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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

CENTRO DE COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO


DEPARTAMENTO DE LÍNGUA E LITERATURA VERNÁCULAS

CÓDIGO DA DISCIPLINA: LLV7005
NOME DA DISCIPLINA: Morfologia do Português
PROFESSORA: Léia de Jesus Silva
ALUNA: Kimberlly Nara Lopes

Resumo das propostas de Mattoso e Kehdi para a flexão de


gênero em português

Segundo o professor J. Mattoso Câmara Jr., o gênero em português pode manifestar-se


através de flexão (lobo/loba), de derivação (imperador/imperatriz) ou de heteronímia
(homem /mulher). O argumento dele é de que não podemos considerar -o como marca
de masculino por ser o oposto a -a (como no par lobo/loba, acima), porque esse mesmo
raciocínio nos faz considerar como masculino o -e de mestre (que também se opõe a -a;
mestre/mestra), porém o -e, pode estar ligado a um ou outro gênero (ponte (fem.) e
monte (masc.). A solução mais considerável é o masculino como uma forma não-
marcada (desprovida de flexão específica), em oposição ao feminino (marcado pela
flexão em -a) A vogal final das formas masculinas seria, então, uma vogal temática.
Pode-se dizer que a um masculino em-0 opõe-se um feminino em -a; em outras
palavras, o masculino e o singular são não-marcados, em oposição ao feminino e ao
plural, marcados. Entretanto, a observação de alguns fatos leva-nos a desconfiar da tese
de um masculino não-marcado em português, por exemplo, que quando se acrescenta a
uma palavra feminina uma terminação que contenha -o, essa palavra passa a masculina:
uma mulher / um mulheraço; uma casa / um casarão etc. Pode-se afirmar que, em
português, -o, -a e -e são, basicamente, atualizadores léxicos, cuja função “é a de,
unindo-se a um tema, constituírem com esse imediatamente uma palavra, pronta a ser
utilizada como tal no discurso”. Entretanto, as terminações -o e -a, quando comutam
com -a e -o, respectivamente, acumulam a função de expressão do gênero, o que não se
passa com -e. O mesmo se observa no estudo da flexão verbal: a desinência -s exprime
apenas pessoa e número (segunda pessoa do singular), ao passo que -ste exprime pessoa
e número, além de tempo e modo (segunda pessoa do singular do pretérito perfeito do
Indicativo) Podemos, assim, concluir que, em português, a flexão de gênero não se
reduz a uma oposição -0/-a, e sim a uma oposição -o /-a.

Entretanto, ao lado da oposição masculino-feminino há o gênero neutro, que


corresponde a uma concepção dos seres como inertes, em contraste com outros ativos.
Nisto apresentaram-se três soluções: 1) Em que o neutro passa a designar as coisas,
como em inglês que temos he(masc.), she(fem.) e it(coisa); 2) Uma persistência quase
que meramente mórfica do gênero neutro, no caso em alemão do artigo das, masculino-
der e feminino- die e 3) A supressão desse gênero com a mudança dos seus nomes para
o masculino ou feminino, criando-se um gênero bipartido em contraste com o tripartido,
nas línguas românticas, por exemplo mulherão, o masc. nos aumentativos; jarro: jarra,
ramo: rama.

Assim, colocaram que a marca de gênero está em rigor apenas na forma do artigo
definido que exigem, como em (a) ponte, (o) pente etc. Portanto a flexão é redundante
porque o gênero é sempre indicado pelo artigo.

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