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Resumão - Prostitutas e Hetairas

Preâmbulo:
Prostituição... correlativo imediata ao casamento; paralela ao casamento;

Ela levanta que a prostiuição sempre existiu vivendo à sombra das famílias
sendo como um lado negativo/sombrio da representação feminina mulher-mãe,
esposa, dona de casa:
Cita Morgan.... "O hetairismo, diz Morgan, acompanha a humanidade até em sua
civilização como uma sombra projetada sobre a família." ‘’É preciso que haja esgotos
para assegurar a salubridade dos palácios, diziam os Padres da Igreja. “

Eu penso que Beauvoir reconheceu um uso social das prostitutas para a


sociedade de sua época, mas não concordou com essa constatação e nem com
o tratamento desumano dado às mulheres que se prostituiram... isso ela ressalta
no texto todo...

Esse exemplo achei o máximo no relato dela:

Ela conta sobre os argumentos dos escravocratas norte-americanos em favor da


Escravidão( eles, os homens brancos queriam a escravidão porque estariam
mais livres dos serviços pesados e poderiam ter tempo para melhor tratarem
suas esposas).
Eu penso que com esse comportamento esses defensores da escravidão norte
americana fizeram ver a prostituta como alteridade das mulheres ‘honestas’.
‘A existência de uma casta de "mulheres perdidas" permite tratar as "mulheres
honestas"com o mais cavalheiresco respeito. A prostituta é o bode expiatório; o
homem liberta-se nela de sua turpitude(canalhice, baixeza, degradação, futricagem,
torpeza) e a renega.’

Sob um estatuto legal ou na clandestinidade, ela é sempre tratada como pária.

Voces vejam......naquele contexto histórico a prostituda servia às familias e ao


homem branco, pois ele libertava a sua torpeza em contato com ela. Mesmo
assim ela era desprezada naquele meio...a prostituta não tinha os direitos de
uma pessoa; “nela se resumiam, ao mesmo tempo, todas as figuras da
escravidão feminina.’’
Vemos que a autora afirma a prostituta de ser um bode expiatório na qual os
homens descarregavam nela sua torpeza e a renegavam. Ainda confirma a falta
de direitos de uma pessoa e o tratamento dispensado à ela revelavam traços de
escravidão feminina.

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Ponto de vista econômico:


“Do ponto de vista econômico, sua situação é simétrica à da mulher casada. "Entre as
que se vendem pela prostituição e as que se vendem pelo casamento, a única
diferença consiste no preço e na duração do contrato",(frase forte de Simone). Diz
também Marro na obra (La Puberté). “Para ambas, o ato sexual é um serviço; a
mulher legítima é contratada pela vida inteira por um só homem; a prostituta tem
vários clientes que lhe pagam tanto por vez.”
A prostituta é protegida por um homem contra os outros.
A mulher casada é defendida por todos(a sociedade) contra
a tirania exclusiva de cada um, explicam ambos.

A prostituta mesmo correndo paralela ao casamento da mulher ‘honesta’, nunca


foi respeitada.
A mulher casada é respeitada e a prostituta não...

Muito importante em Beauvoir: repito aqui....a prostituta não tem os direitos de


uma pessoa; nela se resumem, ao mesmo tempo, todas as figuras da escravidão
feminina.

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Causas – relacionam-se com o econômico:


Pergunta-se: porque escolheriam esta vida da prostituição?

‘É ingênuo perguntar que motivos levam a mulher à prostituição; não se acredita mais
hoje na teoria de Lombroso, que assimilava as prostitutas aos criminosos e via em
ambos degenerados;”

Aqui ela rebate Lombroso: “Nenhuma fatalidade hereditária, nenhuma tara fisiológica
pesa sobre elas. Na verdade, em um mundo atormentado pela miséria e pela falta de
trabalho, desde que se ofereça uma profissão, há quem a siga; enquanto houver
polícia e prostituição, haverá policiais e prostitutas. É uma profissão que rende muito
mais do que outras.’
Segundo ela, a procura masculina é bem paga.

‘De todas as causas da prostituição, nenhuma é mais ativa do que a falta de trabalho e
a miséria, conseqüência inevitável dos salários insuficientes." Escreveu Parent-
Duchâtelet em 1857.

Pois vejam... A necessidade, falta de trabalho, miséria, etc. se constituem em


fatos que colaboram para a escolha de se tornar prostituta. Conforme
Duchâtelet, muitas prostitutas eram recrutadas entre as serviçais do lar. Estas
trabalhadoras (criadas, arrumadeiras) não tinham muita chance e nem
expectativa de melhora de vida. Foram abusadas no trabalho, muitas vezes
tornando-se amantes de seus patrões e satisfazendo-os sexualmente. O texto
revela que a maioria das prostitutas na cidade vieram do campo. Muitas
consentiram em serem defloradas por ignorância e sem prazer. Chegam nos
grandes centros urbanos e frente às dificuldades econômicas se prostituem.

“Calculam-se-se que 80%das prostitutas parisienses vêm da província ou do campo.”

Criadas e domésticas sempre sofrem a investida do patrão, filhos, irmãos, etc.

“Explorada, escravizada, tratada como objeto mais do que como pessoa, a


arrumadeira, a criada de quarto, não espera nenhuma melhoria da sorte no futuro;
preferiam a prostituição que julgavam deixa-las mais felizes... “

Na verdade tudo era um engodo...Neste destino nada lisonjeiro, havia muitas


mulheres que se deixavam deflorar pelo primeiro que aparecesse e que acharam
em seguida natural entregar-se a qualquer um.
Essas jovens que cederam passivamente sofreram o traumatismo do
defloramento e não necessariamente se vêem como prostitutas e têm
dificuldade em se descrever.
Há muitos desses relatos de que as jovens deixavam-se deflorar
na pag 326... Beauvoir também menciona prejuízos psicológicos futuros...

“Entretanto a moça raramente se decide a "fazer o trottoir" logo depois do


´defloramento. Em certos casos, continua apegada ao primeiro amante e a viver com
êle; arranja um ofício "honesto"; quando o amante a abandona, outro a consola; como
não pertence a um homem só, acha que pode dar-se a todos; por vezes é o amante —
o primeiro ou o segundo — que sugere esse meio de ganhar dinheiro.”

Na pag. 327 ela relata mais algumas causas da prostituição:

-São abandonadas pela família e se prostituem...

-A doença leva muitas vezes à prostituição...

-O nascimento de um filho... Dr. Bizard cita uma caso...pag 327

- “Sabe-se que há recrudescência da prostituição durante as


guerras e as crises que a elas se seguem....”

- Os maridos também prostituem e se tornam os cafetões...


É classico a mulher ser entregada à prostituição por um cafetão.

Acontece, muitas vezes, ser este papel(cafetão) desempenhado pelo marido...

Vemos isso na história de Marie Thérèse(nome falso dado pela autor.Narra a


história desta mulher que casou e tornou-se prostituta) pag 328.

“O sedutor cafetão desempenha na vida da prostituta um papel de protetor. Adianta-


lhe dinheiro para que compre vestidos, defende-a contra a concorrência de outras
mulheres, contra a polícia,contra os fregueses.”

Na história de M.T. aparece o Julot... o clássico cafetão abordado pela


literatura... esse Julot tinha várias mulheres... conforme se conta na narração
escolhida pela autora...

‘“Para receber seu dinheiro, evitar os maus tratos, a prostituta tem necessidade de um
homem. Êle lhe dá igualmente um apoio moral: "Sozinha, a gente trabalha menos
bem, tem menos coragem, relaxa", dizem algumas. Muitas vezes ela tem amor por êle;
é por amor que se dedica à profissão ou a justifica.”’

Na violência de seu homem, elas vêem um sinal de virilidade e assim mesmo se


submetem a êle. Conhecem com êle ciúmes, tormentos, mas também as alegrias
da mulher apaixonada. Podem sentir rancor por eles também...

‘Entretanto, às vezes só têm por êle hostilidade, rancor: é por medo, é porque eles as
têm nas mãos que permanecem submissas, como se viu no caso de Marie Thérèse.
Muitas vezes, consolam-se então com um "amor" escolhido entre os fregueses. ‘
Eu noto aqui que sempre tem uma figura masculina na vida de uma mulher mesmo ela
sendo prostituta... elas não abrem mão do protetor... muitas chegam a amar o seu
próprio cafetão...muito típico do patriarcado.

“Se aliam a um homem para não serem maltratadas”...ou seja, Muitas mulheres
também encaram a prostituição como meio de aumentar sua renda... entraram
na prostituição através da violência e exploração dos cafetões... quando
percebem que estão escravizadas e sem possuir autonomia do próprio corpo já
é tarde demais.
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Final...
“Elas também se consolam com mulheres...numerosas prostitutas são homossexuais”

Marie Thérèse foi iniciada por uma criadinha trazida por Julot nas lides
homossexuais. Podemos notar que elas procuram se divertir com as mulheres,
tornando-se bissexuais e continuam a exercer a profissão.

“A Prostituta procura prazer e conforto muitas vezes ns braços de uma outra


mulher”... ali é que muitas vezes a prostituta procura relaxamento e prazer.”

E na profissão trabalham a frio em muitos casos...até com nojo...na pag 332 ela
relata os casos, as taras e os fetiches dos fregueses...fregueses que requerem
esta categoria de relações seriam mais cobrados, (trabalhos mais caros e às
vezes sem exigir muitos delas) do que aqueles que preferissem o coito simples...

“Certas prostitutas, entretanto, especializam-se na "fantasia", porque rende mais”...

Enfim, meninas abandonadas pelos pais, pelos amantes ou maridos, falta de


oportunidade de trabalho, falta de capacitação, sedução e exploração,
escravidão sexual, medo, são causas listadas por Beauvoir para a prostituição.
Nota-se, como eu já afirmei no início deste resumo, que Beauvoir coloca sob o
signo do social a existência da prostituição... tudo isto num contexto de
violência implícita ou explícita... e assim desmascara, desnuda e até desmistifica
“a mais antiga profissão do mundo”.
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Nas páginas 333 e 334 lê-se um pequeno resumo da autora:


“Não é a situação moral e psicológica que torna penosa a existência das prostitutas. Sua condição material
é que é, na maioria dos casos, deplorável. Exploradas pelo cáften, pela proxeneta, vivem na insegurança e
três quartos delas não têm dinheiro. Ao fim de cinco anos de profissão, cerca de 75% estão com
sífilis(...)”, (diz o Dr. Bizard, que tratou de tantas.)
 
Aqui também ela elenca as doenças por causa do trabalho, da longevidade
prejudicada, da gravidez e abortos em más condições levando muitas à morte.

Penso que aqui, mais uma vez Beauvoir descreve o que ela acha da
prostiuição...
“A baixa prostituição é um ofício penoso em que a mulher oprimida sexual e
economicamente, submetida à arbitrariedade da polícia, a uma humilhante fiscalização
médica, aos caprichos dos fregueses, presa dos micróbios, da doença e da miséria, é
realmente degradada ao nível de uma coisa”

Da baixa prostituição à grande hetaira, há numerosos degraus.

“A diferença essencial consiste em que a primeira negocia com sua pura generalidade,
de modo que a concorrência a mantém num nível de vida miserável, ao passo que a
segunda se esforça por se fazer reconhecer em sua singularidade: vencendo, pode
aspirar a um grande destino. A beleza, o encanto, o sex-appeal são necessários, mas
não bastam: é preciso que a mulher seja distinguida pela opinião.”

Beauvoir ainda diz que a maioria das prostitutas acham-se moralmente


adaptadas à sua condição; isto não quer dizer imorais por hereditariedade ou
por ser inato, (...) “ mas sim que se sentem, com razão, integradas numa
sociedade que reclama seus serviços.”

Solução segundo Beauvoir (No rodapé da pag. 334)

Não é evidentemente com medidas negativas e hipócritas


que se pode modificar a situação. Para que a prostituição
desapareça, são necessárias duas condições: que uma
profissão decente seja assegurada a tôdas as mulheres; que os
costumes não oponham nenhum obstáculo à liberdade do amor.
É somente suprimindo as necessidades a que atende que se
suprimirá a prostituição.

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Aí segue o texto discorrendo sobre as hetairas (mulheres lindas,


cortesãs, meretrizes de luxo, condição econômica melhor , muitas
tornaram-se amantes de notáveis, possuiam suas próprias opiniões
e eram de bastante cultura e conhecimento).

zdc/ Ponta Grossa 03/06/2021.


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