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INTRODUÇÃO
Vigência é o período de tempo em que a lei projeta seus efeitos normais, a partir
de seu conhecimento público (ou certo tempo depois dele) e até a sua revogação. Trata-
se do período em que a lei é considerada válida.
Nesta direção, a noção de vigência está diretamente relacionada com a aplicação
da lei no tempo e no espaço, pois a lei vige por um intervalo de tempo em certo
território. Para que a lei seja observada é preciso que se torne conhecida pelos seus
destinatários, por isso a lei é publicada. O período entre a publicação 1 e o termo inicial
de vigência é chamado de vacatio legis (ou vacância). De acordo com o art. 1o da
LINDB: "salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta e
cinco dias depois de oficialmente publicada".
É importante enfatizar que o art. 1o , caput da LINDB, tomando por base a noção
de soberania do Estado, dispõe que as leis nacionais têm seu poder sobre todo o
território nacional. Logo, é a lei nacional que deve reger as relações jurídicas em um
determinado território (princípio da territorialidade).
1
Na aula anterior você viu que a publicação é o ato oficial de tornar pública a lei no Diário Oficial para
que haja a presunção de que todas as pessoas conhecem a lei.
oficialmente publicada". O período de vacatio legis é maior do que o de vigência
interna, porque o conhecimento do conteúdo normativo pode demandar mais tempo.
Toma-se como exemplo o art. 7o da LINDB que dispõe: "a lei do país em que
domiciliada a pessoa determina as regras sobre o começo e o fim da personalidade, o
nome, a capacidade e os direitos de família". Desta forma, se uma alemão domiciliado
no Brasil resolve alterar o nome, deverá seguir a lei brasileira e não a lei alemã.
Não é usual, mas a duração da lei pode estar predeterminada nela mesma, através
da previsão da data do fim de sua validade (cessação dos seus efeitos), como ocorre, por
exemplo, quando a lei traz uma data específica. Neste caso, a lei não perde vigência em
razão do surgimento de outra lei. Ela já é criada para viger durante certo período de
tempo ou ocasião, findos os quais a vigência cessará, sem que outra lei venha a retirar
sua validade. A vigência simplesmente se esgota.
No entanto, lembre que, em geral, a lei é criada para perdurar de modo indefinido
no tempo. Nesse caso, a vigência cessará quando outra lei a revogue. A seguir você
estudará as modalidades de revogação.
2) - Modalidades de revogação
2
A efetividade consiste no fato de a norma ser observada tanto por seus destinatários quanto pelos
aplicadores do Direito. Segundo BARROSO, "simboliza a aproximação tão íntima quanto possível entre
o dever ser normativo e o ser da realidade social. In: BARROSO, Luís Roberto. Direito Constitucional e a
eficácia das normas. Rio de Janeiro: Editora Renovar, 2018.
3
O Anuário Brasileiro de Segurança Pública, que tem abrangência nacional, informa que os homicídios
dolosos de mulheres e os feminicídios tiveram leve crescimento no primeiro semestre de 2020. Nos
homicídios dolosos, as vítimas do sexo feminino foram de 1.834 para 1.861, um crescimento de 1,5%. Já
as vítimas de feminicídio foram de 636 para 648, aumento de 1,9%. É importante também registrar que
desde o início da vigência da Lei nº 13.104, de 9 de março de 2015, que tipificou o crime de feminicídio
no Brasil, os casos deste tipo penal tiveram um aumento de 62,7%. Quando se analisam os números que
relacionam as vítimas dos feminicídios com os autores do referido crime, 88,8% deles são companheiros
ou ex-companheiros das vítimas. Disponível em:
https://forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2020/10/anuario-14-2020-v1-interativo.pdf
3) - A irretroatividade da lei e o art. 6o da LINDB
Por fim, mas não menos importante, é preciso analisar a eficácia ou não de uma
lei em relação a fatos pretéritos. Não pode restar dúvida, que os atos concluídos e
totalmente consumados antes de ter início a vigência de uma lei nova, não podem ser
por ela alcançados ou afetados. Seria ultrajante que uma pessoa pudesse ser
surpreendida com a aplicação de uma lei nova sobre ato que praticou no passado. É
nesse sentido que o ordenamento jurídico reconhece o princípio da irretroatividade
das leis. A CF/1988 consagra este princípio no art. 5 o, inciso XXXVI: "a lei não
prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada". São as
situações que traduzem um direito já incorporado ao indivíduo.
É preciso, no entanto, fazer a ressalva em relação a lei penal, pois a própria CF/
1988 no art. 5o inciso XL estabelece:"a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar
o réu".
Você já estudou que a publicação da lei tem por finalidade torná-la conhecida
pelos seus destinatários. No entanto, este mecanismo traz apenas a presunção de
conhecimento. O ordenamento jurídico é tão vasto, que até mesmo os especialistas e
profissionais que atuam com o universo jurídico não conhecem todas as leis. Em virtude
do princípio da obrigatoriedade da lei há presunção absoluta de que seus destinatários a
conhecem, não podendo se escusar de seu cumprimento, mediante a alegação de
ignorância (desconhecimento de sua existência) ou erro (conhecimento incompleto ou
distorcido do seu texto).
Por isso, o artigo 3o da LINDB dispõe: "ninguém se escusa de cumprir a lei,
alegando que não a conhece". Norma semelhante a essa, não admitindo a ignorância da
lei vigente e, portanto, que dispõe sobre a garantia da eficácia global do ordenamento
jurídico, é encontrada em quase todos os sistemas jurídicos do mundo.
Segundo Luiz Edson Fachin, diversas teorias procuram justificar a regra acima.
Para uns, trata-se de uma presunção jure et jure (absoluta - que não admite prova em
contrário), legalmente estabelecida (teoria da presunção), a qual presume que a lei, uma
vez publicada, torna-se conhecida de todos. Outros defendem a teoria da ficção jurídica,
ou seja, é uma inverdade que a lei torna-se conhecida de todos, é irreal. Há ainda os
adeptos da teoria da necessidade social, segundo a qual a norma do art. 3º da LINDB é
uma regra ditada por uma razão de ordem social e jurídica, sendo, pois, um atributo da
própria norma. Esta última posição é a mais aceita, segundo o autor. Sustenta que a lei é
obrigatória e deve ser cumprida por todos, não por motivo de um conhecimento
presumido ou ficto, mas por elevadas razões de interesse público, para que seja possível
a convivência social4.
Logo, a lei é obrigatória para todos, mesmo para aqueles que efetivamente a
ignoram. A obrigatoriedade da lei se impõe pela necessidade de harmonia e segurança
na convivência social.
4
FACHIN, Luiz Edson. Teoria crítica do Direito Civil. Rio de Janeiro: Renovar, 2012.
5
DINIZ, Maria Helena. Compêndio de Introdução à Ciência do Direito. São Paulo: Editora Saraiva Jur,
2019. p. 152.
Fixar o sentido de uma norma é descobrir a sua finalidade, é colocar a
descoberto os valores consagrados pelo legislador, aquilo que teve a intenção de
proteger. Determinar o alcance é demarcar o campo de incidência da norma jurídica, é
conhecer sobre que fatos sociais e em que circunstâncias a norma jurídica tem
aplicação. Nesta direção, interpretar o direito é conhecê-lo e conhecer o Direito é
interpretá-lo.6
Referido Código, era a expressão da vontade soberana do povo, de tal modo que
nenhuma proposta interpretativa poderia se afastar da literalidade. Como consequência a
lei sequer precisaria ser interpretada, bastava fosse aplicada. Por isso, essa escola de
interpretação se tornou um símbolo do legalismo exacerbado. A ideia da
autossuficiência dos Códigos (dogmatismo legal) já está superada. As leis e códigos
duram décadas e até séculos - caso das codificações na antiguidade - , mas é natural que
novas circunstâncias sociais, políticas e econômicas demandem a interpretação
atualizada.
Data desse período o brocardo " in claris cessat interpretatio", que significa:
"quando a lei for clara não precisa ser interpretada". Este axioma não condiz com a
realidade atual, tendo em vista que, por mais claro que o preceito normativo possa
parecer, sempre irá requerer certa dose de interpretação. Além disso, alguns autores
defendem que a clareza pode ser enganosa, pois o que parece claro para alguns,
6
NADER, Paulo. Introdução ao Estudo do Direito. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2017. p. 264.
certamente não é assim para outros. Um mesmo dispositivo legal pode ensejar múltiplos
entendimentos.
7
SCHREIBER, Anderson. Manual de Direito Civil Contemporâneo. São Paulo: Saraiva Educação, 2018.
p.76.
- elemento gramatical (literal ou filológico) - é o primeiro elemento utilizado para
interpretar a lei, pois considera a análise do seu texto, a literalidade. A lei não contem
palavras inúteis, mas é preciso perceber quando uma palavra é utilizada no seu sentido
técnico-jurídico e quando apresenta o sentido comum. De toda forma, uma boa
interpretação, como destacado acima, não pode se restringir a este elemento. Além
disso, o legalismo excessivo não mais subsiste nos dias atuais.
- elemento lógico (teleológico) - é o que demanda a investigação sobre o fim da lei, sua
finalidade, os interesses que pretende proteger, os fins que visa atingir. Trata-se da
chamada ratio legis. É o elemento que permite uma aplicação atualizada das normas ao
tempo presente.
Assim, no lugar de aplicar a letra fria da lei, deve- se fixar no objetivo da lei e da
justiça: manter a paz social. Para tal, faz-se necessário considerar o direito não apenas
como sistema normativo, mas também como sistema fático e valorativo. Ora, o ato
interpretativo de uma norma leva em conta o coeficiente social desta, inserido no
momento histórico corrente, de sorte que a compreensão da norma pressupõe
entendimento acerca dos fatos e valores que lhe deram origem e dos fatos e valores
supervenientes, que ela compreende.
Em razão dessa regra, o juiz deixa de ser um mero aplicador da lei e expectador
do processo. Deverá, pois, avaliar qual a finalidade da norma, visando, sempre, o bem
comum, respeitando o indivíduo e a coletividade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nas três primeiras aulas foram examinados conceitos e noções sobre o Direito e
as normas jurídicas, além de institutos jurídicos importantes pertinentes à Teoria Geral
do Direito. Nas próximas aulas serão abordadas temáticas pertinentes ao Direito Civil
8
DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de Direito Processual Civil. Vol 1, p. 128.
em razão de ser o principal ramo do Direito Privado e, também por isso, apresentar
conceitos importantes para que você, aluno do Curso de Ciências Contábeis, possa
compreender melhor nos períodos seguintes, o conteúdo das disciplinas legislação
empresarial e legislação tributária.