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28 HABEAS CORPUS INTERPOSTO NO TRIBUNAL DE JUSTIÇA CONTRA


DECISÃO QUE DETERMINOU A INTERNAÇÃO PROVISÓRIA DE
ADOLESCENTE EM PROCEDIMENTO DE APURAÇÃO DE ATO
INFRACIONAL

Excelentíssimo Senhor Doutor Desembargador Presidente do ____ Egrégio Tribunal de


Justiça do Estado de São Paulo.

Gediel Claudino de Araujo Júnior, brasileiro, casado, advogado,


portador do RG 00.000.000-SSP/SP e do CPF 000.000.000-00, com escritório na Avenida
Brasil, nº 00, sala 00, Centro, cidade de Mogi das Cruzes-SP, CEP 00000-000, onde recebe
intimações (e-mail: gediel@gsa.com.br), vem respeitosamente à presença de Vossa Excelência,
com arrimo no artigo 5º, inciso LXVIII, da Constituição Federal, nos artigos 647 e 648, I, do
Código de Processo Penal e no art. 152 da Lei nº 8.069/90, impetrar o presente habeas corpus,
com pedido liminar, em favor do adolescente T. C. de M., filho de G. B. de M., que se encontra
sofrendo constrangimento ilegal por parte do Douto Magistrado da Vara da Infância e
Juventude da Comarca de Mogi das Cruzes-SP, que, em procedimento de apuração de ato
infracional, decretou a sua internação provisória, em conformidade com as razões de fato e de
direito que a seguir passa a expor:

Dos Fatos:

O paciente foi representado pelo Ministério Público porque no dia 00 de


abril de 0000 teria supostamente praticado ato infracional equiparado ao crime de tráfico ilícito
de entorpecentes (art. 33, Lei nº 11.343/06).

Recebida a representação, a Autoridade Coatora determinou a internação


provisória do menor sob o singelo argumento de que o fato supostamente praticado pelo menor
era de natureza grave, ligado à violência e causava desassossego na sociedade.

A evidente ilegalidade da medida aplicada pelo Magistrado demanda a


interposição do presente writ.

Da Ilegalidade da Decisão que Determinou a Internação Provisória:

As medidas socioeducativas não têm, como se sabe, natureza punitiva, mas


apenas educativa, considerando a situação especial do adolescente como pessoa em
desenvolvimento. Neste sentido, a jurisprudência:

Tratando-se de menor inimputável, não existe pretensão punitiva estatal


propriamente, mas apenas pretensão educativa, que, na verdade, é dever não
só do Estado, mas da família, da comunidade e da sociedade em geral,
conforme disposto expressamente na legislação de regência (Lei 8.069/90,
art. 4º) (STJ, HC 83.315/DF, Min. Arnaldo Esteves Lima, 5ª Turma, DJe
26.05.2008).
Por esta razão é que o Estatuto da Criança e do Adolescente estabelece, no
artigo 108, que a decisão que determina a “internação provisória” deve ser “fundamentada”; no
sentido de que o juiz deve demonstrar a sua necessidade imperiosa para o resguardo do bem-estar
do adolescente. Note-se, inclusive, que o foco da norma não é a proteção da sociedade, mas sim
do próprio menor infrator, que tem prioridade absoluta. Sobre o tema, veja-se a seguinte ementa:

A decisão monocrática que determinou a internação provisória não atende


ao disposto no art. 108, parágrafo único, do Estatuto da Criança e do
Adolescente, pois não foi motivadamente demonstrada a necessidade
imperiosa da medida (STJ, HC 50.340/SP, Min. Laurita Vaz, 5ª Turma, DJ
07.12.2006).

O simples fato da decisão impugnada não estar corretamente embasada,


desatendendo expressa norma legal (art. 108, parágrafo único, ECA), é suficiente para
caracterizar a sua ilegalidade. Entretanto, a medida se mostra ainda mais injusta e ilegal
quando se analisam as circunstâncias específicas que envolvem o menor e o fato.

O paciente, como já se disse, foi detido por suposta prática de ato infracional
equiparado ao delito de tráfico de entorpecentes; contudo, com ele não foi apreendida qualquer
arma, nem se tem notícias de que ele tenha se envolvido em qualquer ato de agressão a colegas,
vizinhos, amigos ou familiares.

Embora não se negue que o crime que ele supostamente teria cometido seja
realmente de natureza grave, tal fato não é bastante para justificar a sua internação. Neste sentido
a jurisprudência:

Os atos infracionais cometidos pelo menor – tráfico de drogas e posse ilegal


de arma –, embora sejam socialmente reprováveis, são desprovidos de
violência ou grave ameaça à pessoa. Não há, portanto, como subsistir, na
espécie, a medida excepcional imposta, porquanto a conduta perpetrada pelo
Paciente e suas condições pessoais não se amoldam às hipóteses do art. 122,
do Estatuto da Criança e do Adolescente. (STJ, HC 50.340/SP, Min. Laurita
Vaz, 5ª Turma, DJ 07.12.2006)
Ressalte-se, ademais, que a medida privativa da liberdade está sujeita ao
princípio da excepcionalidade. Sobre o tema, assim já se manifestou o Superior Tribunal de
Justiça, in verbis:
Em face do princípio da excepcionalidade, a aplicação da medida de
internação por prazo indeterminado somente é possível nos casos em que (A)
o ato infracional for praticado com grave ameaça ou violência contra a
pessoa, ressalvadas as hipóteses nas quais outras medidas menos severas
forem suficientemente adequadas; (B) houver o reiterado cometimento de
outras infrações graves ou, ainda (C) haja o descumprimento reiterável e
justificável de medida anteriormente imposta. A reiteração prevista nos
incisos II e III do art. 122 do ECA, não se confunde com o conceito de
reincidência, de sorte que, para sua configuração, é necessária a prática de,
pelo menos, 3 atos anteriores, seja infração grave ou medida anteriormente
imposta, respectivamente” (STJ, HC 90.920/SP, Ministro Napoleão Nunes
Maia Filho, 5ª Turma, DJe 26.05.2008).

Como se vê, o paciente não pode ser mantido em regime de internação


simplesmente porque teria praticado ato infracional grave, deveria o juiz de primeiro grau ter
apontado por que as condições pessoais dele ou de sua família estariam a justificar a medida.

Não o fez porque na verdade o menor possui todas as condições para


responder ao procedimento em liberdade; tem apoio de sua família e não apresenta histórico ou
personalidade tendente à violência.

Da Liminar:

A concessão da liminar se justifica não só pela evidente falta de


fundamentação do decreto que determinou a internação do paciente, mas também porque não se
vislumbra do caso a ocorrência de nenhuma das hipóteses permissivas de internação (art. 122,
ECA). Não se pode deixar de registrar, ainda, que a jurisprudência do Superior Tribunal de
Justiça já pacificou entendimento a favor da tese que não basta para a internação do adolescente a
gravidade abstrata do delito praticado.

Sendo assim, caracterizado o periculum in mora, em razão dos prejuízos que


estão a advir ao paciente, e o fumus boni juris, em razão de a matéria já estar pacificada,
REQUER-SE seja concedida a liminar.

Do Pedido:

Ante o exposto, requer seja liminarmente concedido o presente writ,


determinando a Autoridade Coatora que libere imediatamente o paciente, e, por decisão de
mérito, seja acolhido o presente, reconhecendo a ilegalidade da decisão que determinou a
internação provisória, confirmando-se a liminar.

Termos em que,

p. deferimento.
M. Cruzes/São Paulo, 00 de abril de 0000.

Gediel Claudino de Araujo Júnior

OAB/SP 000.000

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