso Mendes de Abreu, Pedrina de Abreu Veras e Sebastião de Abreu
desde o século XVII até os dias atuais.

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Procurei investigar os avanços sociais e o progresso educacional que se es-
tabeleceram ao longo dos anos envolvendo a família de Honório José de Abreu e
seus descendentes, ligando-os em termos de solos, sementes, raízes, troncos, ramos,
galhos, folhas, frutos e espinhos que desabrocharam na Terra Prometida, no sentido
de revelar que caminho seguir diante de tanta adversidade para sobreviver numa re-
gião exposta a condições climáticas tão cruentas e dantescas.
Não devemos nos esquecer que os participantes do núcleo dos Abreus que
se instalaram no Município de Maranguape constituíam-se e se agregaram com vá-
rios ramos vindo de Portugal dentre eles destacamos Joaquim Lopes de Abreu e Ho-
nório Jose de Abreu que decidiram reatar laços em terras estranhas, vivendo ao lado
dos principais núcleos sociais constituintes das famílias de Joaquim José de Sousa
Sombra, João Correia Martins, Manuel de Paula Cavalcante, Dário Telles de Mene-
zes, todos de Maranguape.
Para unir as pessoas que de algum modo fazem parte da Família Abreu de
Maranguape, utilizo no texto a ideia do “Patriarca familiar” na caminhada que a
família desenvolveu no intuito de estabelecer e revelar quem somos, o que somos e
o que nos tornamos até os dias atuais.
Ao longo de cada capítulo fui contextualizando e inserindo situações e di-
ficuldades enfrentadas na caminhada dos ascendentes e descendentes da família de
Honório José de Abreu, descrevendo a formação de nossa árvore simbólica, com
seu tronco e ramos com o propósito de conseguir um "adubo”, que permita nosso
viver eterno, conforme figura exposta no salão de festa do Columinjuba Clube per-
tencente a família Abreu.

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1
Gerenciando
nossas
Escolhas

O corpo humano herdou por meio do Evolucionismo, um cérebro que eu


chamo de “Bobão”, um representante da Natureza, uma espécie de “Maria vai com
as outras, um Pau mandado”, que faz suas escolhas baseado em um processamento
dinâmico homeostático denominado de “Educação”, o qual, é gerenciado por um
fundamento natural chamado “Quiralidade”.
A função do cérebro “Bobão”, é manter a ligação dos humanos com a Na-
tureza e preservar sua unidade com o Universo a qualquer preço, utilizando a Edu-
cação como instrumento de trabalho. Para tanto, se aproveita do pensamento como
linguagem em forma de emoção, representando tudo por meio de símbolos, cujo gê-
nero literário alegórico-metaforico é exposto através da semântica.
Desde tempos antigos no mundo Ocidental, pelo menos a partir de
Aristóteles (384-322 a.C.), foi implantado no cérebro “Bobão”, a ideia de
que os organismos humanos, são racionais. As pessoas acreditam que pen-
sam racionalmente o tempo todo. Essa percepção é fruto do modo como
o fluxo de pensamento não cessa, dando a impressão que estamos assim
agindo o tempo todo - o que não é verdade.
Foi imposto para o cérebro humano “Bobão” a partir da civilização
greco-romana a “dualidade”, em troca das “polaridades”, constando de
dois esquemas de processamento cognitivo: um chamado de “inconsciente,
autônomo” e outro “consciente, deliberativo”. Entretanto, a maior parte do
tempo, sem perceber, estamos sob influência do primeiro esquema.
Cada um deles como parte do cérebro “Bobão”, têm um funciona-
mento neural diferente, acessando áreas distintas de si. Para as escolas,
foi-se aos poucos sendo estabelecido que somente o segundo esquema de
processamento cerebral é que nos capacita a raciocinar acerca da verdade.
Como a cultura Oriental não aceita isso, denomina tudo de “maya”.
Entende-se que, do ponto de vista instrumental, a racionalidade
17
criada pelos pensadores gregos pode ser entendida como uma ferramenta
que o organismo humano utiliza a seu alcance, selecionando propósitos e
o comportamento que leva à obtenção daquilo que almeja, de acordo
com os recursos disponíveis.
Contudo, esse processo além de não ser eficiente é limitado, de-
vido ao modo como o nosso cérebro funciona. Pois, o aprendizado refere-
se a uma mudança comportamental resultante da aquisição de conheci-
mento acerca do mundo onde a memória é o processo pelo qual esse co-
nhecimento é codificado, armazenado, consolidado e posteriormente evo-
cado.
Apesar do nosso cérebro ser uma ferramenta poderosa, ele é li-
mitado para determinadas situações onde a tecnologia age de forma efi-
ciente e precisa. Existem disfunções naturais que podem prejudicar os
processos cognitivos e, com isso, a tomada de decisão. Por isto, muitos
dos comportamentos e decisões observados têm origem a partir das for-
mas de aprendizagem do cérebro.
Em animais primitivos, boa parte do comportamento é estereo-
tipado (imagem), inscrito em seus sistemas nervosos, o que não permite
modificações posteriores. Outros animais, com sistemas nervosos mais
elaborados, são capazes de aprender novos comportamentos podendo es-
colher e decidir de acordo com as circunstâncias como os humanos, que
herdaram tais comportamentos.
Muitas pessoas consideram o fato da racionalidade ser um atributo
importante. Não foi à toa que à nossa espécie recebeu o nome de Homo sa-
piens. É na cultura ocidental, desde a criação da Filosofia, que temos como
certo possuir o dom da racionalidade. Entretanto, hoje sabemos que nossa
capacidade de raciocínio além de ter sido forjada é muito limitada.
Embora sejamos capazes de examinar múltiplas alternativas e che-
gar a conclusões, esse processo(função) não é eficiente sendo contaminado
por limitações devido ao modo como funciona o nosso cérebro.
A racionalidade, de um ponto de vista instrumental, pode ser assu-
mida como uma ferramenta a ser aplicada para que o indivíduo atinja seus
propósitos. Ela seleciona o tipo de comportamento que leva à obtenção
daquilo que é mais desejado. Assim, uma ação racional tornou-se aquela ati-
tude que, em determinado contexto, considera-se constituir a melhor opção
para a consecução dos objetivos do indivíduo.
Do ponto de vista das ciências cognitivas, o oposto do pensamento
racional é a “irracionalidade”, que pode ser observada em diferentes grada-

18
ções dependendo de quanto o pensamento e o comportamento se afastam da
racionalidade. Uma ação irracional é deliberada, mas leva a conclusão que
pode não ser a melhor, considerando-se as informações e o tempo disponí-
veis.
O fato é que nós, humanos, nem sempre primamos pela racionali-
dade: nosso pensamento e nosso comportamento muitas vezes se afastam
daquilo que é tido como racional onde predomina o cérebro “Bobão”. En-
tretanto, o propósito do pensamento racional é auxiliar o pensamento irraci-
onal na preservação da vida no planeta e sua compreensão de Universo.
Nosso cérebro, apesar de ter mais recursos do que o de outras espé-
cies animais, está longe de ser perfeito. Isso ocorreu porque o processo da
evolução biológica não se preocupa em produzir o melhor, mas sim em se-
lecionar o que está bem adaptado, às condições existentes. Por conta disso,
nossa capacidade cognitiva, que é decorrente do funcionamento do cérebro
“Bobão”, deixa a desejar, embora nos tenha proporcionado sucessos, como
podemos observar olhando o mundo ao nosso redor.
O cérebro “Bobão”, é como um iceberg, uma só estrutura represen-
tativa da Natureza onde a maior parte se encontra fora da visão sensorial,
iludindo as pessoas. A falha da Filosofia assumida pela religião e ciência se
encontra no fato de considerar o mesmo como duas partes opostas denomi-
nada de subjetiva/objetiva, exterior/interior enganando as pessoas no mo-
mento de efetivar uma representação de qualquer desejo, a qual foi denomi-
nada de “conceito”.
Podemos considerar de forma análoga, a existência desses dois tipos
de processamento cognitivo diferentes e complementares, tipo sistema ner-
voso autônomo, formado pelo simpático e o parassimpático, os quais funci-
onam a todo o momento, de forma cooperativa e complementar, determi-
nando o aparecimento não só de escolhas e decisões acertadas, mas de falhas
e desvios da racionalidade.
Nosso cérebro tem capacidades, como a linguagem verbal, a memó-
ria consciente e outros artifícios que não encontram paralelo em outros ani-
mais. Essas capacidades permitem uma interação eficiente com o meio e
maior capacidade de sobrevivência do indivíduo e da espécie. No entanto,
mesmo sabendo que o processo evolutivo atue selecionando e mantendo ca-
racterísticas e mecanismos que se revelaram vantajosos em determinadas
circunstâncias, não planeja atributos que poderiam funcionar de maneira de-
sejável nas mesmas circunstâncias.
Convivem, no nosso cérebro, estruturas mais antigas junto com ou-

19
tras que apareceram mais tarde, compartilhando aspectos das funções com
que estão relacionadas. As estruturas recentes são mais complexas e acres-
centam novas capacidades às existentes. Mas, as antigas funções, costumam
interagir com as novas funções, sendo com frequência, controladas por elas.
Isso se observa, por exemplo, nas formas de aprendizagem em que o cérebro
pode se envolver e que irão determinar os comportamentos e as tomadas de
decisão do dia a dia.
Mas, para interagir de forma adequada as necessidades do ambiente,
o sistema nervoso dos animais desenvolveu uma capacidade cada vez maior
de aprender com a experiência. Dessa maneira, seu comportamento pôde se
modificar e tornar-se cada vez mais adaptativo. Isso permite um desempenho
melhor de determinadas ações levando, além disso, ao aparecimento de no-
vas capacidades e comportamentos.
Assim, a aprendizagem determina, as escolhas e decisões tomadas
em cada circunstância e por isso torna-se valorosa para sobrevivência dos
organismos vivos. No desenvolvimento evolutivo dos animais pode-se ver
que algumas formas de aprendizagem já estão presentes em organismos pri-
mitivos, enquanto outras aparecem quando o sistema nervoso se torna com-
plexo.
Um tipo de aprendizagem antigo ocorre por associação de estímulos
ambientais e é conhecido como condicionamento pavloviano, por ter sido
descrito pelo neurofisiologista russo Ivan Pavlov (1849-1936). Nessa condi-
ção, o sistema nervoso aprende a associar um novo estímulo, um sinal com
outro estímulo que ele já estava acostumado, e já estava programado gene-
ticamente a reagir.
Essa forma de aprendizagem já está presente em não vertebrados
como lesmas e caramujos, mas continua funcionando mesmo em cérebros
sofisticados como o que temos. Por meio do “condicionamento pavloviano”
podemos associar respostas programadas ao longo da evolução para atuar
em processos como alimentação, reprodução e emoções de novos estímulos
e situações que ocorrem nas experiências diárias de cada um de nós.
Outra forma de aprendizagem herdada é o chamado “condiciona-
mento operante”, que ocorre quando um comportamento é seguido de even-
tos agradáveis e não agradáveis. No primeiro caso, o comportamento cos-
tuma repetir-se e até aumentar de frequência, no segundo caso ocorre o con-
trário. Os estímulos agradáveis são gratificações, e recompensas, são cha-
mados reforços positivos do comportamento em questão, pois promovem a
continuidade e o aumento da sua frequência.

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Os estímulos não agradáveis são reforços negativos, e punições, que
levam à extinção, e a falta de aparecimento, do comportamento correspon-
dente. A ausência de gratificações também pode acarretar o não apareci-
mento do comportamento.
O registro consciente de nossas experiências é feito por meio de um
tipo de memória que chamamos de “memória explícita”, a memória decla-
rativa, uma vez que podemos descrever essas experiências. Essa aprendiza-
gem, como todas as outras, ocorre por meio de alterações nas conexões entre
as células nervosas(neurônios), o que nos permite acumular informações e
relacioná-las, de modo que sejam úteis ao longo da vida.
Mas não é essa a forma que o cérebro utiliza para
sistematizar a informação. O cérebro organiza a informação por meio de as-
sociações: objeto, evento e características que vão se associando a outros –
por similaridade, contiguidade de ocorrência –, de maneira que podemos
imaginar a formação de redes semânticas em que cada item forma um nó
dessa rede e se liga a outros nós, conforme as experiências de cada um.
Quando uma imagem, uma representação e um desses nós é ativado
em nossa “consciência”, e se torna percebido em nossos órgãos dos sentidos,
ocorre uma propagação que se espalha ao longo da rede. Esses itens se tor-
nam disponíveis para processamento pelo cérebro, de forma consciente e
não. Dependendo do contexto, de nossas necessidades, e por livre associa-
ção, podemos navegar nesta rede, encontrando os outros nós que fazem sen-
tido e de que precisamos a todo momento.
É importante, fazer associações, uma vez que devem ser registradas
para garantir a sobrevivência. Determinados sons, imagens, esquemas e lo-
cais devem ser associados a perigo, aromas, cores e texturas indicando ali-
mento e a presença de um parceiro sexual, e assim por diante. Os animais
desprovidos de linguagem também têm uma memória que se organiza dessa
forma, embora não apresentem um tipo de discernimento (consciência) que
se desenvolveu em nossa espécie.
Essa forma de aprendizagem manteve-se e ampliou-se depois da
aquisição da linguagem na espécie humana, e tem se mostrado eficaz,
mesmo que não seja eficiente, pois somos capazes de aprender de forma
contínua e de lembrar de um número elevado de informações, que aumenta
a cada dia na época em que vivemos.
O fato de aprendermos e lembrarmos por meio das interações em
rede torna-se responsável por um elevado número de problemas cognitivos.
Quando não prestamos atenção e não controlamos a navegação por essas

21
redes, elas podem nos levar a falhas em escolhas e determinar ações e com-
portamentos não adequados.
Se, por um lado, a memória de que nos auxilia na busca pela cons-
ciência é chamada de memória explícita, existem, por outro lado, muitas ou-
tras formas de aprendizagem que levam a uma memória que não é explícita.
Os condicionamentos, são um exemplo. A verdade é que o nosso cérebro
processa continuamente uma série de informações que ocorrem no cotidiano
sem a intervenção da consciência.
O processamento autônomo (inconsciente) é a regra e não a exceção
no processamento cognitivo porque parece ser mais econômico do ponto de
vista dos recursos de computação. A “consciência” é um elemento que sur-
giu posteriormente, e como ela envolve gastos energéticos, seu uso é um
luxo reservado para situações especiais.
O processamento autônomo influencia nossos pensamentos e ações
conscientes, mas não nos damos conta de sua importância exatamente por-
que não temos acesso a ele. Podemos ter um vislumbre de como ele ocorre
em nosso cérebro por meio das chamadas ilusões de óptica, que nos mostram
como a nossa consciência pode ser enganada mesmo quando somos infor-
mados do que está ocorrendo.
O processamento consciente não consegue modificar o processa-
mento autônomo que determina a percepção. As ilusões visuais nos mostram
que o cérebro, a partir de informações recebidas e experiências vividas no
cotidiano, computa esses dados de forma autônoma em módulos nele estru-
turados ao longo da evolução, preenchendo lacunas e criando enganos que
irão resistir mesmo depois da intervenção de nossos processos mentais cons-
cientes, por isso, ele é chamado de “Bobão”.
Daí se constrói a realidade que percebemos, a qual não tem
correspondência direta com o chamado mundo sensorial(objetivo). Somos
suscetíveis a ilusões cognitivas, que nos mostram uma realidade diferente e
nos levam a crenças, escolhas e decisões autônomas e resistentes ao pensa-
mento racional devido percebermos apenas “o retrato do reflexo da reali-
dade”, - uma imagem, mais conhecida por estereótipo.
É interessante lembrar que o cérebro autônomo, desenvolveu-se ao
longo de milhares de anos, adaptando-se de modo a garantir a sobrevivência
dos indivíduos no ambiente específico em que ocorreu a sua evolução. Mas,
agora, vivemos em uma civilização que criou tecnologias, ambientes e situ-
ações diferentes daquele contexto original, o que leva com frequência ao
aparecimento de situações em que ele pode não funcionar a contento.

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A maior parte das pessoas do mundo ocidental tem uma postura du-
alista em relação aos processamentos cognitivos: elas acreditam, que existe
uma mente separada do corpo. E que essa mente, seria responsável por nos-
sas intenções, crenças e o livre-arbítrio. Além disso, ela também seria capaz
de mobilizar tanto o cérebro quanto o corpo para controlar nosso comporta-
mento.
No entanto, a abordagem científica, aponta em outra direção, pois
os cientistas, costumam apenas a serem holistas: eles consideram a mente e
os processos mentais, como decorrentes do funcionamento do cérebro.
As evidências disso são muitas, pois mostram que os processos
mentais se alteram nas disfunções cerebrais, modificam-se por intervenções
farmacológicas e físicas no cérebro e, além disso, evoluem ao longo da vida
de acordo com o amadurecimento e a degeneração cerebral.
De modo geral, os processos mentais são associados a um “Eu”, que
parece unitário e consciente. Mas os estudos na área das ciências cognitivas
indicam que a maioria dos processos mentais são autônomos, e diferentes do
que poderíamos considerar a existência simultânea de duas mentes, e não
apenas uma.
As evidências indicam que existem dois tipos de cognição duas for-
mas de processar as informações que estão ligadas a funcionamentos neural
e distintos no interior do cérebro. A ideia de que o cérebro tem mais de uma
forma de funcionar cognitivamente não é nova, mas só agora as pesquisas
têm conseguido compreender a biologia e a estrutura cognitiva por trás desse
funcionamento contrariando o que foi imposto há mais de dois anos no
mundo ocidental.
O primeiro tipo de cognição, que usamos na maior parte do tempo,
é menos sofisticado é dependente dos estímulos e questões ambientais, como
ocorre com o comportamento instintivo e o condicionamento. O segundo é
controlado por mecanismos neurais complexos, que mobilizam a atenção e
a consciência para examinar aspectos salientes do ambiente e do processa-
mento interno em momentos que são considerados importantes e que fogem
às rotinas habituais.
O funcionamento cognitivo autônomo, é preferido porque não en-
volve muitos recursos computacionais: é mais econômico e, portanto, está
de acordo com nossa limitação cognitiva. Frequentemente, os problemas que
surgem do seu uso decorrem de um processamento associativo, resultante da
maneira como a nossa memória funciona, armazenando e buscando as infor-
mações em uma rede semântica.

23
Como temos visto, o maior adversário da racionalidade não é a emo-
ção, mas o processamento autônomo, que não tem compromisso com a ra-
zão. Isso influencia a tomada de decisões, pois quando estamos felizes e re-
laxados ficamos predispostos a assumir o processamento autônomo, confi-
ando nas intuições e prestando menos atenção aos detalhes disponíveis.
Dois tipos de processamento cognitivo coexistem em nosso cotidi-
ano, e na maior parte do tempo, entretanto, o processamento autônomo, cos-
tuma levar vantagem. Mas existem ocasiões em que esses processamentos
entram em confronto, de maneira que um e outro pode sair vitorioso no final.
A esse conflito, o leigo costuma chamar de problema da força de
vontade, e os especialistas o denominam disciplina, capacidade de controle
que pode ser entendido como a capacidade de inibir e superar comportamen-
tos que são considerados fora da conveniência em determinadas circunstân-
cias, aqueles que trazem consequências não agradáveis em longo prazo.
Decorre daí, ser adequado falarmos em força de vontade, pois há
um conflito entre duas forças complementares: uma nos diz o que é razoável
fazer segundo nossos propósitos e valores conscientes, outra nos empurra
para o que nos dá satisfação imediata.
Frequentemente conseguimos resistir às tentações, mas muitas ve-
zes o controle é superado por outras forças: impulsos de um lado, disciplina
de outro, aquilo que as religiões denominam de “pecado”, o que equivale a
processamento autônomo versus processamento racional. Os impulsos se-
riam convenientes em um mundo em que existisse somente o presente e não
houvesse necessidade de considerar o futiro e o bem-estar de outras pessoas.
Acontece, que sua satisfação pode ter consequências não aceitáveis
ao longo do tempo, trazendo problemas de convivência social. Na maior
parte do tempo, ele é regulado pelas circunstâncias do aqui e do agora.
Circuitos nervosos especializados detectam a disponibilidade de
uma gratificação (alimento, água, um parceiro sexual) e providenciam as
ações necessárias para a sua obtenção. A evolução levou, à seleção de ani-
mais capazes de agir de maneira a satisfazer suas conveniências imediatas,
sem a preocupação com um futuro.
Isso gera um estresse generalizado, que pode levar a violência. Uma
tentação muito próxima tende a atropelar o processamento deliberativo do
córtex pré-frontal e facilitar a dominação do processamento autônomo, que
conduz à impulsividade.
Uma escolha e decisão tomadas podem ser superadas por outras em
pouco tempo, se estas se tornarem atraentes por serem imediatas. Pode-se

24
decidir por fumar um cigarro e beber de forma impulsiva, praticar violência
embora a opção consciente anterior tenha sido o contrário.
A regulação bem-sucedida depende do controle pelo córtex pré-
frontal, responsável pelo funcionamento da atenção executiva e da memória
operacional, sobre outras estruturas cerebrais envolvidas nos processos au-
tomáticos da gratificação.
Por sua vez, o processamento impulsivo tende a dominar em muitas
circunstâncias, como, por exemplo, condições de sobrecarga e esgotamento
dos recursos cognitivos, pressão temporal e presença de emoções negativas.
Pode haver falha na força de vontade quando esses fatores de risco
estão presentes e quando as pessoas são impulsivas, carentes de habilidades
reguladoras exigindo um sério tratamento educacional que seja capaz de su-
perar esse problema.
Tudo o que leva a resistir a um desejo, evitar uma distração e au-
mentar a concentração, contribui para a exaustão da força de vontade. Exis-
tem evidências de que lidar com o controle racional é mais difícil no fim do
dia do que na parte da manhã, quando podemos estar mais tranquilos.
Todas as atividades cerebrais exigem a presença de glicose, que é o
combustível das células neuronais. O funcionamento das estruturas cerebrais
depende desse açúcar a tal ponto que o consumo intensivo pode levar a ní-
veis não suficientes para o bom desempenho cognitivo.
O controle do estresse é suscetível à glicose presente no cérebro, e
as falhas no seu funcionamento podem ocorrer quando os níveis de glicose
circulante estão baixos, e quando ela não é metabolizada de forma adequada
como nas pessoas diabéticas. Parece ser essa a explicação para o apareci-
mento de um esgotamento cognitivo, uma fadiga de decisão, nas pessoas que
exercem o controle durante um tempo muito prolongado.
O cérebro, quando está com escassez de energia, reage optando pelo
funcionamento mais econômico, no caso o funcionamento autônomo. Nada
de usar o processamento mais caro, que exige maior consumo de glicose,
por isso é que a aposentadoria para muitos é tão almejada pelo cérebro “Bo-
bão”.
Outra circunstância que pode levar à supremacia do processamento
autônomo é o envolvimento em situações de estresse, como ansiedade, raiva,
depressão, dor e doenças crônicas. Em situações como essas, é importante
agir de forma rápida e espontânea, pois a demora nas respostas pode ser fatal.
Daí o cérebro estar programado para preferir o processamento autô-

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nomo em momentos de elevado estresse: onde as porções mais antigas do
órgão são ativadas enquanto o córtex pré-frontal é inibido.
Quando ficamos estressados, estamos mais suscetíveis à tentação.
O estresse aumenta o risco de recaída entre fumantes, viciados em sexo, al-
coólatras e pessoas que usam drogas (sem falar nos que fazem dieta).
A força de vontade é variável entre os indivíduos, e as crianças le-
vando algum tempo para elas desenvolverem a capacidade de controle. As
regiões pré-frontais do cérebro têm um amadurecimento lento, isso explica
porque é preciso alguns anos de treinamento educacional até que possamos
administrar essas habilidades de modo a criar determinados tipos de hábitos.
Os pesquisadores desse assunto concordam que a capacidade de dis-
ciplina tem um componente genético, mas é também influenciada por fatores
ambientais. A capacidade de reprimir os impulsos e saber postergar as gra-
tificações é básica para o bom convívio social e pode ser considerada como
um dos fundamentos do processo educacional.
Por isso, tal processo precisa privilegiar o desenvolvimento dessa
capacidade, utilizando estratégias que a monitorem e aprimorem de maneira
contínua. É importante levar em conta, quando tratamos da força de vontade,
ele é um comportamento racional que propicia aos indivíduos a melhor con-
secução dos seus objetivos.
Entretanto, nem todos os objetivos na vida são metas de longo
prazo. Além do mais, ter força de vontade exige um longo amadurecimento
e convencimento do processamento autônomo de que aquilo é melhor para
ele.
Ao longo da evolução, o cérebro adquiriu a capacidade de identifi-
car problemas recorrentes na vida dos animais, processando-os de forma au-
tomática. Nele desenvolveu-se módulos especializados em computar deter-
minadas informações que podem ser comparados aos softwares(aplicativos)
que usamos a toda hora.
Tomamos decisões e fazemos escolhas para atingir objetivos e obter
vantagens que nos interessam. A partir desse ponto de referência, ocorre um
tipo de a priori, onde as pessoas consideram as perdas e os ganhos de uma
forma diferente, e o fato é que existe uma enorme aversão à perda, que pa-
rece se encontrar entranhada nos circuitos cerebrais encarregados da tomada
de decisão.
Parece que, quando temos de nos separar de algum bem, isso é visto
como uma perda, o que leva à tendência de valorizá-lo, mesmo acima do que
estaríamos dispostos a pagar por um objeto semelhante. Existem evidências

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de que apenas o ato de escolher uma opção, afeta as preferências subsequen-
tes, pois as pessoas passam a valorizar mais o item escolhido e a diminuir a
avaliação do item rejeitado.
Uma característica do cérebro dos animais é que ele é capaz de pro-
cessar as informações organizando-as em categorias, em vez de classificar
cada estímulo individualmente. Essa capacidade é um processamento da in-
formação sendo importante no cotidiano para discriminar, o que é, não de-
sejáveis.
Por causa dessas vantagens, o processo evolutivo levou ao desen-
volvimento de dispositivos neurais que são capazes de fazer isso a todo o
momento, envolvendo diferentes estruturas cerebrais.
No processo de categorização, os estímulos pertencentes a uma ca-
tegoria são percebidos como mais semelhantes entre si e, em contrapartida,
são vistos com mais contraste em relação aos estímulos de uma categoria
diferente.
A categorização é importante no cotidiano e nos possibilita a nave-
gar com segurança e rapidez pelas diversas circunstâncias de nossa vida. Nas
interações sociais, ela nos permite trazer à tona de forma rápida dados que
irão discriminar e fazer julgamentos.
O uso das categorias pode transformar-se em problema quando sua
aplicação liga automaticamente características aos indivíduos que a elas são
associados, contribuindo para o aparecimento dos estereótipos criado pela
tecnologia.
A questão dos grupos sociais é importante porque os humanos são
animais sociais. Ao longo da evolução, o fato de pertencer a um grupo acar-
retou benefícios, como a possibilidade de cooperação e de aprendizagem so-
cial, que traziam consigo a diferença entre morrer jovem, sobreviver e se
reproduzir. Por isso, o cérebro humano desenvolveu circuitos e estruturas
para a interação em grupos, atendendo às condições de sua história evolu-
tiva.
Sabe-se, mesmo, que esses grupos devem ter um tamanho mínimo
em torno de 150 pessoas e mesmo na sociedade moderna, com facilidade de
comunicação, esse número para relações coletivas estáveis se aplica, inclu-
sive, às redes sociais informatizadas. Isso leva a escolhas e a comportamen-
tos que, embora compreensíveis, não são um modelo de racionalidade.
Com o uso da ressonância magnética funcional, pôde-se demonstrar
através de experiências, que o cérebro modifica a sua percepção, o indivídu-

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o, como em uma ilusão de óptica, passa a enxergar e a sentir a situação como
ela é vista pelo grupo.
Ao longo do processo evolutivo de nossa espécie, fazer o que a mai-
oria do grupo estivesse fazendo teve um valor adaptativo para a sobrevivên-
cia, de modo que isso deixou marcas no funcionamento de nosso cérebro.
Mas a influência grupal pode ter consequências graves, como surtos de lou-
cura coletiva no campo da política, futebol e fanatismo religioso.
Mesmo depois de tomar conhecimento das falhas existentes em
nosso funcionamento cognitivo, as pessoas tendem a acreditar que estão
imunes, que as doenças afetariam apenas às outras pessoas. Isto é, confiam
que o seu julgamento é menos suscetível aos desvios do que o julgamento
alheio.
Os humanos são propensos a se ver de uma forma positiva, e se
julgam acima da média, mesmo em face de evidência contrária. Além disso,
costumam prender-se a indícios de confirmação para as próprias convicções.
O realismo ingênuo é a convicção equivocada que temos de que
existe uma realidade objetiva no mundo e de que somos capazes de percebê-
la e de interagir com ela de forma direta. Não levamos em conta que o co-
nhecimento do mundo é permeado por nossos processos sensoriais e cogni-
tivos, que não são perfeitos. Acontece que a maior parte do nosso processa-
mento cognitivo é inconsciente, e a ele não temos acesso racional.
No mundo moderno, temos de pensar utilizando regras e conheci-
mentos que as gerações de nossos antepassados não conheciam. Atualmente,
decisões não adequadas podem decorrer da ignorância de preceitos e estra-
tégias do pensamento racional como, por exemplo, os raciocínios probabi-
lístico e lógico, evitando a limitação cognitiva.
Eventos não esperados acontecem a todo o momento e, são perce-
bidos como misteriosos, já que são pouco compreendidos. Costumamos a
explicá-los por meio de um pensamento que tenta atribuir a eles uma causa,
que não exista, e nos deixemos invadir por sentimentos supersticiosos. Isso
ocorre porque nossos processos mentais não são preparados para raciocinar
com clareza sobre o acaso e a aleatoriedade.
Aliás, a teoria da probabilidade é recente, pois só foi desenvolvida
nos séculos XVII e XVIII, como não temos essa eficiência natural, é preciso
instruir-se sobre a mesma para conseguirmos ter uma visão diferente do
nosso cotidiano. Sem uma aprendizagem adequada, não conseguiremos en-
xergar o mundo em termos de probabilidades a partir do próximo.
Frequentemente, o que parece aleatório para nós, não é de fato, e

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vice-versa. Temos uma compreensão autônoma da probabilidade, que é fa-
lha. Antes disso, a ignorância dos seus processos era total, porque, na anti-
guidade, as pessoas acreditavam na intervenção dos deuses nas atividades
humanas onde os fenômenos não esperados não precisavam ser compreen-
didos de outro modo, eram todos baseados em processos autônomos.
Como não dispomos de todas informações acerca de um aconteci-
mento, a teoria da probabilidade nos permite lidar com essa e outras situa-
ções de “incerteza”, ajudando-nos a compreender o que esperar de vários
acontecimentos que encontramos no mundo autônomo, com base no que
Werner Heisenberg denominou de “Princípio da Incerteza”.
O princípio da incerteza consiste em um enunciado da mecânica
quântica foi formulado apenas em 1927, estabelecendo existir um limite na
precisão dos procedimentos racionais. Muitos experimentos têm mostrado
que as pessoas costumam tratar eventos casuais como se pudessem controlá-
los, e como se eles dependessem de habilidades pessoais.
A falta de compreensão das leis da probabilidade também está por
trás da maneira como lidamos com as coincidências, Carl Jung (1875-1961)
– psicólogo suíço acreditava em fenômenos desse tipo, para os quais cunhou
o termo “sincronicidade”.
É importante detectar mudanças no ambiente e buscar o motivo para
o ocorrido. Mesmo que uma variação seja aleatória, é bom que a detectemos
e procuremos responder a elas, pois isso pode trazer vantagens para a sobre-
vivência.
A regressão à média descrita por Francis Galton (1822-1911), o pri-
meiro a aplicar estatística ao estudo de diferenças encontradas entre as pes-
soas, mostra um desvio decorrente de nossa dificuldade em raciocinar em
termos probabilísticos quanto a chance de ocorrência de um evento na pre-
sença de outros eventos.
Esse problema foi solucionado por Thomas Bayes (1701--1761)
usando a estatística bayesiana ao fornecer as regras pelas quais as pessoas
devem mudar suas crenças a partir do aparecimento de novas evidências.
Precisamos fazer isso a todo o momento, pois nossa intuição é falha, onde a
lógica proposta pela razão, não é comum ao funcionamento de nosso cére-
bro.
Na área do diagnóstico clinico, os enganos são comuns. A questão
dos falsos positivos é importante nos exames diagnósticos, mas com fre-
quência não são levados em conta. Também é importante conhecer a preva-
lência da doença na população específica. Se ela for comum, aumenta a

29
chance de que um exame positivo seja significativo, mas se for rara, é pro-
vável que ele não aponte para uma probabilidade de sua ocorrência.
Os erros de raciocínio acontecem por vários motivos. Muitas vezes
o foco está na hipótese em outras, o erro está em não prestar atenção na
probabilidade a priori. Em situações de incerteza, na vida pessoal e profis-
sional, muitas vezes tomamos decisões equivocadas porque nosso cérebro
tem dificuldade em lidar com a probabilidade e o acaso. Em muitas dessas
ocasiões, baseamo-nos na disponibilidade, chegando a conclusões que não
correspondem ao que de fato acontece.
Os organismos humanos, ao longo de seu desenvolvimento, adqui-
rem a capacidade de raciocinar, utilizando um esforço consciente para tirar
conclusões a partir das informações disponíveis que não poderiam advir da
razão e da lógica estabelecida pelos gregos como fazem os orientais.
A maior parte da computação que ocorre no cérebro se realiza sem
despertar a consciência, mas que interfere em nossas decisões comportamen-
tais. O processamento consciente parece estar ligado à ativação dos circuitos
de longa distância, capazes de coletar as informações de vários processado-
res, compará-las e realizar uma síntese, que pode, por sua vez, ser difundida
pelo corpo de forma global.
Experimentos têm mostrado que, quando nos tornamos conscientes
de uma informação, subitamente aparece um padrão de atividade elétrica de
larga escala no cérebro: uma ignição geral. É uma avalanche que faz muitas
áreas cerebrais dispararem de forma sincronizada, sinalizando a atividade
consciente.
Não só as pessoas, mas também robôs e softwares podem ter essa
capacidade de interagir com o ambiente de maneira que parece intencional.
Em relação aos organismos vivos, nós atribuímos as intenções à presença de
uma “mente”, que, para nós, seria detentora da vontade. As ações humanas,
em particular, nos levam a pensar que foram originadas por uma “mente”
que funciona como um agente causal.
O fato é que as ações voluntárias e aquelas consideradas imediatas,
têm origem no cérebro em atividades que antecedem muito a experiência
consciente. O livre-arbítrio, nesse caso, é apenas a interpretação que surge
em nosso módulo de leitura mental. Não temos acesso às reais causas do
nosso comportamento e ficamos com uma explicação mais simples: fizemos
porque queríamos fazer, no final, tudo nos conduz aos processamentos au-
tônomos.
As normas culturais, a linguagem, os valores, são aos poucos incor-

30
porados na própria dinâmica do funcionamento cerebral, delimitando a ma-
neira como a pessoa percebe o mundo e se comporta naquele ambiente.
Em suma, a evolução nos fornece o instrumental básico para a so-
brevivência e, posteriormente, a interação social e o ambiente cultural, por
meio da aprendizagem ao longo de nossas experiências individuais, nos for-
necendo diretrizes e conhecimento para sobreviver em um determinado am-
biente, moldando e refazendo as conexões em nosso cérebro de maneira con-
tínua. Isso torna cada um de nós indivíduos únicos, com comportamentos,
escolhas e decisões que refletem essa história pessoal.
Nosso cérebro não é um dispositivo perfeito, e boa parte de nossa
cognição e de nossas escolhas provém de processos inconscientes a que não
temos acesso. Esse conhecimento tem, muitas implicações.
Sabendo que o funcionamento cognitivo padrão é autônomo, pode-
ríamos perguntar se vale a pena investir na racionalidade. E a resposta é, sem
dúvida, afirmativa, pois erros de decisão são onerosos: conflitos não neces-
sários, casamentos desastrosos, aposentadorias pífias, empregos não satisfa-
tórios, guerras sem justificativa.
Como nossas escolhas e decisões são autônomas, desencadeadas
pelo processamento inconsciente, é adequado pensar em estratégias que po-
deriam influenciar esses processamentos automáticos. Algumas interven-
ções podem ser simples, como a prevenção.
Pode-se influenciar alguém para o bem e para o mal, e, muitas ve-
zes, deixar de agir é também uma forma de influenciar. Portanto, um esforço
para melhorar a vida das pessoas, desde que não se tire a liberdade de esco-
lha, seria desejável.

31
32
2
Educação
na Família de
Honório José de Abreu

Em termos educacionais, a vida se resume em fazer, sentir, entender, expli-


car com coesão e coerência de modo a se obter sentido e significado nossas ações.
Todos/as os/as brasileiros/as que possuem discernimento, pautam suas vidas princi-
palmente em torno de Educação e Saúde, como mostram os investimentos governa-
mentais nessas duas áreas.
As pessoas esclarecidas adotam quando bem informadas nesses âmbitos, se
basear nas palavras apoptose, câncer, aposentadoria e ócio. A primeira diz respeito
ao modo de vida corporal de cada uma, a segunda identifica os exageros e excessos
assimilados no dia a dia, a terceira garante o exercício pleno da quarta e essa última
sendo o fundamento para as anteriores sustenta e dá sentido ao nosso viver.
O termo “escola” deriva do entendimento grego de “ócio” (scole), signifi-
cando que só aqueles que dispunham de tempo livre (de ócio) teriam a possibilidade
de dedicar-se às atividades intelectuais e à aprendizagem da expressão cultural pro-
curando o conhecimento. Isso explica em parte o motivo da Educação não ser levada
a sério em países como o Brasil, lugar de um povo aculturado que inverte tudo, dei-
xando sempre a Educação para o final, para momentos quando mais nada se tem a
realizar, fazendo da vida um domínio emergencial.
É corrente o fato das pessoas afirmarem que Educação é um atributo que se
expressa desde o berço. Aos poucos descobrimos que tal assertiva não se sustenta na
sociedade, visto que do berço vem apenas os pilares e os fundamentos para sua im-
plantação.
Plutarco, um pensador grego comentava no século I que a “Educação é uma
característica tão universal que leva anos para atingir sua maturidade, visto ser o “ter-
reno” a natureza humana, a “semente” as doutrinas e os fundamentos estabelecidos
socialmente, enquanto o “lavrador” é o educador”.
Entretanto, o que é Educação? Como se avalia a Educação? Quando saber
se uma pessoa tem Educação?
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Entende-se por Educação o uso do conhecimento no exercício do fazer, do
explicar, do representar e do compreender utilizando-se de uma única abordagem
para se realizar qualquer atividade a partir do mundo quiral.
A Educação é uma meta a ser atingida podendo ser avaliada quando a pes-
soa conhece e experimenta o caminho da Unidade do Conhecimento, quando supera
a condição de ser religioso, filósofo e cientista, é um estágio de vida na qual nos
tornamos real.
Para tanto será explicado como os humanos ao descobrirem tal Unidade
podem vivenciar esse propósito por meio de entendimento e compreensão.
Tornou-se corriqueiro na sociedade ocidental que meninos e meninas, bem
cedo em suas vidas, devido a pressa em que seus pais vivem sejam colocados em
creches e depois em colégios, os quais assumem uma formação intelectual de caráter
tipicamente cognitivo, aquilo que as pessoas denominam de conhecimento “racio-
nal”.
Entretanto, a formação não pode ser deixada só para as instituições de en-
sino, por melhores que sejam. Isso cabe primeiramente aos pais e à família. A escola
e outras instituições devem entrar em cena apenas em um segundo momento, visando
dar continuidade ao aprendizado iniciado no lar. Educar não significa apenas instruir,
repassar conhecimentos e aguçar o intelecto das pessoas.
Educar é exercer influência sobre o outro, é estimular a melhoria do caráter
incutindo valores éticos, ensinando a respeitar o próximo e os espaços, realizando
cidadania no intuito de que todos preservem principalmente a Natureza da qual de-
pendam nossas vidas resgatando o caminho perdido desde da origem da vida.
É necessário que as pessoas ao se tornarem cidadãos/as instruídos/as, pre-
cisem de uma boa formação escolar. A escola representa apenas um lugar de eman-
cipação de respeito ao grupo familiar, onde se pode estar e falar com outros além
dos/as genitores/as e pais.
Sendo um campo onde se estabelece laços que possibilitam receber recursos
utilizados: com outros semelhantes, na escolha de profissão, transformam nossos
comportamentos e procuram fornecer condições para nos orientar em um mundo por
demais estressante.
Dito isso, fica claro que a escola propicia a socialização da pessoa, mas, é
a família e sua função a principal responsável pela Educação e desenvolvimento dos
filhos e filhas.
Quando a família valoriza os estudos acerca do conhecimento - a aprendi-
zagem - o interesse dos pais no que seus rebentos produziram e aprenderam, faz com
que eles sintam-se orgulhosos em relação ao que planejaram e fizeram. O gosto pela
leitura, a procura pelo saber, em descobrir são homólogas às outras curiosidades, não

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estão separadas da curiosidade geral.
É fundamental que as pessoas tenham não apenas formação acadêmica,
como está a ocorrer com os descendentes da Família Abreu de Maranguape mas, ter
conhecimento e desejo de compreender o que fazem, pois sem eles não se constrói a
Educação.
Na sociedade, o que mais encontramos são famílias que não querem falar
acerca do assunto, calam-se em não desejar conhecer sua trajetória educacional na
sociedade, deslocando-se para o não-saber na vida como linha mestra de qualquer
atitude social.
Em assim observando, procuro mostrar neste capítulo uma panorâmica do
desenrolar da Educação ocidental imposta e vinculada à escola e à família como cri-
tério de discussão e comparação com o ocorrido nos ramos e galhos que constituíram
a família de Honório José de Abreu durante esses anos de vida no Brasil.
O interesse em iniciar o texto descrevendo o campo educacional para fins
de conhecimento consiste em indicar o quanto nossos ancestrais familiares ficaram
isolados por mais de trezentos anos da escolaridade formal e acadêmica, nos trans-
formando em pessoas ignorantes quanto ao saber que se necessita para tornar-se uma
pessoa educada e agir como um/uma autêntico/a cidadão/a.
A prosa como interpretação da ação humana transforma-se no tempo en-
quanto a pedagogia como teoria da educação transmite e modifica a herança cultural.
No entanto ao adentrarmos nesse assunto, percebe-se a necessidade do conhecimento
a respeito do que seja a pessoa, em termos de caráter e personalidade, um entendi-
mento que tem variado ao longo do tempo devido às diversas circunstâncias de aná-
lise e pontos de vista impostos por cada núcleo sociocultural.
O que distingue os “humanos” de outros organismos vivos não é o trabalho,
como afirmava o filósofo Karl Marx, mais, o uso da simbolização, pois somente os
humanos simbolizam. O trabalho não supõe o uso da linguagem que expressando o
pensamento torna-o capaz de representar a Realidade e antecipar ações ainda não
ocorridas.
O trabalho pode até transformar nossa maneira de pensar e agir, permitindo
produzir cultura e sociedade modificando as distintas situações a serem vividas, mas
no final é a Educação acerca do conhecimento que orienta e unifica as pessoas dando
sentido ao viver.
Sendo o/a cidadão/a resultado do agir social na formação da cultura é pos-
sível pensar a natureza humana caso tenha sentido, com suas características univer-
sais formando uma unidade, um modelo de pessoa resultante do conjunto de suas
relações e atitudes sociais.
Isto conduz os humanos a se distinguirem de outros animais não pela gene-

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tica, e tampouco pela racionalidade, mas, pela quiralidade e o ato de simbolizar
quando criam relações com os demais semelhantes, elaborando esquemas comporta-
mentais, instituições e saberes que a sociedade valoriza.
O aperfeiçoamento dessas atividades só é possível pela transmissão de co-
nhecimentos adquiridos através de gerações e da assimilação de comportamentos es-
pecializados em determinada sociedade na formação da cultura.
É a Educação quem mantém viva a memória de um povo e dá condições
para sua sobrevivência, transmitindo através das instituições estabelecidas um saber
diferenciado capaz de produzir cidadania e manutenção da cultura.
O registro das atitudes humanas visa reconstituir os acontecimentos através
de fatos e dados considerados relevantes a partir de uma ordem estabelecida. No en-
tanto, essa postura não tem sido a mesma ao longo do tempo variando conforme cada
sociedade experiencia a vida.
A prosa sendo uma descrição organizada das formas simbólicas, só pode
ser compreendida a partir da análise das condições pelas quais os humanos se relaci-
onam a fim de produzir a partir do trabalho, situações que garantam sua permanência
no planeta.
Por tal motivo é importante compreender a Educação mantendo sempre a
relação com o contexto global, observando a sincronia e sintonia existente com os
diversos aspectos locais.
Apenas no século XIX, foi que os prosadores começaram a se interessar por
uma história organizada e exclusiva da Educação, o que existia antes não são mais
do que relatos de esquemas da pedagogia e das doutrinas educacionais do que, pro-
priamente de práticas pedagógicas efetivas.
Essa situação é por demais constrangedora, principalmente quando se refere
ao Brasil, considerado um país colonizado e aculturado.
Na origem da sociedade, os povos primitivos viviam em tribos e clãs onde
as relações sociais eram igualitárias, mas, o surgimento das técnicas, o aparecimento
dos ofícios especializados e a complexidade das relações provocaram a criação das
classes sociais e a necessidade de surgimento do Estado.
Admite-se que essas transformações ocorreram primeiramente no norte da
África, na Ásia, Oriente Próximo, Médio e Extremo e tardiamente na Europa.
A partir do quarto milênio a.C., surgiu no Egito às margens do rio Nilo uma
civilização que durou cerca de 3.000 anos. Outros povos também se organizaram
junto aos grandes rios como na Mesopotâmia (Eufrates), na Índia (Ganges), e na
China (Amarelo). O aspecto despótico e místico dessas organizações sociais e polí-
ticas as tornaram tradicionalistas apegadas ao passado e resistentes às mudanças.
O Estado se tornou centralizado e forte, predominando a importância dos

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seus dirigentes. Traços comuns dessas civilizações voltadas para Educação deram
origem: à criação das formas simbólicas, ao uso da escrita em forma iconográfica e
à invenção do alfabeto todos eles baseados no quiralismo da Natureza.
Inicialmente o saber era acessível a qualquer membro da comunidade nas
civilizações orientais, embora as terras sendo do Estado e não havendo propriedade
particular, eram criados privilégios para funcionários, sacerdotes e militares, en-
quanto o restante da população composta por lavradores, comerciantes e artesãos não
tinham direitos políticos e nem acesso ao saber daqueles.
A Educação além de prática e de cunho místico era restrita a poucos não
tendo um caráter de preocupação teórica e de demonstração. Assim, ela incluía todo
tipo de saber onde o conhecimento uno, como um caminho único se encontrava vin-
culado à astrologia, à mística e ao oralismo contidos em textos clássicos como na
Índia, China e no Crescente Fértil.
Nas civilizações orientais não existiam propostas de cunho pedagógico,
mas, apenas preocupações com a Educação ao oferecer regras e ideais de conduta e
orientação para o enquadramento das pessoas em esquemas éticos e morais que obe-
deciam às rígidas divisões sociais, tratando-se de sociedades que pretendiam perpe-
tuar costumes cujas normas não deviam ser transgredidas.
Estas civilizações pregavam que a existência era fruto de manifestações de
uma só Realidade, contendo o necessário para prática da vida humana através do
“caminho reto”.
Sociedades antigas se desenvolveram em África e na Ásia e após a onda do
conhecimento ter se deslocado para Europa, outros pontos culturais floresceram em
torno de duas grandes civilizações: a grega e a romana.
A Grécia não formava uma unidade política, era composta por diversas co-
munidades autônomas constituindo-se em cidade-estado em torno de vários povos,
períodos e colonização.
Os tempos homéricos que descrevem tais feitos, vão desde o século XII ao
VIII a.C., tratando-se de um período de transição em um mundo rural onde as con-
quistas guerreiras em enriquecimento e desenvolvimento do regime escravagista são
os esboços do povo grego.
Por volta do século VI a.C., surge no mundo grego a primeira crise social
entre aristocracia e os setores populares com a implantação de leis escritas e as refor-
mas do pensador Clistenes preparando o surgimento de uma nova ordem social.
Tal período marca o advento de uma nova forma de pensar e representar a
Realidade em substituição à visão mística e oralista. Predominava uma concepção
oral da Realidade na Grécia.
Os mitos não eram considerados nem verdade e tampouco mentira, não há

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via tal divisão, eram descrições de experiências recolhidas pela tradição oral que ori-
entavam o vivenciar das pessoas, transmitidos pelos aedos e rapsodos, cantores am-
bulantes que recitavam em praça pública os problemas sociais.
Dentre estes se destacava Homero autor da Ilíada e Odisseia. Hesíodo foi
outro prosador que iniciou a busca pela individualidade baseando-se na crença dos
mitos.
Com o advento da Filosofia criando o simbolismo racional e o início do
pensar científico isolando a mística e a mitologia, eles se voltaram para o estudo da
representação da Natureza.
O ideal democrático estabelecido por Péricles, estratego de Atenas faz sur-
gir uma democracia escravagista, onde só eram considerados/as cidadãos/ãs as pes-
soas livres. Nesta época, Atenas já possuía meio milhão de habitantes dos quais tre-
zentos mil eram escravos/as e cinquenta mil eram estrangeiros/as.
A partir do século II a.C., a Grécia entra em decadência, pois nunca chegou
a se constituir uma unidade política onde as cidades-estados se rivalizavam em poder
e influência, ameaçadas que foram por outras civilizações como a macedônica.
O surgimento da ciência não é uma mudança de paradigma realizada por
um povo privilegiado, mas a culminância de um processo representativo que se fez
através de milênios iniciada no Extremo Oriente com os chineses e trazida para o
Ocidente no qual concorreram diversas transformações e distorções.
A escrita gera uma nova identidade representativa mental fixando a palavra
e consequentemente surgindo como instrumento de organização da estória “circular”
que agora se transforma em história “linear” possibilitando uma nova maneira de
abordar o pensamento acerca da Realidade.
Surge através do Crescente Fértil o advento da lei escrita na Grécia com
Dracon, Sólon e Clistenes marcando uma nova era social onde a justiça antes depen-
dente da arbitrariedade dos reis, tornava-se agora, sujeita à discussão e à modificação
encarnando uma dimensão puramente humana, com a organização mística e oral
sendo abolida em favor de um ideal racional considerando todos socialmente iguais,
visando preparar um projeto de democracia onde o Povo seria Senhor.
Tem início na época, a consciência das novidades tecnológicas que trans-
formam a visão que a pessoa tem de si: a escrita, a moeda, a lei e a polis culminando
com o surgimento dos cientistas.
A invenção do ferro e a cunhagem da moeda são elementos que passaram a
desempenhar um papel revolucionário na troca de mercadorias, por ser um artifício
racional, uma convenção usada como elemento de permuta ao apresentar um valor
social.
O que há de novo para o social é que a praça pública se torna agora o local

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onde os problemas são debatidos, se estabelecendo pela autonomia da palavra e não
mais pela oralidade dos mitos concedida pelos deuses, passando a ser um instrumento
comum a todos.
A expressão da individualidade por meio do debate engendra a política, li-
bertando a pessoa dos desígnios mitológicos para ela própria tecer seu “caminho”.
A instauração dessa nova ordem de natureza humana dá origem ao/a cida-
dão/a da polis, figura que não existia anteriormente no mundo dos oralistas. Consi-
dera-se daí, para frente o entendimento da virtude distinta do belo/a e bom/a, pois se
antes a virtude era aristocrática, agora passava a ser política voltada para o ideal de-
mocrático de igualdade.
Os gregos atingiram um grau de consciência social que não ocorrera antes
em lugar algum do Ocidente quando se libertaram de um tipo de expressão simbólica
milenar, os mitos e passaram a se basear em novas formas simbólicas mais restritas
denominadas daí em diante de “racional”, forçando a natureza da pessoa a se enqua-
drar em torno do símbolo “razão”, um tipo de mito particular que reconhecia a pessoa
como um “ser humano” racional e não divinal.
Uma nova compreensão de cultura e de lugar de pessoa passou a repercutir
na sociedade, na Educação e nas teorias educacionais. Tinha sido criada a “duali-
dade” como forma de superar a “polaridade” quiral, e com ela a filosofia, a ciência e
a religião que antes não existiam como forma de representar a Realidade.
Por volta do século V a.C., foi quando substitui-se a palavra aretê por “pai-
deia” uma nova forma social de encarar a Educação.
Diversos tipos de Educação existiram no mundo grego: primeiro surge a
educação homérica dos tempos heroicos visando à formação cortês do nobre com o
predomínio da aretê (virtudes).
Depois surge a educação espartana, voltada para formação militar sendo
entremeada com a esportiva e a musical, onde após os primeiros sete anos em que a
criança permanecia com a família, o Estado passava a oferecer uma educação pública
obrigatória.
Após o surgimento da educação ateniense, onde Atenas se transforma em
centro irradiador da cultura ocidental formas simples de escola e pedagogia deixam
de ser restrita à família e passam a adquirir aspectos coletivos.
Nela a criança permanece em casa até os sete anos, se for menina continu-
ando sob os cuidados maternos, confinada ao “gineceu”, local da casa onde as mu-
lheres se dedicavam aos afazeres domésticos. Se for menino desliga-se aos poucos
da autoridade paterna e inicia a educação física, musical e a alfabetização.
Acompanhada por um escravo (pedagogo) a criança é conduzida as práticas
de exercícios físicos pelo instrutor (pedótriba) aprendendo a fortalecer o corpo.

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Começa nessa época a prática de uma educação integral se delineando em
três níveis: elementar (0 a 7 anos), secundário (partir dos 13 anos) e superior, que
aparece com os sofistas preocupando-se tanto com a profissionalização e especiali-
zação quanto com a formação e cidadania dos/as estudantes.
No fim do século IV a.C., com o início da decadência das cidades-estados
gregas até a perda de sua autonomia, surge a educação helenística fundindo-se com
outras de várias civilizações. A paideia torna-se enciclopédia (educação geral), exi-
gida na formação da pessoa culta depois surge a retórica atendendo basicamente ao
ensino secundário.
O conteúdo das disciplinas ensinadas passa a ser caracterizado pelas sete
artes liberais (trivium-quadrivium), um novo modelo de interpretação do mundo for-
mado por: três disciplinas humanísticas (gramática, retórica e dialética) e quatro ci-
entíficas (aritmética, música, geometria e astronomia), acrescentando-se a introdução
da filosofia e posteriormente da teologia na era cristã.
Podemos considerar a Grécia o berço da pedagogia ocidental, são os gregos
que esboçam as primeiras linhas da ação pedagógica que influenciarão por séculos a
cultura do Ocidente.
Enquanto no mundo Oriental o saber é considerado de origem quiral e di-
vinal, onde a Educação não se separa da mística, no Ocidente a partir dos gregos as
explicações orais e míticas são substituídas por novos argumentos simbólicos disfar-
çados com a introdução da religião sob o apoio diferenciado da “razão”, ocupando-
se não mais com a origem da existência, com sua gênese, mas, apenas com seu prin-
cípio, sua representação.
Deixa-se de pensar na origem e passa-se a pensar no princípio criando-se
assim questões consideradas lógicas e a priori agora sob a cargo do Direito.
Convivendo com tais mudanças sociais a “medida” antes considerada a re-
gra de vida de todo agir social grego, passa ser vista agora como “religião” uma ide-
ologia, ligando dois mundos inventados e doravante denominados de “espiritual/sub-
jetivo” e “material/objetivo”.
Um argumento milenarmente imposto às pessoas como forma de “conci-
liar” a unidade quiral doravante perdida, criando-se mentalmente a partir daí dois
universos distintos e causadores da miséria humana ocidental.
Surge então a necessidade de se elaborar o ideal de formação para a pessoa
a qual após, educada seria chamada de cidadão/a. A ênfase do tempo “circular” ori-
ental denominado “destino” é a partir dos gregos colocada para os ocidentais em
termos de tempo histórico “linear”, considerando a pessoa não estando mais presa a
um determinismo traçado, sendo ela capaz de elaborar um projeto para o futuro, pro-
curando daí em diante a busca por uma “utopia”, por seu próprio caminho.

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As questões: sob o que é melhor ensinar? Como é melhor ensinar? E para
quem ensinar, irão marcar as novas tendências a serem discutidas durante os próxi-
mos 2.500 anos, no mundo ocidental com divergências, pluralidades e atitudes que
passaram a exigir: ajustes, crítica, coerência e fundamentação em face das represen-
tações proporcionadas.
Com os gregos se vê germinar as primeiras visões educacionais com a pre-
sença de um fecundo debate pluralista.
Entretanto, sua influência para posteridade foi no sentido de ter marcado o
surgimento da concepção essencialista da pedagogia, a partir das compreensões de
Platão e Aristóteles que se basearam no entendimento de que existe uma “natureza”
humana não mais quiral e cuja característica fundamental é a racionalidade.
Para eles a Educação passava a ser o instrumento que permitia desenvolver
na pessoa tudo que implica sua participação cognitiva(racional) com a Realidade se
desenvolvendo em dois mundos “idéia e substância”.
Com os romanos logo surge um novo tipo de Educação. Sendo o povo latino
formado por diversas tribos de língua, costumes e nível de conhecimento diferentes,
chamado itálico sua maior ocupação era com a agricultura, não havendo de início a
propriedade privada.
No período da Realeza romana existiam apenas os patrícios, aparecendo
com eles a propriedade privada, a divisão de classe e os/as escravos/as em número
ainda reduzido.
Na República surge o Senado, os plebeus bem como uma intensa luta para
obtenção de iguais direitos políticos e civis caracterizando uma nova aristocracia que
passava a ocupar altos cargos públicos.
Na educação romana se distingue três fases: a latina original de natureza
patriarcal; o helenismo entremeado pelos defensores da tradição; por fim a fusão da
cultura romana com a helenística, notando-se aí, a supremacia da tradição dos valores
gregos. A fusão dessas culturas permitiu o surgimento de um elemento novo o bilin-
guismo, pelo qual as crianças aprendem desde cedo a falar latim e o grego.
A educação dos patrícios (proprietários e guerreiros) passa a ser de cunho
aristocrático visando manter e perpetuar os valores da nobreza de sangue e o culto
aos ancestrais familiares.
Nela até os sete anos as crianças permanecem sob os cuidados da mãe que
assume a educação das filhas enquanto os pais se encarregam pessoalmente dos fi-
lhos, acontecimentos verificados vários séculos depois na família de Honório José
de Abreu e seus descendentes.
O filho acompanha o pai em todos os acontecimentos desenvolvendo a
consciência histórica e o patriotismo, ressaltando uma educação por imitação e uma

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personalidade predominantemente moral e menos intelectual.
Na época da República desenvolve-se o comércio, surge a camada dos ple-
beus e se inicia uma nova sociedade que passa exigir um novo tipo de Educação.
Além das escolas secundárias surgem também as escolas dos gramáticos onde os
jovens entram em contato com os clássicos gregos.
Com o aperfeiçoamento da Retórica surge a necessidade de ampliar o con-
teúdo e de uma nova forma de discurso, o aparecimento do nível terciário na Educa-
ção agora comandada pelos retores preparando os jovens da elite romana para exer-
cer a vida pública.
Também surge a crescente intervenção do Estado nos assuntos educacionais
visando garantir o funcionamento da extensa máquina burocrática encarregada de
acompanhar e dar suporte ao expansionismo imperial.
Assim, a continuidade dos estudos é exigida como forma de se atingir po-
sições e cargos elevados na justiça e na administração pública.
No século VI havia o estímulo às escolas municipais; onde é concedido o
direito de cidadania aos mestres de artes liberais; os professores são isentos de im-
postos; os cursos de retórica são pagos; é concedido alimento aos estudantes pobres;
o pagamento dos professores é feito com pontualidade; a nomeação do professor
passa a ser atribuição do Estado; surge a educação terciária com a introdução da fi-
losofia; são criadas as cátedras de medicina, matemática, mecânica e escolas de di-
reito; com formação organizada de cinco anos cujos centros de estudo eram Roma e
Constantinopla.
Entretanto, a pedagogia romana continua a manter o mesmo esquema dos
gregos não valorizando o trabalho manual, enquanto a atividade intelectual é restrita
apenas à aristocracia destinada a poucos cidadãos livres.
Resultando daí que o modelo de pessoa a ser objeto de reflexão para Edu-
cação se implanta de vez como “racional”, considerando a pessoa capaz de pensar
corretamente e se expressar de forma convincente diante dos problemas que surgiam
na sociedade.
Assim como a produção filosófica é pequena entre os romanos também a
pedagogia não merece atenção e quando existe encontra-se voltada somente para as
questões práticas ligadas a política.
Dentre os principais representantes da pedagogia romana encontramos Cí-
cero que ampliou o vocabulário latino a partir do mundo grego; Catão que defende a
tradição romana; Varrão criando o ensino através da gramática; Sêneca estabele-
cendo uma visão prática da Educação; Plutarco preocupado com a formação do ca-
ráter das pessoas e Quintiliano com uma formação enciclopédica enfatizando as ca-
racterísticas morais humanas.

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A Idade Média quando surge muitos anos depois, abarca um período longo
e difícil de caracterizar, sendo estampada por um estado de não agregação da antiga
ordem romana devido invasões e à lenta passagem do escravismo modo de produção
greco-romana para o feudalismo, um modo de produção da época que buscava um
novo tipo de Educação.
Com a falta de segurança advinda das invasões bárbara e muçulmana as
cidades foram se isolando e um processo de ruralização passou a ocorrer na formação
de um novo tipo de comunidade.
A sociedade resultante desse novo modo de produção, ao longo dos séculos,
foi se tornando essencialmente aristocrática se estabelecendo sob laços de suserania
e vassalagem entremeando as relações entre os senhores proprietários como únicos
dominadores daqueles que não tinham posse de terra.
No esquema feudal a condição humana passava agora a ser determinada
pela relação com a terra: os que são proprietários (nobreza e o clero), os que têm
poder e liberdade e os sem-terra obrigados a prestar serviço em troca de pão e abrigo.
Nesse contexto de fragmentação a religião se instala como elemento agre-
gador e consolador, a qual vai aos poucos estabelecendo aliança com o Estado dei-
xando a Igreja de ser religiosa e defensora da pobreza para tornar-se efetivamente
aristocrática, rica e política.
A herança cultural greco-latina fica preservada apenas nos mosteiros com
os monges sendo os únicos letrados em um mundo onde nem nobre e nem servos
sabiam ler, passando a Igreja a dominar e controlar a Educação, fundamentando todo
agir humano através da coerção, gerenciando os princípios morais, políticos e jurídi-
cos da sociedade em função da fé.
Apenas no século IX após um milênio de obscurantismo sem escolas for-
mais onde a Educação era apenas de cunho religiosos cada uma a seu modo, surge o
renascimento carolíngio com o rei Carlos Magno, fundando escolas e reformulando
o ensino doméstico. A partir do século XI a burguesia comercial em ascensão pro-
voca o reaparecimento das cidades, onde a fermentação social culmina com a criação
das Universidades e a expansão do islamismo difundindo a cultura árabe, contribu-
indo para o enriquecimento do patrimônio educacional da Europa.
Durante o período medieval a Educação conheceu o monaquismo religioso
com os mosteiros assumindo o monopólio da ciência, surge a escola Palatina como
um movimento de reestruturação das escolas monacais, as escolas catedrais e as es-
colas paroquiais onde todas eram baseadas nas sete artes liberais: o trivium e o qua-
drivium.
A principal consequência desses movimentos foi o aparecimento da reur-
banização das cidades e o brotar de uma nova classe social, a “burguesia”.

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Essas mudanças provocaram alterações em todos os níveis, sociais onde
antes só existia o poder do nobre, doravante passaram a existir três polos de atividade
pedagógica: o castelo, o mosteiro e a cidade com seus agentes: o nobre, o clérigo e o
burguês.
As escolas prefiguraram uma revolução no pensar e no ensino, voltada para
atender o surgimento da nova classe social, com as pessoas libertas ocupando diver-
sos ofícios na sociedade vigente.
Por volta do século XII começaram a surgir nas Universidades visando
atender uma sociedade cada vez mais complexa, a necessidade de organizar o traba-
lho e estabelecer regras, proibições e privilégios para obtenção de títulos surgem: o
bacharel, o licenciado e o doutor.
Na medida em que cresce a importância das Universidades, os reis e a Igreja
disputam e passam a exigir seu controle. A lógica aristotélica de cunho racional passa
a determinar as regras do pensar e a Escolástica atinge no século XIII seu apogeu.
A escola universitária torna-se foco de toda e qualquer fermentação intelec-
tual, passando a conquistar a hegemonia da Igreja em termos de cultura, ao vivenciar
a “espiritualidade” do mundo ocidental, acrescentando todos os tipos de heresias
existentes e em moda na sociedade e na Educação.
As mulheres na Idade Média foram as pessoas que mais sofreram durante
mais de mil anos de dominação por parte dos donos do poder, elas não tinham acesso
a nenhum tipo de educação formal. Quando casadas, ao lado do marido só conheciam
o que ele permitia conhecer.
Cria-se a necessidade dos estudiosos começarem a adaptar o pensamento
grego ao novo modelo de pessoa burguesa surgente estabelecendo uma nova com-
preensão de vida, onde o ponto de partida passaria a ser a verdade revelada por Deus
através da Igreja com abandono de vez da quiralidade já distorcida.
Na luta contra os pagãos e no trabalho de conversão, tornava-se necessário
demonstrar que a fé não contrariava a razão, muito embora a fé fosse admitida como
mais importante que a razão, isto conduziu a uma nova organização para o conheci-
mento através do surgimento da Patrística séculos (II a V) e da Escolástica entre os
séculos (IX a XIV).
A Escolástica por ser ensinada nas escolas utilizava-se das artes liberais
oficializando o professor com nome de magister. Entretanto, o gosto pela racionali-
dade tendo passado a dominar o conhecimento invadiu as escolas tornando-se o prin-
cipal fermento intelectual do Ocidente.
Durante o período medieval não se encontram pedagogos no sentido estrito
da palavra, aqueles envolvidos com o assunto estão voltados mais para interpretação
dos textos sagrados enquanto a Educação não é mais que um meio para se atingir a

44
“verdade” conforme foi sendo assimilada em sua origem.
Predomina uma visão teocêntrica tendo em Deus antropomorfizado o fun-
damento de tudo que existe, surgindo um novo modelo de pessoa baseado agora nos
ideais ascéticos distanciando as mesmas do mundano e tentando aproximá-las do sa-
grado, denominado de teocentrismo.
Além do mais o exagero na aceitação do princípio da autoridade como cri-
tério de avaliação da verdade, leva a ausência da crítica considerada pelos estudiosos
da época como o maior empecilho para o desenvolvimento da ciência ao repercutir
em todas as atividades educativas.
Com o surgimento da Renascença, um período compreendido entre os sé-
culos (XV a XVI) e marcado por acontecimentos como: invenções, descobertas, re-
volução comercial, formação de monarquias nacionais, Reforma e Contrarreforma
cria-se um humanismo ocupado com um novo modelo de pessoa e esquema de cul-
tura que passaria a dominar o mundo europeu e a distanciá-lo de outras sociedades.
O olhar europeu aos poucos, desvia-se do céu para a terra passando a ocu-
par-se com as questões do cotidiano, tendo sua curiosidade aguçada para observação
de si, da Natureza e do Universo como tentativa de resgatar a unidade perdida.
Há uma tendência a secularização das escolas preparando melhor as pes-
soas. Começa a existir uma separação entre os mundos infantil, adultos e da família.
O regime de estudo continua ainda sendo extenso e rigoroso, enquanto os programas
baseados nos clássicos trivium e quadrivium não abandonaram o uso da língua ver-
nácula e do latim.
Já os estudos nas Universidades prosseguiam em completa decadência sur-
gindo daí as Academias. Inicia-se na época, diligências no sentido de serem criadas
escolas que se adaptassem ao espírito do humanismo. Vittorino Veltre é o primeiro a
se envolver em elaborar uma escola nesse sentido com especial atenção para o ensino
do latim e do grego.
A Idade Média se caracterizava pela unidade da fé, centrada no poder papal,
ameaçada pela Reforma buscando desejos de mudanças para que todos pudessem ler
e interpretar a Bíblia.
Lutero na Alemanha trabalha intensamente nesse sentido procurando im-
plantar a escola primária para todos ao solicitar das autoridades oficiais que assumam
a Educação como competência do Estado.
Diante da crença de protestar e manter seu domínio a Igreja lança a Con-
trarreforma visando recuperar o espaço perdido ao implantar novas diretrizes através
do Concilio de Trento em 1545 reafirmando os princípios da fé, criando a Inquisição
e os seminários religiosos.
Inácio de Loyola funda a Companhia de Jesus uma ordem criada em 1534,

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pelo papa Paulo III desligada da hierarquia da Igreja cujos adeptos eram padres se-
culares que não pertenciam aos conventos, mas que viviam misturados aos fiéis do
“mundo no século”.
A ordem dos jesuítas obedecia a uma rígida disciplina e seu propósito ini-
cial era a propagação missionária da fé, a luta contra os “não fiéis” e os heréticos que
não se submetiam mais à vontade da Igreja Católica.
Devido à falta de tolerância dos adultos o objetivo dos jesuítas se volta para
a conquista das almas das crianças e dos jovens através da multiplicação de escolas,
uma influência pedagógica que durou mais de 200 anos no Ocidente.
No século XVI havia cerca de 144 colégios jesuíticos espalhados pelo
mundo, por volta do século XVIII esse número já atingia a cifra alarmante de 669
colégios.
Para conseguir tal propósito, os jesuítas se preocupavam com uma forma-
ção eminentemente humanista tentando conciliar as obras clássicas gregas e romanas,
com o caráter religioso ao retomar o uso do pensamento aristotélico-tomista nas es-
colas.
A eficiência da ação pedagógica dos jesuítas se deve à ocupação contínua
no preparo do professor e na uniformização rigorosa junto as Universidades.
Essas experiências jesuíticas avaliadas, codificadas e reformadas de acordo
com as conveniências constituíram o famoso documento “Ratio Studiorum”, publi-
cado em 1599 pelo padre Aquaviva.
Tratava-se de regras acerca da ação pedagógica, a organização administra-
tiva bem como de assuntos dirigidos a toda hierarquia, visando manter o monopólio
educacional religioso nas regiões colonizadas.
Os jesuítas se tornaram famosos pelo empenho de institucionalizar a Escola
como local de excelência da formação religiosa, intelectual e moral, onde proteção e
vigilância eram os traços marcantes dos internos.
Entretanto, uma das características combatidas do ensino jesuítico pelos fi-
lósofos era a separação entre escola, a vida e a sociedade em agitação.
Os exercícios eram fixados mediante repetição, a fim de serem memoriza-
dos, a emulação era o estímulo utilizado como competição entre pessoas e classes,
premiando os melhores estudantes.
Os cursos eram divididos em: letras humanas (3 anos) e constituídos por
três classes (gramática, humanidade e retórica) baseado exclusivamente em literatura
clássica greco-latina; filosofia e noções de ciências (3 anos) e constituídos por lógica,
ciências, cosmologia, psicologia, física, metafísica e filosofia moral, cuja finalidade
era a formação de filósofos; teologia e ciências sagradas (4 anos) era o coroamento
dos estudos que visava a formação do futuro padre.

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No século XVIII após mais de duzentos anos de ação jesuítica o ensino
religioso é considerado decadente não se tornando eficiente e eficaz para a vida prá-
tica, foi então que os jesuítas passaram a ser considerados, com o surgimento do Ilu-
minismo, dogmáticos, autoritários e por demais comprometidos com a Inquisição.
A produção intelectual da época passa a demonstrar preocupação com a
superação das contradições entre o pensamento religioso e a secularização típico da
nova classe em ascensão, a burguesia.
Nesse contexto a Educação procura suas bases naturais não mais na religião
a fim de se tornar o instrumento adequado para difusão dos valores burgueses, pois
não existia ainda um esquema coerente e de pensamento organizado acerca da esco-
larização. O que há são fragmentos de reflexão pedagógica dentro de um contexto
em formação.
Assim, o momento é considerado um período de contradição onde a classe
burguesa enriquecida assume padrões aristocráticos e aspira por uma Educação que
forme a pessoa de negócios capaz de conhecer principalmente as letras greco-latinas
e ao mesmo tempo dedicar-se ao luxo e aos prazeres da vida.
A história da Educação no Brasil vivenciada por nossos ancestrais é um
reflexo de tudo quanto foi relatado até o momento, não pode ser considerada separada
da história europeia, já que a colonização deve ser compreendida como a necessidade
de expansão comercial da burguesia enriquecida com a Revolução Comercial em um
país milenarmente habitado por nativos com uma cultura própria e diferente daquela
dos dominadores.
A partir de 1530 têm início a dominação e colonização brasileira utilizando-
se de um esquema de capitanias hereditárias através da monocultura da cana-de-açú-
car.
A economia colonial passa a se desenvolver em torno do engenho de açúcar
e dos grandes proprietários de terra que recorre ao trabalho escravo de índios e negros
africanos, com todo saber educacional oriundo do mundo europeu sendo imposto aos
seus dominados e descendentes.
Foi difícil a empreitada dos religiosos de instalar um esquema de educação
greco-romano em terra estranha formado de um lado por pessoas, línguas e costumes
quirais que não eram conhecidos e por outro de colonos portugueses, rudes e aven-
tureiros que vieram sem mulheres e famílias em busca de riqueza e prazeres.
Não conseguindo agir sobre os índios e pobres os padres jesuítas que vieram
com os colonizadores, se voltam para seus filhos e iniciam a destruição de toda cul-
tura nativa criando dois tipos de educação a do catequizado e a do instruído dono de
engenho e de terras.
Enquanto a educação para os filhos dos nativos se resume em cristianizar e

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pacificar tornando-os dóceis para o trabalho, com os filhos dos colonos os jesuítas
montam uma estrutura educacional completamente diferente, formada por três cur-
sos: letras humanas, filosofia e ciência e teologia e ciências sagradas. No geral, as
mulheres, os escravos negros e pobres sem trabalho foram excluídos do ensino for-
mal.
Os jesuítas exerceram monopólio do ensino no Brasil apoiados oficialmente
pela Coroa com doações financeiras e terras. No momento de sua expulsão tinham
25 residências, 36 missões e 17 colégios sem contar os seminários menores.
Para enfrentar o poder do senhor da Casa-Grande, os jesuítas conquistaram
a mulher, o filho e depois o escravo através da religiosidade da família e pela educa-
ção do menino, a menina fora logo excluída.
Era tradição das famílias dos proprietários de terras destinarem os filhos
para diferentes carreiras: o primogênito herda o patrimônio do pai e continua seu
trabalho; o segundo destinado às letras era enviado para o colégio, muitas vezes con-
cluindo o curso na Europa para ser advogado quando não médico; enquanto o terceiro
era encaminhado para ser padre.
A principal marca da influência jesuítica na formação da cultura brasileira
está na tradição religiosa do ensino, que perdurou em alguns locais do país até o
século XX. O catolicismo daí apregoado foi o cimento da nossa unidade social neu-
tralizando os efeitos das culturas heterogêneas e de nossa capacidade de oralizar,
criticar e tecnologizar.
A influência da educação jesuítica foi marcante na formação da burguesia
e das classes dirigentes através de uma estrutura de ensino predominantemente clás-
sica com a valorização de uma literatura chula mesclada de filosofia importada e de
uma Retórica sem considerar o estudo das ciências e a atividade manual executada
pelos/as escravos/as e pobres ligados ao artesanato.
A formação da elite colonial brasileira intelectual e universalista esteve
marcada pelo distanciamento das principais conquistas científicas da Idade Moderna,
bem como do trato dos assuntos e dos problemas imediatos da sociedade ocidental e
de qualquer caminho orientativo capaz de produzir cultura que pudesse ser solidifi-
cada com o tempo.
O isolamento vivenciado pelos colonos que não residiam em espaços urba-
nizados como sítios, fazendas e pequenos lugarejos mantinha suas visões distorcidas
de mundo na Idade Média criando e educando seus descendentes conforme os pa-
drões daquela época.
Assim também fizeram nossos ancestrais que viviam em regiões pobres,
atrasadas e sem escolas principalmente no Nordeste brasileiro com seus Estados vi-
vendo em abandono contínuo.

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No século XVII mesmo com as contradições decorrentes do processo de
decomposição da ordem feudal e da intensificação do comércio, a Europa é inundada
pelas riquezas trazidas das Américas.
Crescem as manufaturas provocando alteração na concepção de trabalho, já
que os artesãos de produção doméstica começaram a perder seus instrumentos de
trabalho passando a se reunir em galpões, recebendo pagamento mediante o estabe-
lecimento de um compromisso entre as partes envolvidas, denominado doravante de
“salário”. Desenvolve-se o mercantilismo que admite o controle da economia pelo
Estado, politicamente os absolutistas defendem o poder supremo dos reis.
Entretanto, começam a surgir as sementes do liberalismo contra o excessivo
controle estatal da economia e na reivindicação do/a cidadão/a poder questionar a
legitimidade do poder real, mudanças estas que começavam abalar os habitantes das
colônias.
As pessoas passam a se opor ao critério da fé e da revelação colocando na
dianteira o poder exclusivo da razão de discernir, distinguir e comparar. Ao dogma-
tismo opõe-se a possibilidade da dúvida.
Busca-se a laicização do saber e a luta contra os não-tolerantes, predomi-
nando uma abordagem de ciência puramente contemplativa não ligada a técnica, pró-
prio da cultura ocidental que não valoriza o trabalho manual assumido como tarefa
plena o serviço escravo.
Com a implantação do burguês na sociedade o prestígio do tipo de pessoa
que surge, decorre de sua capacidade de trabalho, da valorização da técnica derivando
o esforço que ela empreende na busca de um novo método científico (procedimento
racional na investigação da verdade) criado pelo matemático Descartes.
Inaugura-se um novo método científico resultante do encontro da experi-
mentação com a Matemática, provocando uma ruptura, uma revolução cientifica na
linguagem e no saber estabelecido.
O momento passa a ser compreendido como a expressão da nova ordem
burguesa, onde a ciência deixa de ser um saber contemplativo para se tornar aliada a
técnica de modo a poder servir a nova classe emergente.
O pensamento na Idade Moderna é continuamente perpassado por questões
epistemológicas referentes ao problema do conhecimento o qual se orienta por duas
tendências antagônicas conhecidas como racionalismo e empirismo.
Quanto ao método para ensinar de forma rápida e segura Amós Comênio se
destaca com a Didática Magna, tornando a aprendizagem eficaz mediante organiza-
ção. Seu ponto de partida era seguir do simples para a unidade do conhecimento vi-
sando ensinar a todos.
O século XVII passa a ser o ponto central do racionalismo científico, de

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onde derivam as preocupações com o método e o realismo em educação através da
valorização da experiência voltada para os problemas da época.
O que se deseja é uma universalidade do saber que começa a se esboçar
através de um contínuo dualismo que se caracterizará por todos séculos seguintes. O
ensino no Brasil nessa época não apresenta novidades em relação ao século do des-
cobrimento.
São grandes as transformações que abalam a Europa no século XVIII, a
burguesia enriquecida com a carga pesada de impostos tendo ascendido pela aliança
com a realeza absolutista, já se ressente da política mercantilista cada vez mais blo-
queadora da sua iniciativa.
Em 1750 a introdução da máquina a vapor pelos ingleses inicia a Revolução
Industrial alterando definitivamente o panorama socioeconômico com a mecanização
da indústria, fazendo com que a burguesia sentindo-se espoliada pela nobreza, rei-
vindique para si o poder político.
O momento torna-se o período das revoluções burguesas, com a Revolução
Francesa de 1789, propondo a destruição dos privilégios hereditários que a nobreza
possuía exigindo igualdade de direitos e oportunidades para todos.
As pessoas passam a desejar uma natureza não mais sacralizada, livre da
religião, onde tanto possa conhecê-la quanto dominá-la. Neste século ainda continua
viva a influência dos jesuítas no Brasil mesmo tendo sido expulsos de vários países,
até que em 1773, o Papa Clemente XIV suprime a Companhia de Jesus.
No contexto histórico do Iluminismo não tinha mais sentido atrelar à Edu-
cação a religião como faziam as escolas confessionais, nem aos interesses de uma
classe como queria a aristocracia.
A escola deveria ser leiga e livre de modo a considerar: o ensino como en-
cargo do Estado; ser obrigatório e gratuito o ensino básico; nacionalizar o ensino em
vez de universalizar como desejavam os jesuítas; enfatizar as línguas vernáculas em
detrimento do latim; estabelecer uma orientação teórica e prática voltada para o es-
tudo das ciências, técnicas e profissões e não mais um estudo humanístico.
Apesar dos ideais de liberdade é crítica a situação da Educação na Europa
e mais ainda no Brasil por conta da expulsão dos jesuítas com o desmantelamento de
toda uma estrutura educacional por parte do Marquês de Pombal ao criar um retro-
cesso no desenvolvimento da cultura nacional.
Sendo o Iluminismo um período rico em reflexões pedagógicas, um dos
aspectos educacionais marcantes foi o desenvolvimento de uma pedagogia política
na luta para tornar a escola leiga como função do Estado. Foi este o empenho dos
pensadores Condorcet e Lepelletier.
No entanto, a pedagogia do Iluminismo encontrava-se envolta por três ten-

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dências fundamentais: os enciclopedistas, através de Rousseau valorizando a criança
e de Kant com criticismo ao desenvolver uma crítica a razão pura como tentativa de
superação das correntes epistemológicas do racionalismo e empirismo.
O século XVIII tem assim, o anseio contrário a uma visão de mundo feudal,
aristocrática e religiosa que animará as reflexões pedagógicas daí em diante, atacando
o ideal de pessoa bem educada, cortês e gentil.
Nessa época ocorrem no Brasil a queda na produção açucareira devido à
concorrência estrangeira e o surgimento das minas de ouro no sul de Minas Gerais
relocando a centralização político administrativa e o controle do comércio bem como
a proibição de qualquer tipo de atividade manufatureira no país.
Com o advento da mineração surge uma nova organização social, ocorrendo
a urbanização das cidades e a formação de uma pequena burguesia que começou a
exigir uma nova educação e emancipação política.
Várias medidas não conexas e fragmentadas são efetivadas durante esse pe-
ríodo obscuro para educação brasileira, dentre elas a partir de 1772 a implantação do
ensino público oficial com a coroa se encarregando de organizar a Educação através
da nomeação de professores e o estabelecimento da grade curricular de ensino.
Porém são várias as dificuldades encontradas. Com a saída dos jesuítas, os
colégios ficam dispersos e não há mais a formação de mestres e tampouco uniformi-
dade de ensino, visto agora tudo ser centralizado na Corte tornando administração
morosa e não eficiente.
No Nordeste e regiões pertinentes, somente se ouviu o eco de tais atitudes
pois, vivia-se isolado e permaneceu-se isolado como sempre.
A Revolução Industrial iniciada no século XVIII alterou a fisionomia do
mundo do trabalho enquanto o século XIX mostrou todo o impacto dessas alterações.
A partir de 1870 o aumento vertiginoso da produção altera o trabalho baseado na
livre concorrência para o esquema de monopólios bancários.
A fim de encontrar mercado para os excedentes das indústrias, é iniciada a
fase do imperialismo colonialista da Europa retalhando os demais continentes. O
contraste entre riqueza e pobreza se consolida nesse século com jornadas de trabalho
que chega a dezesseis horas diárias, sendo usada inclusive mão de obra infantil e
feminina.
A burguesia se implanta de vez se opondo ao regime aristocrático e feudal
que antes dominava todos os países da Europa.
Diante do domínio da burguesia, o proletariado passa a surgir como a nova
classe revolucionária opondo-se aos dominadores com suas reivindicações através de
movimentos sindicais inspirados por novas ideologias contra o liberalismo vigente.

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Aparece, o socialismo utópico de Proudhon, o anarquismo de Bakunin e
socialismo de Marx e Engels como possíveis soluções para crise social vigente.
O século XIX passa a ser então, a época das unificações e das independên-
cias, ocorrendo na Alemanha, Itália, EUA e no Brasil. No âmbito cultural desenvol-
vem-se as visões de filósofos idealistas em Hegel, positivistas de Comte, evolucio-
nistas de Spencer, socialistas de Saint-Simon, materialistas de Marx e as humanistas
de Durkheim, todas procurando solucionar a revolução ocorrida no trato com o co-
nhecimento, a ciência e a tecnologia capaz de permitir vivenciar a cidadania em so-
ciedade.
A urbanização acelerada decorrente do desenvolvimento industrial cria a
partir de então, uma forte expectativa com relação à Educação, pois a complexidade
do trabalho passava a exigir qualificação através de métodos científicos para mão de
obra surgente.
Ao lado da ampliação da escola básica elementar, surge a reorganização da
escola secundária que permaneceu clássica e propedêutica destinada à elite burguesa
e técnica para formação do trabalhador diferenciado e do comércio.
O ensino universitário é ampliado, aparecendo as escolas politécnicas, sur-
gem as escolas de primeira infância, a Educação começa a se preocupar com a for-
mação cívica devido às tendências nacionalistas da época, ocorre a formação das
escolas normais visando à preparação para o magistério e as primeiras formas de
libertação da mulher causadas pelo escravismo religioso se inicia.
Ao lado da expansão da rede escolar, surge a formação da necessidade de
novas metodologias com distintos contornos científicos devido ao aparecimento das
ciências humanas. As novas tendências passam a trazer mudanças na Educação.
Na Alemanha a escola elementar é reformulada a partir de Pestalozzi dando
um caráter humanista e erudito à Educação. A França passa a se ocupar com a edu-
cação pública e gratuita obrigatória para todos. A Inglaterra passa a usar o método
do ensino mútuo, enquanto nos Estados Unidos desde 1830 a escola já se encontrava
organizada.
Enfatiza-se a relação entre Educação e bem estar social surgindo o interesse
de formar nacionalmente o/a cidadão/ã. Com a vinda da Corte portuguesa para o
Brasil ocorrem transformações de todos os tipos: econômicas, sociais e culturais, be-
neficiando a aristocracia e criando um clima de “independência” que não trouxe ne-
nhuma alteração na estrutura social construída pelos proprietários de terra, pessoas
livres não proprietárias e por um enorme contingente de escravos/as e miseráveis.
Na segunda metade do século XIX, ultrapassada a crise econômica advinda
com a queda da produção de açúcar e do algodão, o cultivo de café se expande tra-
zendo novo influxo ao comércio.

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Embora o processo de industrialização não tenha êxito adequado, a urbani-
zação ampliou a sociedade com o aumento de uma pequena classe burguesa urbana
formada principalmente por emigrantes livres europeus que a partir de 1870 passava
praticamente a substituir a mão de obra escrava.
Terminada a guerra do Paraguai e proclamada a República o Brasil conti-
nuava sendo um país cujo esquema econômico permaneceria agrário, exportador e
dependente.
As inovações que foram surgindo reforçavam o caráter elitista e aristocrá-
tico da educação brasileira, a qual tem acesso apenas os filhos dos nobres, os propri-
etários de terras e uma camada intermediária que surgiu da ampliação dos quadros
administrativos e burocráticos resultantes da urbanização.
Foi este o caminho tumultuado e sem nexo que a história preparou para os
familiares e descendentes de Honório José de Abreu, do século XVIII ao século
XX, os quais sequer tomaram consciência do que ocorria a sua volta. A decorrência
disso foi a educação brasileira passar todo o século XIX sem organização, anárquica,
não agregada onde apenas aqueles que tinham posse tiravam algum proveito do es-
tudo.
Não havia ligação entre o ensino primário e o secundário eram dois mundos
em rumo e direção opostos, vivendo o país com dois tipos de Educação: a elite a
cargo da coroa e a do povo confiada precariamente às províncias.
A situação se agravaria quando em 1837 com a fundação do Colégio Pedro
II na Corte, e sob a jurisdição da coroa o mesmo ficava autorizado a realizar exames
parcelados para conferir grau de bacharel para o acesso aos cursos superiores, fa-
zendo com que o ensino secundário ficasse cada vez mais preliminar.
No período de 1860 a 1890 por iniciativa particular são fundados importan-
tes colégios, sobretudo católicos e protestantes que passam a mostrar uma tendência
diferente daquela que se implantava no resto do mundo em que a Educação se laici-
zava cada vez mais, ao contrário do que pregava a ideologia católica. O ensino ele-
mentar se torna caótico, assim como o ensino técnico é bastante precário.
O descaso com a educação popular e profissional era dominado pelas men-
tes literárias, retórica e escravocratas que não tinham qualquer interesse quanto a
orientação de um ensino geral no sentido de melhorar as condições sociais e tornar o
ensino prático e utilitário. Havia um profundo “gap” entre o ensino na Corte, nas
cidades e aquele realizado nas localidades rurais.
Ao se adentrar no século XX, o choque entre as potências imperialistas de-
correntes da colonização, em face da necessidade de expansão comercial, culminou
com o conflito armado da Primeira Guerra Mundial.
Após o término da guerra, transformações por todos os Continentes passa-

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ram a ocorrer criando novos regimes políticos e ideologias de esquerda e direita que
resultou na quebra da Bolsa de Nova York em 1929 criando retração de mercado e
falta de emprego em massa.
Surge um novo conflito armado mundial e um tipo de regime financeiro
organizador, com o mundo ocidental convivendo sob a égide das ideologias socialista
e capitalista criando e exacerbando a divisão social entre as pessoas.
A educação nacional passou a se ocupar com a formação do/a cidadão/ã
através da escola pública, leiga, gratuita e obrigatória. Devido à explosão demográ-
fica e a ampliação das indústrias causadas pelo pós-guerra, o problema da escolari-
zação assumiu níveis nunca antes visto no Brasil.
Começam a surgir no país todo tipo de organização e concepções no sentido
de ampliar e arrumar os três níveis da rede escolar: elementar, secundário e superior.
Aparecem no cenário diversos tipos de abordagens educacionais “estra-
nhas” com o ideário de democratizar a sociedade através da chamada escola nova
baseada nas visões estrangeiras de Feltre, Dewey, Montessori, Decroly e Frenet.
Um amontoado de ideias pedagógicas importadas, procurando a todo custo
solucionar um problema estrutural que se estabeleceu na educação brasileira e que
ainda hoje perdura através de movimentos de protestos contra uma sociedade espo-
liada que chora e geme a dor por continuar servil e subserviente aos interesses da-
queles que detêm o poder econômico.
Começam a ser inventadas as máquinas de ensinar, visando ganhar notori-
edade, em 1950 graças as pesquisas do psicólogo americano B. F. Skinner surge a
corrente behaviorista, a qual logo foi combatida por aqueles que buscavam uma visão
globalizante para aprendizagem.
Um interesse escolar começa a ser então orientado pela revolução tecnoló-
gica que surge no século XX, a cibernética um instrumental organizacional e de ges-
tão que procura auxiliar a educação na formação do/a cidadão/ã.
Ao analisarmos as condições de trabalho do mundo contemporâneo perce-
bemos que é nítida a separação entre as funções daqueles que se ocupam com o pro-
jeto de educação e os que se dedicam a execução do produto de aprendizagem usado
em nome da racionalidade e da organização gerando tecnocracia que acaba por con-
taminar a escola.
No Brasil a tendência tecnicista foi introduzida pela ditadura militar preju-
dicando as escolas públicas por sua excessiva burocratização do ensino ao separar
concepção e execução de trabalho.
A pedagogia instaurada no país durante o século XX sofreu influências de
todo tipo de abordagem dualista ao propor formas de contribuições oriundas dos:
positivistas, idealistas; pragmatistas; marxistas; fenomenologistas; estruturalistas;

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behavioristas; gestaltistas; naturalistas; construcionistas; progressistas; socialistas in-
dicando a necessidade de reuni-las todas como partes de uma unidade educacional
que necessita ser organizada para atender o cidadão comprometido consigo, com o
outro, a sociedade, a Natureza, o Universo enfim com a Unidade do Conhecimento.
A preocupação em reunir de forma adequada o conhecimento a ser trans-
mitido nas escolas de modo atender a sociedade se expressa atualmente na vida de
todo pesquisador interessado e com aqueles envolvidos com a educação visando ela-
borar o que melhor e mais adequado atenda à pessoa no vivenciar de sua unidade.
Muitos brasileiros não mais aceitando os desmandos históricos relaciona-
dos com a educação que os adeptos da Igreja Católica produziram desde sua fundação
começaram a se envolver principalmente com o protestantismo, outro tipo confuso
de ideologia religiosa, por considerar satisfazer melhor suas atuais aspirações vista
não mais encontrar respostas no domínio educacional herdado pelos jesuítas.
Isto vem criando modificações profundas na sociedade brasileira através do
surgimento de um novo estilo de trabalhador/a vindo das camadas do proletariado e
que atualmente encontra apoio até mesmo nas classes mais abastadas.
Se espelhando no apoio trazido pelas NTIC- Novas Tecnologias de Infor-
mação e Comunicação, eles/as passam a exigir um novo estilo educacional onde as
escolas particulares se voltam para atender uma grande fatia do mercado correspon-
dendo atualmente a 25% da população brasileira conforme dados revelados pelo
IBGE/2012.
Quais as consequências de tal movimento que a cada dia se intensifica e
envolve uma sociedade que já foi considerada a pátria do catolicismo? O que estas
novas abordagens farão com as pessoas envolvidas em religião, sobrevivência e tec-
nologias?
O século XXI é considerado o século da Biotecnologia quando finalmente
a ciência e tecnologia se uniram com o propósito de salvar uma população de sete
bilhões de habitantes de sua total extinção conforme já experimentado em períodos
anteriores.
Após a ciência ter decifrado o código genético e ter compreendido o funci-
onamento do cérebro, finalmente mostrou que a pessoa não é racional como fora
apregoado pelos filósofos durante mais de dois mil anos.
A nova revolução tecnológica realizada no século XXI através da Nanotec-
nologia assumiu o controle da vida, personalizando a saúde e a Educação de modo a
unificar todas as tendências pedagógicas descritas em termos de competências em
domínios do conhecimento presencial e não presencial afetando de modo substancial
a maneira como os humanos elaboram suas caminhadas na vida.
A busca por uma ética do conhecimento distinta da moral religiosa católica,

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produziu a formação de grupos sociais denominados “tribos”, que organizados mo-
dificam o rumo da sociedade de acordo com suas necessidades e anseios.
Os movimentos sociais conhecedores de tais resultados e agindo em torno
da sobrevivência engrenam procedimentos que reúnem religião, esquemas trabalhis-
tas, escolaridade, ciência e tecnologia, todos se dizendo agir com o propósito de edu-
car e salvar a humanidade.
Dentre esses grupos, os evangélicos ao assumirem a frente de tais movi-
mentos apresentam um crescimento assustador com adesão há muito não vista no
país. O crescimento da população evangélica é uma das mudanças religiosas mais
inusitadas em termos de visão de mundo ocorridas nos últimos anos no Brasil.
O amplo número de evangélicos no país é sinal de que as regras morais
necessárias ao surgimento do capitalismo são complementares às mudanças econô-
micas e à racionalidade na vida das pessoas.
A luta contra o clientelismo, ligado à Igreja Católica, faz parte da nova mo-
ral necessária à implantação de forma racional e menos emocional de gerir a vida
pública do país. Os evangélicos não vão apenas mudar a sociedade brasileira. Eles
mudarão com ela.
O Brasil de 2020 não será uma espécie de Estados Unidos onde a moral
conservadora é parte essencial da crença e do culto, mais estará sendo invadido por
evangélicos em todas as regiões e Instituições. Quantos evangélicos há no Brasil?
Durante a década de 1990, a velocidade de crescimento da Igreja Evangé-
lica foi 4 vezes maior que a da população brasileira. Atualmente, gira ao redor de 50
milhões de adeptos.
As localidades mais necessitadas de “evangelização” encontram-se no
Norte e no sertão nordestino, foco central dos pobres, analfabetos e daqueles que
nunca foram considerados/as cidadãos/ãs.
A igreja brasileira está crescendo em maturidade? De que forma tem trans-
formado o Brasil? A igreja tem afetado os índices sociais? O Brasil com mais de 50
milhões de evangélicos é um país melhor que antes? Não é coincidência que 18 entre
os 20 países menos corruptos do mundo detêm a origem Protestante. O Brasil conti-
nua sendo um dos países de maior falta de justiça e de igualdade social. O país mais
católico do mundo está ficando cada vez mais evangélico.
As consequências desse crescimento são muitas. Ao contrário do que ocorre
com os católicos brasileiros, cuja maior parte nasce dentro da religião e não a seguem
completamente, os evangélicos levam a prática da fé a sério.
Ao proliferarem em todas as camadas sociais, principalmente entre pobres
e miseráveis, os evangélicos estão produzindo mudanças detectáveis.
Numa troca simples de caráter, a igreja evangélica propõe que suas “ove-

56
lhas” se afastem do mal e sigam um código severo de conduta, oferecendo em troca
apoio e reconhecimento pelo sucesso na empreitada.
O mercado impulsionado pelos protestantes movimenta mais de 3 bilhões
de reais por ano e gera em média pelo menos 2 milhões de empregos.
Na área da mídia eletrônica, há um verdadeiro império evangélico país
afora. Existem mais de 300 emissoras de rádio evangélicas no Brasil, centenas de
sites e pastores dando plantão on-line, na Internet. Há também um grande investi-
mento por parte deles em Educação. A média de leitura dos evangélicos brasileiros
gira em torno de seis livros por ano – o dobro da média nacional.
A CNBB divulgou recentemente que 130 escolas católicas de ensino fun-
damental e médio fecharam as portas nos últimos cinco anos por falta de alunos in-
teressados em sua ideologia.
Enquanto os católicos falam em crise de vocações, os evangélicos falam de
devoção. Há sete vezes mais pastores protestantes atuando no Brasil do que padres,
e na maioria das instituições recentes esses ministros são formados em apenas alguns
meses.
Os evangélicos no Brasil têm uma participação ativa no processo de esco-
larização desde as primeiras imigrações de famílias com uma tradição religiosa acon-
tecida a partir do início do século XIX. Criaram escolas, não oficiais onde as crianças
eram alfabetizadas e ensinadas através da leitura da Bíblia, em sua língua original,
para manter seus costumes e tradições.
Neste período, os imigrantes não tinham permissão para frequentarem as
escolas do Império. A alfabetização de seus filhos/as era de fundamental importância,
pois eles deveriam aprender a ler a Bíblia para manter sua fé, tudo feito através da
tradição religiosa.
Fundaram escolas com interesses voltados a propagação religiosa de suas
denominações e dos interesses econômicos dos liberais que financiavam as missões,
um trabalho reconhecido pela sociedade brasileira devido a formação que elas ofere-
cem aos seus participantes e pelo alcance que tem com seus familiares.
Por suas características conversoras ao atuarem em comunidades rurais in-
terioranas que não apresentam Educação, antes monopolizadas por grupos elitistas
católicos, os evangélicos estão se tornando maioria.
Eles já se encontram inseridos em diversos núcleos das famílias dos des-
cendentes de Honório José de Abreu, procurando de qualquer maneira torná-los
cidadãos e cidadãs.

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58
3
Sementes
da
Família Abreu no Brasil

Na cultura ocidental, a família foi inicialmente entendida como um grupo


de pessoas de mesmo sangue, unidos legalmente (como no casamento e na adoção),
atualmente isso praticamnete não mais ocorre.
A família se constitui de uma instituição normalizada por uma série de
regulamentos de afiliação e aliança, aceitos pelos membros de um grupo social.
Alguns destes regulamentos envolvem: a exogamia, a endogamia, o incesto, a
monogamia, a poligamia, e a poliandria.
O termo “família” é derivado do latim “famulus”, que significa “escravo
doméstico”. Este termo foi criado na Roma Antiga para designar um grupo
comunitário que surgiu entre as tribos latinas, ao serem introduzidas à agricultura e
a escravidão legalizada. É também designado por um conjunto de pessoas que
possuem algum grau de parentesco entre si e vivem na mesma casa constituindo um
lar.
Uma Família é normalmente formada pelo pai e mãe, unidos por
matrimônio e união de fato, e por filho/a, compondo uma grupo nuclear. No direito
romano o termo "família natural" cresce de importância –passando a mesma ser
baseada no casamento e no vínculo de sangue.
A família social é o agrupamento constituído apenas dos cônjuges e de seus
filhos/as. Ela tem por base o casamento e as relações jurídicas dele resultante, entre
os cônjuges, pais e filhos/as.
A Família representa um grupo social que influencia e também é
influenciado por outras pessoas e instituições. É um núcleo de pessoas, ligadas por
descendência a partir de um sentido estabelecido onde o termo se confunde com clã.
Dentro de uma família existe sempre algum grau de parentesco. Membros
de uma família costumam compartilhar do mesmo sobrenome, herdado dos
ascendentes diretos.
A família é unida por múltiplos laços capazes de manter os membros
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moralmente, materialmente e reciprocamente durante uma vida e as gerações
seguintes, desde a ligação sanguinea até atingir o envolvimento do saber.
A família, como unidade social estabelecida, enfrenta uma série de tarefas
de desenvolvimento e ações, diferindo em nível de fundamentos culturais, mesmo
possuindo as raízes universais idênticas.
A família normalmente assume uma estrutura característica. Deste modo, a
estrutura familiar compõe-se de um conjunto de pessoas com condições e posições,
socialmente reconhecidas, e com uma interação regular e recorrente aprovada.
A família pode então, assumir uma estrutura nuclear e conjugal, que
consiste em duas pessoas adultas (uma mulher e um homem) e nos/as seus/uas
filhos/as, biológicos e adotados, habitando num ambiente familiar comum. A
estrutura nuclear tem a capacidade de adaptação, reformulando a sua constituição,
quando necessário.
Atualmente vivemos uma fase de transição onde ainda predomina a
estrutura familiar patriarcal em que um vasto leque de pessoas se encontra sob a
autoridade do mesmo chefe, como nos tempos medievais (Idade Média), onde elas
estavam apenas ligadas por vínculos matrimoniais, formando diversas sub-famílias.
Dessas novas sub-famílias fazia parte a descendência gerada que, tinha por
base duas famílias, a paterna e a materna.
Com a Revolução Francesa surgiram os casamentos laicos no Ocidente e,
com a Revolução Industrial, tornaram-se frequentes os movimentos migratórios para
cidades maiores, construídas em redor dos complexos industriais.
Estas mudanças demográficas originaram o estreitamento dos laços
familiares e a formação das pequenas famílias, num cenário similar ao que existe
hoje em dia. A família não foi sempre do modo como a conhecemos hoje.
A família antiga tinha por missão a conservação dos bens, a prática comum
de um ofício e a ajuda mútua cotidiana de seus descendentes, justificando o número
elevado de rebentos. Ela praticamente carecia de função afetiva.
A transmissão dos valores e dos conhecimentos, e de modo geral, a socia-
lização dos/as filhos/as, não eram asseguradas nem controladas pela família. Durante
a Idade Média esse esquema de relacionamento entre pais e filhos/as teve sua forma
transformada e melhor elaborada na Inglaterra.
Ao longo dos tempos, a família sofreu alterações, verificando-se uma
grande diferença entre as famílias pré e pós-industrial.
Nos séculos XVI e XVII, a família transformou-se na medida em que mo-
dificou suas relações com a criança. A mudança revolucionária foi a introdução da
escola como meio de aprendizagem e de Educação dos/as filhos/as de qualquer fa-
mília, retirando-as da antiga sociabilidade. A denominada família contemporânea

60
nasceu de profundas mudanças na “dilatada” lacuna entre família clássica e a
moderna.
Antes a Família era matrimonializada e patriarcal, com predomínio do
homem, como chefe da família. Colocada e imposta se apresentava a supremacia do
macho na relação conjugal.
Na antiga Família, os laços de sangue eram os mais importantes e o
interesse econômico prevalecia sobre os vínculos do sentimento denominado de
“amor”. Em muitos casamentos as pessoas sobreviviam ausentes de afeto, visto sua
coesão ser vinculada apenas à propriedade e à estirpe.
Com as contínuas transformações da sociedade, a família moderna surgente
adquiriu um novo paradigma, acolhido por sua nova identidade, cujas regras se
modificaram acentuadamente.
A realidade das famílias modernas esboçou uma revolução em sua
organização, enfraqueceu o autoritarismo do pai ao mesmo tempo em que a mãe
deixou o “fogão”como ocorreu com minha santa mãe Esther, para concorrer com os
homens no mercado de trabalho, uma via que doravante permite graduar os/as
filhos/as, procurando educálos/as, mesmo provocando a gradativa extinção da
família patriarcal.
Considero tal fato, um desastre educacional necessário que deve se
modificar na medida em que as pessoas vão adquirindo conhecimento.
Destarte, a sociedade transformou-se novamente, posto que a mulher com
sua habilidade influenciou significativamente o mercado de trabalho, a política, a
Educação e o próprio homem.
Porém, com essa metamorfose familiar, advieram crises de valores morais
e éticos. Em face da compreensão não adequada de liberdade, a moral familiar entrou
em choque com a moral universalizada – fabricada pela mídia.
Assim sendo, apesar da salutar evolução da Família, ela hoje é organizada
democraticamente, onde todos se ajudam e participam, a liberdade foi corrompida
pela não adequada compreensão que deram a ela, tanto que a falta de controle no ato
de educar resultou na pura e cruel degradação familiar; onde a própria Família
propicia conflitos por não prezar mais seus valores enquanto ente familiar.
Assim a condição da Família moderna causa apreensão, pois os pais que
não souberam lidar com a liberdade de antes hoje pagam caro por isso, visto não
conhecerem todo um histórico envolvendo sociedade, Família e casamento que
continuamente se transforma em busca de um estado de equilíbrio já estabelecido
mas, ainda não assimilado.
A considerada Família “feliz” tornou-se aquela que é construída ao se tomar
como premissa a balança do casamento, quando estabelece de um lado

61
(compreensão, consentimento e controle) e do outro (crise, confusão e caos) regulada
pelo fiel do interesse sempre ajustando o movimento dos dois pratos.
Uma parábola cristã envolvendo o problema comparativo familiar e seus
produtos fala de sementes lançadas em vários lugares com diferentes resultados, de-
pendendo do tipo de solo e do semeador.
O relato da prosa em si é simples: "Eis que o semeador saiu a semear. E, ao
semear, uma parte das sementes caiu à beira do caminho; foi pisada, e as aves do céu
a comeram. Outra caiu sobre a pedra; e, tendo crescido, secou por falta de cuidado.
Outra parte caiu no meio dos espinhos; e, estes, ao crescerem com ela, a sufocaram.
Outra, afinal, caiu em boa terra; cresceu e produziu a cento por um".
A semente representa o conhecimento ofertado na formação dos participan-
tes da Família. A que caiu à beira do caminho são os conhecimentos que foram ab-
sorvidos; logo vem, a seguir, o “maligno” e arrebata-lhes do coração o que aprendeu,
para não suceder que, crendo, se transformem e sejam salvos.
A que caiu sobre as pedras são os que, ouvindo como conhecer o conheci-
mento os recebem com alegria; estes não têm vínculos com o solo, creem apenas por
algum tempo e, na hora da provação, se desviam.
A que caiu entre espinhos são os que ouviram e, no decorrer dos dias, foram
sufocados com os cuidados, riquezas e deleites da vida; os seus frutos não chegam a
amadurecer.
A que caiu em boa terra são os que, tendo ouvido de bom e reto coração
retém o conhecimento de tudo que aprenderam e conseguem divulgar; estes se fruti-
ficam com perseverança e produzem bons frutos a cem por um.
O trabalho do semeador é colocar a semente no solo. Uma vez que a se-
mente for deixada no celeiro, nunca produzirá uma boa safra, por isso seu trabalho é
importante. Mas a identidade do semeador não é.
O semeador nunca é chamado pelo nome. Nada é dito sobre sua aparência,
sua capacidade, sua personalidade e suas realizações. O semeador simplesmente põe
a semente em contato com o solo.
A colheita depende da combinação do solo com a semente. Quanto mais o
conhecimento é plantado e semeado nas mentes das pessoas, maior será a colheita.
Mas, a identidade do plantador não tem importância. Em nossos dias, o semeador
tornou-se a figura principal do saber enquanto a semente é esquecida.
A propaganda midiática frequentemente contém uma grande fotografia do
plantador dando ênfase ao seu nível escolar, sua capacidade pessoal e o desenvolvi-
mento de sua carreira, apenas isso. O conhecimento gera, salva, regenera, liberta,
produz a permanência da fé, santifica e nos atrai rumo a Educação e uma vida feliz.
Isto significa que o educador e não o professor, tem que mostrar o caminho.

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Professor atualmente no Brasil tornou-se um profissional descartável, ape-
nas frequenta sala de aula e recebe pífios salários à custa de muito estresse. Não nos
é dito que semente plantar. Mas, é nosso trabalho analisar o solo e decidir o que
plantar esperando receber melhores resultados.
A colheita pode ser pequena (se o solo for pobre). Uma safra sempre de-
pende da natureza da semente, não do tipo da pessoa que a plantou.
Entretanto, a descendência de cada um depende muito da semente plantada.
É perturbador notar que várias sementes do mesmo tipo quando plantadas em um
mesmo solo, produzam resultados tão diferentes, como os irmãos em uma família.
Alguns são solos de beira de estrada, duros, outros não são permeáveis e alguns são
bons.
As raízes em solo pedregoso, nunca se aprofundam. Durante os tempos fá-
ceis, os brotos podem parecer interessantes, mas abaixo do terreno, as raízes não es-
tão se desenvolvendo, estão em solos estéreis. Como resultado, se vem uma seca, um
vento forte, a planta murcha e morre.
Assim, é que as pessoas precisam desenvolver suas raízes por meio de pro-
cedimentos cada vez mais profundos. Tempos difíceis virão, e somente aqueles que
tiverem desenvolvido suas raízes abaixo da superfície poderão sobreviver em busca
de um mundo melhor.
Quando se permite que ervas daninhas cresçam junto com a semente pura,
nenhum fruto de valor pode ser produzido. As ervas disputam a água, a luz e os nu-
trientes e, como resultado, sufocam a boa planta. Existem muitos tipos de sementes:
umas que são predestinadas, as obstinadas e as que são destinadas, entretanto elas
não são iguais.
Quem é semente da salvação recebe uma unção, um revestimento, um ba-
tismo, um selo, e haja o que houver, aconteça o que acontecer, ela jamais se afasta
do caminho da boa safra como nos conta uma prosa antiga.
Entre os romanos, a deusa da colheita era Ceres, era uma típica “mãe leoa”,
aquela que protege seus rebentos em excesso. Ela amava ardentemente sua filha
Perséfone, certo dia, enquanto colhia flores no campo, foi raptada por Hades, deus
dos infernos. Ceres procura-a dia e noite, pelo mundo inteiro, até que finalmente se
encontra com o Sol, e conta o rapto de sua filha.
A vista da afronta e tomada de cólera contra a Terra, Ceres nega-se a per-
mitir que nela cresçam os grãos e os frutos. Zeus resolve interceder junto a Hades
para que devolva Perséfone, desde que esta nada houvesse comido enquanto se en-
contrava no inferno. Desgraçadamente, porém, ela havia ingerido os grãos de uma
romã e por isso só lhe foi permitido passar seis meses do ano com sua mãe e os outros
seis no inferno.

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Perséfone simboliza as sementes que permanecem sob a terra meio ano e
depois frutificam sobre a mesma. Ceres nunca mais se conformou com a perda da
filha e todos os anos, nos seis meses em que Perséfone está ausente, a Mãe Terra
chora e se lamenta. As flores não aparecem, as folhas caem das árvores e a Terra se
esfria e nada produz. Entretanto, todo ano, no regresso de Perséfone, inicia-se a pri-
mavera...
Assim começa nosso relato sobre a família de Honório José de Abreu e
seus descendentes no Município de Maranguape. Na origem, antes do princípio con-
forme declaram os prosadores oralistas não havia o Verbo, somente o Nada e com
ele o desejo de alterar o Equilíbrio. Eis que de repente a necessidade fez surgir do
Vazio o Tudo dando início a Criação e a Vida e assim envolto na mais pura luz, como
qualquer pessoa e com minha natureza distinta dos demais mortais vim ao mundo em
busca de um nome.
Nome é um substantivo masculino: palavra que designa uma classe de pes-
soas, animais, um lugar, um acidente geográfico, um astro, etc.; antropônimo dado a
uma criança ao nascer, no batismo e em outra ocasião especial, de acordo com sua
cultura e os costumes de cada povo, pelo qual ela é conhecida; palavra que se agrega
ao prenome para indicar sua origem (quem é seu pai, seu clã, seus antepassados, sua
aldeia e cidade, a profissão tradicional da sua família, etc.,); palavra que expressa
alguma característica de uma pessoa.
Nome civil é como se denomina, no Direito, ao nome atribuído à pessoa
física, considerado um dos direitos fundamentais dos humanos, desde seu
nascimento, e que o integra durante sua existência e, mesmo após sua morte, continua
a identificá-los.
É composto de prenome, sobrenome e, em casos excepcionais, do apelido
e alcunha, conhecido também na sociedade por estereótipo.
No Ocidente o nome próprio é o nome do pai: É o que colocam os pais
quando vão registrar o/a filho/a no registro civil, servindo para distingui-lo
juridicamente dos/as filhos/as restantes dos mesmos pais. Se denomina como nome
de “pia” já que antigamente era o nome que se atribuía no momento de realizar o
sacramento católico do batismo, na pia batismal.
O nome patrimonial é o sobrenome: É o nome da família que distingue a
pessoa do resto dos integrantes da sociedade, com diferentes formas em diferentes
culturas, o nome criado o foi, para ser imposto sobre o registro de nascimento. A sua
escolha é deixada a critério dos pais e de parentes com autoridade para impor (por
exemplo, os avós), embora algumas culturas estabeleçam regras especiais que
determinem o nome da pessoa.
O nome da pessoa tem as funções de particularização e individualização –

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pela qual apenas aquela pessoa possa ser reconhecida com aquele nome; e de
identificação - onde o nome tem uma atribuição social que permite conhecer, por um
nome, aquela pessoa que o possui.
O nome civil presume-se constituído para toda a vida da pessoa e, após ela,
como registro de sua existência. Por sua importância primordial, é objeto de várias
garantias, como: Não mutabilidade, Não prescritibilidade, Não alienabilidade, Não
estimabilidade, Não renunciabilidade e, finalmente, a Não transmissibilidade.
A certidão de nascimento é o documento fundamental, primeiro documento
oficial, para todo/a brasileiro/a. Nela está registrado o nome, sobrenome, local de
nascimento e nacionalidade da pessoa.
É a certidão de nascimento que possibilita o acesso à saúde, matrícula es-
colar, cadastramento em programas sociais como Bolsa Família e Bolsa Escola, à
justiça, garantias trabalhistas e previdenciárias, abertura de conta em bancos, obten-
ção de crédito, realização de casamento civil, entre outros. O registro e a primeira via
da certidão de nascimento são gratuitos desde 1997 por força de Lei Federal no Bra-
sil.
Quando nasce uma criança, seus pais e responsáveis devem registrá-la no
Cartório de Registro Civil onde ocorreu o nascimento e do domicílio dos pais. Para
registrar o nascimento de uma criança é necessário apresentar a Declaração de Nas-
cido Vivo (DNV) emitida pelo estabelecimento de saúde em que tenha ocorrido o
nascimento.
Se os pais forem casados entre si, basta a presença do pai e quando não, a
presença da mãe da criança, com a cédula de Identidade e Certidão de Casamento. O
nome é constituído de dois elementos: o prenome (nome próprio) e o patronímico
(nome e apelido que identifica a família). O nome é geralmente escolhido pelos pais
e a escolha deve se ater às pertinências acima referidas.
Ao prenome junta-se o nome de família que pode ser escolhido de acordo
com um critério estabelecido e os dois formam o nome da pessoa por inteiro. A hora
de escolher o nome de uma criança é sempre um momento difícil para os pais, que
por vezes acabam utilizando para seus/as filhos/as nomes não comuns e exóticos.
Embora a tarefa de selecionar os nomes que podem e não ser registrados
pareça simples, ela é bastante complexa e simbólica, envolvendo argumentos cultu-
rais como nas sociedades antigas.
Os prenomes poderão ser alterados no primeiro ano após ser atingida a mai-
oridade civil, caso não prejudiquem os sobrenomes de família. Se os pais forem
católicos, as Escrituras dizem que o batismo “lava os nossos pecados” (Atos 2:38, 1
Pedro 3:21, Heb. 10:22-23), assim as crianças e bebês são batizados, para que possam
ser lavados da mancha do pecado original.

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Hoje existe pelo menos três formas de batismo. A mais usada é a aspersão,
a qual é feita nas Igrejas Católicas Romanas, Presbiterianas, Luteranas, Metodistas,
Congregacionais, entre outras. Depois vem pela efusão e derramamento, sendo que
algumas igrejas protestantes praticam essa forma. E finalmente, o batismo por imer-
são, maneira pela qual os batistas foram perseguidos e de onde vem o seu nome de-
nominacional "batista", dado por seus opositores.
O pensamento de uma unidade em torno da validade do batismo esteve pre-
sente desde o princípio na Igreja primitiva. A autoridade do administrante como al-
guém autorizado para o ato foi um fundamento essencial para os apóstolos e seus
seguidores.
“Abreu” é um nome masculino cuja origem é portuguesa. O vocábulo
Abreu é também considerado por muitos estudiosos de origem germânica: "Avedro",
do gótico "avi", que significa "graça", e o vocábulo "redo" que significa "proferir",
e também "dar".
Portanto, numa tradução proposta para o nosso idioma, “Abreu” significa
"a graça de dar”. Como sobrenome tem origem portuguesa, classificado como um
toponímico, tem origem geográfica.
Vasco Nunes de Abreu parece que é o primeiro a possuir este sobrenome
(século XI). É seu o solar cujo nome era torre de Abreu, junto a Valença do Minho
na Península Ibérica.
Considero-me um Abreu, pelo menos no nome. Sou Pedro João de Abreu,
nascido no Município de Maranguape na localidade de Columinjuba, filho de José
de Abreu (Zeca) e Esther Martins de Abreu, com mais sete irmãos, minha vinda ao
planeta não encontra data bem estabelecida, pois em meados do século XX não era
praxe no meio rural fazer registro do dia exato, logo que as pessoas nasciam, visto
os registros situarem-se mais nas Igrejas das localidades e sede municipais.
Em minha certidão de nascimento feita em local próximo de onde nasci
chamado Tabatinga, consta em Cartório o registro de meu nascimento ocorrido no
dia 28 de fevereiro do ano de 1947 quando em verdade admite-se que vim ao mundo
no dia 21 do mesmo mês e ano.
Meu nome constitui outro ponto de discussão a ser explicado nesse livro,
ligado a tantos outros a serem esclarecidos. Inicialmente fui registrado por meu pai
com o nome de Pedro de Abreu, julgo ter sido uma homenagem a meu avô que
tinha em parte o mesmo nome.
Possuindo apenas dois nomes ele não incluiu os sobrenomes Honório, Bar-
roso e Martins das famílias paterna e materna envolvidas, de modo que meu nome
deveria ser segundo os estudos em genealogia “Pedro Martins Barroso Honório de
Abreu”.

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Entretanto, passei a ser chamado de Pedro João de Abreu, acrescido e co-
locado a pedido por mim no mesmo Cartório na localidade de Tabatinga, em Maran-
guape quando já adolescente em homenagem aos meus avós maternos e paternos
sem, contudo nada saber do procedimento de registro realizado pelos descendentes
de Honório José de Abreu quando da exclusão de alguns sobrenomes devido as
questões causadas por “cisma familiar”.
A prática de utilizar apenas as características do lado paterno na hora de se
fazer o registro da pessoa nascente tem acarretado sérios prejuízos biológicos e soci-
ais no momento de conhecer quem foram nossos ascendentes maternos indicando
uma prática secular que ainda hoje se aplica até mesmo em cartórios de registro de
nascimento.
Assim, ao tomar a decisão de pesquisar alguns retalhos educacionais dos
caminhos percorridos pelos descendentes da família de Honório José de Abreu de
Columinjuba e redondezas, resolvi contextualizar a Educação para que a mesma
fosse utilizada como critério comparativo familiar e em seguida fazer um estudo ge-
nealógico-educacional recorrendo ao acervo disponível em vários locais utilizando-
me das contribuições de estudiosos, pesquisadores e parentes.
O roteiro sugerido é diversificado, com informações e documentos de toda
espécie, pois existem distintos ramos da Família Abreu, tanto na Europa quanto em
várias partes do Brasil.
Genealogia vem de duas palavras gregas: gene e logia. Elas querem dizer,
gene (geração, família) e logia (notícia, estudo). Tal estudo organiza as gerações e as
linhagens, identificando o seu lugar na humanidade. Não é um conhecimento novo,
nem exclusivo de um povo.
Mesmo os povos ágrafos já cultivam as genealogias, na forma oral, trans-
mitida de pai para filho. Durante muitos séculos a genealogia teve um propósito:
indicar o herdeiro de uma propriedade, de uma monarquia.
Como um sinal de nobreza ela identificava o herdeiro de uma sucessão,
geralmente o filho mais velho (primogênito) e na falta deste, o parente mais próximo
deste sucessor. Em sociedades organizadas de forma aristocrática, as genealogias re-
velam as origens étnicas e sociais das pessoas, para lhes dar lugar de destaque na
sociedade. Portugal e por extensão o Brasil, durante os séculos XV a XVII foram
considerados excludentes neste assunto.
Na Europa para se cursar a Universidade, ser oficial do Exército, sacerdote
católico, dentre outras atividades nobilitantes, o candidato era obrigado a apresentar
um documento chamado “processo de genere et moribus”, onde se provava que não
tinha ancestrais mouros (islâmicos), cristão-novo(judeus), negros (africanos) e “tra-
balhadores mecânicos” (assalariados).

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Estas exigências numa sociedade miscigenada como a nossa, tornaram-se
difíceis de serem cumpridas e assim muitas genealogias foram alteradas, não tra-
zendo crédito para o gênero.
Mesmo existindo vários livros publicados sob genealogias familiares e re-
gionais, o boom deu-se somente com o surgimento da rede de informação mundial a
Internet, onde a possibilidade de troca de informações entre pesquisadores de todo o
mundo, a existência dos bancos de dados disponíveis para investigação e a exibição
dos milhares de homepages familiares, deram um ritmo a esta forma de conhecimento
democratizando seu uso.
Qualquer pessoa pode agora fazer sua genealogia. Basta seguir algumas re-
gras, e terá pedaços de sua estória familiar. É um trabalho de detetive. O genealogista
tem que estar atento as informações possíveis de serem coletadas. Ele precisa para
seu trabalho: ter o nome completo, local e data de nascimento (e falecimento, se já
ocorrido), mais a filiação (nome do pai e da mãe) de cada personagem pesquisado.
Para isto deve saber onde procurar estas informações.
Algumas fontes que podem ser utilizadas numa pesquisa genealógica são:
a) Assentos de batismo, de casamentos e óbitos (encontrados nos arquivos das dio-
ceses e nos Arquivos Distritais, quando de portugueses). Certidões de nascimentos,
de casamentos e óbitos (mantidos entre os documentos da família e nos cartórios
onde foi lavrado o documento); carteiras de identidade, passaportes; concessão de
títulos nobiliárquicos e testamentos; b) Entrevistas com familiares. Cartas, cartões
postais, álbuns de fotografias. c) Lápides cemiteriais, placas comemorativas em es-
tátuas, brasões, moedas e medalhas. d) Memórias, biografias, enciclopédias, dicioná-
rios biográficos e onomásticos, almanaques, genealogias publicadas (artigos, livros,
homepages) e fóruns que tratam de genealogia.
A primeira fonte geralmente a ser pesquisada é o documento que nos dá a
condição de ser cidadão/ã. É a nossa certidão de nascimento, emitida por um cartório,
mediante declaração dos pais e testemunhas. Nesta fonte já encontramos alguns da-
dos que procuramos. Nesse documento há também os nomes dos avós paternos e
maternos, apenas esta fonte já pode identificar três gerações, filho/a, pais e avós.
Com algumas certidões de nascimento é possível recuperar muitas gerações
e até mesmo nomes. A certidão de nascimento não existia de modo seguro nos sécu-
los (XVII e XVIII), como obrigação do poder constituinte na Colônia, a mesma sur-
giu com a separação da Igreja e do Estado advinda da proclamação da República
brasileira por volta de 1889.
Antes disto, havia apenas o assento de batismo, emitido pela Igreja Cató-
lica, quando a criança era levada à pia batismal, aquele/a que não fosse batizado/a
não existia socialmente.

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Este fato revela as dificuldades que os ascendentes e descendentes de Ho-
nório José de Abreu enfrentaram para registrar seus rebentos.
Hoje estes documentos estão nos arquivos das dioceses (sede de um bis-
pado) e em Portugal, nos Arquivos Distritais. Uma indicação da origem geográfica e
nacional de uma pessoa é o seu sobrenome. Através dele é possível descobrir de onde
veio o ancestral pesquisado.
Um sobrenome não parece ser de geração espontânea e nem de um capri-
cho. Ele é um patrimônio que recebemos por herança familiar devendo sempre ser
preservado, quando isso se perde nos tornamos “bastardos”, como geralmente eram
consideradas as pessoas que possuíam apenas dois nomes. Devo ter-me espelhado
em tal informação para ampliar meu nome.
O sobrenome identifica a nossa linhagem varonil, pois vem do pai, que re-
cebeu do avô paterno, que por sua vez, recebeu do bisavô paterno...até a noite dos
tempos, formando uma cadeia familiar.
Os países ibéricos, Portugal e Espanha, mais os latino-americanos, possuem
uma característica diferente de todos os outros países quanto a genealogia: quem de-
sejasse, podia agregar ao sobrenome paterno, que legalmente era obrigatório, qual-
quer outro nome que tivesse simpatia.
Os sobrenomes têm várias explicações para a sua aquisição. Eles podem ser
divididos em diversas categorias. São os patronímicos, toponímicos, de característi-
cas pessoais, profissionais e artificiais.
Imagine no século XV em algum lugar da Europa, uma família que ainda
não tem um sobrenome fixo e se vê forçada adquirir um por conta das imposições
sociais estabelecidas. Quais são as suas alternativas?
Talvez a mais simples dela, é ficar com o nome do patriarca da linhagem,
adotando-o como sobrenome. Foi assim que nasceram os sobrenomes patronímicos,
reconhecidos muitas vezes pelos sufixos “es” (Portugal) e “ez” (Espanha).
O Brasil é uma encruzilhada de povos. É possível encontrar no país gente
de todas as nações do planeta. Mas nem sempre foi assim. Quando os portugueses
tomaram posse do território, já havia os autóctones, que se tornaram conhecidos
como “índios”, apesar de pertencerem a tribos e nações diferentes.
Durante este período que vai do começo do século XVI até a primeira me-
tade do século XIX conviveram em nossa pátria, três grupos humanos: os portugue-
ses (em torno de 500 mil), os índios (estimados em quatro a cinco milhões quando
da colonização do Brasil) e os afrodescendentes que foram trazidos como escra-
vos/as.
Estima-se que entre os séculos (XVI a XIX) chegaram quase 4 milhões de
negros/as vindos de África para o nosso país. Com a transformação do Brasil de Co-

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lônia a Reino Unido e logo depois, em um país não mais dependente, surgiram novas
demandas sociais, que a população local não conseguia atender.
Foi quando se abriu a Nação para a entrada massiva de imigrantes, destina-
dos a trabalhar na agricultura, muitos artesãos que em sua terra de origem, continua-
ram a exercer estas profissões principalmente nas cidades.
Nesta caminhada genealógica-educacional e associando-me a diversos pes-
quisadores início a descrição desse trabalho utilizando os informes genéticos obtidos
através de registros feitos pelo primo Francisco Mendes de Abreu do ramo de Fco.
de Abreu/Edite Mendes usando o Projeto Nacional Geográfico para conhecer o rastro
de onde viemos, como chegamos e onde hoje estamos, revelando através de teste
genético com DNA mitocondrial e cromossômico Y os caminhos de migração que
os Abreu ascendentes de Honório José de Abreu, seguiram pelo mundo há milhares
de anos atrás.
O percurso indicado pelos testes de DNA não necessariamente nos leva a
localização exata de onde viemos, seus resultados sugerem e mostram apenas a his-
tória antropológica de nossos ancestrais, onde eles viveram e como eles migraram
em todo o mundo a milhares de anos atrás.
O teste com cromossomo Y feito pelo primo Francisco pertencente ao ramo
de Fco. de Abreu filho do“Patriarca nº 6” para mostrar sua ancestralidade paterna
utilizando-se de apenas 12 marcadores genéticos revelou a travessia de nossos ances-
trais do continente africano acerca de 60 mil anos até sua localização nas regiões
greco-romana no Mar Mediterrâneo tendo daí se espalhado pela Europa rumo à pe-
nínsula Ibérica a partir do século II possivelmente como soldados romanos envolvi-
dos nas invasões e conquistas.
Com base nos informes registrados e recolhidos por parentes interessados
em genealogia assume-se que para os Abreu, tudo começou no território europeu hoje
reconhecido como Portugal, com o início de sua história registrado no século III. A
região que era conhecida como Hispânia, sob a administração de Diocleciano Impe-
rador Romano, foi dividida em cinco províncias: Terraconense, Cartaginense, Bética,
Lusitânia e Galícia.
Dados atuais de alguns pesquisadores residentes em São Paulo tentando
“aristocratizar” nossas raízes, informam que a Família Abreu existente no Brasil é de
origem portuguesa, com ramos vindos das regiões, do Porto, Lisboa, do Minho e de
outras paragens de Portugal, pois se admite que o núcleo dos Abreu antes da virada
do primeiro milênio já ocupava no Minho, terras do Conselho de Monção, onde foi
erguida a "Torre dos Abreu" e no século XII (entre 1071 e 1135) surgindo a primeira
linhagem dos Abreu.
Partindo dessa assertiva utilizo o brasão da Família Abreu, como capa deste

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livro, sem permissão prévia de quem autorize, em vez da foto da casa antiga e aban-
donada onde viveu Capistrano de Abreu ao lado do Cemitério da família retratada no
livro escrito por meu tio Cristovam de Abreu, a qual induz alguns aspectos de quem
somos e de onde viemos.
Também existem registros mostrando que ocorreu infiltração dos mouros
na história de Portugal e na Família Abreu. Foram trezentos anos, entre o século IX
e o século XII, em que eles firmaram uma etnia distinta do biótipo de Portugal e da
etnia romana.
Em menos de 70 anos após o descobrimento do Brasil em 1568, já se regis-
trava a presença de pessoas pertencentes a Família Abreu nas localidades de Pernam-
buco, São Vicente, Rio de Janeiro, Pará, e demais rincões de nosso país.
Na medida em que os ramos e troncos familiares se assentavam, atraiam
mais parentes para povoar e colonizar o território brasileiro. Tem-se registro de rela-
tos demonstrando a presença dos Abreus em episódios desde Portugal até ao Brasil
colônia, pós-independência imperial e republicano.
Como já declarado, a primeira referência na História de Portugal acerca da
Família Abreu provém da região do Minho no século XI.
A Família Abreu tirou seu sobrenome da "Quinta dos Abreus", da proprie-
dade localizada na Freguesia de São Pedro de Merufe, Termo de Monção, na região
do Minho, cujos primeiros membros remontam ao século X, d. C.
Alguns consideram que o mais antigo personagem desta família investigado
chamava-se Gomes de Abreu, que viveu no tempo do primeiro Rei de Portugal, do
século XVII em diante.
A família dos Abreus não somente se espalhou no sangue das casas do Mi-
nho, como localmente em parte das casas de Portugal e em muitas casas estrangeiras,
a partir da colonização do Brasil. Os primeiros Senhorios da Família Abreu são do
Alto Minho, mas, posteriormente estenderam-se por todo o país, sobretudo pelo
Alentejo, Porto e Lisboa onde tiveram bens, comércio, e também na ocupação da
Ilha da Madeira.
Um dos principais ramos da Família Abreu é o do Senhor de Regalados,
que durante o domínio espanhol (1580-1640) passou à Espanha e aí recebeu o título
de Conde de Regalados. Gonçalo Martins de Abreu estabeleceu-se na Freguesia de
São Pedro do Merufe, Termo de Monção, onde fundou a "Torre de Abreu".
É correto assumir pelas manifestações registradas por vários estudiosos,
que a Família Abreu teve origem na região do Minho, com consanguinidade dife-
renciada a qual originou os diversos ramos dos Abreu em Portugal, e ramos que
vieram para o Brasil a partir do século XVI.
Entre as mais antigas famílias dos Abreu, no Brasil está a de Antônio de

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Abreu, nascido por volta de 1575 no Rio de Janeiro casado com Beatriz Álvares.
Seus pais e avós eram portugueses da região do Minho.
Já em São Paulo, figura como o primeiro ramo mais antigo da Família
Abreu em solo paulista, a de João de Abreu, natural da Ilha Terceira e sobrinho do
prelado Bartolomeu Simões Pereira, primeiro administrador do bispado de São Se-
bastião do Rio de Janeiro, que chegou a Santos em 1568.
Em quase todos os Estados brasileiros, desde os primórdios da colonização
portuguesa, foram registradas a participação e o trabalho de membros da Família
Abreu. Na Bahia, entre as famílias antigas encontra-se o ramo de Antônio de Abreu
Garcez (1629). Em Pernambuco, consta que Joana de Abreu, e suas irmãs, Isabel
Pereira, Ignez de Brito e o irmão Antônio Bezerra Barriga, chegaram a Pernambuco
antes da invasão holandesa em 1630.
No Ceará não há registro de familiares Abreus, durante o século XVI. Os
primeiros chegaram em Sobral a partir do século XVIII.
No Pará, dentre os antigos ramos familiares, está o de Francisco Baião de
Abreu, um dos pioneiros e inspirador do Brasão de Armas da cidade, organizado em
1625, por Bento Maciel Parente; e Pedro Baião de Abreu, Capitão de Infantaria, que
logo após a fundação de Belém, participou das lutas de expulsão aos estrangeiros na
região norte do Amazonas. Esse Capitão em 1636 acompanhou Pedro Teixeira em
sua "conquista do rio Amazonas".
Há presença da Família Abreu no Brasil Colônia e Império, a partir do sé-
culo XVI, segundo o historiador Rheingantz, em sua obra “Famílias do Rio de Ja-
neiro”, além da família de Antônio de Abreu, nascido em 1575, ele registrou mais
de 29 ramificações da Família Abreu, nos séculos (XVI e XVII), que deixaram nu-
merosas descendências nas terras invadidas, desde o século XVI no qual se formou
um grande núcleo da Família Abreu.
Além da Bahia, Pernambuco e Pará, uma antiga família de origem portu-
guesa estabeleceu-se no Piauí, remontando ao núcleo de Baltazar de Abreu Bacelar,
que tirou Carta de Brasão de Armas, no ano de 1586. Filho de Domingos Gonçalves
Caminha e Leonor Rodrigues Bacelar, deixando numerosa descendência de seu ca-
samento com Maria de Eça da Rocha.
Entre os descendentes da Família Abreu, há relatos de vários casos de per-
seguições religiosas e punições no Brasil. A família de Abreu Campos, estabelecida
na Bahia sofreu perseguições comuns aos cristãos novos. Manoel de Abreu Campos
(1614), que vivia do trabalho em sua fazenda na Bahia, foi condenado pelo Santo
Ofício torturado e morto nos cárceres e "queimado em estátua com seus ossos em 31
de março de 1669, como judeu convicto e pertinaz".
Historiadores brasileiros destacando-se entre eles: Capistrano de Abreu,

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Rodolfo Garcia, Varnhagen e outros chamaram a atenção, para a importância de fon-
tes inquisitoriais, envolvendo cristãos-novos contendo familiares Abreu, mas suas
mensagens não tiveram eco. E a origem judaica dos antigos brasileiros tornou-se
apenas um tema exótico.
Em Pernambuco, a primeira presença documentada de cristãos-novos ocor-
reu em 1542, quando da doação das terras a Diogo Fernandes e Pedro Álvares Ma-
deira, para construírem o Engenho Camaragibe. O primeiro, originário de Viana do
Castelo, era marido de Branca Dias, que, nesta época, respondia processo por práticas
judaizantes perante o Tribunal do Santo Ofício de Lisboa, só se transferindo para o
Brasil por volta de 1551; o segundo, talvez oriundo da Ilha da Madeira, era especia-
lista na produção de açúcar.
Muitos Abreus foram catalogados como pertencentes aos cristãos-novos,
uma onda de perseguição que se desdobrou por 70 anos, com especial virulência no
início do século XVIII, conferindo à primeira metade deste século as características
de época negra da história dos judeus no Brasil.
Até hoje não se sabe ao certo quantos judeus oriundos da Europa no Brasil
foram vítimas da Inquisição. Mas, existe nos arquivos da Torre do Tombo, em Lis-
boa, uma média de 40.000 processos da Inquisição contra judeus.
No final do século XVIII por volta de 1770, teve início um novo ciclo para
a vida judaica no Brasil, sem nenhuma semelhança com o seu passado.
As cinco décadas seguintes constituem uma fase de transição para uma po-
lítica liberal, que não mais sofreria retrocessos, ampliando cada vez mais suas con-
quistas até a eclosão definitiva em 1824, com a proclamação da Independência do
Brasil e sua constitucionalização.
Em Portugal, o cenário mudara e a Inquisição acabava de entrar nos seus
últimos estertores, golpeada de morte pelo ministro Sebastião José de Carvalho e
Melo, conhecido como o Marquês de Pombal.
Finalmente, um ano mais tarde, ainda em 1774, foi a referida lei regulamen-
tada por um decreto, que sujeitava os veredictos do Santo Ofício à sanção real.
E assim, com essa restrição, estava anulada a Inquisição portuguesa sob o
especial empenho do Marquês de Pombal junto ao rei de Portugal em favor da extin-
ção de quaisquer discriminações contra os cristãos-novos em nosso país. A repercus-
são das disposições pombalinas no Brasil nesse aspecto foi automática e eficiente.
Após setenta anos de perseguições estavam os cristãos-novos brasileiros
ansiosos de se igualarem aos demais habitantes do país, dos quais, na realidade, fre-
quentemente em nada se distinguiam, a não ser pela discriminação religiosa que lhes
era imposta.
Assim, nesse ambiente já por si propício - favorecido ainda pelos intensos

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cruzamentos étnicos e processos aculturativos que se verificaram naquela época, gra-
ças à mutação econômica parcial da base agrária para a de mineração - o liberalismo
da nova lei foi um estímulo à completa assimilação dos cristãos-novos e, é daí, que
emerge os primeiros traços da Família dos ascendentes de Honório José de Abreu
no Nordeste do Brasil.

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4

Raízes da
linhagem de
Honório José de Abreu

Foram os ancestrais que nos deram a vida, de um ventre ao outro, de mão


em mão, de sopro em sopro, no entremear-se das almas através dos anos sobre Uni-
verso. Os ancestrais são nossas raízes, predecessores e gerações anteriores existentes
em nós, em nossos genes, células e tecidos.
Portanto, as partes de nosso corpo contêm ecos de nossa família, e influen-
ciam na forma de percebermos a Realidade.
A conexão com o passado, com aqueles que vieram antes de nós, nos aju-
dam a encontrar força e sabedoria para caminhar no futuro. Nós somos os resultados
de vários organismos, que viveram, aprenderam, criaram e ensinaram. Eles tornaram
possível nossa realidade. Eles honravam os que já passaram pela Terra. O que eles
fizeram durante a evolução impactam as gerações presentes.
A reconexão com os ancestrais ajuda a compreender quem somos e de onde
viemos. Precisamos inventariar o que nos foi deixado para repassarmos as gerações
vindouras.
Assim como precisamos conhecer e honrar o que nossos ancestrais nos dei-
xaram. A conexão com os ancestrais nos fornecem um sentido de continuidade que
nos ajudam em momentos difíceis. Eles influenciaram nossa aparência física, nosso
comportamento atual e nossa energia. Partilharam de nossas escolhas, medos, so-
nhos, símbolos, impulsos, etnia, crenças e inspirações.
Nossa busca por raízes na Família Abreu, se inicia com a introdução
conforme já comentada de Honório José de Abreu, considerado e assumido
familiarmente como o “Patriarca nº 3”, ao caminhar Brasil adentro em estradas
bandeirantes pelo Nordeste cáustico à cata de sobrevivência em paragens
hospitaleiras.
Geralmente as origens familiares de qualquer pessoa não são claras, não co-

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nhecemos o solo onde fincamos nossas raízes. Nem todos na vida foram agraciados
por uma família zelosa e presente quanto ao assunto. Às vezes há até presença, mas
falta contato, olhar, diálogo, falta a sensação de ser visto e de ser importante tanto
para o outro como para o mundo.
A qualidade de nossas relações é o que mais importa. Muito comum é que
na sua ausência busque se suprir essa falta com objetos materiais. Subverte-se o amor,
os sentimentos, o cuidado com a alma em troca de bens materiais.
Algumas pessoas se perguntam: "Como posso ser feliz? Como seguir em
frente se não conheço o que me prende ao passado?" Por isso mesmo, todo organismo
necessita de raízes saudáveis para seguir com seu crescimento e desenvolvimento.
Se você tem marcas em suas raízes familiares, trate de reconhecê-las e cui-
dar delas. Olhe para suas raízes, não ignore sua importância, nem deixe que suas
marcas determinem a falta de possibilidades em realizar o que podemos ser. As raízes
são suas bases e se você cuidar bem delas poderá seguir crescendo e se desenvol-
vendo, sem pesos que lhe joguem para baixo.
Não é fácil, não é simples, mas é necessário. Acredite em seu potencial de
vida. Dedique-se um pouco a conhecer o rumo que vem tomando seus familiares, sua
origem e evolução educacional garantindo de que árvore é você, de que paragens
vieram suas sementes.
Como em todo ato de fixação e desenvolvimento familiar somos obrigados
a contextualizar o que pretendemos ofertar em termos informativos para aqueles que
estão a vir plantar em solo conhecido suas raízes.
Em assim agindo nosso relato histórico se inicia na Colônia, perpassa o Im-
pério adentra a República, atravessa a contemporaneidade e se fixa na atualidade.
Antes de sermos invadidos por colonizadores, os nativos que aqui viviam
desfrutando de sua terra natal, jamais imaginariam que um dia sua cultura, descen-
dência e tradição fossem sumir com a chegada do invasor.
Nossa história lida nas escolas é profundamente eurocêntrica, estudamos
um Brasil “descoberto “em 1500 e um Ceará que apareceu apenas quando aqui che-
garam europeus nos séculos XV e XVI.
Sabemos, entretanto, que nossa história teve início há milhares de anos con-
forme conta Thomaz Pompeu Sobrinho, por volta de 6 a 7 milênios de acordo com
os achados arqueológicos descrito no documento “A Lamentação Brasílica” do padre
Francisco Teles de Menezes Lima em 1799.
Durante o século XVI o território hoje chamado de Estado do Ceará ficou
praticamente esquecido da Coroa portuguesa, sendo considerado apenas uma região
periférica no esquema de colonização.
O motivo principal do atraso na ocupação foi a falta de atrativos econômi-

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cos, visto seu solo não dispor de metais preciosos e também não servir para plantio
da cana de açúcar.
Provavelmente, foi Américo Vespúcio o primeiro europeu a passar ao largo
da costa cearense, em meados de 1499, quando percorria o litoral norte do Brasil, a
partir do cabo Santo Agostinho no Rio Grande do Norte, atingindo o Ceará num local
que denominou de Santa Maria de La Consolacion (Ponta Grossa) no Município de
Icapuí.
Dois meses antes de Pedro Álvares Cabral partir de Lisboa, os navegadores
espanhóis Vicente Yañez Pinzón e Diogo Lepe, num roteiro semelhante a Américo
Vespúcio, desembarcam no litoral cearense, no cabo do Mucuripe em Fortaleza o
qual foi chamado de Rostro Hermoso, mas, as expedições destes espanhóis não pu-
deram ser oficializadas devido ao Tratado de Tordesilhas.
Na primeira década, após o descobrimento do Brasil, o Ceará estava ex-
posto à toda sorte de piratas mesmo continuando sob o domínio dos nativos tupis à
beira-mar e jés (tapuias) no interior. Em 1534, a coroa portuguesa, no intuito de mar-
car os limites e domínios das terras conquistadas, implantou o sistema de capitanias
no Brasil, e em 1535 concedeu a Antônio Cardoso de Barros a Capitania do Siará, o
qual nunca se importou em tomar posse desse feudo.
Desempenhou na Bahia o cargo de provedor-mor e, em 1556, quando re-
tornava a Portugal seu navio naufragou nas costas de Alagoas sendo devorado pelos
índios, juntamente com o bispo D. Pero Fernandes Sardinha.
O Ceará voltou a entrar na história em 1603, em pleno domínio espanhol de
Felipe III, quando Pero Coelho de Sousa obteve do governador geral Diogo Botelho
a permissão de colonizar o Siará Grande, partindo da Paraíba a frente de 200 índios
e 65 soldados, atingindo pelo litoral o rio da Cruz (Acaraú), de onde seguiu para
Ibiapaba e ali encontrou cerca de 70 aldeias indígenas.
Aventurou-se com seus soldados e ajuda dos índios tabajaras e potiguaras
sertão adentro enfrentando os franceses liderados por Adolphe Membille que, a partir
do Maranhão invadira o Estado.
Pero Coelho deteve-os às margens do rio Parnaíba, mas, por falta de recur-
sos e diante de uma forte seca (1605-7), de que se tem notícia na região, retornou e
chegando a foz do rio Ceará fundou o Forte de São Tiago e o povoado de Nova
Lisboa, mudando o nome para Nova Lusitânia, na atual região da Barra do Ceará, e
depois retirou-se em 1607 para o Estado da Paraíba.
Diante do fracasso da força militar, a Coroa portuguesa resolveu enviar uma
missão religiosa, e no mesmo ano, os padres escolhidos foram Francisco Pinto e Luís
Filgueiras que iniciaram seus trabalhos de catequese com os índios na região, tendo
relativo sucesso.

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Na trilha de Pero Coelho de Sousa esses missionários atravessaram o terri-
tório cearense de leste a oeste, até chegar à serra da Ibiapaba, onde fundaram um
povoado, logo sendo atacado por índios tocarijus morrendo Francisco Pinto a tacape
na localidade de Abayara(Ubajara).
Luís Filgueiras, junto com um punhado de índios obedientes, retirou-se para
as proximidades da foz do rio Ceará, fundando outro povoado, o de São Lourenço.
Temendo a agressão dos índios em agosto de 1608 se retira, para Pernambuco, e mais
tarde após naufrágio na ilha de Marajó, foi devorado pelos nativos.
A ocupação efetiva do território cearense foi concluída por outro português
Martins Soares Moreno, nascido em Santiago do Cacém por volta de 1585, o qual
pode ser considerado o verdadeiro fundador do Estado do Ceará. Jovem soldado des-
tacou-se pela amizade que tinha com os índios, imitando seus costumes. Chegou de
volta ao Ceará no início de 1612, em companhia do padre Baltazar João Correia e
seis soldados onde construiu um pequeno forte, chamado de São Sebastião, nova-
mente, na foz do rio Ceará.
Após combates com os franceses no Maranhão e tentativas rechaçadas de
invasão dos holandeses, Martins Soares Moreno foi a Portugal e obteve em 1619 a
carta régia como senhor da Capitania do Siará, onde voltou em 1621, para fixar-se
por vários anos, consolidando sua capitania.
Criou uma Expedição para explorar a capitania que contava com três iates
e embarcações em número de cinco, conduzindo 298 homens, sendo 62 marinheiros,
149 soldados, 61 índios – 42 homens e 19 mulheres – 10 negros.
Explorou o Monte Itarema constituindo-se na primeira penetração de hu-
manos brancos nas terras do atual Município de Maranguape, naquela época habitada
por índios potiguaras, que dilatavam seus domínios na faixa litorânea, desde o Rio
Grande do Norte até a Barra do Ceará e daí ao Estado do Piauí.
Como capitão-mor em 1631, terminado seu período de atuação, cansado e
por falta de recursos seguiu para Pernambuco retornando definitivamente a Portugal
em 1648, ficando em seu lugar seu sobrinho Domingos da Veiga.
Em 1637, 126 homens holandeses comandados por George Gartman toma-
ram mais uma vez o forte agora sob as ordens de Bartolomeu Brito, um português,
permanecendo até 1640 quando se retiraram após contínua luta com os nativos da
terra. Alguns anos depois, em 1649, os holandeses retornam ao Ceará agora sob o
mando de Mathias Beck, procurando fazer paz com os índios.
Mathias Beck mandou erguer na colina Majaraitiba as margens do rio Pa-
jeú, o forte de Shoonenborch em homenagem ao governador do Brasil holandês. A
missão tinha como propósito explorar no Monte Itarema, ao norte da Serra de Ma-
ranguape, uma mina de prata que teria sido, segundo os contadores de estória, desco-

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berta por Martim Soares Moreno. É a mais remota presença colonizadora na área da
Serra de Maranguape.
As origens civilizadoras do Município de Maranguape datam do início do
século XVII. A origem da palavra Maranguape tem sido discutida, com conclusões
distintas. Os holandeses não deixaram um nome estabelecido já os indígenas deram
não a localidade, mas, a serra em frente o nome de Maragoa.
Entre os portugueses Maranguape, quer dizer - “mato fechado, cerrado”,
etc. Ali viviam as tribos potiguaras que não mantinham bom relacionamento com os
portugueses, mas que mediante presentes e outros esquemas habilidosos, indicaram
aos estrangeiros os locais aproximados das supostas minas.
Maranguape está situada entre 3° 54’ 40” de latitude sul e 4° 29’ 10’’ de
longitude oriental do Rio de Janeiro. Altitude 68,57 m. Tem uma área de 654km2.
Seu ponto culminante é o Pico da Rajada com 920m de altura acima do nível do mar.
Em 1654 conforme acordo de rendição em luta travada entre flamengos e
lusitanos os primeiros evacuaram pacificamente o Ceará, ficando por algum tempo
em seu lugar a tropa do capitão-mor português Álvaro de Azevedo Barreto, que mu-
dou o nome do forte holandês para Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção.
Em 1656, o Ceará foi desligado do Estado do Maranhão ao qual estivera
sujeito desde 1621, passando a ser capitania secundária agora pertencente ao Estado
de Pernambuco, situação que se manteria por 143 anos, até 1799, quando se tornou
capitania autônoma.
João Capistrano Honório de Abreu, em carta dirigida ao escritor Paulo
Prado, antes de morrer, referia-se a sua provável descendência com Pero Coelho de
Souza. Entretanto além de não termos dados para estabelecer quaisquer relações ge-
nealógicas entre os familiares de Honório José de Abreu e o desditoso bandeirante
português, as pesquisas do genealogista cearense Francisco Augusto de Araújo Lima,
nos conduz para outro rumo melhor estabelecido acabando de vez com tal hipótese.
A história de Fortaleza se confunde com a história do Ceará, terra de índios
dos troncos tupis (tabajaras, parangabas, parnamirins, paupinas, caucaias, potiguaras,
paiacus, tapebas) e jês (tremembés, guanacés, jaguaruanas, canindés, jenipapos, ba-
turités, icós, chocós, quiripaus, cariris, jucás, quixelôs, inhamuns), os quais, embora
dizimados em grande parte, ainda fazem, de forma precária, sua cultura se encontrar
presente em hábitos, comidas e artes populares, nomes, vocabulário e etnia.
A capitania do Siará era totalmente dominada por índios, situação que mu-
daria apenas no início do século XVIII com a expansão da pecuária nos sertões, o
que provocou um massacre das populações nativas. Devido ao fato do Ceará ter sido
uma das últimas áreas conquistadas por europeus, foi apenas no final do século XVII
integrado ao projeto colonial português.

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Os nativos sempre resistiram a qualquer invasão de estrangeiros a suas ter-
ras. A maior resistência indígena no Nordeste conhecida como Guerra dos Bárbaros
durou cerca de 50 anos, iniciando-se em 1683 envolvendo os Estados do Rio Grande
do Norte, Ceará, Pernambuco, Paraíba e Piauí, indo até 1720 quando através do co-
mandante João de Barros Braga, vindo de São Paulo, a capitania foi considerada “pa-
cificada”.
Os nativos acabaram sendo encarcerados em aldeamentos através do Regu-
lamento das Missões e finalmente com a lei do Diretório estabelecido em 1850 jul-
gando as terras indígenas devolutas, o surgimento das missões assumiu que estas
terras daí para frente seriam entregues aos latifundiários para uso na pecuária e coto-
nicultura. Estas missões ficavam próximas à capital e se localizavam em Parangaba,
Messejana e Caucaia.
Na fase inicial da história cearense, o desenvolvimento regional se manteve
na orla marítima, baseado no plantio da cana-de-açúcar. Porém, informados de pas-
tagens e clima favoráveis dos sertões do Ceará, aventureiros de Pernambuco, Paraíba,
Rio Grande do Norte e Bahia começaram a ocupar os espaços verdes, expulsando os
índios e quando possível, domesticando-os para o trabalho braçal, instalando currais
e oficializando suas terras como sesmarias.
Os sertões cearenses foram desbravados em função da pecuária, a partir do
começo do século XVIII com o gado sendo o elemento regulador do processo civili-
zatório. Alguns fatores contribuíram tais como: a crise econômica portuguesa agra-
vada pela União Ibérica fazendo os lusitanos emigrarem para o Brasil, a necessidade
de uso das terras na Zona da Mata para plantio e exploração de cana de açúcar quando
D. Pedro II, de Portugal, ordena em 1701 que qualquer criação de gado devia ser
proibida no litoral do Estado até dez léguas de distância a dentro.
A partir de 1680, o Siará passou à condição de capitania subalterna de Per-
nambuco, desligada do Estado do Maranhão. Entretanto, a região se tornou adminis-
trativamente não dependente apenas em 1799, quando foi desmembrada e o cultivo
do algodão despontou como uma importante atividade econômica.
Durante o século XVIII, a capitania se destacou pela pecuária, na época,
sendo reconhecida como a “Civilização do Couro” da Colônia. Assim, o Estado do
Ceará foi se formando pela miscigenação de coloniza-dores europeus, indígenas
catequizados e aculturados após grande resistência à colonização, de negros/as e
mulatos/as que viviam como trabalhadores livres e como escravos/as.
Com uma colonização portuguesa complexa e conturbada, marcada pela
resistência dos nativos e pelas dificuldades de adaptação dos estrangeiros às
condições particulares do território, formou-se uma sociedade rural baseada na
pecuária, assim como na agricultura, desenvolvida em especial nos vales úmidos e

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serras do Estado.
A elite latifundiária surgente, através de seu poder econômico dominador e
de suas complexas relações de parentesco e afilhadagem, possuía controle geral
envolvendo todos os aspectos da vida social do Estado.
Houve duas frentes de ocupação portuguesa do território cearense segundo
Capistrano de Abreu: a do sertão-de-fora, controlada por pernambucanos que vinham
pelo litoral; e a do sertão-de-dentro, dominada por baianos.
Graças à pecuária e aos deslocamentos de pessoas das áreas mais povoadas
todo o Estado do Ceará foi sendo ocupado ao longo do tempo, levando ao surgimento
de várias cidades importantes nos cruzamentos das principais estradas utilizadas
pelos vaqueiros cuja principal atividade econômica era a pecuária, conduzindo os
historiadores a falarem que o Ceará se transformou em uma "Civilização do Couro".
Outro fenômeno ligado ao avanço da pecuária foi a formação de povoados
e vilas. Ao longo do século XVIII a expansão do gado propiciou a criação das vilas
de Icó (1738), Aracati (1748), Quixeramobim (1764) e Sobral (1773).
No regime pastoril cearense se percebem duas fases. A primeira do absen-
teísmo entre 1680 a 1720 quando ocorreu a expulsão dos indígenas, onde os propri-
etários de terras que viviam na Zona da Mata em Pernambuco e na Bahia mandavam
seus vaqueiros cuidar das terras e do gado. A segunda fase iniciada por volta de 1720
e se caracterizou pela instalação nos sertões dos próprios donos das fazendas a qual
durou cerca de 30 anos.
Os rebanhos logo se multiplicaram, muito embora a qualidade dos mesmos
e a pastagem não fossem das melhores, daí a baixa rentabilidade da atividade pecuá-
ria no Ceará.
Os proprietários que vieram morar no sertão cearense imitando toscamente
as casas da Zona da Mata, onde existiam grandes engenhos, passaram a erguer casas-
grandes, curral para o gado, casa de farinha onde se beneficiava a mandioca e se
produzia farinha representando a base alimentar da população rural, sem falar do
leite, queijo e coalhada.
A posse da terra, de rebanhos e escravos/as dicotomizou a sociedade serta-
neja, que passou assumir o regime feudal na medida em que estabelecia a posição
social das pessoas. De um lado os senhores proprietários, os latifundiários distantes
das autoridades portuguesas sediadas no litoral cearense ocupando cargos e postos
militares nas vilas impondo sua vontade patriarcal e escravocrata a população que
habitava o local.
No outro extremo da sociedade, encontravam-se os pequenos proprietários,
arrendatários, comerciantes, artesãos, índios, escravos, miseráveis todos dependentes
dos proprietários de terras caracterizados pelo conservadorismo e patriarcalismo im-

81
perante.
O uso corriqueiro das armas era uma preocupação das autoridades da Co-
lônia que tentava limitá-las sem sucesso, imperava o machismo onde a mulher deve-
ria ser boa filha, esposa e mãe enquanto os/as filhos/as eram obrigados/as a serem
obedientes.
O marido tinha uma sexualidade livre, sentindo no máximo, piedade pela
esposa no ato sexual. O adultério era punido com derramamento de sangue e no caso
de sedução o sedutor quando não casava tinha de fugir daquelas terras para não mor-
rer.
A vida sexual dos rapazes era iniciada não com as raparigas, mas, com as
escravas, animais e até com plantas, um ato que se perpetua até hoje no sertão. As
ricas áreas açucareiras de Pernambuco, Bahia e Minas Gerais eram os grandes mer-
cados consumidores de carne bovina.
As estradas que cortavam o Ceará eram verdadeiras rotas humanas e co-
merciais pelas quais durante décadas se deu o escoamento da produção regional e a
entrada de mercadorias para abastecer o sertão e toda sociedade vigente.
Entre tais caminhos, destacava-se a Estrada Geral do Jaguaribe saindo de
Aracati passando em Russas, Icó, Cariri indo até o rio São Francisco. A estrada das
Boiadas saindo do Piauí passando na Paraíba indo até Pernambuco e a Estrada da
Caiçara saindo do Norte em Acaraú passando por Sobral indo até Pernambuco.
Os locais de encontro dessas estradas que depois se transformaram em vilas
mais importantes foram Icó, Jaguaribe, Sobral, Quixeramobim e Aracati.
Logo se observou que a venda do gado para outras capitanias não era lucra-
tiva, por tais motivos a partir da segunda década do século XVIII, os fazendeiros do
litoral passaram a vender a matéria-prima já industrializada, preparada e reduzida a
carne em mantas conservadas pelo sal, capaz de resistir sem deterioração a longas
viagens.
Surgiram assim as fábricas de beneficiamento de carne as chamadas “char-
queadas” situadas mormente no estuário dos grandes rios onde se produziam charque
trazendo, como consequência, a divisão do trabalho entre litoral e sertão.
Mais tarde, com a expulsão dos holandeses do Recife, e lutas travadas nas
localidades, colonos portugueses, pernambucanos e paraibanos começaram a se des-
locar para nova capitania do Ceará instalando-se principalmente na várzea do rio Ja-
guaribe a partir de Aracati.
Com esse afluxo de imigrantes, começou a desenvolver-se um lugarejo
mais tarde as margens do rio Jaguaribe denominado de Icó, constituindo-se, de
pronto, em importante centro de interesse comercial. A pecuária tomou impulso e o
comércio de exportação de couros e peles tornou-se vital para a época naquela região.

82
Tratando-se de local seguro para as embarcações, devido ao escoamento de
produtos agrícolas, um outro ponto de encontro surgiu no Estado vindo-se a chamar-
se São José do Porto dos Barcos sucessivamente, Cruz das Almas e Santa Cruz do
Aracati, terra onde os pais de Honório José de Abreu se casaram e lá viveram não
se sabe por quanto tempo.
O eixo Aracati/Icó foi tido como o mais dinâmico da economia cearense do
século XVIII até a primeira metade do século XIX, Aracati era o centro distribuidor
cearense que possuía uma grande população flutuante vindo das regiões vizinhas do
Estado, principalmente do Rio Grande do Norte local onde vivia o “Patriarca nº 2”
- Baltazar Antunes de Moura na localidade de Açu, pai de Honório José de Abreu.
O comércio do charque foi decisivo para a vida econômica do Ceará ao
longo do século XVIII. Com ele, passou a existir uma clara divisão do trabalho entre
as regiões do Estado: no litoral se encontravam as charqueadas e, no sertão, as áreas
para criação de gado bovino.
O charque também permitiu o enriquecimento de proprietários de terras e
de comerciantes, bem como o surgimento de um pequeno mercado local mesmo
diante das secas vigentes.
O território cearense era continuamente assolado no século XVIII por secas
nos anos de 1754, 1777-8 e em 1790-3, ocorre a chamada "grande seca" pelos velhos
sertanejos. Tal flagelo açoitava o sertão nordestino, deixando um rastro macabro de
morte e fome.
Na Paraíba a fome era intensa a ponto de ser mencionado atos de antropo-
fagia em diversas localidades conforme relatos de Rodolfo Teófilo. Era comum o
envenenamento por meio de mucunan, petó, cole, maniçoba e outras plantas tóxicas,
que o povo faminto usava como sustento.
Entre os anos de 1790-3, esta Grande Seca, ganhou destaque por parte dos
administradores das Capitanias e lamento dos sertanejos pois, era tida como um cas-
tigo que fazia descer do céu e subir do inferno, o fogo devorador, um elemento de
punição, sendo representada como um ponto de intersecção entre pobres e ricos e o
aparecimento de seitas religiosas pregando o apocalipse.
A morte aproximava esses estamentos sociais, pois cobrava de todos rea-
ções distintas na garantia de sobrevivência, onde todos procuravam meios diversos
para sobreviver.
Através das margens do rio Jaguaribe onde se encontravam as oficinas de
preparo de charque, se chegava ao rio Acaraú formando outro eixo rodoviário e eco-
nômico, Sobral/Acaraú.
Situada às margens do rio Acaraú o núcleo urbano de Sobral teve sua ori-
gem no começo do século XVIII em torno da fazenda Caiçara localizada no cruza-

83
mento dos caminhos que cortavam a capitania (Estrada das Boiadas e Estrada Cai-
çara).
O povoado de Sobral seria elevado a condição de vila em 1773, com o nome
de Vila Distinta Real de Sobral em homenagem ao fundador da fazenda Caiçara An-
tônio Rodrigues Magalhães natural de Sobral de Lagoa em Portugal.
Entretanto, as oficinas de charqueadas do Estado, entraram em declínio na
última década do século XVIII por conta das calamitosas secas de 1777-80 e 1790-
93.
Outro motivo de destaque para valorização do interior foi o sertanejo co-
meçar a dedicar atenção a nova atividade agrícola surgente: cotonicultura para abas-
tecer as fábricas têxteis inglesas que vivenciavam a 1º Revolução Industrial e a con-
corrência do Rio Grande do Sul que também passou a fazer carne de charque.
Os “coronéis”, e latifundiários donos de terras, mantinham em suas
propriedades muitos dependentes principalmente aqueles que lhes prestavam
serviços e que entregavam parte de sua produção em troca da posse de um lote de
terra, em regime tipicamente semifeudal, além da não existência de trabalhadores
assalariados.
Desse modo, os currais se transformaram gradativamente em pequenas fa-
zendas. O boi virou moeda da troca, garantindo a alimentação e subprodutos basea-
dos no seu couro, como roupa, sapato, chapéu, gibão e perneira.
A nova heráldica sertaneja, passou a ser oriunda dos ferros de marcar ani-
mais, assunto que cheguei a conhecer nas iniciais PA, herdadas de meu avô por meu
pai. Os rebanhos se transformaram em objeto de comércio entre os Estados do Ceará
e Pernambuco, de onde vinham tecidos, louças, ferramentas e demais utilidades para
consumo nas fazendas.
Com o declínio da venda do charque, cuja distribuição era centrada em
Aracati. Fortaleza foi se tornando a principal cidade cearense devido à sua condição
de destino dos produtos agrícolas, cultivados nas diversas serras que se elevam nas
vizinhanças desse município.
Entretanto, o desenvolvimento do Estado do Ceará começaria apenas
depois de sua separação com o Estado de Pernambuco em 1799.
Face ao início da colonização por todo o país e diante de tantas dúvidas
surgentes em relação a dados não consistentes, resolvemos mostrar apenas o cenário
e algumas situações em que os ascendentes de Honório José de Abreu se envolve-
ram durante o século XVIII no mundo, Brasil e Estado do Ceará como forma de
contextualizar o assunto.
De conformidade com as pesquisas do genealogista das famílias cearenses
Francisco Augusto de Araújo Lima, os pais do Patriarca nº 2 - Baltazar Antunes

84
de Moura, foram o português Teodósio de Araújo Abreu - Patriarca nº 1, nascido
em Lisboa casado com a pernambucana Joana Barbosa Fagundes.
Baltazar Antunes de Moura foi casado com Maria Josefa da Cunha Rosa
de Aracati. Não conseguimos descobrir o motivo da não existência do nome “Abreu”,
do lado paterno no nome do Patriarca nº 2.
Consta nesta pesquisa que os avós maternos de Honório José de Abreu,
foram os portugueses nascidos na cidade do Porto, Gabriel da Cunha Rosa e Maria
da Silva de Araújo.
Tem-se ainda, por conta desse estudo o conhecimento da existência de dois
irmãos de Honório José de Abreu, uma irmã de nome Ana Josefa da Cunha casada
com Antônio Ferreira da Silva e um irmão chamado Claudio, provavelmente oriun-
dos de Aracati como cheguei a pesquisar.
A contextualização permite ao leitor realizar passeios mentais e prosas in-
telectuais usando janelas imagéticas quando não se dispõe de dados históricos sufi-
cientes envolvendo o assunto. Assim, é com base nesses elementos que os inserimos
no estudo em questão.
O século XVIII vai até o período da Idade Moderna na Europa quando este
continente foi caracterizado pelo movimento cultural Barroco, o Grand Siècle francês
dominado por Luís XIV, de revolução científica e a crise geral.
Nesse período em que a colonização europeia nas Américas começou para
valer, incluindo a exploração de prata no Alto Peru e no México resultou em grandes
surtos de inflação, com a riqueza se espalhando da Europa para o resto do mundo.
No Brasil, a descoberta de metais preciosos nas minas gerais, possibilitaria
ao Reino português superar a crise econômico-financeira vivida desde a separação
de Espanha, recuperando sua Independência.
Para consolidar sua posição e minimizar as dificuldades políticas, o novo
rei português da Casa de Bragança, firmou alianças, concluiu tréguas e assinou tra-
tados com outros soberanos europeus. Restavam alguns pontos em África, que for-
neciam escravos/as, a parte meridional do Brasil, já que a área mais lucrativa era a
região açucareira, a qual permanecia controlada pela Holanda.
Os holandeses monopolizavam a venda de açúcar na Europa, preferindo o
produzido por suas colônias, em prejuízo daquele fabricado pela colônia portuguesa
na América, com grande perda para o tesouro real.
A crise no mercado de açúcar brasileiro colocou Portugal numa situação de
procurar novas fontes de renda, pois, como sabemos, os portugueses lucravam muito
com as taxas e impostos cobrados no Brasil.
Foi neste contexto que os bandeirantes, no final do século XVII, começaram
a encontrar minas de ouro em Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso.

85
Portugal viu nessa atividade uma nova fonte de renda.
A anexação da Coroa portuguesa à espanhola, também conhecida como
União Ibérica, trouxe grandes prejuízos para o Brasil; a Holanda, antiga aliada dos
portugueses, se transformou em força contrária, atacando e ocupando grandes faixas
do litoral brasileiro, onde construíram fortes e fundaram cidades como a capital Mau-
rícia (Recife).
No Nordeste, em Pernambuco aos poucos a situação de dominação territo-
rial começou a ficar complicada com a expulsão dos holandeses que o Império por-
tuguês tentava realizar há muitos anos e não tinham pessoal qualificado para manter
a ordem social e econômica da região.
A história de Goiana uma localidade em Pernambuco onde se considera
que viveram “Patriarca nº 1” - Teodósio de Araújo Abreu e Joana Barbosa Fa-
gundes, pais de Baltazar Antunes de Moura está ligada a esta questão devido aos
engenhos de açúcar da região serem dominados por holandeses.
Situada na região da Mata, norte de Pernambuco – acerca de 60 km do
Recife – Goiana era habitada inicialmente pelos índios caetés e potiguares.
A povoação foi elevada a freguesia em 1568 quando Diogo Dias, um
cristão-novo de muitas posses, que comprou de D. Jerônima de Albuquerque Sousa
dez mil braças de terra próximas à atual cidade de Goiana, então Capitania de
Itamaracá, estabeleceu um engenho fortificado no Vale do Rio Tracunhaém.
Esse colonizador foi alvo de ataque ao seu engenho, em 1574, no qual
índios potiguaras exterminaram toda a população ali residente. Este episódio
provocou a extinção da capitania de Itamaracá e a criação da capitania da Paraíba.
Entretanto, Goiana era uma das principais localidades produtoras de cana-
de-açucar no Estado de Pernambuco. Sendo diversas vezes sede da capitania de
Itamaracá, e permaneceu por anos como a segunda cidade mais importante do Estado
de Pernambuco.
Em janeiro de 1640 nativos, portugueses e holandeses defrontaram-se entre
a localidade de Goiana e a ilha de Itamaracá a esquadra de D. Fernando de
Mascarenhas, conde da Torre, e a holandesa, comandada por Willen Corneliszoon,
num combate que seria eternizado em quatro gravuras de Frans Post.
No ano de 1646, armadas com paus, pedras, panelas, pimenta e água
fervente, as mulheres de Tejucopapo, atualmente distrito do município, venceram os
holandeses que ameaçavam suas terras e famílias.
Goiana participou intensamente dos movimentos libertários da Província
de Pernambuco, sendo a primeira cidade brasileira a considerar livre todos os seus
escravos/as por um decreto da Câmara de 25 de março de 1888, antecipando-se à
Lei Áurea.

86
As pesquisas do descendente Américo de Abreu meu tio, um apaixonado
por genealogia familiar, nos auxilia a revelar que por volta da metade do século
XVIII, no ano de 1755 nascia na cidade de Aracati nosso Patriarca nº 3 - Honório
José de Abreu transferindo-se depois para cidade de Sobral via Estrada Geral de
Jaguaribe.
Entretanto, em face da distância temporal vigente e das parcas informações
existente no Brasil Colônia, temos poucos dados acerca dos irmãos e parentes deste
patriarca residentes naquelas paragens.
No Estado do Ceará, Aracati se transformava em maior produtor de carne
seca e no principal porto de exportação deste bem para as regiões canavieiras, além
de continuar a ser um ponto de apoio militar (Fortim de Aracati), agora com o intuito
de proteger o porto, as transações comerciais e os habitantes contra os contínuos
ataques de índios como os payacu.
Embora a separação com o Estado de Pernambuco e o desenvolvimento do
comércio algodoeiro tenham criado condições econômicas e administrativas para
transformar Fortaleza no principal centro urbano do Estado do Ceará, as oligarquias
estavam longe de permitir tal hegemonia. Principalmente daquelas áreas oligárquicas
contrária onde a mais rica e influente era a de Jaguaribe.
Esta rota fora o local e a principal via de colonização da capitania cearense
através da concessão de sesmarias para a pecuária no final do século XVIII, sendo o
principal eixo de abastecimento de gado para outras capitanias e depois para as char-
queadas litorâneas bem como possuir uma destacável área de cotonicultura e entre-
posto comercial com o Recife.
Com o fim da vinculação a Pernambuco em 1799, o Ceará passou a subme-
ter-se diretamente a Portugal ganhando direito de comercializar com a metrópole sem
intermediação.
Agora, em vez de capitães-mores o Estado seria administrado por gover-
nantes nomeados pela Coroa. Até 1821 o Ceará apresentou cinco governadores todos
militares portugueses, vindo da decadente nobreza lusitana e sem experiência de ad-
ministração, eram todos gerentes imberbes e aproveitadores da Colonia.
Os efeitos causados pelas secas de final de século fizeram com que os lati-
fundiários começassem a pensar em pedir auxílio a Coroa. Em 1803 a Câmara de
Vereadores de Fortaleza enviara ao príncipe Regente uma carta onde eram relatadas
as dificuldades atravessadas pela Capitania devido as secas que haviam prejudicado
a agricultura e as rendas reais.
No final do século XVIII com o reinado de D. Maria, Portugal dotou o Ce-
ará de uma nova orientação administrativa visando explorar as capitanias foi quando
o governador Barba Alado, realizou o primeiro censo da população cearense calcula-

87
da em (125.878) pessoas, residindo na bacia do Jaguaribe (78.779), enquanto Forta-
leza teria apenas (9.624) habitantes.
Foi a capitulação neerlandesa aos portugueses assinada no Campo do
Taborda, no Recife, na regiao de Goiana em 1654 que proporcionou a caminhada dos
ascendentes de Honório José de Abreu rumo ao Estado do Ceará via Rio Grande do
Norte.
O tratado chamou-se Taborda, pois este foi feito nas terras e na casa do
pescador Manuel Taborda. Diante deste cenário os neerladeses iniciaram as
negociações de capitulação.
O chefe do Conselho de Justiça do Brasil Neerlandês, Gilbert de With, foi
um dos negociadores deste acordo, que acatado junto ao Governo Geral Neerlandês
foi traduzido, e entregue aos portugueses e por este aceito.
As condições impostas por esse tratado eram que a Companhia Neerlandesa
das Índias Ocidentais, abdicava de todas as posses no Brasil e que os neerlandeses
deixariam para sempre o solo brasileiro.
Este acordo tinha várias cláusulas, que procurava resolver e regularizar as
condições existentes dos neerlandeses nas terras brasileiras, como: os casamentos
entre neerlandeses vivendo com brasileiras e portuguesas e as suas distintas posses e
propriedades.
Com a emigração de perseguidos que fugiam após a rendição dos
holandeses e de outros interesses, muitos seguiram para Aracati, enquanto outros se
deslocaram para região Norte do Estado do Ceará.
Anos depois em suas andanças e em busca de melhores condições de vida
pelos sertões do Ceará, Honório José de Abreu é um daqueles jovens que também
decide se estabelecer na Fazenda Caiçara, atualmente Sobral.
Naquelas paragens foi em 1756, edificada a Matriz da Caiçara e ao redor
desta aglutinou-se um povoado. Depois foi construída a Igreja do Rosário e do Bom
Parto, e em torno destas surgiram moradias.
Padre Sadoc Araújo relata e data suas pesquisas a partir de 1680, afirmando
que foi Pedro Cardoso de Abreu a primeira pessoa branca da Família dos Abreu no
Ceará habitar a Zona Norte do Estado.
Casado com Joana Delgado. Pedro Cardoso de Abreu falece em 1781 em
Sobral deixando 4 filhos: Pedro Cardoso de Abreu Júnior, casado com Teresa de
Jesus Freitas e Clara Azevedo Farias; Eusébio de Sousa Farias, casado com Maria da
Conceição, Leandro Cardoso de Abreu, casado com Antônia Costa; e Clara Joaquina
de Azevedo, casada com Miguel da Cunha Pereira.
Segundo relato do Padre Linhares em seu livro “Notas Históricas da cidade
de Sobral” Honório José de Abreu chegou àquela cidade por volta do ano de 1763,

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já casado, tendo dezoito anos de idade, acompanhado de irmãos que não conseguimos
os nomes e de uma família de escravos/as provavelmente vindos da região jaguari-
bana.
Ainda segundo os relatos do Padre Sadoc, no final do século XVIII, Honó-
rio José de Abreu já residia na vila de Sobral de onde tirava a subsistência dos min-
guados rendimentos da produção agrícola do sítio dos Prazeres, na serra da Meruoca,
que arrendara de Manuel Rodrigues Magalhães, segundo arrolamento feito por or-
dem da Câmara de Sobral no ano de 1788.
Não se conhecem os motivos que fizeram nosso Patriarca nº 3 contrair três
matrimônios, talvez se relacione com o ciclo do couro e das charqueadas associadas
as secas atuantes no Nordeste.
Honório José de Abreu foi casado em primeiras núpcias, com Rosa Maria
da Conceição, natural de Russas, uma localidade famosa e rica na produção da pecu-
ária; em segundas núpcias, na Matriz de Sobral, em 1783, com Rita Camelo Pessoa
(a única que lhe deu filhos), oriunda do Cariri Novos no Ceará, filha de Francisco
Camelo Pessoa, natural de Pernambuco, e Elena Fonseca Marques, natural de Goi-
ana, daí nossa ligação com Pernambuco; e, em terceiras núpcias em 1796, na Matriz
de Sobral, com Ana Maria de Azevedo, filha de Pedro Cardoso de Abreu Junior e
Teresa de Jesus Freitas.
Honório José de Abreu e Rita Camelo Pessoa tiveram em Sobral, diversos
filhos/as, como afirma Sebastião de Abreu. Entretanto só conhecemos três deles:
João Honório de Abreu nascido em 24 de junho de 1783, Francisco Honório de
Abreu nascido em 1784 e Josefa da Cunha Rosa nascida em 1787.
Nos levantamentos produzidos pelos descendentes Américo de Abreu e Al-
fredo Marques, Francisco Honório de Abreu era conhecido tanto por “Pai Chiqui-
nho”, como Francisco Camelo Pessoa Neto, visto não apresentar o sobrenome de
Honório José de Abreu.
Diante das novas pesquisas adquiridas no ano de 2013, nos conforta saber
quem foram os avós paternos e maternos bem como alguns irmãos e filhos de Honó-
rio José de Abreu, pondo um final há anos de pesquisa iniciados por nossos parentes
escritores.

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90
5

Os caminhos
dos descendentes
de Honório José de Abreu

Nossa empreitada neste capitulo, é buscar a origem, rumo e esteios que nor-
tearam os caminhos dos descendentes de Honório José de Abreu em sua longa jor-
nada de praticamente três séculos Brasil a dentro, na elaboração do que atualmente
se entende por “família”.
Os caminhos de qualquer grupo humano civilizado sempre tem passado
pelo crivo da quiralidade e do domínio simbólico, mesmo tendo estes apresentado os
mais distintos nomes e variações culturais. É seguindo essa linha de entendimento
que as pessoas tanto do Oriente quanto do Ocidente elaboram como desejam vislum-
brar o que chamam de Caminho visando constituir família.
Somos seguidores daqueles que se estabeleceram ao longo dos tempos em
contextos diversificados elaborando através de insight, ideias e experimentos o que
consideravam adequado para servir como guia para seus descendentes constituírem
núcleos sociais. Entretanto, todos seguiram um mesmo estilo visando construir famí-
lias e rebentos.
Usando a quiralidade como origem da vida, as diferentes sociedades
expalhadas pelo planeta, foram constituindo o matriarcado, o monoteismo o
criacionismo, o naturalismo, o racionalismo e até mesmo o evolucionismo, todos eles
aspectos distintos do Monismo.
Então como caminhou a humanidade com os fundamentos que nossos
antecedentes passaram a assimilar?
A quiralidade foi o instrumento inicialmente utilizado de forma ex-
perimental por todas as culturas, visto o próprio organismo humano e tudo
que se encontra na Natureza ser visto como expressão de dois aspectos de
uma unidade chamados de: direita-esquerda, certo-errado, claro-escuro, etc.,
um rol de polaridades que as culturas estabelecidas utilizavam sem saber
como se processava para nortear seu agir.
91
Somente após muitos séculos de experimentos foi a quiralidade des-
coberta através do que atualmente denominamos de compostos químicos en-
contrados nos organismos vivos, entretanto, continua sendo um dos proble-
mas para o qual as ciências não têm uma solução para sua origem.
A quiralidade é uma designação associada à Química mas simulta-
neamente é um fenómeno que se manifesta em tudo o que é organismo vivo
da Natureza.
A questão base para a qual os pesquisadores ainda não encontraram
uma resposta é a origem de tal ocorrência, se a quiralidade é típica dos com-
postos químicos associados à Vida, ela deverá ter acontecido antes da pró-
pria Vida, de modo a condicioná-la e a construí-la tal como hoje a conhece-
mos.
No entanto, pelo menos à luz dos conhecimentos atuais, a quirali-
dade nunca surge de modo espontâneo.
Para compreender a quiralidade, observe o que ocorre com a ima-
gem no espelho de um dado objeto que não é sobreponível com ele. Por
exemplo, suponhamos que uma dada pessoa tem um sinal na face, do lado
direito.
Quando se olha ao espelho, esse sinal irá aparecer colocado do lado
direito da cara. No entanto, se a imagem saísse do espelho e viesse se colocar
ao lado da pessoa, o que aconteceria?
Essa pessoa teria o sinal do lado esquerdo. Assim, o rosto da pessoa
e a sua imagem não são sobreponíveis, esse é o caso do fenômeno da quira-
lidade quando se manifesta macroscopicamente.
Com base no mesmo procedimento, poderá se verificar que, na Na-
tureza, muitos objetos não são sobreponíveis com a sua imagem especular.
O que se passa é que é necessário haver não simetria para tal propriedade se
manifestar.
Por exemplo, uma colher tem plano de simetria, logo há sobreposi-
ção com a sua imagem no espelho, mas o mesmo não acontece com as mãos:
a mão esquerda é a imagem no espelho da mão direita mas, quando tentamos
sobrepô-las (a palma da mão esquerda sobre as costas da mão direita) não
há sobreposição.
Não é possível, para as duas mãos, a ocupação exata dos mesmos
pontos no espaço, e é este o motivo pelo qual não se consegue calçar de
forma correta uma luva da mão direita na mão esquerda e vice-versa.
A palavra "quiral" vem do grego "cheir" que significa mão. Por de-
finição, qualquer objeto é quiral se não for possível sobrepô-lo à sua imagem

92
num espelho plano no espaço tridimensional. Exemplos de objetos quirais
são as mãos humanas, os alimentos, os medicamentos, os saca-rolhas, as es-
cadas em caracol, etc.
Quiralidade é um fenômeno que permeia a Natureza. O corpo hu-
mano é quiral com o coração à esquerda da linha do centro, e o fígado à
direita. Por motivos quirais evolutivos observa-se que a maioria das pessoas
é destra. Muitas plantas apresentam quiralidade de maneira que se enrolam
em torno da estrutura de suporte.
Alguns compostos orgânicos são excelentes exemplos de manifes-
tação de quiralidade, devido serem constituídos de modo determinante por
átomos de carbono. O carbono é o elemento da Vida, e um dos motivos que
poderá ficar a dever-se às suas características únicas de poder formar quatro
ligações covalentes simples de modo equivalente
Os físicos, consideram que a maioria daquilo que eles chamam de
moléculas e que constituem as plantas e animais são quirais, e que apenas
uma forma da molécula quiral ocorre em uma dada espécie.
Os aminoácidos que formam as proteínas encontradas nos orga-
nismos vivos não são simétricos. Isto é, só existem aminoácidos naturais de
uma das formas enantiomorfas, a forma "esquerda". Isso quer dizer que o
arranjo dos átomos nessas moléculas espirala de forma contrária a um para-
fuso a saca-rolhas normal.
Nas proteínas dos organismos vivos, bactérias, virus, plantas e
animais, os aminoácidos são todos esquerdos (tipo L). Até hoje ninguém
sabe o motivo desse esquerdismo da Natureza. Entretanto, quando um ami-
noácido é sintetizado em laboratório, ambas as espécies (esquerda e direita)
são produzidas.
A origem das propriedades biológicas relacionadas à quiralidade
é comparada à especificidade de nossas mãos com suas luvas; assim, a ca-
racterística para uma molécula quiral em um sítio de recepção quiral é ser
favorecida apenas por uma direção.
Louis Pasteur no século XVIII, foi o primeiro a notar a relação
existente entre a quiralidade e os organismos vivos. Ele observou que a
maior parte dos produtos orgânicos naturais são quiralmente puros, enquanto
que os produtos artificiais obtidos no laboratório e as espécies minerais são,
aquirais.
O físico francês Jean Baptiste Biot descobriu que alguns líquidos
eram opticamente ativos, giravam a direção da polarização da luz que pas-
sava por eles. Ele considerou que isso se devia a uma falta de simetria nas

93
moléculas do líquido.
Experiências com o ácido tartárico, obtido das uvas, por Pasteur
mostravam que soluções desse ácido eram opticamente ativas enquanto ou-
tras não eram. Essas soluções que não modificavam a polarização da luz
eram chamadas de "racêmicas".
Do ponto de vista das outras propriedades físicas e químicas, os dois
tipos de solução eram idênticos, mas, foi então que Pasteur olhando um pre-
cipitado com cristais de ácido tartárico ao microscópio, descobriu que os da
solução opticamente ativa eram todos iguais.
Mas, os cristais que vinham da solução racêmica, opticamente não
ativa, eram de dois tipos. Examinando com cuidado, ele viu que esses cristais
eram enantiomorfos - um tipo era a imagem do outro.
Pasteur conseguiu separar os dois tipos de cristais obtidos na solu-
ção racêmica e depois, preparando uma solução de cada tipo de cristal, ob-
servou que ambas eram opticamente ativas. Só que uma girava a polarização
da luz em um sentido e a outra girava no sentido oposto
Daí, pode-se concluir que a solução racêmica não era ativa porque
continha cristais, em igual número, girando a polarização em sentidos opos-
tos mas porque uns anulavam o efeito dos outros.
Dez anos depois ele faria outra descoberta na mesma área e avança-
ria no entendimento da quiralidade das moléculas biológicas com auxílio de
outro químico o holandês Jacobus van't Hoff, ao observar que as moléculas
biológicas com quiralidade, com atividade óptica, teriam essa característica
por conta de uma não simetria no próprio arranjo dos átomos dessas molé-
culas.
Desde a época de Pasteur e Hoff, tem-se chegado à conclusão que
são quiralmente puros não só os produtos naturais dos organismos, mas as
suas moléculas constituintes as proteínas e os ácidos nucleicos.
É uma condição suspeita e utilizada pelas civilizações antigas tais
como as chinesas, indianas e egípcias, as quais se basearam no quiralismo
para elaborar seus caminhos, religiões e modo de agir e formar cultura para
daí estabelecer o que hoje conhecemos por “família”.
Até mesmo os micro-organismos vivos são capazes de distinguir
entre "forma direita" e "forma esquerda", como foi demonstrado pelas expe-
riências de Pasteur e comprovada em 1815, pelo físico Jean-Baptiste Biot ao
verificar que certas substâncias orgânicas naturais, tais como a cânfora e o
óleo de terebintina eram capazes de girar o plano da luz polarizada oriunda
das ondas eletromagnéticas.

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Porque é que os organismos vivos fazem uso de substâncias qui-
ralmente puras? A quiralidade dos produtos naturais pode ser entendida
como uma consequência da quiralidade das proteínas, dado que estas catali-
sam a produção dos referidos produtos.
Porque é que as proteínas são, então, quiralmente puras? Estudos
experimentais e teóricos mostram que um número de estruturas poliméricas
incluindo proteínas e ácidos nucleicos, quando constituídas por monómeros
de quiralidade uniforme, se formam mais rapidamente e são mais estáveis
do que quando são obtidas a partir de uma mistura racémica.
Entretanto, a questão a ser considerada é como se originou a qui-
ralidade? Tal situação conduziu a humanidade a seguir uma das vertentes:
criacionismo, evolucionismo, naturalismo e derivados, visto tal situação se
encontrar associada ao problema da origem da vida.
É aceito que a vida, tal como a conhecemos, não podia existir sem
quiralidade. Disso resulta que, se fosse possível responder à questão sobre
como é que a quiralidade se originou, uma pergunta que é mais simples do
que a da origem da vida, a resposta à pergunta mais simples poderia dar
indicações sobre a mais difícil.
Em que medida é que estas questões sobre origem da quiralidade
pode ser respondida através da investigação? Esta é, uma situação contro-
versa e sem resposta que é aceita por todos.
Segundo um determinado ponto de vista, esta pergunta nunca po-
derá ter resposta porque ela refere--se a um dado conjunto de acontecimentos
que ocorreu antes do surgimento da vida e o caráter que a teoria tem para
apresentar explicações não é útil por causa da complexidade destes aconte-
cimentos.
No entanto, na medida em que os fenômenos em causa se regem
pela lei natural, eles podem, ser repetidos em laboratório fornecendo suporte
para apoiar até mesmo as conjecturas simbólicas envolvendo a vida.
Utilizando a cultura chinesa como exemplo por ter se mantido fiel
a prática do quiralismo, um dos argumentos sociais e organizadores da fa-
mília utilizados por eles há milhares de anos é o Taoismo, uma tradição que
enfatiza a vida em harmonia com o Tao que significa "caminho" obtido com
base na quiralidade da Natureza denominada por eles de yin-yang.
No Taoísmo, o termo Tao designa simbolicamente a fonte, a
dinâmica, o criador e a força motriz por trás de tudo que existe no Universo
e na Natureza.
É, basicamente, sem definição seu conhecimento, bem como a ma-

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neira de se passar do mundo quiral para o domínio do Tao, um universo
simbolico cuja experiência e linguajar dependem de cada povo e cultura.
Ao longo do tempo, foram sendo criadas formas institucionalizadas
do taoismo em diferentes escolas que, misturaram crenças e práticas, tendo
seguidores em diversas sociedades ao redor do mundo.
O simbolo do Tao traduzido como "caminho", assume um
significado sem definição e apenas de experimento, representando o que há
de profundo e misterioso na Realidade para seus adeptos fazendo com que
tudo seja como é, pois corresponde à ordem da vida de acordo com a lei
natural.
Assim, Ele é pensado como o argumento pelo qual a Natureza é, e
se torna o que ela é (a "Mãe"), ao escolher entre qualquer valor de seu
conteúdo normativo considerado como sustentáculo confiavel do
funcionamento do Universo, da Natureza e da vida.
Juntamente com o Budismo e o Confucionismo, o Taoísmo é um
dos principais esquemas de comportamento social da China. Acupuntura,
Herbalismo, Medicina, Meditação e Artes Marciais, são práticas de vida que
possuem ligações com o quiralismo.
Um dos principais ensinamentos do Taoísmo é a expressão da qui-
ralidade manifestada na Natureza, através da competição dos complementos
yin e yang que seriam duas energias simbolizantes e que devem ser mantidas
em equilíbrio.
Para os chineses, o excesso de qualquer uma destas duas energias é
considerado danoso como ocorre na quiralidade dos alimentos, medicamen-
tos, comportamento e da vida em geral.
O Taoísmo nasce com Lao Tsé e ensina que quando as duas ações
(yin e yang) estão em equilíbrio na personalidade humana tudo caminha em
harmonia buscando-se através da quiralidade da Natureza a descoberta do
Caminho do Tao.
A Medicina Chinesa constando de (conselho, alimentação, cuidado
e medicamento) como resultado desse agir, considera que as doenças são
causadas por falta de equilíbrio na energia circulante do corpo, chamada de
“chi”, um elemento do domínio simbólico.
O I Ching conhecido por livro das mutações com sua origem mitica
é um conjunto de signos que orientam os rumos da sociedade chinesa e cujo
atributos se relacionam com os elementos fogo, agua, terra, ar e madeira
estabelecendo a função familiar de cada componente na sociedade.
O povo chinês baseando-se principalmente nas mutações que os

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complementos yin-yang do chi produzem, assumem que o Caminho do Tao
não necessita de elocubrações simbólicas sofisticadas que judeus, arábes e
cristãos estabeleceram de forma exagerada “detalhando” o “caminho
simbólico” da quiralidade até atingir o Tao, um procedimento exclusivo da
fé, tido como um ato de indução daquilo que não se encontra garantido,
podendo e não ocorrer.
Podemos considerar este agir cultural como o terceiro estágio
evolutivo da quiralidade visto sua primeira ocorrência ter se realizado em
organismos não humanos durante o processo fuga-luta, enquanto o segundo
foi efetivado já em nível sensorial com humanos.
Os cnidários são os primeiros organismos multicelulares, que
habitam as costas, os fundos e as água abertas dos oceanos. No processo
fuga-luta se associam ao peixe palhaço fornecendo abrigo, proteção, delimi-
tando seus territórios, afastando predadores e servindo como local de de-
sova. Essa relação entre ambos se chama Mutualismo.
Não existe nenhum argumento e fundamento no mundo quiral que
possa garantir um ato simbolico indicando que possivelmente tenhamos de
modificar nossa compreensão de existência focada apenas na dimensão
espaço-tempo para aceitá-lo como parte de nós.
Após a simbolização do Tao ter sido experimentada no Extremo
Oriente, foi a vez da cultura babilônica utilizá-la enaltecendo o carater
matriarcal (yin) denominado “Tiamat” sobrepujando o patriarcal yang
(Marduk).
Depois foi a vez dos judeus se afastarem daquele,
antropomorfisando e dando ênfase ao aspecto patriarcal(yang), com o nome
de Adão, colocando o matriarcado(yin) com o nome de Eva abaixo do yang,
criando um novo esquema para o Caminho do Tao agora sob a denominação
de “Deus”.
Também reformularam uma ideia original do povo egipcio
denominada de Monoteismo que atuava no mundo quiral através do uso das
polaridades “Geb e Nut”.
Para tanto os judeus substituiram o Tao por, Javé, colocaram no
lugar do Matriarcado da Natureza, o Criacionismo patriarcal com o
predominio da Palavra forjando a estória da “queda” visando sufocar os
cultos assírio-babilônicos até que uma nova façcão não ortodoxa judia
criasse o Filiacardo messiânico cristão, humanizando o “messias”, um vir-
a-ser que nunca será, agindo como um novo caminho de verdade e vida.
Não satisfeitos com todo esse jogo de elementos simbólicos, esta-

97
beleceram a “ligação” entre humanos “eleitos” e o Criador através da
chamada “Escada de Jacó”, ensinada nos ritos cabalísticos dos textos
biblicos, criando para o Ocidente mais uma versão do “Caminho” original a
ser seguido por muitos terráquios até os dias atuais.
Mas, foram principalmente os gregos e romanos ocidentais quem
finalmente alteraram e ampliaram a distorção da quiralidade original mitica
dando um toque renovador na forma que hoje ela chega a ser praticada nas
escolas, sociedades e tudo que se relaciona com o conhecimento na
formação da instituição da família.
O surgimento das ideologias: filosofia, religião e ciência apoiadas
pela tecnologia vigente, tornaram o Caminho do Conhecimento iniciado pela
quiralidade animica e depois experimentada de modo natural no Extremo
Oriente, utilizando os elementos fogo, agua, terra, ar e madeira em
argumentos antagônicos do tipo espirito - materia, interior - exterior,
consciente - inconsciente, fisico - metafisico, capitalismo - socialismo,
substituindo a complementaridade das polaridades pelo oposição dos
contrários criando a “dualidade”.
Daí para frente a ética natural tornou-se filosófica e base da moral
substituindo os aforismos comportamentais que orientavam o “Caminho”, e
tudo mais por instrumentos simbolizantes entendidos como racionais com a
compreensão do Tao sendo alterada inicialmente por Heráclito e depois pelo
mundo das ideias platonicas.
Era o surgimento da quarta fase evolutiva da fenomenologia quiral.
Uma etapa onde a criação dual greco-romana denominada espirito-materia,
e depois ampliada por outros pensadores ocidentais se tornaria a maior
mazela simbólica que uma sociedade poderia produzir no proposito de
destruir a elaboração de um caminho milenar constituido.
A quiralidade taoista antes baseada na energia simbolizante do chi,
era agora exposta em forma de particulas inventadas pelo grego Leucipo
através de átomos formadores da substância(matéria viva e não viva)
estudada em todos os locais do Ocidente onde se buscava praticar o saber e
o conhecimento.
Após Pasteur ter chamado de mistura racêmica, o racemato a mis-
tura inicial das duas substâncias em partes iguais, que não desvia o plano da
luz polarizada, tais observações estabeleceram as bases para o surgimento
da estereoquímica, que é a parte da química orgânica dedicada a estudar as
moléculas em três dimensões.
Nela as simetrias são do tipo geométrico, envolvendo formas no es-

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paço. Entretanto, os matemáticos e físicos trabalhando com entendimento
amplo de simetria, assumiram além da simetria espacial, a existência da si-
metria também no tempo e outras ainda sutís.
Uma delas, é a simetria da paridade, considerada como regra para
os fenômenos físicos. Em 1957, foi demonstrado que certos fenômenos sub-
nucleares não obedecem a essa simetria. A matemática alemã Emmy No-
ether, nascida em 1882 em Göetingen enunciou o teorema que passou a ser
conhecido como "teorema de Noether".
Esse teorema associa cada simetria em Física a uma lei de conser-
vação. A simetria das leis físicas em relação ao tempo resulta na conservação
da energia.
Hoje, o trabalho dos físicos consiste, em boa parte, na busca e com-
preensão de simetrias e suas leis de conservação associadas. Algumas dessas
simetrias são simples, como a rotação e a reflexão outras são complicadas,
como a "simetria de calibre"", de "gauge".
As leis da Eletrodinâmica Quântica, têm simetria de "gauge". Par-
tindo dessa hipótese de simetria, chega-se a as propriedades das forças ele-
tromagnéticas.
Assim, os argumentos de simetria orientam até mesmo, a descrição
das forças que agem dentro do núcleo atômico e seus componentes. Essas
são a "força forte" e a "força fraca" dos núcleos atômicos que também obe-
decem a simetria de "gauge".
Como o Universo não é quiral, e tampouco as ondas
eletromagnéticas, não existe qualquer garantia de que se possa utilizar o
dominio simbolico pelos fisicos e matematicos para se trabalhar a
quiralidade da Natureza e da Vida através de tais artifícios.
Partindo de elementos atômicos, como suposições aprioristicas
herdadas da cultura greco-romana produtora de resultados condizentes com
as necessidade humanas, as tecnologias apoiadas pelas academias e
instituições educacionais modificaram mais uma vez a compreensão de
quiralidade.
O apriori tomou conta da educação e do agir comportamental da
sociedade ocidental, o Caminho passou a ser enquadrado como regras
canônicas impostas pelo surgimento da Igreja, da Ciência e do Direito
produzindo uma Instituição familiar construída sob um novo terreno social
que atualmente aceitamos e divulgamos considerando estarmos seguindo
para lugar algum que as comunicações midiaticas passaram a dominar.
As abordagens criacionistas surgentes falam de um criador do Uni-

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verso, da vida e da humanidade, com o objetivo de responder às indagações
existenciais humanas em todas as épocas e em todas as civilizações tentando
substituir a quiralidade.
Assim, na tentativa de explicar a essência da existencia e da vida os
humanos buscam estabelecer um elo entre o compreensível e o não
compreensível, entre o físico e o não fisico com respostas visando atender
ritos e culturas, esquecendo o papel da quiralidade.
Tais argumentos, em alguns casos refutam evolucionismo e em
outros o aceitam parcialmente, com ressalvas.
Criacionistas acreditam que a evolução não pode explicar
adequadamente a história, a diversidade e a complexidade da vida na Terra.
A educação, saude e familia do mundo ocidental. se tornaram
apenas instrumentos virtuais de tudo quanto possuiámos quando a
quiralidade da vida e da Natureza, assimilada pelo simbolico humano
transformou a humanidade no jogo daquele que mais possuem e podem
mais, estabelecendo e limitando a continuidade da instituição familia hoje
em extinção.
O caos dessa onda criacionista ampliada pelo catolicismo, ocorreu
na Idade Média, um momento obscuro na busca pelo Caminho, por conta
da nova simbolização cristã implantada com seus desmandos devido a lepra
entrando em cena, um mal que assombrou, e produziu esterilidade na soci-
edade europeia durante anos.
O cristianismo agora sob a denominação de Catolicismo
transformou a quiralidade yin-yang na dualidade “bem ou mal”,
sacramentalizando a loucura e obrigando seus adeptos a subserviência
simbólica, com a invenção e implantação de suas principais ideologias:
batismo, não dissolubilidade do casamento e proibição da sexualidade
humana de seus divulgadores na tentativa de manter o bem(yin) e ocultar o
mal(yang) a qualquer custo, contriariando o patriarcado judaico(yang).
Para Erasmo de Roterdão, a loucura se compara a um dos deuses,
filha de Plutão e Frescura, educada pela Inebriação e Ignorância, cujos
companheiros fiéis incluem Philautia (amor-próprio), Kolakia (elogios),
Lethe (esquecimento), Misoponia (preguiça), Hedone (prazer), Anoia
(Loucura), Tryphe (falta de vontade), Komos (destempero) e Eegretos
Hypnos (sono morto).
Do século XIV ao XVII, tinha surgido no mundo ocidental uma
encarnação do mal, um esgar do medo, com mágicas de purificação e ex-
clusão resultante dessa busca pelo Caminho.

100
A partir da Idade Média, e até o final das Cruzadas, os leprosários
tinham se multiplicado por toda a Europa. Paris chegou a possuir 19.000
deles em toda a cristandade.
As pessoas celebravam o não aparecimento da lepra em 1635, onde
os habitantes de Reims faziam procissão solene para agradecer a Deus por
ter libertado a cidade desse flagelo.
Ao retirarem os leprosos do mundo e da comunidade visível atra-
vés da Igreja, as pessoas consideravam que sua existência era uma mani-
festação de Deus, uma vez que, no conjunto, ela indicava sua cólera e
marca de bondade perdida.
Com o fim da lepra, o leproso da memória, essas estruturas per-
manecerão. Pobres, vagabundos, presidiários e "cabeças alienadas" assu-
mirão o papel abandonado pelo lazarento.
A lepra foi logo em seguida, substituída pelas doenças venéreas.
De repente, ao final do século XV, elas sucede-na como por direito de he-
rança.
Os sifilíticos se tornam tão numerosos que foi necessário pensar na
construção de edifícios "em lugares espaçosos de cidades e arredores, sem
vizinhança". Nascia uma nova lepra, que tomaria o lugar da primeira.
No entanto, não são as doenças venéreas que assegurarão, no mundo
europeu, o papel que cabia à lepra no interior da cultura medieval, este foi
assumido pela loucura.
Fato curioso a considerar: é a influência do modo de internamento,
tal como se constituiu no século XVII, que a doença venérea se isolou, em
certa medida, de seu contexto de saúde e se integrou, ao lado do apareci-
mento da loucura, num espaço moral de exclusão.
Mas será necessário um longo momento de latência, quase dois
séculos, para que esse novo espantalho, que sucede à lepra nos medos se-
culares, suscite como ela reações de divisão, exclusão, purificação que no
entanto lhe são aparentadas de maneira evidente.
Antes de a loucura ser estabelecida, por volta da metade do século
XVII, antes que se ressuscitem, em seu favor, velhos ritos, ela tinha estado
ligada, a todas as experiências da Renascença. As heresias religiosas come-
çaram a polular por toda Europa sob o disfarce de espiritismo, protestan-
tisco, anglicanismo, calvinismo, etc.
Os loucos tinham uma existência errante. As cidades escorraça-
vam-nos de seus muros; deixava-se que corressem pelos campos distantes,
quando não eram confiados a grupos de mercadores e peregrinos. Esse cos-

101
tume era freqüente particularmente na Alemanha. A denúncia da loucura
tornava-se a forma geral da crítica social.
Se a loucura conduz todos a um estado de cegueira onde todos se per-
dem, o louco, pelo contrário, lembra a cada um sua verdade; na comédia em
que todos enganam aos outros e iludem a si próprios, ele é a comédia em
segundo grau, o engano do engano.
Até a segunda metade do século XV, e mesmo um pouco depois, o
tema da morte imperava sozinho. O fim do humano, o fim dos tempos
assume o rosto das pestes e das guerras. O que domina a existência humana
é este fim e esta ordem à qual ninguém escapa.
A presença da loucura é uma àmeaça do mundo é uma presença não
encarnada. E eis que nos últimos anos do século esta não quietude gira sobre
si mesma: o desatino da loucura substitui a morte e a seriedade que a acom-
panha.
Da descoberta desta necessidade, que fatalmente reduzia o humano
a nada, passou-se à contemplação desdenhosa deste nada que é a própria
existência. A substituição do tema da morte pelo da loucura não marca uma
ruptura, mas sim uma virada no âmbito dessa falta de quietude.
Não é mais o fim dos tempos e do mundo que mostrará retrospec-
tivamente que os humanos eram uns loucos por não se preocuparem com
isso; é a ascensão da loucura, sua surda invasão, indica que o mundo está
próximo de sua derradeira catástrofe; é a demência humana que a invoca e
a torna necessária devido a perda total do Caminho.
Esse liame entre a loucura e o nada é tão estreito no século XV que
subsistirá por muito tempo, e será encontrado ainda no centro da experiência
clássica da loucura. Sob formas diversas — plásticas e literárias — uma
experiência da falta de senso que parece de extrema coerência.
Figura e palavra ilustram a fábula da loucura no mundo moral; mas
logo tomam direções diferentes, indicando, a ciência como aquela que
será a grande linha divisória na experiência ocidental da sociedade.
A ascensão da loucura ao horizonte da Renascença é percebida
através da ruína do simbolismo gótico. Um livro é testemunha dessa prolife-
ração de sentidos: o Speculum humanae salvationis, que além de todas as
correspondências estabelecidas pela tradição dos padres valoriza, o An-
tigo e o Novo Testamento, em um simbolismo que revela não a ordem da
Profecia, mas a equivalência do imaginário.
As figuras simbólicas se tornam silhuetas de pesadelo. Esta sabe-
doria passa a ser prisioneira das loucuras do sonho. Conversão do mundo das

102
imagens: a coação de um sentido multiplicado o libera do ordenamento das
formas.
Tantas significações diversas se inserem sob a superfície da ima-
gem que ela passa a apresentar apenas uma face enigmática perdendo daí
em diante todo valor humano para ser tardiamente conquistada pela tecno-
logia do século XX, seu poder não é mais o do ensinamento do Caminho
mas o do fascínio.
A liberdade, ainda que apavorante, de seus sonhos e os fantasmas
de sua loucura têm, para a pessoa do Ocidente do século XV, mais poderes
de atração que a realidade da carne.
Qual é, esse poder de fascínio que se exerce através das imagens da
loucura? De início, o humano descobre, nessas figuras, um dos segredos e
uma das vocações de sua natureza. E, por inversão, é o animal, agora, que
vai apoderar-se dele e revelar-lhe sua verdade.
A animalidade escapou à domesticação pelos valores e símbolos; e
se ela agora fascina a humanidade com sua falta de ordem, seu furor, sua
riqueza de monstruosidades, é ela quem desvenda a raiva obscura, a loucura
estéril que reside no coração das pessoas.
No pólo oposto a esta natureza de trevas, a loucura fascina porque é
um saber. Ê saber, de início, porque todas essas figuras absurdas são, na
realidade, elementos de um saber difícil, fechado e simbólico.
Enquanto o racional e sábio só percebe desse saber algumas figu-
ras fragmentárias — e por isso mesmo não quietantes —, o louco o carrega
inteiro em uma esfera intacta: essa bola de cristal, que para todos está
vazia, a seus olhos está cheia de um saber que não é visível.
Assim, o mundo mergulha no furor universal, onde a vitória não
cabe mais nem ao yin e nem ao yang, mas à loucura.
Em todos os lados, a loucura passa a fascinar o humano ocidental.
As imagens fantásticas que ela faz surgir não são aparências fugidias que
deixam de aparecer da superfície do Ocidente.
Quando o humano desdobra o arbitrário de sua loucura, encontra a
sombria necessidade do mundo; o animal que assombra seus pesadelos e
suas noites de privação é sua natureza, aquela que porá a nu a implacável
verdade do Inferno.
Após a Renascença, a loucura abandona seu lugar modesto, passando
a ocupar o primeiro posto. Ela surge e conduz o coro alegre de todas as
fraquezas humanas. Privilégio absoluto ela reina sobre tudo o que há de
animalesco nos humanos.

103
Sobre a ambição que faz os sábios e políticos, sobre a avareza que
faz crescer as riquezas, sobre a discreta curiosidade que anima os filósofos
e cientistas, a loucura atrai, mas não fascina. Ela governa tudo o que há de
fácil, de alegre, de ligeiro no mundo. É ela que faz os humanos "se agitarem e
gozarem", assim como os deuses.
Sem dúvida, ela tem a ver com os estranhos caminhos do saber.
Mas se o saber é tão importante na loucura, não é que esta possa conter os
segredos daquele; ela é, pelo contrário, o castigo de uma ciência que não é útil.
Se a loucura é a verdade do conhecimento, é porque este não é sig-
nificante, e em lugar de dirigir-se ao texto da experiência, perde-se na
poeira dos textos e nas discussões ociosas e assim, a ciência acaba por
desaguar na loucura pelo excesso das falsas ciências.
A loucura aparece como a punição imagética do saber e de sua pre-
sunção ignorante. É que, de modo geral, ela não está ligada ao mundo e a
suas formas subterrâneas, mas sim ao humano, a suas fraquezas, seus so-
nhos e suas ilusões.
A loucura só tem sentido em cada pessoa, porque é ela que a cons-
titui no apego que demonstra por si mesmo e através das ilusões com que
se alimenta com relação ao tipo de caminho escolhido.
A philautia do cristão confuso é a primeira das figuras que a lou-
cura arrasta para sua dança, porque estão ligadas uma à outra por um paren-
tesco privilegiado: o apego a si próprio é o primeiro sinal da loucura, mas é
porque o humano se apega a si próprio que ele aceita o erro como verdade,
a mentira como realidade, a violência e a feiúra como a beleza e a justiça.
Nesta adesão simbolizante a si mesmo, o humano faz surgir sua
loucura como uma miragem. O símbolo da loucura é o espelho que, nada re-
flete de real, para aquele que nele contempla, o sonho de sua presunção.
A loucura não é mais que a estranheza familiar do mundo, é ape-
nas um espetáculo conhecido pelo espectador, não é mais figura do simbó-
lico, mas traço de caráter do humano.
São essas descobertas, e apenas elas, que nos permitem, consi-
derar que a experiência da loucura que se estende do século XVI até hoje
deve sua figura particular, e a origem de seu sentido, a ausência, a essa noite
e a tudo o que a ocupa com o trilhar do Caminho.
A bela retidão que conduz o pensamento à análise da loucura
como doença mental deve ser reinterpretada numa dimensão vertical; e
neste caso verifica-se que sob cada uma de suas formas ela oculta de uma
maneira completa e perigosa essa experiência trágica que a retidão não con-

104
seguiu reduzir.
O abismo da loucura em que estão mergulhados os humanos do
Ocidente é tal que a aparência de verdade que nele se encontra é simulta-
neamente sua contradição.
A loucura não é um poder abafado, que faz explodir o mundo reve-
lando fantásticos prestígios; ela não revela, no crepúsculo dos tempos, as vi-
olências da bestialidade, e a luta entre o saber e a proibição.
Mas este caminho, mesmo quando não leva a nenhuma sabedoria,
mesmo quando a cidadela que ele promete não passa de miragem e loucura
renovadas, esse caminho é em si o caminho que se for seguido redundará
em ilusão.
A loucura é a forma mais pura, e total do qüiproquó: ela toma o falso
pelo verdadeiro, a morte pela vida, o homem pela mulher, a enamorada pelo
Erineu e a vítima por Minos. Mas é a forma mais rigorosamente necessária
do qüiproquó na economia dramática, pois não necessita de nenhum ele-
mento para chegar ao desfecho.
Nela se estabelece o equilíbrio, mas ela oculta este equilíbrio sob
a névoa da ilusão, sob a falta de ordem fingida; o rigor da arquitetura se
esconde sob a disposição hábil dessas violências.
A loucura deixou de ser, nos confins do mundo, do humano e da
morte, uma figura escatológica; a noite na qual ela tinha os olhos fixos e
da qual nasciam as formas do imaginário. Cada forma da loucura encontra
um lugar marcado, suas insígnias e seu deus protetor, mantendo todas as
aparências de seu império.
Como se pode observar o fenomeno quiral iniciado com o processo
fuga-luta dos organismos vivos, assumiu o simbolizante mitico, revelando o
Caminho, para depois retornar ao natural humano, quando mais uma vez foi
reduzido através da razão a um novo status não existencial enlouquecido
representativo das tecnologias de informação sob o signo “on-off”,
argumento capaz de incorporar as variações que os elementos constituintes
da Natureza, principalmente o carbono e oxigenio se submetem diante das
radiações eletromagnéticas denominadas de “efeito estufa”.
O que ocorreu de novo no fenômeno da quiralidade foi a inclusão
da variante causal, ondas eletromagnéticas, um elemento do Universo onde
o natural quiral passou a ser representado pela virtualidade “on-off”, como
novo estágio de sua evolução.
Esse novo estágio quiral produziu e produz transformações
alarmantes na elaboração do Caminho, os quais a maioria da humanidade

105
não se encontra preparada para absorvê-los.
Dentre eles se destaca uma nova ética não mais filosófica e racional,
mas baseada no conhecimento, o empalidecer vertiginoso da religião com a
supremacia da virtualidade e um experimento igual e equilibrado do
Caminho do Tao em todos os sentidos formando uma unica unidade
denominada Monismo.
Amostras deste novo momento se verifica nas tecnologias que
passaram a deter principalmente o controle do quiralismo, sao elas: as
industrias farmacêuticas, as de alimentos e as de informação e comunicação.
O caminho para qualquer constituição familiar que antes se baseava
na quiralidade dos grupos de sangue, superou a razão e agora é comandada
pelo “chip” e sua polarização “on-off”.
Remédios tipo concepcionais e aqueles ditos racionais, como os
biofármacos sao alguns exemplos de como a tecnologia farmacêutica
transformou a quiralidade a partir da polarização das ondas eletromagnéticas
em “fármacos racionais”.
Um dos assuntos fascinantes para alguém interessado na área de re-
médios é saber como uma substância química, utilizada como fármaco,
exerce a sua atividade em nosso corpo. A resposta a essa questão nem sem-
pre é simples e envolve estudos de complexidade e custo.
Entre os remédios à venda nas farmácias do país, existem alguns
que apresentam uma particularidade em sua estrutura, que é de fundamental
importância para a atividade biológica.
Alguns desses fármacos são quirais e têm quiralidade, tendo em sua
estrutura um a mais átomos (na maioria das vezes carbono) que apresentam
sua orientação tridimensional bem definida. A modificação dessa orientação
pode levar à diminuição do efeito biológico, sua total supressão e até mesmo
o aparecimento de efeito adverso.
Convém deixar claro que a quiralidade não é condição para que uma
substância apresente efeito farmacológico, entretanto se a estrutura tiver um
centro quiral carbônico é importante saber qual a orientação espacial respon-
sável por essa atividade.
Cabe ressaltar que as legislações brasileira e mundial, na área far-
macêutica, têm estabelecido limites à venda de fármacos cujas estruturas
apresentem quiralidade. Nesses casos, primeiro é necessário saber qual ori-
entação tridimensional do centro quiral é responsável pela atividade farma-
cológica. Esse conhecimento determinará como o remédio deverá ser con-
sumido pelo público.

106
Nesse aspecto, métodos químicos que permitam o controle da ori-
entação tridimensional do centro quiral, no momento em que o fármaco es-
teja sendo produzido, são de importância fundamental.
É aí que a síntese não simétrica, que é a reunião de estratégias e
métodos químicos que permitem efetuar o controle tridimensional de um
determinado centro quiral, mostra sua importância.
Observando a quiralidade corporal, atualmente, a produção mundial
dos medicamentos envolve produtos naturais, biológicos e sintéticos, onde
mais de setenta por cento do total, se relaciona ao domínio quiral, com a
maioria ligada a resolução de questões oriundas dos sistemas circulatório e
imunológico.
Do exposto, vemos como a ação de espectros de partes dessas ondas
viajantes gerando alterações na formulação de produtos farmaceutico,
alimentos e produtos de consumo depedem da quiralidade.
Além de modificar o caminho da humanidade mesmo produzindo
de forma otimizada novos limites e escolhas quirais a virtualidade não
fornece e tampouco garante que efeito isso produzir na quiralidade que a
Natureza estabeleceu para vida dos organismos humanos quando traçam seu
caminho buscando formar grupos familiares.
As sementes familiares revelam os possíveis caminhos de migração que os
Abreus ascendentes de Honório José de Abreu, seguiram pelo mundo há anos atrás.
O percurso não leva a localização exata de onde viemos, seus resultados
mostram apenas fragmentos da história de nossos ancestrais, onde eles viveram e
como eles migraram para o Brasil.
Tem-se apenas idéias de nossa origem européia desde o século II, em terras
de Portugal, através de residentes em São Paulo que admitem os Abreus existente no
país vindos das regiões, do Porto, Lisboa, do Minho e de outras paragens portuguesa.
Nossa rota entretanto, passa pelas localidades de Pernambuco até o Ceará
em Sobral a partir do século XVII, com informações e busca de resquício de algum
Caminho norteador o qual resultou na morte de vários Abreu como cristãos-novos,
no século XVIII.
Os cruzamentos étnicos e os processos aculturativos foram os estímulos que
os primeiros ascendentes de Honório José de Abreu no Nordeste do Brasil possuíam
para formar seus caminhos.
Como a Igreja Católica está baseada no Criacionismo patriarcal e
no Filiacardo messiânico, encontra-se presente na história brasileira desde a
chegada dos portugueses, contribuindo para a formação cultural, artística,
social e administrativa do país.

107
Sua relação com o Estado foi estreita no Brasil tanto na Colônia
quanto no Império, pois, além de garantir a disciplina social a qualquer
modo, também executava tarefas administrativas que hoje são atribuições do
Estado, como o registro de nascimentos, mortes e casamentos.
O clímax da loucura ocorreu por volta do século XX com o surgi-
mento de avanços tecnológicos atuando de forma destrutiva com experimen-
tos em humanos produzindo guerras mundiais e envolvendo comprometi-
mentos genéticos tipo alteração quiral causada pelo medicamento talido-
mida, uma tragédia ocorrida no final da década de 1950 principalmente na
Europa, onde foi lançado, ocasionando mais de dez mil nascimento de cri-
anças com membros deformados, como mãos, braços e pernas atrofiadas.
As drogas quirais que buscam atualmente apascentar o desvio da
alienação são atualmente as mais consumidas para controlar a depressão e
as doenças de natureza cardiovascular, como mostram os registros da Orga-
nizaçao Mundial de Saude na primeira economia mundial o EUA.
Miscigenação e aculturação envolvendo Ocidente e Oriente dando
ênfase ao teosofismo, hermetismo e atroposofismo com o nome de Nova
Era, liberalismo sexual e feminismo com o surgimento e aumento do con-
sumo de drogas, um artificio para encontrar o equilíbrio perdido na busca do
Caminho, foram disseminados por todo o planeta ampliando a loucura até
atingir o nível da alienação.
A alienação é a diminuição total da capacidade dos indivíduos em
pensar e agir por si próprios, onde não existe qualquer interesse em ouvir
opiniões alheias, mas apenas se ocupar com o que lhe interessa.
Esse mundo do começo do século XXI é estranhamente hospita-
leiro para com a loucura, presente no coração dos humanos, signo irônico
que embaralha as referências do verdadeiro e do quimérico, mal guar-
dando a lembrança das ameaças trágicas da vida, tornou-se fruto de pro-
funda miscigenação secular formada no caldeirão simbólico judaico, greco-
romano, africano e indígena, que destruiu toda e qualquer ideia existente
experimentada pelas tradição acerca da evolução do quiralismo no Brasil.
Nos tornamos pessoas sem qualquer atitude e compromisso com ne-
nhum Caminho, nossos deuses, anjos, santos e demônios são loucuras em-
prestadas que não permitem garantir a nenhum brasileiro: moral, ética e for-
mação cultural pois não possuímos sequer um liame relacionado com o que
éramos e de como fomos forjados, uma observação já propalada por Capis-
trano de Abreu em séculos passados quando se referia ao que restou dos
Abreus.

108
6

Terra
Prometida a
Honório José de Abreu

Então foi dito: "Saí de onde nascentes, do meio dos teus parentes e da casa
de teu pai, e vai para a terra que lhe mostrarei, pois, a tua descendência darei uma
terra repleta de leite e mel”. A Terra Prometida é o termo utilizado no texto para
descrever a terra conquistada pelos descendentes da família de Honório José de
Abreu. A promessa é feita primeiramente ao Patriarca nº 3 e depois renovada aos
seus descendentes.
Columinjuba é um pequeno lugarejo utilizado como base territorial de
nosso estudo, sua origem histórica embora não tenha sido escrita, o que se comenta
vem de longas datas. Foi habitado primeiro por indígenas, em seguida por João Ho-
nório de Abreu - Patriarca nº 4, primeiro branco que se tem notícia ali estabelecer
moradia. Dividiu-se sem perder o nome, sempre unido, coeso e forte suportando tudo
quanto foi de devastação, mudanças climáticas e melhorias.
Encontra-se no Município de Maranguape, distante onze quilômetros da
sede, seus relevos são serrotes e terras baixas classificadas como argilosa, pedregosa,
carrascosa e baixios. Encravado entre as bacias hidrográficas dos rios Pacoti e Ceará,
situa-se nas coordenadas: (3º580277 S e 38º431563 O). Limita-se ao norte com a
localidade de Jardim, a leste com Carnaúba, a sudeste com Ladeira Grande, ao sul
com Umarizeiras, ao sudoeste com a localidade de Cacimbão e ao oeste com a de
Trapiá.
Columinjuba não figura como distrito e nem vila, mas como propriedade
agrícola formando uma área média de nove quilômetros quadrados, em altitude de
185 metros acima do nível do mar, hoje pertencente ao distrito de Ladeira Grande.
A vegetação que ainda existe é composta por fruteiras, plantas e árvores
que não conseguem se desenvolver devido ser uma área explorada de forma aleatória
sem planejamento e qualquer tipo de estudo para plantação e cultivo. Isto persiste
desde o século XVIII, quando começou a ser dizimado por brancos através de um
109
tipo de cultura agrícola que não se adequava as condições ambientais.
Com agricultura parca, terras não adequadas para criação bovina, comércio
restrito ao estilo artesanal, percorrido por estradas vicinais e carroçáveis, Columin-
juba, possui boas residências, Casa de Fazenda, casas simples, energia elétrica, poço
com água tratada, granjas, escola de educação infantil, em suma, um princípio de vila
medieval com traços de urbanização aculturada.
Não possui qualquer tipo de entretenimento social para os residentes atuais,
contrariando o esplendor do que um dia já foi, sendo um lugar propício para invasão
de sem-terra face a proximidade da capital, bem como o desenvolvimento de prosti-
tuição um termo que foi substituído socialmente por outro denominado atualmente
de “ficar”.
O uso de drogas já ocorre normalmente pelos habitantes da comunidade.
Mesmo assim, esse território tem sido almejado e contestado desde sempre. O que a
vida nos ensina sobre esta terra, a quem pertence hoje, e quais são os planos que seus
habitantes e proprietários têm para seu futuro? É um enigma que propomos discutir
em busca de soluções.
Não resta mais nenhuma promessa referente ao Columinjuba e suas vizi-
nhanças. A oferta em dar terra aos descendentes de Honório José de Abreu para se
livrar do cativeiro, já se cumpriu. Não há mais distinção entre pobres, ricos e mise-
ráveis, pois, todos foram aquinhoados com algum naco de terra.
O propósito agora é reconhecer e cuidar da terra que nos deu vida e que um
dia foi abandonada por nossos antepassados e descendentes. Não resta mais nenhuma
dádiva a ser recebida, as juras de hoje tratam apenas da pátria, onde temos nossa
cidadania, almejemo-la.
O povoamento do Brasil após sua descoberta ficou restrito a postos no lito-
ral onde os navios chegavam em busca de produtos da terra; a pequena população da
Metrópole fez com que o Rei decretasse a proibição de ir além. O litoral do Nordeste,
pela facilidade de comunicação com a Europa tornou-se a principal base lusitana no
Brasil.
A partir do século XVI surgiram os principais núcleos açucareiros na Para-
íba, em Sergipe, no Recôncavo Baiano, e até no Maranhão e no Pará onde foram
estabelecidos vários engenhos.
No interior do Nordeste dominou a criação de gado para abastecer os cen-
tros do litoral. De Salvador, grande centro consumidor, os currais se expandiram
rumo ao Estado do Maranhão. O povoamento chegou até o Piauí, Ceará, sertão do
Pernambuco e Paraíba.
As condições climáticas influíram nas migrações rumo às áreas das serras
úmidas para a produção de alimentos e nas outras regiões para implantação de criação

110
bovina, exigindo um contínuo desmatamento causado pela "Civilização do Couro",
situação que se agravou durante os séculos XVII e XVIII na Zona da Mata do Nor-
deste alcançando os Vales do Rio São Francisco e Parnaíba.
As primeiras sesmarias concedidas no início do século XVIII envolvendo o
Município de Maranguape, tiveram como donatários o tenente Pedro da Silva e
Amaro Morais, em 1707; Jorge Silva, em 1711; capitão Soares de Oliveira, em 1717.
Em 1731, o Cel. Antônio José Vitoriano Borges da Fonseca Governador da
Província do Siará Grande concede a José Paes de Sousa a posse de terra data de
Sesmaria de três léguas pegando desde a ponta da Serra de Gereraú não incluindo a
localidade de Columinjuba, em meados de 1790, José Gonçalves Ferreira Ramos e
Felipe Loureço também foram donatários nesse período.
Em 1763, nasce na Vila de Guimarães, Freguesia de Salvador Talgide em
Portugal, Joaquim Lopes de Abreu, um nobre, filho de Domingos Lopes e Ângela
Maria de Abreu, aquele que seria considerado o “fundador” do município marangua-
pense. Em 1790, foi autorizado após solicitação aos reis de Portugal tomar posse
judicial das mesmas terras.
O povoamento, veio a tornar-se efetivo com a atuação deste português que,
por doação do governo na metrópole, entrou no domínio de algumas sesmarias, in-
corporando-as a outras anteriormente compradas.
Como fundador de Maranguape Joaquim Lopes de Abreu, não apresenta
qualquer parentesco com os três Abreu que saíram de Sobral, onde nasceram e fixa-
ram residência em Columinjuba, após terem perambulado pelas embocaduras do rio
Cocó.
Sua ligação de parentesco com um dos ramos dos descendentes da família
de Honório José de Abreu se fez bem depois através do ramo dos “Braga”, uma
família de origem portuguesa possivelmente de Coimbra que também se vinculou a
Família Abreu.
Segundo o parente Alfredo Marques em 1790, já se encontrando na Capi-
tania do Siará Grande, Joaquim Lopes de Abreu, pediu aos reis de Portugal, mais
terras para plantio de cana-de-açúcar obtendo três léguas a começar da outra ponta
da Serra de Gereraú, seguindo riacho acima com uma légua de largura, mais as terras
devolutas entre a Serra da Tabatinga (testadas de Manoel Lopes de Abreu) juntando
as terras já adquiridas de Maranguape incluindo aí a localidade de Columinjuba. Jo-
aquim Lopes alegou para isso, nelas pretender instalar um grande engenho em soci-
edade com Antônio Joaquim de Abreu, um comerciante português da Praça do Re-
cife. Para tal empreitada adquiriu 50 escravos.
Em breve surgiu o arruado maranguapense às margens do riacho Pirapora,
em torno de uma capelinha, construída para atender às necessidades religiosas dos

111
moradores, que se ocupavam das atividades agrícolas, especialmente relacionada à
cultura do café.
Em 1796, falece Rita Camelo Pessoa, com pouco mais de quarenta anos
talvez de parto, em1801 casa-se sua filha Antônia Josefa Rosa com Ambrósio de
Sousa Machado o iniciador do ramo dos Abreu-Machado, em 1806 casa-se, Fran-
cisco Honório de Abreu também seu filho com Maria Joaquina da Conceição, o
iniciador do ramo dos Honório-Abreu.
Após cinco anos de vivência do terceiro casamento, já “tísico” falece Ho-
nório José de Abreu em Sobral com 51 anos de idade em 1806, tendo sido sepultado
na Matriz de Sobral envolto em hábito franciscano.
Nada se conhece acerca do seu nível educacional, considera-se por sua si-
tuação econômica, localização geográfica e posição social tratar-se de um colono de
poucas letras. Este é o fim terreno do Patriarca nº 3.
Se amplo foi o domínio jesuítico sobre uma vasta região do Brasil colônia,
sua trajetória no Ceará não se deu nos mesmos moldes. Quase esquecido pelos colo-
nizadores, nosso Estado foi uma ilustração do desprezo educacional brasileiro para
com as capitanias das quais não se extraía lucro fácil, assim, o nível educacional dos
cearenses permaneceu tão obscuro quanto ao período negro da Idade Média no início
do primeiro milênio d. C.
A evolução do ensino, sem esquema e método, em nosso Estado, perduraria
de (1759 a 1772), sob o critério dos interesses locais, sem recurso e subvenção que
pudesse proporcionar iniciativas louváveis.
No Estado do Ceará, segundo a professora Sofia Lerche o abandono escolar
vem de séculos. Ela nos conta um pouco acerca do estágio em que a Educação se
desenvolveu na busca de novos paradigmas chegando a envolver mais de trezentos
anos de escuridão.
Conforme Lerche, os registros que o tempo preservou sobre o passado da
capitania do “Siará Grande” não chegam a ser pródigos. Se desafiante é desvendar
os contornos gerais desta história local, conhecer as iniciativas que se deram no
campo educacional é uma empreitada difícil, principalmente na zona rural onde os
costumes medievais imperavam.
Com o término da subordinação a Pernambuco, a Província do Ceará passa
a ser conduzida por administradores, indicados pela Coroa. Nesse intervalo compre-
endido entre os séculos (XVIII e XIX), revela-se, um contexto pouco propício à ins-
tauração de investimentos educacionais.
O Alvará de novembro de 1772 autorizava o funcionamento de 15 aulas de
gramática latina, 3 de língua grega, 6 de retórica e 3 de Filosofia, sendo despachados
15 docentes de Lisboa para o Brasil.

112
Enquanto as localidades de provimento são: Rio de Janeiro, São Paulo, Ba-
hia, Minas Gerais, Pernambuco e Maranhão. Observa-se que não há provimento para
qualquer tipo de professor para o Estado do Ceará.
Alguns anos depois entre (1778 e 1780), há novas indicações de 12 profes-
sores e mestres substitutos para as escolas menores do Brasil. Entretanto, nenhuma
destas nomeações é feita para o Ceará. Os lugares contemplados mais uma vez são:
Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia, Minas Gerais, Olinda e Pará.
Entre (1784 e 1798) foram criadas 9 escolas no Ceará: 7 delas eram de ler,
escrever e contar (2 em Aracati, 2 em N.S. de Assunção, 1 em Aquirás, 1 em Ibiapina
e 1 em Soure) e 2 de Latim (Aracati e Aquirás) e nenhuma para a localidade de Ma-
ranguape.
Ainda, de acordo com Lerche, o primeiro mestre cearense nomeado após a
expulsão dos jesuítas foi Teodósio Luiz da Silva Costa Moreira, em 1785, indicado
para assumir uma cadeira de professor na Vila de Santa Cruz de Aracati. Até o final
do século XVIII, a cidade de Nossa Senhora de Assunção possuía 2 escolas de ler,
escrever e contar, coincidindo a mudança do nome para Fortaleza com a criação de
uma aula de Latim.
Fomos ao longo de três séculos considerados o Estado dos analfabetos e
daqueles que não necessitavam de letras e educação que ultrapassasse o ensino con-
cernente a Educação Fundamental Menor de hoje.
Com o início do século XIX, um período histórico determinado pelas trans-
formações desencadeadas a partir da Revolução Francesa e da Revolução Industrial
iniciada na Inglaterra, abre-se o caminho para o avanço do capitalismo em outros
países.
A França, por outro lado, sob o comando de Napoleão Bonaparte, passava
a lutar pelo domínio de outros países, inclusive de Portugal. Em 1808, a família real
portuguesa transferiu-se para o Brasil, para fugir do ataque francês.
A presença da corte portuguesa no Brasil, com todo seu aparato, propiciou
o desencadeamento de transformações sociais na Colônia. Neste processo, foram
abertos os portos brasileiros ao comércio exterior acabando com o monopólio portu-
guês. Para suprir as carências oriundas do longo período colonial foram criadas várias
instituições de ensino superior.
Após três séculos de domínio político e exploração econômica do Brasil
por parte de Portugal, que manteve durante o período colonial uma posição parasitá-
ria em relação à produção brasileira, com o novo contexto da economia mundial, de
expansão do capitalismo, que impunha uma nova postura dos países em relação à
produção e a comercialização, já não era mais possível suportar o domínio da Corte
portuguesa, que onerava os produtos brasileiros na disputa por mercados elevando a

113
aquisição de mercadorias estrangeiras necessárias para o consumo interno no Brasil.
O século XIX é um momento de grandes e distintas transformações para a
população do Brasil. Na virada do século anterior, o polo econômico baseado no ouro
das Minas Gerais entraria em decadência, deixando a América Portuguesa depen-
dente de uma prosperidade precária, baseada nas condições do mercado mundial de
produtos tropicais (extrativismo no Pará, algodão e arroz no Maranhão e cana-de-
açúcar no restante do Nordeste).
A chegada da família real ao Brasil mudou o cenário político local, contri-
buindo para reforçar as relações comerciais e sociais numa Colônia que não se via e
nem funcionava como uma “Unidade”, além de liberar o território do pacto colonial.
A abertura dos portos e outros tratados posteriores dariam o controle econômico efe-
tivo do país à Inglaterra, mesmo após ter sua Independência conquistada.
Em 1798, casa-se, na fazenda Lages, o aristocrata português Joaquim Lopes
de Abreu, com Maria Teresa de Jesus, filha de um reinol, seu amigo, João Ribeiro da
Costa, natural da Vila de Hermeto, Portugal, e de Francisca Teresa das Maravilhas,
natural do Ceará.
Em 1806, talvez se vendo em apuros ao tentar tomar mais terras indígenas
e não conseguindo, busca auxílio convidando alguns “patrícios” necessitados oriun-
dos de Sobral para tomar parte nessa empreitada, os quais ficariam em troca vivendo
de favor, morando em algumas léguas de terras que não estavam demarcadas ade-
quadamente por sesmarias. Dentre eles se encontravam nossos ancestrais.
Tendo nascido em 1783 em Sobral casa-se em 1806, na mesma cidade João
Honório de Abreu - Patriarca nº 4, aos 23 anos de idade com Antônia Maria Cor-
reia da Costa também de Sobral nascida em 1784, sendo filha de Fradique Correia da
Costa e de Jerônima Correia da Costa. Com o casamento ela passou a chamar-se
Antônia Maria de Abreu.
João Honório de Abreu recém-casado, homem pobre, órfão de pai e mãe,
sem bens de raiz sentindo a responsabilidade do sustento familiar que devia constituir
e manter, “resolve” emigrar para os arredores da capital em busca de sobrevivência,
após envolvimento em querelas familiares em Sobral.
Os três irmãos em peregrinação na capital e “comandados” por João Ho-
nório de Abreu ao sair de Sobral passam por Fortaleza na busca por abrigo e melho-
res dias, aceitam o convite do donatário Joaquim Lopes de Abreu para residir no
Município de Maranguape, na localidade de Columinjuba vindo a constituir o tronco
rural maranguapense da família de Honório José de Abreu a partir do ano de 1808,
ele é considerado a primeira pessoa branca habitar aquela localidade.
Joaquim Lopes de Abreu, considerado fundador de Maranguape teve
enorme papel político no município com implicações até mesmo na vida de João

114
Honório de Abreu.
Em 1801, ele foi empossado Juiz Ordinário da Vila de Fortaleza, em 1806
ocupa o cargo de Juiz de Órfãos, em 1810 retorna ao cargo de Juiz Ordinário, em
1818 é eleito vereador de Fortaleza e reeleito em 1820 participando da Comissão que
governava o Ceará, após a saída do Presidente Bernardo Manoel Sampaio chegando
até mesmo se tornar seu sucessor.
Entretanto, foi a Revolução Pernambucana de 1817 que teve enorme impli-
cação em sua vida, visto se enquadrar nos chamados movimentos de libertação colo-
nial, constituindo-se um episódio de características liberal e republicana que visava
a independência do domínio português devido as graves crises que passava a capita-
nia de Pernambuco.
Havia entre os habitantes mais esclarecidos, um clima de revolta baseado
nas ideias iluministas, na Independência americana e Revolução Francesa que envol-
via os Estados de Pernambuco, Alagoas, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará.
A divisão social dos rebeldes, a falta de preparo dos exércitos e a repressão
da Coroa extinguiu o movimento em apenas 75 dias de luta. A falta de contentamento
das classes dominantes aumentaria nos anos seguintes provocando vários confrontos
pelo Nordeste afora.
Em pleno século XIX, após trezentos anos de colonização não existia uma
unidade nacional como concebemos hoje, as províncias não apresentavam laços entre
si e os habitantes se identificavam apenas como nativos, colonizadores e estrangeiros.
A separação oficial entre Brasil e Portugal é obra de latifundiários e comer-
ciantes do sudeste que aliciaram D. Pedro I, o qual em recompensa ganharia o trono
do Brasil.
Na primeira década do século XIX, por volta de 1820, o Ceará foi palco de
intensa agitação e revoltas com disputas entre grupos oligárquicos pelo controle da
província. Como pano de fundo encontrava-se em crise econômica após o ano de
1819 com o declínio da cotonicultura e um maior empobrecimento geral da provín-
cia.
Em 1818 ocorreu uma pandemia de gripe pneumônica que acometeu o
mundo inteiro, e alcançou o Município de Maranguape, aumentando sensivelmente
o obituário local, ela caracterizou-se pela elevada morbilidade e mortalidade,
especialmente nos setores jovens da população e pela frequência das complicações
hospitalares associadas.
A origem geográfica da pandemia não foi conhecida afetando 50% da
população mundial, tendo matado de 20 a 40 milhões de pessoas no mundo, sendo
qualificada como o mais grave conflito epidêmico mundial de todos os tempos. Foi

115
causada por uma virulência não comum e frequentemente mortal de uma estirpe do
vírus Influenza A do subtipo H1N1.
Após 12 anos de trabalho, residindo em terras emprestadas, João Honório
de Abreu com seus irmãos e suas famílias vivendo e produzindo em Columinjuba e
imediações, resiste a toda forma de percalço, apresentando sensível melhora de vida,
daí conseguindo comprar alguns escravos em Fortaleza.
Em 1820 o Presidente da Província por sua amizade estabelecida manda
fazer seu nombramento como reconhecimento – nomeação - para cabo da 2ª. Cia. das
Ordenanças.
Em 1821 em pleno clima de intimidade realiza-se na senzala de Joaquim
Lopes de Abreu uma grande festa, quando mais de dez dos seus negros recebem suas
esposas, assim como dois de João Honório de Abreu, já considerado um próspero
agricultor.
A melhoria de condição financeira advinda para todos, fez surgir e se im-
plantar as seguintes constituições dos troncos familiares. Francisco Honório de
Abreu, irmão de João Honório de Abreu foi casado em primeiras núpcias, com
Maria Joaquina da Conceição, de cujo consórcio nasceram sete filhos: Joana Honório
de Abreu, Joaquim Honório de Abreu, Jacinto Honório de Abreu, José Honório de
Abreu, Rita Honório de Abreu, Ângela Honório de Abreu, Ana Josefa.
Também conhecido por “Pai Chiquinho”, Francisco Camelo Pessoa Neto
ainda se casou em segundas núpcias com Jacinta Maria do Espírito Santos sendo pai
de mais dois filhos e uma filha: Antônio Pereira, Alfredo Pereira Marques e Ângela
Maria de Abreu. Este tronco em sua maioria se desenvolveu junto as localidades de
Cacimbão e da Fazenda Trapiá tornando-se aí o núcleo dos “Honório”.
Antônia Josefa Rosa casou-se com Ambrósio de Sousa Machado, o cria-
dor do tronco dos “Abreu-Machado”. Deste casamento os dois tiveram 9 filhos, te-
mos conhecimento do nascimento de apenas três: Rita Inácio de Sousa Machado,
Honório de Sousa Machado e José Honório de Sousa Machado. Este tronco se de-
senvolveu basicamente junto às localidades Tijuca, Saco Verde e Saco do Vento.
João Honório de Abreu casado com Antônia Maria Correia Costa, teve
sete filhos: Maria Marcolina de Abreu Mota, casada com Manuel Vieira Mota, com
(5 filhos); Jerônimo Honório de Abreu casado com Antônia Vieira de Abreu com (16
filhos); depois Marcos Honório de Abreu casado com Francisca Teresa dos Santos
Lessa com (10 filhos); em seguida Raimundo Honório de Abreu casado com Rita
Maria da Conceição com (4 filhos); Antônio Honório de Abreu casado com Felici-
dade Nogueira de Abreu com (4 filhos); Joana Honório de Abreu casada com Pedro
Gurgel do Amaral (sem filhos); Maria Antônia dos Prazeres casada com Honório de
Sousa Machado com (2 filhos).

116
Este tronco se desenvolveu e se expandiu junto a localidade de Columinjuba
e Jardim tornando-se o núcleo dos “Abreus” do lado de cá da estrada nova, atual CE-
065.
A história dos Honório de Abreu no Município de Maranguape iniciada a
partir de 1808, se modifica completamente e toma novo rumo quando em 1824, João
Honório de Abreu e seus parentes já instalados, se veem envolvidos sem desejar
com os acontecimentos políticos que abalaram os Estados de Pernambuco, Paraíba e
Ceará no contexto do país.
No movimento conhecido como a revolução da República do Equador por
sua coragem, ele passa de simples agricultor bem sucedido a grande proprietário de
terra fazendo da localidade de Columinjuba e adjacências agora sua moradia defini-
tiva.
A tão desejada “Terra Prometida” que seus ancestrais buscaram começava
a surgir de repente quando em 1822, o donatário Joaquim Lopes de Abreu ao assumir
a gestão administrativa de Fortaleza, em função de sua qualidade de Presidente da
Câmara Municipal de nossa metrópole e permanecendo no cargo até 1823, se vê en-
volvido em questões políticas que ameaçavam sua vida.
O período em que D. Pedro I governou o Brasil, o chamado I Reinado
(1822-31), seria de crise econômica, social e política. As classes dominantes do su-
deste iniciaram uma série de articulações visando manter em suas mãos o controle
do país, esvaziando o Nordeste de qualquer crescimento econômico.
A dissolução da Assembleia Nacional Constituinte de 1823 e a outorga da
Constituição de 1824 de caráter centralizador fizeram eclodir no Nordeste mais uma
revolta revivendo a insurreição acontecida por volta de 1817.
Os meses que antecederam a eclosão da Confederação do Equador foram
caracterizados por enorme agitação política no Ceará. Os insurretos estavam a propor
a Independência cearense, a Proclamação da República e adesão a Confederação do
Equador.
A rebelião sucumbiu, sem obter sucesso, houve muito derramamento de
sangue e os condenados foram executados em praça pública mesmo sendo parentes
de influentes proprietários de terra. Como bem disse Capistrano de Abreu, foi uma
vitória do litoral sobre o sertão, do centralismo imperial sobre a autonomia dos lati-
fundiários.
Em 1824 Joaquim Lopes de Abreu, por ser um rico escravista e imperialista
convicto, como os que mais o fossem, não escapou ao ódio dos nativistas que lutavam
para fugir ao chicote e ao jugo lusitano. Aquela rebelião que ocorria seis anos após a
Independência do Brasil, tinha forte cunho antilusitano.
Sob a liderança da Província de Pernambuco, o Nordeste se tornou o prin-

117
cipal centro de resistência contra o autoritarismo de D. Pedro I e o centralismo que
colocava as províncias brasileiras submetidas ao controle do governo central. Essa
insurreição explodiu no Nordeste em 1824, no mesmo ano em que o Imperador, ou-
torgou a primeira Constituição.
Esse movimento foi chamado Confederação do Equador. Seus líderes fo-
ram: Frei Caneca e Cipriano Barata, os quais divulgavam pelo Nordeste, as ideias
liberais, republicanas e federativas que defendiam a liberdade de cada província es-
colher o seu próprio governo.
Uma ideia vigente apenas no mundo europeu com mais de mil e quinhentos
anos de desenvolvimento, civilização e cultura sem a menor condição de ser implan-
tada no Brasil, um país sem desenvolvimento, de povo analfabeto, sem escolas e em
estado de cultura medieval.
Os problemas nordestinos foram se agravando à medida que aumentava a
crise econômica, devido à queda de exportações de algodão e açúcar e os impostos
aviltantes cobrados pelo governo imperial. Fatores estes somados à aversão nativa
aos portugueses alimentavam as ideias revolucionárias do povo brasileiro.
Os organizadores da revolução separatista do Nordeste contavam com o
apoio e a participação das camadas populares, compostas por brancos pobres, mesti-
ços, militares de baixa patente, escravos, negros livres e miseráveis.
Os ideais republicanos dos revolucionários eram: a extinção do tráfico ne-
greiro, a união das províncias do Nordeste e a proclamação de uma república federa-
tiva, onde as províncias teriam autonomia para governar a si mesmas.
A Confederação do Equador seria então uma república composta por Per-
nambuco, Alagoas, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará, enfim, seria um novo Es-
tado republicano e federativo com o propósito de se contrapor ao latifúndio do su-
deste. A revolução dos nordestinos fracassou quando as elites agrárias e alguns che-
fes revolucionários abandonaram o movimento em troca de favores oriundos da
Corte.
Isso facilitou a vitória do Governo central que contou com a ajuda de mer-
cenários estrangeiros contratados, eram mais de 1500 homens comandados pelo bri-
gadeiro Francisco de Lima e Silva, Barão de Barra Grande e de uma esquadra inglesa.
Consolidava-se assim a "independência" proclamada por D. Pedro I, em 1822.
Joaquim Lopes de Abreu se vendo perseguido pelo movimento antiportu-
guês denominado “Mata Marinheiro”, somente dele escapou graças à ajuda de seu
leal amigo João Honório de Abreu, que o escondera nas matas do Columinjuba
protegendo-o da sanha dos rebeldes durante dias lhe proporcionando abrigo e ali-
mento e fazendo-se a partir daí credor eterno de sua amizade.
Quando os acontecimentos políticos serenaram e tudo voltou ao normal,

118
ocorreu a transformação social tão aguardada, o agricultor se tornava fazendeiro, vi-
vendo naquela região sem arcar com qualquer tipo de pagamento e arrendamento.
Implanta-se a partir desse momento a visão do Patriarca nº 4, na área de
Columinjuba – A Terra Prometida. Entretanto, não se sabe se os demais irmãos vi-
vendo em localidades circunvizinhas aceitaram tal posto.
No Município de Maranguape existem várias localidades que serão enfoca-
das neste livro, o cenário para o seu desenvolvimento é exposto desenrolando-se no
sítio Columinjuba e áreas circunvizinhas: Penedo, Trapiá, Cacimbão, Onça, Ladeira
Grande, Vila Nova, Jardim, Bragantino, Tijuca, Saco Verde, Passagem Franca, Grota
Funda e Umarizeiras visando atender nosso propósito que é mostrar a situação gene-
alógica educacional em que foram formados e se encontram os ramos e núcleos ge-
radores da família de Honório José de Abreu e seus descendentes.
As terras cedidas para os três irmãos e seus familiares residirem não eram
tocadas por brancos, mas, apenas por tribos indígenas em passado remoto que habi-
taram e conheceram dando-lhe o nome “curuminjuba”, significando “menino ama-
relo”, era uma mata nativa virgem.
Aos poucos, cada núcleo familiar formado foi escolhendo um reduto geo-
gráfico para se fixar e desenvolver suas atividades e caminhos sociais.
A família de João Honório de Abreu foi se estabelecendo na região do
Columinjuba e Jardim, a de Francisco Camelo Pessoa Neto na região do Cacimbão
e Trapiá, enquanto a de Antônia Josefa Rosa se localizou nas terras da Tijuca, Saco
Verde e Saco do Vento.
Isto porque a estrada velha que ligava Maranguape ao Lajedo hoje Itape-
bussu, adentrava pela Ladeira Grande, passando ao largo do cemitério construído
depois pelos descendentes da família de Honório José de Abreu servindo de marco
referencial e divisório familiar.
As terras que passaram a ser habitadas e cultivadas pelos núcleos e troncos
dos Honório de Abreu, possuía tamanho respeitável. Começavam na crista da serra
da Monguba e se desdobravam montanha abaixo sob forma retangular passando pelo
Trapiá até atingir o Papara numa suposta área correspondente a três léguas de lado
(18 quilômetros de largura por seis quilômetros de fundura).
João Honório de Abreu era um indivíduo de grande energia, um apaixo-
nado pela faina agrícola. Se bem que pouco tivesse estudado sabia ler e escrever.
Onde antes existia apenas mata densa, logo depois, com seu trabalho e suor começa-
ram a se formar clareiras de roçado com plantações e lavouras de milho, feijão, arroz,
mandioca e algodão.
Tudo ia muito bem ajustado no seio da família dos descendentes de Honó-
rio José de Abreu, quando um caboclo tangedor de animal por nome Antônio Paulo

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Vieira nascido em 1815 em Canindé sem autorização da Família Abreu, “seduziu”
(crime social hediondo para época por não ser ele considerado de origem nobre e
nem português) a filha de um branco Francisco Camelo Pessoa Neto, a donzela
chamada Ângela Maria Honório de Abreu, o qual para não morrer conforme costu-
mes da época teve que casar-se.
Aqui ressurge o rastro genético de toda mistura negra, indígena e tudo mais
que se possa imaginar no seio da família dos descendentes de Honório José de
Abreu de Columinjuba e que foi conduzida daí para frente através da linhagem de
minha avó Fca. Amélia Honório de Abreu, que passou em seguida a ser chamada
apenas de Fca. Amélia casada com seu primo em segundo grau Pedro Honório de
Abreu.
Se antes usávamos apenas o nome herdado de uma terra longínqua denomi-
nada “Abreu”, a partir desse momento o branco se tingiu de outras cores e habitou
entre nós produzindo o que hoje nos tornamos os “Abreu-Outros”.
Podemos observar a partir deste momento através desse casamento a não
efetivação do cristianismo católico onde a igualdade entre ricos e pobres, pretos e
brancos, iguais e não iguais se assume no seio de uma família patriarcal, dogmática,
conservadora e escravagista.
O casal optou vivenciar o amor em troca da nobreza e do “sangue azul”,
maculando para sempre o social, segundo ideais familiares concebidos, o sangue dos
descendentes de Honório José de Abreu tinha mudado de cor.
Após o enlace matrimonial ocorrido sem apoio e com consentimento for-
çado dos pais, Antônio Paulo Vieira e Ângela Maria Honório de Abreu, rompia-se
definitivamente o elo familiar construído entre os três irmãos, partiu-se a unidade
simbólica criada entre eles.
Nunca mais se estabeleceu no seio social vigente dos ares de Columinjuba
principalmente no momento de se fazer o registro do nascimento do/a filho/a em
cartório, procedimento realizado apenas por parte do pai, no que se exigia obedecer
daí em diante as determinações morais indicadas por João Honório de Abreu um
autêntico e severo moralista conforme a época exigia bem como seus familiares de-
cidindo não mais valorizar e propagar no seio familiar o sobrenome “Honório”.
Daí para frente os descendentes da Família de Honório José de Abreu co-
meçaram a se dividir geograficamente e se isolar socialmente muitos perdendo o
nome original se constituindo em três troncos e ramos familiares distintos: Os Abreu-
Outros, Os Abreu-Machado e os Honório-Abreu. Isto resultou para os costumes lo-
cais em um verdadeiro cisma familiar existente até hoje.
Após o casamento de Antônio Paulo Vieira com Ângela Maria Honório de
Abreu eles foram morar na fazenda velha hoje Umarizeiras, são filhos do casal: Fran-

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cisco, Maria, Manoel, Jacinta, Paulo, Joaquina, João e Honório Antônio.
Em 1863, morre Antônio Paulo Vieira, deixando para viúva e uma prole de
oito filhos/as um quarto de légua de terra na localidade onde hoje vive o tronco fa-
miliar dos Honório na região do Cacimbão e Trapiá.
Verdade se diga João Honório de Abreu como um autêntico Patriarca,
realizou tarefa hercúlea se levar em conta a rusticidade ambiental, a falta de instru-
ção, ausência de estradas, a precariedade dos instrumentos de trabalho, reduzidos que
eram apenas ao esforço humano, machado, foice, enxada, picareta e arado.
Tendo começado seus empreendimentos no início do século XIX em terras
habitadas por nativos indígenas, em 1825 já possuía recursos financeiros para com-
prar dos herdeiros toda gleba de terra onde os Abreu habitavam por doação. E como
tal, o fez.
João Honório de Abreu, visando legalizar suas terras doadas, comprou o
sítio Columinjuba localizado na freguesia de Maranguape a Francisco Joaquim Lou-
reiro filho de Manuel Custódio Loureiro e de Maria Rosa de Jesus, casado com Josefa
Maria de Abreu que era viúva de Jerônimo José Ferreira Braga, cujas extremas são
as seguintes: ao nascente com Luiz Fernandes Taboza; ao poente com Joaquim Ho-
nório de Abreu; ao sul com Manuel José Pereira e ao norte com Maria Tereza de
Jesus esposa de Joaquim Lopes de Abreu.
Em sua labuta diária ao longo dos anos João Honório de Abreu, tinha am-
pliado muito seus domínios, já possuía sítio na Serra do Lajedo e fazenda de gado
em Canindé, os quais se configuraram e se ampliaram com as ligações familiares aos
troncos dos “Santos Lessa” e dos “Freitas" da localidade Lagoa do Juvenal conhecida
por Lagoa dos Freitas.
A partir de então, as atividades foram se desenvolvendo nas três localida-
des, por meio de árduo trabalho, mesmo defrontando-se com as intempéries climáti-
cas que regulavam anualmente a vida de todos os colonos localizados naquelas para-
gens.
No reduto geográfico onde viviam os troncos familiares de João Honório
de Abreu inicialmente o período foi próspero com bons invernos e boas safras agrí-
colas.
O Município de Maranguape adquiriu opulência espantosa, abriram-se es-
colas primárias, o comércio local e com o estrangeiro deu-se o novo tom ao comércio.
Com dotes de energia, tenacidade e de mando possuidor de algumas letras
que o distinguia em um meio onde predominava o analfabetismo e a rudeza das cri-
aturas, João Honório de Abreu tornou-se um dos homens importantes, tanto no Mu-
nicípio de Maranguape como em Fortaleza onde possuía um seleto grupo de amigos
os quais visitava sempre.

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O primeiro reinado do Brasil é o nome dado ao período em que D. Pedro I
governou o Brasil como Imperador, entre 1822 e 1831, ano de sua abdicação, a qual
caracterizou-se por ser um período de transição. Foi marcado por uma grande crise
econômica, financeira, social e política. A sua consolidação só ocorreria a partir de
1831, com a abdicação de D. Pedro I.
Após renúncia e posse de Pedro de Alcântara em 1840, chamado período
de Regência, ocorre outro agitado momento na história do Ceará, com grave crise
econômica e revolta que colocou em risco até mesmo a unidade territorial do país.
As camadas populares cearenses rebelaram-se mais uma vez contra a estru-
tura social latifundiária e escravista, enquanto os setores médios e das elites proprie-
tárias de terra disputavam o poder exigindo maior autonomia opondo-se as diretrizes
centralizadoras do governo imperial impostas a partir do sudeste.
Diante do centralismo que se implantava cada vez mais vitorioso, os grupos
políticos dominantes do Ceará disputavam acirradamente de (1831 a 1834) o domínio
do Estado sem elaborar qualquer tipo de conteúdo ideológico.
O Ato Adicional de 1834 que criou as Assembleias Legislativas provinciais
fez com que as elites latifundiárias formassem alianças criando partidos abrangentes
com o propósito de conservar o poder e a dominação de seus redutos, com tal artifí-
cio, isso estruturou-se uma unidade política de natureza oligárquica para província.
Quando da eleição dos 28 membros da Assembleia Provincial instalada em
1835, havia no Ceará duas parcialidades políticas: eram os elementos vinculados a
metrópole os (corcundas/conservadores) e os nacionais os (patriotas/liberais).
Enquanto isto no Município de Maranguape, existiam os (liberais / chiman-
gos) de um lado e os (conservadores / caranguejos) de outro, os quais passaram a
disputar daí em diante o poder político e social da localidade.
Joaquim Lopes de Abreu por suas raízes familiares históricas conservado-
ras bem como seus seguidores, familiares e agregados eram considerados politica-
mente “caranguejo” chegando a falecer em 1849 em Fortaleza. Enquanto casado com
Maria Teresa de Jesus deixou 13 filhos/as, sendo três homens e dez mulheres.
São seus rebentos: Maria Luiza de Abreu, casada com Afonso de Albuquer-
que Braga; Isabel Maria de Abreu e Josefa de Abreu, ambas casada com Jerônimo
José Ferreira Braga, este sendo o elo formador do ramo dos Abreu-Braga; Francisca
Maria Lopes de Abreu, casada com Manoel Cabral de Medeiros constituinte da fa-
mília dos Medeiros; Ângela Maria de Abreu, casada com João Batista Ferreira Braga;
Mariana Lopes de Abreu, casada com Agostinho Luiz da Silva; Domingos Lopes de
Abreu, Bernardo Lopes de Abreu e mais Joaquim, Joaquina, Francisco, Rosa Maria,
Vicência e Angélica.
A Independência brasileira foi conquistada em 1822, com base em acordos

122
políticos de interesse da classe dominante, composta da camada senhorial brasileira
do sudeste, que entrava em sintonia com o capitalismo europeu.
A Constituição outorgada em 1824, que durou todo o período imperial, des-
tacava, com respeito à Educação: “A instrução primária devia ser gratuita para todos
os cidadãos”.
Em 1827, foi aprovada a primeira lei sobre a instrução pública nacional do
Império do Brasil, estabelecendo que “em todas as cidades, vilas e lugares populosos
haveria escolas de primeiras letras que fossem necessárias”.
Em 1830, sua Majestade Imperial D. Pedro I confirma o ato do Presidente
da Província provendo na cadeira de primeiras letras da povoação de Maranguape a
Joaquim Lopes da Cunha, com um ordenado anual de trezentos mil réis.
Em 1837, na cidade do Rio de Janeiro foi criado o Colégio Pedro II, onde
funcionava o Seminário de São Joaquim. Esse colégio como referência escolar da
época, fornecia diploma de bacharel um título necessário para cursar o nível superior.
Foram também criados nessa época colégios religiosos e alguns cursos de magistério
em nível secundário, exclusivamente masculino.
O Colégio Pedro II era frequentado pela aristocracia brasileira, onde era
oferecido o melhor ensino, a melhor cultura, com o objetivo de formar as elites diri-
gentes do país. Por este motivo, era considerado uma escola modelo para as demais
escolas do Brasil.
A presença do Estado na educação no período imperial não era perceptível,
pois estávamos diante de uma sociedade escravagista, autoritária e formada para
atender uma minoria encarregada do controle sobre as novas gerações.
As escolas públicas de instrução primária compreendiam as seguintes clas-
ses de ensino: primeira, as quatro operações de aritmética sobre números inteiros,
frações decimais e ordinárias, princípios de moral cristã, da religião do Estado e da
gramática da língua nacional; Segunda as noções gerais de geometria teórica e prá-
tica; Terceiro elementos de geografia e gramática da língua nacional.
O ensino público primário para o sexo masculino ficava proibido nas casas
dos respectivos professores, restringindo-se somente às duas primeiras classes. A vi-
taliciedade do emprego de professor e professoras das escolas de instrução primária
só será concedida após três anos de efetivo exercício, e no caso de mostrar capaci-
dade, idoneidade, e aptidão para o ensino.
Os professores, que forem providos na serventia das escolas de instrução
primária só por sentença e nos últimos casos seguintes poderão perder os seus em-
pregos: 1º condenação a perdas de galés, crime de estupro, adultério, roubo, furto, e
por outro algum da classe daqueles, que ofenderem a moral pública, a religião do
Estado, e aos bons costumes; 2º abandono da escola por tempo consecutivo excede-

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nte há dois meses; 3º, negligência habitual no cumprimento de seus deveres; 4º, tendo
sido suspenso por três vezes; 5º, por embriaguez frequente e repetida.
Todo/a professor/a da serventia vitalícia, que tiver servido efetivamente por
tempo de vinte e cinco anos, terá direito à sua jubilação com todo o vencimento,
compreendida a parte da gratificação.
O ordenado dos professores/as de primeira categoria era de seiscentos mil
éis; da segunda, de quinhentos mil reis; da terceira, de quatrocentos mil réis; e da
quarta, de trezentos mil réis e o das professoras: da primeira, quinhentos mil réis, da
segunda, quatrocentos mil réis; e da terceira de trezentos mil réis.
Em 1852, segundo a Lei no 612, as escolas públicas de instrução primária
para o sexo masculino se classificavam nas seguintes categorias: primeira, das cida-
des de Fortaleza, Aracaty, Icó e Sobral; segunda, das vilas cabeças de Comarcas;
terceiras, demais vilas, inclusive Maranguape, recentemente criada; e quarta, de todas
as mais povoações; e para o sexo feminino nas seguintes: primeira cidade de Forta-
leza; segundo, do Aracaty, Icó e Sobral; e terceira, das vilas cabeças de Comarca.
Ao melhorar suas condições financeiras e de propriedade a primeira “Casa-
Grande” que João Honório de Abreu construiu em Columinjuba, era alpendrada,
ampla e sendo próxima a estrada principal e ao Cemitério da família, possuía um
enorme salão, doze quartos, oratório, aposento para o Bispo, que anualmente ali se
hospedava quando passava em desobriga, Casa de Farinha, de Beneficiamento de
Algodão e paióis para guarda de safras.
Ao lado situava-se a senzala onde quatorze escravos viviam alojados. Os
escravos indicavam prosperidade econômica enquanto o oratório dava cunho de sta-
tus social. A residência funcionava sob regime patriarcal e escravocrata. Com sua
longa barba, olhar penetrante e de poucas palavras, João Honório de Abreu a tudo
presidia e comandava.
Às três horas da madrugada iniciava-se a labuta diária: eram escravos/as e
agregados munidos de latas e cabaças que se dirigiam as aguadas distantes em busca
do precioso líquido para beber, o cozinhar e o lavar; tinham os que iam para os cer-
cados a procura dos animais que formariam a tropa que seguia para Maranguape,
transportando algodão, farinha, milho; os que no curral tiravam o leite das vacas para
o café da manhã e coalhada da noite e os que cuidavam exclusivamente da casa, as
atividades da casa de fazenda eram bem distribuídas tendo um capataz que tratava de
gerenciar todos os afazeres dos/as servos/as e escravos/as.
Tudo numa rotina que não admitia desleixos porque era necessário que os
primeiros raios de sol já encontrassem os trabalhadores nos roçados, com enxadas
lavrando a terra e a tropa de animais cargueiros na estrada carregando safras e reco-
lhendo encomendas.

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O almoço dos trabalhadores/as e escravos/as era servido nos locais de tra-
balho por volta das 9 horas, constando em geral de arroz, feijão e rapadura. O jantar
era servido as 16 horas e nele era frequente carne cozida com pirão.
Enquanto a noite antes de dormir havia uma ceia de coalhada com farinha
e rapadura, de modo que às 20 horas toda aquela comunidade já se encontrava reco-
lhida e o silêncio envolvia local.
Aquele ambiente era intensamente envolto em religiosidade, João Honório
de Abreu senhor de todo ambiente ao seu redor, era um homem que temia os desíg-
nios e os vaticínios do Sagrado, sentia-se minúsculo diante de Deus, principalmente
quando o problema se referia a inverno e safras.
Na “Casa-Grande” era obrigatória a reza do terço todas as noites. De ma-
drugada voltavam-se as orações, agora com o oficio dedicado a Nossa Senhora. Ape-
nas nesses momentos os brancos da família podiam ser vistos lado a lado, mãos pos-
tas e lábios sussurrantes com os demais.
A religiosidade naquele momento atingia níveis acentuados a ponto de vo-
luntariamente alguns “pecadores” se recolherem na “sala da disciplina” e aí em forma
penitente, martirizavam-se com chicotes ligados a pequenos feixes de lâminas pon-
tiagudas, amarradas em fio de algodão.
O Primeiro Bispo do Ceará, Luís Antônio dos Santos, Marquês do Monte
Pascoal quando anualmente se deslocava para o Município de Canindé em desobriga,
hospedava-se em Columinjuba, onde permanecia por vários dias.
Foi devido a tal religiosidade e por implantar na localidade um ambiente
envolto de fé intensa que João Honório de Abreu conseguiu das autoridades ecle-
siásticas do Vaticano licença para instalar uma capela em sua casa.
Foi concedido mais tarde pelo Delegado Apostólico do Papa Pio IX, Vicenti
Massoni o Breve de 23 de maio de 1857, ao “Carissimus in Christo Joanes Honorius
de Abreu”, o privilégio de edificar um oratório em sua casa. Em 28 de agosto de
1858, por intermédio do Ministro da Justiça, o Imperador Pedro II dava licença para
execução de tamanho benefício e enlevo social.
Nesse ínterim acorriam dos sítios, fazendas e lugarejos próximos ajunta-
mento de pessoas para assistir missa, batizar a meninada, crismar a rapaziada, pro-
mover casamentos, renovar votos de obediência aos preceitos estabelecidos pela
Igreja Católica.
João Honório de Abreu era um verdadeiro aglutinador social transfor-
mando o Columinjuba em um importante centro que irradiava influência para além
de suas fronteiras, apesar de homem simples, caridoso, rude, rígido na criação dos/as
filhos/as era carrasco na relação com os/as escravos/as.

125
Era considerado o “mandão” em toda a localidade e vizinhança. De tão se-
vero com os/as escravos/as era conhecido pela alcunha de “amansa negro” recebendo
muitas vezes escravos/as de fazendeiros dos arredores para uma “temporada” no Co-
luminjuba de onde saíam uma verdadeira “doçura” após serem amansados.
Estabeleceu ali, a obediência restrita na educação dos/as filhos/as, era ele
na terra e Deus no céu.
Às filhas não permitia que aprendessem a ler e escrever visando com isso
evitar que se correspondessem com os rapazes, nunca conheceram a educação for-
mal, foram treinadas apenas no uso da conduta familiar. A frequência à escola era
concedida apenas ao sexo masculino.
Essa foi a decisão mais desastrosa em termos educacionais que uma pessoa
pode causar para uma família e todas as gerações subsequentes atrasando a formação
de vários segmentos sociais que se seguiram no âmbito da Educação.
Sua palavra valia mais que qualquer documento, não havendo força humana
capaz de demovê-lo de uma decisão tomada, era um homem considerado de tempe-
ramento forte. Entretanto seu maior desejo era formar um novo Patriarca que pudesse
tomar a frente de toda uma geração a seguir cuidando de todo o feudo conquistado a
duras penas.
Na segunda metade do século XIX, o Ceará continuava sendo uma provín-
cia essencialmente rural. As cidades eram poucas, bem como as vilas e povoados que
viviam coletando algodão e enviando para Fortaleza.
Apesar da expansão econômica na década de 1860 no auge da cotonicultura
a situação da população pobre continuava precária, miserável e dominada por pessoas
sem estudo e Educação.
Diante de algumas ações educacionais isoladas pelo Estado, predominava
o analfabetismo, apenas uma ínfima parcela da população tinha acesso o mundo da
escrita. A educação popular era uma utopia para a época. Interessava à classe domi-
nante manter o povo sem instrução e a população sofria continuamente convivendo
com graves problemas de saúde pública.
A doença e a fome eram riscos contínuos habitando na maioria dos lares
pobres. A violência marcava o mundo sertanejo. Mortes, agressões e grilagens eram
o que mais havia na localidade.
A população rural permanecia isolada e dispersa apesar da instalação das
primeiras ferrovias, pois o meio de transporte comum era o animal, o lombo de bur-
ros, jumentos e bois. Tudo era muito artesanal.
Quando em 1864 eclodiu a guerra com o Paraguai, a qual durou até 1870 o
exército brasileiro contava com apenas 18 mil homens contra 100 mil do oponente,
com os antigos praças e oficiais se rebelando contra o regime oligárquico.

126
A ordem desejada pelos grandes proprietários de terra visando manter a or-
dem passou a ser defendida pela Guarda Nacional criada em 1831. Não se sabe quan-
tos cearenses foram para o teatro de operações de morte. Entretanto, estima-se que
do número de 6.000 que se alistaram de modo forçado, cerca de 4700 acabaram mor-
tos no campo de batalha.
Se de início foram fortes as manifestações de adesão a favor do voluntari-
ado, o mesmo deixou de ocorrer a partir de 1866. O recrutamento violento ordenado
pelo Império passou atingir apenas as famílias pobres e aos escravos, pois os filhos
da elite conseguiam dispensa em troca de escravos e pagamento de 400 mil-réis.
Com a agricultura de subsistência sendo fortemente atingida em 1867, ve-
rificou-se em Fortaleza uma séria crise de abastecimento.
Apesar das secas e dos morticínios especialmente da dramática estiagem de
1877-79 e das migrações para a Amazônia a população cearense cresceu saltando dos
180 mil habitantes para 860 mil em 1888. Nos sertões, contudo, continuava a imperar
a força do latifúndio agora organizada em partidos que detinham o poder na Provín-
cia.
De 1841 a 1889, administraram o Estado do Ceará, cerca de 43 presidentes
nomeados pelo Imperador Pedro II seguindo a alternância dos gabinetes dos minis-
tros na Corte.
À medida que era indicado um novo presidente contrário ao partido que se
encontrava no poder, ocorria a chamada “derruba” com a demissão em massa dos
funcionários públicos substituídos por correligionários do novo governo, uma prática
que ainda ocorre em menor número em todas as Prefeituras do Estado.
Aos poucos e de forma lenta, os ventos do conhecimento começaram a so-
prar pelos rincões sertanejos. Tal como aconteceu em outros pontos do Brasil, três
temas apaixonaram os segmentos urbanos cearenses na segunda metade do século
XIX: o fim da escravidão, o ideal republicano e a produção textual.
Se havia poucas pessoas aptas a participar dos embates intelectuais no Ce-
ará nas primeiras décadas, isso mudou, sobretudo no último quartel.
Tal massa pensante fez nascer uma série de instituições educacionais na
cidade de Fortaleza, formada por elementos da elite social, isso ajudou a manter a
estrutura social hierarquizada da sociedade e a exclusão das massas do processo po-
lítico.
Em 1845, começou a funcionar a primeira escola de ensino secundário do
Ceará, o Liceu, quatro anos depois a primeira livraria do comerciante português Ma-
nuel Antônio da Rocha Junior. Em 1863, surgia o Ateneu Cearense o mais importante
educandário particular da capital. No ano de 1864, surge o Seminário Episcopal de
Fortaleza e em 1867 a Biblioteca Pública.

127
Percebe-se que a efervescência intelectual cearense se estabelecia sob a
égide dos jovens de classe média da geração de 1870, chamada de “mocidade cea-
rense”, onde Capistrano de Abreu era um dos participantes.
A primeira agremiação literária e científica de que se tem notícia, a Fênix
Estudantil, foi fundada por jovens imberbes tendo entre 15 a 19 anos, em 1870, sina-
lizava a tomada de consciência da camada social média nascente buscando afirmação
através da produção textual.
Em 1873, a febre das organizações literárias continuava, fundava-se a Aca-
demia Francesa, uma associação reunindo novos elementos em ascensão social, den-
tre eles Capistrano de Abreu, ela se limitava a sessões literárias, organizando pales-
tras e debates. Em 1874 criaram a denominada Escola Popular com aulas gratuitas a
noite para alunos carentes e trabalhadores, que duraria até 1875.
Em 1886, surge o Clube Literário de João Lopes, o Instituto do Ceará em
1887, e a Padaria Espiritual em 1894 de Antônio Sales que também se extinguiria em
1898.
Em meio à crise econômica que atingiu o Estado do Ceará a partir da década
de 1870, muitos intelectuais viram-se obrigados a mudar-se para o Rio de Janeiro.
A prosperidade da segunda metade do século XIX e a colocação do Ceará
numa posição vantajosa no mercado internacional trouxe modificações sociais e
comportamentais que atingiram determinadas facetas da sociedade cearense.
Enquanto isso, os Abreu residentes na localidade onde a terra não se esteri-
lizava, por ações humanas, viveram uma época de prosperidade durante mais de vinte
anos de (1825 a 1845), foi quando João Honório de Abreu colheu boas safras, fez
prósperos negócios com a capital construiu ampla casa, açude, acumulou pecúnia,
garantiu sua mão-de-obra escrava, tornou-se gente socialmente importante convi-
vendo com autoridades tanto em Maranguape quanto em Fortaleza.
De repente mais uma vez tudo mudou com o surgimento da seca de 1845,
pois, o nordestino vive o eterno ciclo climático que geralmente não lhe favorece.
Segundo o historiador João Brígido quase no final da primeira metade do século XIX,
o Município de Maranguape foi um dos que mais sofreu devido sua dependência com
tal fenômeno ambiental.
A crise da seca no Estado do Ceará Imperial durante o segundo período do
século XIX se apresentava em forma de ciclos, e de acordo com os trabalhos de pes-
quisadores da época como Fernando Gama, Tomaz Pompeu, Rodolfo Teófilo, dentre
outros, estabeleceram-se os seguintes na região cearense: 1844-1845, 1877-1879 e
1888.
A esterilidade que se tornou o Nordeste foi motivo de estudos geológicos
tanto de europeus quanto de americanos do Norte, os quais redundaram em nada.

128
O período colonial foi quase que exclusivamente de "exploração extrati-
vista", sendo um de seus resultados o isolamento das populações e das economias
coloniais dos processos dinâmicos das economias emergentes, baseadas na crescente
incorporação de tecnologias voltadas para o aumento da produção e produtividade.
Ao contrário, as economias coloniais se mantiveram em escalas de subsis-
tência, com baixos níveis de tecnologia e capitalização e, portanto, sem condições
para qualquer tipo de desenvolvimento.
A primeira iniciativa do Governo Imperial a respeito da questão da seca do
período relativo a 1844-5 foi a criação de uma comissão amparada pelo artigo 1º da
Lei 884, de Outubro de 1856, para estudar o problema. Nos anos de 1844-1845 havia
ocorrido mais uma crise climática do Ceará Imperial, embora a comissão só fosse
criada pelo Imperador depois de decorridos dez anos após esta catástrofe. Na época
a conjuntura política nacional era caracterizada pela centralização do Império.
Nesse período, o Brasil era dirigido por D. Pedro II, reinado que durou 49
anos, de 1840 até 1888. O país iniciou uma época de relativas transformações e de
rápido progresso, foi o momento quando a cultura do café desenvolveu-se através da
exportação, fato que também “europeizava” o país com novos costumes.
Registra-se um longo período de 1846 a 1876 como sendo uma fase áurea
dos Estados atingidos pelas crises climáticas. Daí em diante as sucessivas secas e as
transformações culturais foram ocorrendo e afetando todos os âmbitos sociais fruto
das mudanças tecnológicas próprias do início do século XX.
Entretanto, de tudo que foi dito, observou-se para o Patriarca nº 4 - João
Honório de Abreu a conquista, posse, preservação e transferência da Terra Prome-
tida quando por volta de 1850 sentindo-se doente, passa todo poder para o Patriarca
nº 5 - Jerônimo Honório de Abreu vivendo ao lado deste por mais 30 anos che-
gando a falecer em 7 de outubro de 1866, ciente do dever cumprido ao atingir 83
anos de idade.

129
130
7

Troncos e Ramos
da Família de
Honório José de Abreu

Possuímos com maior detalhe muitos contos acerca da vida e comporta-


mento do núcleo familiar resultante do Patriarca nº 5, Jerônimo Honório de Abreu
casado com Antônia Vieira de Abreu e seus/as (16 filhos/as) face ao número de es-
critos realizados e produzidos por conta de Capistrano de Abreu, meu tio-avô e outros
familiares que se destacaram no uso da escrita.
Entendo e assumo que o motivo se direciona para aqueles que apresentaram
maior posse e poder.
No final do século XX, meu tio paterno Cristovam de Abreu em suas pes-
quisas relacionadas ao Columinjuba, já havia localizado apenas no tronco envol-
vendo os descendentes de Pedro de Abreu - Patriarca nº 6, um efetivo de mais de
mil pessoas distribuído por cinco gerações.
Por tal motivo nossa rota seguirá com algumas alterações este caminho, in-
cluindo e descrevendo mais cinco gerações aos demais núcleos e ramos oriundos dos
Honório, Machado, Santos Lessa, Mendes, Martins, Lima, Freitas e Braga os quais
serão apenas anunciados quando de suas inserções como elementos constituintes da
família de Honório José de Abreu, mas não serão aqui aprofundados.
Minha proposta de trabalho é produzir um texto onde as demais gerações
vindouras familiares sob o desejo de não perder suas raízes como muitos descenden-
tes já fizeram, retomem o estudo do ponto de onde parei resgatando seus ramos e
galhos genealógicos.
Jerônimo Honório de Abreu - Patriarca nº 5, era o quinto filho de um
total de sete do casal João Honório de Abreu e Antônia Maria, tendo nascido em
Columinjuba em 1824, logo cedo começou ajudar o pai nos afazeres da propriedade.
Sua infância, como a dos outros irmãos e irmãs foi dedicada ao aprendizado dos tra-
balhos, na terra, na pecuária e na organização da propriedade, procurando sempre o
melhor.
131
Aprendeu a ler e escrever o mínimo necessário numa escola em Gereraú
uma localidade distante cinco quilômetros de casa com o português conhecido por
Mestre Porto, durante o período em que seu pai considerou conveniente.
Em 1850, com 25 anos de idade Jerônimo Honório de Abreu, recebe do
pai com 67 anos de idade “procuração” para gerir todos os seus negócios. É fácil
imaginar que a transição se fez lentamente.
Pai e filho eram muito parecidos no que diz respeito a compreensão da vida
e com relação aos mecanismos de trabalho utilizados para tocar a agricultura e ao
caminho a ser trilhado pelos familiares que dependiam dele. Só aos poucos se percebe
os dois períodos distintos em que ambos se envolveram.
João Honório de Abreu, julgando que o regime patriarcal existente no Co-
luminjuba não se alteraria sob a tutela daquele filho, preparou-o para seu sucessor
envolvendo em um casamento arranjado no seio de família, um procedimento corri-
queiro e comum sob a vigência do regime patriarcal.
Ele tinha por Jerônimo, uma afeição toda especial. Foi o único dos rebentos
a quem o velho permitia na sua austeridade ficar sentado à sua frente. Os outros foram
logo casando, “desertando” do lar, constituindo família e com ela passando a se ocu-
par.
O Patriarca nº 5, ia se deixando ficar ao lado dos pais, arrimo forte da
velhice paterna, garantia de futuro e continuidade do feudo que o tronco dos Machado
soube tão bem aproveitar se inserindo de vez, enquanto isso, o tronco dos Honório,
foi se isolando para sempre, se recolhendo e passando a viver apenas a sorte que -
deus dará, sem qualquer perspectiva de mudança social e econômica.
A tal filho agradaria ao pai fazê-lo casar em condições vantajosas adicio-
nando a sua vida uma componente aditiva que aumentasse a resultante econômica-
social. Sua preocupação era não dividir a Terra Prometida duramente conquistada e
não introduzir “estranhos” na família. Foi então que apelou para o esquema aristo-
crático vigente utilizado na sociedade inglesa.
Após muito meditar como agir e sem criar problemas familiares, João Ho-
nório de Abreu fez um conchavo social, casando sua neta uma pré-adolescente com
seu filho querido, resolvendo de uma só vez os dois problemas. Como tudo se encon-
trava sob orbes eclesiásticas e familiares, o caso não foi considerado violação e se-
dução.
Em 1852, pedido que foi em casamento por Manuel Vieira Mota, pai da
escolhida e cunhado, casa-se Jerônimo Honório de Abreu em seus quase 28 anos
de idade, com sua sobrinha de praticamente 13 anos de idade, Antônia Vieira de
Abreu, o ato foi presidido pelo Padre Antônio Nogueira Braveza, ainda na antiga
Casa-Grande, do sítio Columinjuba.

132
João Honório de Abreu dava à sua afilhada a melhor quota de sua herança,
a parte referente ao terreno onde se encravavam no dito sítio Columinjuba, o açude,
a Casa de Farinha, o Engenho e plantações de cana de açúcar bem como outras ben-
feitorias já pertencentes a Jerônimo e determinadas em seu testamento.
Em 1846 falece Francisco Honório de Abreu, conhecido como Pai Chi-
quinho, nascido em Sobral em 1783 com 63 anos de idade. Em 1851 a febre amarela
chega a Fortaleza, se expande para o interior invadindo Maranguape e vários muni-
cípios do Estado. Dos 15 mil habitantes de nossa Capital, 8 mil foram atacados. Tor-
nou-se uma doença epidêmica.
Labutando de sol a sol na dura faina do campo Jerônimo Honório de
Abreu foi pouco a pouco liberando o pai dos vários encargos agrícolas. Homem de
grande iniciativa com a capacidade de trabalho que lhe dava a mocidade e o gosto
pelo campo iniciou ali diversos melhoramentos.
Entre as benfeitorias que Jerônimo construiu figuram o açude grande ini-
ciado por volta de 1850, e o engenho destinado a moagem de cana que a água repre-
sada permitia cultivar.
João Honório de Abreu e sua esposa após o casamento do filho com a neta
tornaram-se ao mesmo tempo avós e bisavós de Capistrano nascido um ano depois.
O nome João Capistrano de Abreu, foi posto em honra ao santo do dia. Ele
é levado à pia batismal no Oratório de Columinjuba, pela antiga serva Josefa Maria
Borges, Dedé, uma retirante que apareceu na fazenda, com 18 anos de idade, em 1824
e por ali permaneceu.
A partir do nascimento de cada filho Jerônimo Honório de Abreu a moda
do pai, foi perdendo para sempre qualquer ligação com o parentesco Honório fruto
do cisma familiar ocorrido por conta do casamento de sua tia, a filha de Francisco
Camelo Pessoa Neto, Ângela Maria Honório de Abreu.
Naquela época ele já providenciara a construção de sua própria residência.
Próximo ao açude onde fez levantar uma segunda Casa-Grande de alvenaria bem
melhor e mais rica que a de seu pai, para onde se mudou em 1854.
A casa onde viveria até a morte, tinha se tornado o centro de toda nobiliar-
quia dos descendentes da Família de Honório José de Abreu, ela tinha característi-
cas semelhantes a primeira construída pelo pai, sendo bem maior tornando-se a Nova
Casa-Grande.
Para lá foram transportados mais tarde mediante licença da autoridade ecle-
siástica o oratório da família bem como o livro de batizado Flos Sactorum de onde
se extraíam os nomes dos rebentos da família a ser levado à pia batismal na Capela
da fazenda.
Esta casa não existe mais em sua arquitetura original. Foi completamente

133
destruída ao ser reformada pelos herdeiros dos Abreu-Machado, seu estado atual não
reflete mais as nossas raízes, tudo que representava nossa trajetória cultural constru-
ída a ferro e fogo foi posta abaixo, nossa referência social e familiar se perdeu nos
escombros daqueles montes de entulhos que um dia em minha infância cheguei a
conhecer.
Hoje só resta sua foto no livro escrito por Cristovam de Abreu, onde o la-
mento dos escravos na senzala cimentada gritando por liberdade, o vagar das almas
perdidas nos corredores em busca do oratório sagrado sem ninguém capaz de fazer
qualquer oração de enlevo para retirá-las de onde se encontram.
As rodas de conversas embaladas pela religiosidade vigente, as sombras da
Casa de Farinha, o engenho, o moinho e a certeza de saber que tudo podia ter sido
feito diferente foi destruído. Tremeis Abreus, tremeis em suas tumbas esquecidas e
abandonadas, por mais um ato isento de sanidade educacional.
A época de João Honório de Abreu transcorrera sob o pano de fundo de
um Brasil ainda em luta com o colonialismo português, seu tempo era o de D. Pedro
I, já a época de Jerônimo Honório de Abreu transcorre em pleno regime de D.
Pedro II, superadas as maiores turbulências políticas do tempo da Regência.
O país, a partir de 1850, quando Jerônimo começou a dirigir a fazenda,
passou a conviver sob o impulso modernizante de várias iniciativas como abertura
de estradas de ferro, inauguração de linhas telegráficas, estabelecimento de navega-
ção para Europa, facilidade de comercialização, crescimento acentuado da economia
cearense. Foi quando Fortaleza passou a comercializar com o Nordeste e tudo era
fartura.
Em 1853, com a promulgação da Lei Imperial, cria-se a Diocese do Ceará,
confirmada pelo Papa Pio IX em 06 de junho de 1854, através da bula “Pro animarum
salute”. O Ceará até então, era vinculado à Diocese de Olinda possuindo uma popu-
lação média de 650 mil habitantes, quase totalmente católica. Havia na Diocese 34
paróquias e um curato. O número de Igrejas era 78 e o de capelas 11 em toda a Pro-
víncia do Ceará.
Em 1859, segundo um relatório do Governo da Província do Ceará à As-
sembleia, existiam nesse ano no Estado, 103 escolas públicas e nove particulares.
Das escolas públicas 74 eram para o sexo masculino e 29 para o sexo feminino. A
população de Maranguape, nesse ano, era de 19.832 habitantes.
O mundo desenvolvido caminhava para uma organização econômica que
era considerada “mundial”. O liberalismo econômico impunha as regras a tudo o que
era possível para demonstrar que esta prática era melhor para economia mundial. Era
preciso mão de obra preparada, escolarizada e o Brasil, com sua economia baseada
na agricultura, na exploração bruta do trabalho, não atingia as exigências dos intere-

134
sses externos.
Diante de muitos conflitos, o país passava então a ser denominado Repu-
blicano com a libertação dos/as escravos/as para atender às demandas do mercado
internacional inglês.
A situação começaria a mudar gradualmente na metade do século, quando
o esquema de tratados assinados por D. João VI e D. Pedro I, onde as potências eu-
ropeias levavam vantagens esmagadoras nos acordos comerciais, chegou ao fim, com
a aprovação da Tarifa Alves Branco.
A predominância da economia inglesa prosseguia, mas agora o Brasil co-
meçava a se organizar melhor no campo econômico onde aos poucos a dependência
portuguesa não mais apareceria de forma tão cruenta. Durante quase todo o século
XIX prosseguiria o lucrativo e horrendo comércio de escravos/as, assim como ocor-
rera nos três séculos anteriores.
O Império encontrava-se no dilema da pressão externa europeia, em espe-
cial da Inglaterra, para eliminar a escravidão e assumir seu comércio e tecnologia.
Enquanto no cenário interno, a abolição de tal prática significaria a perda de sua
maior fonte de apoio, pois foram os grandes latifundiários escravagistas donos de
engenhos e fazendas de café, que contribuíram para o fim da Monarquia.
O produto que marcaria o período começava a ganhar importância por volta
do meio do século, constituindo-se logo no principal elemento de exportação do país,
chegando quase a preencher toda a pauta de exportação: esse produto era o café, e
sua importância para a economia brasileira duraria ainda quase cem anos, extrapo-
lando o século XIX, fazendo a riqueza de uma elite agrícola no sudeste do país, re-
baixando qualquer possibilidade de ascensão industrial nordestina e efetivamente,
atrasando a industrialização do Brasil.
Como alternativa de sobrevivência para o Nordeste, a produção do algodão
começava também a fazer parte da riqueza geral, tendo sido o principal produto de
exportação do Ceará. Com o franqueamento dos portos brasileiros em 1808, reforça-
ram-se as trocas com o Reino Unido e, a seguir, com os Estados Unidos e Portugal.
Os acontecimentos sociais surgentes que os descendentes de Honório José
de Abreu, passaram a vivenciar a partir desta época, situavam-se basicamente na
sede do Município de Maranguape.
Em ofício ao Presidente da Província, o Presidente da Câmara de Maran-
guape informa que o município em 1860 contava com 40 engenhos, que produzem
30 mil arrobas de açúcar e 45 mil canadas de aguardente;110 sítios de café, que pro-
duzem 62.000 arrobas; 9.000 arrobas de algodão em pluma; exporta 6.000 arrobas de
farinha e outro tanto de legumes e 3.700 cargas de frutas. Em 1858, tinha sido inici-
ada uma epidemia de bexiga que assolou a província de Maranguape.

135
Em 1862, declara-se a existência de cólera-morbo em Fortaleza a qual pe-
netrou no Ceará através de Icó. Tomou forma epidêmica alastrando-se por todos os
recantos do Estado. Maranguape é uma das cidades mais atingidas, morrendo cerca
de 60 pessoas por dia. Avalia-se que o número total de vítimas alcançou a cifra de 11
mil pessoas. A epidemia durou um ano e quatro meses.
Segundo Tomaz Pompeu de Sousa Brasil, a mortalidade em Maranguape,
em 1862, foi elevada e a quantidade de vítima da cólera-morbo, foi espantosa, con-
tou-se até 1.800 óbitos, dos quais 1.430 dentro da pequena vila. Em outubro cessou
a epidemia, após ceifar muitas vidas.
A Casa da Câmara Municipal, que serviu de lazareto, uma espécie de en-
fermaria, foi reaberta, gerando novo surto da cólera-morbo, matando mais 370 pes-
soas, inclusive o Oficial de Justiça, Manoel Martins, que abriu o prédio. Os números
oficiais registraram 1.800 vítimas no total.
João Honório de Abreu e Jerônimo Honório de Abreu não eram dife-
rentes um do outro em termos de caráter e tolerância, os tempos em que cada um
deles atuou é que eram distintos como revelam os aspectos sociais nos dois períodos,
de modo geral eles apresentavam muita similaridade, seus fundamentos educacionais
são os mesmos.
Os núcleos com seus troncos familiares não mudaram quando se passou de
pai para filho: permaneceram as mesmas relações de trabalho, as relações sociais e
comportamentais, as técnicas agrícolas e pecuaristas.
As relações entre pais, filhos e filhas também não se alteraram em todos os
feudos enquanto, a educação escolar ainda era vista com muita cautela face ao que
pudesse advir com relação ao conhecimento e o que do mesmo pudesse gerar em
termos de alteração social quando o problema envolvia as filhas.
Cercado dos/as filhos/as nos moldes rígidos em que fora criado, severo
como sempre, Jerônimo Honório de Abreu passou a ser visto pela sociedade ma-
ranguapense como um dos homens fortes da terra, uma pilastra de nobreza e moral
assentada por quase setenta anos, onde seu nome aparecia exercendo funções rele-
vantes na burocracia provincial.
Foi a partir desses encontros sociais que ele começou a se interessar pela
educação e direcionamento de João Capistrano de Abreu no seio da família.
O Patriarca nº 5, tinha colocado uma pedra sobre a miséria e a pobreza
superando todo caminho de dor que seus pais e avós durante anos tinham convivido
e mitigado, permitindo-lhe desfrutar do suor e das lágrimas deixados ao longo do
caminho.
Estava procurando se incluir no grupo dos que têm poder político e aristo-
crático como não tinha ocorrido com seus antecedentes familiares no Estado.

136
Entretanto, o analfabetismo ainda lhe perseguiria, fora sempre seu amigo,
pois continuava a ser um homem de poucas letras. Ele não tinha entendido que os
tempos eram outros, a mudança não foi percebida inicialmente, quem passou a des-
pertá-la foi seu filho mais velho, de forma completamente avessa ao que vinha con-
vivendo, subvertendo tudo que tinha aprendido junto ao pai.
Foi no pequeno torrão onde nasceu que João Capistrano de Abreu estudou
as primeiras letras. Luís Mendes, um mestre-escola residente em Ladeira Grande, um
pequeno povoado distante dois quilômetros de Columinjuba ensinou-lhe as primeiras
vias do conhecimento que seus antecedentes pouco possuíam. Montado em garupa
de cavalo, em lombo de jumento e frequentemente a pé, o aluno comparecia as aulas.
A pobreza dos meios educacionais para a época era gritante. A cartilha era
feita a mão pelo próprio mestre, pois não existia no local outra maneira. Com pena
de pato e tinta vegetal praticava-se a escrita primária.
No meio da década de 1860 a vida familiar e mando de Jerônimo Honório
de Abreu modificou-se completamente ao surgir o problema de seu primogênito
quando ele descobriu outras plagas diferenciadas do clima rural buscando seguir o
caminho da Corte onde julgava poder conhecer o mundo intelectual que despontara
a sua frente renunciando tudo que o pai tinha planejado conforme recebido de João
Honório de Abreu, para ser seu sucessor.
Ao procurar vivenciar o conhecimento, em 1865, Capistrano de Abreu pas-
sou a frequentar o Colégio dos Educandos, o Ateneu Cearense e o Seminário da Pra-
inha, em Fortaleza, escola em que foi colega de Padre Cícero, Patriarca do Juazeiro
e de Anastácio de Albuquerque Braga, natural do mesmo município.
No Seminário matriculou-se com o nome de João Capistrano de Abreu, não
utilizando o sobrenome Honório conforme recomendado, e lá permaneceu até 1866,
quando o pai foi aconselhado a tirá-lo, por algum tempo, a fim de o emendar da
preguiça e vadiação propaladas.
Uma notícia divulgada de forma enganosa como se faz rotineiramente com
muitas pessoas no seio familiar, visto seus ideais serem outros.
O ano de 1869 foi significativo para a vida de Capistrano de Abreu. Trouxe
para o adolescente de 16 anos a primeira separação da terra natal, o primeiro exílio,
que lhe abriria caminho para os anos seguintes.
Entretanto, por mais que se esforçasse não possuía “cérebro” desenvolvido
e nem experiência para enfrentar o que a vida e a sociedade estavam a oferecer na-
quele momento. Jerônimo Honório de Abreu, observando o comportamento do fi-
lho, se viu forçado a tomar uma decisão.
O que ele via em Capistrano era uma absoluta falta de adequação para la-
buta rural aliada a uma dedicação exagerada aos livros procurando a todo custo o

137
conhecimento que não tinha recebido. Admitiu, pois, a possibilidade de encarreirá-
lo na vida política como faziam todos os ricos coronéis donos de terra com seus fi-
lhos.
Quando não encaminhavam os filhos para Europa enviava-os para desfrutar
os prazeres intelectuais da Corte através de um regime de estudo sério e bem orien-
tado, em ambiente propício. E assim agindo, mandou Capistrano para Recife, metró-
pole nordestina intelectual da época, onde o ex-seminarista deveria tirar preparatórios
e matricular-se no curso de Direito.
Entretanto, tal desejo se interrompe quando ao completar 18 anos Capis-
trano de Abreu, retorna a Fortaleza e passa a se envolver com os intelectuais imbuí-
dos nas brumas das fantasias europeias de mudança.
Após quatro anos vivendo em ócio educacional, foi quando em 1875 Jerô-
nimo Honório de Abreu, vende um escravo para financiar as despesas de viagem
do filho para Corte, de um primogênito que se ausentaria para sempre de seu torrão
natal.
Após ter este problema familiar solucionado de vez, Jerônimo Honório de
Abreu, procura por ascensão social passando a ser considerado nas redondezas como
um senhor de engenho vendo crescer seus cabedais e na esteira destes obtendo des-
taque com sua entrada na política e ingresso na Guarda Nacional.
Sua classificação social, não permitia nobreza e nem aristocracia, vinha de
um mundo oriundo de colonos pobres e com muito esforço tinha chegado a convi-
vência com a aristocracia, com os ricos, era considerado um “emergente” da época.
Entretanto, aos poucos foi descobrindo como alcançar o mundo elitizado
dos poderosos, começando por se infiltrar na Guarda Nacional e na política.
A milícia do Ceará organizou-se no período da Capitania e pelos fins do
século XVII, compunha-se de nove Regimentos, sendo seis de Cavalaria e três de
Infantaria.
Logo depois foi criada a Guarda Nacional em substituição as milícias, or-
denanças e guardas municipais. Prestou essa instituição os mais assinalados serviços
ao país, durante a Monarquia, sobretudo na guerra do Paraguai e durante a República,
especialmente na revolta armada, em 1893.
A Guarda Nacional do Império foi criada pela Lei de 18 de agosto de 1831,
posteriormente alterada pelo Decreto de 25 de outubro de 1832. Pela Lei n. 602, de
19 de setembro de 1850 teve nova organização, alterada pela lei n. 2.295, de 10 de
setembro de 1873 e regulamento que baixou o Decreto nº 5.573, de 21 de março do
ano seguinte.
Como acontecia na época, o roteiro da evolução social consistia primeiro
na obtenção da riqueza baseada na posse de terra, na venda do algodão, da aguarde-

138
nte, do açúcar e na posse da mão escrava.
Em seguida vinha o relacionamento com os poderosos do Município e da
capital, uma ideologia de que os interesses de uns eram os interesses dos demais e
que para a defesa de todos o caminho adequado a seguir era se tornar político.
Finalmente como símbolo e instrumento de poder e influência vinham a
farda e os galões da Guarda Nacional. Jerônimo Honório de Abreu resolveu adotar
esse caminho.
Em 1858 ao surgir uma nova epidemia de bexiga assolando mais uma vez
a Província de Maranguape e por volta de 1860, dez anos Jerônimo à frente de todo
Columinjuba ele era visto na sede do Município como pessoa de respeito e de ação.
Detentor de boa situação econômica decidiu seguir o caminho político e se
deu bem. Eram seus correligionários o Cônego Antônio Nogueira de Braveza, o Co-
mendador João Correa de Melo, o Cel. Joaquim de Souza Sombra, Cel. Tito Nunes
de Melo, Major Estevan José de Almeida, etc. Era um grupo de notáveis da época
autênticos representantes conservadores do patriarcalismo rural maranguapense.
A criação da Assembleia Provincial (1835), a montagem de uma polícia não
dependente da cabroeira familiar, assim como a distribuição de comarcas e municí-
pios pelos interiores, num processo que se arrastaria por mais de meio século, ajudou
a montar uma estrutura burocrática central cujo propósito seria o de submeter os in-
teriores provinciais ao polo central de poder, impondo-lhes uma estrutura de perso-
nalidade e um padrão de civilidade da qual Jerônimo Honório de Abreu passou
assumir.
Analisando a Constituição do Estado no ambiente das vilas e fazendas da
província do Ceará no século XIX, entre os anos 1830 e 1900, percebe-se o início do
processo de separação entre o “governo da família” e o “governo do Estado”.
A fundação da vila, a composição da justiça, da polícia, da burocracia mu-
nicipal etc., eram demandas supridas pela autoridade das portentosas famílias da re-
gião.
Isso teria feito da justiça e da lei existente nos interiores uma extensão das
vontades das famílias e das pessoas de “posição” e de prestígio naquela sociedade,
um verdadeiro coito de burlantes da educação e da cidadania que não existiam.
Vem daí a necessidade de cada família compor “pequenos exércitos” de
irmãos, primos, cunhados, sobrinhos, genros, compadres, afilhados e cabras – as de-
nominadas parentelas – que eram grupos belicosos de valentões, cuja função primor-
dial era promover a defesa dos interesses grupais, da honradez e da respeitabilidade
da família parental territorialista que se colocavam acima da lei.
Entretanto, o Estado aos poucos passava submeter às famílias portentosas à
sua autoridade, retirando, com suas instituições e burocracia, boa parte dos poderes

139
e das funções públicas até então entregues aos “cuidados” das violentas e virulentas
parentelas interioranas.
O regime de coronelato no Estado do Ceará, até a primeira metade do século
XIX ainda não havia sido submetido à autoridade de sua capital.
Ao final do século XIX e início do século XX, o Ceará, enquanto figura
política, não estava constituído de modo não delével nos corações e nas mentes dos
habitantes dos sertões, sua presença institucional era demarcada em forma de “aman-
samento” da índole dos homens e das mulheres deste período, excluindo qualquer
um que tentasse violar tal preito.
A violência, que impregnava as relações sociais e as instituições em geral,
nascia de um universo de valores locais que eram respaldados pela tradição e pela
moralidade interiorana imposta.
À medida que o poder central ia se afirmando sobre os moradores do sertão,
esta “moral da violência” foi se submetendo a um processo civilizador de “correção”
de hábitos e costumes que fora responsável pela modelagem de outros padrões cole-
tivos de comportamento pacíficos e ordeiros por parte daquela população.
Os clãs familiares dos sertões eram remanescentes das “milícias D’El Rei”
que se constituíam de tropas “paramilitares” formadas por séquitos de colonos e seus
dependentes, a quem a coroa portuguesa “terceirizava” a “limpeza da terra” e sua
ocupação através da distribuição de sesmarias e de cargos civis e militares entre os
colonos assentados nas margens dos grandes rios e seus afluentes da capitania do
Siará Grande de então.
A parentela agia como célula única, que lutava por seus interesses e se im-
punha através da capacidade de gerar terror, medo e respeito nos seus concorrentes,
uma necessidade para época e um espaço social que Jerônimo Honório de Abreu
entendia muito bem.
Era ela a fonte da “lei” e da ordem nestes lugares, e o Estado, ao invés de
combater, visava aliciar e legitimar tal forma de poder entre os latifundiários.
A ação legal naquela conjuntura era no sentido de dominar, e não de disci-
plinar e submeter ao poder privado das famílias influentes através da outorga de car-
gos e títulos.
Neste esquema, a violência punitiva e privada dos “aliados” do Estado era
peça fundamental para o “bom funcionamento” do governo nos sertões. Seria tal vi-
olência simbólica uma forma convencionada das autoridades públicas fazerem valer
a lei e a ordem nas imensidões do Ceará primevo? Acreditamos que sim.
Além do recrutamento dos principais potentados locais para ocupar os pos-
tos de poder institucionalizados na Guarda Nacional e nas administrações munici-
pais, o que chama a atenção é que fora através desta violência (violência da família

140
parental que catequizava, disciplinava para o trabalho, impunha o monopólio da terra
e da obediência às leis do Império) que o Estado brasileiro nascera e se firmara nos
sertões do Ceará.
A Constituição outorgada pelo Imperador D. Pedro I prevaleceu como lei
maior da jovem pátria brasileira que se fazia desde então; basicamente, ela unia ideias
de outras constituições, como a francesa, a inglesa e a norte-americana para sua ela-
boração.
Ao contrário do que se consagrou acreditar tradicionalmente, em sua essên-
cia esta carta constitucional defendia princípios eminentemente modernos e liberais,
como o princípio da representatividade política e o direito ao voto estendido apenas
aos cidadãos.
O problema era saber quem podia ser considerado “cidadão/a” – A Consti-
tuição imperial veio coroar o pátrio poder, reconhecendo “de direito” uma situação
existente “de fato”, o poder patriarcal do chefe da família.
A emergência do/a “cidadão/ã”, embora o texto constitucional já o admi-
tisse, estava longe de ser acompanhada da extensão ampla da cidadania ao todo da
sociedade.
O cidadão era apenas o chefe de família. E da cidadania plena estariam ex-
cluídos os “criados de servir”, os “filhos de família”, os “trabalhadores manuais”, e,
obviamente, os escravos e as mulheres de quaisquer classes.
Apenas lentamente, em paralelo ao processo de consolidação do poder do
Estado, e da simultânea consolidação das identidades e dos signos da nacionalidade
e da “provincialidade” é que nasceria a noção de “povo” enquanto abstração maior,
que abarcava todos aqueles que nasciam e viviam dentro das fronteiras geográficas
do mesmo corpo político.
Naquela conjuntura histórica, “cidadão” era a reduzida minoria dos propri-
etários de terras, classe detentora do poder político e econômico e possuidora da au-
toridade moral sobre os inferiores sociais.
O homem e a mulher pobres entravam “de carona” na cidadania ao ingres-
sarem nas parentelas dominantes como compadres, afilhados; enquanto o restante da
sociedade – os excluídos dos esquemas de favores do compadrio – eram os párias a
maior parte daquela sociedade.
A exclusão dessas pessoas era tão intensa que muitas vezes elas eram colo-
cadas abaixo dos escravos na pirâmide social; eram os/as “vadios/as” e os/as “vaga-
bundos/as”, elementos que “empestavam” o interior do Ceará.
Enquanto isso, o controle da máquina pública, a aplicação da lei, a defesa
da ordem, a punição aos criminosos, a organização das eleições, etc. eram atribuições
destas famílias abastadas aliadas ao centro de poder.

141
Cada parentela possuía um território de domínio político e a partir daí pro-
curavam construir laços de “lealdade” com outras parentelas que dominavam outros
núcleos parentais nos interiores da província do Ceará de então, uma prática política
que se mantém até hoje usando de meios casamenteiros. Era da capacidade de cons-
truir o consenso em torno de si que nascia a predominância de um grupo para dominar
a província.
Dos cinquenta e cinco presidentes que, segundo Raimundo Girão, teriam
governado o Ceará de 1824 até a queda da monarquia em 1889 apenas 8 eram polí-
ticos recrutados na Província; os outros 47 – seja 86% – eram homens estranhos à
arena política local da qual nada entendiam dos costumes locais.
É claro que esta diferença vem nos revelar os esforços do poder central para
tutelar as oligarquias que se cristalizavam no ambiente das províncias do Império.
Nas vilas, a “estrutura burocrática híbrida” (que misturava família e Estado)
era um universo à parte que sabia resistir e se adaptar às mudanças oriundas da con-
juntura da política nacional. Assim, a moral violenta do sertanejo estava completa-
mente ligada ao “estado de necessidade”, enquanto a família parental era a fonte da
lei e do ordenamento do universo local.
Em geral, entendemos as violências e as sevícias do período como “ques-
tões étnicas ligadas unicamente ao universo social da escravidão”, brancos opresso-
res versus negros oprimidos, de “falta de civilização” versus o “império da barbárie”.
A agressividade do opressor sertanejo e de seus bandos e familiares estava
respaldada por um universo mental e comportamental que as vestia de legitimidade
perante os homens e mulheres daquela sociedade rural, escravocrata e patriarcal.
A questão central, a nosso ver, é que a vendetta privada era de certo modo
autorizada e tolerada pelo Estado ao transformar a família em agência de governo,
onde estas agiam motivadas por uma estrutura mental que tirava sua legitimidade do
isolamento geográfico, do fato de ser a família, polo de poder repressivo, e da falta
de maturidade das instituições centrais.
As alianças familiares eram parte de uma estratégia que visava à costura da
paz e do equilíbrio social. Os “agentes da legalidade” sabiam que a defesa da ordem
dependia da construção de alianças que tornassem os grupos parentais dependentes
uns dos outros, assim como da acumulação de um poderoso capital político. A ca-
broeira vivia armada e pronta para intimidar e agir na defesa dos interesses dos mem-
bros da família que necessitassem de ajuda.
Bem e mal, a ordem social ancorada na família prepotente trouxe à norma-
tização e o equilíbrio necessário à moldagem daquela sociedade de natureza rural.
Caso contrário, o cenário seria a “guerra de todos contra todos”.
É errônea e anacrônica a percepção que temos de que o poder político vinha

142
das sedes das vilas e de lá se irradiava pelos interiores ermos da imensa geografia das
vilas do sertão. Não, o caminho era o inverso.
Como podemos perceber, embora o polo central da vila fosse o local de
concentração de determinadas instituições públicas (como era o caso da Câmara de
Vereadores, da Igreja e das instituições jurídicas), podemos dizer que tal ambiente
não era o lócus principal do poder efetivo.
Tal núcleo emanava das parentelas familiares radicadas nos matos e nos
desertos semi-habitados dos latifúndios criadores, “onde ditavam a ‘lei’ e era o “rei”
vindo das numerosas famílias beligerantes e amparadas por pequenos exércitos de
“cabras valentões” consorciadas umas com as outras, através de ligações casamen-
teiras que a tudo comandavam.
Criada no dia 18 de agosto de 1831, logo após a abdicação de D. Pedro I,
pelo Regente padre Diogo Antônio Feijó, como medida de emergência para barrar os
“ventos separatistas” que sopravam das províncias do frágil e recém emancipado Es-
tado Brasileiro, a Guarda Nacional dera tão certo como instituição disciplinar e ho-
norífica que somente no século XX deixaria de existir.
Ela tinha como finalidade a manutenção da Ordem. Como força policial
local, a guarda era chamada a fornecer tropas para cumprir missões policiais na área;
e estabelecer uma hierarquia, em que a patente de “coronel” correspondia a um ele-
vado comando municipal e regional, por sua vez, dependente do prestígio econômico
e social de seu titular.
Claramente a Guarda Nacional era uma instituição que ia contra a centrali-
zação administrativa reclamada pelo Estado em gestação, pois ela reforçava o poder
social das famílias parentais e colaborava para pulverizar a autoridade pública de
modo anárquico entre vários comandos existentes e fictícios: no meio de tantos Co-
ronéis, Majores, Tenentes-Coronéis, etc.
Ninguém saberia dizer ao certo quem estava no comando da Guarda Naci-
onal numa região e quais os pressupostos de seleção de seus comandados. Ela deu
status de legalidade ao “pátrio poder” e ao mando familiar, colaborando para trans-
formar os assassinos e os valentões contratados pelas famílias influentes em “agentes
públicos” sendo eles os principais responsáveis pelo policiamento nas vilas do sertão
do Ceará daquele momento.
Foi principalmente através da Guarda Nacional que o poder social e econô-
mico das famílias latifundiárias se converteu, com aval do centro, em poder formal
de polícia.
Mas constitui-se um erro de perspectiva a imagem consagrada pela histori-
ografia que apresenta a Guarda Nacional como uma instituição gigantesca e podero-
síssima, de onde os chefes de família controlavam a vida da comunidade à sua volta.

143
Não obstante o fortalecimento do capital comercial e da capital Fortaleza
no início do século XIX, o interior do Ceará continuava tendo grande importância
econômica, assim como a pecuária, mesmo enfraquecida. A estrutura social no inte-
rior dessa província compreendia, principalmente, de moradores, que viviam e traba-
lhavam em terras alheias, e de fazendeiros, donos de tais terras.
Embora havendo uma mudança dos gêneros produzidos e exportados pela
província, a estrutura hierárquica do trabalho permanecia a mesma de antes, e os
moradores continuavam como classe produtiva, mas, na prática, subordinada aos do-
nos de terra – não que aqui houvesse uma subordinação exatamente forçada.
É reconhecido que as relações entre moradores e fazendeiros não envolvia
apenas questões de trabalho: havia códigos de conduta e comportamento (não tão
formais para se chamar de “código”, é verdade) entre as duas partes que extrapola-
vam a simples relação senhor - empregado.
Enquanto em muitas províncias a economia estava basicamente assentada
na força de trabalho escravo, no Ceará o trabalho livre foi o elemento de principal
emprego. O trabalho livre que se tornou corrente no Brasil já era empregado no Ce-
ará, antes da abolição não sendo assim necessária uma mudança na estrutura do tra-
balho em boa parte do sertão.
Tendo permanecido a divisão entre moradores e fazendeiros, era realmente
de se esperar que os últimos continuassem a fazer uso de seus moradores para obter
lucros e benefícios políticos. Era comum que políticos do interior (em sua maioria
fazendeiros) juntassem seus moradores e os acompanhassem em dia de eleição até os
locais de votação, desde que fosse para votar em si, e em seus aliados políticos.
Foi nesse universo social político que em 1868 devido aos seus “dotes” Je-
rônimo Honório de Abreu ingressa na Guarda Nacional, como 1.º Tenente do Es-
quadrão de Cavalaria de Maranguape. Logo em seguida dois anos depois, devido a
sua posição social, é promovido a Capitão de Infantaria a 15 de setembro de 1870.
A população do Município nessa época era de 19.832 habitantes, sendo
8.641 homens e 8.928 mulheres, num total de 17.569 pessoas livres e 2.443 escravos,
sendo 1.505 do sexo masculino e 938 do sexo feminino.
Após a promoção já em 1871 por ato do Governo Provincial o Patriarca
nº 5, era designado como membro da Comissão Trina, encarregada da construção da
Igreja da Tabatinga, em 1873 torna-se Major e em 1875 passa a fazer parte do co-
mando superior do Município de Maranguape.
Numa escalada político “militar” célere, com duração de apenas 7 anos atin-
gira o topo do comando da Guarda Nacional de forma surpreendente.
Que ideia teria levado Jerônimo Honório de Abreu um homem rude e sem
estudo e conhecimento, um simples emergente, participar da política exercendo o

144
mandato de vereador na Câmara Municipal de Maranguape, que fundamentos o ori-
entaram na escolha do grupo partidário que se filiou?
Em Maranguape seu grupo político girava principalmente em torno do Co-
ronel Joaquim Sombra ligado ao Senador José Martiniano de Alencar. Ao assumir a
política, no ano seguinte é renovado seu mandato de vereador para a legislatura
1873/76.
Enquanto na metrópole era simpatizante dos (conservadores), no Município
de Maranguape era tido como fazendo parte da linhagem dos (caranguejos).
O Corpo Eleitoral da Província do Ceará era, nesse ano, em Fortaleza. 1.º
Distrito - 509 eleitores e em Maranguape 31 pessoas tinham o direito de voto. Cons-
tava na relação dos 31 eleitores com direito a voto, o nome de Jerônimo Honório
de Abreu de Maranguape.
Em 1875, Jerônimo desempenhou o mandato de vereador. No período de
1873-76 foi Juiz de Paz da Comarca e dos Distritos de Jubaia e Tabatinga. Em 1877,
exerceu mais uma vez o mandato de vereador na Câmara Municipal.
Em 1877-79, Jerônimo Honório de Abreu Major da Guarda Nacional,
rico proprietário e importante político de Maranguape, se vê envolvido com uma das
maiores secas que assolaram o Estado do Ceará.
Se até este ano seus trabalhos e planos no Columinjuba e imediações tinham
transcorrido sempre numa atmosfera de sucesso agora tudo mudava com o surgi-
mento de mais uma violenta seca.
Foram três anos seguidos de sol voraz, retirando da terra toda e qualquer
reserva de umidade que um dia existira. Por onde passava o sol inclemente a tudo
queimava, os campos e a vegetação e os rebanhos ficaram todos destruídos.
Não resistindo a tanta desolação arrebanhou a família e passou quatro anos
no alto da serra de Maranguape, no Sítio Boa Vista junto ao Sítio Bragantino dos
Braga, vivendo com a família até o ano de 1881.
Os efeitos da seca foram diversos pelo Estado, no Cariri, no sertão central,
na região de Sobral e na Ibiapaba. Na Corte, o Imperador Pedro II declarava solene-
mente após inteirar-se da situação por que passavam os nordestinos, jurou vender o
último brilhante da Coroa e não deixar um cearense morrer.
Entretanto, mais da metade da população do Estado padeceu e não chegou
a ser feito nada de significativo que pudesse minorar a vida desses miseráveis, fora
tudo um jogo político da Corte.
Jerônimo Honório de Abreu, durante esse período em que se abrigou por
cinco anos na casa do Comendador João Correia de Melo no Sítio Boa Vista, local
onde nasceu Sebastião de Abreu, saiu de lá, retornando ao Columinjuba para reorga-
nizar os negócios de sua propriedade abandonada.

145
Após as construções de estradas de ferro para Baturité e outras, elaboradas
por conta das secas de 1877-79, a capacidade de repressão do Estado provincial sobre
o Norte, o Sul e o Centro do Ceará fora ampliada, tornando possível uma interferência
rápida no palco das regiões antes dominadas pelas parentelas coligadas.
Sobral, Granja, Santa Quitéria, Ipu, Camocim, dentre outras, foram as prin-
cipais povoações em que verbas da seca foram usadas na construção de prédios pú-
blicos e obras de “melhoramentos” urbanos.
A seca conseguiu arruinar as fazendas e as fortunas dos familiares do Mu-
nicípio de Maranguape acabando por enfraquecer a solidariedade das relações sócio
espaciais desenhadas com base nas tradições locais, aprofundando o processo de cen-
tralização administrativa da capital a partir do centro de poder político, alargando o
processo de “amansamento” da índole “selvagem” e “bárbara” da população do in-
terior cearense.
Colaborando decisivamente para fazer com que as elites prepotentes e os
caboclos valentões fossem submetidos a outro universo de convívio em que não ha-
veria mais espaço para o “código de honra” do “cabra-macho” e para a normatização
da sociedade a partir da “vingança” da família parental belicosa, a seca foi um tiro
mortal na vida dos coronéis e na tradição colonial.
Depois dela o Ceará estava mais pobre e com menos população, tinham
emigrado para região Norte cerca de mais de 400 mil pessoas procurando sobreviver.
O sítio localizado em Columinjuba e adjacências não voltaria mais ao es-
plendor do passado, daí para frente não houve mais bons invernos marcados pela
constância e regularidade das chuvas.
Agora o ritmo das secas sucedia-se com frequência pelos anos a seguir,
quando ocorriam os invernos eram mofinos e fracos. Os problemas de mão-de-obra
surgiram e não eram pequenas as quantias necessárias para refazer os rebanhos dizi-
mados.
Por outro lado, não mais apareceram as condições que haviam favorecido o
Patriarca nº 5, trinta anos antes, a região circundante de Fortaleza englobando o
Columinjuba, e a decadência da indústria de açúcar local por não poder competir com
a moderna indústria de Pernambuco deram o golpe de misericórdia no sertão.
Dentro deste novo quadro e no limiar da velhice para época em questão
Jerônimo Honório de Abreu não pode evitar que se abatessem sobre Columinjuba
a decadência de uma época que foi se acentuando na medida em que o final do século
se aproximava.
Durante o ano de 1894, ele perdeu por completo a visão quando tinha 70
anos, provavelmente devido se encontrar com catarata.
A catarata é uma patologia dos olhos que consiste na opacidade parcial e

146
total do cristalino e de sua cápsula. Pode ser desenvolvida por vários fatores, como
traumatismo, idade, diabetes mellitus, uveítes, uso de medicamentos, etc.
Através de seus estudos genealógicos o tio Américo de Abreu pode consta-
tar a partir dos três filhos que vieram habitar as terras localizadas no Município de
Maranguape o início de casamentos consanguíneos e cruzados cada vez mais interli-
gando as famílias ora habitantes das regiões maranguapense.
Avaliando a consanguinidade genealógica da família Honório de Abreu,
gerou-se a partir de Jerônimo Honório de Abreu, uma prole de descendentes da
união tio-sobrinha cuja heterozigose por replicação de um só gene ancestral é de
25%, enquanto a homozigose por replicação de um único alelo ancestral comum é de
12,5%.
Existe assim uma significativa probabilidade de se encontrar genes com
problemas para distintas alterações genéticas como para doenças associadas tais
como os da catarata, tracoma, miopia, câncer, diabetes, cardiopatias e falha na
audição das gerações destes Abreu que daí vingou.
Os fundamentos para o entendimento do efeito dos casamentos consanguí-
neos sobre a composição genotípica das populações foram lançados por geneticistas
na primeira metade do século XX. As restrições aos casamentos entre parentes exis-
tem não apenas nas sociedades civilizadas, mas também nas primitivas. Nem sempre
os critérios para o impedimento dessas uniões têm e tiveram por propósito evitar o
risco de manifestação de anomalias recessivas.
O Código Civil brasileiro impede o casamento de ascendentes com e não
ascendentes e de consanguíneos colaterais até o terceiro grau, o que estende a restri-
ção a irmãos, meios-irmãos e a tios(as) e sobrinhas(os).
Também impede, o casamento de parentes afins em linha direta, o casa-
mento do(a) adotante com o cônjuge do(a) adotado(a) e do(a) adotado(a) com o côn-
juge do(a) adotante, bem como o casamento do(a) adotado(a) com o(a) filho(a) su-
perveniente ao pai e da mãe adotiva.
Evidentemente, ao impedir esses casamentos entre parentes afins o legisla-
dor tinha em mente apenas a organização e a proteção da família, pois nem sempre,
os critérios adotados para o impedimento de casamentos entre parentes apresentam
uma base aceitável.
Durante cerca de um milênio a Igreja Católica proibiu o casamento entre
parentes até o sétimo grau, com base no preceito bíblico de que o mundo foi criado
em sete dias.
Nos países atingidos pelo movimento luterano, as leis canônicas foram abo-
lidas e a proibição dos casamentos entre parentes consanguíneos passou a ser feita de
acordo com o livro do Levítico (18:6-18).

147
Quando as populações são pequenas, como no caso dos familiares de Ho-
nório José de Abreu e seus descendentes nas localidades de Columinjuba e adjacên-
cias, os casamentos consanguíneos podem ocorrer não porque sejam preferenciais,
mas porque o tamanho reduzido da população faz com que aumente a probabilidade
de parentesco consanguíneo próximo entre os cônjuges.
No Brasil, constatou-se que, entre os casais de primos em primeiro grau,
aqueles em que o pai do marido, é irmão do pai da mulher ocorrem frequentemente
mais do que aqueles em que a mãe do marido é irmã da mãe da mulher, o que fala a
favor da influência direta dos genitores masculinos no casamento de seus filhos/as
conforme afirmam pesquisadores em seus escritos.
É difícil analisar os fatores que determinam a prevalência de casamentos
consanguíneos nas populações humanas, mas os de ordem econômica influenciavam
de modo prioritário, mormente em comunidades rurais, com a finalidade de manter
a integridade da propriedade na família sem herdeiros do sexo masculino e de não
dividir as terras herdadas como ocorreu com Jerônimo Honório de Abreu que casou
com sua sobrinha, obrigada que foi por seu avô e padrinho.
Essa solução, aliás, não deixa de ser religiosa, como se pode ler em Núme-
ros, 36: 10-12: "E as filhas de Salfaad fizeram como lhes tinha sido mandado e Maala,
e Tersa, e Helga, e Melca, e Noa, casaram com os filhos de seu tio paterno, da família
de Manassés, que foi filho de José; e a possessão que lhes tinha sido adjudicada per-
maneceu na tribo e família de seu pai”.
Na maior parte dos países, a tendência atual é a diminuição de todos os tipos
de casamentos e das taxas de consanguinidade, em decorrência do processo de urba-
nização, com a formação de aglomerados humanos, das conquistas femininas, que
tornaram a mulher cada vez mais liberta e das facilidades de locomoção e comunica-
ção, que propiciam contato entre pessoas de origens diversas isolando e destruindo
qualquer forma de ligação parental como vem ocorrendo na família dos Abreu de
Maranguape.
O conhecimento do coeficiente de consanguinidade de parentes colaterais
permite constatar que o parentesco genético entre esses consanguíneos não está em
acordo com o grau de parentesco estabelecido no Direito Civil brasileiro e no Direito
Canônico da Igreja Católica, porque, em Genética, a contagem dos graus de consan-
guinidade entre parentes colaterais é diferente daquela utilizada no âmbito do Direito.
Aliás, até 1983 as contagens dos graus de consanguinidade colateral em
Direito Civil e em Direito Canônico não eram concordantes entre si. A identidade
dos dois Códigos a esse respeito somente foi alcançada com a entrada em vigor de
um texto do Código Canônico em 1986.
Tem-se, assim, que, em Direito, tanto os irmãos quanto os meios-irmãos

148
são consanguíneos em segundo grau. Tios e sobrinhos são parentes em terceiro grau.
Aqueles que, em Genética, são primos em primeiro grau, em Direito são
denominados parentes em quarto grau, enquanto que os primos que, em Genética,
são ditos de segundo grau, são, em Direito, considerados parentes em quinto grau.
Os primos em terceiro grau são considerados parentes em sexto grau à luz
do Direito, e assim por diante. Desse modo, a consanguinidade entre pais e filhos é
dita em primeiro grau, entre avós e netos é dita em segundo grau, entre bisavós e
bisnetos é dita em terceiro grau e assim por diante.
Numa população predominante católica, como foram os Abreu de Maran-
guape, essas frequências são obtidas de modo relativamente fácil nas paróquias, por-
que os casamentos consanguíneos requerem autorização da Igreja através do bispo.
A exposição feita aplica-se aos descendentes da família de Honório José
de Abreu e fornece elementos para demonstrar, de outro modo, os motivos pelos
quais os casais consanguíneos estão sujeitos a maior risco do que os não consanguí-
neos de gerar uma criança com uma anomalia recessiva e determinados tipos de pa-
tologias consideradas genéticas.
Os casamentos entre primos em primeiro grau costumam ser acontecimen-
tos mais frequentes do que as ligações incestuosas, os casamentos entre tios(as) e
sobrinhas(os) e os casamentos entre primos duplos em primeiro grau como ocorreram
na família dos descendentes de Jerônimo Honório de Abreu.
Em vista disso, e por não ser fácil a averiguação dos casamentos de pessoas
com consanguinidade mais distante do que a de primos em primeiro grau, costuma-
se aceitar que, nas populações com coeficiente médio de endocruzamento baixo, a
maioria dos casais consanguíneos é de primos em primeiro grau.
Regra geral, os noivos que são parentes consanguíneos e buscam aconse-
lhamento genético não estão interessados em saber o risco que correm de ter um/a
filho/a que manifeste uma alteração genética específica, pois, na maioria das vezes,
não conhecem a ocorrência de doenças genéticas em seus ancestrais bem como seus
efeitos colaterais.
O que eles desejam saber é se, de fato, correm risco de gerar crianças com
anomalias genéticas e com desenvolvimento físico e mental mais comprometido do
que os/as filhos/as de casais não-consanguíneos.
Como dar a esses casais uma resposta razoável, se não conhecemos as fre-
quências gênicas das doenças recessivas nem em nossa nem em outras populações
humanas? Por outro lado, como levar em conta a variabilidade da gravidade das ma-
nifestações clínicas dessas alterações genéticas?
No aconselhamento genético dado a casais consanguíneos, deve-se levar
em conta, que os/as filho/as desses casais estão sujeitos a risco mais alto de manife-

149
star alteração mental do que os filhos de não-consanguíneos.
Esse risco para os/as filhos/as de casais normais não-consanguíneos é de
1,2%, enquanto que para os/as filhos/as de primos em primeiro grau, normais, é de
6,2 %.
Sem possuir qualquer conhecimento de Genética para época, após ter
lançado suas sementes esperando colher não se sabe que tipo de fruto, viveu o Patri-
arca nº 5 - Jerônimo Honório de Abreu, de 28 de dezembro de 1824 a 5 de
fevereiro de 1913, falecendo com 89 anos, dos quais 63 a frente do tronco dos
Honório de Abreu.
Como sempre, observava a vida sentado em sua cadeira, com sua barba
branca, sua fisionomia plácida, suas mãos trêmulas a segurar um grande bastão com
um olhar lançado para o horizonte, perscrutava a volta do filho pródigo que ninguém
sabe até hoje os verdadeiros motivos e por que isso não ocorreu.
Após a morte d’El Rei os cães farejadores por carne fresca como chacais e
ienas famintas que de tudo se apropriam avançaram sobre a Terra Prometida
devorando-a. E foi isto o que ocorreu com as propriedades e as terras do Columinjuba
e adjacências divididas entre os numerosos descendentes, um vasto feudo de 18
quilômetros de largura e seis de fundo abocanhado por herdeiros e interessados.
Enquanto João Honório de Abreu com seus sete filhos entregava para o
século XIX um largo feudo a seu filho Jerônimo Honório de Abreu o continuador
e dono de bens materiais e de todo um esplendor patriarcal e colonial do
Columinjuba, um homem devotado à terra.
Jerônimo Honório de Abreu com seus 16 filhos entregou para o século
XX a seu filho primogênito João Capistrano de Abreu, a procura por bens intelectuais
os quais nunca obteve conforme desejava, visto sua ocupação não ser com
agricultura.
Capistrano era um homem devotado apenas as letras onde a história passou
a ser seu único vício.
Como afirma Sant Exupery, somos responsáveis por aquilo que cativamos,
João Capistrano de Abreu interrompeu a trajetória de um caminho estabelecido por
seus ascendentes deixando sem rei e sem rumo a família dos descendentes de
Honório José de Abreu ao adentrar no século XX.
O Reitor Padre Pedro Augusto Chevalier quando da sua estadia e expulsão
do Seminário da Prainha em 1866, advertira sobre Capistrano a seu pai Jerônimo
que aquela criança ainda traria muitos problemas para a Igreja.
Tal vaticínio não ocorreu para a Igreja mas se efetivou no caminho da
família de Honório José de Abreu, e seus descendentes visto Capistrano apesar de
ser um indivíduo de inteligência exemplar tornou-se um pesquisador obstinado,

150
revelando-se uma pessoa arredia em termos emocionais e severa em termos
comportamentais, demonstrando não ter sido domado e nem ter sido educado, como
se verificou através de suas ações ao longo de seu viver.
Tal desdita teve início a partir de 1875, quando deixa a Colônia e seguiu
para viver os deleites ilusórios da Corte optando por iniciar nova vida com recursos
próprios.
Chega ao Rio de Janeiro capital do Império com uma carta de
recomendação de José de Alencar e logo encontra trabalho na modesta livraria
Garnier. Pouco depois começa a lecionar inglês e francês no Colégio Aquino,
passando a escrever artigos para o jornal Gazeta de Notícias, o que sabia fazer de
melhor.
Dedicando-se completamente ao estudo da história colonial brasileira, foi
aprovado em concurso público para bibliotecário da Biblioteca Nacional sendo
depois nomeado oficial da mesma, entrando definitivamente para o rol dos
historiadores brasileiros.
Em 1883, Capistrano é aprovado em outro concurso público para Cadeira
de professor de Coreografia e História do Brasil no Colégio Pedro II em substituição
a Gonçalves Dias com a defesa de tese “O descobrimento do Brasil e seu
desenvolvimento no século XVI”.
Mesmo exercendo por 16 anos a Cadeira pela qual fez concurso sendo
aprovado com louvor e brilhantismo pelo Imperador D. Pedro II, e tendo se dedicado
por tanto tempo aos estudos, Capistrano de Abreu nunca foi aceito pelo “clero”
religioso e pelo clero acadêmico junto ao qual se envolveu.
Foi excluído do meio literário Imperial, antecipadamente, com a retirada da
disciplina que lecionava, sob alegativa de que a mesma deveria ser absorvida pela
Cadeira de história universal, procedimento com o qual Capistrano não concordava.
Entretanto, sabemos que o problema era outro, pois além de viver em
querelas com historiadores defensores do chamado “ mito de origem da sociedade
paulista”, que se baseavam em afirmações relacionadas a grandeza de São Paulo
devido à herança tupi, não possuia formação acadêmica exigida em nenhuma área do
conhecimento para conviver em tal meio social da época, apesar de seu vasto
entendimento no assunto ao criar uma “historiografia nova”.
Capistrano de Abreu, tinha descoberto que o conhecimento histórico devia
ser descrito de modo a envolver a linguagem e não a linguística como desejam seus
oponentes.
Viveu 52 anos no Rio de Janeiro dedicando-se ao ensino, jornalismo e
assuntos históricos. Seu maior desejo era conseguir explicar a formação da
nacionalidade brasileira por meio das fontes oriundas da cultura popular ressaltando

151
a importância do meio na formação da nacionalidade brasileira e o papel do elemento
indígena e sua linguagem.
Sua saída do Colégio Pedro II, em 1899, sem qualquer outro emprego fixo
que não fosse escrever para jornais e realizar pesquisas históricas, bem como as
questões familiares que vivenciou, o tornaram taciturno e isolado do mundo até o ano
de sua morte em 1927, tendo sido socorrido financeiramente em algumas
oportunidades por seu amigo e admirador Paulo Prado.
Admite-se que sua revolta com o mundo fosse baseada no fato de nunca
ter atingido o caminho que estabelecera para si. Capistrano de Abreu pode ser consi-
derado com ressalvas um dos primeiros “críticos” do Brasil que aceita o valor do
folclore na evolução da literatura culta, mesmo o país nunca tendo produzido uma
literatura própria que se destacasse.
É também um dos primeiros “historiadores” a exaltar o encanto dos contos
populares ao lado dos contos populares, procurando valorizar, como é preciso, outros
elementos da criação coletiva - a música, a dança e o simbólico.
Em 1875 Capistrano inicia, nas colunas do jornal “O Globo”, sob o título
“A Literatura Brasileira Contemporânea” a publicação de conferências escritas aos
vinte e um anos de idade, proferidas em Fortaleza, na Escola Popular, em 1875. O
jornal também publica o artigo de Capistrano, sob o título “Indianismo”.
Em 1878 publica no “Jornal do Comércio”, do Rio de janeiro, o artigo sob
o título de “Necrológico de Francisco Adolfo Varnhagem”. Esses artigos foram re-
produzidos em apenso à História do Brasil, de Varnhagem.
Em 1879, começou a trabalhar na Biblioteca Pública da Corte, guardiã de
um valioso acervo documental, que reunia pesquisadores de grande erudição.
Em 1881 participou de um grande empreendimento organizado por Ramiz
Galvão, diretor da instituição: ajudou a elaborar o catálogo da Exposição de História
e Geografia do Brasil.
Também em 1881 Capistrano de Abreu publica no Rio de Janeiro, um livro,
sob o título “Fernão Cardim”. Do Princípio e Origem dos Índios do Brasil e seus
Costumes, Adorações e Cerimônias.
Em 1881 contragosto do futuro sogro, Capistrano já residindo no Rio de
Janeiro, casa-se com Maria José de Castro Fonseca, filha do casal goiano Almirante
Inácio Joaquim da Fonseca e de Adélia Josefina de Castro Fonseca, poetisa, autora
do livro “Ecos da Alma”.
Em 1884 João Capistrano de Abreu volta ao Ceará pela última vez e anuncia
a abolição dos escravos em Redenção.
Em 1886 o Ministro da Fazenda, Conselheiro F. Belizário, manda a Im-
prensa Nacional publicar o trabalho de Capistrano de Abreu, com a colaboração de

152
Vale Cabral e J. B. da Silveira Caldeiras, intitulado “Materiais e Achegas para a His-
tória e Geografia do Brasil - Informações e Fragmentos Históricos do Padre José de
Anchieta S.J (1584-1586)”.
Em 1887 Capistrano de Abreu é admitido como sócio correspondente do
Instituto Histórico, Geográfico e Antropológico Brasileiro.
Em 1899 o “Jornal do Comércio”, do Rio de Janeiro, inicia publicação sob
o título “Memórias de um Frade” depois reproduzido na Revista do Instituto Arque-
ológico e Geográfico de Pernambuco, em 1906.
Em 1899 é proclamada a República. Em 1900 a Livraria Leuzinger, do Rio
de Janeiro publica o livro “Sobre a Colônia do Sacramento” de autoria de Capistrano
de Abreu, com uma dedicatória: Ao Barão do Rio Branco.
Podemos afirmar que João Capistrano de Abreu, acabou com todas as bar-
reiras ofertadas a um camponês sem “eira nem beira”, rompendo paradigmas ao con-
seguir seu intento literário.
Deixou um exemplo para pesquisar a Educação a todos os descendentes da
família de Honório José de Abreu que vieram a seguir, um assunto do qual resolvi
dar prosseguimento.
Como o propósito do capítulo é reconstituir os frutos, flores, ramos, troncos
e núcleos formados ao longo dos anos pelos três irmãos vindo de Sobral que em suas
lutas como patriarcas se constituíram em eixos familiares.
Daí, utilizo como base os depoimentos e entrevistas de pessoas e alguns dos
descendentes dos mesmos.
Um fato considerado estranho tornou-se referência para os descendentes da
família de Honório José de Abreu após o cisma familiar acontecido. Segundo relato
de um parente do tronco dos Honório conhecido por (Totônio), Honório Antônio de
Abreu irmão de Francisca Amélia de Abreu casada com Pedro de Abreu, tinha aban-
donado o sobrenome Honório por se ver discriminado, visto não apresentar estudos
e ter em seus ancestrais uma mancha social que à época não admitia perdão.
Assim, a partir de João Capistrano de Abreu já não mais se utilizava como
obrigação na família oriunda do casal Jerônimo Honório de Abreu e Antônia Vieira
de Abreu, o sobrenome Honório, prática seguida por meus avós, pais, filhos e demais
descendentes, negando até mesmo as origens de minha avó chamada Francisca Amé-
lia Honório de Abreu.
Quando os/as escravos/as foram libertados pelo Major Jerônimo que os
tinha herdado de seu pai, um deles o escravo Muriçoca vendeu as terras do Cacimbão
recebidas como paga a Honório Antônio de Abreu, pai de (Totônio) e irmão de José
Ferreira Honório de Abreu, que chegou a contratar um rábula para retirar o sobre-
nome Abreu, tamanha era a aversão velada entre os descendentes que sequer imagi-

153
nam o ocorrido com seus ancestrais, perdendo assim toda e qualquer identidade so-
cial e cultural. Capistrano também usou desse artifício no desenrolar de seu viver não
utilizando mais o sobrenome Honório.
Atualmente nos chama atenção a criação no núcleo da família de Honório
José de Abreu, por conta de querelas familiares, de um pseudo núcleo familiar de-
nominado Honório-Outros, oriundo do “Nada”, que não mais utiliza o sobrenome
Abreu, e cujas bases se encontram numa localidade próxima ao sítio Columinjuba,
conhecida por Cacimbão e adjacências, uma região antes pertencente aos descenden-
tes de Francisco Camelo Pessoa Neto.
Como forma de melhor entender e tirar proveito das relações familiares e
suas consequências, elaborei diversas planilhas indicando muitos parentes que for-
maram a linhagem dos Honório de Abreu, de modo que qualquer descendente possa
construir uma árvore genealógica de seus galhos e ramos familiares.
Em face das informações existentes, mostrarei apenas as primeiras gerações
tomadas a partir do Patriarca nº 1 – Teodósio de Araújo Abreu, direcionadas para
minha linhagem parental esperando que os demais dados possam servir de subsídios
para outros parentes saberem de onde vieram e poderem atualizar seus dados famili-
ares.
Os núcleos resultantes para nosso estudo serão basicamente os ascendentes
e descendentes de Honório José de Abreu, considerados a partir de seu primogênito
Jerônimo Honório de Abreu e irmãos, dos Machado a partir de José Honório de
Sousa Machado e irmãos, dos descendentes do tronco dos Honório constando de Jo-
aquim Honório de Abreu, como o principal detentor do comando desse núcleo sendo
todos eles oriundos de Honório José de Abreu.
Isto porque, o isolamento que estas famílias vivem atualmente e a falta de
conhecimento de quem somos já atinge diversas pessoas que aos poucos foi se agre-
gando à família dos descendentes de Honório José de Abreu, tais como: Paula, Mar-
ques, Pereira, Freitas, Santos Lessa, Barbosa, Barroso, Diógenes, Lima, Martins,
Mendes, Braga e outros mais.
Dos descendentes da Francisco Camelo Pessoa Neto casado em segundas
núpcias com Jacinta Maria do Espírito Santo cujos pais eram: Manuel José da Costa
e Ana Joaquina do Sacramento não temos informações precisas.
Os primeiros descendentes do tronco dos Machado, são os irmãos Domin-
gos Freire Machado e Miguel Machado oriundos de Sobral que receberam terras em
1702 data de sesmaria.
Esse tronco na geração dos descendentes de Antônia Maria da Cunha
Rosa casada com Francisco de Sousa Machado, filho de Ambrósio de Sousa Ma-
chado e Quitéria Rodrigues da Conceição residiam na localidade de Saco Verde,

154
Grota Funda e Tijuca.
Do casal e de um total de nove temos os dados referentes apenas de três
filhos: Honório de Sousa Machado, Rita Inácio de Sousa Machado e José Honório
de Sousa Machado.
Os casamentos existentes entre os membros das famílias Santos Lessa e
Honório de Abreu ocorreram desde os primeiros anos de suas fixações nos sertões
de Canindé e Columinjuba, pois os descendentes de Honório José de Abreu tinham
propriedades na Barrinha e adjacência uma localidade próxima ao Município de Pa-
ramoti.
A vinculação familiar dos Honório de Abreu com os Santo Lessa é extensa
e se realizou através dos quatro filhos de Antônio dos Santos Lessa com Floriana
Pereira de Jesus e Ana de Sá, com Marco Honório de Abreu irmão de Jerônimo
Honório de Abreu e depois com José de Abreu (Zeca) meu pai junto aos Barrosos.
A ligação com os Freitas se deu através de Raimundo de Abreu (Doca).
O parente Alfredo Marques destaca em seu livro de Cronologia envolvendo
os Abreu como seus antecedentes a partir de 1813 a seguinte ordem.
Inicia com Miguel José Cavalcante casado com Francisca Paulino da Costa
e com Joana Batista Cavalcante, são os pais de: Maria de Paula Cavalcante, casada
com Alfredo Pereira Marques; Josefa de Paula Cavalcante, inupta; Ana de Paula Ca-
valcante, casada com Anísio Augusto de Oliveira; Manoel de Paula Cavalcante, ca-
sado com Clotilde de Paula Costa; Elizabeth de Paula Cavalcante e Miguelina de
Paula Cavalcante, ambas casadas com Antônio de Paula Costa; Maria de Paula Ca-
valcante I; Maria de Paula Cavalcante II; Paulo de Paula Cavalcante, João Firmino
de Paula Cavalcante, Maria Madalena de Paula Sousa, Francisco Miguel Cavalcante
(Titico).
Francisco Pereira Marques é o pai de Francisco Pereira Marques Filho o
qual é casado com Maria Joana Marques os quais tiveram como filhos/as: Alfredo
Pereira Marques casado com Maria de Paula Cavalcante, Francisco Pereira Marques
Filho – Nenen, casado com Maricas Guedes Marques; José Pereira Marques, Rogério
Pereira Marques e Francisca Pereira Marques. Alfredo Pereira Marques antes de ca-
sar com Maria de Paula Cavalcante teve um filho Manoel Pereira Marques e depois
outros com Maria Cavalcante Pereira Marques: Heinzelmann Pereira Marques e
Francisco Cavalcante Pereira Marques.
Heinzelmann Pereira Marques casou-se primeiro com Adélia de Paula
Costa filha de João de Paula Costa e Rosa de Paula Costa. Depois casou-se em se-
gundas núpcias com Antonieta de Abreu filha de Manoel Honório de Abreu e Maria
Amélia de Abreu e em terceiras núpcias com Mair Cavalcante. Heinzelmann Pereira
Marques casado em segundas núpcias com Antonieta de Abreu deixou cinco filhos:

155
Alfredo de Abreu Pereira Marques, Cleide de Abreu Pereira Marques, Adélia de
Abreu Pereira Marques, Jairo de Abreu Pereira Marques e Danilo de Abreu Pereira
Marques.
Alfredo de Abreu Pereira Marques filho de Heinzelmann Pereira Marques
e Antonieta de Abreu Pereira Marques, destacada figura política do Município de
Maranguape, casou-se com Raimunda Diógenes Marques filha de Pedro Diógenes
Botão e Maria da Conceição Nogueira tendo duas filhas, Antonieta Ma. Diógenes
Marques de Abreu que casou-se com seu primo José Mardônio de Abreu (meu irmão)
e Ana Elisa Marques de Abreu.
Após a morte de Jerônimo Honório de Abreu, em 1913, assumiu o que
restou do sítio Columinjuba seu genro José Inácio Machado, casado com Afra de
Abreu, vindo de Sobral, homem sem estudo e muito pobre que era, foi tocado pela
seca de 1877-79. Eles se casaram em 1883, Inácio com 34 anos e a noiva com 29
anos.
Como se conheceram não se sabe em face ao severo recolhimento que vi-
viam as filhas do Major Jerônimo Honório de Abreu. Quando casou-se José Inácio
não tinha nenhum pedaço de terra e para trabalhar arrendava pequenas áreas onde
fazia seus roçados.
Assim permaneceria por alguns anos, com o resultado de sua labuta e de
boas colheitas e com poucos anos de casado acabou comprando do sogro, um trato
de terra em um local denominado Grota-Funda.
Começando a dar passos importantes e favorecido que foi por suas boas
ações, José Inácio Machado passou a residir na primeira Casa Grande de João Ho-
nório de Abreu.
A essa altura firmava-se como proprietário de terra, embora de pequeno
porte e já trazia Afra para junto de seus pais. A casa onde passou a residir não era
nova, sendo composta por quatorze quartos, acomodação para escravos/as, oratório
e aposentos para padres.
Com pequena família teve apenas cinco filhos para cuidar são eles: Rita,
Walfrido, Francisco, Aurora e Joana, e aí, tratou de fazer uma redução na casa que
recebeu.
Da antiga Casa Grande, ficou apenas com uma sala grande, um alpendre,
três quartos, sala de jantar, despensa e cozinha deixando ao lado a Casa de Farinha.
A frente era um enorme terreiro com grandes cajazeiras ficando próximo ao curral.
Este local vive hoje abandonado e no meio do matagal próximo ao Cemité-
rio da Família, foi a casa onde nasceu Capistrano de Abreu, restando como testemu-
nha apenas um marco indicativo da riqueza do que aquilo foi.
No trato com os/as filhos/as José Inácio não praticava nada da severidade

156
como as exercidas por João Honório de Abreu e Jerônimo Honório de Abreu. No
trabalho ele se nivelava a todos, e era comum vê-lo com enxada na mão, no eito, lado
a lado com seus trabalhadores.
Rita, primogênita seria marcada por três fatos importantes que foram copi-
ados por outros descendentes e principalmente por minha mãe Esther, quando nos
fez ver o caminho de transformação que poucos da família Honório de Abreu em
Columinjuba chegaram a ver e tomar como exemplo.
Rita foi a primeira neta do Major Jerônimo, que na época se encontrava
com o problema de decidir como escolher escola para seu penúltimo filho, Sebastião
de Abreu; o exemplo anterior dado pelo primogênito Capistrano lhe trazia preocupa-
ções.
Em face de tudo isso ele pensou e resolveu matricular Sebastião de Abreu
numa escola em Fortaleza e aí incluiu nessa providência a sua neta e afilhada Rita.
Na história dos descendentes de Honório José de Abreu, essas duas ma-
trículas escolares ocorridas em 1891 na capital, representaram um marco significa-
tivo no seio de uma família patriarcal, escravocrata e colonial avessa à educação ins-
titucionalizada.
Eles Sebastião e Rita afora o caso excepcional do rebelde Capistrano, foram
os primeiros a rumar na direção da cidade, fugindo ao quadro campestre dos analfa-
betos do Columinjuba.
Após o ato dos mesmos, com o correr dos tempos, muitos seguiram esse
caminho, dirigindo-se para outras plagas. Sebastião tinha 12 anos e Rita 10 anos,
quando se decidiram. Essa viagem representava uma verdadeira aventura.
Entre os anos de 1901 a 1920, a seca voltou diversas vezes a castigar as
terras do Columinjuba.
Em 1913, após momentos de singeleza com a morte de Jerônimo Honório
de Abreu, coube a Afra e seu esposo herdar uma boa parte do Columinjuba, não
muito grande porque os herdeiros eram numerosos.
De qualquer forma o casal viu suas terras aumentarem de extensão. De tudo
que foi herdado, José Inácio, como dinâmico que era, conseguiu dar vasão a seu ím-
peto trabalhador transformando a lavoura.
Em 1914-1915, foi mais uma calamidade, em 1919 outra seca castigaria e
empobreceria a agricultura cearense atingindo a todos os descendentes da família de
Honório José de Abreu, os quais por conta da divisão das terras e por falta de um
patriarca forte à frente entrou em declínio e foi se extinguindo até atingir os/as fi-
lhos/as de Jerônimo Honório de Abreu.
José Inácio foi sempre um pequeno proprietário de terras. Quando seus dias
findaram em 1927 o consolo tido foi de ter começado do nada e deixar para os/as

157
filhos/as um patrimônio modesto a ser cuidado. Poucos meses depois Afra sua esposa
seguiria o mesmo caminho.
Assim viveu o sítio Columinjuba a época colonialista portuguesa sob o jugo
de João Honório de Abreu, no Império de Pedro I, passando pelos tempos de Jerô-
nimo Honório de Abreu, das turbulências políticas do regime de Pedro II, quando
então em plena decadência começou a viver sob a influência da República.
O impulso modernizante das tendências tecnológicas mundiais, do desejo e
da malquerença daqueles que conseguiram um pedaço de terra, foi o que restou da
família após divisão com os vários herdeiros.
Exigia-se um novo rumo, um novo olhar e um novo patriarca, distinto dos
anteriores caso se desejasse algum dia resgatar um sonho de Terra Prometida iniciado
há séculos, as decisões não permitiam mais a falta de conhecimento para gerenciar
um novo tipo de agricultura que surgiu com o passar da Primeira Guerra Mundial.
Entretanto, isso não ocorreu, por falta de estudo e Educação o sonho dos
patriarcas fundadores tinha chegado ao fim. A seguir mostro as planilhas de dez ge-
rações que compõem a família de Honório José de Abreu e seus descendentes.

158
1) Troncos e Ramos Patriarcais
G1 G2 G3
Teodósio Araújo Abreu G2.1 Baltazar Antunes de
Joana Barbosa Fagundes Moura
G1.1Gabriel da Cunha Rosa G3.1 Honório José de Abreu
G2.2 Ma. Josefa Cunha
G1.2 Maria da Silva Araújo Rosa
(A)
?
G2.3 Fco. Camelo Pessoa
? G3. 2 Rita Camelo Pessoa
? G2.4Elena Fonseca Mar-
? ques
?
?
?
G3.3 Rosa Ma. da Conceição
?
?
?
G1.3 Pedro Cardoso de Abreu G2.5 Pedro Cardoso de
G1.4 Joana Delgado Abreu Junior
G3. 4 Ana Ma. de Azevedo
? G2.6 Teresa de Jesus
? Freire

159
2) Troncos e Ramos Patriarcais
G2 G3 G4
G2.5 Felix Correia da Costa G3.5 Fradique Correia da
G2.6 Joana Francisca da Costa Costa
G2.7 Jerônimo Rodrigues de G4.2 Ana Ma. Correia Costa
G3.6 Jerônima Correia da
Sousa
Costa
G2.8 Teodósia da Costa (A.1)
G2.1 Baltazar Antunes de
G3.1 Honório José
Moura G4.1 João Honório de
de Abreu
G2.2 Ma. Josefa Cunha Rosa Abreu
G2.3 Fco. Camelo Pessoa
G3.2 Rita Camelo Pessoa.
G2.4Elena Fonseca Marques
G2.1 Baltazar Antunes de
G3.1 Honório José G5.1 Fco. Honório
Moura
de Abreu de Abreu/Fco. Camelo Pes-
G2.2 Ma. Josefa Cunha Rosa
soa Neto(pai Chiquinho)
G2.3 Fco. Camelo Pessoa
G3.2 Rita Camelo Pessoa
G2.4Elena Fonseca Marques
(A.2)
? G3.7 Manuel José
? da Costa
G5.2 Jacinta Ma.
? G3.8 Ana Joaquina do Espírito Santo
? do Sacramento
?
?
? G5.3 Ma. Joaquina
? da Conceição
?
?
G2.1 Baltazar Antunes de
G3.1 Honório José
Moura
de Abreu
G2.2 Ma. Josefa Cunha Rosa
G2.3 Fco. Camelo Pessoa
G3.2 Rita Camelo Pessoa
G2.4Elena Fonseca Marques
G2.9 Ambrósio de Sousa Ma- G5.4 Ana Ma. Josefa
G3.9 Ambrósio de Sousa
chado da Cunha Rosa
Machado
?
G3.10 Quitéria Rodrigues (A.3)
da Conceição
G5.5 Fco. de Sousa Ma-
chado
?
?

160
a) Tronco e Ramos dos Abreu/Outros.
G4 G5 G6
G4.1 João Honório a11) Antônia Vieira de Abreu /Je-
de Abreu rônimo Honório de Abreu
G5.6 Ma. Marcolina de a12) Rda. Vieira Mota
Abreu (A.1.1) /Pedro Sampaio de Abreu
G5.7/ Manuel Vieira a13) Manuel Vieira Mota Filho
(A.1) Mota a14) Filomena Vieira Mota
a15) Jerônimo Vieira Mota
/Josefa de Abreu dos Santos
a21) João Capistrano de Abreu
/Ma. José de Castro Fonseca
G4.2 Ana Ma. Correia da
a22) Afra de Abreu
Costa
/José Inácio Machado
a23) Pedro de Abreu
/Fca. Amélia Honório de Abreu
a24) Ma. Amélia de Abreu
/Manuel Honório de Abreu
a25) Sebastião de Abreu
G5.8 Jerônimo Honório /Leila Carvalho de Abreu
de Abreu (A.1.2) a26) Antônia de Abreu
G5.9/Antônia Vieira de a27) Joana Honório de Abreu
Abreu a28) Valfrido I Honório de Abreu
a29) Clotilde Honório de Abreu
a210) Angelina de Abreu
/Ângelo Ribeiro da Silva
a211) Ambrósio de Abreu
a212) Valfrido II de Abreu
a213) Jerônimo de Abreu
a214) Martinho de Abreu
a215) Plácido de Abreu
a216) Rdo. de Abreu
G5.10Antônio Honório a11) Sinfrônio de Abreu
de Abreu (A.1.3) /Luiza
G5.10/ Felicidade No- a12) João de Abreu
gueira de Abreu a13) Joaquim de Abreu
a14) Domingos de Abreu

161
a) Tronco e Ramos dos Abreu/Outros.
G4 G5 G6
a31) Antônio Honório dos Santos
Lessa de Abreu
/Fca. Umbelina dos Santos Lessa
a32) Florêncio Honório dos Santos
Lessa de Abreu
a33) Rdo. Honório dos Santos Lessa de
Abreu
/Constância de Paula Borges
a34) Honório Antônio dos Santos
Lessa de Abreu
/Honoria Justina de Abreu
a35) Manuel dos Santos Lessa de
G5.10 Marcos Honório de
Abreu
Abreu
/Ma. Amélia de Abreu
G4.1 João Honório a36) Joaquim Honório dos Santos
(A.1.3)
de Abreu Lessa de Abreu
G5.11/Fca. Teresa dos
/Rda. Juventina de Abreu
Santos Lessa
a37) Joana Honório dos Santos Lessa
de Abreu
(A.1) /José Raimundo de Abreu
a38) Josefa Honório dos Santos Lessa
de Abreu
/Jerônimo Vieira da Mota
a39) Sebastiana Honório dos Santos
G4.2 Ana Ma. Correia Lessa de Abreu
da Costa /José Marques Filho
a310) Ma. Honório dos Santos Lessa
de Abreu
/ Pedro José de Freitas
G5.12 Joana Honório de
Abreu (A.1.4)
Não tiveram filhos
G5.13 /Pedro Gurgel do
Amaral
a51) João Rdo de Abreu
a52) Antônio Rdo. de Abreu
G5.14 Rdo. Honório de
/Jacinta Francisca de Abreu
Abreu (A.1.5)
a53) Fca. Rdo. de Abreu
G5.15 /Rita Inácio de
/Antônia Aguiar
Sousa Machado
a54) José Rdo.de Abreu
/Joana Honório

162
b) Tronco e Ramos dos Abreu/Outros.
G6 G7 G8
a11) Antônia Vieira de Abreu /Jerô-
nimo Honório de Abreu
G5.6 a12) Rda. Vieira Mota
Ma. Marcolina /Pedro Sampaio de Abreu
de Abreu (A.1.1) a13) Manuel Vieira Mota Filho
G5.7/ Manuel Vieira
Mota a14) Filomena Vieira Mota;
a15) Jerônimo Vieira Mota
/Josefa de Abreu dos Santos
a211) Matilde de Abreu
/Aprígio Nogueira;
a212) Honorina (inupta);
a21) a213) Fernando de Abreu
João Capistrano de /Cecília de Abreu
Abreu a2141) Honorina de Abreu
/Ma. José de Castro /Diógenes de Bittencourt
Fonseca a214) Adriano de Abreu Monteiro
/Amneris Moreira de Abreu
a2142) Isa de Abreu
a2143) Jônia
a215) Henrique (inupto)
a221) Valfrido Machado
/Ma. da Penha de Abreu(Lili)
a22) a222) Rita Machado Mota
Afra de Abreu /Clodoaldo Mota
/José Inácio a223) Aurora(inupta)
Machado
a224) Fco Machado (Machadim)
/Isaura
a225) Joana (inupta)

163
b) Tronco e Ramos dos Abreu/Outros.
G6 G7 G8
a241) Jerônimo Honório de Abreu
Neto (Loló)
/Ma. Otília de Abreu
a242) Miguel
a243) Branca
a244) Antônio Pompeu de Abreu
/Sebastiana de Abreu
a245) Sebastião Nélio de Abreu
a2461) Alfredo de Abreu Pe-
reira Marques
a24)
/Rda.Diógenes Marques
Ma. Amélia de Abreu
/Manuel Honório de a2462) Cleide de Abreu Pe-
Abreu reira Marques
a246) Antonieta de Abreu
a2463) Adélia de Abreu Pe-
/Heinzeman Pereira Marques;
reira Marques
a2464) Jairo de Abreu Pereira
Marques
a2465) Danilo de Abreu Pe-
reira Marques
a247) Ma. Augusta
a248) Augusto Amélio de Abreu
a249) Afra Honório de Abreu
a2410) Astrogildo
a25) a251)Margarida Carvalho de Abreu
Sebastião de Abreu /João Maurício Lopes
/Leila Carvalho de
Abreu
a311) Joaquim Honório dos Santos
(inupto)
a312) Manuel Honório dos Santos
a31) (inupto;
Antônio Honório dos
a313) João Honório dos Santos
Santos Lessa de Abreu
/Joana Ribeiro dos Santos
/Fca. Umbelina dos
Santos Lessa a314) Rdo. Honório dos Santos
/Ma. Pires da Cruz
a315) Fca. Honório dos Santos
/Fco. Camelo

164
b) Tronco e Ramos dos Abreu/Outros.
G6 G7 G8
a38) a381) Manuel Abreu Mota
Josefa Honório dos
Santos Lessa de Abreu
/Jerônimo Vieira da
Mota a382) Auta de Abreu Mota

a391) Heráclito Marques de Abreu


a39)
/Rosalina Cardoso da Cunha
Sebastiana Honório
a392) Antônio Marques de Abreu
dos Santos Lessa de
/Fca. Coelho Marques
Abreu
a393) Fco. Marques de Abreu
/José Marques Filho
/Celina de Freitas Abreu
a3101) Alfredo de Freitas Abreu
/Ma. Honório de Freitas
a3102) Fca. de Freitas Abreu
/José Juvenal de Freitas
a3103) Abílio de Freitas Abreu
/Fca. Honório de Abreu
a310) a3104) Maria de Freitas Abreu
Maria Honório dos /Pedro Honório de Freitas;
Santos Lessa de Abreu a3105) Rdo. de Freitas Abreu
/ Pedro José de Freitas /Rita Pinto de Freitas
a3106) Celina de Freitas Abreu
/Fco. Marques de Abreu
a3107) Izabel de Freitas Abreu
/Antônio Ferreira Felix
a3108) Felicidade de Freitas Abreu
/José Coelho de Sousa

165
b) Tronco e Ramos dos Abreu/Outros.
G6 G7 G8
a231) Mário de Abreu
 a232) Ma. Otília de Abreu
 /Jerônimo Honório de Abreu Neto
(Loló;
a233) João de Abreu
a234) Antônio de Abreu
/Odete Lima de Abreu
a235) Ma. da Penha de Abreu
/Valfrido Machado
a236) Fco. de Abreu
/Edite Mendes
a237) Luiz de Abreu
a238) Rdo. de Abreu
/Ma. Ita Freitas de Abreu
a239) Damião de Abreu
a23) a2310) Cosma de Abreu
Pedro de Abreu a2311) Vicente de Abreu
/Fca. Amélia Honório a2312) Jerônimo Honório IV
de Abreu a2313) Ma. Julia de Abreu Pereira
/José Marques Pereira
a2314) Clotilde de Abreu Pereira/José
Marques Pereira
a2315) Sebastiana de Abreu Pompeu
/Antônio Pompeu de Abreu
a2316) José de Abreu
/Esther Martins de Abreu
a2317) Cristovam de Abreu
/Fca. Pereira de Abreu
a2318) Américo de Abreu
/Carmem Andrade de Abreu
a2319) Ma. Aurélia de Abreu
/Amadeu Ferreira Braga
a2320) Clovis de Abreu
/ Leonilha de Abreu
a2321) Alice de Abreu
/Mário Braga Brasil

166
c1) Tronco e Ramos dos Abreu/Outros.
G7 G8 G9
Aprígio, Pólux, Ma. Amélia,
Fernando
João Renato
/Antônia
Fernando
Lúcio
a232) /Ma. Luiza
Ma. Otília de Zélia
Abreu(Mariquinha) /Fco
/Jerônimo Honório de Gerardo; Silvio, Jonas
Abreu Neto Fernando Augusto, José Er-
(Loló) nando, Gilmário, José Gilson,
Gizélia de Abreu Suêly, Gervásio, Giltânia, Gi-
/Manuel Fernandes sélda, José Geordano, Liduina,
Clotilde Alice, Cristiany, Gi-
lnando
Teresa Luz, Cleiton
Abelardo
/Expedita
Luiza Machado Mendes Ma. Socorro, Marister, Iza Ma-
/Bernardo Mendes Vasconcelos chado Mendes, Madalena, Eli,
/ Rdo. Mendes Vasconcelos Ma. Machado Vasconcelos
2. Valdefrido Conceição, Fco. Rogério, Telma,
/Geralda Diógenes Jaqueline
Pedro Jorge, Valfrido Augusto,
3. Enói Machado
a235) Carlos Augusto, Fco. Augusto,
/Augusto Batista Braga
Ma. da Penha de Abreu Isabel, Violante
(Lili) 4. Vanda de Abreu Machado Edvirges, Silvia Helena, Antônio
/Walfrido Machado /José Mario Roberto Mendes Alfredo
5. Walfredo Machado Walquiria, Waldívia, Walfrido,
/Jacinta Paula Valeska, Walker, Walder.
6. Josè Valdez Mario, Valdefrido, Liana
/Itamaria Freitas
7. Silvia Helena Walquirio, Ediane, Liana, Kilvia,
/Hadne Pantoja Kedma, Hadner

167
c1) Tronco e Ramos dos Abreu/Outros.
G7 G8 G9
1. Catarina Pereira de Abreu
2. Hugo de Abreu Helen Ma., Hugo Daniel,
a2317) /Ma. das Graças Hugo Sergio, Anne Daniele
Cristovam de Abreu 3. Ma. do Carmo Andreza
/Fca. Pereira de Abreu /Fernando Ivo
4. Celina Ma Thiago
/Welington
a2318)
Américo de Abreu
-
/Carmem Andrade de
Abreu
a2321)
Alice de Abreu -
/Mário Braga Brasil
Ma. Tania, José Tamer, Te-
1. Elen Braga
reza, Elisabeth, Inima, José
/José Afonso Sancho
Afonso, Ernani, Elen
2. Hanry de Abreu Braga
Rachel, Poliana
/Pedro Jorge de Abreu Braga
Edla Hortência, Alexandre
Herculano, Ma. Aurélia,
a2319) 3. Edla Braga de Carvalho
Alice Augusta, Adriana Flá-
Ma. Aurélia de Abreu /Agesilau Silva de Carvalho
via, Solange, Sueli, Agesi-
/Amadeu Ferreira
lau
Braga
Alexandre, Isabel Cristina,
3. Elio da Abreu Braga
Verônica, Iris, Amadeu, Pa-
/Ma. Iris Crisóstomo
trícia
4. Elma Abreu Braga
5. Eliomar de Abreu Braga Emilio, Rodrigo, Eliomar,
/Ma. Marilisia Chastinet Renata
6. Elda Braga Meireles Eugenia, Hélio, Cristina,
/Hélio Araújo Meireles Guilherme, Amadeu

168
c1) Tronco e Ramos dos Abreu/Outros.
G7 G8 G9
Ma. Airtes, Pedro Osvaldo, João
1. Osvaldo de Abreu Batista, Vânia, Antônio Manuel,
/Júlia Cordeiro de Abreu Tania, Telma, Paulo Afonso, José
Wiston, Regina, Fca. Odete
2. Odelide Nádia, Narcélio, Nelma, Neule,
/Romirs; Nara, Ramirs.
Arlete, Luis Everardo; Antônio
William, Alberto William, Ma.
3. Sofia
Perpétua, Escolástica, Emanuel,
/Luis
Fco. de Assis, Ma. Odete, Ma.
Helena
Virgílio, Antônio Geraldo, Ma.
Socorro, Anália Odete, Astro-
gildo, Nazareno, Ivo Abreu, Fco
4. Ma. Odete
Fontoura Filho, Rejane Abreu
/Fco das Chagas Fontoura
Fontoura, Ma. de Fátima, Regina
a234) Coele, Guilherme Abreu Fon-
Antônio de Abreu toura
/Odete Lima de 5. Ivan Luís Augusto, Janete, Mônica.
Abreu/Graziela Rebou- /Ivete
ças de Abreu 6. Pedrina
/Luis
7. Violeta Rui Jr, Tamar, Damião, Marita,
/Rui Ricardo, Danilo;
8. Olivio Hamilton, Heliane, Helvio, Ale-
/Gizela xandre, Olívio
9. Luciano Douglas
/Elisabete
Graciela Selma, Consuelo, Gentil
10. Gentil Jr, Wladimir, Brucyli, Maximi-
/Ma. Benedita de Oliveira lian, Graziela, Marco Antônio,
Bruno
11. Dalila Ma. Eugênia, Tércio
/Tércio
12. Sulamita
Juliana, Sergio
/Marcos Stênio
13. Ode/Célia; Ode, Caio, Ma. Eduarda

169
c1) Tronco e Ramos dos Abreu/Outros.
G7 G8 G9
a2320)
Clovis de Abreu
1. Cleide Nelson Neto, Sabine, Ca-
/Leonilha Rodrigues de
/Fco. Nelson mile
Abreu

1. Ma. Helena José, Adiane, Ricardso, Da-


/Joserisse Hortência nielle
a2313) Ma. Lilian, Ma. Julia, Mar-
2. Lia Pereira Viana
Ma. Julia de Abreu Pe- célia, Regina
reira 3. Ilzai;
/José Marques Pereira 4. Ruth;
5. José Hilton
Luiz Edgar Jr, Jorge Henri-
6. Ma. Julia
que, Teresa Vania, Fco.
André Custódio
José
a2314) 7. Marcos Aurélio Marco Flávio, Gustavo, Ka-
Clotilde de Abreu Pe- /Valderez; rine.
reira 8. Vera Paulo Roberto, Sandra,
/José Marques Pereira /José Oswaldo Lise, Viviane
9. Fco. Franco; Eduardo, Rodrigo
10. Cláudio Roberto
1. Ma. Pompeu de Abreu Pires
/Antônio
Carlos Augusto, Cleci, Gio-
2. Pedro Augusto/Herci vani, Cesar Augusto, Valé-
a2315) ria
Sebastiana de Abreu 3. Iara Antonieta
Bárbara
Pompeu /Constantino
/Antônio Pompeu de 4. José Tarcísio José Flávio
Abreu 5. Clóris
(irmão do loló) 6. Reno José
Reno;
/Ma. de Lourdes;
7. Fco. Getúlio
Isis, Cristina
/Aei
8. Ieda
Everton, Fábio, Evelyn
/Pedro Paulo

170
c1) Tronco e Ramos dos Abreu/Outros.
G7 G8 G9
a236) 1. Mário Julião de Abreu Jaqueline, Simonton, David,
Fco. de Abreu /Eridan Barcelos; Daniel, Israel, José
/Edite Mendes Marta Neiva, Fco Sérgio,
Marilsa, Antônio Carlos,
2. Mauro Abreu
Ma, de Fátima, Eline,
/Luiza de Marilac
Mauro Filho, Ilana, Alexan-
dre
Norma Selma, Norma Cé-
lia, Marcos Augusto, Pedro
Américo, Jerônimo Jr,
3. Jerônimo de Abreu Norma Celina, Carlos Au-
/Ma. do Vale gusto, Carlos Alberto, Fco,
Ma. Tereza, João do Vale,
Raquel, Ma. José, Carlos
José
4. Jerônimo de Abreu
Gabriela, Felipe, Marcelo
/Iraides
5. Pedro de Abreu Ma. Rosália, Raquel, Vitó-
/Noêmia ria, Paulo Fco., Sara
Ma. Eddy, Ana Ma., João
6. João Capistrano de Abreu Cesar, José Fco., Fernando,
/Fca. Einar Tereza Cristina, Luis Henri-
que, Carlos Augusto
Sandra Cristina, João Ca-
7. Fco. Nicanor de Abreu/Sebastiana pistrano, Demétrius, Sárvia
Silmara
Paulo Roberto, Paulo Hen-
8. Paracelso de Abreu
rique, Patrícia Helena,
/Imelda de Paula
Paulo César
9. Giordano de Abreu Fco Robério, Silvana, Fco.
/Ma. Rita Rogério, Lilia, Ricardo
10. Neide de Abreu
Adriano
/Fco. Medeiros
11. Júlia Ma. de Abreu
Vanessa, Gustavo
/Luis Livaldo

12. Ciro de Abreu


/Virginia
Maiara, Pedro

171
c1) Tronco e Ramos dos Abreu/Outros.
G7 G8 G9
Ma. Hosana, Pedro Rogério,
Valquiria, José Max, Eliana,
Ma. Ita de Abreu
Fco. Charles, Marcia, Ma. Xê-
/José Pessoa
nia, Ma. Conceição, Américo
Alexandre, Ricardo, Adriano
Pedro Itamar Pedro Itamar, André Ricardo,
/Neusa Valderina do Carmo
Jerônimo Abreu Jerônimo Jr., Rdo, Ma. do
/Ma. do Carmo Carmo
Giovani João Carlos, Ma. Hosana, Ma.
/Iná Aparecida, Paulo
Itamaria
Mario, Valdefrido, Liana.
/José Valdez
Marita
Heloisa Helena, Ma. Luiza
/Horácio
a238) José Itan Marta Eliane, Marta Mengál-
Rdo. de Abreu (Doca) /Terezinha via, André, Atila
/Ma. Ita Freitas de
Fco. José Arisson, Brenda, Melicon, Sa-
Abreu
/Dalvaci Cordeiro licon.
José Iran
Nazareno leite. Wládia leite
/Fatima Lucia Sousa da Silva;
José Ribamar
Miza
/Nancy
Rdo. Nazareno
Lucas
/Ma. Afra
José Geraldo
Fco. César
José Irapuan
/Fca. Marlene dos Santos Lessa de Rdo. Luidi Santos de Abreu
Abreu
Ma. Itameire
Silvana, Nelson Jr
/Nelson
Ma. Itaceli
Cássio, Túlio, Fausto
/Sérgio

172
b) Tronco e Ramos dos Abreu/Outros.
G6 G7 G8
a331) Rdo. Honório de Abreu
a332)Amália Honório de Abreu
a333) Saul Honório de Abreu
a33) a334) Marcos Honório de Abreu
Raimundo Honório a335) Elvira Honório de Abreu
dos Santos Lessa de a336) Pedro Honório de Abreu
Abreu a337) Joaquim Honório de Abreu
/Constância de Paula a338) Álvaro Honório de Abreu
Borges a339) Afonso Honório de Abreu
a3310) Adolfo Honório de Abreu
a3311) Tecla Honório de Abreu
a3312) Doralice Honório de Abreu
a341) João Honório dos Santos
a34)
a342) Manuel Honório dos Santos
Honório Antônio dos
a343) Joaquim Honório dos Santos
Santos Lessa de Abreu
a344) Rdo. Honório dos Santos
/Honoria Justina de
Abreu a345) Fco. Honório de Abreu Sobri-
nho;
a36) a361)Estefânia Ermelinda de
Joaquim Honório dos Abreu/José Marques Costa
Santos Lessa de Abreu a362) Enéas Honório de Abreu
/Rda. Juventina de /Honória Barbosa de Abreu
Abreu a363) Elpídio Câncio de Abreu
/Rda. Marques Pinto;
a364) Isaura Laura de Abreu
/João de Sousa Uchoa
a365) Pedro Honório de Abreu
a366) Sebastião Honório de
Abreu/Luisa Ricardina de Abreu
a367) Artur Honório de Abreu
/Honória Machado de Abreu
a368) Fca. Honório de Abreu
/Abílio de Freitas Abreu
a369) Alberto Honório de Abreu
a3610) Marfisa Honório de Abreu
/Sebastião Carneiro de Oliveira
a3611) Edmundo Dantas de Abreu
/Jacinta Ricardina de Abreu
a3612)Antônia Honória de Abreu

173
b) Galhos dos Santos Lessa.
G1 G2 G3
Antônio dos Santos Lessa
João Antônio dos San-
(M1)
tos
/Isabel dos Santos
Floriana Pereira de Jesus
Lessa
e
Ana de Sá

G2 G3 G4
1. Ana Fca. Pereira
/Brás Ferreira Gomes
2. Antônio Fco. dos Santos Lessa
/Fca. Pereira de Azevedo
3. José Tomás dos Santos Lessa
/Ana Fca. de Jesus
4. Isabel Antônia de Souza
Faleceu prematuramente.
Antônio dos Santos /Joaquim Inácio Vieira
Lessa 5. Fco. David dos Santos Lessa
/ Floriana Pereira de /Ma. Tereza da Conceição
Jesus 6. José dos Santos Lessa
e /Ma. Fca de Abreu
Ana de Sá 7. Manuel Pereira dos Santos Lessa
/Teresa Ma. de Jesus
8. Sebastiana Fca. das Chagas
/Gabriel Gonçalves da Costa
9. Joaquim José dos Santos Lessa
/Ma. Teresa de Jesus
10. Gonçalo dos Santos
/Lessa/Isabel Ma. dos Santos
11. Ma. Manuela dos Santos
/Antônio Teixeira de Castro

174
b) Galhos dos Santos Lessa/Abreu.
G2 G3 G4
1. Floriana Martinha dos Santos
/João batista de Souza Chaves
2. Josefa Ma. da Conceição
/Antônio Umbelino dos Santos Lessa
3. Rosa Fca. Dos Santos
/Manuel Veríssimo da Luz
4. Fca. Ma. de Jesus
/Gonçalo dos Santos Lessa
5. Fca. Ferreira dos Santos
5.
/João Ferreira da Cruz
Fco. David dos Santos
6. Bernardino dos Santos Lessa
Lessa
/Fca. dos Santos Lessa
/Ma. Tereza da Con-
7. Isabel de Souza Lessa
ceição
/Venâncio dos santos Lessa
8. Joaquina dos santos Lessa
/Joaquim José dos Santos Lessa Júnior
9. Ana Fca. dos Santos
/Antônio José da Silva
10. Helena dos Santos Lessa
/Roberto Ferreira Gomes
11. Fca. dos Santos Lessa
/José Carneiro de Azevedo
1. Silvana Fca. dos Santos Lessa
/Anastácio Fco. de Castro;
2. Ma. Rosa dos Santos
/João Gonçalves madeira
3. Ma. dos Santos Lessa
/Fco. dos Santos Lessa Lisbo;
6.
4. Bernardino dos Santos Lessa
José dos Santos Lessa
/Ma. Teresa de Jesus
/Ma. Fca. de Abreu
5. Pedro dos Santos Lessa
/Ana da Cunha Lessa
6. Fco. dos Santos Lessa
/Bárbara Moreira de Souza
7. Gonçalo dos Santos Lessa
/Fca. Ma. de Jesus

175
b) Galhos dos Santos Lessa/Abreu.
G2 G3 G4
1. Joaquim dos Santos Lessa
/Ma. Joaquina dos Santos Lessas
2. Fco dos Santos Lessa Lisboa
/Ma. Fca. dos Santos Lessa
3. Antônio Umbelino dos Santos Neto
/Josefa Ma. da Conceição
4. Venâncio dos Santos Lessa/Isa-
belde Souza Lessa
7. 5. Fca. Teresa dos Santos Lessa
Manuel Pereira dos San- /Marcos Honório de Abreu
tos Lessa 6. Ana Fca. dos Santos
/Teresa Ma. de Jesus /João Ferreira de Souza
7. José Joaquim dos Santos Lessa
/Josefa Ma. de Jesus
8. João dos Santos Lessa/Clarinda
Ferreira de Nojosa
9. Vicente dos Santos Lessa/Mariana
Gomes da Silva
10. Constância Ma. dos Santos
/Manuel Gomes da Silva

176
b) Galhos dos Santos Lessa/Abreu.
G2 G3 G4
a31) Antônio Honório dos San-
tos Lessa de Abreu
/Fca. Umbelina dos Santos Lessa
a32) Florêncio Honório dos San-
tos Lessa de Abreu (inupto)
a33) Rdo. Honório dos Santos
Lessa de Abreu
/Constância de Paula Borges
a34) Honório Antônio dos San-
tos Lessa de Abreu
/Honoria Justina de Abreu
a35) Manuel Honório dos Santos
Fca. Teresa dos
Lessa de Abreu
Santos Lessa
Manuel Pereira dos /Ma. Amélia de Abreu
/Marcos Honóriode Abreu
Santos Lessa a36) Joaquim Honório dos San-
(A.1.3)
/Teresa Ma. de Jesus tos Lessa de Abreu
/Rda. Juventina de Abreu
a37) Joana Honório dos Santos
Lessa de Abreu
/José Raimundo de Abreu
a38) Josefa Honório dos Santos
Lessa de Abreu
/Jerônimo Vieira da Mota
a39) Sebastiana Honório dos
Santos Lessa de Abreu
/José Marques Filho
a310) Ma. Honório dos Santos
Lessa de Abreu
/ Pedro José de Freitas.

177
b) Galhos dos Marques.
G1 G2 G3
Alfredo Pereira Marques /Ma-
ria de Paula Cavalcante
Francisco Pereira Marques Fi-
Francisco Pereira Mar- Francisco Pereira Marques Filho lho(Nenen)
ques /Maria Joana Marques /Maricas Guedes Marques
/? José Pereira Marques,

Rogério Pereira Marques

Francisca Pereira Marques

b) Galhos dos Marques/Abreu.


G3 G4 G5
Manoel Pereira Marques

Maria Cavalcante Pereira Marques:


a2461) Alfredo de Abreu Pe-
reira Marques
/Rda. Diógenes Marques
a2462) Cleide de Abreu Pe-
Alfredo Pereira Mar-
Heinzelmann Pereira Marques/(Adé- reira Marques
ques
lia de Paula Costa a2463) Adélia de Abreu Pe-
/Maria de Paula Caval-
Antonieta de Abreu; reira Marques
cante
Mair Cavalcante);
a2464) Jairo de Abreu Pereira
Marques
a2465) Danilo de Abreu Pe-
reira Marques.
Francisco Cavalcante Pereira Mar-
ques.
a24) a2461)
a246)
Ma. Amélia de Abreu Alfredo de Abreu Pereira Mar-
Antonieta de Abreu
/Manuel Honório de ques
/Heinzeman Pereira Marques
Abreu /Rda. Diógenes Marques

178
c1) Galhos dos Freitas/Abreu.
G7 G8 G9
a238) Ma. Ita Freitas de Abreu
Pedro Honório de Freitas /Rdo. de Abreu(Doca)
/Carmem de Freitas;

Alfredo Honório de Freitas


?
/?

João Honório de Freitas


/?

c1) Galhos dos Braga.


G1 G2 G3
Ma. Luiza de Abreu
/Afonso de Albuquerque Braga
Joaquim Lopes de Abreu(inupto)
Izabel Ma. de Abreu Raimunda; Maria; Miguel;
/Jerônimo José Ferreira Braga Izabel; Jerônimo; Fca.
Fca. Ma. Lopes
/Manuel Cabral de Medeiros
Ângela Ma. Batista Antônio Batista Ferreira Braga
/João Batista Ferreira Braga /Fca. Lopes Braga
Joaquim Lopes de Joaquina (inupta)
Abreu Fco. Lopes de Abreu (inupto)
/Ma. Teresa de Jesus Rosa Ma. de Abreu (inupta)
Domingos Lopes de Abreu
/Josefa Fca. Barbosa Cordeiro
Mariana Lopes de Abreu
/Agostinho Luiz da Silva
Vicência(inupta)
Angélica Maria (inupta)
Josefa Ma. de Abreu
/Jerônimo José Ferreira Braga (viúvo
de Izabel)

179
c1) Galhos dos Braga.
G2 G3 G4
José Batista F. Braga
/?
João Batista F. Braga
/Izabel Ferreira Braga
Fco. Batista F. Braga
João Batista Ferreira
/?
Braga
Antônio Batista Ferreira Braga Luiza Batista F. Braga
/Ângela Ma. de Abreu
/Fca. Lopes Braga /?
Batista
Antônio Batista F. Braga
/
Isabel Batista F. Braga
/?
Maria Batista F. Braga
/

c2) Galhos dos Braga.


G4 G5 G6
Amadeu Ferreira Braga
/a2319) Ma. Aurélia de
Abreu
Luiza Ferreira Braga
/José Augusto
José Ferreira Braga
/Vilante
Rdo. Batista Ferreira Braga
AntônioFerreira Braga
/Rita Ferreira de Sousa
João Batista Ferreira /Francisca
Braga João Ferreira Braga
/Isabel Ferreira Braga /Raimunda
Carlos Ferreira Braga
/Maria
Benedita Ferreira Braga
/?
José Batista Ferreira Braga
/?
Pedro Batista Ferreira Braga
/?

180
c2) Galhos dos Braga.
G5 G6 G7
Ellen
/José Afonso Sancho
Henry
/Pedro Jorge de Abreu Braga
Edla
/Agessilau Silva de Carvalho
Amadeu Ferreira Braga
Élio
/a2319) Ma. Aurélia de Abreu;
/Ma. Iris Crisostomo Braga
Edla
/Hélio de Araújo Meireles
Elma
/José Bruno de Miranda Neto
Eliomar
/Ma. Marlisia Chastinet Braga
José Ferreira Braga
Raimundo Batista Fer- Bernadete; Virginete
/Violante
reira Braga
Rdo. Augusto; Rita Augusto; Je-
/Rita Ferreira de Sousa Luiza Ferreira Braga
rônimo; Jaime; Demóstenes; Ma.
/José Augusto
Angélica.
José Aldro; Adelaide; Elenita;
Pedro Ferreira Braga /Alzira
José Carlito
Rdo; José; Zaíra; Ma. Augusta;
Antônio Ferreira Braga
Teresa; Pedro; Antoni; Paulo;
/Francisca
Edmundo; Yeda; Francisco
Amadeu Ferreira Braga Elen; Hanry; Edla; Elio; Elda;
/Ma. Aurélia de Abreu Elma; Eliomar
Rita; Rubica; João; Gudula; De-
Carlos Ferreira Braga
jane; Evivane; Rejane; Gilda;
/Maria
Vania Lucia
Teresa; José; Zacarias; Eliza-
João Ferreira Braga
bete; Mirian; Francisco; Ange-
/Raimunda
lina; Raimundo; Celina; Ribamar
Benedita Ferreira Braga

181
c2) Galhos dos Abreu/Braga.
G7 G8 G9
Ma. Tania, José Tamer, Te-
Elen de Abreu Braga
reza, Elisabeth, Inima, José
/José Afonso Sancho
Afonso, Ernani, Elen
Hanry de Abreu Braga
Rachel, Poliana
/Pedro Jorge de Abreu Braga
Edla Hortência, Alexandre
Amadeu Ferreira Edla Braga de Carvalho Herculano, Ma. Aurélia, Alice
Braga /Agesilau Silva de Carvalho Augusta, Adriana Flávia, So-
/a2319)Ma. Aurélia lange, Sueli, Agesilau
de Abreu Elio da Abreu Braga Alexandre, Isabel Cristina, Ve-
/Ma. Iris Crisóstomo rônica, Iris, Amadeu, Patrícia
Elma Abreu Braga
Eliomar de Abreu Braga Emilio, Rodrigo, Eliomar, Eu-
/Ma. Marilisia Chastinet ridark, Renata
Elda Braga Meireles Eugenia, Hélio, Cristina, Gui-
/HélioAraújo Meireles lherme, Amadeu

182
d1) Tronco e Ramos dos Martins/Abreu.
G7 G8 G9
1. José Valdo de Abreu I
Ada Cenira Abreu da Ponte
2. Ireuda Ma. de Abreu Ana Cristina Abreu da Ponte
/Agenor Ferreira da Ponte Adna Cintia Abreu da Ponte
Adauto Capistrano Abreu da Ponte
Ticiane
3. José Américo de Abreu
Lana Marúsia
/Ma. Elenilce de Oliveira;
Rodrigo
Patrícia Yale de Castro Abreu
4. José Valdo de Abreu II
Sidney de Castro Abreu
/Ana Ma. de Castro
André Luis de Castro Abreu.
Jean Frederic
5. Ilca Ma. de Abreu
a2316) Marc Philipe
/Olmedo H. Arciniegas Cuella;
José de Abreu (Zeca) Caroline Yale
/Esther Martins de Nityiescha Duarte de Abreu
Abreu Maxwell Barreto de Abreu
6. Pedro João de Abreu Mykaela Barreto de Abreu,
/Josefa Aglais Cavalcantedo Myrela Barreto de Abreu,
Nascimento de Abreu; Marcel Cícero Barreto de Abreu
(*) (quarto matrimônio);
Paula Araújo de Abreu
Marcus Fábio Crisóstomo de
Abreu
7. José Mardonio de Abreu Geórgia Diógenes de Abreu
/Antonieta Ma. Diógenes Mar- Marcelo Diógenes de Abreu
ques de Abreu Flávia Diógenes de Abreu
Marilia Esther Benevides de Abreu
8. José Sebastião de Abreu
Natalia Benevides de Abreu
/Fernanda Esther Benevides
Victor Benevides de Abreu

183
d1) Tronco e Ramos dos Martins/Abreu.
G8 G9 G10
1.
José Valdo (inupto) -
de AbreuI
2. Ada Cenira/Renis Espíndola Renata, Renan
Ireuda Ma. de Abreu Ana Cristina/Fernando Lobo -
/Agenor Ferreira da Adna Cintia/Roberto Botão Davi, Matheus
Ponte Adauto Capistrano/Daniele Gabriela, Beatriz
3 Thiciane Oliveira/Vitor;
José Américo de Abreu Lana Marúsia Oliveira /José Car- Ana Cecília, Valentina Esther
/Ma. Elenilce de Oli- los
veira RodrigoOliveira de Abreu
4. Patrícia Yale/Ricardo Diego
José Valdo de AbreuII Sidney/Regina Ana Luiza, Carlos Eduardo
/ Antônio Vieira
André Luis/Luciana
Ama Ma. de Castro
5. Jean Frederic/Larissa
Ilca Ma. de Abreu Marc Philipe
/ Olmedo H. Arciniegas Arthur
Caroline Yale/Alexandre
Cuellar;
Nityiescha Yago, Brann
6. Maxwell (inupto)
Pedro João de Abreu Mykaella
/ Josefa Aglais Caval- Myrella de Abreu/Itamar de Abreu Pedro Henrique, João Paulo
cante de Abreu Marcel Cícero Arthur,
(*) quarta esposa
Paula
Marcus Fábio
7. Georgia
José Mardonio de Abreu Marcelo
/Antonieta Marques de
Flávia/André.
Abreu
8. Marilia Esther/Rafael Isabella
José Sebastião de Abreu Natalia
/Fernanda Esther Bene-
Victor
vides

184
c1) Galhos dos Lessa/Martins/Barroso
G1 G2 G3
João Antônio dos San-
tos Isabel Antônia de Sousa
Antônio dos Santos Lessa
/Isabel dos Santos Lessa ? Barroso
(M1)
? Floriana Pereira de Jesus
(M1.1)
? e
Ana de Sá;
? Joaquim Inácio Vieira
?

c1) Galhos dos Lessa/Martins/Barroso


G3 G4 G5
Isabel Antônia de Sousa
(m.parto) Inácio Ferreira da Costa Inácio Ferreira da Costa Barroso
? Barroso /Josefa Ma. do Espírito Santo; /Constância Ma. de Almeida;
/Joaquim Inácio Vieira

c1) Galhos dos Lessa/Martins/Barroso


G5 G6 G7
Ma. Caetana de Almeida;
Manuel Ferreira Costa Barroso
Felício da Costa Barroso
Fco. Félix da Costa Barroso
Ma. da Costa Barroso
Margarida Fca. do Espírito
Santo
Fca. Ma. da Conceição
Marçal F. da Costa Barroso
Ma. Fca. De Almeida
Inácio Ferreira da Costa Ana Ferreira dos Santos
Barroso/Constância Ma. Fco. Ferreira da Costa Barroso
de Almeida
Fca. Romana de Almeida
José Martins Barroso
João Martins Barroso
Angélica Ferreira Barroso Ma. Angélica Martins Barroso
/José Martins da Silva; /João Ventura Martins
Ma. Anunciada Fernandes
Eduardo Ferreira Barroso
Antônio Ferreira da Costa Bar-
roso
Mariana Ferreira dos Santos
185
c1) Galhos dos Lessa/Martins/Barroso/Abreu.
G5 G6 G7
João Martins Barroso Lisenco, Fco, Claudinete, Ma.
/Joana Lourdes
Olga Martins Barroso Simone, Suely, Silene
/Rdo. Morais
Carlos, J. Antônio, Marlene, Au-
Judith Martins Barroso
gusto; Joana Darc, Marlene, Flor
/Carlos
de Lys, Caritas
Marieta Martins Barroso Davi, Ma. Luiza, Joana Darc, Ca-
/Luis ritas, Jeová, Madalena
José Valdo de AbreuI
Ireuda Ma. de Abreu
Ma. Angélica Martins José Américo de Abreu
Barroso a2316)Esther Martins Barroso José Valdo de Abreu II
/João Ventura Martins /José de Abreu Ilca Ma. de Abreu
Pedro João de Abreu
José Mardonio de Abreu
José Sebastião de Abreu
Bráulia Martins Barroso Oswaldo, Rosilene.
/Murilo
Fco. Martins Barroso Darcila, Aparecida, João, Adair-
/Adahil ton, Adami
Rda. Martins Barroso Edson, Jucineide, Evaneide, No-
/Alcides ronha.
Luis Martins Barroso Iris, Luis
/Adélia

186
b) Tronco e Ramos dos Honório/Abreu.
G2 G3 G4
Joana Honório
(inupta)
de Abreu (A.2.1)
b21) Ma.Honório de Abreu
Joaquim Honório /Antônio Pereira de Abreu
de Abreu (A.2.2)
b22) Fca. Honório de Abreu
/Rda. Vieira
/Manuel Marques da Costa
da Mota
b23) Fco. de Freitas
Jacinto Honório b31) Jacinto
de Abreu A2.3) b32) José Honório
/Florência Gomes ?
de Abreu
Fco. Honório de Rita Honório
Abreu (inupta)
de Abreu (A.2.4)
/Fco Camelo Pessoa b51) Fco. Paulo Vieira
Neto (pai Chiquinho) /Maroca Leite
b52) Ma. Paulo/Ciriáco;
b53) Manuel Paulo Vieira;
(A.2) b54) Cosma;
Ângela Honório de Abreu b55) Jacinta Fca. de Abreu
(A.2.5) /Antônio Raimundo Honório
/Antônio Paulo Vieira b56) Paulo de Abreu
Jacinta Ma. do Espí- b57) Joaquina de Abreu
rito Santo b58) João Batista Paulo Vieira
b59) Honório Antônio de Abreu
/Fca. Marcelina Leite de Abreu- Vi-
centina Honório de Abreu
José Honório
de Abreu (A.2.6) (inupto)

b71) Antônio Pereira de Abreu


/Maria Honório de Abreu
Ana Josefa Honório de
b72) João Pereira
Abreu(A.2.7)
b73) Joaquim
/Manuel José Pereira
b74) Moises

187
b) Tronco e Ramos dos Honório/Abreu.
G6 G7 G8
b211) Manuel Pereira de Abreu
/Maria dos Anjos de Abreu
b212) Rdo. Pereira de Abreu
b213) Joana Pereira de Abreu
/Fco. de Freitas
b214) Joaquina Pereira Abreu
/Fco. Honório de Abreu
b215)Antônia Pereira de Abreu
/Fco. Rodrigues
b216) Ma. do Espírito Santo Manuel Pereira Gomes;
/Luis Gomes de Pontes /Euricina Gomes de Oliveira
b21) b217) Ma. Pereira de Abreu
Maria Honório de /Agostinho Paulo de Abreu
Abreu b218) Luiza Pereira de Abreu
/Antônio Pereira de /Fco. Paulo de Abreu
Abreu b219) Ma. do Carmo de Abreu
/José Simião de Abreu
b2110) Mariana Pereira de
Abreu
/Fco. Honório de Abreu
b2111) Felismina Pereira de
Abreu/Acrísio Severino
b2112) Ricardo Pereira de Abreu
/Albertina Gomes de Abreu
b2113) José Pereira de Abreu
/Valdivina Chaves
b2114) Manuel Pereira da Silva
/Ma. do Carmo da Silva

188
b) Tronco e Ramos dos Honório/Abreu.
G6 G7 G8
b550) Manuel de Abreu
b551) Clotilde Honório de Abreu Lindalva Honório de Abreu /José
/Pedro Honório de Abreu Mendes de Vasconcelos III
b552) Antônio de Abreu
JoséAureilson, Antônio Aureilton,
Laerte de Abreu, Clemilson de
b553) José de Abreu
Abreu, AntôniaDalsanir, Dalvaci
/Fca. Paula Vieira
Cleilsa, Marfisa, Cleanes Ma. Cor-
deiro de Abreu
b554) Rdo. Honório dos Santos
b555) Joana de Abreu
José Mendes de Vasconcelos III
/Lindalva Honório de Abreu
Pedro Pierre
/Esther Mendes Vasconcelos
Antônio Mendes de Vasconcelos
b55) /Isabel Mendes de Vasconcelos
Jacinta Fca. de Abreu
Rda. Mendes de Vasconcelos
/Antônio Raimundo
(Mundinha)
Honório b556)Antônia de Abreu /Jose Fernandes Vieira
/Rdo. Mendes de Vasconcelos
Alzira Mendes de Vasconcelos.
/Pedro Anselmo

Marisoo Mendes Vasconcelos

Marisa Mendes Vasconcelos

Isabel Mendes Vasconcelos


/Jaime Honório de Abreu

b557) Ângela Honório de Abreu


Leite
/Antônio Leite
b558) Joaquina (Dindinha)
b559) Fca. Amélia H. de Abreu
/Pedro de Abreu

189
c1) Galhos dos Honório/Abreu/Mendes.
G6 G7 G8
Rita Mendes de Vasconcelos;
Oscar Mendes de Vasconcelos;
Doclecio Honório Mendes de
Vasconcelos;
Luciano Mendes de Vasconce-
los;
Lindalva Mendes de Vasconce-
José Mendes de Vasconcelos III los;
/Lindalva Honório Mendes Alzira Mendes de Vasconcelos;
Clotilde Mendes de Vasconcelos;
b556) Jose Alfredo Mendes de Vascon-
Antônia de Abreu celos;
/Rdo. Mendes de Antônia Mendes de Vasconce-
Vasconcelos los/Fco. Cordeiro
Evangelina Mendes de Vascon-
celos;
Fco. José Fernandes Vieira
/Simone
Rda. Mendes de Vasconcelos Sebastião Fernandes Vieira/Efi-
(Mundinha) gênia
/José Fernandes Vieira
Valéria Fernandes Vieira

Marisa Fernandes Vieira

190
c1) Galhos dos Honório/Abreu/Mendes.
G6 G7 G8
Jose Mendes de Vasconcelos II Rdo. Mendes
/Esther Bessa (Freitas Mendes Vas- /Luiza de Abreu Machado;
José Mendes de Vas- concelos) Bernardo Mendes
concelosI Luis Mendes
/Isabel irmã do José João Mendes
Inácio pai do tio Val- Ma. Mendes/Boliva
frido Jose Bruno/Francisquinha

Lindalva Honório Mendes Doclecio Honório Mendes de


/José Mendes de Vasconcelos; Vasconcelos
Jaime/Isabel
Araci/Valderi
Adami
/Alberto
Pedro Honório de
Rda. de Abreu
Abreu/Clotilde Honó-
/José Norberto de Abreu
rio de Abreu
Humberto
/Valda Ramos
Álvaro
Ma. Honório de Abreu
/Isaias Honório de Abreu

Raimundo Mendes irmão do Bernardo casado com Luiza (Iza), era filho de Jose
Mendes de Vasconcelos casado com Esther Bessa irmã do Antônio Bessa avô do
Clezer casado com Waleska filha do Walfredo de Abreu Machado do Maranguape
que era irmão do Raimundo Mendes, que também era irmão do Luis Mendes, João
Mendes, José Mendes, Maria Mendes que era casada com o Boliva, e do José Bruno
casado com Francisquinha.
Jose Mendes de Vasconcelos era casado com Isabel Machado irmã do José Inacio
Machado, ele era o pai de José Mendes de Vasconcelos.

191
b) Tronco e Ramos dos Honório/Abreu.
G4 G5 G6
b591) Ângela Honório de Abreu
/Manuel Pereira de Abreu
b592) Joaquina Honório de Abreu
/Rdo. Honório Machado
b593) Josefa Honório de Abreu
/Manuel Paulo Vieira
b594) Alexandrina Honório de Abreu
/João Félix Paulo
b595) Rda. Honório de Abreu
/José Rocha de Abreu
b596) Ma.Honório de Abreu
/Antônio de Barros
b597) Ma.Honório de Abreu (inupta)
b598) Antônio Honório de Abreu
/Fca. Félix Paulo
b59) b599) Luis Honório de Abreu
Honório Antônio de /Santana Honório de Andrade
Abreu b5910) José Honório de Abreu
/Fca. Marcelina Leite /Ma.Flor
de Abreu e Vicentina b5911) Eduardo Honório de
Honório de Abreu Abreu/Emilia
b5912) Manuel Honório de Abreu
/Clotilde Barros de Abreu
b5913) Xavier Honório de Abreu
/Honório Ricardo de Abreu
b5914) Pedro Honório de Abreu
/Ana Honório de Abreu
b5915) Vertuoldo Honório de Abreu
b5916) José Simão de Abreu
/Maria do Carmo Pereira;
b5917) J. Ferreira Honório de Abreu
/Fca. Honório de Abreu
b5918) José Estenilau de
Abreu(inupto)
b5919) José Honório de Abreu
/Rita Pinto de Abreu

192
b) Tronco e Ramos dos Honório/Abreu.
G4 G5 G6
b221) Fca. Marques de Abreu
/Augustinho J. Barbosa
b222) Maria Honório de Abreu
/Antônio Pereira de Abreu
b223) Rda. Honório de Abreu
/Severiano Marques da Costa
b224) Celina Honório de Abreu
b22) /Manuel
Fca. Honório de b225) Joana Honório de Abreu
Abreu /Manuel
/Manuel Marques da b226) Jose Raimundo
Costa /Carlota
b227) Joaquim Rdo
b228) Vicente Rdo.
/Ana Moreira
b229) Antônio Rdo
b2210) Antônia Ma. da Costa
/Manuel Rodrigues
b2211) Raimundo
/Firmina;
b5920) José Mauricio Honório de
Abreu
/Antônia Oliveira de Abreu
b5921) Ma. de Abreu Gomes
/Antônio Gomes Pereira
b5922) Regina Honório de Oliveira
/ Manuel Egidio de Oliveira
b59)
b5923) Ma. do Carmo H. de Abreu
Honório Antônio de
/José Vicente Barbosa
Abreu
b5924) Teresa Rodrigues de Abreu
/Fca. Marcelina Leite
/Vicente Maciel Rodrigues
de Abreu- Vicentina
Honório de Abreu b5925) Ma. Martina Honório de Abreu
/Romão Gaspar da Flor
Ma. Violeta Honório de
José Ferreira Honório de Abreu Abreu
/Fca. Honório de Abreu /Humberto Honório de
Abreu
José Honório de Abreu
/Rita Pinto de Abreu

193
b1) Tronco e Ramos dos Honório/Abreu.
G7 G8 G9
b2211)Antônio Barbosa Abreu
/Carmélia Martins de Abreu
b2212) Jose Barbosa de Abreu
/Maria de Lourdes de Abreu
b2213) Manuel Barbosa Abreu
/Rita Barbosa de Abreu
b2214) Fco Barbosa de Abreu
b221) /Julieta Martins de Abreu
Fca. Marques de b2215) Rdo. Barbosa de Abreu
Abreu /Maria Mateus de Abreu
/Augustinho J. Bar- b2216) Luis Barbosa de Abreu
bosa /Maria Marques de Abreu
b2217) Ma. Barbosa de Abreu
b2218) Rita Barbosa de Abreu
b2219) Ma. Barbosa de Abreu
b22110) Ma. do Carmo Barbosa
b22111) Honório Barbosa de Abreu
b22112) Fca. Barbosa de Abreu;
JoséAureilson
/Ma. Rita Magalhaes
Antônio Aureilton Cordeiro
de Abreu
Laerte Cordeiro de Abreu
/Ma. Lucia Nunes
Clemilson Cordeiro de Abreu
b553) /Sandra Barreto
José de Abreu Antônia Dalsanir
Aurélio de Abreu
/Fca. Paula Vieira /Paulo Bezerra de Sousa
/Nilza Cordeiro de Abreu
Dalvaci
/José de Abreu(Dede)
Cleilsa
/Valter Barreto
Marfisa Cordeiro
/Valcir de Aragão Martins
Cleanes Ma. Cordeiro de
Abreu
/Cesar Filho

194
b1) Tronco e Ramos dos Honório/Abreu.
G7 G8 G9
b5911)Jerônimo Honório de Abreu
(Loló)
/Ma. Otília de Abreu
b5912) Miguel
b5913) Branca
b591)
Ângela Honório de b5914) Antônio Pompeu de Abreu
Abreu /Sebastiana de Abreu
/Manuel Pereira de b5915) Sebastião Nélio de Abreu
Abreu b5916) Antonieta de Abreu
/Heinzeman Pereira Marques
Ma. Augusta
b5917) Augusto Amélio de Abreu
b5918) Afra Honório de Abreu
b5919) Astrogildo

b1) Tronco e Ramos dos Honório/Abreu.


G7 G8 G9
1. José Alberto de Abreu
2. Ma. Cleonice de Abreu
/Moisés Pereira de Abreu
Antonio Ari Honório de Abreu
/Luciene de Abreu Martinelli
Antonio Valdir Honório de
Abreu
/Regina Maria da Silva de
b59/b5912) Abreu
Manuel Honório de .José Honório de Abreu
Abreu /Antônia Catarina dos Santos
/Clotilde Barros de 3. Ma. Auristela de Abreu Abreu
Abreu /Messias Honório Machado de Maria Erlene Honório de
Abreu Abreu
/Francisco Barroso
Maria Margarida de Abreu Hi-
gino
/Alonso Higino da Silva
Maria Eliene de Abreu da Silva
/Dejaci da Silva
Maria Aila Honório de Abreu
(inupta)
195
Nacélio Honório de Abreu/Ju-
cilene Gomes de Abreu
Marta Helena Honório de
Abreu (inupta)
Antonia Edna Honório de
Abreu (inupta)
Maria Dalvaci de Oliveira
Lobo
Lilian de Abreu Gama/
Francisco Gama
4. Ma. Estela Honório de Abreu
/João Matias Leite
5. Humberto Honório de Abreu Ma. Violante H. de Abreu
/Ma. Violeta Honório de Abreu /José Lúcio Martins de Abreu
6. Gilberto de Abreu
/Ma. Alice Rocha
Edmilson de Abreu
/Benigna Araújo
Antônia Ilzair de Oliveira de
Abreu
/Estênio Pinto de Abreu
Jose Alcir de Oliveira Abreu
/Ma. Gorete Paulo de Abreu
7. Antônio Honório de Abreu (To- Elenir de Oliveira Abreu
tonio) /Marcio Cleiton Machado de
/Elsa Gomes de Oliveira Abreu(fi- Abreu
lha de Euricina Gomes de Oli- Ma. Nadir de Oliveira Abreu
veira.) /Fernando Paulo Sobrinho
Jair de Oliveira Abreu
/Ma. da Penha de Abreu
Leila de Oliveira Abreu
/Ronaldo dos Santos de Abreu
Ioneida de Oliveira Abreu

196
b1) Tronco e Ramos dos Honório/Abreu.
G7 G8 G9
Antônia Ilzair de Oliveira de
Abreu
/Estênio Pinto de Abreu;
Jose Alcir de Oliveira Abreu
/Ma. Gorete Paulo de
Abreu;
b21/b216)Manuel Elenir de Oliveira Abreu
Pereira Gomes /Marcio Cleiton Machado de
/Euricina Gomes de Elsa Gomes de Oliveira Abreu Abreu;
Oliveira /Antônio Honório de Abreu (Totonio) Ma. Nadir de Oliveira
Abreu
/Fernando Paulo Sobrinho;
Jair de Oliveira Abreu
/Ma. da Penha de Abreu;
Leila de Oliveira Abreu
/Ronaldo dos Santos de
Abreu;
Ioneida de Oliveira Abreu.
Ma. Violante H. de Abreu
/José Lúcio Martins de Abreu
Ma. Vizoleta H. de Abreu
/José Ednilson Araújo de Abreu
Ma. Violete H. de Abreu
/JoséEbnilson Araujo de Abreu
Ma. Valeria H. de Abreu
/Fco. De Assis Oliveira de Abreu
Jose Agriberto H. de Abreu
b5912) Humberto /Ma. Elane Nascimento da Silva
Honório de Abreu Ma. Vilaneide H. de Abreu
/Ma. Violeta Honó- /Jose Nilton Alves da Silva
rio de Abreu Ma. Vilanete H. de Abreu
/Antônio Eudson Araújo de Abreu
Fco Edberto H. de Abreu
/Ma. Clemilda Alves
Ma. Vilacilda H. de Abreu/
Mauro H. da Silva
Ma. Vilanilde de Abreu Freitas
/Moslair Freitas
Antônio Wellington H. de Abreu;
/Ma.

197
b1) Tronco e Ramos dos Honório/Abreu.
G7 G8 G9
1. Auristela Barbosa de Abreu
/ Rdo. Nonato de Andrade
2. Aurilene Barbosa de Abreu
/José Junior de Abreu Dias
b2211) Ma. Aurineide H. de Abreu
Antônio Barbosa Abreu Silva
/Carmelia Martins de /Marcos José Martins da
Abreu Silva
3. José Lucio Martins de Abreu Ma. Erineide H. de Abreu
/Ma. Violante Honório de Abreu /Antônio Luzino Oliveira de
Abreu
José Lúcio Martins de
Abreu Filho
/Rafaela de Oliveira Silva

b1) Tronco e Ramos dos Honório/Abreu.


G7 G8 G9
Ma. Violante H. de Abreu
/José Lúcio Martins de Abreu
Ma. Vizoleta H. de Abreu
/José Ednilson Araújo de Abreu
Ma. Violete H. de Abreu
/Jose Ednilson Araújo de Abreu
Ma. Valeria H. de Abreu
5. /Fco. de Assis Oliveira de Abreu
Jose Agriberto H. de Abreu
Humberto Honório de /Ma. Elane Nascimento da Silva
Abreu Ma. Vilaneide H. de Abreu
/Ma. Violeta Honório /Jose Nilton Alves da Silva
de Abreu Ma. Vilanete H. de Abreu
/Antõnio Eudson Araujo de Abreu
Fco Edberto H. de Abreu
/Ma. Clemilda Alves
Ma. Vilacilda H. de Abreu
/Mauro H. da Silva
Ma. Vilanilde de Abreu Freitas
/Moslair Freitas

198
c) Tronco e Ramos dos Abreu/Machado.
G1 G2 G3
c31)Clotilde de Sousa Ma-
chado(inupta)
Honório de Sousa Machado c32)José Inácio de Sousa Ma-
(A.3.1) chado/Rita Maria do Carmo
/Ma. Antônia dos Prazeres c33) Josefa Severina de Sousa
Ana Ma. Josefa da
/Jesuíno Fco. Leite;
Cunha Rosa
c34)?
c21) João Raimundo;
(A.3)
c22) Antônio Raimundo de Abreu
Rita Inácio de Sousa Machado /Jacinta Francisca de Abreu
Fco. de Sousa Ma-
(A3.2) c23) Francisco Raimundo/Antônia
chado
/Rdo. Honório de Abreu Aguiar
c24) José Raimundo/Joana Honó-
rio.
José Honório de Sousa Ma-
(inupto)
chado

c1) Tronco e Ramos dos Abreu/Machado.


G3 G4 G5
c221) Manuel de Abreu
/Clotilde Honório de Abreu
c222) Antônio de Abreu
c223) José de Abreu
/Fca. Paulo Vieira
c224) Rdo. Honório dos Santos;
c22)
Antônio Raimundo de c225)Joana de Abreu
Abreu Rda. Mendes de Vasconcelos
c226)Antônia de Abreu
/Jacinta Francisca de /Rdo. Mendes de Vasconcelos (Mundinha)
Abreu /José Fernandes Vieira
c227)Ângela Honório de Abreu
Leite
/Antônio Leite;
c228) Joaquina(dindinha)
c229) Fca. Amélia Honório de
Abreu
/ Pedro de Abreu

199
c1) Tronco e Ramos dos Abreu/Machado.
G3 G4 G5
c321) José Inácio Machado
/Afra de Abreu Machado
c322) Izabel Machado Mendes
c32)
/José Machado de VasconcelosI
José Inácio de Sousa
Machado c323) Joaquim Machado Men-
/Rita Maria do Carmo des(inupto)
c324) Maria Joaquina de
Sousa/Fco. Rdo. Vasconcelos
c325) Constância Maria Bor-
ges/Pedro Honório Borges;
c33)
Josefa Severina de Antônio Paula Vieira/ Fca. Mar-
Sousa celina de Abreu;
/Jesuíno Fco. Leite

c1) Tronco e Ramos dos Abreu/Machado.


G5 G6 G7
c3211) Valfrido Abreu Ma-
chado/Ma. da Penha de Abreu
(Lili)
c321) c3212) Rita Machado Mota
José Inácio Machado /Clodoaldo Mota
/Afra de Abreu Ma- c3213) Aurora (inupta)
chado
Fco Machado (Machadi-
nho)/Isaura
c3214) Joana (inupta)
c3221) Inácio Machado Vascon-
celos/Debora Viana
c3222) Rdo. Machado de Vas-
concelos/Antônia Adelaide Ma-
c322) chado de Abreu;
Izabel Machado Men-
c3223) José Mendes de Vascon-
des
celos/Esther de Freitas Mendes;
/José Machado de
Vasconcelos c3224) Ma. Mendes de Vascon-
celos/Rdo. Barbosa de Abreu;
c3225) Fco. Gurgel de Vascon-
celos/Romana Mendes de Vas-
concelos;

200
c2) Tronco e Ramos dos Abreu/Machado.
G5 G6 G7
1. Luiza Machado/Rdo. Mendes
2. Valdefrido/Geralda Diógenes Conceição, Rogério, Telma
3. Enói Machado/Augusto Braga
c321/c3211) 4. Vanda de Abreu Machado/José Edvirgens, Sílvia Helena,
Valfrido Machado Mario Roberto Mendes Antônio Alfredo
/Ma. da Penha de Walquiria, Waldívia, Wal-
Abreu 5. Walfredo Machado/Jacinta Paula frido, Valeska, Walker,
Walder.
6. Josè Valdez/Itamaria Freitas Mario, Valdefrido
7. Silvia Ma. de Abreu/Hadne Pan- Walquirio, Ediane, Liane,
toja Kilvia, Kedma, Hadner Jr
1. Jehovah Motta/Julietta Fernandes
Motta
c321/c3211) 2. Deborah/Antônio Evangelista
Rita de Abreu Machado Childerico
3.
/Clodoaldo Vieira Mota 4. Keresky
5. Tulio
6. Silvia Liriss
/Geraldo Rodrigues
1. José Augusto/Lucia Paula (irmã
da Jacinta Machado)
2. Honorina
3. Margarida
4. Jose Inácio
/Fca. Cordeiro
5. Teresa
c321/c3211)
Fco. Machado (Macha-
dim) Iolanda/Luis Aderson;
/Isaura Nunes Eliane/Fco. Otávio;
Fátima/Antônio Reinaldo;
6. José Maria Nunes Machado Socorro/José Capistrano;
/Ma. de Lourdes Andrade Ines; Helder/Antônia Luci-
lene; Iracema/Fco. Ferreira
Alves; Iraides/José Eve-
rando; Pedro/Claudenice

201
c2) Galhos dos Mendes /Machado.
G5 G6 G7
c226) Fco. José (Nonon)
1. Raimunda Mendes de Vasconce-
Antônia de Abreu Sebastião
los/José Fernandes Vieira
/Rdo. Mendes de Vascon- Valeria
celos Marisa

c2) Galhos dos Mendes /Machado.


G5 G6 G7
Alan Vasconcelos Santos;
Ma. Socorro Machado Mendes
Andrey Vasconcelos de Mo-
/Leão
rães Rego;
Manuel Benedito Neto; Kil-
Marister Machado Mendes
derye V. de Freitas; Darlano V.
/José Dário de Freitas
Freitas
Iza Machado Mendes Leo M. Mendes, Liz M. Men-
Luiza Machado Mendes /?; des
/Bernardo Mendes Madalena Machado Mendes Fernanda Leite Mendes de
Vasconcelos e Rdo. /Peter; Sousa
Mendes Vasconcelos Raquel Vasconcelos Matos Ca-
valcante;
Ma. Machado Vasconcelos Edgard Matos Cavalcante Fi-
/Edgar lho;
Luiza Machado Vasconcelos
Matos Cavalcante;
Eli Machado Mendes

O personagem “Nem” da família Machado-Vasconcelos, tem o seguinte


nome Fco Vasconcelos de Sousa, filho de Rdo Machado de Vasconcelos (primo se-
gundo da Mundinha) e Petronila Machado de Vasconcelos. Seus avós maternos fo-
ram José Rodrigues da Silva e Joana Machado de Vasconcelos e Josino Rodrigues
de Sousa de Sobral que morava no sítio Oceano, casado com Fca Machado de Vas-
concelos, tia de Pedro Abreu meu avô por parte pai, e bisavô do Nem por parte de
pai.
Teve por parte de mãe os avós Simião Fideles de Sousa das Lages casado
com Fca Machado de Vasconcelos sendo irmã de Joana Machado de Vasconcelos.

202
8

Polinização
dos descendentes de
Honório José de Abreu

Da suposta área retangular de 18 quilômetros de lado e seis de profundidade


adquiridos por João Honório de Abreu e seus três irmãos a partir do ano de 1808,
em face das numerosas famílias que foram se estabelecendo, e de suas doações e
divisões, aos poucos as áreas verdes, florestas nativas e riachos foram se extinguindo
devido as crises ambientais, secas periódicas e falta de conhecimento científico e
tecnológico no uso e trato com o solo.
A partir de 1913, com a morte de meu bisavô Jerônimo Honório de Abreu,
sua esposa ainda viveria por quase dez anos, morrendo em 1923, entretanto a unidade
territorial da família, envolvendo todas as terras originalmente adquiridas por seu pai,
tinha sido seriamente abalada, principalmente as terras localizadas na região do Co-
luminjuba.
Durante quase dois séculos, nunca tinha sido abordada a questão das divi-
sões de terras além de qualquer contrato verbal, após 1913, a situação surgiu como
uma avalanche entre os familiares com todos mostrando suas “garras” afiadas no
controle daquilo que um dia fora um único feudo.
Tanto uma ideologia, quanto a morte de um ente querido sempre vem car-
regada de dor e, para quem tem bens a serem divididos, a situação pode gerar pro-
blemas entre familiares, uma epopeia que sempre existiu e foi continuamente velada
no seio da família de Honório José de Abreu.
O fato de pessoas vivendo juntas bem como não serem casadas oficial-
mente, não exclui o direito de receber parte dos bens conquistados pelo casal após o
início do relacionamento, visto ser correto que as pessoas registrassem em cartório
essa união, mas em face do catolicismo vigente que impedia pensar em qualquer tipo
de separação a maior parte delas não costumava fazer isso.
Assim, a condição não precisava ser comprovada pelo tempo em que as
duas pessoas estivessem juntas, e sim, por evidências que caracterizassem um rela-
203
cionamento sólido. Isso se prova hoje com contas no mesmo endereço, conta con-
junta, aquisição de bens juntos e pelos amigos, que são testemunhas. Existe um fol-
clore popular de que só é união estável após cinco anos de convivência, mas isso não
é considerado correto.
Em conformidade com o Direito, há quatro tipos de regimes de relaciona-
mento existentes hoje no Brasil são eles: comunhão universal de bens, comunhão
parcial, divisão dos aquestos e separação legal. As regras aplicadas nos casos de
união estável são iguais às do regime parcial de bens, o mais comum atualmente.
Tudo o que foi conquistado depois do início do relacionamento deve ser
dividido pelos dois, 50% para cada um. Já os outros 50% podem ser divididos entre
filhos/as, seguindo um testamento deixado.
Também é vigente no país a comunhão universal de bens, que é a mais
antiga, em que tudo é dividido entre os dois - mesmo o que existia antes da relação,
como heranças. Já na comunhão parcial, tudo o que o casal conquistou depois de
selada a união é dividido, não dependendo do quanto cada um investiu.
No regime de divisão dos aquestos, tudo é dividido de acordo com o que
cada um conquistou. Enquanto na separação legal, nada se mistura. Este regime é
usado para proteger uma das partes, por isso é obrigatório para menores de 18 anos
e maiores de 79.
Fazer um testamento não é “questão de ser rico” e de pessoas idosas, con-
forme muita gente acreditava na época. Somente através do testamento se consegue
direcionar os bens após a morte. Dessa forma, o testamento pode evitar brigas fami-
liares e preservar os bens do testador da forma como ele considerava a partilha justa.
Por exemplo, se uma pessoa quer deixar uma herança para ajudar na forma-
ção dos/as filhos/as, auxiliar um parente frágil, o testamento é uma ferramenta para
preservar isso.
O ato tem uma importância maior no caso da formação de novos núcleos
familiares, como ocorreu em nossa família, para que a herança deixada fosse equili-
brada entre os/as filhos/as. O testamento pode ser feito a partir dos 16 anos, que custa
apenas as despesas do cartório e pode ser alterado quantas vezes a pessoa quiser.
Além disso, caso venha a ferir algum direito legal, pode ser inclusive anulado.
O testamento pode ser de três tipos: cerrado, feito em cartório, aberto ape-
nas após a morte; público, feito em cartório, mas que pode ser consultado a qualquer
momento; e particular, que a pessoa faz por conta própria. O particular é perfeita-
mente legal, mas vale lembrar que é preciso obedecer as regras da lei, por isso, para
se fazer um testamento é preciso de uma assessoria. Caso contrário, ele corre o risco
de ser anulado. Para fazer valer as vontades do testador, um testamenteiro é eleito –
que pode ser uma pessoa próxima – o qual passará a cuidar do patrimônio deixado.

204
A preocupação com este tipo de documento e com a forma como os bens
serão divididos no caso de morte e separação devem começar cedo. Na hora de casar,
as pessoas não se preocupam com isso no Brasil. Só pensam mesmo é na festa. Mas
se você não entender muito, pode enriquecer e empobrecer um minuto depois da as-
sinatura.
O que antes era uma só propriedade de terra dos irmãos Honório de Abreu,
passou a ser agora três, no processo natural de esfacelamento dos domínios agrícolas
por efeito de morte e heranças do patriarca maior.
Um litígio semelhante ao milenar conflito entre os irmãos judeus e palesti-
nos passou a ocorrer de forma velada entre os parentes, pois não existia testamento
deixado e tudo se realizava por meio de palavras daqueles herdeiros mais “espertos”.
Após a morte de Jerônimo Honório de Abreu, passou-se não mais existir
uma propriedade com um comando geral, não mais três localidades pertencentes aos
troncos iniciais que ali chegaram, mas vários ramos dos quais as terras do Columin-
juba e adjacências foram divididas em quatro partes.
A parte de Capistrano foi cedida para Sebastião nas condições dele cuidar
da tia Antônia e da irmã Filomena, ambas viúvas dependentes de Jerônimo Honório
de Abreu, outra parte ficou pertencendo a Sebastião de Abreu, outra a Afra e José
Inácio enquanto a quarta parte passou a ser de propriedade de Pedro de Abreu -
Patriarca nº 6.
As terras do Columinjuba pertencentes aos irmãos Capistrano e Sebastião
de Abreu passaram a ser administradas pela professora Ilma contratada por Sebastião,
que depois passou para Margarida sua única filha casada com João Mauricio Lopes,
correspondendo a 120 hectares para cada um.
As terras da localidade do Cacimbão ficaram daí em diante com Manuel
Honório, enquanto as da Tijuca foram compradas por José Inácio Machado que acres-
ceu seu patrimônio com a herança correspondente a de Afra sua esposa envolvendo
o Cemitério da Família.
Pedro de Abreu, e Sebastião de Abreu em acordo amigável dividiram suas
terras tomando como referencial a CE-065 estrada que hoje liga o Município de Ma-
ranguape ao de Canindé.
Sebastião de Abreu nasceu em 1880 no sítio Boa Vista, na Serra de Maran-
guape. Seu pai foi passar o rebentão da seca de 1877, que se prolongou até 1879, no
referido sítio, ficando com a família por lá até 1881, quando depois retornou ao Co-
luminjuba. É o penúltimo dos rebentos do casal Jerônimo Honório de Abreu e An-
tônia Vieira de Abreu.
Enquanto residia no campo, Sebastião não teve oportunidade de estudar,
mas com dificuldade, em Fortaleza, conseguiu fazer apenas o curso primário. Depois,

205
com esforço próprio foi adquirindo conhecimentos que lhe permitiram, inclusive, pu-
blicar alguns poemas na imprensa do Ceará.
Após perambular pela Amazônia e sem pendores para agricultura, ingres-
sou como operário na antiga Inspetoria Federal de Obras para as Secas (IFOCS). Ali,
com extremo esforço, atingiu vários escalões da hierarquia funcional.
No DNOCS, chegou a ocupar o cargo que soube brilhantemente conquistar
o de quase “engenheiro”, no qual se aposentou compulsoriamente aos 70 anos de
idade. Mesmo assim, quando solicitado e sem remuneração, continuava a dar sua
colaboração à execução de diversos projetos de interesse daquela Instituição.
De personalidade marcante, jamais se dobrou aos interesses dos poderosos.
Austero e simples era despido de qualquer vaidade, irritando-se, inclusive, quando o
chamavam de “doutor”. Há mais de 50 anos quando nem se falava em Ecologia, ele
já promovia festas no dia da árvore.
Generoso e bom jamais deixou de ajudar os/as amigos/as e conhecidos/as.
Sebastião de Abreu ligado a seu emprego na Inspetoria de Obras Contra as Secas
sobrava-lhe prática e qualidades como construtor de açudes e estradas, mas faltava-
lhe o conhecimento acadêmico e leitura envolvendo as lidas agrícolas.
A área que lhe coube no sítio Columinjuba, aliás, a melhor delas, aquela
onde se encontrava o açude, a Casa Grande Nova, o engenho, o baixio próprio para
plantação de cana, esta área Sebastião de Abreu nunca explorou agricolamente.
Entregue aos seus trabalhos na Inspetoria, do Columinjuba só utilizou uma
parte da casa, reformando e dando toques de modernidade urbana, abandonando o
restante. Era considerada apenas uma espécie de casa de campo, onde nos finais de
semana reunia pessoas e amigos para lazer.
Quanto à parte pertencente a José Inácio e Afra esta continuou sendo traba-
lhada pelos seus descendentes principalmente por Walfrido de Abreu Machado ca-
sado com Maria da Penha de Abreu (Lili), uma das filhas de Pedro de Abreu e Fca.
Amélia de Abreu, ele era dotado de qualidades excepcionais, muitas delas herdadas
do pai José Inácio Machado.
Como tinha capacidade para trabalhar e vocação para agricultura Walfrido
tornou-se um dos expoentes do tronco dos Abreu-Machado. Passou pela vida cons-
truindo casas, estradas e açudes fazendo jus aos bens que tinha recebido de seus pais.
Segundo os relatos orais e escritos de irmãos e filhos/as, Pedro de Abreu -
Patriarca nº 6, foi o quarto filho do casal Jerônimo Honório de Abreu e Antônia
Vieira de Abreu, nasceu em 26 de novembro de 1858, em Columinjuba, depois que
aprendeu a ler a carta de ABC com sua mãe, passou a frequentar por pouco tempo a
escola do mestre Luiz Mendes na Ladeira Grande única da região onde estudou pou-
co e aprendeu muito o pouco que o mestre conhecia.

206
Em 1880, oriundo do tronco dos Honório de Abreu, casa-se, em ato reali-
zado no lugar Saco do Vento, na residência de Antônio Raimundo Honório de Abreu.
Pedro de Abreu, ele com 22 anos casa com sua prima em segundo grau
Francisca Amélia de Abreu vinda também do tronco dos Honório de Abreu, nascida
em 26 de dezembro de 1871, no lugar denominado Saco Verde, filha de Antônio
Raimundo Honório de Abreu e Jacinta Francisca de Abreu.
O Patriarca nº 6, após o matrimônio recebera de seu pai um dote de 20
hectares no Saco do Vento e 120 hectares em um lugar denominado hoje de “Felici-
dade” no Columinjuba, onde constituiu numerosa família composta de 21 filhos. Mo-
rou no Saco Verde, Grota Funda, Umarizeiras, Boa Vista, Jardim e finalmente no
Columinjuba, todos por motivos justificados.
Iniciaremos essa nova saga patriarcal mostrando no que os/as filhos/as de
Pedro de Abreu, se tornaram utilizando o ambiente em que viveram o desenvolvi-
mento de suas inteligências sendo eles/as: Mário, Maria Otília, João, Antônio, Maria
da Penha (Lili), Fco. de Abreu, Luiz, Rdo. de Abreu, Damião e Cosma, Maria Julia,
Clotilde, Sebastiana, José de Abreu (Zeca), Cristovam, Américo, Maria Aurélia, Clo-
vis e Alice Augusta.
A parte do sítio Columinjuba herdada por meu avô paterno, carecia de duas
contingências que lhe embaraçavam o desenvolvimento, sendo filho de um casa-
mento consanguíneo onde dos quinze irmãos apenas cinco vingaram sem saber do
problema genético que vivia e ainda contribuiu com tal desdita, pois, casou com sua
prima em segundo grau.
Seu propósito era resgatar o que seu pai tinha desejado para seu irmão pri-
mogênito João Capistrano. Para tanto em 1900, já casado, atraído pela fama da bor-
racha e tangido pela necessidade, em companhia do amigo João Marcolino da Silva
deixou a família e resolveu ir ao Estado do Pará na região de Norte em busca de
melhores dias e de algum emprego.
Como nada encontrou naquela região que o agradasse, demorou apenas um
mês regressando sem ânimo com as dificuldades que viu.
Entretanto, continuou em sua rotineira agricultura. Segundo relato do tio
Cristovam de Abreu em seu livro “Retalhos de Columinjuba”, em 1902 devido à seca
vigente e com o início da construção do açude Papara, no distrito de Jubaia, Pedro
de Abreu conseguiu através de seu irmão Sebastião um trabalho como Feitor e de-
pois de Apontador de obras para ele e seu filho mais velho Mário o qual manteve até
1904.
Durante o período de construção Mário contraiu peste bubônica e morreu
em 15 dias. Terminada a construção voltou mais uma vez para sofrida agricultura e
os problemas familiares de sustento que sempre aumentavam. Mário ajudava muito

207
no sustento da família, e quando morreu, o fato causou verdadeira desolação junto
aos/as irmãos/as e a família.
As dificuldades eram contínuas, sem água armazenada suficiente, dinheiro
para pagar operários, sem possuir gado que era uma das principais vias para sustento
da família e com a mesma sempre crescendo, os problemas não eram adiáveis.
O Patriarca nº 6, somente começou a se libertar de tal situação quando os
quatro filhos mais velhos, sob a direção de Antônio de Abreu começaram a trabalhar
juntamente com as duas irmãs, uma ajudava no serviço de campo enquanto a outra
em serviços domésticos. De 1907 a 1911 as dificuldades começaram a diminuir.
Em 1912, foi o último ano em que Pedro de Abreu, viu a luz solar no
mesmo ano em que casaram suas duas filhas mais velhas Maria Otília de Abreu (Ma-
riquinha) com Jerônimo Honório de Abreu Neto (Loló) seu primo e Maria da Penha
(Lili) com Walfrido de Abreu Machado também primo.
Tendo ficado cego passou a ter reduzida capacidade de ação, viveu na es-
curidão por mais de 35 anos.
Por ter constituído uma família numerosa, para uma pequena gleba de terra
recebida de herança e que pudesse atender as necessidades de trabalho de muitos
deles e seus familiares em um mundo totalmente novo e diferenciado daquele que
seu pai e avô tinham enfrentado, a vida tornar-se-ia difícil e complicada para todos
os seus rebentos.
De 1914 até 1917 foi um longo período de guerra, seca e sofrimento na
família. Entretanto aos poucos iam ocorrendo melhoras, mas sempre aparecendo di-
ferenciados problemas. Foi quando surgiu a questão da Educação, de encaminhar
alguns/as filhos/as para estudar em Maranguape.
Como não tinha dinheiro e tampouco internato, o Patriarca nº 6, valeu-se
dos amigos e compadres para realizar tal feito: Raimundo (Doca) para estudar foi
morar na casa da amiga Damiana, Jerônimo Quarto ficou na casa do padrinho Jacinto,
Maria Julia na casa da Madrinha Joana Brasil, quando deixou de estudar e de lá saiu,
foi a vez da irmã Clotilde, todos em anos alternados e nenhum chegou a passar mais
de três anos.
Em 1918, um ano rico em lavoura, surgiu a primeira Escola Pública no sítio
Columinjuba, tendo como professora a senhorita Odete Lima de Abreu, que casou
no mesmo ano com Antônio de Abreu.
Em 1919, mais uma vez, a pedido de Pedro Abreu, Sebastião seu irmão,
conseguiu empregar na Inspetoria de Secas os filhos Francisco e Jerônimo Honório
Quarto.
Com o retorno do inverno em 1920, Francisco voltou para agricultura en-
quanto Jerônimo Quarto continuava progredindo como arrimo de família até falecer

208
de tifo no serviço de exploração do açude Orós em 1924.
Em 1926, a situação da família complicou-se financeiramente outra vez, foi
quando a definitiva debandada geral dos filhos adolescentes de Pedro de Abreu teve
início: Américo foi para Marinha de Guerra, em 1927 Clovis foi para Polícia, em
1928 foi a vez de Francisco ir a São Paulo a procura de emprego, não obtendo sucesso
volta a Fortaleza e começa trabalhar nas obras de construção do Porto, em 1929 Cris-
tovam tenta o Exército indo no ano seguinte trabalhar na Inspetoria Federal de Obras
Contra as Secas no Estado do Ceará transferindo-se depois em 1933 para o Estado
da Paraíba onde passou a residir até o final de sua vida.
Não possuindo o Patriarca nº 6, meios financeiros para trabalhar a terra
herdada, quase todos os filhos procuraram agriculturar e sobreviver fora do Columin-
juba trabalhando em outras localidades, uns indo procurar meios de vida na capital
enquanto outros seguiam a saga nordestina de encontrar algum ganho no sul do país.
Diante de novos paradigmas, tudo agora era um “salve-se quem puder” à
procura de novas oportunidades, uma nova luta pela sobrevivência tinha dado início.
Os frutos plantados e que não deram a 100 por 1 necessitavam agora ter seus galhos
cortados e podados, tinha começado a “corrida do ouro”.
Pedro de Abreu, cegou em 1912 quando vinha da feira em Maranguape
reclamando que não tinha visto as portas da loja onde tinha ido fazer compras quando
tinha 34 anos de idade.
Disseram que ele sofria de gota e que morreu de repente do coração em 28
de abril de 1946 com 87 anos dos quais viveu 35 anos na mais profunda escuridão,
morreu cego.
Após o êxodo causado por conta da sobrevivência e a morte do Patriarca
nº 6, José de Abreu (Zeca) seu décimo quarto filho passou a ser uma espécie de ar-
rimo de família cuidando de sua mãe Fca. Amélia de Abreu na casa da “Felicidade”,
enquanto que os/as demais filhos/as que não tinham casado e morrido, com exceção
de Rdo. de Abreu (Doca), foram polinizar suas sementes em outras plagas.
Minha avó paterna era a primeira filha do casal Antônio Raimundo de
Abreu e Jacinta Francisca de Abreu, eles eram primos, fruto da união dos Honório
de Abreu com os Machado.
Antônio Raimundo de Abreu era filho de Rita Inácio de Sousa Machado
casado com Raimundo Honório de Abreu enquanto Jacinta era filha do casal Ângela
Honório de Abreu com o desditoso Antônio Paulo Vieira.
Fca. Amélia de Abreu nasceu em 26 de dezembro de 1871 no lugar cha-
mado Saco Verde do Município de Maranguape. Casou-se em 1888, no ano da Abo-
lição dos escravos com a idade de 16 anos, daí resultando em 21 filhos: 13 homens e
oito mulheres.

209
Quando seu marido morreu tinha 74 anos, e ainda padeceu juntamente com
os/as filhos/as apoiando todos eles e elas por mais 23 anos falecendo no dia 2 de
agosto de 1969, com idade avançada de 97 anos vivendo como viúva durante 23 anos.
Criou todos/as os/as filhos/as sem uma única empregada, ama, costureira,
lavadeira, as vezes lavava roupa caminhando mais de um quilômetro de distância
visto não se engomar roupa naquele tempo.
Não se sabe quantas novenas minha avó rezava por dia, nunca perdeu a
missa de oito de dezembro na Tabatinga, dia de Nossa Senhora da Conceição.
A família dos irmãos/ãs de minha avó era constituída por doze rebentos: 4
homens e 8 mulheres, mostrados nas planilhas anteriores, nunca gostou de dormir de
rede e sempre falou, mandou, chamou muito e foi sempre atendida com carinho e
pontualidade. Em seu percurso na vida, acompanhou a trajetória de cada filho/a,
dos/as quais passo a descrever alguns detalhes que consegui obter.
Após o nascimento de Mário que morreu adolescente e de peste bubônica,
foi a vez de Maria Otília a primeira filha nascida em 1890, no Saco Verde, a qual
atendia por três nomes: Maria, Inen e Mariquinha, com idade de quatro anos começou
a trabalhar, lavando pratos, varrendo casa e operando na roça.
A cartilha de ABC, Inen aprendeu à noite com os pais. Foi um braço forte
na agricultura e em artes culinária fazia de tudo em casa.
Maria Otília casou-se em 1912 com seu primo Jerônimo de Abreu Neto
(Loló), um homem muito inteligente e pobre, moraram algum tempo no Columinjuba
e depois foram residir na serra do Lajedo, estudou as primeiras letras com sua tia
Clotilde.
Depois voltou a residir em Columinjuba por mais de vinte anos, em um sítio
adquirido por herança próximo a casa da “felicidade”, onde nasceram 14 filhos sendo
dez homens e quatro mulheres. Viveu 29 anos de casada e faleceu muito nova com
apenas 50 anos de idade.
Como João terceiro filho não vingou, veio a seguir Antônio de Abreu nas-
cido no dia 21 de junho de 1892, no lugar denominado Grota Funda, o qual também
começou a trabalhar na agricultura com a idade de cinco anos, e aos treze anos apren-
deu a carta de ABC, fez suas primeiras letras também com sua tia Clotilde irmã de
minha avó.
Antônio casou-se a primeira vez em 1918 com a professora Odete Lima de
Abreu que dava aulas em Maranguape na casa da família Sombra e no Columinjuba.
Em 1922 Antonio foi tarefeiro, construtor, e administrador da estrada de
rodagem de Maranguape a Guaramiranga, ao manter contato com o Kardecismo, um
sincretismo religioso, passou assumir tal postura espiritualista voltando-se para o co-
mércio usando tropas de burro.

210
Comprou nas Lages um terreno com dimensão de 103 hectares durante o
primeiro casamento, onde hoje vive a família do filho Osvaldo Lima de Abreu, mo-
rando ali por vinte anos.
Comprou em seguida outro terreno no Jardim com tamanho de 80 hectares
chegando a trabalhar por cerca de 10 anos vendendo-o depois para os Machado.
Vivendo algum tempo no Columinjuba ajudou a família, passando a traba-
lhar na construção da estrada Maranguape/Guaramiranga também foi outro que ten-
tou trabalhar com a industrialização da borracha.
Em 25 de julho de 1935, ficou viúvo e sendo pai de nove filhos, três homens
e seis mulheres em 1936, casou-se pela segunda vez com Grasiela Rebouças de
Abreu uma donzela da família Machado nascida nas Lajes de cujo consórcio resultou
em cinco filhos: três homens e duas mulheres.
Nas Lages Antônio de Abreu teve de vender metade das terras ao Rui Co-
lares para fazer uma cirurgia de próstata, um problema que persegue os homens dessa
família.
Seu segundo casamento foi dureza, pois, tinha que sustentar duas famílias.
Em seguida foi morar na Pindoba onde tinha montado uma mercearia como meio de
sobrevivência.
Depois de morar nas Lages, foi residir por último na localidade Tangueira
em Maranguape, adquirindo um terreno de 70 hectares, vivendo por lá até morrer.
Era pessoa de poucas letras mas, de inteligência privilegiada. Agricultura
foi sua principal profissão, onde se destacou em trabalhos pesados de campo e a quase
todos experimentou.
Dizem que por ter um coração bom nunca soube ganhar dinheiro. Como
escritor e poeta valorizava tanto o período chuvoso que escreveu um livro intitulado
o “Inverno”, onde proseava suas experiências com a seca, vivendo na mais perfeita
harmonia até a idade de setenta e seis anos falecendo no dia vinte de março de 1969.
Suas terras ficaram sob a gerência da tia Graziela que após dois anos se desfez das
mesmas.
Maria da Penha de Abreu (Lili) é a segunda filha do casal, tendo nascido
em 8 de setembro de 1893, no lugar denominado Grota Funda começou também a
trabalhar aos quatro anos de idade, ajudando a criar mais de dez irmãos.
Em 12 de janeiro de 1912, Lili contraiu matrimônio com seu primo Wal-
frido de Abreu Machado quando tinha 19 anos, do consórcio nasceram 16 filhos, seis
homens e dez mulheres.
Depois de casados moraram até 1923, em Boa Vista e Água Verde voltando
em seguida para Columinjuba, sua última moradia.

211
Tia Lili viveu exclusivamente para o lar, em 1968 encontrando-se doente
de catarata fez cirurgia que lhe trouxe grande alívio. Em 28 de dezembro faleceu de
colapso fulminante, tendo vivido casada por 57 anos.
Foi esposa e mãe exemplar enfrentando 74 anos de trabalho sem férias. Ma-
ria da Penha (Lili) e Walfrido de Abreu Machado formaram uma grande família e
souberam construir posses.
Após o casamento morou inicialmente na casa do cunhado Machadim e de-
pois foi viver na casa atual, considerada a Casa Grande da época, também estudou as
primeiras letras no Columinjuba com sua tia Clotilde, de todos os seus filhos Wal-
fredo, um grande batalhador, foi quem mais se destacou e sempre procurou melhorar
e educar a família assumindo erros e acertos. Seu pai morreu com 83 anos, em festas.
Francisco de Abreu foi o sexto filho, nascido em 28 de fevereiro de 1895
no lugar denominado Grota Funda. Enfrentou a agricultura desde criança, aprendeu
a ler e escrever a Cartilha de ABC, com seus pais durante as noites em casa.
Em 1919, empregou-se na Inspetoria das Secas até 1920 quando surgiu um
bom inverno que o fez voltar para agricultura seu ponto de destaque.
Em 1923, casou-se com Edite Mendes da Silva, filha do português Américo
Horácio da Silva e Julia Mendes da Silva que ele conheceu nas festas de São Sebas-
tião na sede em Maranguape, passando a residir no Saco Verde.
Sua vida foi sempre de luta e sofrimento ao buscar educar os numerosos
filhos/as que produziu, segundo o relato do primo Mário Julião um de seus rebentos.
Em 1927, Francisco de Abreu já com 5 filhos, viajou sozinho para o interior
de São Paulo procurando melhorar de vida, o que não conseguiu retornando após 10
meses. Na volta passou pelo Rio de Janeiro e conseguiu com o aval de Adriano
Abreu, filho de Capistrano de Abreu, um trabalho no Porto de Mucuripe, em Forta-
leza.
Foi então que a família mudou-se para capital em 1928. Seu trabalho no
Porto foi um período curto; pois o Seu Chico como era chamado, foi logo demitido
por não tolerar ver funcionários, seus colegas, roubando. Nesses momentos de altos
e baixos o “porto seguro” era sempre a localidade do Saco Verde.
Em 1932, em mais um ano de seca, a família retorna ao Columinjuba, indo
morar vizinho no sítio Carnaúba, onde o sogro Américo, deu uma boa ajuda para
superar a crise vivenciada.
Em busca de melhores dias seu enfoque sempre era a Família, no ano se-
guinte passou a trabalhar, na localidade de Estreito (atual Lima Campos).
De 1932 a 1941 sua família morou numa pequena casa, cedida pelo seu cu-
nhado Walfrido em Columinjuba, a 40 metros da estrada que liga Canindé a Maran-
guape.

212
Com o início da Segunda Guerra Mundial a vida pouco se alteraria pois
nada podia ficar abaixo do que já se vivia. Como as formigas criam asas, a rainha
mãe (Edith), arrumou o que possuía e migrou para sede de Maranguape, em 1941.
Nos fins de semana Seu Chico vendia verduras na feira enquanto Dona
Edith fazia os “milagres” acontecerem em casa. Em 1942, a família já crescida, com
8 filhos, Seu Chico foi trabalhar no açude Curema, na Paraíba.
Como mulher de fibra que era, em 1944, Edith já com 10 filhos migrou para
Fortaleza. Para todos eles conseguiu atravessar o “deserto” e chegar à Terra Prome-
tida.
Os 5 filhos mais velhos trabalhavam de dia e estudavam à noite e, os salá-
rios embora pequenos, eram bem administrados pela sábia mãe. De 1948 a 1951, Seu
Chico foi mais uma vez trabalhar na construção do açude na Marilândia.
Quando finalmente retornou ao Saco Verde vivendo por mais dez anos até
1961 que faleceu na flor da idade, um moço de 66 anos deixou à posteridade um belo
núcleo familiar constituído de pessoas nobres.
Como sétimo filho Luiz não vingou, veio Raimundo de Abreu, oitavo filho
do casal Pedro de Abreu e Francisca Amélia de Abreu, que nasceu a 4 de julho de
1897, no local denominado Grota Funda.
Era mais conhecido pelo estereótipo de Doca e seguindo o exemplo dos
irmãos decidiu-se pela agricultura, aprendeu a carta de ABC e a cartilha em casa com
seus pais a noite.
Em 1914, foi estudar no Maranguape morando na casa de Damiana, amiga
de seus pais, onde passou mais de um ano obtendo bom aproveitamento. De volta
para casa continuou trabalhando na agricultura sempre topando todo tipo de serviço.
Em 1923, trabalhando com seu irmão Antônio de Abreu conseguiu apren-
der a dirigir um caminhão, sem no entanto conseguir obter carteira de motorista.
Somente com muito esforço, em 1925, Doca fazendo muita economia con-
seguiu comprar uma tropa de burros, iniciando aí, sua vida de freteiro nos municípios
de Maranguape, Canindé, Palmácia, Pacoti, Pacatuba e Caucaia, sem nunca despre-
zar a agricultura.
Em 1926, aos vinte nove anos, em suas viagens pelo sertão casou com uma
linda mulher, Ita de Freitas filha de Pedro Honório de Freitas e Carmem Honório de
Freitas, da Lagoa do Juvenal (Lagoa dos Freitas), ele a conheceu nas festas de São
Miguel e em andanças de comboio quando se arranchava.
Ita era mulher farta e largada, teve 20 filhos, sendo onze homens e nove
mulheres, com 4 abortos. Doca, era precoce e inteligente, viveu inicialmente na lo-
calidade de Cruz onde tinha uma mercearia “herdada” de seu sogro.

213
Como os demais irmãos, construiu sua casa anos depois em Columinjuba,
juntamente com uma mercearia, oficio aprendido com seu irmão Antônio, mas, de-
vido a tantas dificuldades por que passou não pode dar condições de estudo aos/as
filhos/as.
Teve sítio perto de Pitombeira no Canindé, quando casou foi morar na Pin-
doba, com acesso pela Ladeira Grande na casa do seu irmão Antônio, depois cons-
truiu no Columinjuba uma grande casa que existe até hoje ao lado da estrada CE-065,
sendo habitada por seu filho Fco. de Abreu (Dedé) e família.
De acordo com o depoimento do sexto filho Iran de Abreu, os irmãos não
estudaram por falta de condições financeiras, pois a família era numerosa. Afirmou
ele que o quinto irmão Dedé foi arrimo de família desde cedo não podendo se dedicar
aos estudos como os demais.
Entretanto, apesar de família unida, todos os irmãos debandaram em busca
de sobrevivência, nunca beberam, fumaram e brigaram, as mulheres além de bonitas
eram fidalgas.
As vezes a necessidade era tanta que tinham que dormir de dois em uma
mesma rede rasgada, como afirma Iran. Depois de tantas ginásticas em prol da famí-
lia e de melhores dias, veio falecer em 29 de janeiro de 1957 tendo vivido somente
59 anos.
Jerônimo foi a seguir o décimo filho vivo pois Luiz, Damião, Cosma e Vi-
cente não vingaram. Tendo nascido na Grota Funda em 30 de janeiro de 1899, com
idade de seis anos já trabalhava na agricultura. Entre os anos de 1914 e 1916, seus
pais conseguiram com seu amigo e compadre Jacinto da Silva Neto enviá-lo para
sede em Maranguape, foi morar em sua casa onde pretendia estudar, permaneceu por
lá, menos de três anos.
Em 1919, ano de pior seca, a pedido do pai e através do seu tio Sebastião,
Jerônimo ingressou na Inspetoria das Secas chegando a ser nivelador, por ser inteli-
gente, trabalhador e honesto. Experimentou os piores tempos no trabalho, pois faltava
de tudo.
Faleceu de paratifo, quando trabalhava na exploração do açude Orós, em 8
de abril de 1924, com idade de apenas 24 anos. Foi chamado de Jerônimo Quarto
devido a existência no trabalho de outros três que tinham chegado primeiro.
Não tendo vingado Damião e Cosma, veio Maria Julia a décima terceira dos
rebentos, nascida em 17 de fevereiro de 1902 em Columinjuba, esta com idade de
seis anos já trabalhava em serviços domésticos ensinados por sua mãe, ao mesmo
tempo que aprendia a ler e escrever nas horas vagas.
Como as dificuldades estavam diminuindo na época, aos onze anos de idade
seus pais conseguiram com a amiga Joana Alves Brasil enviá-la para estudar em Ma-

214
ranguape, iniciando aí o curso primário no Grupo Escolar, o qual concluiu com apro-
veitamento.
Por ser moça prendada nas artes e trabalhos domésticos e tendo poucos co-
nhecimentos mas, o suficiente para o período a viver, Maria Julia casou-se em 16 de
maio de 1924 com José Marques Pereira, sobralense, um funcionário público da Ins-
petoria Federal de Obras Contra as Secas, que se acercou da família através de Se-
bastião de Abreu.
Depois de casados moraram em várias localidades, José Marques era um
técnico que trabalhava na construção dos canais de irrigação do açude público Lima
Campos, local onde o tifo e o paratifo matava por dia mais de quarenta pessoas.
Maria Júlia foi uma dessas vítimas, contraiu a doença vindo a falecer no dia
22 de julho de 1932 deixando tristeza e saudade com a idade de apenas trinta anos.
Viveu casada durante oito anos e do feliz consórcio nasceram quatro filhas e um
filho, que se tornaram boas sementes plantadas.
Depois veio Sebastiana conhecida por Zezinha que casou com seu primo
Antônio Pompeu, irmão do Loló e Antonieta em 26 de maio de 1922, indo morar
inicialmente no Columinjuba, numa casa comprada de seu irmão Loló. Ela teve
pouco estudo e algum tempo depois passou a residir em Fortaleza com o esposo o
qual era fiscal na construção de açudes realizada pelo DNOCS.
A vida do casal não era nada fácil, Pompeu era condutor de topografia
quando se aposentou, tiveram no total 14 filhos sendo oito homens e seis mulheres.
Não conseguindo viver em sua terra natal, Sebastiana e a família mudaram-
se definitivamente para o Rio de Janeiro, para não mais voltar. Viveu casada cerca
de 46 anos quando Pompeu adoentado, faleceu no Rio de Janeiro, em 24 de dezembro
de 1968.
Na sequência vieram os/as filhos/as mais novos/as José (Zeca) de Abreu
(meu pai), Cristovam, Américo, Maria Aurélia, Clovis, Clotilde e a bela Alice Au-
gusta. José de Abreu (Zeca) que tornou-se arrimo de família após a morte do pai, era
o verdadeiro protetor de sua mãe.
Zeca após desfrutar de ampla e saudável vida de namoro com as moças da
região, casou-se com Esther Martins, uma cidadã residente em Fortaleza oriunda da
família Santos Lessa e Barroso aos 33 anos de idade, vivendo apenas para cuidar e
ajudar sua esposa a formar os/as filhos/as nas Universidades e Academias, entre-
gando-se completamente a essa tarefa.
Causa estranheza que Antônio, Américo e Cristovam envolvidos com pro-
sas não tenham escrito nada acerca de seus irmãos mais novos e tampouco como fo-
ram suas experiências educacionais, trabalho e envolvimentos sociais dos mesmos.
Para suprir esta lacuna, realizei algumas entrevistas com os/as seguintes fi-

215
lhos/as ainda em vida: Américo, Clotilde e Alice Augusta as quais em resumo passo
a descrever o pouco que consegui obter.
Clotilde era noiva e estava para casar com um telegrafista, entretanto para
ajudar a família em ato de santidade como pessoa que é, acabou o noivado e se casou
com o José Marques Pereira por causa dos sobrinhos e sobrinhas resultantes do ca-
samento de sua irmã Maria Julia após morte prematura.
Criou-os com muita sabedoria, bondade e doçura, é uma das poucas mulhe-
res que tem reservado um lugar no Céu junto ao Pai celestial.
Cristovam que escreveu “Retalhos do Columinjuba”, quando tia Lili, casou
foi morar com ela e ficou por lá durante algum tempo, depois foi para o Exército e
daí para o mundo ajudado pelo seu tio Sebastião de Abreu a pedido de seu pai Pedro
de Abreu.
Comentou muito acerca de quem lhe serviu como forma de agradecimento
no caso minha tia mas, nada para si e tampouco para os irmãos e irmã mais moços
que também tinham seu sangue.
Clovis e Américo resolveram procurar melhores condições de vida, pois,
tinham percebido o quanto sua numerosa família sofria na busca por sobrevivência
retirando do que agricultura lhes dava quando o inverno permitia. Eles desejavam ver
outras paragens adquirir algum conhecimento e Educação o que a localidade não
permitia e assim fizeram.
Américo de Abreu nasceu em Columinjuba em 24 de outubro de 1906 de-
pois de viver muitos anos afastado de seu torrão natal, casou-se melhorou de vida na
Marinha brasileira e nos momentos de lazer se dedicava a escrever prosas em forma
de rimas e trovas.
Foi participante do grupo de “Escritores do Brasil” de 1984 a 1987, membro
honorário e correspondente de 16 instituições culturais. Dentre suas principais obras
culturais destaca-se como o fundador da ACLA.
Maria Aurélia uma distinta donzela casou-se bem com Amadeu, um des-
cendente dos Braga passando a morar no sítio Bragantino, junto à serra de Maran-
guape e próximo ao Columinjuba. Era uma mulher e mãe distinta, sendo de muita
nobreza, uma pessoa que nasceu para servir.
Alice, caçula e moça bonita conseguiu casar com Mário Braga Brasil, ho-
mem de posse residente em Fortaleza, nunca soube o que era passar necessidades que
conheceu enquanto viveu com seus irmãos no Columinjuba.
Podemos considerá-la como alguém que recebeu uma graça e soube des-
frutá-la, como faz ainda hoje, como uma das fundadoras do Clube das Rosas.
Segundo a narrativa bíblica no Gênesis a Torre de Babel, foi uma torre
construída por semitas com o objetivo de que o cume chegasse ao céu, para tornarem

216
o nome da pessoa célebre.
Considerado uma afronta ao Santíssimo, o castigo foi fazer com que
humanos passassem a falar várias línguas a fim de que não pudessem mais se
entrender, impedidos de voltar a construir uma torre com tal propósito.
Essa estória é usada para explicar a existência de muitas línguas e etnias
diferentes. Para os judeus o termo adquiriu o significado de "confusão", pois, o nome
Babel, em hebraico Bavél, da raiz do verbo ba.lál, significa "confundir", fazendo o
povo se dispersar e se espalhar pela Terra.
Fato semelhante ocorreu com os descendentes de todos os patriarcas
advindo inicialmente dos três irmãos que constituíram a família de Honório José de
Abreu.
O vocábulo diáspora (em grego–dispersão) estabelece o deslocamento,
forçado e incentivado, de massas populacionais originárias principalmente de uma
zona rural determinada para outras áreas de acolhimento distintas.
Em termos gerais, diáspora pode significar a dispersão de qualquer povo e
etnia pelo mundo. Todavia o termo foi cunhado para designar a migração e
colonização, por parte dos gregos, de diversos locais ao longo da Ásia Menor e
Mediterrâneo, de 800 a 600 a.C.
Os tempos agora são outros, surgiram novos paradigmas, o século XX tor-
nou-se um obstáculo a ser transposto pelos descendentes de Honório José de Abreu.
A partir da década de 1910, as mudanças além de rápidas não permitiam
mais ninguém viver isolado das transformações tecnológicas até então comuns ao
período colonial, pois, o Patriarca nº 6, Pedro de Abreu se defrontou com aconte-
cimentos que nenhum dos anteriores tinha vivido, duas Guerras Mundiais, mudanças
sociais, ideológicas e tecnologias nunca dantes vistas e participadas.
O século XX foi o período que se notabilizou pelos avanços tecnológicos,
conquistas da civilização e reviravoltas em relação ao poder.
Em muitos países da Europa e da Ásia, foi apelidado de "Século Sangrento".
Foi um tempo marcado por um longo período de mudanças. Os Estados Unidos
tiveram grandes ganhos econômicos e políticos; por volta de 1900, eram a potência
industrial líder no mundo em termos de produção.
A África, América Central e do Sul e Ásia gradualmente obtiveram maior
autonomia. Na Europa, mudanças começaram a ocorrer.
O Império Britânico alcançou o ápice de seu poder. Império alemão e Reino
da Itália, que passaram a existir como nações unificadas no final do século XIX,
trataram de crescer em poder, economia e influência. Com o nacionalismo a toda a
força, nesse momento, as potências europeias competiram entre si por terras, força
militar e poderio econômico.

217
Avanços em Medicina, como a invenção do antibiótico, diminuíram
sensivelmente o número de pessoas que morriam por doença simples. Drogas
contraceptivas e transplante de órgãos foram desenvolvidos. A descoberta das
moléculas de DNA e o advento da biologia molecular permitiram a clonagem e a
engenharia genética.
Muitos dos/as filhos/as de Pedro de Abreu - Patriarca nº 6, ao saírem do
campo, para cidade, começaram a pautar suas vidas pela pirâmide das necessidades
de Maslow.
As distintas características naturais do Nordeste em relação às outras
regiões do país, além de acentuar a não igualdade regional, formaram um cenário
propício à migração nordestina, em especial para as áreas urbanas.
Da civilização do açúcar esmiuçada por Gilberto Freyre à morte em que se
morre de velhice antes dos trinta, cantada por João Cabral de Mello Neto.
Das vidas secas de Graciliano Ramos à geografia da fome de Josué de Cas-
tro. Da intervenção planejada de Celso Furtado no comando da Sudene à terra ar-
dendo de Luiz Gonzaga. O que mudou no Nordeste?
Muito, e quase nada. No entanto, as mazelas mais incrustadas no cotidiano
nordestino, aquelas que até parecem eternas de tão ditas e reditas ao longo do tempo,
resistem firmes, apesar dos sinais de enfraquecimento. A escolaridade média na re-
gião nordestina não passa de cinco anos.
A mortalidade infantil é de 52 por 1.000, a maior taxa do país. Dos 14 mi-
lhões de brasileiros maiores de 15 anos que não sabem ler e escrever, 7 milhões vi-
vem no Nordeste.
Conclusão: as mudanças sociais não representaram bem-estar para os nor-
destinos pobres que migraram de seu berço natal pois, a miséria continua a devastar
os sertões de uma terra esquecida desde sua colonização.
Podemos entender o êxodo rural como sendo o deslocamento de pessoas da
zona rural (campo) para a zona urbana (cidades). Ele ocorre quando os habitantes do
campo visam obter condições de vida melhor.
Os principais motivos que fazem com que quantidades de habitantes saiam
da zona rural para as cidades são: busca de empregos com boa remuneração, meca-
nização da produção rural, fuga de desastres naturais (secas, enchentes, etc.), quali-
dade de ensino e necessidade de infraestrutura e serviços (hospitais, transportes, edu-
cação, etc.).
O êxodo rural provoca, na maioria das vezes, problemas sociais. Cidades
que recebem grande quantidade de migrantes, muitas vezes, não estão preparadas
para tal fenômeno.
Os empregos não são suficientes e muitos migrantes partem para o merca-

218
do de trabalho sem qualificação, passando a residir em habitações sem boas condi-
ções (favelas, cortiços, casas alugadas, etc.).
Foi isso que ocorreu com a maioria dos descendentes do Patriarca nº 6,
daqueles que ousaram mudar o mundo. Além da falta de emprego, o êxodo rural não
controlado causa vários problemas nas grandes cidades. Aumenta em proporções a
população nos bairros de periferia criando favelas e cortiços. Como são bairros ca-
rentes de hospitais e escolas, a população destes locais acaba sofrendo sem o aten-
dimento destes serviços, se isolando do mundo.
Falta de escolas adequadas e hospitais superlotados são as consequências
deste contexto, droga, prostituição, crimes, roubos e toda sorte de mazelas são en-
contradas, baseando-se nesse quadro, as crianças da época eram consideradas “me-
ninos de rua” com cara de criança do campo.
Foi o que nos tornamos quando se chegava a capital do Estado. Os muni-
cípios rurais também são afetados pelo êxodo rural. Com a diminuição da população
local e da arrecadação de impostos, a produção agrícola não crescia e os municípios
acabavam entrando em crise.
Houve casos de municípios deixarem de existir quando todos os habitantes
fugiram da região. Com o início da industrialização na década de 1950, houve outra
onda de migração, desta vez da área rural para as grandes cidades de diversos pontos
do Brasil em busca de emprego nas indústrias e empresas públicas. Novamente a
região Nordeste colaborava com mais uma horda humana de desertores famintos.
As indústrias necessitavam de mão de obra, os retirantes não tinham
qualificação para o aproveitamento como operários, iniciava-se uma aceleração da
miséria, da criminalidade, da prostituição e da promiscuidade nas periferias das
grandes cidades, já inchadas pelo excesso populacional.
O aproveitamento se deu muitas vezes em subempregos, nos serviços
domésticos e de construção civil, onde os trabalhadores migrantes se sujeitavam a
condições de escravidão, daí a necessidade de implantação de um salário que
resultasse nas mínimas condições de sobrevivência.
A partir dos grandes centros, com urbanização acelerada e a construção
civil, oferecendo oportunidades de emprego cada vez maiores à mão de obra não
especializada e analfabeta, os colonos tiveram melhoras salariais e de condições de
vida.
Isto ocasionou uma aceleração do êxodo rural, causando inchaço nos
grandes centros, aumentando os problemas de miséria e criminalização na periferia
das grandes cidades.
Entretanto, mesmo que o sucesso ocorresse, tais mudanças na vida do
sertanejo provocaram em seu comportamento a perda de suas raízes e um sentido nu-

219
lo para vida, onde a maioria emigrada dos familiares do Columinjuba e adjacências
não consegue mais esquecer e se recuperar.
ago por uma melhoria de vida esfacela tudo que mentalmente construimos
em nosso torrão natal, mesmo que se tenha obtido formação acadêmica e
especialização que resultem em vantagens economicas excelentes. Passamos de
árvores que davam bons frutos a meros polinizadores sociais sem raízes.
Polinização é o transporte de grãos de pólen. É através deste processo que
as flores se reproduzem. A transferência de pólen pode ocorrer através do auxílio de
seres vivos que transportam o pólen e por fatores ambientais (através do vento e da
água).
Polinizador é um vetor animal - fator biótico - responsável pela
transferência de pólen das anteras de uma flor masculina para o estigma de flores
femininas permitindo que aconteça a união do gameta masculino presente no grão de
pólen com o gameta feminino do óvulo, processo conhecido como fecundação.
A consequência esperada é a produção de sementes. Algumas espécies de
plantas apresentam flores preparadas para ser polinizadas por qualquer tipo de
animal. Mas a relação entre polinizadores e plantas pode alcançar níveis de
especificidade surpreendentes.
Os humanos também são polinizadores, em casos de necessidade de
intervenção para produção de uma comunidade social, por exemplo.
O êxodo, a polinização, o abandono de suas raízes e a pirâmide de Maslow,
foi o preço às custas da falta de memoriação cultural que os descendentes da família
do Patriarca nº 7 - José de Abreu (Zeca), um colono de poucas letras tiveram que
realizar.
Casado com a donzela urbana Esther Martins dez anos mais nova a maior
de todas as santas que conheci, pagou com a morte pela busca de melhoria de vida,
formação e bases educacionais para seus rebentos.
Nascido em 1904, Zeca enfrentou secas diversas e duas guerras mudiais,
teve três ciclos de sofrimento: do nascimento até tornar-se arrimo familiar, depois
quando decidiu constituir família em plena Segunda Guerra Mundial e por fim
servindo de apoio para mudança de classe social de seus rebentos da década de 1950
até a 1980 quando faleceu, curtindo uma solidão ímpar em sua tristeza e dor.
Foram anos de separação e isolamento de seus familiares em troca da
sobrevivência que a terra lhes tinha tomado.
Podemos afirmar que durante esse período de crucificação forçada, seus
únicos companheiros foram o clamor do sol escaldante, os sussurros dos armadores
nas noites cálidas de solidão e o troar de um rádio de pilha afugentando os fantasmas
que assiduamente compartilhavam seu destino, num eterno chamado que um dia se

220
efetivou.
De uma integridade excepcional, justo e benevolente, cumpriu a sina da
separação familiar em todas as nunces causadoras que formaram seu triste fim.
Enquanto isso, uma divina mulher minha mãe, desbravava caminhos na
capital cearense para seus rebentos superarem a rota de mais de trezentos anos de
ignorância, falta de educação, dureza impiedosa e cruenta imposta pelos ancestrais,
formado de pessoas sem conhecimento, sem condições financeiras adequadas para
se viver e sem status social que permitessem sua inclusão no contexto daqueles que
tudo podem.
Esther sendo uma heroína devotada à missão assumida, levou todos/as os/as
filhos/as para Fortaleza, retirando-os de um ambiente sem qualquer tipo de ensina-
mento e Educação constituído apenas por pessoas brutas, rústicas e famintas por ali-
mento, formação e conhecimento.
Conseguiu graduar todos os filhos/as conforme era seu sonho, usando ape-
nas um pote, um fogão e uma vontade férrea de vencer, foi uma “Joana d’Arc” por
quem sempre se orientou. Para ela não existia descanso, doença e férias.
Por outro lado, nunca encontrei na vida homem tão justo, paciente e sub-
misso quanto meu pai à espera de uma mulher guerreira, forte e obstinada quanto foi
minha mãe. Os devotos religiosos do domínio simbólico afirmam que eles consegui-
ram atingir seus ideais.
Cada um dos cinco filhos e das duas filhas, foi concluindo o Curso de Gra-
duação naquilo que considerava adequado, sem ter nenhuma orientação vocacional
acerca do que seria melhor para si e para vida, levando em consideração apenas a
simpatia e talvez o fato da existência do mercado de trabalho que se encontrava em
expansão naquela época.
Hoje, após constituição de nossas famílias, temos apenas a certeza de que o
projeto de vida estabelecido por meus pais se cumpriu, tínhamos passado de pobres
colonos a especialistas urbanizados.
A dor e o sofrimento que esse casal viveu durante quase meio século de
labuta, buscando os mecanismos de sobrevivência para que seus descendentes
pudessem algum dia encontrar o rumo da Educação, nem mesmo o profeta Jesus no
caminho do Calvário sonhou um dia percorrer e sofrer com suas doze quedas.
Após ter sentido as dores sagradas que o parto estabeleceu e tendo cumprido
sua missão como afirmava, pediu ao Santíssimo, Bendito seja Ele, para levá-la e no
dia 11 de junho de 1984, foi atendida sem dores, lamentos e qualquer tipo de doença,
baseada em suas doutrinas religiosas, dizia seguir à frente para preparar nossa mo-
rada, como sempre afirmou em suas orações.
Anos mais tarde após padecer de solidão e não conseguir mais suportar a

221
ausência da amada, no dia 04 de janeiro de 1987, o nobre Patriarca nº 7 - José de
Abreu (Zeca) resolveu segui-la.
Morreu em meus braços numa noite cálida de domingo pedindo para ser
enterrado no local onde tudo se finda para os Honório de Abreu, no Cemitério da
Família.
Os/as filhos/as todos reunidos serenamente e envoltos de paz e harmonia
satisfizeram seu desejo levando-o naquele dia a sua morada final, junto de sua esposa,
tendo ao lado apenas um cajueiro sombroso e secular emitindo lamentos e sussurros
a sua espera.
Tinha ele cumprido o destino de ser filho e pai. Seu fiel cão “Jubileu”, após
dias de espera na porta de seu quarto, sem mais encontrá-lo e sem companhia na vida,
resolveu segui-lo fazendo dos pés daqueles ressequidos cajueiros sua última morada.
Quando um dia for cobrado tudo que se conseguiu nessa caminhada para as
gerações que se avizinham, até os confins do século XXI, o látego diário não passaria
de plumas acariciantes de tudo que os Honório de Abreu conseguiram realizar para
seus descendentes quando um dia ousaram a mudar o que estava posto no seio da
Família.
Em seu louvor e emoção com devoção eterna dediquei essas linhas em vida
e morte quando ocorreu um século de lembranças (1904-2004) em nossa Casa
Grande de Columinjuba junto as suas duas irmãs, filhos/as, netos e sobrinhos para
que eles e elas pudessem sentir quanta saudade deixou e quanta sabedoria e exemplo
mostraram.

“Minhas visões em criança não são torturas e nem temores, são retalhos de senti-
mentos por alguém que do leito de morte participou, sou a frágil semente, ainda que
um gerino ora se escondendo e vivendo com seus fantasmas, ora brincando com os
carrinhos de caixa de fósforo porque não conheceu em infância outros sequer, visto
não ter recurso algum para comprá-los.

Mas, foi a partir deste brincar que as “garras”, daquele que não é porque nunca
será, se emanou, manifestou-se e excitou-me com seu látego me fazendo explodir e
exigir o novo em mim. Disse-me vai divulga-me senão te devoro, pois sou teu Amo e
Senhor.

Assim, e somente assim, vivo a temível genética que me persegue e me faz ter virtu-
des, limitações e tudo mais que se expressando em meus caminhos, diz-me tua liber-
dade é meu porvir, tua decência é meu querer, tua inteligência é o meu saber e em
assim sendo choro em ti.

222
Fiz de tuas ordens minha sina, de tua presença minha cruz, jurei até por quem não
sei, a fidelidade daquele que descobre na única amada adorá-la após a visão do
Reino, mesmo que tal propósito seja um vestígio de hemoglobina respingando o
mundo denunciando teu poder.

Se na graça dos momentos e no silêncio te encontro, envia teus serviçais e mensa-


geiros a proteger meus sonhos guiando-me a ti meus caminhos. E assim, eterno pai
saúdo tua origem, o retrato que aqui revelo, em que da tua pureza sou o fruto ben-
dito, pois, sois o bom de todos os bons em que sempre confio.

Não encontrei em teu agir o pendor da concupiscência. E no adubo que herdei fin-
quei minhas raízes onde em momentos falseantes, soube honrar e registrar em cada
canto o encanto de quem canta na soleira da calçada, na saudade da amada que
sussurra sem saber e espera todo dia por volta do entardecer, os dourados do hori-
zonte recebendo a escuridão, chegando com as avoantes me dizendo em seu gorjeio
no anúncio da Mãe Santa, que a hora da espera inda não chegou fim, não.

Quando lembro de ti, sou pão, sou encanto, sou doce, sou paixão, sou amargo, sou
limão, chego até ser coração, pois faço do teu viver uma estrada de emoção. De tudo
que ainda sou, emana como uma flor de um cajueiro frondoso que ao viver em campo
santo embala em lamento a eterna canção que ninou-me consolando meu sofrer sem
solidão.
Quando encaro tuas fotos, é um ponto de emoção, tudo meu corpo transborda, cheio
de satisfação, pois persigo teu encanto como na extrema-unção, de saber que este
quadro revela satisfação daquele que um dia me fez cidadão, esperando em campo
eterno o retorno do varão, prá dizer que tudo faço com maior satisfação, desde que
assim procedo posso agir sem causar dor, revelando tua beleza, ser capaz deste es-
plendor pois, agora que existo sei que há um Salvador indicando minha sina daquele
fundador, e como muitos não querem fui um bom reprodutor, visto que meu sem-
blante não espelha confusão, sou da paz, sou da alegria, sou carinho sou o pão, já
que em vida me expus, mas, nunca sem campeão.

Ao viver em ti momentos de grandes fotografias, pude assegurar o belo, a nobreza e


a galhardia, como herdeiro da conquista que brotou em teu semblante, explodindo
meu narciso me fazendo semelhante, e da tua tez frondosa, daquele laço de fita, vem
um olhar carinhoso dizendo não sou desdita, procurando em tua forma o fruto da
crença dita, pois em todas tuas faces é em mim que acredita.

223
Se naquele vozeirão, residia meu temor, sabia por outro lado ser sempre meu salva-
dor, pois, nos banhos de açude tudo era satisfação, vindo de um corpo amigo de um
porto frontidão, garantindo ancoradouro pra aquele que tudo quer, sem saber sem
ter noção do que é ser Nazaré.

Quando faço teu retrato sou todo satisfação, procurando em cada canto viver pura
emoção, na soleira, na cacimba, e mesmo no cacimbão, nos arreios e nas pegas que
geram só confusão, consegui fotografar em cada passo um andor, de alguém que foi
arrimo, postulante e sabedor, indicando meu caminho superando com ardor, caval-
gando nas andanças fosse com satisfação, e como se não bastasse nunca manchou a
lei não, conseguindo em terra plena ser um eterno leão.

Do exposto, pode-se perceber que a maioria dos descendentes de Honório


José de Abreu não deixaram de ser colonos, não tendo ainda atingido o topo da
pirâmide de Maslow e não conseguido se tornar cidadãos do saber, não servindo
como fruto para exportação.
Muitas sementes dos galhos e ramos se transformaram em ervas daninhas
árvore sem sombra, que não produzem frutos bons, belos e sadios. Entretanto, não
podemos desistir e esperar, esse é o momento, mesmo que tardio.

224
9

Flores do Jardim
da Família de
Honório José de Abreu

O livro de Gênesis, afirma que no jardim do Éden, O Santíssimo, Bendito


seja Ele, fez toda a espécie de árvores agradáveis à vista e de saborosos frutos para
comer. Nele também colocou, ao centro, a Árvore da Vida e a Árvore do
Conhecimento do Bem e do Mal. A árvore do conhecimento tinha um fruto que, devia
ser bom para comer, pois era de atraente aspecto e precioso para a inteligência.
Assim, tudo na Criação se inicia com uma semente que cai na terra e co-
meça a crescer, para que isso aconteça existiu todo um processo de adubação, se
formos observar. Há significado para tudo, que vemos e há tempo para tudo que que-
remos. E assim há tempo para uma flor crescer e se multiplicar. Nesse processo de
crescimento a flor passa por muitos testes de sobrevivência, a chuva, o vento, os
predadores e tudo que se move a sua volta.
Somos flores no Jardim da Vida que cuida de nós nos mínimos detalhes,
talvez hoje você não esteja percebendo esse cuidado, porque as pegas, as provas e as
dores estão cegando seu entendimento. Dentre tantas flores do jardim da Vida estão
as Rosas, Hortênsias, as Esther, as Saras, as Anas, as Rebecas e aquela flor cuja fra-
grância chega com seu suave cheiro.
Como é admirável a habilidade de um jardineiro! Seu trabalho exaustivo
nem sempre é levado em consideração pelas pessoas. São dedicadas horas prepa-
rando a terra, limpando a erva daninha, molhando, arrancando folhas secas e mortas,
corrigindo galhos tortos. E quando tudo parece pronto e bonito, aparece alguém que
arranca as flores pisoteando e destruindo todo trabalho e beleza.
Um jardineiro fez caprichosamente o preparo de seu canteiro. Semeou uma
única espécie de semente de flores. Tudo parecia bom. Mas, numa determinada área,
algumas sementes não brotaram. Isto deixava ali um clarão no verde do canteiro.
Experiente e criativo, o jardineiro colocou ali outro tipo de planta com uma tonali-

225
dade diferente de verde. Inicialmente ele queria apenas preencher o vazio das semen-
tes não brotadas. E aquele plantio deu nova cor e beleza ao jardim.
Há muitas pessoas que não ocupam o seu lugar no jardim do amor. O jardi-
neiro quer preparar a terra, o nosso coração. Ele quer semear a boa semente. Ele quer
que deixemos esta semente germinar, crescer e dar as flores com o perfume do amor.
Do mesmo modo, vem ocorrendo com os descendentes de Honório José de Abreu.
Nosso cemitério, onde nossas flores plantadas há séculos repousam no alto
do gélido torrão, cercado por muros baixos ainda hoje protegendo nossos restos mor-
tais são as únicas testemunhas de nosso viver. Não muito distante do solar patriarcal
João Honório de Abreu pensou em tudo, tanto no viver quanto na morte.
Ainda em vida construiu em rústicas paredes de alvenaria um cemitério para
permanecer como última moradia a si e todos os seus descendentes. Sua construção
foi feita por volta dos primeiros anos do século XIX fruto de muito suor e trabalho
onde seus descendentes ainda hoje usufruem e se refastelam em usar aquele campo
santo até mesmo sem pedir “permissão”.
Na Europa, os sepultamentos dentro das igrejas eram comuns até o
momento da peste negra (peste bubônica) quando as igrejas não comportaram mais
tantos corpos, além do risco de contaminação, foi quando os enterros nos cemitérios
foram instituídos.
No Brasil colonial e imperial os sepultamentos nas Igrejas existiram até o
ano de1820, quando foram proibidos, no momento em que foram construídos os
primeiros cemitérios.
Até então somente negros/as (escravos) e os/as indigentes eram
enterrados/as. Os/as brancos/as livres eram sepultados nas igrejas, por isso o tamanho
de uma cidade era medido pela quantidade de igrejas que possuía, pois elas faziam o
papel dos cemitérios e em algumas cidades coloniais, no Brasil, por exemplo,
possuíam mais de 360 igrejas como no Sudeste brasileiro.
A celebração dos dias de finados e todos os santos era um rito sagrado na
vida de João Honório de Abreu, seus familiares e parentes próximos, seu fervor era
tanto que construiu nas proximidades da antiga Casa Grande um local santo, uma
Capela para realizar tais feitos, passando a ser considerado mais tarde como uma das
flores que brotaram no jardim dos Abreu de Maranguape.
O feriado brasileiro de Finados é celebrado no dia 2 de novembro. Similar
ao Dia dos Mortos, onde as pessoas vão aos cemitérios e igrejas, com flores, velas
fazer visitas e orações.
A festa tem intenção de celebrar os que estão mortos. Na Igreja Católica, o
dia de "Todos os Santos" é celebrado no dia 1 de novembro e o de "Finados" no dia
2 de novembro.

226
Esta tradição de recordar os santos está na origem da composição do
calendário litúrgico, em que constavam as datas de aniversário da morte dos cristãos
martirizados como testemunho de sua fé, realizando-se nelas orações, missas e
vigílias no mesmo local e nas imediações de onde foram mortos, como acontecia em
redor do Coliseu de Roma.
Segundo o ensinamento cristão, a intenção desta celebração ressalta o
chamamento de Cristo a cada pessoa para o seguir e ser santo, à imagem de Deus, a
imagem que foi originalmente criada de forma simbolica e para a qual se deve
caminhar em busca de amor.
Para os antigos mexicanos, que criaram tal dia, a morte não tinha as mesmas
conotações da religião católica, seguida pelo Patriarca nº 4, na qual as ideias de
inferno e paraíso servem para castigar e premiar. Pelo contrário, eles acreditavam
que os caminhos destinados às almas dos mortos eram estabelecidos pelo tipo de
morte que tiveram, e não pelo comportamento em vida social.
Os enterros pré-hispânicos eram acompanhados de oferendas que
continham dois tipos de objetos: os que o morto havia utilizado em vida, e os que
poderia precisar em sua viagem a um novo “mundo”. Assim, a escolha de objetos
funerários era muito diversificada.
As datas em honra aos mortos eram muito importantes, tanto que lhes
dedicavam dois meses. Ocorriam a festa dos pequenos mortos, por volta de 16 de
julho e a dos grandes mortos no dia 5 de agosto.
Nestas festas realizavam procissões que culminavam com vigílias onde
costumavam-se fazer sacrifícios e banquetes. Nelas, as pessoas costumavam colocar
altares com oferendas para recordar seus mortos, um antecedente do atual altar dos
mortos.
Quando os espanhóis chegaram à América no século XVI, se aterrorizaram
com esta prática, e no intuito de converter os nativos, fizeram as festividades locais
coincidirem com as datas católicas do Dia de Todos os Santos e o Dia dos Fiéis
Defuntos.
Os espanhóis combinaram seus costumes com o festival centro-americano
criando um sincretismo religioso que deu lugar ao atual Dia dos Mortos, o qual no
estilo mexicano se espalhou pela Europa.
Em vários outros países com herança católica, o Dia de Todos os Santos e
o Dia dos Fiéis Defuntos são assumidos como feriados onde as pessoas vão aos
cemitérios com velas e flores e dão presentes às crianças, normalmente doces e
brinquedos.
Em Portugal e Espanha, oferendas são feitas neste dia. Em cerimônia reali-

227
zada em Paris, França em 7 de novembro de 2003, a UNESCO distinguiu a
festividade indígena mexicana do Dia dos Mortos como Obra Mestra do Patrimônio
Oral e Intangível da Humanidade.
Desde o século II, que cristãos rezam pelos falecidos, visitando os túmulos
dos mártires para velar pelos que morreram. No século V, a Igreja Católica dedicava
um dia do ano para rezar por todos os mortos, pelos quais ninguém rezava e dos quais
ninguém se lembrava.
No século XI os Papas Silvestre II, João XVII e Leão IX obrigaram a
comunidade católica a dedicar um dia do ano aos mortos. No século XIII esse dia
anual passou a ser comemorado em 2 de novembro, porque 1 de novembro é a Festa
de Todos os Santos.
É o momento onde a doutrina católica evoca passagens bíblicas para
fundamentar sua posição (cf. Tobias 12,12; Jó 1,18-20; Mt 12,32 e II Macabeus
12,43-46), se apoiando em uma prática judaica de quase dois mil anos.
Em Portugal, no dia de Todos os Santos as crianças saem às ruas e juntam-
se em pequenos bandos para pedir o “Pão-por-Deus”, de porta em porta. As crianças
quando pedem o Pão-por-Deus recitam versos e recebem como oferenda: pão, broas,
bolos, romãs e frutos secos, nozes, amêndoas e castanhas, que colocam dentro dos
seus sacos de pano.
Esta tradição teve origem em Lisboa em 1756, primeiro ano após o
terremoto que a destruiu em 1º de novembro de 1755. Nesse evento morreram
milhares de pessoas e a população da cidade - na sua maioria pobre - ficou ainda mais
pobre.
Até meados do século XX, o "Pão-por-Deus" era uma comemoração que
minorava as necessidades das pessoas pobres de Lisboa. A partir dos anos 1980 a
tradição não foi mais aparecendo e, atualmente, raras são as pessoas que se lembram
desse fato. Até a comunicação social, contribui para o empobrecimento da memória
coletiva.
Neste dia as estações de TV, rádio e jornais, falam no Halloween, uma
loucura midiática que ignora completamente o "Pão-por-Deus".
Resquícios dessa data comemorativa na família dos descendentes de
Honório José de Abreu ainda são mantidos por alguns familiares do núcleo Abreu-
Machado por Silvia filha de Valfrido e Lili, herdado de sua mãe após missa realizada
no Cemitério da Família perdurando desde 1950, com o famoso café da manhã com
gosto de “maria mulata”, um tipo de guloseima que adoça o momento.
O Cemitério dos descendentes da Família Abreu de Columinjuba, constru-
ído por João Honório de Abreu, ainda está lá, silenciosamente sombrio contras-
tando o branco sujo de seus muros, com a tonalidade ambiental, invadido que foi por

228
qualquer defunto que se diga da família Honório de Abreu.
Entre covas rasas invadidas pelos habitantes das proximidades, assinaladas
por montículos de terras e velhas cruzes de madeira abandonadas, desenham-se nos
espaços arbustos viridentes, sobre os quais dominam alguns cajueiros, atalaias mudas
daquele arraial de destroço humano onde meus familiares repousam em seu sono
eterno.
Desde o início da colonização até a metade do século XVII o culto religioso
no Brasil foi celebrado principalmente em oratórios. Era nesses pequenos “templos”,
construídos pela devoção particular, que o povo expressava sua fé.
Entretanto, o período áureo dos santuários que se transformaram em
grandes centros de devoção e romarias, teve início apenas a partir da metade do
século XVIII.
Os santuários sempre atraíram grande número de peregrinos. Cada um a seu
modo tinha papel na conservação da fé e da religiosidade do povo brasileiro, jamais
assistido pela pastoral ordinária das paróquias, quanto mais não fosse pelo número
reduzido de padres e pelas grandes distâncias.
O oratório familiar era um pequeno altar, que ocupava lugar de destaque e
animava a devoção dos membros da Família. Era nesse altar que a Família se reunia
para rezar. O pai e a mãe organizavam as rezas, mas cabia ao/a filho/a “puxar o terço”
e fazer as devoções.
Este recanto sagrado, instalado desde a antiga Casa Grande, servia como
um farol iluminando todas as ações religiosas e os pedidos da Família, se ligando ao
campo santo construído.
Foi devido a tal religiosidade e por implantar no local um ambiente envolto
de fé intensa que João Honório de Abreu conseguiu das autoridades eclesiásticas
do Vaticano licença para instalar uma capela em sua casa.
Foi concedido pelo Delegado Apostólico do Papa Pio IX, Vicenti Massoni
o Breve de 23 de maio de 1857, ao “Carissimus in Christo Joanes Honorius de
Abreu”, o privilégio de edificar um oratório em sua casa. Em 28 de agosto de 1858,
por intermédio do Ministro da Justiça, o Imperador Pedro II dava licença para exe-
cução de tamanho benefício a um brasileiro do Nordeste.
O catolicismo popular chegou ao Brasil através dos portugueses. Na época,
devido ao padroado régio, a Igreja estava submissa ao Estado na pessoa do Rei, pois
era o Estado o responsável por catequizar os brasileiros.
Logicamente, o Rei de maneira alguma permitia que seus religiosos
catequizadores ensinassem ao povo o que significava justiça social. Os missionários
jesuítas até que tentaram a seu modo a catequese, mas isso resultou em expulsão do
Império.

229
Era um tipo de catolicismo, trazido por portugueses pobres e que começou
a penetrar no Brasil a partir da colonização. Teve presença significativa na zona rural,
e principalmente em terras camponesas.
Naque-la época, onde havia poucas cidades todas possuíam pequenas
populações. Não havia qualquer ligação com o poder político, não se beneficiavam
de auxílios do poder econômico.
Além de portugueses pobres, alguns pequenos proprietários, muitos índios
destribalizados, ex-escravos/as e, sobretudo, mestiços/as praticavam esse
catolicismo. O santo era um dos elementos fundamentais dessa religiosidade. Tudo
girava ao torno dele. Era objeto de devoção pessoal do pequeno núcleo familiar
(oratório) e dos pequenos povoados (capela).
A sociedade desse período colonial era marcada pela diferenciação social.
No topo da sociedade, com poderes políticos e econômicos, estavam os senhores de
engenho. Abaixo, aparecia uma camada média formada por trabalhadores livres, es-
cravos/as e ex-escravos/as. E na base dessa sociedade estavam os miseráveis e os/as
negros/as de origem africana.
Era uma sociedade escalonal e patriarcal, pois o senhor de engenho exercia
um elevado poder social. As mulheres tinham poucos poderes e nenhuma participa-
ção política, devendo apenas cuidar do lar e dos/as filhos/as. A “Casa-Grande”, era
a residência da família do senhor de engenho. Nela moravam, além da família, al-
guns agregados.
O conforto da Casa-Grande contrastava com a miséria e as péssimas con-
dições de higiene das senzalas onde ficavam os/as escravos/as. Inicialmente, o
termo não era utilizado para designar toda a residência — chamada casa de morada
— apenas a principal varanda da casa, tendo por catacrese passado a denominar
toda ela.
Além disso, tal nome era utilizado para designar o centro da forma de vida
patriarcal do sistema colonial no Brasil, todos estavam ligados a ela enquanto o
restante funcionava como um complemento político, econômico e social.
No início da colonização ficavam próximas dos engenhos, das senzalas, das
casas de farinha e das demais construções por medidas de segurança contra ataques
indígenas. Só mais tarde, no século XIX, se tornariam maiores e mais luxuosas.
Esse aspecto de “casa militar” é perdido ao longo dos séculos (XVII e
XVIII), mas, a proximidade entre as construções é mantida, o que teria diferenciado
a colonização brasileira, pois a própria arquitetura aproximava os ricos e pobres; bem
como todos os tipos de pessoas.
Eram casas geralmente construídas com paredes de taipa, pedra, cal, teto de
palha, sapê, telhas, piso de terra batida, assoalho e poucas portas e janelas, mas com

230
muitas varandas e alpendres.
Durante a maior parte do período colonial o mobiliário utilizado era pouco
constando de: redes e colchões para dormir, mesas para refeições e tamboretes para
sentar.
Os utensílios da cozinha incluíam cerâmica indígena, poucos talheres e
alguns objetos de estanho, prata e vidro. Preferia-se demonstrar a riqueza através do
número de escravos/as e das vestimentas. Apenas no final do século XVIII e ao longo
do século XIX com a vinda da corte portuguesa para o Brasil, é que passou-se a
despender mais recursos com ornatos e objetos pessoais. A sede das grandes fazendas
era o maior símbolo do poderio absoluto dos senhores de terras.
A família da “Casa-Grande”, era sempre numerosa: são muitos/as filhos/as,
tanto legítimos como não legítimos, parentes, agregados, escravos/as e libertos/as.
Todos respeitavam a autoridade doméstica e pública do senhor, ao mesmo tempo
genitor, pai, patriarca e chefe político.
Essa é a estrutura familiar das regiões da monocultura tropical, escravista e
exportadora do Nordeste. Com ela convive a chamada família nuclear, bem menor,
formada quase sempre pelo casal e por poucos filhos e filhas, quando não apenas por
um dos pais e as crianças.
A “Casa-Grande” traduzia no seu complexo místico-escravocrata o equilí-
brio do mundo social vigente: fé católica como fundamento religioso familiar junto
a exploração do braço escravo como fundamento econômico do latifúndio.
A edificação construída por João Honório de Abreu, tinha sua arquitetura
composta por sala do oratório, dormitórios, senzala, quarto do bispo, sala de disci-
plina, sala do tronco, casa de farinha com bolandeira de tração animal, engenho, etc.
Ela traduzia o equilíbrio do mundo social vigente: fé católica como fundamento reli-
gioso familiar, junto à exploração do braço escravo, como fundamento econômico
do latifúndio.
Na primeira “Casa-Grande” construída no sítio Columinjuba, nasceram e
se criaram os/as filhos/as à sombra do Patriarca nº 4, a progênie cresceu e se multi-
plicou. Em 1824 nasce Jerônimo Honório de Abreu, o quinto rebento, com mais
15 filhos. Considerado um enviado abençoado e religiosamente preparado desde
cedo ele se constituiu no Patriarca nº 5, conforme estabelecido pelo pai.
Da Casa-Grande pertencente ao Patriarca nº 5, a maior de todas as flores
cultivadas surgiram outras, sempre imitando o mesmo estilo e de menor poder eco-
nômico e social destacando a de Valfrido de Abreu Machado, dos Braga, a de José
de Abreu (Zeca) e outras em demais cercanias como chegou acontecer com alguns
de nossos parentes nas localidades da Tijuca, Saco Verde, Saco do Vento, Trapiá e
Bragantino.

231
A segunda Casa-Grande, construída por Jerônimo Honório de Abreu, era
esplendorosa e bem maior que a primeira, feita por seu pai, lá ocorreram momentos
de poder, sucesso econômico e social que alguns descendentes da família dos Honó-
rio de Abreu chegaram a desfrutar.
De lá saíram as sementes para o mundo e o conhecimento que hoje se tem
da Família Abreu de Maranguape. Após sucessivas secas, morte de seus patriarcas e
anos de abandono já no século XX, quando só existiam ruínas não foi mais recons-
truída pelos herdeiros.
Sua arquitetura composta por sala do oratório, dormitórios, senzala, quarto
do bispo, sala de disciplina, sala do tronco, casa de farinha com bolandeira de tração
animal, etc., foi destruída deixando um vazio arquitetônico próprio da ignorância
cultural do povo cearense que não consegue preservar e tampouco valorizar seus an-
tepassados e ascendentes.
Dentre as primeiras flores plantadas e destruídas por circunstâncias tecno-
lógicas, rendimento e falta de educação dos descendentes da família de Honório José
de Abreu implantadas no Columinjuba e seus arredores após formação familiar, des-
taca-se a Casa de Beneficiamento de Algodão e a Casa de Engenho que produzia
açúcar, melaço, cachaça e rapadura para toda fazenda.
Décadas depois, serviram de troca no comércio de escravos/as. talvez por-
que representassem o ambiente de separação social entre pessoas livres e escravas,
restando apenas os escombros da senzala oculta no subsolo do que restou da Casa
Grande de Jerônimo Honório de Abreu herdada e reformada pelos Abreu-Machado
como cheguei a conhecer.
O primeiro engenho de açúcar em território português pertenceu a Diogo
Vaz de Teive, escudeiro do Infante D. Henrique, em 1452. Localizava-se na Ilha da
Madeira, a força motriz era na maioria das vezes a água. Os engenhos eram movidos
a água e pela força de bois, sendo os cilindros construídos com madeira. A indústria
da refinação dos açúcares floresceu no século XV, passando daí para Lisboa e colô-
nias do Reino.
Os primeiros engenhos construídos no Brasil foram para atender a demanda
europeia. Eram locais destinados à fabricação de açúcar. Todo o conjunto, incluía as
plantações, a Casa-de-Engenho, a Casa-Grande, a senzala e tudo quanto pertencia à
propriedade.
Muitos consideram que a indústria do açúcar foi implantada no Brasil a
partir de 1530, com a vinda de Martim Afonso de Souza. Em 1570 já havia 60 enge-
nhos no Brasil. A necessidade de mão de obra levou os donos dos engenhos a tentar,
sem sucesso, escravizar os indígenas. Então optaram por trazer escravos/as da África.
Não é por acaso que Jerônimo Honório de Abreu, tenha chegado a herdar cerca de

232
quatorze escravos de seu pai.
Os senhores de engenho dominaram a economia e a política brasileira por
séculos, desde a época colonial, passando pelo Império chegando à República, em-
bora ao longo dessas épocas tenham tido fases de declínios e reerguimentos. Com a
evolução da agroindústria e o aparecimento das usinas de açúcar e de álcool, os en-
genhos, foram sendo abandonados gradativamente.
Após o abandono dos engenhos, veio a destruição de tudo que se relacio-
nava com a representação dos laços familiares das festas sociais desde os tempos
milenares, a “Farinhada”.
A tradição de como fazer a farinha iniciada pelos índios, passada de pessoa
pra pessoa, e as etapas de transformação da raiz da mandioca, como uma força de
trabalho nas lavouras e nas roças, eram executadas pelos camponeses no contexto
familiar.
A família foi a grande precursora dessa prática, não apenas do trabalho, mas
também de valorizar o cultivo, a fabricação e as relações sociais de quem circulava
no ambiente das casas de farinha que existiam nos engenhos.
A farinhada é trabalho e também atividade lúdica, é quando a família, os
parentes e os amigos encontram-se para uma ação solidária entre o grupo. Essa ati-
vidade é uma festa, segundo alguns dicionários de nossa língua representa: regozijo,
alegria, júbilo, cerimônia em que se celebra um fato.
Por isso nossos ancestrais desde a antiguidade sempre estavam presentes
nas comemorações, seja de atos religiosos, fúnebre, natalinos e nos frutos da terra
como determina a lei hebraica: “também guardarás a festa das semanas, que é a festa
das primícias da ceifa do trigo, e a festa da colheita no fim do ano” (Êxodo 34:22).
A produção da farinha é conhecida como a festa da farinhada através de um
mutirão de família, dos compadres, comadres e vizinhos que se reúnem desde a limpa
da mandioca até os produtos finais (farinha, tapioca e beiju) em que as pessoas tro-
cam experiências, dando manutenção ao espaço social compreendido como espaço
vivido articulado pela história e a cultura, produto da identidade do grupo.
As famílias se reúnem de forma solidária para produzirem em rituais que
intercalam o trabalho com cantos e brincadeiras, traduzindo um fazer prazeroso entre
compadres e comadres. Nesse contexto verifica-se que a farinhada constitui-se numa
manifestação cultural que, embora resinificada, permaneceu como prática importante
na reprodução da agricultura familiar.
Data-se de 2 mil anos atrás a moagem de mandioca no Brasil. A fabricação
é dividida em nove fases: plantação, colheita, transportes, limpeza, ralação, prensa-
gem, esfarelamento, peneiração e torragem. A Casa de Farinha é o local onde se re-
aliza a farinhada.

233
Geralmente esta casa não é do dono da farinhada. Paga-se um aluguel para
se utilizar das instalações, esse pagamento também pode ser feito através da doação
de sacas de farinha beneficiada no processo da farinhada.
Na família de Honório José de Abreu, muitas subfamílias possuíam suas
Casas de Farinhada onde na época adequada fazia-se a produção de farinha, minha
infância e início de adolescência foram vivenciados nesse ambiente existente nas ca-
sas de meu avô, pais e tios.
A melhor época para o plantio é no período chuvoso, no início do mês de
janeiro, onde a colheita para o melhor rendimento e qualidade da mandioca, é feita
entre 1 ano e 4 meses até 1 ano e 8 meses após o plantio. Quando a mandioca começa
a fermentar na temperatura ambiente é momento de se iniciar a colheita e em seguida
a torragem. O prazo limite para evitar o início da fermentação é de 48 horas, pois em
condições de maior calor a mandioca escurece.
A limpeza da mandioca é feita por dois motivos, para a diminuição dos
agentes produtores de ácido cianídrico (HCN) e para a retirada de terra. A lavagem
com água é necessária para a retirada da terra encrostada na raiz e de possíveis con-
taminações vinda do solo. Após a lavagem, descasca-se a mandioca, para a retirada
das fibras da casca, resíduos e de parte do veneno.
A farinhada, inicia-se com a ralação: após a limpeza, as raízes são raladas,
formando uma massa empapada. A prensagem da massa após ralada é comprimida,
com o uso de uma prensa, um artefato de madeira.
Nesta fase, o líquido extraído da massa (manipueira), que é poluente e tó-
xico é descartado. O esfarelamento: para evitar a fermentação e o escurecimento da
farinha, a prensagem deve ocorrer após a ralação, e em seguida deve-se, pelo mesmo
motivo, esfarelar a massa compactada o mais rápido possível. A peneiração separa
os fragmentos menores dos maiores, homogeneizando a gramatura da farinha, assim
proporcionando melhor qualidade. Os fragmentos retidos na peneira são chamados
de “crueira”. A torragem da massa após passar pela peneiração é colocada no forno
para a retirada da umidade, sendo mexida continuamente pelo forneiro.
A granulação da farinha, a temperatura do forno, o tempo de exposição da
farinha no forno, e a técnica de mexer a farinha são os principais fatores que influen-
ciam o tipo produzido. O sabor e a consistência de cada tipo variam pela granulação
da farinha, pela quantidade de amido e pelo estado de secagem (torração) da farinha.
As farinhadas se constituíam no período colonial nas terras dos Abreu de
Maranguape, numa época onde podíamos conhecer novas pessoas, entabular namo-
ros, rever parentes e até mesmo servir como mecanismos de entrosamento familiar
que geralmente terminavam em casamentos. Como as farinhadas realizadas no Jar-
dim, Columinjuba, Cacimbão, Grota Funda, Lages e Trapiá.

234
O Columinjuba Clube foi outra flor que desabrochou no seio dos descen-
dentes da família de Honório José de Abreu, como produto de um longo amadure-
cimento social que o momento impusera.
Comenta-se que tal ideia surgiu da transferência das reuniões que ocorriam
no cemitério da Família durante os dias de Finado e Todos os Santos e no desejo que
muitos tinham em prolongar as conversações bem como a necessidade em rever os
parentes que somente eram vistos uma vez por ano.
Em clima de alegria e festa alguns ramos que constituem a família Honório
de Abreu ainda se reúnem no mês de fevereiro de cada ano para comemorar a data
de fundação e existência dessa grandiosa flor que é o Columinjuba Clube.
Este acontecimento vem ocorrendo há cerca de 30 anos quando alguns fa-
miliares decidiram mostrar à sociedade quem eram os descendentes da família de
Honório José de Abreu e como os mesmos vivem atualmente.
Vivenciando momentos de alegria e prazer ao longo desses anos, o Colu-
minjuba Clube, tendo a sua frente inúmeros presidentes dos quais cheguei a ser um
deles continua se destacando como Instituição social-familiar.
Foi se construindo com esforços de todos os descendentes da família ser-
vindo de local, onde distintos grupos familiares realizavam encontros, festas, pales-
tras e seminários ligados principalmente ao Município de Maranguape.
Suas atividades e festas anuais deslumbravam a todos que ali compareciam
principalmente a tradicional Semana Santa, a festa de São Pedro, o Aniversário do
Clube bem como a festa Anual de Encontro dos Abreu.
O Columinjuba Clube tem sua sede em área própria num ambiente de
6,1931 hectares doado pelo casal Mário Braga Brasil e Alice Augusta de Abreu Brasil
para instalação do Clube e da Academia de Ciências, Letras e Artes de Columinjuba
(ACLA), com a ressalva de que a área de 5,1931 hectares pertence ao Columinjuba
Clube.
O Conjunto Arquitetônico, composto de dois pavilhões principais e de vinte
e uma construções (apartamentos, quadras, piscina, e outras) representa cada filho/a
da família de Pedro de Abreu - Patriarca nº 6, e Francisca Amélia de Abreu e seus
descendentes, onde é mantido e considerado como Plano Piloto.
É guardada e conservada como data de sua fundação, o dia 21 de fevereiro
de 1981 quando, solenemente, seus organizadores enterraram uma urna fechada, con-
tendo documentos da época, no quadrante Sudeste (SO) do terreno da sede do Clube,
para ser aberta 50 anos depois, isto é, no ano de 2031.
O Columinjuba Clube é uma entidade jurídica de direito privado constituída
sob a forma de associação, com prazo e duração não determinado, de fins sociais,
esportivos, culturais, artísticos, filantrópicos e desportivos, com sede em Columin-

235
juba, Município de Maranguape, Ceará, regido por Estatuto e disposições legais apli-
cáveis.
Ao promover inicialmente dois dos ramos do tronco da família de Honório
José de Abreu, tem como objetivo principal desenvolver os laços de união, de soli-
dariedade e incentivar o entrelaçamento entre os familiares do Patriarca nº 6 e outras
pessoas, congregando os valores em prol do desenvolvimento social, científico, es-
portivo e cultural, sendo-lhes vedadas as atividades de natureza política partidária e
reivindicatória bem como a prática de cultos religiosos não permitidos por lei.
São finalidades do Columinjuba Clube: Celebrar convênios e contratos,
executar e projetar programas, ajustes e quaisquer outros instrumentos legais de par-
ceria e prestações de serviços, com pessoas e entidades de direito público e privado,
no âmbito nacional e internacional; Receber e administrar recursos públicos e priva-
dos de interesse do Clube e da comunidade de Columinjuba, resguardando os inte-
resses do quadro social do Clube; Projetar, propor, assessorar e executar projetos e
programas e convênios com organizações governamentais e não governamentais, na-
cionais e internacionais; Reivindicar, junto ao poder público as justas aspirações con-
cernente a cultura, as atividades desportivas e de lazer visando atender a comunidade
local mesmo não pertencendo ao quadro social do Clube, resguardando os direitos
do quadro social.
O objetivo e a finalidade do Columinjuba Clube não são providos de vín-
culo político partidário, religioso e raça e para tanto no desenvolvimento de suas ati-
vidades não fará discriminação quanto a raça, nacionalidade, cor, sexo, ideologia,
política partidária e outras discriminações proibidas por lei. O patrimônio é constitu-
ído por todos os bens móveis e não móveis, títulos, regalias, doações, prêmios, sub-
venções e depósitos bancários. Sendo formado por vários tipos de sócios: fundadores,
honorários, beneméritos, remidos, efetivos, contribuintes, atletas, juvenis, licencia-
dos, em trânsito, etc. A admissão de sócio é efetuada pela Assembleia Geral e Dire-
toria Executiva, mediante parecer de uma Comissão de Sindicância.
Constituem obrigações dos/as sócios/as: contribuir para que o Clube pro-
mova a educação cívica, moral, e física de seus integrantes; evitar no Clube, pronun-
ciamento de política partidária, de religião não permitida por lei, de discriminação
social e racial; conhecer e cumprir o Estatuto, o Regimento Interno, e as Normas
baixadas pelos poderes competentes do Clube; acatar os representantes de entidade a
que o Clube estiver filiado quando no exercício de suas atribuições; zelar por todos
os bens e interesses da entidade, promovendo o seu engrandecimento; aceitar cargos
e comissões para os quais foi eleito e nomeado, exercendo-os com zelo e dedicação;
ser pontual com suas obrigações financeiras para com a entidade; comparecer as As-
sembleias Gerais, a fim de tomar conhecimento de movimento e das atividades da

236
entidade e deliberar sobre os assuntos nela tratados; manter a devida compostura nas
dependências do Clube e tratar com urbanidade os associados.
São direitos dos sócios quites com as suas obrigações com o Clube: fre-
quentar as dependências do mesmo e participar das reuniões em sua sede, dentro das
Normas e Instruções baixadas pela Diretoria Executiva; votar e ser votado, observa-
das as prescrições deste Estatuto; apresentar ao presidente do Clube, sugestões e pro-
postas de interesse dos associados e da própria entidade; propor novos sócios; assistir
as reuniões dos Órgãos de Poderes do Clube, de caráter não sigiloso, não intervindo
nos seus trabalhos; solicitar a Diretoria Executiva, e ao Conselho Administração, re-
exame e reconsideração de atos que julgue contrários aos interesses do Clube e de
sua pessoa jurídica.
São assegurados aos sócios fundadores, efetivos, e contribuintes – propor a
admissão e readmissão de sócios; solicitar, fundamentando seus motivos, sua demis-
são do quadro social, licença; requerer a Diretoria Executiva, em documento que
contenha assinaturas de no mínimo um quarto dos sócios qualificados (fundadores e
efetivos) e em dia com as obrigações do Clube, a convocação de Assembleia Geral,
em caráter extraordinário, justificando o motivo do pedido.
Constituem penalidades aplicáveis aos sócios: advertência verbal; adver-
tência escrita; suspensão dos direitos sociais pelo prazo de até seis meses; desliga-
mento e exclusão. São Poderes do Clube: Assembleia Geral; Conselho Consultivo
(Conselho Administrativo); Conselho Diretor (Diretoria Executiva); Conselho Fis-
cal.
A Assembleia Geral do Clube é o órgão superior da entidade constituída
dos Sócios Fundadores e dos Sócios Efetivos competindo-lhe privativamente: prover
os cargos eletivos previstos neste Estatuto por ocasião das eleições bianual dos Po-
deres do Clube.
Para este fim é exigido o voto concorde da maioria simples dos presentes à
Assembleia, especialmente convocada, não podendo deliberar em primeira convoca-
ção sem a maioria absoluta dos/as sócios/as qualificados/as (fundadores e efetivos),
com menos de um terço em segunda votação; decidir sobre as aquisições e vendas
patrimoniais de vulto; decidir sobre a conveniência de alienar, transigir, hipotecar,
permutar bens materiais; aprovar modificação no Estatuto e do Regimento Interno
pelo voto concorde de dois terços dos sócios votantes, não podendo deliberar, em
primeira convocação sem a maioria dos sócios qualificados (fundadores e efetivos)
e com menos de um terço em segunda convocação; decidir sobre a dissolução do
Clube pelo voto concorde de dois terços dos sócios qualificados votantes em primeira
convocação, e com, no mínimo, um terço em segunda convocação; diplomar e dar
posse aos Membros dos Conselhos dos Poderes do Clube; apreciar e deliberar sobre

237
recursos relativos a exclusão de sócios; deliberar sobre matérias que lhe forem sub-
metidas pelos Poderes do Clube e pelos sócios; aceitar renúncias de Membros dos
Conselhos do Poder do Clube e providenciar a devida substituição. O Regimento
Interno disciplina formalmente, o funcionamento da Assembleia Geral.
O Conselho de Administração é o órgão superior da administração do
Clube, cuja maior atribuição é a defesa do seu Estatuto e do Regimento Interno, os
Membros Deliberativos são compostos de sete Membros Efetivos e três Membros
Suplentes, eleitos pela Assembleia Geral dos sócios fundadores e efetivos para um
período de dois anos; os Membros Conselheiros apresenta um efetivo variável, pois
formados de todos ex-presidentes dos Poderes do Clube. A Mesa Diretora do Conse-
lho de Administração compõe-se de 4 (quatro) dos 7 (sete) membros eleitos pelos
integrantes do Conselho, logo após efetuada a eleição.
As eleições são presididas pelo Presidente da Assembleia Geral dos/as só-
cios/as fundadores e efetivos, que escolhe um sócio efetivo para secretariá-lo, sendo
responsável pela redação da ATA, onde constam nominalmente os sócios escolhidos
para preencher os claros nos Poderes do Clube. A eleição dos Membros dos Órgãos
de Poder do Clube - Conselho de Administração, do Conselho Fiscal, e da Diretoria
Executiva – são efetivados de 2 (dois) em 2 (dois) anos, no último trimestre que
antecede o final da gestão dos componentes dos órgãos de Poder do Clube em exer-
cício e no local, data e hora, previamente fixada, sob a responsabilidade do Presidente
da Assembleia Geral dos sócios qualificados, convocados nos termos do Estatuto.
O Clube mantém o título de Presidentes de Honra aos sócios beneméritos
Mário Braga Brasil, Alice Augusta de Abreu Brasil e Walfredo de Abreu Machado,
criadores do Patrimônio do Clube. Todas as considerações acima fazem parte do que
a família de Honório José de Abreu e seus descendentes constituíram durante estes
quase trezentos anos de existência.
Quando surgiu há cerca de trinta anos o Columinjuba Clube teve intensa
participação da maioria dos familiares, sendo que atualmente em face do envelheci-
mento das pessoas, do não sentimento de pertença e da falta de educação e conscien-
tização quanto ao valor histórico, familiar e aglutinador sofre da ausência de muitos
descendentes visto sua visita, manutenção e frequência restringirem-se basicamente
ao núcleo da terceira e quarta idade de pessoas da família e amigos interessados.
Da escola frequentada por Jerônimo Honório de Abreu no Gereraú, pas-
sando pelo ensino de Capistrano de Abreu na Ladeira Grande com o mestre Luís
Mendes indo a escola de Dona Fátima na Umarizeira até atingir a precária escola de
Ensino Infantil da Lili Machado no Columinjuba mesmo levando em consideração
os que se aventuraram em outras plagas escolares em distintas localidades, a menta-
lidade educacional dos descendentes de Honório José de Abreu pouco evoluiu. Ca-

238
recem do sentimento de amor familiar associado que foi a conquista da Terra Prome-
tida, desprezada por aqueles que dali um dia brotaram.
A Escola Lili Machado, criada por seu filho Walfredo de Abreu Machado,
com pouco mais de alguns alunos oriundos dos nativos que hoje lhes rodeiam, com
suas condições e instalações precárias junto a um posto de saúde que a ninguém
atende, é exemplo do descaso e infortúnio que se tornaram companheiros eternos à
espera de alguém, que tenha piedade em socorrê-los através de melhorias de algum
possível investidor.
Outra flor surgente no universo dos Honório de Abreu é o Clube das Ro-
sas. Na transcorrência de mais de trinta anos de existência fruto do tronco Pedro de
Abreu - Patriarca nº 6 e Fca. Amélia Honório de Abreu surgiu o Clube das Rosas
visando registrar as efemérides sociais femininas da passagem na vida dos descen-
dentes de Honório José de Abreu.
É uma agremiação familiar formada a partir da boa vontade das tias e so-
brinhas e nascente de uma ideia oriunda principalmente da tia Alice quando reuniu
treze sobrinhas para um almoço em sua residência no bairro de Parangaba, na Ave-
nida Dedé Brasil. Não foi fácil reunir tantas mulheres, tendo cada uma suas obriga-
ções, empregos e serviços do lar.
Em horário estabelecido as iniciantes e demais damas passavam a fazer
parte desse encontro familiar. Sendo todas conhecidas, começaram a desenvolver um
intercâmbio social onde cada uma possuía atribuição específica.
A proposta foi se espalhando na família e em pouco tempo o entrosamento
frutificou resgatando laços de amizade que há muito não se viam. As participantes
do Clube das Rosas voltaram seus interesses basicamente para efemérides sociais.
De conformidade com o livro escrito sobre o Clube das Rosas por Pedrina
de Abreu Veras e Ilca Maria de Abreu, a primeira reunião ocorreu em outubro de
1979, na casa de Pedro Jorge e Hanry, presidida por tia Alice, e assessorada por Maria
Julia e Seldinha, ingressando em seguida no roseiral as parentes: Ireuda, Ruth, Alda,
Vanda, Ilca, Maria Helena e Lia.
As reuniões tratavam de todo tipo de conversa com programação estabele-
cida delineando as festividades, acontecimentos e contribuições de apoio ao Colu-
minjuba Clube e à ACLA. Através das participações mensais o entrosamento familiar
permitia conhecer as necessidades das participantes visto ser um clube inicialmente
exclusivo de mulheres, um autêntico clube da “Luluzinha” onde homens não entra-
vam.
Criaram elas, caixa de contribuição, periódicos, ritos religiosos e familiares
bem como uma integração harmoniosa, com identificação individual e com atributos
de “rainha” cujo mandato consistia em um ano de gestão.

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Na medida em que se firmava o Clube das Rosas passou a se divulgar pelas
ações que praticava denotando esmero, firmeza e nobreza de caráter em sua cami-
nhada social. Na reunião da Rosa Dourada de abril de 1981, e na presença de convi-
dados e anfitriões minha mãe Esther Martins de Abreu se integrava ao Clube. Cada
rainha anual se esmerava por apresentar o que tinha de melhor, visto as reuniões
revelarem um autêntico debut mais social do que cultural.
Havia naquele entremeado familiar, ligações de todos os níveis. Era um en-
contro onde se experimentavam de forma “velada” as mais distintas superações so-
ciais que tanto pautam a vida dos humanos em convivência. Tia Iza como era conhe-
cida foi “eleita” em 1980, a primeira rosa do ano obedecendo aos critérios de: dedi-
cação, assiduidade e presteza.
Aos poucos se foi admitindo nas reuniões o sexo oposto o qual passou, a
ser denominado de “cravos e botões”, enquanto as esposas eram chamadas de “tre-
padeiras”. Seldinha em seu desempenho exemplar foi o braço forte na elaboração das
festividades anuais, no resgate dos familiares junto ao Columinjuba Clube e em todos
os encontros da família, sem diminuir as demais rosas, nunca vi pessoa tão devotada
a causa do próximo, pode-se dizer que possui lugar reservado no Céu.
Minha madrinha Edinha Braga, outra santa conhecida por Rosa Dourada
participou da organização do coral e com suas orações piedosas abriu seu coração
em preces para todos que adoeciam na família principalmente para meu pai José de
Abreu (Zeca) que se preparava para o encontro com o Pai Celestial.
Um misto de solidariedade, responsabilidade e diversão era o que se prati-
cava no Clube das Rosas. Os custos das atividades eram planejados, coordenados e
divididos entre todas as Rosas. Pode-se dizer sem cerimônia que naquele Clube o
Santíssimo Bendito Seja Ele, tinha reunido muito das fadas e anjos de bondade da
Família Abreu.
A Rosa Angélica – Neide Mendes dedicou seu mandato às pessoas carentes
surgindo a Cesta da Providência, as demais trataram de homenagear os tios aniver-
sariantes de mais idade onde foi criada a Casa da Vó, um espaço de felicidade con-
feccionado exclusivamente para deleite daqueles que sempre amaram e preservaram
a família como os tios Cristovam e Américo.
Um belo local para ser preservado e nunca ser vendido como muitos que-
rem. Nos encontros realizados mensalmente ideias não faltavam. Pedrina sugeriu reu-
niões para trabalhos manuais, Seldinha tratou de enfrentar o movimento de beatifi-
cação de Honorina de Abreu filha de Capistrano de Abreu, Ilzair propôs a criação do
tema “tem a palavra a Rosa”, Silvia criou o quadro “gente que faz”, havia também o
quadro “toque do passado”, a poetisa Glice Sales foi ponto de destaque à frente dos
cantos e encantos entre tantas ideias brilhantes.

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O Clube das Rosas comemorou ao longo desses trinta anos: aniversários,
casamentos, bodas e festas comemorativas ligadas a família de Honório José de
Abreu e seus descendentes.
Pode-se dizer que foi uma ideia brilhante por parte de quem soube manter
de forma afetuosa, fraterna e zelosa as raízes de uma família que muitos sequer a
valorizam preservando até hoje o matriarcado que tanto caracteriza e enobrece as
raízes, troncos, ramos, galhos e flores dessa família.
Sentimos apenas nunca ter sido tratado nada de paradigmático que modifi-
casse os anseios educacionais dessa extensa família durante esse tempo em tal clube.
Em suas andanças pelo país Américo de Abreu, um descendente de Honó-
rio José de Abreu homem de exímia inteligência, após ter se tornado militar por
necessidade e não por vocação, passou a se interessar pelo desenvolvimento da Edu-
cação de seus parentes.
Historicamente os espanhóis fundaram Universidades em seus territórios na
América desde o século XVI enquanto Portugal durante trezentos anos, suas únicas
iniciativas na área de Educação vieram dos jesuítas, voltados para a catequese religi-
osa.
No caso da Universidade brasileira, a mesma teve início como um modelo
de institutos isolados e de natureza profissionalizante, que só atendia aos filhos da
aristocracia colonial, que não podiam mais estudar na Europa a partir do século XVII
devido ao bloqueio de Napoleão.
No Brasil, em 1810, o Príncipe Regente cria as escolas médicas na Bahia e
no Rio de Janeiro. A Academia Real Militar da Corte, a qual mais tarde se converteria
em Escola Politécnica. Em 1912, surge a primeira Universidade brasileira, no Estado
do Paraná, que durou somente três anos. Em 1920 surge a Universidade do Rio de
Janeiro, hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Américo de Abreu ao perceber que a Família Abreu de Maranguape neces-
sitava de gerenciamento educacional, pois não desejava ver sua extinção do mundo
do saber. Diante de tamanha utopia incubou a ideia de criar uma Instituição capaz de
realizar tal feito. Com determinação e obstinação, construiu com ajuda de familiares
um conjunto arquitetônico de "ciências, letras e artes", destinado a motivar as voca-
ções educacionais de pessoas e descendentes da família de Honório José de Abreu.
A ACLA - Academia de Ciências, Letras e Artes de Columinjuba, foi criada
em 21 de junho de 1992, em Columinjuba. A data escolhida para a sua inauguração
foi marcada pelo nascimento de Antônio de Abreu, primeiro descendente do Patri-
arca nº 6 a ter um livro publicado.

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A ACLA é pessoa jurídica, com registro em cartório e considerada de utili-
dade pública pela lei no. 01992, da Prefeitura Municipal de Maranguape. A sua inau-
guração foi marcada por uma programação previamente elaborada, da qual constou
uma missa celebrada em uma das dependências que integram o conjunto arquitetô-
nico da Academia destacando-se a Concha Acústica Mário de Abreu, o Memorial à
Bandeira João de Abreu e o Pavilhão Antônio de Abreu.
Diante de uma família sem Educação, devido sua origem colonial, um des-
taque especial se fez dando para aqueles que de forma brilhante vêm mantendo a
chama viva e a paixão pelo maior tributo que uma pessoa pode adquirir, o “conheci-
mento”.
A Academia de Ciências, Letras e Artes de Columinjuba – ACLA, sendo
uma entidade literária máxima da cidade de Maranguape congrega na sua formação
31 acadêmicos a qual também faço parte, exercendo diversas atividades, científicas,
sociais e culturais.
De direito privado, de utilidade pública municipal constituída sob a forma
de associação, com prazo e duração não determinados, de fins não lucrativos, de ca-
ráter cultural, científico e filantrópico, com sede anexa ao Columinjuba Clube, se
rege por Estatuto e disposições legais aplicáveis.
A ACLA tem como objetivo desenvolver, estimular e praticar a vocação
artística, científica, literária entre os descendentes da família de Honório José de
Abreu e outras pessoas, congregando os valores em prol do desenvolvimento da ci-
ência, cultura e das artes, sendo-lhe vedadas atividades de natureza política partidária
e reivindicatória e a prática de cultos religiosos não permitidos por lei.
A ACLA tem sua sede em área própria, doada por Mário Braga Brasil e
Alice Augusta de Abreu Brasil, conforme matricula № 14.657 do CRI de Maran-
guape, com uma área de 6.1931 m², onde está implantada a sede do Columinjuba
Clube, no Município de Maranguape, Ceará.
Ela integra o conjunto arquitetônico onde está implantado Columinjuba
Clube, tendo como responsabilidade direta quatro das 21 edificações do citado Con-
junto Arquitetônico, com a denominação de Concha Acústica Mário de Abreu, Me-
morial da Bandeira João de Abreu, Pavilhão das Sessões Antônio de Abreu e Praça
Maria Júlia de Abreu Pereira.
São finalidades da ACLA:
1. Criar condições e facilidades, através do estudo e do esforço para que a cultura
possa se desenvolver no âmbito da família dos descendentes de Honório José de
Abreu e outras pessoas, através da produção, científica, intelectual e artística, de
palestras, de conferências, concertos musicais, recitais, trabalhos manuais, artesa-
nato, pintura, escultura, culinária, etc.;

242
2. Lutar pela efetiva afirmação do escritor local e de alhures, no sentido de proteger
os direitos autorais, visando estimular e fazer amigos nas áreas das ciências, letras e
artes, promovendo adoção de livros, peças artísticas e outros valores ligados à litera-
tura, ciências e às artes em geral;
3. Promover através de concursos, escritores e temas maranguapenses, cearenses, do
Brasil, a critério da entidade;
4. Reivindicar, junto ao poder público, as justas aspirações artísticas concernentes à
cultura em geral, visando o desenvolvimento da comunidade de Columinjuba, de
Maranguape e do Ceará;
5. Recomendar sob a forma de "indicação" às instituições de natureza artística, cien-
tífica, literária, o membro da ACLA que for julgado, em Assembleia Geral, digno de
premiação e reconhecimento do público.
6. Projetar, propor, assessorar e executar projetos, programas e convênios com orga-
nizações governamentais e não governamentais nacionais e internacionais para rea-
lizar o objetivo e as finalidades da ACLA;
7. No cumprimento de seu objetivo e suas finalidades a ACLA celebrará convênios,
contratos, ajustes e quaisquer outros instrumentos legais de parceria e prestação de
serviços com pessoas e entidades de direito público e privado, no âmbito nacional e
internacional.
8. Procurar integrar as áreas culturais dos Distritos de Maranguape com a ACLA,
trazendo para os seus quadros, no mínimo, um representante por Distrito.
Outra flor que procura despontar no meio educacional sob o comando da
família de Honório José de Abreu procurando dar seus primeiros passos rumo a
Educação é o projeto Mecenato Memorial João Capistrano de Abreu. A Instituição
ao se localizar no espaço da antiga “Casa Grande”, à cata de apoio financeiro e polí-
tico para sua implantação, apresenta como objetivos:
a. resgatar e preservar a memória do historiador João Capistrano de Abreu, mem-
bro da Academia de Letras do Ceará e Presidente de Honra da Academia de
Ciências, Letras e Artes de Columinjuba;
b. construção de um projeto integrado que permita receber o acervo histórico e
cultural produzido por João Capistrano de Abreu e difundi-lo para estimular a
produção e divulgação cultural e artística regional;
c. desenvolver um programa sociocultural nas populações dos distritos de Maran-
guape;
d. fazer surgir um complexo sociocultural em benefício de uma população carente
de oportunidade para alcançar um bem social aceitável;
e. possibilitar a instalação de um complexo escolar com a utilização das salas de
múltiplo uso e de um anfiteatro equipado para a população carente;

243
f. criar um foco irradiador de desenvolvimento científico, cultural e artístico com
base na estrutura da Academia de Ciências, Letras e Artes de Columinjuba, e
das secretarias voltadas para a cultura no município de Maranguape e no Estado
do Ceará. Com tamanho aparato soco educacional disponível, nossos familiares
dispõem atualmente de mecanismos capazes de resgatar todos que desejem ob-
ter conhecimento.
Entretanto, a ACLA com 21 anos de funcionamento e o Columinjuba Clube
com mais trinta ainda não conseguiram retirar a névoa da ignorância que se instalou
nas mentes das quase cinco mil pessoas, descendentes de Honório José de Abreu,
sofrendo atualmente de “niilismo” do saber.
A maior de todas as flores que existe atualmente no seio da família dos
descendentes de Honório José de Abreu voltada para desenvolvimento educacional
se encontra atualmente localizada na sede do Município em Maranguape, o Colégio
Sebastião de Abreu criado após dez gerações por descendentes dos Abreu-Machado
tendo à frente Valeska de Abreu Machado e família.
Em 2014, essa Instituição escolar completou 30 anos de existência, apoiada
pela sociedade maranguapense mantendo os mesmos objetivos e ideais de seus fun-
dadores. Em 1986, o Colégio apresentou seus primeiros resultados funcionando
como Escola de Ensino Fundamental, para logo em 1989, formar a primeira turma
do Ensino Médio.
Desde então, essa Instituição procura manter seu lema “Educar com liber-
dade e responsabilidade para um mundo melhor”. Estando sempre atenta ao cresci-
mento de seus participantes semeando a cidadania e se empenhando em promover o
desenvolvimento de seu público juntamente com as famílias locais.
O grandioso trabalho envolvendo a manutenção dessas Instituições tem sido
conduzido com extrema dificuldade pelas famílias constituintes do núcleo de Pedro
de Abreu e Fca. Amélia de Abreu, encabeçadas principalmente por Walfredo de
Abreu Machado e Elio de Abreu Braga sem os quais as mesmas já teriam sido extin-
tas conforme argumentos de muitos descendentes e principalmente da falta de apoio
das forças políticas do Município de Maranguape.
Do exposto falta, por partes dos descendentes da Família Abreu de Maran-
guape, o interesse e o entendimento do que seja cidadania bem como praticá-la pelo
menos no seio familiar. Visto sermos possuidor de amplo aparato acadêmico que vem
se perdendo por falta de Educação que não foi adquirida nem por nossos ancestrais e
tampouco por seus descendentes.

244
10

Espinhos
da Família de
Honório José de Abreu

A doença (do latim dolentia, padecimento) designa na medicina clássica e


mecanicista um distúrbio das funções de um órgão, da mente, do organismo que está
associado a sinais e sintomas específicos. Ela é uma maneira simbólica de representar
de onde e como o organismo se constituiu e de como ele vem interagindo com o
ambiente.
Pode ser causada por fatores quaisquer, como (infecção) e por disfunções.
Resulta de consciência da perda da homeostasia de um organismo vivo, que pode ser
total e parcial, estado este que pode ocorrer devido a infecções, inflamações, isque-
mias, modificações genéticas, sequelas de trauma, hemorragias, neoplasias e disfun-
ções orgânicas.
A doença sendo um argumento simbólico não consensuado socialmente e
não determinada fisicamente é considerada uma alteração na pessoa que se manifesta
nos níveis molecular, corporal, mental e comportamental, etc.
Como se vê nunca se conseguiu definir realmente o que seja a palavra “do-
ença”. Muitas pessoas consideram que ela é um espinho na carne e que a mesma não
deve existir nos humanos.
Comentar acerca de “espinhos” na família dos descendentes de Honório
José de Abreu é problemático, face as posturas assumidas por muitos familiares.
Existem aqueles que se consideram progressistas argumentando ser homo-
fobia, cerceamento de direitos humanos e até mesmo pré-conceito, quando nada sa-
bem acerca do significado do que seja um “conceito” e muito menos de um “pós-
conceito”, julgando quem escreve acerca do assunto tratar-se de pessoas “quadra-
das”.

245
De outro modo os conservadores e discriminadores se arrepiam com tal as-
sunto preferindo não discuti-lo, considerando uma “opção” pessoal, fazendo vistas
com olhares de soslaio para tal desdita. Entretanto, a questão quando devidamente
explicada possui caráter social mais que cultural, pois até os deuses oriundos da mís-
tica tem seus espinhos simbólicos, não sendo assim tal assunto pertencente ao domí-
nio biológico e clínico.
No fim do inverno em que a Natureza se recolhe, qual incubadora da vida,
brotam por todo o lado as flores da primavera, um contraste. A vida humana sobre a
Terra pode estabelecer-se pelos contrastes. É nesta luta sonhando com o céu, mas
presos à terra, que temos de viver o nosso itinerário no mundo.
A vida requer cuidados. Os amores também. Flores e espinhos são belezas
que vivem e se dão juntas revelando o amor. Não queira uma só, elas não sabem viver
sozinhas. Quem quiser levar uma flor para a vida, terá de saber que com elas vão os
espinhos. Não se preocupe a beleza da flor vale a presença dos espinhos.
Na sociedade quando somos limitados por compreensões de mundo, falta
de conhecimento e desvios de comportamentos, isto produz nossos espinhos na vida.
Como vencê-los e superá-los?
Todos nós temos espinhos na carne. Nossos espinhos podem ser, entre ou-
tras questões, orgulho, egoísmo, avareza, uma limitação física, pode também ser um
amor pecaminoso, um vício hormonal que é mais comum do que se imagina princi-
palmente em todos/as os/as adolescentes.
Mas o problema não é o "espinho na carne" mas sim admitir que ele existe.
É encarar como ocorreu com o apóstolo Paulo, pode ser que nunca se obtenha a "li-
bertação" tão desejada.
A vida nos ensina que não devemos fugir dos "nossos espinhos", fingir que
não existem, não vamos lutar contra eles e muito menos nos apavorar e desistir de
viver é tolice. Porque todas essas atitudes farão com que eles ganhem mais força em
nós.
O apóstolo Paulo afirmou que teve visões e revelações — foi levado ao
paraíso e ouviu o que ninguém ouve e soube contar —, e que por causa disso foi-lhe
enviado da parte do Santíssimo um mensageiro de Satanás para que o esbofeteasse,
a fim de que ele não se ensoberbecesse com os ensinamentos que estavam sendo
revelados.
Paulo pediu ao Pai celestial três vezes para ficar livre daquele “espinho na
carne”. O Senhor, todavia, não o removeu, tendo apenas dito a ele “A minha Graça
te basta, porque o poder se aperfeiçoa na tua fraqueza”. Que espinho era esse? Muita
gente fez considerações diferenciadas acerca do assunto. O espinho na carne de Paulo
interessa pouco saber qual era. Interessa mesmo é saber que ele tinha que estar lá.

246
Qual a origem dos espinhos em uma sociedade e numa família como a
nossa? Os argumentos são unânimes com relação ao “estresse”, quando sabemos que
todas as alterações de comportamento, problemas familiares e doenças que se tornam
crônicas são frutos deste elemento avassalador que se tornou predominante na esfera
da globalização.
A sociedade ocidental é caracterizada pela valorização das questões indivi-
duais, renovação permanente, culto às aparências, consumismo e a liderança das re-
gras globalizadas que confirma a conhecida Regra do Barro, derivada de Maquiavel
“Na obtenção do sucesso, destrua seus inimigos e se necessário seus amigos tam-
bém”.
Para esta sociedade consumista, promover a aparência e o exagero tornou-
se fundamental, os produtos industrializados tem função primordial neste contexto,
uma vez que os objetos consumidos apresentam uma lógica social pautada nos sig-
nificados dos grupos ao qual pertencem, representando importantes fatores de iden-
tificação social.
Paradoxalmente, a sociedade consumista emerge em um momento marcado
pela falta de referências. Aliado a isto, encontra-se em um contexto de globalização
da economia, de reestruturação industrial e de uma lógica de mudanças rápidas, pau-
tadas na evolução tecnológica, no desenvolvimento de diversos produtos e suas rela-
ções de consumo e significado social, esquecendo de si, do outro e da sua ligação
ética com o social, com o próximo e com a vida. Como tudo isso começou?
Antes do surgimento da filosofia e da ciência, existiam várias explicações
para as transformações e fenômenos que ocorriam na Natureza, porém com o passar
do tempo tais explicações não satisfaziam mais as pessoas pela falta de coerência.
Foi então que surgiu a necessidade e o interesse em colher informações pre-
cisas acerca de questões que se relacionavam com as explicações envolvendo origem
(gênese) e princípio (a priori).
Os primeiros filósofos, buscavam as respostas na Natureza e procuravam
por meio destas explicações para a origem, sem nunca encontrá-las e a ordem do que
ocorriam, se perguntando como tais transformações poderiam acontecer, desejavam
entender alucinadamente qual era a origem da existência.
Para melhor compreensão, pense: “o que nasceu primeiro: foi o ovo? Foi a
galinha?” A partir desse pensamento paradoxal é que podemos comparar o que fize-
ram os primeiros pensadores e seus seguidores na história.
Ovide Decroly, um pensador interessado no assunto, nasceu em 1871, em
Renaix, na Bélgica, filho de um industrial e de uma professora de música. Como
estudante, não teve dificuldade de aprendizado, mas, por causa de falta de disciplina,
foi expulso de várias escolas.

247
Mais tarde preconizaria um modelo de ensino não-autoritário e não-religi-
oso. Formou-se em medicina e estudou neurologia na Bélgica e na Alemanha. Sua
atenção voltou-se desde o início para as crianças com limitações mentais e necessi-
tadas.
Esse interesse levou Decroly a fazer a transição da Medicina para a Educa-
ção. Por essa época criou uma disciplina, a "pedotecnia", dirigida ao estudo das ati-
vidades pedagógicas coordenadas ao conhecimento da evolução física e mental das
crianças.
Fundou a École de Ermitage, em Bruxelas, para crianças consideradas "nor-
mais". Uma escola, que se tornaria célebre na Europa, servindo de espaço e experi-
mentação.
Decroly escreveu mais de 400 livros, mas nunca organizou seu método por
escrito, por julgá-lo em construção permanente. Morreu em 1932, em Uccle, na re-
gião de Bruxelas.
A compreensão desse paradoxo é fundamental no pensamento de Decroly.
Segundo ele, a necessidade gera o interesse e somente essa via leva ao conhecimento
e nunca ao isolamento.
Influenciado pelas ideias sobre a natureza da pessoa preconizadas por Jean-
Jacques Rousseau, ele atribuía às necessidades básicas a determinação da vida inte-
lectual.
Para Decroly, as quatro necessidades humanas principais são comer, abri-
gar-se, defender-se e reproduzir, as quais nunca sobrevivem sem Educação. Tal fato
atualmente tomou conta do planeta, o interesse social que ocorre quando as circuns-
tâncias impõem a distribuição e o condicionamento da propriedade para seu melhor
aproveitamento, utilização e produtividade em benefício da coletividade e de catego-
rias sociais merecedoras de amparo específico, foi mandado embora.
E aí, surge um questionamento: como poderia o interesse individual ser pri-
orizado em detrimento ao social, visto que até a Administração Pública tem o dever
de atender aos anseios da coletividade? E a nossa resposta para essa indagação é que
o geral, e o individual se perderam no conflito da conhecida Lei do Barro, onde os
interesses prevalecem sobre as necessidades, destruindo tudo quanto de comunitário
e cultural foi construído.
Estamos vivenciando pela primeira vez em nosso planeta, a ocidentalização
e a maturidade perceptiva de muitas pessoas nas sociedades civilizadas e tecnologi-
camente desenvolvidas, isto causa mudanças educacionais profundas nas pessoas.
No Brasil segundo as projeções da OMS - Organização Mundial de Saúde,
atualmente a proporção de pessoas estereotipadas como “idosas” já supera a casa dos

248
dez milhões, reservando para o ano 2025 da era atual mais de trinta milhões, o que
nos coloca como a quinta maior potência mundial em números destas pessoas.
A transição demográfica nos países tecnicamente desenvolvidos se deu de
modo gradual, ao longo de um período maior, ao contrário do que vem ocorrendo
nos países em “desenvolvimento” como no Brasil.
Em todo o mundo, atualmente os idosos são a parcela da população que
mais cresce, sobretudo os “muito idosos”, com mais de 80 anos, com suas necessi-
dades de atenção social e serviços de saúde que exigem custos elevados, um pro-
blema característico dos descendentes da família de Honório José de Abreu, visto
termos sido abençoados com a longevidade genética.
Segundo a ONU - Organização das Nações Unidas, no ano de 2025 estima-
se a existência de 1,2 bilhões de idosos no planeta. Desses, três quartos estarão habi-
tando em países considerados “emergentes”, como o Brasil.
A mesma fonte informa que 77% dessa população estarão sujeitos à morte
antecipada, por falta de condições que lhes garantam qualidade de vida. A virada do
século encontrou nosso país com um contingente elevado de pessoas em idade acima
de 60 anos vivendo em zonas urbanas das capitais.
O prolongamento do viver humano e os custos do envelhecimento popula-
cional fornecem um quadro alarmante e desafiador para a nossa sociedade e os “co-
fres” do país.
O declínio da família extensa, combinado com um Estado que não é capaz
de resolver os problemas básicos da população, causados por endividamentos e pela
marginalização provocada por falta de emprego e trabalho digno, nos conduz de volta
ao fenômeno conhecido por “mercadores sociais”, os “terceirizados”, deixando todos
e principalmente os idosos em situação de extrema vulnerabilidade.
O estado de estresse em que vivem muitas dessas pessoas é crônico e as-
sustador. O fato deste problema estar presente em todas as faixas etárias confere,
principalmente aos idosos, uma periculosidade única, no sentido de que sua preva-
lência é extremamente elevada.
Como estas pessoas podem conviver com esse pesadelo, mesmo sabendo
que suas limitações são cada vez mais acentuadas?
Qual será, o sentido da vida para essas pessoas, diante de tantas limitações?
Como superar estas dificuldades? Será válido utilizar sua experiência e passar daí
para frente e reformular a “ótica” de se viver? Popularmente utilizada no século
XVII, a palavra estresse é originária do latim e pode significar tensão, adversidade,
doença e até aflição.
Atualmente, seu entendimento tomou outra conotação, denotando qualquer
tipo de tensão e pressão exagerada e contínua sobre o organismo de cada pessoa e de

249
outros seres vivos. Mas foi apenas no início do século XX, após o advento imperioso
da industrialização, marco da era moderna, que pesquisadores e cientistas, de modo
geral, resolveram investigar o efeito dessas tensões na vida das pessoas.
A magnitude do estado de estresse nas pessoas já foi reconhecida até mês-
mo na indústria. É sabido, através de informações ligadas à área clínica, que os efei-
tos do estresse (medo, ansiedade, preocupação, raiva, excitação, etc.) causam reações
físicas e comportamentais genuínas e doenças múltiplas nos humanos.
Estimativas relatadas por clínicos dão conta de que mais de três quartos das
doenças, são provocadas por ações envolvendo o estado de estresse.
Muitos dizem que o estresse não é doença mas pode provocar doença, por
ser considerado a soma de respostas físicas, comportamentais e mentais causadas por
determinados estímulos externos e que permitem ao indivíduo (humano e animal)
superar exigências do meio ambiente e o desgaste físico e mental causado por esse
processo.
O estresse pode ser causado pela mudança brusca no estilo de vida e a ex-
posição a um determinado ambiente. Entretanto, para acabar com a confusão entre
termos, e percebendo que a palavra “doença” não apresentava mais qualquer sentido
no mundo físico, as novas abordagens utilizadas pela Medicina decidiram adotar ou-
tra palavra para substituí-la a qual passou a ser denominada de “estresse”.
No final da década de 1980, os relatos no mundo acerca da saúde, segundo
BIRD - Banco Interamericano de Desenvolvimento evidenciaram que, dos diferentes
tipos de estado de estresse, o mais destrutivo encontra-se ligado à depressão por rea-
ção comportamental e não à crise da falta de emprego, como muitos pensam.
Ninguém está imune ao estresse, todas pessoas são vulneráveis, quer seja
alguém dito muito responsável, quer nada faça, desde o/a executivo/a até ao mais
simples empregado/a, todos/as estão sujeitos a sofrer por doenças provocadas pelo
estado de estresse.
Porque somos tão suscetíveis ao estresse? A resposta a esse paradoxo apa-
rentemente que não se contesta é bastante simples. Nossos corpos foram “programa-
dos”, há milhares de anos, para viver num mundo em que lutar e correr eram simples
soluções de convivência úteis para os problemas diários.
Nos encontramos física e mentalmente ultrapassados para as condições e
tecnologias surgentes. Não estamos acostumados a trabalhar com a imaginação, in-
formação e instrumentalização envolvendo símbolos, apenas fomos treinados, ao
longo da existência, para viver o mundo sensorial ligado às três dimensões, chamado
de senso comum.
O problema é que a estruturação do contexto social mudou muito mais rá-
pida do que a adaptação do corpo a essas transformações. Ainda, não conseguimos

250
nos ajustar às rápidas modificações tecnológicas, tais como informatização, robótica
e automação. As três retiraram o foco das ações dos sentidos para as atitudes mentais
onde predominam a imaginação e a construção de esquemas simbólicos das informa-
ções existentes a nossa volta, indicando novos caminhos e atitudes.
Modas, temas e procedimentos nunca mudaram tão rápido como nos últi-
mos tempos, mas isso pouco importa, pois o cérebro sempre irá conviver com os
problemas atuais e os anteriores.
Em nosso corpo, sangue e ossos, estão registradas informações que não fo-
ram ainda assimiladas adequadamente. São necessários anos para que isto possa
ocorrer sem transtornos que envolvam a Genética.
A todo o momento envolvemo-nos com problemas, ansiedades, preocupa-
ções e crises. Nada disso afeta a nossa forma de viver, mas tudo é importante; entre-
tanto, tudo altera o nosso estilo de vida. E então tudo ameaça a todos nós.
O resultado, é que o cérebro reage a cada uma dessas ocorrências de modo
distinto, modificando a cada momento seus registros e o nosso estado físico.
O corpo responde a todas essas agressões do único modo que aprendeu;
reage, sempre, no sentido de aumentar suas chances de sobrevivência criando espi-
nhos em nossa estrutura de todas as formas e ordem.
É uma reação superada e não adequada. Ele reage assim porque não pode
assimilar as repentinas mudanças dos últimos séculos de um mundo científico e tec-
nológico avassalador.
Nosso organismo ainda se comporta de modo simples e rude. Modificamos
tanto o ambiente a nossa volta que não conseguimos mais viver confortavelmente.
Enquanto, de um lado, existe um movimento frenético imposto às nossas ações e
desempenhos comportamentais, do outro temos uma falta de mobilidade corporal,
causada por não praticarmos mais exercícios, o que nos torna cada vez mais seden-
tários.
É de espantar que trabalhadores em fábricas e até mesmo de escritórios, na
faixa dos quarenta anos de idade, tenham, em sociedades tidas como civilizadas e
desenvolvidas, como no Canadá, Japão, EUA e Europa, onde a expectativa de vida
situa-se em torno dos 80 anos, pressão alta, úlcera péptica, insônia, dores lombares e
muitos outros problemas de natureza física e comportamental.
Estamos atualmente, expostos à pressão e ao estresse geral, e reagimos pra-
ticamente do mesmo modo simples e ultrapassado que não nos atende mais. Os pro-
blemas podem até variar, mas não as nossas reações. Nas indústrias, o maior desper-
dício na produção é causado diretamente pelo fator estresse.

251
Ele tem um papel vital na determinação do número de licenças para pessoas
que sofrem de doenças cardíacas, resfriados, tensão pré-menstrual, menopausa, pres-
são alta, ulceração, dor de cabeça, problemas imunológicos, doenças de pele, etc.
Há dados laboratoriais mostrando que o número de pessoas que morrem por
problemas provocados pelo estado de estresse está aumentando cada vez mais nas
sociedades civilizadas.
A falta de felicidade, frustração, tédio, motivação e o chamado excesso de
responsabilidade são causas geradoras do estado de estresse que podem levar uma
empresa à pouca produtividade, com empregados em reduzido desempenho, por si-
tuações não reveladas e não detectadas. Mas não é tanto a existência do estado de
estresse que causa o problema, e sim o modo como reagimos a ele.
Não são as mudanças e as pressões que produzem ansiedade e dor, mas a
falta de capacidade das pessoas enfrentarem as dificuldades e tensões provocadas por
essas mudanças.
Todos temos limites de estresse bem estabelecidos. Numa ponta do “espec-
tro” podemos ter uma quantidade de atividade, enquanto na outra apenas certa quan-
tidade de não-atividade. Quem apresenta um baixo limiar ao estado de estresse tende
a reagir quando submetido a qualquer tipo de pressão diária, esteja e não ocupado. O
tédio por exemplo, pode ser uma ruína como ocorre com muitas pessoas aposentadas.
Se a distância entre os limites do estado de estresse for pequena, a pessoa
estará propensa a sofrer com ele. E se for grande, também poderá sofrer, mas de todo
modo sofrerá, pois não estamos ajustados e não houve experienciar suficiente para o
corpo assimilar as mudanças tecnológicas com seus ritmos cada vez mais alucinantes.
É o modo pelo qual as pessoas reagem ao estado de estresse que causa o
sintoma, pois a maioria das pressões que nos atingem não é mais visível.
Não é o que realmente ocorre a nossa volta, mas o que imaginamos que
possa ocorrer. O mal produzido pelo estado de estresse é todo efetivado no cérebro
simbólico localizado no neocórtex considerado o mais importante de todos, tendo
consequências diversas em nosso corpo.
Não são o mercado financeiro, as taxas de inflação, os juros crescentes, o
pouco controle de qualidade e os fornecedores que não têm competência, que causam
problemas de saúde e gasto de trabalho perdido, mas o modo pelo qual reagimos
mentalmente a isso, pois frequentemente inventamos novos medos e tensões sem
motivos, para viver o dia a dia.
Outro fator que tem grande influência sobre o modo como as pessoas rea-
gem às situações estressantes é a natureza de sua personalidade, denominada de “ca-

252
ráter”. Além deste, o corpo reage ao estado de estresse e a personalidade, como ex-
pressão do que somos socialmente, determinando o tipo de enfermidade que pode ser
desenvolvida.
Na década de 1960, muitos clínicos denunciavam que as pessoas mais pro-
pensas aos ataques cardíacos são geralmente do sexo masculino e que estão subme-
tidos, por longos períodos, a enormes pressões ambientais e mesmo assim sequer
chegam a se dar conta.
Elas, com suas personalidades “cardíacas”, normalmente têm um enorme
desejo de competir e de vencer, principalmente com a entrada do sexo feminino no
mercado de trabalho, o que corresponde somente no Brasil a mais de 50% da popu-
lação economicamente ativa, segundo os dados do IBGE – Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística.
As evidências ligadas à personalidade e às falhas do sistema imunológico
causadas pelo estresse, são antigas, remontam ao século II quando se percebeu que
as pessoas deprimidas desenvolviam mais enfermidades que as consideradas felizes.
Tem-se uma quantidade considerável de informações e dados laboratoriais
confirmando essa observação. Estas pessoas geralmente tendem a exagerar nas ten-
tativas de “agradar” aos outros, ocultando seus desejos, sublimando-os para determi-
nados propósitos, sem, contudo, obterem êxitos.
A personalidade tem relação com o estado de estresse exercendo um papel
importante. Ela determina o tipo de esquema mental criado e o modo pelo qual reage-
se às tensões e pressões que são inerentes a esse esquema elaborado. Mas são os
pensamentos transformados em imaginação que comumente afetam os nossos cor-
pos. Entretanto, são as personalidades que decidem como isso será feito.
Quando afirmamos que o estado de estresse está presente no cotidiano da
pessoa, queremos dizer que diversos tipos de fatores físicos, mentais e ambientais
estão agindo continuamente sobre o corpo, percepção e comportamento.
A simples existência do estado de estresse tende a diminuir a resistência às
enfermidades, alterar procedimentos e a determinar o ritmo de nossas ações. Um
ponto em comum é que ele está associado geralmente a distúrbios emocionais, tais
como medo, ansiedade, depressão, fracasso, agressividade e hostilidade.
Os efeitos do estado de estresse são tão abrangentes que podem provocar
distúrbios teciduais, musculares, dor de cabeça e demais problemas ligados à estru-
tura de qualquer pessoa.
Os mecanismos neurofisiológicos e hormonais inerentes ao estado de es-
tresse são muito primitivos, visto serem transferidos em parte geneticamente de ge-
ração em geração.

253
Apesar de os mecanismos utilizados para responder às situações estressan-
tes permanecer quase que os mesmos, é provável que a resposta da pessoa ao estado
de estresse tenha se alterado de algum modo, porque o comando inicial é realizado
no cérebro em nível instintivo via linha de pensamento simbólico e racional, sendo
concluído no sistema chamado hipotalâmico-hipofisário, continuamente alterado,
porque os estressores atuais já não são mais os mesmos de antes.
Estudos mostram que, geralmente, o estado de estresse pode vir acompa-
nhado de ansiedade e medo, como em pessoas consideradas de personalidade “rígi-
da”, aquelas que se escondem atrás de posições dogmáticas que exigem obrigatorie-
dade no agir, com tônus não regulado e com seus conflitos não solucionados.
Este movimento vai aos poucos criando nas pessoas um “caos orgânico”,
envolvendo-os num estado de estresse crônico.
O que chamamos de falta de tempo, responsabilidade, e dedicação a um
grande número de tarefas, que caracterizam a grande “loucura” da modernidade, está
relacionada diretamente com a falta de afeto, vínculos, carinho e cada vez mais com
a negação de sentimentos, ternura, religiosidade e com o pulsar das emoções ao acei-
tarmos toda esta fantasia tecnológica. Vive-se o conflito do consumismo imposto
pela mídia, que conduz a pessoa a seguir para lugar nenhum.
Assim, ela vai se fragmentando e sua compreensão se compartimentali-
zando, face à competição gerada pelos próprios especialistas produtores desses bens.
O território preservado pelos nossos ancestrais para uma vida com quali-
dade, acabou-se progressivamente no campo e nas grandes cidades, com a utilização
sem planejamento da verticalização, única forma de abrigar cada vez mais pessoas
em áreas onde o lazer não mais existe.
Estamos esquecendo que o agir humano delimita seu “espaço” de funcio-
namento mental, o qual se efetiva no mundo físico, e quando isto não pode mais ser
obtido, a hostilidade, a hiperatividade e os distúrbios musculares se associam a um
comportamento reprimido, pronto a explodir a qualquer momento.
Que cada pessoa necessita de um mínimo espaço para se locomover, rela-
cionar-se, trabalhar e atender as suas necessidades, é um fato, assim como os animais
demarcam e precisam de locais para viver.
Quando esse “espaço” é invadido e suprimido, surgem atitudes de defesa,
onde a agressão se desenvolve espontaneamente, sem notarmos pois, as espécies de
seres vivos foram feitas para viver em colônia, em grupo e em sociedade, dentro de
um contexto mínimo estabelecido.
Cada vez mais perdemos a oportunidade de ter nossos momentos de ficar
com entes mais próximos, até porque, com a redução e o esfacelamento gradativo da

254
Família, não se possui mais o mesmo poder aglutinador, que foi substituído pela
competição consumista, incentivada pelo imediatismo e materialismo hediondo.
A presença do estado de estresse pode ser observada e avaliada através da
ausência de conforto religioso, equilíbrio mental, momentos em que permanecemos
com as pessoas que gostamos, nível de humor, indulgência e tolerância com os outros
em suportar frustrações do cotidiano e pela forma como isto se manifesta na pele em
termos de alergias e nos músculos esqueléticos em forma de rigidez e mal-estar.
Os humanos parecem ser um dos poucos animais que utilizam “mecanis-
mos ante estresse”, para se proteger dos perigos ambientais e das agressões do pró-
prio organismo, que resultam em medo e falta de conforto.
A pele se altera, surgem erupções, eczemas e pústulas, enquanto os múscu-
los se tornam rígidos, com pouca mobilidade, como uma “couraça” protetora expres-
sando sua natureza instintiva contra tais agentes agressores conforme se observa nas
pessoas gordas e nas magras em demasia típico daquelas denominadas adeptas de
“padrões” modelares e anoréxicos.
Atualmente, essa “corrida” sem precedentes tem geralmente terminado em
salas especializadas para tratamento cardiovascular e em clínicas de repouso, quando
não em emergência hospitalar.
É uma “luta” contínua travada pelas pessoas que não conseguem ver, ouvir
e se defrontar com este “não amigo” que não é visível e que a todo o momento ator-
menta a maneira de viver, pois todo o jogo ocorre no cérebro simbólico do nosso
agir.
Estas reações podem conduzir a um estado de tristeza e depressão, onde as
pessoas não se tornam mais capazes de qualquer reação e busca de sentido para viver.
A depressão, como forma de fragmentação extrema da mente, torna-se, logo que se
associa às drogas farmacêuticas a última tentativa, quase sem sentido em busca de
mudança.
Por isso ela é considerada o problema de saúde que mais debilita as pessoas
nas culturas industrializadas, segundo relatório BIRD.
Daí para frente tem-se início um processo de “morrer social”, seguido da
morte física. O resultado é uma alteração prematura na estrutura física em que a qua-
lidade de vida sucumbe, com o surgimento e a implantação dos mais variados tipos
de patologias e enfermidades que terminam geralmente em câncer.
Este agente estressor é tão potente que é capaz de provocar vários tipos de
respostas. Os problemas emocionais, resultantes se agravam e, em consequência, in-
duzem à frustração, falta de potência, estabilidade emocional e alteração da persona-
lidade, com o uso de drogas que não são lícitas, levando geralmente à homossexua-
lidade, ao lesbianismo e à prostituição.

255
A resposta e reação que o corpo dá a este “hospedeiro” irá depender da
intensidade e da constância que o problema apresenta.
O mal-estar com longa duração, a preocupação, a hostilidade, a raiva, a an-
siedade, o medo e qualquer estado mental não confortável, associado e expressado
em termos de estresse, são interpretados pela unidade cerebral como sérios agentes
ameaçadores, com capacidade para desencadear respostas que tanto podem ser neu-
roquímica, muscular, respiratória quanto imunológica.
Os efeitos que não são desejáveis desse processo oriundo dos estressores,
tais como fadiga, tensão muscular e baixa imunidade podem emergir por conta de
vários eventos, desde a morte de um ente querido, a separação de um familiar e até
uma discussão no trabalho com o colega, como estamos vivenciando atualmente nos
descendentes da família de Honório José de Abreu.
De modo geral, os efeitos do estado de estresse têm sido subestimados pelas
pessoas, que se dispõem a mudanças em seu estilo de vida somente quando os dis-
túrbios já se tornaram estabelecidos e crônicos.
A alta prevalência de alterações hormonais, gastrintestinal e cardiovascular
na população mundial atesta o fato de não se ter conhecimento de seus efeitos, bem
como das medidas preventivas.
O estado de estresse pode potencializar o aparecimento de alterações coro-
narianas pelo efeito ativador das plaquetas que desencadeiam o processo de arterios-
clerose facilitando a aterogênese, formação de trombos oclusivos e constrição dos
vasos sanguíneos. Ele pode ainda estar envolvido com o surgimento de oclusão vas-
cular, espasmo, morte súbita, angina e infarto do miocárdio.
A abordagem que tem produzido resultados esperados na superação do es-
tado de estresse e suas causas encontra-se muitas vezes, nas várias formas de terapias
de aconselhamento.
Mas este pesadelo não pode ser solucionado pela tecnologia e sim através
da Educação e de práticas, como “instrumentos” capazes de produzir um estilo de
vida saudável.
A sociedade sempre considerou o estresse como espinhos na carne criados
pela humanidade gerando desvios tipo: doenças, uso de drogas, crimes, prática de
prostituição, roubos, homossexualidade, lesbianismo e tantos outros problemas que
a falta de Educação permite.
Muitos dos descendentes da família de Honório José de Abreu são enqua-
drados em alguns destes perfis. Se formos investigar mais de perto, talvez que ne-
nhuma família esteja isenta de tais espinhos causados pelo estresse em seus compo-
nentes.

256
O uso de drogas pela nossa espécie é bem antigo e, inclusive, muitas civili-
zações recorriam a substâncias psicoativas, encontradas em plantas, para serem uti-
lizadas em rituais religiosos.
O uso de drogas tipo tabaco, cigarro e bebidas alcoólicas conviveram e
ainda convivem com os Honório de Abreu e as enfermidades crônicas.
Embora haja drogas mais perigosas do que outras e que criam uma depen-
dência severa, todas elas contribuem para a falta de interesse e motivação das pessoas
em relação à sua vida e ao futuro quando não se têm Educação.
O alcoolismo muito consumido por familiares é entendido como a absorção
consistente e excessiva de bebidas alcoólicas a ponto que este comportamento inter-
fere na vida da pessoa resultando em enfermidades, assim como, por fim, atingir a
morte.
Outros espinhos carnais que invadiram no século XX os descendentes da
família de Honório José de Abreu, foram a prostituição disfarçada e em especial a
homossexualidade e o lesbianismo, distúrbios estes provocados por exageros de cri-
ação materna, desagregação familiar, falta de orientação paternal e influência de
companhias resultante de ambientes sociais onde a ausência do conhecimento é o
maior destaque.
A homossexualidade e o lesbianismo são alterações comportamentais,
inclusas nas categorias de vivência sexual, juntamente com a bissexualidade, a
heterossexualidade e a assexualidade, além de serem registradas em cerca de cinco
mil espécies animais, incluindo minorias significativas em seres diversos como
mamíferos, aves e platelmintos.
A prevalência da homossexualidade e do lesbianismo entre os humanos não
é difícil de explicar, pois se encontram ligadas a distúrbios ocasionados no cerébro
comportamental e principalmente no cérebro simbólico, este último uma área do
neocórtex que as outras espécies de animais não desenvolveram como a linguagem,
a moral e a ética, sendo muito presente na decadente sociedade ocidental moderna.
Será que uma pessoa se torna homossexual durante a vida, será que já nasce
com essa tendência? Existe gente que acha que os homossexuais já nascem assim.
Outros, ao contrário, dizem que a conjunção da genética, do ambiente com a figura
dominadora do genitor do sexo oposto é decisiva na expressão da masculinidade e
feminilidade.
Os que defendem a influência do meio têm ojeriza aos argumentos genéti-
cos. Para eles, o comportamento humano é de tal complexidade que fica ridículo
limitá-lo à bioquímica da expressão de alguns genes.
Ao longo da história da humanidade, os aspectos individuais da
homossexualidade e o lesbianismo foram admirados, tolerados e condenados, de

257
acordo com as normas sexuais vigentes nas diversas culturas e épocas em que
ocorreram.
Quando admirados, esses aspectos eram entendidos como uma maneira de
melhorar a sociedade, quando condenados eram considerados um pecado e algum
tipo de doença, sendo, em alguns casos, proibidos por lei.
Desde meados do século XX a homossexualidade e o lesbianismo de modo
disfarçado, têm sido gradualmente não mais classificados como doença, não sendo
mais discriminadas em países considerados desenvolvidos.
Entretanto o estatuto jurídico das relações envolvendo essas pessoas ainda
varia muito de país para país.
Enquanto em alguns países o relacionamento entre pessoas do mesmo sexo
é legalizado, em outros, determinados comportamentos homossexuais são
considerados crimes com pena de morte.
As principais organizações mundiais de saúde, desde 1973, não consideram
a prostituição, a homossexualidade e o lesbianismo doença, distúrbio e perversão.
Elas não são consideradas prejudiciais à sociedade, desde que isentem a população
menor de idade.
Não sendo mais considerado um desvio sexual foram estabelecidas regras
para as Intituições sociais quanto às questões de orientação sexual.
Entretanto o problema não se encontra solucionado, apenas se torna
encoberto a ponto da Assembleia Geral da Organização Mundial de Saúde-OMS
retirar a homossexualidade e o lesbianismo da sua lista de distúrbios mentais,
passando a considerar discriminação contra essas pessoas, uma violação aos direitos
humanos e uma opção pessoal, sem contudo resolver a questão.
Outro espinho que tem se tornado avassalador e doloroso em toda sociedade
ocidental atingindo também os descendentes da familia de Honório José de Abreu,
são os casos de separação de casais e o surgimento de novas formas de acasalamento
e formação de Família.
Um assunto que pude conhecer e experimentar devido ter realizado quatro
vezes por falta de Educação que não me foi transmitida ao longo de minha infância
e adolescência por meus pais, não que eles desejassem, mas, pelo simples fato de não
terem tido, assim, como todos os seus irmãos e irmãs.
O casamento religioso é uma celebração em que se estabelece o vínculo
matrimonial segundo as regras de uma determinada religião. Este tipo de casamento
submete-se tão somente às regras da religiosidade que cada pessoa aceita e não
depende, segundo o fundamento em que celebra, do reconhecimento pelo Estado e
pela lei civil para ser válido.

258
Na Igreja Católica, o casamento é considerado "o pacto matrimonial, com
o objetivo pelo qual um homem e uma mulher constituem entre si uma comunidade
de vida e de amor, fundado e dotado de leis reguladas pelo Criador. Por sua natureza,
é ordenado ao bem dos cônjuges, como também à geração e educação dos/as
filhos/as”.
Para o cristão católico, o matrimônio é considerado pelo Código de Direito
Canônico como sendo "o pacto pelo qual o homem e a mulher constituem entre si o
consórcio íntimo de toda a vida, ordenado por sua índole natural ao bem dos cônjuges
e à procriação e educação da prole, entre batizados que foi elevado por Cristo nosso
Senhor à dignidade de sacramento”.
É, portanto, um dos sete sacramentos da Igreja, que estabelece uma união
entre um homem e uma mulher, e lhes dá a graça de se amarem, multiplicarem e
educarem os/as seus/as filhos/as. O vínculo conjugal nasce do pacto conjugal, isto é,
tem origem no consentimento.
Segundo Tomás de Aquino a causa do matrimônio é o pacto conjugal; a sua
essência é o vínculo e os seus fins são a procriação e educação da prole, a regulação
do instinto sexual e a mútua ajuda.
A doutrina da Igreja Católica estipula que o casamento é uma instituição
natural e um sacramento. Considera, portanto, esta instituição como sendo de "direito
natural", isto é inerente à natureza da pessoa e não depende da Revelação divina, é
uma instituição que existe de acordo com a "Lei Natural" que estabelece para ela
propósitos morais e éticos que antecedem à instituição do sacramento no tempo.
Resumindo, segundo o Catecismo da Igreja Católica, desde o início da
humanidade socializada, o Matrimônio é uma instituição natural estabelecida pelo
Criador, e que, desde Jesus Cristo, é além disso, para os batizados, um Sacramento.
O Magistério da Igreja sempre tem ensinado assim e esta doutrina vem
sendo repetida ao longo dos séculos em vários concílios ecumênicos e em muitos
documentos pontifícios de várias épocas. A Igreja reconhece por isto que ele é uma
vocação cristã e, para os esposos, um caminho de santidade.
Assim, a finalidade do matrimônio é, em primeiro lugar, a procriação e a
educação dos/as filhos/as; em segundo lugar, a ajuda mútua entre os esposos e o
remédio para evitar a concupiscência. O matrimônio católico estabelece os cônjuges
num estado público de vida na Igreja.
De acordo com a teologia sacramental católica, o efeito do Matrimônio,
enquanto instituição natural, é o vínculo entre os cônjuges, com as suas propriedades,
a saber, a unidade e a não dissolubilidade. Este vínculo é exclusivo e perpétuo, apenas
para quem aceita ser cristão católico.

259
Este sacramento produz efeitos sagrados para cristãos, quais sejam, o
aumento da graça santificante e a graça sacramental específica, que consiste no
direito de receber no futuro as graças necessárias para cumprir os fins do Matrimônio
e alcançar a santidade na vida conjugal, acolhendo os/as filhos/as responsavelmente
e educando-os.
É permitido contrair novo matrimônio uma vez dissolvido o vínculo
anterior por morte de um dos cônjuges, isto se deduz das Epístolas de São Paulo em
I Coríntios (7, 8 e 39), Romanos (7,3) e I Timóteo (5, 14).
O vínculo matrimonial é, por Instituição divina, considerado perpétuo e não
dissolúvel, uma vez contraído, não se pode romper senão com a morte de um dos
cônjuges. Esta doutrina foi sempre ensinada pela Igreja, Católica que insistiu, no
plano prático, no cumprimento jurídico e moral desta verdade exposta por Cristo.
A Igreja, por isto, declara que o Matrimônio não é obra dos humanos mas
de Deus e, portanto, as suas leis não estão sujeitas ao arbítrio pessoal.
Segundo o Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, os espinhos contra
este sacramento são a homoxessualidade; o adultério; o lesbianismo: a poligamia,
esta porque atenta contra a dignidade de homem e da mulher, contra a unicidade e a
exclusividade do amor conjugal; a rejeição da fecundidade, que priva o casal dos/as
filhos/as e o divórcio, que transgride a não dissolubilidade.
Para a Igreja Católica o divórcio civil não dissolve o vínculo conjugal,
mesmo que assim o estabeleça a lei, de tal modo que os divorciados não podem
contrair novo matrimônio religioso válido na Igreja enquanto viva o primeiro cônjuge
exceto se o casamento foi canonicamente anulado.
Uma pessoa divorciada que deseja manter-se na religião católica e que
tenha vida conjugal com outra pessoa está para todos os efeitos eclesiásticos em
situação de adultério um motivo pelo qual não pode receber a absolvição sacramental
nem se aproximar da comunhão eucarística enquanto perdurar esta situação.
A celebração do casamento católico é pública, na presença do sacerdote e
da testemunha qualificada pela Igreja e das outras testemunhas.
A idade mínima canônica para o matrimônio é para o homem a de dezesseis
anos completos e para a mulher a de catorze anos completos.
É necessário que haja manifestação livre e expressa por um homem e por
uma mulher de se doar mútua e definitivamente com "o fim de viver de uma aliança
de amor fiel e fecundo." O consentimento não é dispensável e não substituível,
devendo ser consciente e livre de constrangimentos e violência.
A Igreja Católica reconhece o casamento religioso com pessoas de outras
religiões e ritos mas, considera que este ato deve ser ponderado sendo obrigatória a
autorização por parte de uma autoridade eclesiástica.

260
Para a chamada Igreja Protestante, o casamento é uma instituição divina,
por meio da qual se estabelece uma aliança apenas entre os nubentes (homem e
mulher) e Deus, aliança essa de suma importância, e não dissolúvel.
Os pastores podem casar-se no mesmo estilo (homem-mulher), uma vez
que não há em nenhum lugar na Bíblia que apresente qualquer restrição nesse sentido.
Diversas congregações da Igreja Unida do Canadá exercem o seu direito de opção e
realizam “casamentos” até mesmo entre pessoas do mesmo sexo, que são
reconhecidos legalmente no Canadá.
Existem muitas outras seitas, sincretismos e congregações que realizam
bênçãos de uniões entre pessoas do mesmo sexo e cerimônias de compromisso, mas
de forma distinta do que se considera no casamento católico.
A maioria (acima de 97% nos Estados Unidos e 99% no mundo de acordo
com um estudo de 2002) das denominações cristãs são contra o casamento (civil e
religioso) entre pessoas do mesmo sexo.
No entanto a posição individual de cada membro é diferente e, apenas 55%
dos católicos nos Estados Unidos são contra o chamado casamento civil entre pessoas
do mesmo sexo no entanto, apenas um determinado número de Estados reconhece
legalmente esta situação no país.
O divórcio fora da Igreja Católica é o rompimento legal e definitivo do
vínculo de casamento civil. É uma das três maneiras de dissolver um casamento, além
da morte de um dos cônjuges.
O processo legal de divórcio pode envolver questões como atribuição de
pensão de alimentos, regulação de poder paternal, relação e partilha de bens,
regulação de casa de morada de família, embora estes acordos sejam complementares
ao processo principal.
Num divórcio, o destino dos bens do casal fica sujeito ao regime de bens
adotado no momento do casamento, e que geralmente em todos os países são:
separação de bens, bens adquiridos, e comunhão de adquiridos.
Os países onde mais ocorrem pedidos de rompimento do matrimônio são:
Estados Unidos, Dinamarca e Bélgica, com índices entre 55% e 65%. Em
contraponto, os países com menos incidência de separação são países católicos como
Irlanda e Itália com números abaixo de 10%.
O casamento introduzido no Brasil do tempo do Império era regido pelas
normas da Igreja Católica e o maior dogma referia-se à sua não dissolubilidade. Até
mesmo nas condições em que se autorizava o “divortium quoad thorum et
habitationem”, não havia rompimento do vínculo matrimonial.

261
O que ocorria era apenas a separação de corpos. Com a República e a
laicização do Estado em 1890, veio o estatuto do casa-mento a perder o caráter
confessional.
O casamento civil foi implantado no Brasil no ano de 1890 e não tratava da
dissolução do vínculo conjugal, mas previa a separação de corpos (chamado de
divórcio e contrapondo-se ao “divortium quoad thorum et habitationem”, que era
regido pelas leis da Igreja).
Eram causas aceitáveis para tal separação de corpos: adultério; sevícia e
injúria grave; abandono voluntário do domicílio conjugal por dois anos contínuos e
mútuo consentimento dos cônjuges, se fossem casados há mais de dois anos.
Com o Código Civil de 1916 foi introduzido o desquite (judicial e
amigável), como forma de pôr fim à sociedade conjugal. A sentença do desquite
apenas autorizava a separação dos cônjuges, pondo termo ao regime de bens.
Porém, o vínculo matrimonial permanecia. O divórcio somente foi institui-
do oficialmente com a emenda constitucional número 9, de 28 de junho de 1977,
regulamentada pela lei 6515 de 26 de dezembro do mesmo ano.
Com a lei 11.441 de 4 de janeiro de 2007, o divórcio e a separação
consensuais podem ser requeridos por via administrativa, isto é, não é necessário
ingressar com um ação judicial para efeito, basta comparecer, um advogado, a um
tabelionato de notas e apresentar o pedido. Tal facilidade só é possível quando o casal
não possui filhos/as menores de idade.
Em média no Brasil, nos tempos de hoje, um casamento dura cerca de 7
anos, sendo que em 70% dos casos quem pede o divórcio é a mulher. Em dados
fornecidos pelo IBGE-2008 o divórcio no Brasil cresceu 200% em 23 anos, com um
divórcio para cada quatro casamentos.
O que significa a pessoa casar na Igreja Católica e separar; se desquitar; se
divorciar nesse mundo atual; se envolver com drogas, crimes, assasinatos,
prostituição e homossexualismo?
Tais respostas dependem de muitos fatores que somos capazes de
compreender se tivermos conhecimento, mas, não são dignos de serem vividos, são
espinhos dolorosos que se fôssemos educados notadamente desde os primeiros anos
na infância os evitaríamos com certeza. A vinculação desses espinhos em nosso viver
tem preço elevado e não vale a pena ser pago.
Com relação a crimes hediondos, roubos violentos e assasinatos,
considerados os principais espinhos sociais da atualidade, os descendentes da família
de Honório José de Abreu, sempre se pautaram por manter-se distante de tais
infortúnios não contribuindo para elevação estatística de tais desmandos, agindo
sempre em busca de se manter como um grupo social familiar de referência.

262
11

Transgênicos
da Família de
Honório José de Abreu

Os métodos diagnósticos e terapêuticos utilizados em saúde foram sempre


avaliados no que concerne a seus benefícios. Essas questões tornaram-se relevantes
a partir da segunda metade do século XIX, quando o nascimento da ciência e da
indústria modernas iria marcar o início de um novo momento na história da humani-
dade. Novas tecnologias passaram a ser concebidas, desenvolvidas e tornadas acces-
síveis em quantidade.
Contudo, somente a partir da segunda metade do século XX foi que essas
novas tecnologias aplicadas ao campo da saúde passaram a ser desenvolvidas em
escala industrial. O crescimento das evidências sobre os efeitos de cada uma delas,
não por acaso, faz crescer as preocupações da sociedade com os seus efeitos adver-
sos.
A informática aplicada ao setor de saúde é um fato consumado e encontra–
se em processo de acelerado desenvolvimento. Acompanhar este crescimento verti-
ginoso é tarefa difícil, requerendo interesse e compromisso com o desenvolvimento
profissional, por exigir o estudo de uma área específica do conhecimento, onde sua
aplicação acompanhou as discussões mundiais sobre o desenvolvimento tecnológico
em termos de custo, benefícios, aspectos éticos e ideológicos.
Sobre o uso da tecnologia na saúde muitos consideram três categorias do
que pode ser chamado de tecnologia dos cuidados em saúde: a tecnologia biomé-
dica, a qual utiliza máquinas e aparelhos complexos na assistência ao usuário; a tec-
nologia da informação, que se refere à matriz eletromecânica utilizada para adminis-
trar e processar informações; e a tecnologia do conhecimento, caracterizada pela in-

263
terposição de aparelhos eletrônicos de forma a influenciar a prática técnica. Transgê-
nicos são organismos que, mediante técnicas de Engenharia Genética, podem ser
melhorados.
A geração de transgênicos visa organismos com características melhoradas
relativamente ao organismo original. Resultados na área de transgenia já são
alcançados desde a década de 1970, na qual foi desenvolvida a técnica do DNA
recombinante e técnicas conhecida como PCR (Reação em Cadeia da Polimerase). A
manipulação genética combina características de um e mais organismos de uma
forma que não aconteceria na Natureza.
Por exemplo, podem ser combinados os DNAs de organismos que não se
cruzariam por procedimentos naturais. A aplicação dos organismos transgênicos e
dos organismos geneticamente modificados em geral é a sua utilização em
investigação científica. A expressão de um determinado gene de um organismo num
outro a qual pode facilitar a compreensão da função desse mesmo gene.
Gene, na compreensão da Genética clássica, é a unidade fundamental da
hereditariedade. Na Genética moderna, o gene é uma sequência de elementos deno-
minados nucleotídeos do DNA que pode ser transcrita em uma versão de RNA.
O gene é um segmento de um cromossomo a que corresponde um código
distinto, uma informação para produzir uma determinada proteína e controlar uma
característica, por exemplo, a cor dos olhos. No caso das plantas, por exemplo,
espécies com um reduzido ciclo de vida podem ser utilizadas como "hospedeiras"
para a inserção de um gene de uma planta com um ciclo de vida mais longo.
Estas plantas transgênicas poderão depois ser utilizadas para estudar a
função do gene de interesse num curto espaço de tempo. Este tipo de abordagem é
considerado no caso de animais, sendo a Drosophila melanogaster (mosca da fruta)
um dos principais organismos usados como modelos.
Em outros casos, a utilização de transgênicos é uma abordagem para a
produção de determinados compostos de interesse comercial e na saúde por exemplo.
O primeiro caso público foi a utilização da bactéria Escherichia coli, que foi
modificada de modo a produzir insulina humana no final da década de 1970.
Várias informações contraditórias têm sido lançadas por diversos setores
quanto aos potenciais e danos que os organismos transgênicos possam provocar nos
seus consumidores. Em 1998, o investigador Árpád Pusztai e a sua equipe lançaram
pânico na Europa, ao afirmar que tinham obtido resultados que demonstravam o
efeito nefasto de transgênicos na alimentação de ratos.
Estes investigadores sofreram pesadas críticas da classe política e da
comunidade científica em geral. No entanto, ainda há controvérsia quanto à

264
interpretação dos resultados destes autores, opondo organizações não
governamentais ao crivo de alguns cientistas.
No entanto, até à presente data nenhum estudo clinico foi publicado que
tenha colocado em causa alguns estudos contraditórios. Esta discussão acentuou a
polêmica sobre quem deve ser responsável pela avaliação do impacto deste tipo de
produtos.
Argumentos a favor dos transgênicos na agricultura incluem a redução do
uso de compostos como herbicidas, pesticidas, fungicidas, microfertilizantes (que por
sua pequena estrutura, causam degradação do DNA Mitocondrial) e certos adubos,
cuja acumulação pode causar sérios danos aos ecossistemas a eles expostos.
As organizações ambientalistas questionam se os benefícios da utilização
destas plantas poderiam compensar os potenciais malefícios por elas causados.
As palavras “família eleita”, no Ocidente uma espécie de abordagem gené-
tica diferenciada relacionada ao mundo de parentesco deu origem a muitas ilações
capciosas. A maioria delas provém da falta de entendimento com a cultura e de uma
compreensão daquilo que se considera seu papel específico e sua responsabilidade.
Algumas pessoas não consideram os Honório de Abreu dotados de quais-
quer características, talentos e capacidades peculiares, tampouco que gozem de al-
gum privilégio especial, principalmente quanto à longevidade e à inteligência.
No caso dos judeus eles se referem simbolicamente à escolha de Israel por
Deus, não em termos de preferência, mas antes por divina intimação, para trilhar uma
vida de virtudes; para honrar e perpetuar as leis divinas e transmitir a sua herança.
Com os Abreu de Maranguape, a situação é bastante semelhante. Relata a
tradição familiar que foi nas terras do Columinjuba onde ocorreu o episódio em que
através de Honório José de Abreu, a Terra Prometida foi alcançada. Deus ofereceu
o solo há diversas outras pessoas antes de oferecer a eles que aceitaram sem reservas.
Os Abreu de Maranguape “responsáveis” por manter tal simbolismo rejei-
tam qualquer degeneração desse senso de escolha num arrogante e altivo sentimento
de responsabilidade procurando ao longo dos tempos buscar sempre sua contínua
melhora.
Todos os descendentes de Honório José de Abreu, no que se refere a
questão da saúde, qualidade de vida e enfermidades buscam a transgenia
principalmente aqueles que apresentam algum tipo de comprometimento, uns mais e
outros menos, mas, nenhum se encontra isento.
Em conversações realizadas em reuniões e em ambientes sociais é comum
falar entre os Honório de Abreu, acerca de problemas envolvendo o estado de saúde
dos familiares, mesmo sabendo que sejam consideradas pessoas longevas. As

265
questões referentes a este domínio geralmente se encontram ligadas a problemas,
oftálmico, ósseo, cardiovascular, glicolítico, pulmonar, genital, digestivo e renal.
Tais características que apresentam componentes genéticos e ambientais
são oriundos de procedimentos educacionais que a maioria dos familiares não possui,
acerca do que se chama Saúde, Qualidade de vida e Patologias.
O entendimento de saúde possui implicações legais, sociais e econômicas,
sem dúvida, o mais difundido cientificamente é o encontrado na OMS - Organização
Mundial da Saúde: saúde é considerado um estado de completo bem-estar físico,
mental e social, e não apenas a ausência de doenças.
A OMS foi a primeira organização internacional de saúde a considerar-se
responsável pela saúde em suas diversas manisfestações, e não apenas pela saúde do
corpo. A Saúde é, portanto, vista como um recurso para a vida diária, não o objetivo
dela; abranger os recursos sociais e pessoais, bem como as capacidades físicas.
Essa visão funcional da saúde interessa apenas aos profissionais de saúde
pública, e de atenção primária à saúde, pois pode ser usada de forma a melhorar a
equidade dos serviços de saúde e de saneamento básico de uma região e país.
O chamado relatório Lalonde produzido em 1974 no Canadá, sugere que
existem quatro determinantes gerais de saúde, incluindo biologia humana, ambiente,
estilo de vida e assistência hospitalar. Os principais determinantes da saúde incluem
o ambiente social e econômico, o ambiente físico e as características e
comportamentos individuais da pessoa.
O sistema de saúde brasileiro é composto por um sistema público, gerido
pelo Governo, chamado S.U.S. (Sistema Único de Saúde), que serve a população, e
pelo setor privado, gerido por fundos de seguros de saúde privados e empresariais. O
sistema público de saúde, SUS, foi criado em 1988 pela Constituição brasileira, e tem
como base três princípios: a universalidade; integralidade e equidade.
Enquanto doença atualmente estresse designa um distúrbio das funções de
um órgão, do organismo como um todo associado a sintomas específicos. Podendo
ser causada por fatores como outros organismos (infeção), e por disfunções e
malfunções, como as questões imunes. A patologia é a ciência que estuda as lesões,
inflamações, enfermidades e procura entendê-las.
Resulta da consciência da perda da homeostasia de um organismo vivo,
total e parcial, estado este que pode cursar devido a infecções, inflamações,
isquemias, modificações genéticas, sequelas de trauma, hemorragias, neoplasias e
disfunções orgânicas. Distinguindo-se da enfermidade, que é a alteração danosa do
organismo levando à necrose.
O profissional que trabalha na área de saúde faz a anamnese e examina o
paciente à procura de sinais e sintomas que estabelecem o problema da alteração,

266
solicita os exames complementares conforme suas hipóteses, visando chegar a um
diagnóstico.
Todas as alterações se expressam de quatro formas: simbólica, emocional,
ambiental e corporal. Elas têm origem no domínio simbólico para em seguida se
expressar emocionalmente, estas duas posturas não são geralmente observadas,
quanto aos aspectos físicos e biológicos estes são os últimos a serem percebidos
sensorialmente.
A Organização de Doenças Raras nos EUA estima que existe pelo menos 6
mil patologias raras entendidas como condições que afetam cerca de 25 milhões de
americanos por uma dessas condições. As situações raras não são assim tão raras.
Em contrapartida as descobertas genéticas surgentes estão a afetar todos de
várias formas indicando que a linguagem do DNA passou a ser a maneira adequada
das pessoas procurarem conhecer como se encontra seu estado de saúde.
Cada vez mais as pesquisas estão a indicar que determinadas alterações na
saúde tendem a ocorrer em determinadas famílias rumo a descobertas de variáveis
ligadas ao DNA, possibilitando cada vez mais a pessoa conhecer o risco que está
correndo e acionar medidas preventivas.
Foi cruzado um limiar de um modelo clínico arcaico onde o teste genético
pode ser realizado em todo o mundo e por qualquer pessoa, com um custo reduzido.
Atualmente esses testes revelam informações que englobam dezenas de
enfermidades e condições de qualidade de vida da pessoa.
Estamos no limiar de uma revolução na área de saúde que promete
transformar a tradicional abordagem em uma estratégia que considera cada pessoa
como sendo única, dona de características especiais que exigem uma abordagem
específica no sentido de que permaneçam saudáveis. Dentro de alguns anos cada
pessoa terá condição de fazer o sequenciamento completo de seu DNA a um custo
acessível.
A análise do genoma permitirá o estabelecimento de um plano preventivo
de saúde. O que temos na atualidade é uma ideologia midiática denominado de
“plano de saúde” e que não atende às pessoas deixando-as cada vez mais dependentes
de invenções farmacológicas que nada esclarecem e tampouco indicam o que está a
ocorrer com as pessoas.
A interação entre riscos ambientais e genéticos estão identificando aspectos
críticos de nossa saúde que derivam de elementos ambientais. Isso permite monitorar
e ajustar as chances de uma pessoa permanecer e até mesmo se recuperar de uma
alteração corporal.

267
Nossa sequência de DNA logo fará parte do controle de qualidade de vida,
visando decidir sobre as prescrições de medicamentos, apresentação de diagnósticos
e de sugestões para prevenção de estressores ambientais.
Descobrimos que nascemos com várias falhas genéticas e que não há um
único espécime humano sem falhas. Não mais satisfeitos com as explicações clínicas
e atuais acerca de problemas envolvendo questões ligadas à saúde, os pesquisadores
se voltaram para as bases moleculares do câncer, das complicações cardíacas, da
diabetes, do Mal de Alzheimer e de muitas outras afecções.
Estão descobrindo que muitas explicações aceitas pela Biologia clássica e
diagnosticada pela Medicina mecanicista necessitam urgentemente de revisão.
Os fatores hereditários das enfermidades estão sendo identificados como
falhas específicas no DNA, as quais estão surgindo por conta do paradigma Projeto
Genoma Humano. Como resultado, pessoas nas famílias estão criando um acervo de
informações visando conhecer seu corpo e daí, tomar as devidas providências.
Tudo tem DNA, a bactéria, as frutas, as plantas e as pessoas. Esta é a
linguagem universal da vida e de todos os seres vivos que está sendo escrita pela
primeira vez. Descobriu-se que temos em torno de 20 mil códigos genéticos de
proteínas.
Estamos aprendendo que somos semelhantes não importa de onde tenham
vindo nossos ancestrais, confirmando que todos os humanos descendem de um
mesmo grupo de ancestrais que viveram no leste da África há cerca de 100 mil anos.
O genoma de um pessoa é o mesmo em cada uma das 400 trilhões de células
do corpo. Mas células diferentes utilizam conjunto distinto de genes para executar
suas funções, e é isto que as tornam diferentes. Estes programas são executados por
diferentes proteínas que aderem ao DNA ligando e não os genes mais próximos.
Cada vez que uma célula se divide todo o genoma precisa ser copiado
mesmo aparecendo erros por conta da influência do ambiente que desempenha um
papel importante.
Nesse ponto agentes cancerígenos, radiação e alimentos industrializados
são os maiores responsáveis pelas taxas de erro na cópia do DNA. A sequência de
DNA de qualquer pessoa é idêntica em 99,6%, exceto no que tange as partes do
mundo das quais vieram seus ancestrais. Comparados com o resto do reino animal os
humanos são extraordinariamente similares.
A maioria das variações genéticas da espécie humana encontra-se presa
dentro de populações geográficas, onde somente cerca de 10% dessas diferenças são
úteis para estabelecer que população alguém pertence. No caso dos descendentes de
Honório José de Abreu, a maior concentração residia no Município de Maranguape.

268
O histórico familiar se constitui no mais forte de todos os fatores de risco
que existe pois, inclui informações acerca do ambiente hereditário e o conhecimento
de familiares terem enfrentado patologias que multiplicam o risco de vida de seus
descendentes.
Ter um familiar com algum tipo de alteração genética implica em risco de
duas a três vezes um descendente também desenvolver. Este é o tipo de informação
que uma pessoa deve ter caso deseje qualidade de vida.
Todos os descendentes da família de Honório José de Abreu, devem se
unir em seus troncos, ramos e galhos familiares no sentido de criar junto à ACLA –
órgão pensante da família, o histórico de saúde familiar estruturado, tipo um
formulário padrão como um tipo de genealogia da área de saúde onde se possa
determinar quais procedimentos devemos efetivar, visando conhecer as doenças,
alterações, físicas e limitações de cada pessoa como uma maneira de garantir
qualidade de vida. Um registro eletrônico individual de saúde familiar onde os
profissionais e os interessados possam consultar quando houver necessidade.
O histórico de saúde familiar pode ajudar cada um a cuidar melhor da sua
saúde e de toda Família. O instrumental pode ajudar a identificar se a pessoa tem um
risco maior de alguma enfermidade. Ele pode ajudar o seu profissional de saúde a
recomendar ações para reduzir o risco pessoal de comprometimento patológico. O
histórico também pode ajudar na procura dos primeiros sinais de alerta de certas do-
enças.
O aplicativo informacional já existente e disponível na Internet denominado
"Meu Retrato de Saúde Familiar" é uma ferramenta que ajuda você a registrar o
histórico de saúde da sua família. A ferramenta é fácil de acessar na Internet e de
preencher. Conforme já realizado em algumas famílias do Patriarca nº 6.
Ela organiza sua informação e cria uma "genealogia" da saúde, uma árvore
genealógica que você pode salvar no seu computador. Esta ferramenta lhe dá um
histórico de saúde que você pode compartilhar com sua família e mandar para seu
profissional de saúde se assim o desejar. Assim, para os interessados na elaboração
de seus troncos, galhos e ramos familiares da família dos descendentes de Honório
José de Abreu, basta acessar o site: https://familyhistory.hhs.gov/fhh-web/home.ac-
tion.
Diante do que foi elaborado, deve-se levar apenas alguns minutos para
construir um histórico de saúde familiar. Então, você tem a opção de compartilhar o
histórico com outros membros de sua família, se quiser. O histórico pode revelar
informação que não se sabia antes. E parentes podem começar com sua informação
para criar seu histórico.

269
A ferramenta somente providencia o software para organizar sua informa-
ção. Depois disso, e escolha é sua se quiser compartilhar a informação com outros
membros da sua família e com seu profissional de saúde.
A revolução que agora promete transformar nossa vida é a oportunidade de
combinar o conhecimento histórico familiar com uma investigação de todo material
de instruções do DNA, identificando as falhas específicas escondidas em nosso
roteiro genealógico e pessoal.
Antigamente o diagnóstico de um problema de saúde se baseava na
presença de sinais e sintomas acompanhados por exames laboratoriais. O novo
paradigma é completamente diferente. Se antes o foco principal era a doença agora
tornou-se a qualidade de vida.
Já existem instituições que proporcionam o rastreamento de problemas de
saúde em crianças recém-nascidas para 29 condições genéticas, conduzindo a
aplicação de terapias medicamentosas, encorajando dietas especiais e em alguns
casos sugerindo até mesmo cirurgias.
Dois itens importantes desta saga são o rastreamento para alterações visuais
e auditivas que afetam cerca de dois a três bebês para cada mil recém-nascidos. Tais
limitações congênitas, causadas por mutações genéticas são comuns em crianças e
adultos dos descendentes da família de Jerônimo Honório de Abreu que casou com
a filha de sua irmã mais velha.
Considerando o caso da obesidade, este problema também é altamente he-
reditário, onde as estimativas sugerem que cerca de (60 a 70%) do peso do corpo de
um adulto seja determinado pelos genes. Em condições hereditárias recessivas os
portadores são em geral absolutamente normais, mas seus/as filhos/as têm 25% de
chance de serem afetados/as.
Atualmente cerca de 1 em cada mil gravidezes envolve uma doença que
pode ser prevista pelo rastreamento genético.
A síndrome do X frágil, por exemplo, é a segunda causa mais comum de
retardo mental, ficando atrás apenas da Síndrome de Down, geralmente existente em
famílias sem histórico de retardamento mental, atingindo 1 em cada 4 mil homens
pode ser detectada durante a gravidez em mulheres portadoras de condição recessiva
ligada ao cromossomo X.
Dada a importância da condição da frequência dos portadores e a
disponibilidade de um teste de DNA, há apelos crescentes na oferta de rastreamento
de portadoras de X frágil em todas as mulheres.
Atualmente, os testes de rastreamento disponíveis para defeitos do tubo
neural e doenças cromossômicas não são diretos avaliando teores de proteínas no

270
sangue materno, junto com exames do feto por meio de ultrassom, para se obter
algum sinal de problemas.
Entretanto, o rastreamento através do DNA fetal no sangue materno permite
que sejam detectadas diretamente as alterações cromossômicas como Síndrome de
Down para mulheres que na sociedade atual estão decidindo ter filhos/as em idade
avançada e cada vez mais acima dos trinta e cinco anos.
A revolução genômica está se expandindo em direção às patologias e
condições comuns. A diabetes, o câncer, as doenças cardíacas, o derrame e as
questões que causam atraso mental não seguem padrões hereditários simples, mas
são fortemente influenciadas pela genética regulada pelos fatores ambientais.
As três maiores doenças do século XIX foram de natureza infecciosa: cóle-
ra, tifo e tuberculose, enquanto os maiores fantasmas do século XX são de natureza
genética: doença cardíaca, diabetes tipo 2 e câncer e suas sequelas. Quanto mais
soubermos sobre isto, mais fácil será ajustar o próprio estilo de vida e prevenir
problemas estressantes tratando-os em estágios precoces e controláveis.
Já existem indícios familiares de que os descendentes dos Abreu-
Machado, são propícios a desenvolver obesidade e diabetes tipo 2, os Abreu–
Outros, câncer, limitações hepáticas, auditivas e visuais, enquanto os Honório–
Abreu, doenças cardíacas, derrame e atraso mental, entretanto somente os testes
genéticos podem garantir e nos direcionar como agir em termos de qualidade de vida.
Tais dados carecem de estudos cromossômicos que possibilitem afirmar de
forma contundente o grau de veracidade de tais informações na medida em que os
descendentes desses ramos familiares começarem a realizar os testes de DNA,
visando prevenir tais alterações genéticas para as novas gerações surgentes.
Atualmente, poucas empresas oferecem análise de DNA, aos consumidores
interessados em conhecer seus riscos para uma lista de patologias comuns, baseadas
em variações genéticas.
O teste é simples, como o DNA está presente em todas as partes do corpo
não é necessário fazer exame de sangue para iniciar o processo, basta utilizar um
cotonete que é capaz de raspar células suficientes da bochecha da pessoa para
produzir o DNA necessário ao estudo.
Pode também ser realizado através da saliva recolhida em tubo e enviada
pelo correio para uma empresa de teste. Depois que o laboratório realiza o trabalho
ele envia uma senha ao cliente para que ele possa conhecer seus resultados e tirar
qualquer dúvida acerca do assunto.
Uma disparidade na saúde existe quando um grupo populacional sofre
maior incidência de uma determinada doença, causando maior morbidez. Entretanto,
não devemos assumir que as disparidades na saúde sejam causadas apenas por

271
diferenças genéticas. Outros fatores estão começando a desempenhar um papel tão
significativo quanto o DNA.
Esses fatores são ambiental, socioeconômico, educacional, nutricional, e
mesmo o estresse podem levar à enfermidade, todos envolvidos em diferentes
proporções, onde a genética acabará tendo um papel relativamente pequeno nas
questões de saúde que estão a surgir na atualidade.
O envelhecimento é um resultado que ocorre em todo ser vivo. Na medida
em que os organismos envelhecem, cada vez mais erros se acumulam em várias
células do corpo. Todos nascem, crescem, amadurecem e envelhecem. O tempo e a
forma como se processam essas fases depende de cada pessoa, da sua programação
genética e de fatores ambientais.
O processo de envelhecimento que acontece no dia a dia será cada vez mais
intenso quanto maiores forem as interferências em nosso organismo. Sendo assim,
podemos retardar ao máximo o processo de envelhecimento adicionando mais vida
aos anos e não somente mais anos a nossa vida principalmente quando se sabe de
fatores interferindo na saúde tais como: hábitos de vida, hereditariedade, condições
ambientais e estresse.
Os hábitos de vida são os fatores que mais agravam os problemas de saúde,
dentre eles: estresse, fumo, bebidas alcoólicas, vida sedentária, drogas, sono e ali-
mentação não adequada.
Até o presente momento, os descendentes de Honório José de Abreu vêm
apresentando em média um grau de longevidade bem acima do estabelecido pela mé-
dia de vida dos brasileiros que é de 74 anos.
Na busca de uma melhor compreensão dos fatores determinantes, ainda que
sabidamente todos eles atuam de forma conjugada, talvez convenha sinalizar alguns
que se colocam com maior evidência e outros que nem sempre são devidamente ava-
liados. No tocante aos primeiros bastam alguns acenos. No que se refere aos segun-
dos convém fazer algumas distinções e considerações um pouco mais desenvolvidas.
Entre os fatores em maior evidência em nossos dias se coloca naturalmente
o patrimônio genético. E naturalmente junto com os fatores genéticos não podem ser
negados os fatores biológicos, que, de uma maneira e de outra vão imprimindo suas
marcas físicas e comportamentais acentuadas.
Só será capaz de se preparar devidamente quem encontra um sentido último
para seu viver, e por que não, um sentido último também para o seu morrer. Em
compensação, na medida em que as pessoas encontram esse sentido em todas as di-
reções, mesmo em meio a eventuais limites que vão se impondo com o tempo, a
velhice passa a ser vivida como um período tão e mais promissor do que os períodos
anteriores, e até com mais vantagens.

272
12

Rotas dos Cravos


e Botões da
Família de
Honório José de Abreu

A tecnologia de modo artificial ligou o fazer com o sentir e o acontecer


quando através dos instrumentos de comunicação como celular, laptops e outros
mais, possibilitou as pessoas do planeta uma contínua comunicação on-line. Que ga-
nhos e perdas passamos a assumir em termos comportamentais, morais e éticos por
tais invenções?
Nossos pais tiveram limitações financeiras, foram simples colonos que de-
senvolveram suas inteligências em ambientes muitas vezes, não sofisticados social-
mente. Seus/as filhos/as tiveram problemas sociais e emocionais, passaram de rurais
a urbanos, enquanto nossos/as filhos/as têm problemas de Educação devido a seu
envolvimento com dados e informações via Internet, na produção do conhecimento
acontecer continuamente. Baseado apenas em duas dimensões, isolando os relacio-
namentos multidimensionais entre pessoas e nos transformando em “autistas midiá-
ticos”.
Nossa inteligência sendo a arte de solucionar problemas que atendam a so-
ciedade, é influenciada tanto por fatores genéticos quanto ambientais. Pesquisadores
examinaram a espessura do córtex cerebral - a camada mais externa do cérebro, co-
nhecida como "massa cinzenta", com papel da memória, atenção, percepção, consci-
ência, raciocínio e linguagem em crianças e adolescentes, identificando alguns genes
que ligam a estrutura do cérebro à inteligência.
Eles descobriram que aqueles que tinham um córtex mais fino no hemisfé-
rio cerebral esquerdo, nos lobos frontais e temporais, não se saíam tão bem em alguns
testes de capacidade intelectual. Como resultado, na medida em que obtemos
fundamentos educacionais, procuramos um modelo de Educação para seguir.
O que é Educação? Como medir a Educação? Todos os pesquisadores que
273
trabalham com a unidade do conhecimento, sabem que Educação é uma meta a ser
atingida consernente ao vivenciar dessa unidade a ser conhecida e experimentada.
Para tanto é que existem os perfis educacionais envolvendo descritores
como caráter, personalidade, profissão, cognição, habilidade, aptidão,
comportamento, socialização e familiarização, todos atuando como elementos
avaliativos de modo a garantir uma ética do conhecimento que não se baseie no
dualismo milenar ocidental, atualmente vivenciado por religiosos, filósofos e
cientistas.
Quando se aplica tais indicadores e descritores aos cravos e rosas, descen-
dentes da família de Honório José de Abreu, é que se percebe a distorção que todos
assumiram por não terem tido preceptores adequados e capazes de proporcionar tal
trajetória em vida. Como corrigir tamanha falha que nos encaminhou praticamente
para uma vida sem sentido?
A nova geração que está chegando agora ao mercado de trabalho, denomi-
nada “Geração Z”, pode superar isso, pois já nasceu sob a influência do mundo tec-
nológico durante toda a vida. Este fato terá um impacto devastador no mundo corpo-
rativo nas próximas décadas.
Mas, quais seriam estas influências tecnológicas no comportamento das
pessoas? Se pararmos para pensar, houve uma grande transformação no modo de
viver da população, baseada nestas experiências.
Mas a questão é como tratar estes jovens que trazem novos hábitos e com-
portamentos em relação ao modo de se comunicarem, sendo que, quando chegam às
empresas de trabalho encontram um modelo completamente diferente do que apren-
deram em suas vidas pessoais.
O que fazer diante disso? Será que já não existem maneiras de gerenciar
esta transição de comportamentos e influências que ocorrerão no mundo do trabalho?
O mundo hoje requer uma comunicação instantânea. As organizações, por
sua vez, exigem critérios de confidencialidade, restrições de acesso e segurança, atre-
lados a quaisquer que sejam estas novas modalidades. Estamos diante de uma nova
realidade que inicia uma transição de comportamento nas organizações e na socie-
dade com modernos mecanismos, de forma que se encurtem as distâncias de uma
geração para outra.
Entretanto o admirável mundo novo da Internet e das redes sociais não é
tão admirável assim. Videogames e redes sociais estão criando uma nova geração –
a denominada “autistas digitais" – formada por aqueles que vão passar a maior parte
de suas vidas on-line. E isso não é conveniente.
As crianças que estão crescendo nesse ambiente do ciberespaço, não vão
aprender como olhar alguém nos olhos, não vão aprender a interpretar tons de voz e

274
a linguagem corporal, há um grande risco de as pessoas passarem a viver suas vidas
exclusivamente em ambientes virtuais, pois mais da metade dos adolescentes entre
13 e 17 anos gastam mais de 30 horas por semana na Internet.
Assim como as produtoras de tabaco negavam o poder viciante do cigarro
da Europa para as colônias, o mesmo ocorre hoje com as companhias de tecnologia
avançada que lucram com o uso das redes sociais e videogames ao proporcionarem,
com a utilização intensiva de redes sociais a liberação de determinadas substâncias
estimulantes no cérebro.
A Internet afeta o sistema nervoso? Todos estão interessados em saber
como as tecnologias digitais, afetam o cérebro. O cérebro muda a todo instante em
nossas vidas. Tudo que é feito durante o dia vai afetar o cérebro. O motivo disso é
que o cérebro humano se desenvolveu para se adaptar ao ambiente, não importando
qual fosse esse ambiente.
É interessante notar que agora o ambiente é muito diferente, de maneira
sem precedentes do que antes vivíamos. Como a imersão num ambiente virtual pode
afetar o cérebro? O primeiro é o impacto das redes sociais na identidade e nos rela-
cionamentos. O segundo é o impacto dos videogames na atenção, agressividade e
dependência. E o terceiro é sobre o impacto dos programas de busca no modo como
diferenciamos notícias de informação e esta, de conhecimento, como aprendemos de
verdade.
Há quem associe o aumento da incidência do transtorno de déficit de aten-
ção e da hiperatividade (TDAH) ao uso da Internet pelas crianças. Essa ligação faz
sentido? Está havendo um crescimento alarmante de TDAH nas sociedades ditas de
primeiro mundo.
Sabemos que a prescrição de drogas como ritalina, usadas para TDAH, qua-
druplicaram nos últimos 10 anos, e a causa pode ser as tecnologias digitais. Nós sa-
bemos que, quando se joga videogame, uma substância química no cérebro relacio-
nada com o estímulo, chamada dopamina, é liberada. O que é interessante é que,
quando se toma ritalina, a dopamina também é liberada.
Então, agora os pesquisadores e clínicos pensam que talvez as crianças es-
tejam viciadas em videogames. E medicam essas crianças porque elas teriam TDAH,
e estão fazendo, embora não tenham ideia, com que haja mais dopamina no cérebro.
Pois, certamente, há uma ligação entre TDAH e videogames, mas precisa-
mos entender mais sobre os mecanismos cerebrais para compreender como isso fun-
ciona.
É interessante pensar no caráter, nas aptidões das gerações seguintes, eles
correrão menos riscos que nossa geração e terão um senso de identidade mais frágil,
menos empatia, menos concentração, e podem ser mais dependentes ao viver o "aqui

275
e agora" em vez de ter um passado, presente e futuro, como chegamos a experimentar
durante nossa infância e adolescência. Uma criança tem, agora, uma em três chances
de viver mais de 100 anos.
Então o que fazer com esse ócio? Essa é uma pergunta que não se fazia no
passado porque as pessoas morriam de doenças e estavam preocupadas com outras
atividades. Mas agora é factível presumir que elas não saberão o que fazer com a
segunda metade de suas vidas, após seus/as filhos/as estarem criados, se tiverem.
Se as pessoas estiverem saudáveis, em forma, mentalmente ágeis, não po-
derão simplesmente jogar todo dia. Eles/as farão perguntas que tradicionalmente ape-
nas adolescentes fazem: "Quem sou eu? Qual é o sentido da vida? Para onde estou
indo? Qual o propósito disso tudo?" Isto pode ajudar a explicar por que, o Facebook
e Twitter são atualmente tão populares.
As pessoas têm um senso integral de identidade. De repente elas se sentem
importantes porque gente ao redor do mundo está se comunicando com elas, comen-
tando o que elas disseram.
Então, este tipo de pessoa, que no passado vivia em uma comunidade local,
e tinha uma identidade naquela cultura, daquele país, agora tem uma presença global,
mas que é construída artificialmente sem ter experimentado o que vê. Elas estão cons-
truindo uma “identidade” no ciberespaço que em boa parte é formada pela visão das
outras pessoas.
Para isso, existe um site na Internet chamado KLOUT. Se você entrar nesse
site, ele te diz o quão importante você é, e te dá até um número chamado Klout Score.
As pessoas pagam para ver qual é a sua pontuação e para conseguir aumentá-la.
Essa tendência de que mesmo que você sinta-se importante, conectada,
você não se sente segura, tendo estima afetada, não se sente adequada e importante
socialmente e pode afetar completamente a sociedade conduzindo-a para rumos não
esperados.
A maioria das pessoas diz estar vivendo normalmente e feliz em mais de
três dimensões. Elas têm amizades saudáveis e gostam de estar nas redes sociais.
Com certeza, é apenas uma minoria de pessoas que gastam até 10 horas por dia em
frente do computador. De acordo com as estatísticas, os chamados nativos digitais,
gente que nasceu após 1990, apresentam níveis de uso alarmantes na Internet.
É próprio do humano procurar se tornar uma pessoa melhor e feliz. O
apóstolo Pedro explicou como podemos conseguir isso. Dizia ele busca o equilíbrio
na certeza de que dias melhores virão. Sê acessível ao outro, assumindo e te
aproximando de forma cordial e amigável.
Coloca-te no lugar do outro sentindo o que ele sente demonstrando
compaixão por quem se encontra necessitado. Torna-te limpo em tuas ações. Não

276
esperes nunca a perfeição e nem ajas sem entendimento mostrando sempre gratidão
por aquele necessitado. Não apoie ideias e posições que afrontem a dignidade de
outrem.
Cumpre teus deveres para com teu semelhante não fugindo das
responabilidades familiares, sem rejeitar qualquer um que esteja necessitado através
da prática das boas ações. Sem impor tuas ideias deixa as pessoas se expressarem.
Aja como pessoa firme e corajosa declarando a verdade sem maltratar teu
semelhante.
Essas e outras máximas indicam para cada um de nós o esquema perfeito
para se espelhar. Se nos deixarmos influenciar por tais condutas, seremos pessoas
melhores e felizes. É por tais motivos que o apóstolo Pedro incentivava as pessoas a
seguir de perto estes passos, indicando que uma vida exemplar nos ensina que tipo
de pessoas podemos ser.
Nossos netos que pouco conhecem a saga dos Abreu de Maranguape, per-
deram a vinculação que existia com o torrão natal, aquilo que fez todos os ascenden-
tes manter viva a chama eterna da paixão pelos bandeirantes que atualmente repou-
sam no Cemitério da Família.
Sabedor de como estamos e de quem somos para sociedade brasileira é de
fundamental importância em nossa caminhada, nos distinguir e nos orientar em busca
de uma ética que atenda os nossos descendentes.
Antes vivíamos uma ética “una”, com o surgimento da filosofia, ciência e
religião, passou-se da Clássica para a Bioética dando margem a seu estabelecimento
na atualidade como uma mera ideologia.
Como então elaborar uma ética, visando unificar e atender essas questões
vinculadas ao esquema proposto, capaz de ser seguida pelos descendentes da família
de Honório José de Abreu, visto que todo agir social se baseia em “interesse e ne-
cessidade “uma ideologia globalizada, uma frase com diferentes significados e
concepções?
No senso comum o termo ideologia, tem origem no domínio simbólico,
podendo representar um conjunto de ideias, doutrinas, visões de mundo de uma
pessoa, de um grupo, orientado para atender as ações sociais.
Para outros, pode ser considerado um instrumento de dominação que age
por meio de convencimento (persuasão e dissuasão, mas não por meio da força física)
de forma prescritiva, visto não termos como nos livrar do domínio cultural.
Os pensadores da Antiguidade Clássica e da Idade Média já entendiam o
significado da palavra ideologia como um conjunto de ideias e opiniões de pessoas
de uma sociedade com o desejo de convencer. Entretanto, o desenvolvimento do
termo ideologia ocorreu com Destutt De Tracy, dando-lhe um novo significado:

277
ciência das ideias. Posteriormente, ela ganharia um sentido pejorativo quando
Napoleão chamou De Tracy e seus seguidores de "ideólogos", elementos
deformadores da Realidade.
O filósofo alemão Karl Marx entendia a palavra ideologia como um
instrumento que mascara a Realidade. Os adeptos da Escola de Frankfurt
consideram-na como uma ideia, discurso, ação que encobre um objeto, mostrando
apenas sua aparência e escondendo suas demais qualidades.
Após Marx, vários pensadores abordaram a temática da ideologia. Muitos
mantiveram sua concepção entre eles, Karl Korsch e Georg Lukács, enquanto outros
passaram a abordar ideologia como sinônimo de "visão de mundo", inclusive
pensadores marxistas, como Lênin.
Pensadores também desenvolveram distintas análises acerca de um
entendimento para ideologia, tais como: Karl Mannheim, Louis Althusser e Paul
Ricoeur.
O uso do termo ideologia pressupõe a diferenciação entre o que vem a ser
um "conjunto de ideias sobre um determinado assunto" e o que vem a ser um
"instrumental simbólico voltado à criação e à manutenção de relações de
dominação". A partir deste ponto, todos os significados apresentam variações sobre
a forma e o propósito.
Um dos enfoques da compreensão de ideologia está na necessidade de que
ocorra um fenômeno, para que o mesmo sendo paradigmático, venha a se tornar
mascarador da Realidade e produtor de ilusão. Outro enfoque, está no pré-requisito
de que para um fenômeno ser considerado ideológico, ele deverá colaborar na criação
e na manutenção de relações de dominação.
Para Marx, ideologia não é disseminável como uma ideia, um conjunto de
ideias; neste sentido é voltado à criação/manutenção de relações de dominação por
meio de instrumentos simbólicos: seja uma frase, um texto, um artigo, uma notícia,
uma reportagem, uma novela, um filme, uma peça publicitária e até mesmo um
discurso.
Para aqueles que adotam o termo ideologia segundo a concepção marxista
faz sentido dizer: que uma pessoa possui uma ideologia; que existem ideologias
diferentes; que cada uma tem a sua ideologia; que cada partido político tem uma
ideologia; que existe uma ideologia tanto para os dominados, quanto para
dominadores.
John B. Thompson, espelhando-se em Ernest Cassirer foi um estudioso que
procurou fazer uma análise sobre as formulações para o termo ideologia oferecendo
a seguinte consideração, apoiada principalmente em Marx, "ideologia são maneiras

278
racionais de como a pessoa se serve para estabelecer e sustentar relações de
dominação".
Esta formulação proposta é carregada de significados. Dizendo respeito ao
simbólico, que mobiliza a cognição, como uma imagem, um texto, uma música, um
filme, uma narrativa; servindo para representar fenômenos, estabelecer e sustentar
relações de dominação; representa um contínuo processo de produção e recepção das
formas simbólicas.
A função principal da ideologia na sociedade atual tem sido a de ocultar e
dissimular as divisões sociais, dar-lhes a aparência normal entre as pessoas. Por
“exemplo”, a ideologia afirma que somos todos/as cidadãos/ãs que temos todos os
mesmos direitos sociais, econômicos, políticos e culturais.
No entanto, sabemos que isso não acontece: as crianças de rua não têm
direitos; os idosos não têm direitos; os direitos culturais das crianças nas escolas
públicas são diferenciados das crianças que estão em escolas particulares; os/as
negros/as e índios/as são discriminados como inferiores, etc.
Como procede a ideologia para obter resultados esperados? Em primeiro
lugar sendo um ato de fé, opera por inversão, isto é, coloca os efeitos no lugar das
causas e transforma estas últimas em efeitos. A segunda maneira de operar a
ideologia é a produção do imaginário social, através da reprodução.
Recolhendo as imagens da experiência social (do modo como vivemos as
relações sociais), a ideologia as reproduz, transformando-as num conjunto de ideias
que funcionam: como representções da Realidade (sistema explicativo) e como
normas e regras de conduta e comportamento (sistema prescritivo de normas e valo-
res).
A ideologia assegura às pessoas, modos de entender a Realidade e de se
comportar nela, eliminando dúvidas, ansiedades, angústias, admirações, ocultando as
contradições da vida, bem como as entre esta e as ideias que a explicam e controlam
o poder.
Enfim, a terceira maneira de operacionalizar a ideologia é através do
silêncio. Um imaginário social que é concebido como uma metáfora onde nem tudo
é dito, e nem pode ser dito, porque, se tudo fosse dito, a expressão perderia a
coerência, tornar-se-ia contraditória e ninguém acreditaria nela.
A ideologia não é o resultado de uma vontade deliberada de uma classe
social para enganar a sociedade, mas é o efeito racional necessário da existência
social e de suas ações, é a interpretação imaginária da sociedade do ponto de vista de
uma classe social que o domínio simbólico fornece.

279
A busca por mecanismos mentais e a luta pela emancipação cidadã, criaram
condições para uma tomada de consciência pela qual o sujeito do conhecimento passa
obter um domínio que pode ser considerado ideológico. As três maiores ideologias
desenvolvidas na sociedade ocidental como tentativa de dominar as pessoas a partir
da razão são: religião, filosofia e ciência.
Atualmente não se aborda a ciência, o trabalho e a vida, tal como antes. O
problema não mais se coloca de forma tão simples como um confronto entre seu
ideário e o desejado. As questões se tornaram complexas e ganharam novos nomes:
fala-se de neoliberalismo, globalização, Internet, etc.
Como se situa a Educação nesse contexto? Como enfrentar os desafios pe-
dagógicos e políticos trazidos pela “nova ordem tecnológica mundial para o novo
milênio” distinguindo na Escola ética de ideologia, visto serem ambos tipos diferen-
ciados de fé?
É necessário um novo olhar para o percurso da Educação no Brasil, pontu-
ando momentos significativos da relação entre as áreas formadoras do conhecimento.
Alguns pesquisadores, traçando o percurso histórico escolar no Brasil, adotam como
critério os períodos correspondentes à história da economia nacional, em três instan-
tes.
O primeiro corresponde ao modelo econômico agroexportador, onde a Edu-
cação vinculada à Psicologia, se encerra em laboratórios anexos às escolas, criando
a figura do psicometrista – autoridade em escalas e medidas da inteligência, do de-
senvolvimento e das demais funções mentais.
O segundo, acompanha o modelo urbano-industrial da economia brasileira,
onde se diagnostica e trata a população escolar, transformando as salas de aulas das
escolas em “consultórios” de psicologia.
O terceiro, correspondente à década de 1960, atrelado ao modelo da inter-
nacionalização do mercado, respondendo às demandas sistêmicas  materiais e ide-
ológicas  criando as multifaces do consultor educacional e modificador experimen-
tal do comportamento, e admirador das práticas neobehavioristas, importadas dos
Estados Unidos. Haverá um novo ideário pedagógico em curso, diante das ciências e
tecnologias surgentes?
Os desafios da atualidade vivenciados no Brasil, revelam a necessidade de
mudanças relacionais trazidas pela globalização; desafios da Informática e da educa-
ção à distância; imposição de propósitos e metas educacionais; defesa da escola pú-
blica; enfrentamento da educação popular, como forma de organização, capacitação
e mobilização política da população que constituem as classes populares.
É necessário construir um perfil de atuação ético quanto ao ideário educa-
cional que, englobando as tendências vivenciadas, permita contemplar a Educação,

280
visando satisfazer a pessoa, a sociedade e a Natureza, como forma de atendimento a
todos, sem qualquer tipo de exclusão, de modo a transformar eticamente os/as jovens
em cidadãos/ãs.
Hoje é complicado defender qualquer tipo de ética baseada na Filosofia que
parta de princípios fixos e válidos para todos em todos os tempos, pois cada época
tem seu estilo de fazer justiça, criar solidariedade e promover a paz. Por ligar-se ne-
cessariamente à temporalidade da existência humana, ela é flexível e se adapta às
distintas situações da vida.
Em quase todos os tratados de ética implantados no Ocidente, desde Aris-
tóteles a Kant, o comportamento humano é concentrado em três referências simbóli-
cas conjugadas: justiça, solidariedade e paz.
O horizonte ético alargou-se por conta dos fatos tecnocientíficos, biogené-
ticos e ecológicos. Por séculos, Filosofia e religião quiseram decidir o que a pessoa
podia fazer e dizer.
A ciência por sua vez proclamou sua autonomia e se deu um critério de
honestidade que consiste em obedecer aos métodos de pesquisa e apresentar resulta-
dos à comunidade científica, para que os aprecie em suas qualidades, excluídas as
interferências metafísica, ética, política e religiosa baseadas na “razão”.
Entende-se que esta situação de conflito não pode mais continuar, se qui-
sermos viver em paz.
Diversos pensadores já colaboram para conciliação do saber tecnocientífico
ao simbólico, o qual contém a ética, pois nossa geração vive um momento difuso de
falta de orientação de valores. Há uma percepção de que perdemos o paradigma de
horizonte além. Ninguém nasce ético, mas com a possibilidade de se tornar.
Seja qual for o paradigma ético de nossa preferência, a tarefa central em
nossos dias consiste em superar a ética da pessoa como ser humano, e instaurar uma
imagem ética constituída pelas relações com os outros, com a Natureza, com o Uni-
verso e com a tecnociência, voltados para unidade da Realidade.
Nossas escolas vivem um sentimento difuso de falta de orientação ética. Há
uma sensação de que perdemos esse paradigma. Em outras palavras diante do conhe-
cimento que hoje dispõe o “homo faber” não pode mais prevalecer sobre o “homo
symbolicus”.
De Aristóteles até meados do século XX vigorou a ética das ações humanas,
tanto na Filosofia quanto na Teologia e na Idade Moderna. As visões éticas se carac-
terizavam por seus fundamentos que não dependiam da vida dos seres humanos, so-
bretudo distante da realidade do mundo e dos artefatos tecnológicos. Anteriormente,
religião e ciência disputavam a dominação de uma sobre a outra.

281
Enquanto a religião acusava a ciência de se utilizar da tecnologia por ser
um sistema que funciona em circuito fechado, produzindo bens de consumo e ga-
nhando cada vez mais, a tecnologia acusava a religião de estar assentada em princí-
pios atemporais com os quais procura impor à ciência a obediência de suas normas.
O agir humano não é um processo bioquímico, mecânico e computacional
sofisticado para se comportar de determinado modo e viver de qualquer jeito. Ele é
um agente responsável pelas suas ações morais e nem por isso se encontra acima da
Natureza, contrariando Platão, o cristianismo e Kant.
A ética nunca foi um código de normas, ela é antes de tudo um modo de
vida, um horizonte que exprime o sentido, o rumo que damos ao nosso viver e o
caminho que procuramos traçar para história humana indicando nosso destino dis-
tinta da utopia filosófica racional.
A ética, é uma meta estabelecida que se traduz em práticas, comportamen-
tos e atitudes orientadas por normas provisórias que se modificam.
Tudo no Universo se altera, o que não se modifica são o rumo e o sentido
do viver tomados como horizonte ético. Neste início de século XXI, precisamos de
novos paradigmas que deem conta dos problemas sociais que envolvem a ética, oca-
sionados, sobretudo, pela tecnociência.
Não podemos tratar estes novos fatos antes de ser adotada uma nova com-
preensão para o significado da palavra ética, pois cada época tem seu modo de avan-
çar em direção ao horizonte.
A ética é mais ampla que a busca do equilíbrio da vida pessoal, ela não pode
se reduzir apenas à esfera individual, sendo sempre relacional, pois estamos continu-
amente envolvidos com as pessoas, o meio ambiente, a Natureza, o Universo e a
Realidade.
A ética como fruto do agir social, busca sempre a universalidade capaz de
promover valores comuns aos membros das sociedades contidos principalmente na
Natureza.
O paradigma ético ocidental dominante, construiu uma ética antropocên-
trica, na qual a pessoa se considera como centro do mundo e dona da Natureza, tor-
nando-a como um domínio mecânico e morto, e não um domínio vivo. Isto se encon-
tra completamente sepultado para a mente humana atual.
Assim, não existe um caminho ético feito, ele precisa ser sempre restaurado
e construído segundo a avaliação das situações cotidianas, tecnocientíficas e socio-
culturais.
Em síntese a ética não traça limites, nem mesmo com relação ao meio am-
biente, apenas propõe que as ações sociais se integrem de modo a realizar um hori-
zonte pleno de valores capaz de permitir a paz para todos e tudo.

282
O fato da ideologia de dominação tecnológica ter atingido a estrutura hu-
mana através da manipulação de seus componentes primários tais como os genes,
alterando sua identidade, natureza e individualidade, um novo paradigma ético passa
a ser exigido, visto o pluralismo de ideias não ter solucionado este problema.
O que nos obriga a procurar uma ética do conhecimento distinta da Filoso-
fia? É o fato de hoje termos a consciência da existência de universos contendo seres
vivos e não vivos, que necessitam se manter e se relacionar, buscando um equilíbrio
pleno para Realidade.
A ideologia não conhece a pragmática, além do mais repousa na ilusão in-
telectual que remonta aos sofistas gregos, fazendo crer que a atitude das pessoas re-
sulte do próprio conteúdo da mensagem.
A noção de ideologia comporta outra falácia, segunda a qual a religião, a
educação, a obrigatoriedade de acreditar, seriam como cera virgem sobre a qual se
faz imprimir a obediência ao mestre e aos imperativos e proibições grupais.
O verdadeiro fim de uma ideologia não é apenas convencer e fazer obede-
cer, mas antes de tudo, proporcionar lenitivo às pessoas subjugadas de que estão vi-
venciando um estado de legitimação. É a manipulação da fé.
Compreendendo que a ética não deve se basear na razão e sim na unidade
do conhecimento deixamos aqui o registro dos saberes daqueles descendentes de
Honório José de Abreu que sabiamente nos legaram, como fundamentos para nossa
educação, suas comprensões orais que se tornaram fontes de todo nosso agir. O que
nos revela tal epopeia? Que lição podemos obter e qual aprendizado assumir ao
adentrarmos no século XXI?
Três caminhos nos chama e sinaliza nossa atenção. A cruz, a Educação e o
látego. O que significa ter Educação? Resolvi responder esta questão detalhando ape-
nas o caráter, a inteligência e a profissão que os educadores devem desenvolver
quando assumem e desejam vivenciar a meta traçada em torno de uma ética do co-
nhecimento quando nos assumiram como “cravos” e nossos filhos e filhas como “ro-
sas” e “botões”.
A Organização das Nações Unidas (ONU), os governos e a sociedade civil,
estão a realizar diversas iniciativas para debater sobre que caminho a sociedade e em
especial os adolescentes devem seguir após 2015. Instituiu-se um sistema de consul-
tas em 50 países sobre 9 temas diferentes (não igualdade, saúde, Educação, cresci-
mento e emprego, sustentabilidade ambiental, segurança alimentar e nutrição, gover-
nação e conflito).

283
A juventude brasileira, como um dos principais desafios do país, é a
“agenda mais importante, no sentido de traçar o futuro da Nação”. A população jo-
vem (entre 15 e 29 anos, segundo classificação das Nações Unidas), soma 51 milhões
de brasileiros, e será a maior da história do Brasil.
É a segunda mais otimista em relação ao seu futuro pessoal e a terceira a
considerar que as perspectivas de seu país são promissoras, ela vê a globalização
como uma oportunidade e não como uma ameaça.
O que chama a atenção é que, se essa juventude representa hoje uma força
de trabalho que pode beneficiar a produtividade e a produção, onde há de se aprovei-
tar o momento para gerar riquezas a fim de evitar futuros problemas principalmente
para a Previdência Social, quando essa geração de jovens começar a se aposentar.
Ao mesmo tempo, o Brasil tem um potencial imenso para gerar empregos.
Neste país, tudo está para ser feito. Superados os constrangimentos macroeconômi-
cos e os problemas da Educação e da legislação, o país pode se tornar uma verdadeira
usina de empregos.
O principal efeito das tecnologias é o deslocamento da mão de obra de um
setor para outro. Nos próximos 20 anos, a indústria e a agropecuária empregarão
menos gente e o comércio e serviços empregarão muito mais.
Na luta por melhores condições de vida, um caminho adequado é buscar o
maior número de informações sobre tudo o que está envolvido na escolha de uma
meta: conhecer a si, explorar a realidade do trabalho em nossa sociedade e pesquisar
as profissões que possam se aproximar de um projeto de vida tudo tem importância.
Por isso é necessário aproveitar essa onda jovem.
A geração de empregos depende de vários fatores. Três deles são essenciais:
crescimento econômico sustentado, educação de qualidade e legislação realista. O
Brasil está mal em todos. O crescimento econômico tem sido anêmico. O ensino con-
tinua precário. E a legislação trabalhista não está ajustada em relação às novas formas
de trabalhar.
No comércio e serviços, diminuirá a demanda de profissionais que podem
ser substituídos pelas tecnologias da informática - almoxarifes, controladores, tele-
fonistas, caixas e muitos outros do mesmo gênero.
O mundo do futuro estará cada vez mais atento às condutas e aos hábitos
dos profissionais. A ética para o trabalho está tendo um papel crescente. Você tem
de mostrar agora que é um profissional responsável e que cultiva sua reputação.
Convém saber que o mundo no qual o jovem irá trabalhar está passando por
uma verdadeira revolução. A velocidade das inovações tecnológicas é meteórica. Os
equipamentos e processos que surgem hoje, serão obsoletos amanhã. Para acompa-
nhar essa velocidade de mudança não basta ser adestrado.

284
É preciso ser educado - e bem educado. A boa educação é aquela que dá a
cada pessoa a autonomia para crescer, a que injeta a necessidade da curiosidade, que
as leva a explorar o não conhecido o tempo todo, lendo intensamente não só sobre a
sua profissão mas sobre as profissões correlatas. Educação que garanta unicidade e
qualidade será o ingrediente fundamental para elevar a empregabilidade dos jovens.
É claro que o mercado tem de abrir novas oportunidades para as pessoas
trabalharem. Educação não gera empregos diretamente. Mas a existência de profis-
sionais bem preparados atrai investimentos e estes sim, geram empregos. Está aí a
relação entre Educação e emprego.
Na era da globalização as empresas procuram se localizar e executar suas
atividades nos países onde há energia abundante, instituições confiáveis e profissio-
nais bem educados e responsáveis. A participação popular se torna, através da Edu-
cação, o motor das transformações sociais.
A ideia é que a juventude brasileira utilize as redes sociais buscando conhe-
cimentos e informações como instrumento de luta, levando para todos os cantos do
país a mensagem da manifestação do saber.
Para onde caminha a humanidade? Esta pergunta, nos remete a uma imensa
gama de atividades tecnológicas notadamente humanas que, de certa forma, caracte-
rizam nossa história atual e pregressa no planeta, e que vão se acumulando em termos
de saberes, conhecimentos e aplicações. Para sermos o que somos hoje – afirmamos
– apoiamo-nos em nossas criações tecnológicas.
O domínio do fogo e o lascar da pedra no fim do Período Neolítico, nesse
contexto, são eventos que trazem um empoderamento significativo para nossa espé-
cie que viveu dias de extrema competitividade biológica.
Com o passar dos tempos, e em especial em nossa história criamos e imple-
mentamos outras invenções e inovações tecnológicas – como a escrita, a matemática,
a roda, a vela, a bússola e a pólvora, para citar apenas alguns – que foram se somando
e se cristalizando nas culturas formando uma unidade, o que veio a nos garantir so-
brevivência e permanência filogenética, através das eras e milênios que iriam se su-
ceder a partir de então.
Foram estas mediações técnicas que garantiram e viabilizaram a nossa
constituição social e cultural, mas também foram elas que nos transformaram através
dos tempos, pois deixaram em nós e em nossas culturas as marcas das técnicas que,
por si, geram uma dependência da técnica pela técnica.
Mas não se tratou de um progresso linear, cumulativo e crescente, como
poderíamos acreditar, e, sim, de uma história enviesada, complexa e rebuscada, de
um desenvolvimento da espécie que se estruturava em seu dinâmico e multifacetado

285
habitat, e de seres e mais seres que lançaram os alicerces do que seria a nossa huma-
nidade.
Complexidade, complexificação e unicidade cultural que vieram juntos
com a expansão cognitiva e sensorial corpórea dos primeiros hominídeos, que emer-
giu, por sua vez, devido ao progressivo desenvolvimento biológico de nossos cére-
bros, em especial de nosso neocórtex.
Originou-se daí, uma trajetória épica cheia de pontuais avanços e recuos,
bonanças e crises, longuíssimos períodos de frio e calor, colapsos e extinções, efeitos
e frutos do clima das eras glaciais primitivas a se suceder, da extrema competitivi-
dade entre espécies e do ambiente inóspito e hostil destes tempos primevos, ora lon-
gínquos.
Fato é que foram acontecimentos ímpares e que na prática, serviram como
condições adaptativas necessárias para que nossa espécie, arguta e sagaz que se de-
nomina homo sapiens pudesse advir, evoluir e se consolidar. Essa interface tecnoló-
gica com o mundo ao nosso redor faz parte de nossa forma de concebê-lo e interagir
com ele.
Somos seres simbolizantes e tecnológicos – se é que é lícito dizê-lo – por
natureza. Para confirmar tal teoria, basta ver os objetos técnicos que existem atual-
mente à nossa volta, e a importância que damos a eles enquanto objetos estruturantes
de nossa cultura, tornando-os úteis e até necessários ao fluir e refluir de nosso próprio
dia a dia tecno-informático-computacional.
Nessa linha ética pautada na unidade do conhecimento é que se estabelece
a caminhada de nossos descendentes em busca de um futuro melhor. Conforme a
globalização estabelece os jovens atuais focam sua caminhada exclusivamente no
domínio simbólico onde predomina a virtualidade, o que atualmente se entende por
“quinto cérebro.
Desde o final do século XX, surgiu uma nova tecnologia que se ba-
seia na operacionalização da matéria em escala manométrica, a “Nanotec-
nologia”, modificando a maneira como o cérebro representa o pensamento e
os elementos constituintes do Universo.
A Nanotecnologia é a manipulação de estruturas atômicas e mole-
culares, em dimensão reduzida, presente em escala que corresponde a um
bilionésimo de metro (10-9m), denominada “nano”. Ela, revolucionou a
forma como o cérebro representa, vivemos, nos comunicamos e como traba-
lhamos o conhecimento.
Nosso cérebro é tal que permite entender a tecnologia, a linguagem,
o símbolo e as demais ações humanas em qualquer dimensão: em um mundo

286
de estruturas e formas energéticas movendo-se em um espaço tridimensional
e em velocidades moderadas.
Sendo animais simbolizantes, desde nossa estruturação, não fomos
“preparados” biologicamente para compreender o que se encontra fora da
tridimensionalidade espacial, nem o muito pequeno e nem o muito grande.
Possuímos um cérebro que limita nossas ações perceptivas; não
conseguimos imaginar um intervalo de tempo inferior a um pico segundo,
mas podemos fazer cálculos e construir máquinas capazes de calcular até
mesmo em períodos inferiores.
Também, não conseguimos perceber um intervalo de tempo longo
do tipo, um milhão de anos, muito menos os milhares de milhões de anos
que os físicos computam, pois o cérebro humano foi “projetado” para lidar
apenas com faixas estreitas de informações, tamanhos limitados e um redu-
zido intervalo do espectro eletromagnético.
Diante da evolução tecnológica, ainda não inventaram um esquema
lógico matemático aceito pelos pesquisadores, que seja capaz de esclarecer
o comportamento de nosso cérebro ao lidar com a complexidade que é o
humano naquilo que se refere ao pensamento e ao domínio simbólico.
Atualmente, se sabe que o cérebro é o órgão responsável pelo com-
portamento e pelas faculdades mentais. As pessoas também entendem que
fenômenos químicos, elétricos e magnéticos estão por trás do funcionamento
do sistema nervoso.
O cérebro humano foi investigado dos pontos de vista anatômico,
bioquímico e fisiológico, no final do século XX, utilizando-se de técnicas
apuradas. No entanto, muitos desses estudos não fizeram avançar de modo
adequado o problema de como ele funciona com base em um modelo defi-
nitivo.
No estudo envolvendo as percepções, sob muitos aspectos um in-
teresse encontra-se voltado para as pesquisas desenvolvidas que estudam o
simbólico, o sistema nervoso e, em especial, o cérebro como uma unidade e
sua relação com as palavras, conceitos, estereótipos, seus significados e suas
representações.
Mas, à medida que os pesquisadores decifram estas percepções,
descobrem o cérebro como um paradoxo, um verdadeiro holograma. Pois,
como podemos usar o cérebro para explicar o cérebro?

287
O humano em seu processo de adaptação e evolução passa por vá-
rios estágios de aprendizagem durante o viver. Em cada estágio, tem-se as-
sociado uma propensão para o desenvolvimento de competências específi-
cas.
Nosso cérebro não é uma tabula rasa ao nascer como muitas pessoas
pensam; onde tudo que precisamos para sobreviver tem que ser descrito a
partir de aprendizagem.
Trazemos um conhecimento selecionado, implantado durante mi-
lhares de anos e que utilizamos para entender, representar e descrever a Re-
alidade, localizado no cérebro instintivo, aquilo que os pesquisadores cha-
mam de “inatismo”.
As pesquisas constataram que o cérebro humano ao longo de sua
evolução pode ser assumido para fins de análise constando de cinco etapas
distintas: instintiva, emocional, simbólica, cognitiva e virtual.
Ao se observar a história da evolução do cérebro, se torna evidente
o acréscimo e a especialização das camadas cerebrais que envolvem a me-
dula, o rombencéfalo e o mesencéfalo.
A cada etapa evolutiva, foi sendo acrescida outra, com suas novas
funções. Cada uma procurando controlar determinados tipos de comporta-
mento, variando do inato ao virtual como forma de atender o relacionamento
humano ambiental.
O encéfalo humano foi inicialmente compreendido como três com-
putadores biológicos interligados, cada um com suas funções motoras e ou-
tras, correspondendo a cada etapa evolutiva.
Assim, o cérebro humano atual pode ser considerado em termos mo-
dulares, constituído por cinco estágios os três computadores biológicos in-
terligados mais os estágios cognitivo e o virtual.
A parte mais arcaica do encéfalo compreende a medula espinhal, a
ponte, o bulbo e o mesencéfalo, conjunto denominado pelas pessoas de cé-
rebro “instintivo”. Este é o mecanismo cerebral encarregado de garantir a
sobrevivência, reprodução e preservação da vida.
Há três regentes para o chassi neural: o complexo reptiliano, cons-
tituído pela estria olfativa, corpo estriado e globo pálido; o esquema límbico
circundando o complexo reptiliano responsável pelas emoções; e a aquisição
evolutiva mais recente, o neo-córtex. Este conjunto é chamado de "cérebro
trino".
O cérebro guarda todas as estruturas das quais evoluiu. A mais an-
tiga e primitiva delas é chamada de "cérebro reptiliano", que controla o lado

288
animal e instintivo do humano se encarregando das funções básicas de pre-
servação da vida. Possui padrões de comportamento que são característicos
dos répteis. Quando o cérebro reptiliano se ativa, tem prioridade sobre os
outros cérebros.
As emoções implicam na integração de sensações provenientes do
meio ambiente com as sensações viscerais ao corpo, e esta integração se dá
no cérebro “comportamental” ligado as emoções.
Os estímulos emocionais relacionados ao mundo produzem reações
nos órgãos viscerais. Em seguida as mensagens destes órgãos são transmiti-
das para o Sistema Nervoso Central e para todo o sistema límbico. Consti-
tuindo o comportamento emocional.
A parte de cérebro o córtex pré-frontal, denominado cérebro “sim-
bólico”, é uma área evoluída do cérebro humano, que se encontra acima dos
olhos e atrás da testa, ela é responsável pela simbolização humana, para o
controle e a regulação de partes do cérebro onde nascem as emoções.
Uma espécie de “anjo da guarda” do comportamento, um funciona-
mento não adequado do córtex pré-frontal predispõe gestos de agressão e
alucinação.
A área pré-frontal do cérebro apresenta três sub-regiões com fun-
ções distintas e integradas, cujo comprometimento produz síndromes com
características específicas.
Como parte evolutiva, destaca-se como prolongamento do cérebro
“simbólico”, o neo-córtex "novo córtex", é a denominação que recebem as
áreas mais evoluidas do cérebro.
Estas áreas constituem a "capa" neural que recobre os lóbulos pré-
frontais e os lobos frontais dos mamíferos. Possui seis camadas celulares e
áreas envolvidas com as atividasdes motoras, controle dos movimentos
voluntários e funções sensoriais.
O córtex humano desempenha o papel central envolvendo as
funções complexas do cérebro como memória, atenção, consciência,
linguagem, percepção e pensamento, ele é denominado pelos educadores de
cérebro “cognitivo”.
É o local das representações emocionais e simbólicas, recebendo,
processando, integrando e respondendo com uma ação.
É a sede do entendimento pois se não houvesse córtex não haveria:
linguagem, percepção, emoção, cognição, memória. Seu desenvolvimento a
partir do cérebro “simbólico” permitiu o surgimento da cultura.

289
Enquanto o cérebro “simbólico” se caracteriza por ser a sede dos
símbolos, axiomas e padrões oriundos do cérebro “comportamental”, onde
a razão não atua, age como um painel de controle operacionalizado pelo neo-
córtex, compreende boa parte dos dois hemisférios cerebrais, e alguns gru-
pos subcorticais.
Presente no cérebro, o neo-cortéx assume a função das tarefas cog-
nitivas complexas. Ele é “a mãe da invenção e o pai do pensamento deno-
minado por alguns de abstrato”. No humano o neo-córtex compreende dois
terços do volume cerebral.
A partir deste conhecimento acerca do cérebro, observamos a Rea-
lidade e construímos nossas memórias, selecionando seus conteúdos viven-
ciados para formar nossa mente e consciência.
Entretanto, o processamento cerebral é um processo hierarquizado
e distribuído pelo sistema nervoso, onde o cérebro recebe um conhecimento
através de sua programação genética, epigenética, comportamental e simbó-
lica; programação esta que gera, circuitos para reconhecimento de eventos e
objetos específicos; para organização de atos motores básicos; para reações
de defesa e aproximação e para avaliação emocional da integração do indi-
víduo ao seu meio de convivência.
A inteligência é um elemento desse processo evolutivo, uma das
qualidades que mais admiramos no cérebro. Mas o que é inteligência? Inte-
ligência não é, uma ideia, um conceito, uma qualidade herdada, implantada
por um projetista criativo e nem por qualquer divindade.
Pelo contrário, é uma propriedade de certos esquemas neurais dos
animais que partilham uma estrutura definida: os “esquemas distribuídos”,
revelando determinadas características de sua natureza em termos de este-
reótipos.
Estes esquemas distribuídos são compostos por subsistemas, agen-
tes que se especializam na solução de problemas, porque possuem “ferra-
mentas” especificas para realizar determinadas tarefas.
Nos humanos, podemos falar de inteligência específica (cenesté-
sica; musical; etc.) quando envolvemos subsistemas especializados em efe-
tivar determinadas tarefas programadas. Estas inteligências dependem da es-
pecialização e da integridade de áreas neurais específicas.
Por outro lado, temos uma inteligência global, que se refere à capa
cidade de ordenar e reordenar competências na solução de problemas gerais.
Sem uma compreensão adequada delas, não é possível um entendi-
mento da limitação mental e nem de se trabalhar a integração dos indivíduos

290
na família, escola e no mundo visando a formação de uma cultura e de po-
dermos viver em sociedade.
Aprender não é um processo localizado, no cérebro, as áreas cere-
brais se especializam para o desenvolvimento do processamento sensorial,
controle da motricidade, diferentes memórias, avaliações das decisões toma-
das, etc. Mas nenhuma área é, por si só, responsável pelo processo de apren-
dizagem.
Assim, o papel fundamental do cérebro é investigar o mundo através
de seus esquemas sensoriais, para descobrir as relações entre os fatos obser-
vados, que são úteis em sua adaptação ao ambiente em que vive.
Os fatos registrados pelos esquemas sensoriais são chamados de
“dados”. As relações identificadas entre os dados observados, são denomi-
nadas de “informações”. O armazenamento de dados é uma função básica
da memória global. O que resulta é expresso em termos de “aprendizagem”.
A ativação das diferentes memórias do indivíduo é desencadeada
por um conjunto de informações em um determinado contexto.
A partir das relações que essas informações têm com os dados ar-
mazenados nas memórias, os diversos circuitos associados as mesmas são
ativados para participar na elaboração e simulação dos planos programáticos
a serem desenvolvidos.
No cérebro de todos os mamíferos, há uma “casca” fina que o re-
veste, uma substância gelatinosa. É difícil acreditar que esse fino lençol con-
tenha toda a perspicácia de um animal, a inteligência a ser desenvolvida.
Essa fina camada de células nervosas ocupa uma posição seme-
lhante à que a casca ocupa nas árvores, ela ficou conhecida como córtex
cerebral(“casca” em Latim). Qualquer que seja o tipo de inteligência, essa
capacidade está situada no córtex.
Algumas pessoas não têm habilidades cognitivas desenvolvidas
para certas atividades como – esportes, músicas, por exemplo. Porém o trei-
namento em um tipo de inteligência observado, o aproximará do desenvol-
vimento de uma aptidão que poderá vir a ser especializada tornando-se uma
profissão.
Entretanto, não se sabe ainda neste confuso emaranhado de vias que
se conectam para formação das representações mentais, onde se encontra o
ponto de união e como funciona o cérebro no sentido de conhecer quando
um objeto é experimentado pela visão e quando é imaginado por uma pessoa.

291
A chave para tal compreensão encontra-se na divisão do trabalho
realizado pelos hemisférios cerebrais, quando sentem a necessidade de dar
sentido, coerência, coesão e continuidade ao viver.
Como então trabalhar o cérebro diante de todas estas alterações na
elaboração de procedimentos frente ao nosso viver na sociedade globali-
zada? O que se espera de uma pessoa em relação ao trabalho e as manifes-
tações que o sustenta? Quais as novas demandas sociais existentes para o
indivíduo que busca se envolver com o conhecimento emergente?
O conhecimento, não pode ser aprisionado em modelos e normas a
serem seguidas, porque não temos um “a priori”, mas um saber que se pro-
duz em determinado momento histórico e por isso, tem que ser elaborado,
num movimento de re-elaboração de esquemas, teorias, métodos, e princí-
pios; isto é, faz-se necessário ratificar caminhos, abandonar vias e retraçar
outras.
Há um enorme temor quanto ao surgimento e uso das novas tecno-
logias e como estas irão afetar o funcionamento do cérebro, da mesma forma
que os primeiros hominídeos temiam o fogo. Na Nanotecnologia existe o
medo dos nano-robôs, na Biotecnologia dos transgênicos e a clonagem. Na
Infotecnologia eles aparecem em computadores sencientes, contudo o maior
receio, está no uso da Neurotecnologia manipulando o cérebro das pessoas
através do uso de chips.
As transformações ambientais, a globalização, os estudos envol-
vendo o cérebro e as NTIC – Novas Tecnologias de Informação e Comuni-
cação com sua aplicação em todos os âmbitos da sociedade, revolucionaram
o agir humano, exigindo mudanças que possibilitem um vivenciar ético em
termos de universais.
O século XXI, como resultante de todo um processo tecnológico
milenar, se caracteriza atualmente por mudanças onde o conhecimento ao
priorizar a informação e a comunicação tem se aprofundado nos campos da
Física Quântica, da Biologia Molecular e no uso da Informática.
Um paradigma cerebral procura estabelecer um modelo que inclua
todas as esferas do saber quer cientifica, filosófica, religiosa, comum, etc.
Mas, não existe qualquer explicação racional que possa justificar o
motivo das mudanças paradigmáticas, desse olhar que impulsiona o humano
a buscar transformações capazes de manter a chama da motivação para se
viver.
Os paradigmas são uma constelação de abordagens, teorias, noções,

292
métodos e procedimentos etc., que determinada comunidade compartilha,
aquilo que lhe permite escolher os problemas e a resolvê-los, um horizonte
para a vida.
Aceitar um paradigma é, então, pertencer a determinada comuni-
dade do conhecimento, é ser visto como igual por seus pares; e isto só ocorre
quando o indivíduo se comporta segundo os padrões daquela sociedade.
Quando o biólogo Jean Piaget, mostrou que somos animais simbo-
lizantes e não seres racionais superando a epistemologia clássica inventada
pelos gregos há mais de dois mil anos, criando outro paradigma em seu lugar
a “epistemologia genética”, o mesmo ocorreu com relação aquele, após o
surgimento das tecnologias cognitivas expostas de forma midiática.
Até a década de 1930, engenheiros construiam circuitos eletrônicos
para resolver problemas lógicos e matemáticos, mas faziam sem seguir
qualquer processo.
Isso mudou com Claude E. Shannon, ao perceber que uma palavra
poderia ser aplicada a um conjuntos eletro-mecânicos para resolver
problemas de lógica. Tal ideia, que utiliza propriedades de circuitos
eletrônicos para a lógica, é o entendimento básico de todos os computadores
digitais.
John Von Neumann propôs a ideia que transformou os
calculadores eletrônicos em "cérebros eletrônicos": modelando a arquitetura
do computador segundo o Sistema Nervoso Central.
Depois, foi a vez do termo máquina computacional perder espaço
para o termo computador no final da década de 1940. Em 1984 surgiu o
Macintosh, o primeiro computador de sucesso com uma interface gráfica
usando ícones, janelas e mouse.
No século XXI, a partir de iniciativas de empresas como o Google,
a Nokia e a Apple, iniciaram uma extensão de computadores que resultou na
unificação de linguagens de tecnologias já existentes, e consequente
extensão das funcionalidades.
A computação pessoal deixou de se limitar aos chamados desktops
(microcomputadores) e passou a incluir outros dispositivos como telefones
celulares e aparelhos de televisão, bem como uma nova categoria de
dispositivos chamado tablet - uma espécie de computador portátil, sem
teclado físico nem mouse e com tela sensível ao toque, de tamanho reduzido.
As TIC’s (Tecnologias de Informação e Comunicação) aplicadas à
produção industrial e às atividades de gestão, finanças e serviços consegui-

293
ram integrar locus globais de produção e reprodução da sociedade de mer-
cadorias.
Pela primeira vez na história da civilização humana, constituiu-se
uma “sociedade global” cuja forma material é dada pelo complexo social das
redes virtuais, interativas e controlativas, que contêm e fazem circular “pa-
cotes” de informações.
O “paradigma microeletrônico” promoveu mudanças que afetaram
a economia, envolvendo alterações técnicas e organizacionais, mudando
produtos e processos e criando novas indústrias.
Os novos meios informáticos de trabalho abriram uma nova era na
história da humanidade: a da objetivação, pela máquina, de funções simbó-
licas, reflexivas, do cérebro – não mais apenas as funções cerebrais ligadas
à atividade sensorial e da mão.
O surgimento de objetos técnicos simbólicos constituindo as redes
informacionais, alteraram a relação entre matéria técnica (objeto de traba-
lho) e forma organizacional (gestão de trabalho).
Foi com o surgimento das redes informáticas e telemáticas, e da In-
ternet, que a ideia de rede informacional assumiu um novo arcabouço, ela
passou a representar uma rede de pessoas mediadas por máquinas informá-
ticas. Surgindo o ciberespaço, a virtualização em rede técnico-informacio-
nal.
O novo espaço de sociabilidade virtual, o ciberespaço, passou a ser
um campo de integração difusa e flexível dos fluxos de informações e de
comunicação entre máquinas computadorizadas, um complexo mediador en-
tre as pessoas, baseado em dispositivos técnicos, um novo espaço de intera-
ção e de controle sócio-humano criado pelas novas máquinas e seus proto-
colos de comunicação com extensão virtual do espaço social propriamente
dito.
Com o ciberespaço surgiu a possibilidade do humano não ser meio,
como ocorria com a máquina da indústria, mas, sim, pólo ativo de um pro-
cesso de simbolização afetado pela categoria de trabalho não material, uma
forma de trabalho inscrita no trabalhador coletivo.
Desse ambiente, nasceu a história do chip, a necessidade de um
componente eletrônico que ocupasse menos espaço e consumisse menos
energia, mas ao mesmo tempo amplificasse sinais elétricos com qualidade e
rapidez, capaz de se integrar definitivamente ao organismo humano.
Isso modificou totalmente a sociedade. O chip marcou -- assim
como a máquina a vapor, a eletricidade e a linha de montagem em outros

294
tempos -- um avanço singular no desenvolvimento cerebral e tecnológico da
humanidade.
Observando o chip como parte de uma unidade globalizada, ele
passou a ser entendido através das NTIC e a fazer parte do humano so-
mando-se virtualmente as demais partes evolutivas cerebrais de modo a se
tornar no que hoje as pessoas denominam de “quinto cérebro”, face a sua
vinculação continua as operações cerebrais de nosso agir.
Assim, o chip se unifica ao pensar integrado e unificado de nosso
ambiente de modo que o humano passou a integrar ao seu organismo um
elemento antes considerado fora de seu padrão vivo assumindo o paradigma
da unidade cerebral agora formada por instinto, comportamento, simboliza-
ção, cognição e virtualização.
Isto resultou na integração de todos os paradigmas expressados
em uma unidade hipertextualizada que o Monismo considera como Unidade
do Conhecimento da Realidade modificando complemente o modo de vida
das pessoas no mundo globalizado e sendo capaz de alterar todas as evolu-
ções anteriormente formadas.
Diante do surgimento do quinto cérebro, quais as rotas sócio edu-
cacional que os descendentes de Honório José de Abreu vem assumindo?
O caminho oriundo da quiralidade em sua evolução pautou a ética
antes filosófica em ética do conhecimento criando para atualidade as rotas
culturais de “tribos” cujo os grupos aderiram ao longo do planeta os seguin-
tes níveis de conhecimento: educador, sábio, gênio, professor, facilitador,
treinador, gestor, senso comum, etc.
Os levantamentos educacionais das tribos que o ramo Abreu-Braga
chegou a realizar com os descendentes da família Abreu-Outros, desta-
cando-se: Ma. Otília de Abreu/Jerônimo Honório de Abreu Neto; Ma. da
Penha de Abreu/Walfrido Machado; Cristovam de Abreu /Fca. Pereira de
Abreu; Américo de Abreu/Carmem Andrade de Abreu; Alice de Abreu /Má-
rio Braga Brasil; Ma. Aurélia de Abreu/Amadeu Ferreira Braga; Antônio de
Abreu/Odete Lima de Abreu/Graziela Rebouças de Abreu; Clovis de
Abreu/Leonilha Rodrigues de Abreu; Ma. Julia de Abreu Pereira/José Mar-
ques Pereira; Clotilde de Abreu Pereira/José Marques Pereira; Sebastiana de
Abreu Pompeu/Antônio Pompeu de Abreu; Fco. de Abreu/Edite Mendes;
Rdo. de Abreu/Ma. Ita Freitas de Abreu; José de Abreu /Esther Martins de
Abreu, nos dá uma ideia do que nos tornamos.
Os tribalistas familiares passaram aderir as regras: Talião de Ha-
murabi(olho por olho e dente por dente), Ouro de Jesus de Nazaré(faz aos

295
outros o que desejas que te faças), Prata de Ghandi(não faças aos outros o
que não desejas que te façam), Bronze de Confúcio(pague a bondade com
a bondade e o mal com a justiça),Ferro dos cientistas(faz aos outros o que
quiseres, antes que te façam o mesmo), Latão dos cidadãos(coopera com os
outros primeiro, depois faz a eles o que te fazem), Barro da globalização(na
obtenção do sucesso, destrua seus inimigos e se necessário seus amigos tam-
bém).

296
Considerações finais

Comecei o texto ocupando-me do assunto desafiador inteligência e Educa-


ção na família, pois desde criança ouço de alguns parentes nativos da região, a infor-
mação de que os descendentes de Honório José de Abreu possuem várias qualida-
des, menos Educação. Necessitamos acrescer mais uma às existentes, é hora de se
obter conhecimento que remeta à educação dando sentido ao nosso viver.

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Muitos senão todos poderão comentar que fiz uma “salada” do saber pro-
curando reunir o que se entende acerca do conhecimento, visto não se encontrar acos-
tumados a compreender a Realidade como um quadro único do viver que os gregos
um dia dividiram em disciplinas e colocaram nas escolas ocidentais para ser apren-
dido.
O sentido da vida constitui um questionamento pessoal acerca do propó-
sito e significado da existência humana, ela demarca a "interpretação do relaciona-
mento entre o humano como pessoa e seu mundo". Há uma quantidade de respostas
para "o sentido da vida", relacionada às ideologias filosóficas, religiosas e científicas
que pode por si só se distinguir, bem como variar no decorrer da vida de cada um,
sem no entanto, existir consenso sobre tal.
Antigamente, o sentido da vida consistia da aquisição da felicidade (eudai-
monia), era considerada a característica mais elevada e a mais desejada. Neste con-
texto, as diferenças entre as escolas resultavam das diferentes compreensões acerca
da felicidade e como tal, cada uma acreditava que ela pudesse ser atingida. O enten-
dimento da vida possui um significado que é parodiado na cultura popular escrita no
livro O Alquimista, não o de Paulo Coelho, que apresenta o significado da vida como
uma jornada para encontrar o "caminho".
Qual o sentido da vida? A ciência propõe como explicação para essa dú-
vida, que o sentido da vida é se reproduzir, e ter descendentes. Quando inquirido a
dar a resposta a última questão da vida, o computador "Deep Thought" revelou como
resposta o nº 42. Que obrigou a construção de um outro computador para explicar o
significado do nº 42. A construção deste computador nunca viria a se concluir.
O sentido da vida sempre preocupou a humanidade. Por que vivo? Qual o
objetivo de se viver? O filósofo Aristóteles já se perguntava: “Por que estamos aqui?”
Charles Chaplin afirmava que “A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios.
Por isso cante, dance, ria e viva cada minuto de sua vida, antes que a cortina
se feche e a peça termine sem aplausos”. Para mim, o sentido da vida é estar vivo. É
tão claro, óbvio e simples que chega assustar muitos. Mesmo assim, as pessoas não
param de correr, assumindo procurar conseguir o que não se sabe existir além de si.
Portanto, ao escrever estas páginas, aprendi que é difícil afirmar quando se
termina um livro e qual seu sentido. O momento em que se escreve e quando se des-
cobre o título, quando se conta a ideia, quando se coloca o projeto à prova de seu
próprio crivo, quando se decide que vale a pena relatar o que sabemos fica difícil
dizer que terminei encontrando sentido para o que fiz.
Assim, considero melhor dizer que comecei um desafio para outras pessoas
terminarem. Foi pela prática de uma liberdade quase infantil que passei a imaginar
palavras, prosas e textos que tiveram o atrevimento de convidar à convivência com

298
outras pessoas como uma árvore que deseja ser cultivada eternamente, sem saber
como será sua forma, seus frutos e seu fim.
Logo que o texto foi se formando surgiu a vontade de dar diferentes trata-
mentos à linguagem, de lidar com a variedade de assuntos e imagens, de criar uma
relação entre eles. Entendi que o que daria coerência ao conjunto seria uma espécie
de personalidade do texto, que tinha em comum a ironia, a metáfora, a ligação com
o vivido e a forma e gênero estabelecidos.
Ao nomear os capítulos do texto, fui atrelando significados do novo e do já
distante ocorrido. Para mim os significados juntados, foram gerando um tapete na
sala de casa, com as páginas se posicionando sequencialmente. Assim, podia reor-
dená-las com facilidade, visualizando o livro como um conjunto que me entretinha,
literalmente, descrevendo, remendando e unificando o que meus familiares já tinham
começado.
Após anos de reescritas, leituras e revisões — o livro ficou pronto, no dia
do lançamento posso afirmar que se termina o livro. Lançá-lo ao mundo é, sem dú-
vida, um recomeço na esperança de que não seja o suficiente, e de que reste nele pelo
menos o desejo de alguém retomá-lo.

Mapa Genealógico da família de Honório José de Abreu

Teodósio de Araújo Abreu – Lisboa/Portugal


e
Joana Barbosa Fagundes – Goiana/Pernambuco

Baltazar Antunes de Moura – Açu/RN


e
Ma Josefa da Cunha Rosa – Aracati/CE

Honório José de Abreu – Aracati/CE

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e
Rita Camelo Pessoa – Cariri Novos/CE

João Honório de Abreu – Sobral/CE


e
Ana Ma. Correia Costa – Sobral/CE

Fco. Camelo Pessoa Neto – Sobral/CE


e
Jacinta Ma. do Espírito Santo – Sobral/CE

Ana Ma. da Cunha Rosa – Sobral/CE


e
Fco. de Sousa Machado – Sobral/CE

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