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Autores: Fernando Araújo e Luciano Salerno

DELÍRIOS DE ZÉ NINGUÉM

Entre delírios e fatos, eis o retrato As pessoas, sim... só pensam em si mesmo.


daquele que nada tem. São corruptas! Criticam e destroem!
São imagens que busco na memória, Não são resilientes,
pra relatar a triste história Roubam, matam, mentem!
de um homem chamado Zé ninguém. Só enxergam o que querem,
e o que lhes convém.
Zé Ninguém não tem campo,
não tem galpão, não tem cavalo, Zé Ninguém é um fantasma de estância,
nem laço, Zé tem. um poeta, um peão, um louco,
um anjo que nunca fez mal a ninguém.
Não tem esposa e nem filhos! Então senhoras e senhores, me digam vocês:
Não tem amores, não tem casa, Quem é Zé Ninguém?
Não tem jardim, nem flores na porta,
Não tem terra, não tem horta. Se não sabem… eu respondo:
Zé Ninguém está aí...
Zé Ninguém não tem rancores, bem guardado no íntimo de cada um.
tem apenas tristezas... Talvez dentro de ti, meio sem querer,
Porque será? Ou talvez, dentro de mim....
Ele não tem fome, nem sede, Se confundindo com meu ser.
não anda nos corredores, Ninguém nunca viu Zé Ninguém,
não vive de favores, Quem sabe, seja um personagem de ficção,
nem da ajuda dos amigos... talvez ele exista, talvez não!
que ele não tem.
Não tem embasamento,
Esse homem não tem misérias, mas está fracionado, espalhado por aí
não tem alegrias, No âmago de cada um.
muito menos um vintém. É o mal, é o bem, a penúria tão comum,
Não sabe sua idade, é a mágoa incontida quase sem querer.
nem o que é vaidade. Nesse instante é ele, a minha inspiração
Não vive em favelas, Meus sentimentos agitados
não junta latinhas nas avenidas... Um pobre olhar marejado,
nem cata papelão nas vielas. A inquieta alma em revolução!

Coitado! Não tem coração, Zé Ninguém. Ele é um poema que aflorou


Ao menos acha que não tem... Nas entrelinhas de fonemas poucos!
Vive no além, no etéreo, ao Deus Dará! Que trouxe à tona, rimas pobres,
Ninguém manda nele, ninguém mandará! desse uni(verso) louco!!
Mas o que é a loucura, comparada
Não tem dívidas, não tem dúvidas, aos delírios do Zé Ninguém?
somente amarguras zé tem.
Será que Zé é Ninguém? Talvez, seja como um poeta
escreve com seu telurismo,
as imagens do sul...
escondidas nas metáforas,
nas verdades de alguém.
Ou a sua própria alma cansada,
de ser o vazio, o nada,
querendo ser apenas alguém.

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