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Poder Judiciário da União

Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios

Órgão 6ª Turma Cível


Processo N. Agravo de Instrumento 20100020202174AGI
Agravante(s) ANTONINO DA SILVA FILGUEIRA
Agravado(s) SANTANDER LEASING S/A ARRENDAMENTO MERCANTIL
Relatora Desembargadora ANA MARIA DUARTE AMARANTE BRITO
Acórdão Nº 495.052

EMENTA

CIVIL. PROCESSO CIVIL. OBRIGAÇÃO DE FAZER. ASTREINTES. VALOR.


PARÂMETROS. CABIMENTO. LIMITE LEGAL. INEXISTÊNCIA. FUNÇÃO
COERCITIVA. ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA. VEDAÇÃO. MULTA 475-J, CPC.
Em se tratando de obrigação na qual predomina o facere, preocupou-se o legislador
em conferir maior eficácia às decisões e sentenças, já que, não podendo o Estado
se valer, na espécie, dos meios de sub-rogação, para deferir ao Credor a prestação
específica, substituindo a atividade da devedora recalcitrante, emprestou maior força
de coerção ao provimento judicial, prevendo a fixação de astreintes, até mesmo
independentemente de pedido nesse sentido.
Conforme doutrina de Nelson Nery Jr., “o objetivo das astreintes não é obrigar o réu
a pagar o valor da multa, mas obrigá-lo a cumprir a obrigação na forma específica. A
multa é apenas inibitória”.
O legislador não estabeleceu qualquer teto quanto ao valor das astreintes, ao
contrário, por exemplo, do que fez com o instituto de direito material que é a cláusula
penal, que terá, no máximo, o valor do montante do débito. Todavia, a jurisprudência
de nossos tribunais tem se ocupado em fixar-lhe a justa medida, a fim de que não
seja tão baixa, que se esvazie sua função coercitiva, ou tão alta, que favoreça o
enriquecimento sem causa.
A possibilidade de adoção de outros meios coercitivos, como o bloqueio judicial dos
ativos financeiros do requerido em montante suficente em favor do juízo, cuja
restituição somente se dará após o cumprimento da obrigação de fazer constitui
circunstância relevante para justificar a limitação do valor das astreintes, caso se
mostre excessivo o valor inicialmente fixado, em observância aos princípios da
razoabilidade e da proporcionalidade, bem como à regra geral que veda o
enriquecimento sem causa, ressaltando-se que multa cominatória não é reparação
de danos.
A natureza jurídica das astreintes é coercitiva e não condenatória, razão pela qual a
multa do artigo 475-J do CPC não deve ser abarcá-la.
Apelo conhecido e não provido.

Código de Verificação:
AGRAVO DE INSTRUMENTO 2010 00 2 020217-4 AGI

ACÓRDÃO

Acordam os Senhores Desembargadores da 6ª Turma Cível do Tribunal


de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, ANA MARIA DUARTE AMARANTE
BRITO - Relatora, JOSÉ DIVINO DE OLIVEIRA - Vogal, VERA ANDRIGHI - Vogal, sob
a Presidência do Senhor Desembargador JOSÉ DIVINO DE OLIVEIRA, em proferir a
seguinte decisão: NEGOU-SE PROVIMENTO. UNÂNIME, de acordo com a ata do
julgamento e notas taquigráficas.
Brasília (DF), 6 de abril de 2011

Certificado nº: 44 36 98 76
06/04/2011 - 18:46
Desembargadora ANA MARIA DUARTE AMARANTE BRITO
Relatora

Código de Verificação: VPJO.2011.R7ZJ.4K2G.IQNF.LDA8VPJO.2011.R7ZJ.4K2G.IQNF.LDA8


GABINETE DA DESEMBARGADORA ANA MARIA DUARTE AMARANTE BRITO 2
AGRAVO DE INSTRUMENTO 2010 00 2 020217-4 AGI

RELATÓRIO

Trata-se de agravo de instrumento interposto contra decisão que, em


cumprimento de sentença, limitou as astreintes em R$ 20.000,00, determinou ex
officio o bloqueio judicial de ativos financeiros do réu no montante de R$ 200.000,00
em favor do juízo, o qual será restituído ao agravado somente após o cumprimento
da obrigação de fazer. Fixou, ainda, o prazo de 15 dias improrrogável para que a
instituição financeira cumprisse a obrigação de fazer, procedendo a baixa do
gravame perante o DETRAN/DF.
Aduz a agravante que não há razão para limitação das astreintes,
porquanto a multa diária de R$ 200,00 para a instituição financeira é insignificante,
uma vez que até o presente momento não cumpriu a ordem judicial. Ao final, pede a
reforma da decisão, afastando a limitação das astreintes, mantendo-as no patamar
fixado na sentença, bem como para que seja a multa referente ao art. 475-J do CPC
aplicada sobre o montante do débito.
Regular preparo à fl. 16.
Instruiu a inicial com os documentos de fls. 17/72.
Sem pedido liminar.
Informações do juízo da 3º Vara Cível da Circunscrição Especial
Judiciária de Brasília às fls. 79/79-v.
Devidamente intimado, o agravado quedou-se silente (fl. 80).
É o relatório.

VOTOS

A Senhora Desembargadora ANA MARIA DUARTE AMARANTE BRITO -


Relatora

Cabível e tempestivo, conheço do recurso, presentes que se


encontram os demais pressupostos de admissibilidade.
Insurge a agravante contra decisão que limitou as astreintes em R$
20.000,00, determinou ex officio o bloqueio judicial de ativos financeiros do réu no
montante de R$ 200.000,00 em favor do juízo, o qual será restituído ao agravado
somente após o cumprimento da obrigação de fazer, bem como fixou o prazo de 15
dias improrrogável para que a instituição financeira cumprisse a obrigação de fazer,
procedendo a baixa do gravame perante o DETRAN/DF.
Analisando o que dos autos consta, tenho que razão não assiste ao
agravante.

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Verifico que os fundamentos esposados pelo juiz para reduzir o valor


das astreintes foram os seguintes: primeiro, que a quantia total da multa se mostra
excessiva, por ter alcançado, em 29/03/10, o valor de R4 35.600,00. Segundo, que
há possibilidade da adoção de outros meios coercitivos, determinado, por
conseguinte o bloqueio judicial dos ativos financeiros do requerido no montante de
R$ 200.000,00 (duzentos mil reais) em favor do juízo, o qual será restituído somente
após o cumprimento da obrigação de fazer (fl. 19).
As astreintes, como são sabidas, constituem multa cominatória que
reverte em favor da parte contrária, tendo natureza de meio de coerção processual.
Conforme doutrina de Nelson Nery Jr., “o objetivo das astreintes não é obrigar o réu
a pagar o valor da multa, mas obrigá-lo a cumprir a obrigação na forma específica. A
multa é apenas inibitória” (in Código de processo civil comentado. 9ª ed. São Paulo:
Ed. Revista dos Tribunais, 2006. p. 588).
É certo que o devedor da obrigação de fazer se mantém
absolutamente inerte, recalcitrando voluntariamente no inadimplemento, mesmo
diante de ordem judicial específica, o que certamente impõe a condenação às
astreintes em valor integral.
Todavia, deve-se ter em conta que o bloqueio judicial dos ativos
financeiros da instituição financeira no montante de R$ 200.000, em favor do juízo,
cuja restituição somente se dará após o cumprimento da obrigação de fazer, está
em consonância com os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, bem
como atende à regra geral que veda o enriquecimento sem causa, ressaltando-se
que multa cominatória não é reparação de danos.
Destaco, por oportuno, entendimentos jurisprudenciais no mesmo
sentido:
“MULTA DIÁRIA (ASTREINTES). ALTERAÇÃO DA
PERIODICIDADE OU DO VALOR. CRITÉRIOS DE RAZOABILIDADE E
PROPORCIONALIDADE.
A multa diária imposta para o cumprimento da ordem judicial deve
atender aos critérios de proporcionalidade e razoabilidade, não podendo servir como
reparação por eventuais danos morais ou como modo de enriquecimento sem
causa.” (20070020127091AGI, Relator NATANAEL CAETANO, 1ª Turma Cível,
julgado em 26/03/2008, DJ 02/04/2008 p. 26);

“DIREITO PROCESSUAL CIVIL. ASTREINTES. FIXAÇÃO.


OBRIGAÇÃO DE FAZER. EXIBIÇÃO DE DOCUMENTO. VALOR EXCESSIVO.
REDUÇÃO. FINALIDADE DO INSTITUTO. EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE.
1. A fixação de multa para compelir o devedor a cumprir a obrigação
tem natureza sancionatória e busca compensar o credor que se vê privado do
cumprimento voluntário do seu crédito.
2. Contudo, não deve servir de causa para enriquecimento injusto do
credor porquanto a sua finalidade é apenas constituir reprimenda ao devedor
recalcitrante no cumprimento da decisão judicial.3. A redução eqüitativa do valor

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fixado é prevista em lei e se impõe em face da desproporção, cabendo ao


magistrado sopesar os fatos e, de modo razoável e ponderado, arbitrar redução do
valor excessivo ao que for conveniente e suficiente a colimar o seu fim.4. Tratando-
se de questão formal, mostra-se adequado o pedido de redução da multa
apresentado por meio da Exceção de Pré-Executividade.5. Recursos conhecidos e
improvidos, para manter íntegra a decisão agravada.” (20070020033511AGI, Relator
CARLOS RODRIGUES, 2ª Turma Cível, julgado em 20/06/2007, DJ 04/09/2007 p.
136)
O Egrégio Superior Tribunal de Justiça, por sua vez, possui
jurisprudência no sentido de que a redução ou aumento da multa cominatória
constitui faculdade do julgador, caso verifique insuficiência ou excesso do montante
inicialmente fixado. Confira-se:
“RECURSO ESPECIAL. ASTREINTES. REDUÇÃO.
POSSIBILIDADE.
1 - A multa decorrente de desatendimento à proibição judicial de
inscrição do nome do devedor em órgão de proteção ao crédito, enquanto pendente
discussão acerca do real valor da dívida, quando exorbitante ou insuficiente pode,
conforme o caso, ser reduzida ou aumentada. 2 - Nestes casos, não há trânsito em
julgado da sentença, a teor do disposto no art. 461, § 6º, do Código de Processo
Civil, e para evitar, como na espécie, o enriquecimento sem causa. 3 - Precedente
do Superior Tribunal de Justiça. 4 - Recurso especial não conhecido.” (REsp 785053
/ BA – 4ª Turma – Rel. Min. Fernando Gonçalves – DJ de 29/10/2007).
Quanto à multa do artigo 475-J do CPC, é cediço que, tratando-se
de cumprimento de sentença, não cumprida a obrigação em quinze dias, incide a
multa de 10% (dez por cento) sobre o valor da condenação.
Todavia, a referida multa não deve ser aplicada sobre as astreintes,
tendo em vista que sua natureza jurídica é coercitiva e não condenatória. Logo,
melhor sorte não socorre ao agravante também nesse ponto.
Destarte, deve ser mantida a decisão, nos termos em que foi
lançada.
ANTE O EXPOSTO, nego provimento ao recurso.
É como voto.

O Senhor Desembargador JOSÉ DIVINO DE OLIVEIRA - Vogal

Com o Relator.

A Senhora Desembargadora VERA ANDRIGHI - Vogal

Código de Verificação: VPJO.2011.R7ZJ.4K2G.IQNF.LDA8VPJO.2011.R7ZJ.4K2G.IQNF.LDA8


GABINETE DA DESEMBARGADORA ANA MARIA DUARTE AMARANTE BRITO 5
AGRAVO DE INSTRUMENTO 2010 00 2 020217-4 AGI

Com o Relator.

DECISÃO

NEGOU-SE PROVIMENTO. UNÂNIME.

Código de Verificação: VPJO.2011.R7ZJ.4K2G.IQNF.LDA8VPJO.2011.R7ZJ.4K2G.IQNF.LDA8


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