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O Novo Testamento visto por um

filólogo
Antonio Piñero
www.antoniopinero.com

Sumário
1 - O NOVO TESTAMENTO VISTO POR UM FILÓLOGO................................................
2 – O NOVO TESTAMENTO COMO A PÉROLA DA LITERATURA JUDAICA
DO SÉCULO I...........................................................................................................
3 - O NOVO TESTAMENTO É UM PRODUTO INTELECTUAL E RELIGIOSO
DE SEU TEMPO.........................................................................................................
4 - DIVERSIDADE DE CRISTIANISMOS NO INICIO DO MOVIMENTO............................
5 - A FORMAÇÃO DO NOVO TESTAMENTO FOI UMA OBRA DE
CUIDADOSA SELEÇÃO E UM ATO DE POLÍTICA ECLESIÁSTICA.......................................
6 - O TEXTO DO NOVO TESTAMENTO FOI TRANSMITIDO DE MANEIRA
APENAS SATISFATÓRIA............................................................................................
7 - O NOVO TESTAMENTO É UMA OBRA DE IDEOLOGIA PLURAL E
ESCRITA POR DESCONHECIDOS, EM SUA MAIOR PARTE. A
PSEUDOEPIGRAFIA..................................................................................................
8 - A VALORIZAÇÃO DA LITERATURA PSEUDÔNIMA NO NOVO
TESTAMENTO. O NOVO TESTAMENTO CONVIDA AO PLURALISMO..................................
9 - O NOVO TESTAMENTO É UM LIVRO DE PROPAGANDA..........................................
10 - O NOVO TESTAMENTO É UM LIVRO CHEIO DE MITOS RELIGIOSOS
.............................................................................................................................
11 - A PESAR DE SEU CONTEÚDO ÀS VEZES MÍSTICO, O NOVO
TESTAMENTO É UM LIVRO DE HISTÓRIA, AINDA QUE COM CERTAS
RESERVAS..............................................................................................................
13 - O NOVO TESTAMENTO É O FUNDAMENTO DO CRISTIANISMO. MAS
DE QUAL CRISTIANISMO? (402-13)...........................................................................
14 - O CONCEITO DA SALVAÇÃO EM PAULO E EM JESUS DE NAZARÉ.........................
15 - SOBRE AS BÍBLIAS.........................................................................................

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1 - O NOVO TESTAMENTO VISTO POR UM FILÓLOGO

Antonio Piñero

Pequeno extrato do livro: Guia para entender o Novo


Testamento (Editorial Trotta, Madrid 3ª ed. 2008; a
primeira é de 1995, e se intitula “O Novo Testamento.
Introdução ao estudo dos primeiros escritos cristãos";
escrita com o Dr. Jesús Peláez, Edit. El Almendro) e outros.
Do ponto de vista da história, da sociologia e até
certo ponto da filosofia, o Novo Testamento deve ser
tratado como apenas mais um livro da Antiguidade.

O Novo Testamento pertence por direito a história da


literatura judaico-helenística em língua grega e sem
dúvida também a História da literatura grega, porque todo
ele – E ISTO IGNORA A IMENSA MAIORIA DAS PESSOAS -
foi composto diretamente em grego, não em uma língua
semítica, hebraico ou aramaico e depois traduzido. Nem
mesmo os evangelhos que conservamos e tampouco o
Evangelho atual de Mateus; e apesar da tradição centenária
que afirma o contrário (que o evangelho atual deriva de um
original hebraico ou aramaico perdido), não foi composto
em aramaico, a “língua materna de Jesus”, mas em grego.

I. O primeiro ponto de vista filológico sobre o Novo


Testamento há de ser o de insistir na seguinte ideia: o Novo
Testamento é uma das fontes, históricas em parte,
transmitidas pela Antiguidade, entre outras várias, para
conhecer o século I no Mediterrâneo oriental e seu
efervescente panorama religioso.

Ao considerar-se o Novo Testamento um livro sagrado,


2
“inspirado” para tantas pessoas, há muitos crentes que
sustentam que a este corpo de escritos não se lhe podem
aplicar as técnicas utilizadas para a interpretação de outros
textos antigos, não sagrados. Afirmam que seus textos só
devem ser lidos desde a fé. Somente esta é capaz de
desentranhar o conteúdo substancial do Novo Testamento,
seu mistério quase insondável. Ou também: somente
teólogos profissionais e crentes podem extrair deles a
profunda verdade que contém.

Porém desde um ponto de vista externo e de filosofia


elementar, utilizar para o Novo Testamento as categorias de
“mistério quase insondável” ou “verdade profunda
alcançável só pela fé” seria renunciar ao uso da única
faculdade que temos para conhecer, nossa razão.
Também seria isolar o livro de sua condição de fonte
histórica para conhecer um período importante da história
do Mediterrâneo.

Estas afirmações não nos parecem corretas porque se


tentássemos fundamentá-las estaríamos raciocinando em
círculo. A base de semelhante pretensão só poderia ser o
argumento acima mencionado a saber:

“Estes livros não podem ser examinados criticamente por


serem sagrados.”

 Agora, por que são sagrados?


 Porque é a palavra de Deus.
 Quem o afirma?
 A Igreja com todo seu poder sobrenatural.
 De onde obtém a Igreja este poder?

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 Naturalmente, de haver sido fundada por Jesus tal
como afirmam estes livros.
“Portanto, estes livros apoiam sua sacralidade na voz e
autoridade da Igreja e esta fundamenta seu poder em que
assim o afirmam os livros sagrados o ocorrido com Jesus tal
como neles se conta”.

Este raciocínio é perfeitamente circular: o caráter sacro


do livro se fundamenta na Igreja e esta obtém sua
autoridade do livro.

Fica claro que não podemos admitir esse tipo de raciocínio.


Não é só a teologia ou a fé as que possuem uma voz
competente para apresentar ao leitor do século XXI a
plenitude do sentido do Novo Testamento, mas também a
investigação literária, a filologia e o conhecimento da
história da época. As afirmações teológicas entram também
no campo da investigação da história antiga, o concreto da
história das ideias e por isso não podem fugir das leis
científicas que regem uma investigação estritamente
histórica.

Esta é a razão porque as obras contidas no Novo


Testamento podem e devem ser estudadas sem
necessidade de pensá-las obrigatoriamente como
“inspiradas” e portadoras de uma revelação.
Desenvolveremos alguns pontos a partir dessa consideração
do Novo Testamento como fonte para a história antiga.

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2 – O NOVO TESTAMENTO COMO A PÉROLA DA
LITERATURA JUDAICA DO SÉCULO I

II. O Novo Testamento é a pérola da literatura judaica do


século I, porém com alguns detalhes. E o primeiro e
importante é que está escrito em grego. Portanto é a
"pérola" da literatura judaico-helenística em língua
grega. Isto incomodou durante séculos a muitos judeus que
não podiam considerar literatura nobre aquela que não
estivesse composta em hebraico ou aramaico.

Os judeus demoraram muito tempo a reconhecer que


apesar da língua e dada à escassez de literatura puramente
religiosa do século I (com exceção dos manuscritos de
Qumrán e Filon), o Novo Testamento é um no conjunto, um
documento judaico valiosíssimo.

Durante quase mil e novecentos anos foi quase impossível


para um judeu aproximar-se do Novo Testamento ou
escrever sobre ele. Haveria incorrido em anátema perpétuo
entre os judeus em geral. A princípios do século XX, sem
dúvida, sobretudo com a obra de Josef Klausner sobre Jesus
de Nazaré, os autores judeus começaram a reconhecer:

1. Que o Novo Testamento é totalmente obra de autores


judeus (se tem dúvidas de Lucas; porém ao menos era um
converso ou prosélito até converter-se ao cristianismo).

2. Que grande parte de suas ideias são mais uma


interpretação mais como qualquer outra de sua época, do
judaísmo do momento. Por exemplo, há mais diferenças
entre saduceus e essênios que entre um judaísmo farisaico,
5
salvo a divindade de Jesus, e o Novo Testamento. Portanto,
o Novo Testamento é sumamente valioso para conhecer a
frondosidade ideológica do judaísmo do século I.

3. Que hoje se reconhece que a pérola entre as pérolas da


literatura judaica do século I são as parábolas de Jesus.
Ainda que os rabinos da época utilizassem abundantemente
o gênero parabólico, não há nada comparável em beleza,
plasticidade, efeitos dramáticos e ensinamentos como as
parábolas do rabino de Nazaré. Porém ao mesmo tempo há
que reconhecer também que estes escritos são a causa
fundamental da separação cristã do judaísmo, em
especial por sua manifestação indireta ou clara da divindade
de Jesus. É esteo dos evangelhos, um "judaísmo" tão
herético e helenizado que foi impossível de assimilar pelo
"judaísmo normativo" de finais do século I. A evolução das
doutrinas do Novo Testamento até finais deste século,
momento em que se compõe o Evangelho de João, se regeu
por um tríplice impulso:

• a) Tendência para uma maior e mais clara divinização


de Jesus;

• b) Tendência para a eliminação de uma escatologia


imediata, ou seja, se impôs o pensamento de que o fim do
mundo (não como o pensavam Jesus e Paulo de Tarso) viria
“ad calendas graecas”, ou seja, dentro de um tempo
indefinido, não imediato;

• c) Tendência para a eliminação dos traços


excessivamente judaicos da mensagem de salvação
que se estava pregando. Este impulso se centra na
passagem de um messias judeu para uma igreja proselitista
6
que prega um salvador universal com vocação de abertura
para os gentios. A "mercadoria religiosa" de um Jesus
como "messias" muito judeu não era "vendável" no Império
Romano.

Estas tendências correspondem muito bem com o espírito


missioneiro de Paulo. Desde o ponto de vista da história da
teologia do Novo Testamento, Paulo e os Evangelhos
significam um grande esforço por desligar a figura de Jesus
de suas condicionantes históricas, enraizadas no solo
palestino do século I. Jesus será apresentado de um modo
desjudaizado, como um salvador universal. A estrita
concepção de um "messias" universal é absolutamente
impensável para um judeu do século I. Ao final deste século
(I) haverá já uma grande distância teológica entre um
membro da comunidade primitiva de Jerusalém - tão
respeitada pelos judeus que muitos fariseus se uniram a ela
(At 2,47; 4,4; 15,5) - e um ex-pagão das comunidades
paulinas ou um adepto do grupo representado pelo
Evangelho de João. Os judeus já não podiam aceitar em seu
seio a um “judeu-cristianismo” que havia evoluído tanto.
Estes poderiam admitir no máximo um messias glorificado
de algum modo no âmbito do divino, inclusive sentado à
direita do Pai. Porém não podiam aceitar um ser pré-
existente que se encarna, tal como solenemente proclama o
prólogo do Evangelho de João. Não é estranho que os
judeus – dispostos a renovar sua vida e salvar sua religião
depois do fracasso da Grande Guerra contra os romanos em
torno da Lei e outros valores tradicionais — bem informados
desta evolução complexa e múltipla, decidiram-se a declarar
formalmente “hereges” aos cristãos a finais do século I.

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3 - O NOVO TESTAMENTO É UM PRODUTO
INTELECTUAL E RELIGIOSO DE SEU TEMPO

III. O Novo Testamento só se compreende inserindo-o nas


coordenadas de espaço e tempo do mundo judaico do
século I.

Se para compreender o Novo Testamento temos prescindido


metodologicamente do conceito de “inspiração”, ou seja, de
uma tutela divina especial que faça dele um livro atemporal,
se compreende bem que Novo Testamento é um filho de
seu tempo, e que está absolutamente condicionado pela
mentalidade da época: a de um Israel inserido no
Império Romano e a mentalidade deste, especialmente
em sua parte oriental.

Portanto, as primeiras obras cristãs não poderão ser bem


compreendidas sem levar em conta certos conhecimentos
prévios do século que as viu nascer. Quais são estes
conhecimentos que serão a base imprescindível para o leitor
do século XXI que as deseja compreender?

São as seguintes: o futuro leitor deve estar bem


familiarizado sobre que concepções históricas, religiosas,
filosóficas, sociais, ideológicas em geral, etc., imperavam na
atmosfera onde se conceberam as diversas obras do Novo
Testamento.

Um leitor moderno não pode pretender compreender bem,


nem o aparentemente mais elementar de nossa sociedade
como uma crônica especializada e crítica de uma partida de
futebol, por exemplo, se não tem nem a menor ideia de que
se trata tal esporte, de quais são as regras do jogo, etc.,
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em uma palavra, se não possui um conhecimento básico do
que se trata. Tal leitor, ignorante em absoluto da essência
do futebol e de suas condicionantes, ainda que soubesse o
idioma, estaria lendo uma crítica especializada deste
esporte como se estivesse escrita em chinês.

Com a Antiguidade acontece o mesmo. Por este motivo


para entender o mundo do Novo Testamento foram
escritos muitos livros introdutórios que explicam ao
leitor o mundo no qual nasceu Jesus. Destaco dois:

O de John Riches, “El mundo de Jesús. El judaísmo del


siglo I en crisis”, de 2003. O livro versa sobre o contexto
político, econômico, social e cultural do judaísmo do século
I; explica a unidade e diversidade do judaísmo neste
mesmo século e as mudanças ocorridas desde a época
helenística (século IV AEC) que levaram a caracterizar o
judaísmo nesse período; o conceito de comunidade do povo
de Deus; os diversos grupos e personalidades religiosas do
século I em Israel, incluído João Batista, as esperanças
escatológicas dos judeus no século I e como se insere o
conceito de reino de Deus de Jesús nesse contexto de
teologia judaico apocalíptica.

O meu se intitula “Año I. Israel y su mundo cuando nació


Jesús”, Madrid 2008, nele trato dos seguintes temas: Como
estava o mundo naquele: O império romano em geral e o
Oriente romano em particular • Egito. Síria e Ásia Menor.
Explica logo qual era o ambiente religioso do Império
Romano: existência de um monoteísmo prático; a filosofia
como modo de vida, quase uma religião; a ética; a
concepção popular sobre os “homens divinos”; as crenças
de vida após a morte; a religiosidade orientada para o
9
desejo de salvação: os de “mistérios”; a divinização de
seres humanos: culto a homens: a heróis, ao Imperador;
finalmente se esclarecem as linhas fundamentais de
pensamento de uma atmosfera religiosa que contribui para
moldar o cristianismo: a gnose e os movimentos gnósticos.
Naturalmente tampouco pode faltar uma exposição sintética
e popular sobre “Israel nos momentos do nascimento de
Jesus”: o rei Herodes, o Grande e a situação depois de sua
morte que afeta diretamente a João Batista e a Jesus, mas
a situação da Galileia em tempos do Nazareno e a de
Jerusalém. A introdução finaliza com a exposição abreviada
de dois grandes temas para compreender o cenário de
fundo do Novo Testamento:

A. O mundo religioso judaico e suas seitas (fariseus e o


proselitismo: a concepção da “restauração de Israel” ao
final da história, os essênios; o mundo particular de
Qumrán: o fim do mundo presente; os saduceus e os
zelotes; o farisaísmo e seus ramos.

B. Finalmente se aborda o tema das crenças do povo judeu


nos tempos de Jesus, porque são à base da religiosidade de
Jesus e em grande parte da de seus seguidores: as ideias
principais recebidas do Antigo Testamento; as noções
principais da Apocalíptica e a teologia dos Apócrifos do
Antigo Testamento, que formam uma boa parte do
pensamento de Jesus.

Até aqui a descrição do conteúdo desta minha obra


introdutória ao mundo do Novo Testamento.

A conclusão destas reflexões é que desde o ponto de vista


de um filólogo e de um historiador das ideias, ao estudar
10
estes aspectos nos encontramos com um mundo preparado
para o nascimento do cristianismo: este se acha “a cavalo”
entre dois mundos: o grego e o judeu. O cristianismo é
judaico, porém nasce helenizado. Igualmente o filólogo se
acha interessado em entender e explicar ao futuro leitor do
Novo Testamento como reagiram frente a tais ideias (pagãs
ou judaicas) os diferentes autores neotestamentarios, que
sociedade e situação histórica concreta fizeram que as obras
do Novo Testamento fossem desta ou de outra maneira.

Para um filólogo o Novo Testamento pertence a um


mundo tão alheio ao atual que é necessário submetê-
lo a una forte explicação ou exegese de modo que
possa entender-se hoje. O homem comum não entende
hoje nem mesmo o ideário do Novo testamento. Faça-se
uma prova: pergunte-se a uma pessoa culta qual é a
mensagem real da Epístola aos colossenses. Provavelmente
não saberá dizer ainda que haja lido. Agora bem, para um
filólogo não há exegese explicativa que seja normativa,
inspirada, dirigida por una igreja, mas parte é do princípio
que toda exegese é pura história. A exegese não é
fantasia interpretativa, mas fundamentalmente a
sincronização de um texto em suas coordenadas espaço-
temporal em toda sua complexidade: histórica, religiosa,
filosófica, econômica, cultural, etc. Não se trata de aplicar-
me as doutrinas do Novo Testamento a mim, para minha
própria vida espiritual hoje, mas em primeiro lugar e antes
de tudo, entendê-lo. Logo que cada um tire suas
conclusões e adote diante dele a postura existencial
que deseje. Alguns serão atraídos para o âmbito da mera
história ou da história teológica ou cultural. Outros se
sentirão interpelados pela mensagem do Novo Testamento.
Porém isso não é tarefa do filólogo. Este transmite o texto e
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o explica… tal como podiam entender os leitores do século I
de nossa era.

4 - DIVERSIDADE DE CRISTIANISMOS NO INICIO DO


MOVIMENTO

IV. Um filólogo considera que o Novo Testamento é um


conjunto de livros, hoje 27, dos quais 21 são cartas -
voluntariamente predeterminado e excludente, ou seja, não
é um espelho de todos os cristianismos que existiram no
nascimento da fé cristã, nem dos credos existentes no
momento de tal seleção de obras. De acordo com o que
escrevi em minha obra “Cristianismos derrotados”, Madrid
2008, Introdução: a uma vista rápida e sem ser exaustivo
podemos enumerar ao menos uns oito ou nove
“cristianismos” que não estão incluídos plenamente no Novo
Testamento. Assim:

1. Cristianismos que negam que Jesus seja Deus: ebionitas,


nazarenos.

2. Cristianismos que negam a Paulo: falso profeta: Pseudo


Clementinas

3. Cristianismos proféticos: o domínio do Espírito: difíceis de


identificar: montanistas e gnósticos de grande variedade

4. Cristianismos que negam a validade da Bíblia tal como a


conhecemos hoje:
Marcião, Pseudo Clementinas, Certos gnósticos conhecidos
por Nag Hammadi como as comunidades que se acham por
12
trás da Origem do mundo, Apócrifo de João ou a Hipóstase
dos arcontes, que tratam expressamente as questões de
antropogonia/antropologia acomodando o texto da Bíblia às
concepções e cânones gnósticos.

5. Cristianismos que negam a encarnação verdadeira:


docetas: apócrifos

6. Cristianismos que negam a ressurreição futura:


aparecem em Paulo (1 Cor) e nas Pastorais

7. Cristianismos que promoviam a independencia das


mulheres:
Escritos sobre M. Madalena; Apócrifos.

8. Cristianismos que negam o corpo e o mundo. Ascetismo


extremo, contra a vida sexual e o matrimonio:
Evangelho dos Egípcios
Epístola do Pseudo Tito
Apócrifos

9. Cristianismos que promoviam a vida livre e libertina:


gnósticos libertinos de Epifanio e Irineo; carpocratianos de
Clemente de Alexandria.

Estes tipos de cristianismo que qualquer observador atento


poderia contemplar na Ásia Menor, e atual Turquia, a
meados do século II, apesar de ser tantos se reduzem a
três linhas principais:

1. A linha judaico-cristã, ou seja, os seguidores


puramente judeus de Jesus da primeiríssima hora,
congregados sobre tudo em Jerusalém. Entre eles havia
13
fariseus, essênios e sacerdotes do baixo clero que criam
firmemente – sem afastar-se o mínimo de seu credo
judaico, que Jesus era o verdadeiro messias que já havia
vindo. Sua teologia era na verdade muito judaica com
alguns retoques gerados a partir da crença de que Deus
havia ressuscitado a Jesus e o havia confirmado em sua
missão de messias. Como Jesus não havia podido cumprir
sua missão por sua morte extemporânea nas mãos dos
romanos, teria que voltar de imediato à terra para cumpri-la
de uma vez e instaurar na mesma terra, de Israel
supostamente, o reino de Deus.

2. A linha paulina. Caracteriza-se porquê do Jesus da


história não lhe interessa em principio mais que sua morte e
ressurreição. O paulinismo entende o sacrifício na morte de
Jesus como um ato voluntariamente querido por seu Pai e
como um sacrifício expiatório, uma morte em vez dos
demais humanos. Com este sacrifício a situação de pecado
da humanidade ficaria eliminada, restabelecida a amizade
com Deus e fica aberta a possibilidade de salvação eterna.
Porém só se salva o que crê que Jesus é o messias, que
com ele se há estabelecido a era messiânica e que o pecado
fica convertido em justiça (“justificado”) uma vez que a
admitida por um ato de fé, ajudado necessariamente pela
graça divina, que a morte na cruz de Cristo há sido o
sacrifício expiatório que há apagado o pecado do mundo.

3. Os cristãos gnósticos. Estes se creem especiais porque


são os únicos entre os mortais que receberam de Deus uma
revelação especial para entender com profundidade como é
Deus, como é a plenitude da divindade, como foi criado o
universo e por quem, como Deus tem enviado reveladores
de sua essência ao largo da história, como Jesus é o último
14
deles; como este tem escolhido a uns poucos mortais para
indicar-lhes qual é o verdadeiro caminho da salvação; como
o espírito humano desses eleitos é consubstancial com a
divindade e com esse espírito – desgraçadamente
encadeado por um triste processo à matéria do universo,
deve voltar a sua verdadeira pátria que é o céu. O
Redentor-Revelador-Jesus lhes há escolhido somente a eles
como o caminho. Em seguida veremos que acontecerá com
estes grupos, sobretudo no que respeita a formação da lista
ou cânon de livros sagrados do cristianismo.

5 - A FORMAÇÃO DO NOVO TESTAMENTO FOI UMA


OBRA DE CUIDADOSA SELEÇÃO E UM ATO DE
POLÍTICA ECLESIÁSTICA

Duas das grandes divisões do cristianismo que descrevemos


rapidamente acima desapareceram rapidamente pela força
destrutiva da história:

A. A linha judaico-cristã tinha pouco a oferecer ao


Império romano (um messias demasiado judeu), como
dissemos, e pereceu arrastado pelos desastres do judaísmo
como resultado das duas Grandes Revoltas contra Roma nos
séculos I e II (anos 70 e 135): os judeus foram quase todos
expulsos de Israel, e acabaram dispersos e quase
aniquilados. Com eles pereceu também o judaísmo cristão:
até o século VI D.C. não restava mais nada deles.

B. Os gnósticos desaparecem por si só entre os


séculos IV e V, por falta de "público": era uma religião
muito filosófica, com um complexo sistema místico-

15
filosófico-platônico que explicava Deus e os Primeiros
Princípios de um modo muito confuso.

E também se auto excluíram da grande religião ao


considerar-se receptores de uma revelação especial
destinada a que se salvassem só uns poucos. A partir do
século VI sobravam escassos grupos, ainda que tenham
sobrevivido até hoje em grupos minúsculos (por exemplo,
gnósticos “New Age”) e ao largo da historia em outras
religiões com mescla de gnosticismo como o maniqueísmo,
os bogomilos e o catarismo, por exemplo.

Pois bem, voltando os olhos para o período entre o ano 15 e


o 200 D.C. o filólogo está persuadido que a formação da
lista atual de livros sagrados do Novo Testamento foi um
ato deliberado de política eclesiástica,
fundamentalmente das igrejas paulinas – ainda que
não nos tenha sobrado nenhum documento que deixe isso
claro - já que a observação do conteúdo da lista deixa
entrever vários atos de força: se escolheu um tipo de
cristianismo majoritário ainda que plural, que eliminava os
cristianismos mais “estridentes”, os cristão-judaicos e os
gnósticos como já vimos, que não encaixavam bem com as
aspirações gerais dos desejosos da salvação no âmbito do
Império romano.

A Grande Igreja forçou um cânon complicado de


quatro Evangelhos em vez de um só; foram eliminados
muitos outros evangelhos que poderiam ter a priori
fundamentos para serem aceitos como o Evangelho de
Pedro, o de Tomás ou os Nazarenos (não em seu estado
atual, manipulado depois da formação do cânon, mas o que
se supõe primitivo); se dividiu duas partes uma obra única:
16
Evangelho de Lucas e Atos dos apóstolos; foram varridos
todos os escritos claramente gnósticos. De fato foram
eliminados todos os evangelhos que não pertenciam a uma
concepção paulina básica (o significado da morte e
ressurreição de Jesus): tanto os gnósticos, como os judeu-
cristãos, como os de confecção demasiado tardia e os
fantasiosos.

A formação da lista deixa entrever também um


processo de negociação para admitir nela obras de
tendências muito diversas dentro da Grande Igreja de
cunho essencialmente paulino:

• cartas de Paulo e seus discípulos;

• escritos judeu-cristãos de tendências muito opostas ao


Apóstolo como o Evangelho de Mateus, a Epístola de
Santiago ou o Apocalipse; porém que eram em parte
assimiláveis pelo paulinismo porque aceitavam a divindade
de Jesus e o significado do sacrifício da cruz como sacrifício
expiatório em substituição do gênero humano e como
eliminador do pecado.

• um Evangelho, o de João, que pretende positivamente


superar e emendar o plano aos outros três.

Foi, portanto, a formação do Cânon uma obra de


consenso. Também era a intenção do cânon manter certo
equilíbrio entre as tendências do bloco majoritário:

Frente ao grande bloco de cartas paulinas (7 + 7, incluído


hebreus) se admitiu outro bloco de 7 cartas que
compensasse sua influencia = três cartas “católicas”
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atribuídas às três colunas da Igreja de Jerusalém: Santiago-
Judas (2), Pedro (2) e João (3); mais um Apocalipse, que é
muito judeu porem que tem uma teologia da cruz
essencialmente paulina e que contem 7 cartas a sete igrejas
como contrapeso às cartas paulinas); frente ao bloco dos
Evangelhos Sinóticos se admitiu o Evangelho espiritual ou
místico de João.

Acabou ficando assim:

• um bloco compacto de teologia paulina (que contém e


aceita, ao menos superficialmente, uma parte do ideário
gnóstico):

• um bloco mínimo, porém levemente compensador que


aceita teologia judeu-cristã.

• um Apocalipse que é muito judeu e por sua vez paulino


em sua teologia essencial.

Assim se cumpriram as regras de certa numerologia –


da qual eram muito aficionados os judeus e os cristãos da
época:

• 4 Evangelhos = os quatro pontos cardeais =


simbolicamente, toda a terra (os “Atos dos apóstolos.

• 7 cartas autenticas de Paulo


• 7 cartas pensadas como pertencentes a uma segunda
parte da de Paulo, porém escritas em verdade por seus
discípulos.

18
• 7 cartas de outros apóstolos importantes Santiago/Judas;
Pedro e João.

• 7 cartas contidas em Apocalipse, o de João.

Como se vê algo muito elaborado, em nada casual e que


para mim é o produto de um pacto das igrejas paulinas que
eram as mais importantes entre 150-200 D.C. que é quando
se põem os fundamentos básicos deste cânon, que mudará
muito. No princípio, a numerologia não se enquadrava
perfeitamente, ainda que se tentasse. Porém nos séculos
posteriores fizeram os números se enquadrarem.

6 - O TEXTO DO NOVO TESTAMENTO FOI


TRANSMITIDO DE MANEIRA APENAS SATISFATÓRIA

Muita gente pensa que o texto do Novo Testamento é uma


grande manipulação da igreja, a qual – movida por seus
dogmas - há forçado os documentos primitivos a seu gosto
e os há alterado de modo que o texto que hoje nos
apresentam como sagrado se acomodara a sua ideologia,
porém na realidade se trataria de um texto muito distante
do que escreveram seus autores. Ou se pensa que é uma
produção muito tardia, na realidade do século IV, em torno
do Concilio de Niceia (325) uma vez que o cristianismo é
considerado religião lícita depois do Edito de Milão do
imperador Constantino (312)

Estas ideias são absolutamente falsas desde o ponto


de vista filológico e histórico.
19
Em primeiro lugar, a igreja não possui o controle físico da
imensa maioria dos manuscritos do Novo Testamento que
se acham disseminados por todo o mundo: universidades,
museus e outras instituições, absolutamente fora de seu
controle.

Segundo: o texto “padrão”, grego, do Novo Testamento


não foi à igreja que o reconstruiu como tal, mas diversos
grupos de especialistas, filólogos e historiadores, cuja
mentalidade é de todo tipo e condição, desde crentes a
agnósticos e não crentes.

O texto “oficial” de hoje em dia, que já está pela 27ª edição


com dezenas e dezenas de reimpressões e contínuas
melhoras no aparato crítico de variantes, é realizado por
uma equipe que em conjunto somam umas 50 pessoas em
um Instituto da Universidade de Münster dedicado
expressamente à crítica textual do Novo Testamento
(Nestle-Aland, Novum Testamentum graece editio
vegesima septima Editorial Deutsche Bibelgesellschaft,
Stuttgart. Reimp. de 1993).

NÃO SE HÁ CONSERVADO OS ORIGINAIS


(DENOMINADOS “AUTÓGRAFOS”) DOS DIVERSOS
LIVROS DO NOVO TESTAMENTO, SOMENTE CÓPIAS.
Se, se houvesse conservado a primeira edição de algum
deles em alguma igreja ou depósito, bastaria consultá-la
para ver em que se havia modificado cada cópia de seu
modelo. PORÉM ISTO NÃO É POSSIVEL. Nosso único acesso
ao texto primeiro é através de cópias mais ou menos
próximas ao que saiu das mãos dos autores.

20
Tenho repetido em muitas distintas ocasiões que existe um
ramo da filologia que se ocupa expressamente de tais
cópias, de estudá-las a fundo e do modo como através dela
podemos nos aproximar o mais possível a esses originais
perdidos. Esta ciência – como bem se sabe - se chama
“crítica textual”, e sua missão é múltipla ainda que
orientada a um único objetivo: apresentar, ou reproduzir
por meio da imprensa, um texto seguido de um livro antigo,
de modo que o leitor moderno tenha a segurança de que o
que se lê parece o mais possível ao que saiu da mão do
autor.

Para conseguir este fim a crítica textual neotestamentaria


tem efetuado desde o Renascimento, pouco a pouco, e com
o trabalho de milhares de estudiosos, os processos
seguintes: recolher, ordenar, e organizar os manuscritos em
famílias de modo que seu imenso número seja manejável,
em nosso caso do Novo Testamento; examinar onde se
produziram erros ou alterações do texto e estudar o porquê
das mesmas; avaliar as variantes que apresentam os
manuscritos e deduzir qual delas se aproxima mais ao que
se IMAGINA SER O ORIGINAL.

Tudo isto se faz hoje em dia e creio que com notável êxito,
de maneira que o texto grego do Novo Testamento que se
imprime hoje, ainda que não seja igual ao que escreveram
os autores originais, se parece muito com toda
probabilidade. A crítica textual há reconstruído um texto do
Novo Testamento bastante próximo dos “autógrafos”,
normalmente de uns cem anos ou mais depois de que foram
escritos.

21
É quase seguro, em um caso ao menos, que a distância é
de pelo menos três ou quatro dezenas de anos entre os
dois: a distância que existe entre a data de composição e o
papiro mais antigo. O Papiro 52 (P52) contém Jn 18,31-
33.37-38. Os papirólogos estão de acordo que por seu
modo de escritura foi copiado em torno de 125-130 D.C.
Portanto, não chega a três decênios depois da composição
do Quarto Evangelho. Agora bem, o texto apresentado pelo
P52 é sensivelmente igual ao que pode reconstruir-se por
meio dos métodos científicos usuais.

Este fato nos ratifica de que o texto que temos do Novo


Testamento é confiável em linhas gerais. Disso se pode
perceber como já disse em outras ocasiões, quão carentes
de base são certas afirmações de hoje (por exemplo, no
Código da Vinci) que sustentam que o texto dos Evangelhos
foi reescrito, reelaborado e manipulado por completo no
século IV depois da famosa “conversão” de Constantino,
como acima dissemos.

Segundo esta peregrina teoria, a igreja de acordo com as


autoridades civis manipulou os textos com a ideia de fazer
de Jesus (um simples homem segundo os primitivos textos
evangélicos conservados até esse momento) um deus, de
modo que o Império tivesse uma divindade única em que
crer que servisse de aglutinante religioso para os habitantes
tão diversos das províncias do Império. Uma estupidez.

Se há, em minha opinião, um problema intelectual sério


a respeito do texto grego do Novo Testamento. Trata-se de
que a Igreja nunca definiu, nem mesmo no Concilio de
22
Trento, qual é o texto exato, literal, do texto inspirado pelo
Espírito Santo. Entre as mais de 200.000 variantes de peso
do Novo Testamento (há umas 500.000 no total, mesmo
que muitas delas sejam ortográficas) Quais representam o
texto original?

Dá-se o caso curioso, desde o ponto de vista católico, de


que o Novo Testamento, hoje mais ampliado, sobre o qual
se fazem 95% das traduções para línguas modernas, é
confeccionado por uma maioria de investigadores
protestantes. É o livro mencionado acima, do Instituto de
Münster dedicado à crítica textual do Novo Testamento,
Ademais, esta edição científica é um texto que muda
(não muito, mas muda) de uma edição a outra. Entre as
edições 26 e 27 as diferenças somam umas trinta. Que
pensar deste fato?

Para a imensa maioria de crentes e seus pastores espirituais


esta instabilidade textual, este não saber qual é exatamente
o texto sagrado, não constitui um problema. Argumenta-se
que o que importa não é um texto “morto”, senão a palavra
e a pessoa de Jesus que vive no interior de sua Igreja e no
coração dos fiéis. As linhas gerais estão claras, dizem; as
minúcias não importam.

Para uma minoria e para os não crentes, sem dúvida, sim, é


um problema o FATO DE QUE A IGREJA SEJA INCAPAZ, pela
mesma natureza das coisas e o avanço das técnicas de
edição, DE DEFINIR QUAL É EXATAMENTE O TEXTO
SAGRADO. AINDA QUE SE DIGA QUE A IGREJA VIVE NÃO
DA LETRA IMPRESSA, MAS DA “PALAVRA VIVA”, O CERTO É
QUE APELA CONTINUAMENTE A UM TEXTO ESCRITO. Não
saber com exatidão qual é exatamente o teor desse texto
23
escrito inspirado é um problema teológico ainda sem
solução.

Devemos aceitar de fato concreto, que filológica e


historicamente falando:

• Estão perdidos os originais do Novo Testamento

• O texto reconstruído é no melhor dos casos dos anos 180-


200: um século depois de sua escritura.

• Nunca possuiremos o texto que muitas pessoas creem


inspirado ou “soprado” literalmente pelo Espírito Santo,
porque esse texto se transmitiu em copias de copias e
sempre há variantes.

• Na cristandade antiga não davam muita importância a


uma transmissão do texto sagrado absolutamente exata,
porque cada zona geográfica importante tinha seu próprio
texto do Novo Testamento. E na imensa maioria as
variantes não são de importância. Em uns 200 casos, sim e
podem afetar o dogma.

7 - O NOVO TESTAMENTO É UMA OBRA DE IDEOLOGIA


PLURAL E ESCRITA POR DESCONHECIDOS, EM SUA
MAIOR PARTE. A PSEUDOEPIGRAFIA.

O Novo Testamento é uma obra muito plural em sua


ideologia: ao não ser um livro compacto, redigido por um
autor único, mas uma conjunção de obras muito diferentes
24
entre si em estilo, linguagem, gênero literário e propósito, o
Novo Testamento contém em si e por si mesmo uma
tensão constante entre a unidade e a diversidade.

Um observador exterior e pouco respeitoso poderia estar


tentado de qualificá-lo como um “baú de alfaiate” devido à
diversidade de suas teologias, ainda que com algo em
comum. Na realidade, como temos dito o Novo
Testamento não é mais que o reflexo da diversidade
do cristianismo primitivo, ainda que dentro de certa
unidade, a saber, que seu núcleo é essencialmente
paulino o compatível com o paulinismo. Por outro lado,
esta diversidade se corresponde com a diversidade do
judaísmo do qual se origina o cristianismo.

A diversidade do Novo Testamento aparece refletida


inclusive no gênero e estilo dos livros que compõem o
Novo Testamento:

• Há dentro deste corpos um livro que se pretende de


história, os Atos dos apóstolos;

• Há “biografias” ao modo da época, como os evangelhos;

• Há cartas apaixonadas e combativas, como a Epístola aos


Gálatas, e outras mais teóricas como a dirigida aos
Romanos;

• Há outras cartas de muito pouca doutrina teológica e


muito de exortação como a Epístola de Santiago, ou outras
simplesmente polemicas como l de Judas.

25
•Há partes de visões e revelações do futuro, como o
Apocalipse de João, e.

• Há finalmente outros escritos de variada textura que se


apresentam normalmente como circulares a diversos grupos
de cristão e que discutem tanto noções teológicas como
problemas práticos: Epístolas Pastorais.

Os autores, salvo um grupo de sete cartas que saíram da


mesma mão, as autênticas de Paulo - todos do Novo
Testamento são desconhecidos. A tradição, sobretudo a
partir do século II, lhes atribuiu um nome. Porém nem
mesmo esse nome é provável: por exemplo, Marcos como
discípulo direto de Pedro, que comete erros incríveis de
geografia palestina; Mateus como o publicano que segue a
Jesus, porém que utiliza fontes anteriores a ele para compor
seu evangelho; João, filho de Zebedeu como o discípulo que
morre em 41, porem que é autor – segundo essa tradição -
de obras escritas decênios mais tarde, como o Evangelho de
João e o Apocalipse. Estas obras são na realidade anônimas.

Outros autores do Novo Testamento, também


desconhecidos, utilizam com todo propósito nomes
falsos. É o fenômeno denominado pseudoepigrafía: como
se sabe, pseudonímia ou pseudoepigrafía significa colocar o
nome de outra pessoa (normalmente famosa) em uma obra
literária escrita por outra (normalmente sem fama alguma).
Este fenômeno literário era bastante comum na antiguidade
e não é próprio só do cristianismo primitivo: conhecemos
outros casos na antiguidade Greco-latina e egípcia
(Wolganag Speyer, Die literarische Fälschungen in der
Antike: “Las falsificaciones literarias en la antigüedad).
26
Sem ir mais longe, a mesma Bíblia canônica atribui
erroneamente grande parte do saltério ao rei Davi e toda a
literatura sapiencial a Salomão, ainda que do primeiro não
procedam em verdade mais que algumas composições e do
último nada porque nem ao menos se sabe se é um
personagem rigorosamente histórico.

Igualmente, o Deuteronômio, posterior em vários séculos a


Moisés, declara a este como seu autor. No grupo de escritos
denominado Apócrifos do Antigo Testamento encontramos
dezenas de exemplos, pois todos eles são pseudoepígrafos.
Em todos estes casos a mais elementar crítica histórica,
interna e externa, chega ao resultado de que tal autoria é
falsa. Muitos detalhes do conteúdo destas obras nos indicam
que estas obras não se encaixam com o mundo de seus
pretendidos autores.

Se o costume da pseudonímia estava tão expandida no


mundo judeu e antigo em geral, não é estranho que no
Novo Testamento, conjunto totalmente judaico, como temos
dito, encontremos o mesmo fenômeno. Porém tal costume é
verdadeiramente curioso para a mentalidade moderna. Por
isso se tem tentado encontrar diversas explicações.

A primeira e mais óbvia seria aceitar simplesmente que


estes autores enganavam conscientemente a seus leitores.
Esta possibilidade está sempre aberta e ultimamente
autores como José Montserrat tem insistido nela. Para este
autor existem no Novo Testamento falsificações explícitas,
ou seja, escritos cujo mesmo texto os atribui falsamente a
um autor. Os verdadeiros e desconhecidos autores são,
portanto, falsários. Exemplos: Evangelho de João. Cartas
27
de Paulo a Timóteo I y II, e a Tito. Cartas de Santiago,
Pedro I e II, Judas.

Em minha opinião, sem dúvida, esta última hipótese é


plausível, já que se pode fazer tudo com o propósito de
propagar uma doutrina que se acredita verdadeira. Porem
há também outras explicações psicologicamente
também plausíveis que surgem quando se leem os
escritos em questão e quando se penetra um pouco no
espírito da gente da época. Sobretudo existe a explicação
da assunção da personalidade de um mestre famoso por
parte do discípulo. Na antiguidade se pensava que ambos
podiam formar uma unidade espiritual e que o discípulo
podia escrever em nome do mestre já falecido. É o que se
há chamado uma “personalidade corporativa”.

Esta teoria poderia ser verossímil para os autores de obras


pseudônimas dentro do Novo Testamento. Estes poderiam
sentir-se na realidade aparentados espiritualmente com o
personagem ou mestre de época anterior (em nosso caso
Paulo, ou outros apóstolos como Pedro, Santiago ou Judas),
já que formava com eles quase uma mesma personalidade
ideológica.

Assim como Moisés havia podido repartir uma parte de seu


espírito aos que haviam de suceder-lhe (Nm 11,25-30), e
Eliseu se contentava com receber a “metade do espírito e
poder de Elías” (2 Re 2,10), ou João, e Batista, haveria de
“caminhar no espírito e poder de Elías” (Lc 1,17), os autores
destas cartas do Novo Testamento se sentiam realmente
possuidores e continuadores do mesmo Espírito que havia
animado e impulsionado a seu glorioso predecessor e
mestre, Paulo, Pedro, Santiago, etc. Não é de estranhar que
28
creram ser intérpretes autorizados do que o apóstolo
falecido haveria escrito e circunstancias posteriores. Com
outras palavras: sua obra seria o que o apóstolo já morto
haveria composto por haver vivido esses momentos.

Os investigadores independentes parecem inclinar-se


pela opinião de José Montserrat, a da enganação
deliberada e consideram esta última ideia como uma
posição ingênua por parte dos estudiosos.

8 - A VALORIZAÇÃO DA LITERATURA PSEUDÔNIMA


NO NOVO TESTAMENTO. O NOVO TESTAMENTO
CONVIDA AO PLURALISMO.

A última teoria plausível do fenômeno da pseudonímia, tal


como expomos na nota anterior, poderia levar-nos a pensar
que os desconhecidos autores desta literatura “paulina” ou
“apostólica” não eram profissionais da mentira nem sentiam
remorsos de consciência ao escrever uma obra claramente
falsa desde o ponto de vista de hoje.

Ainda que custe compreendê-lo hoje em dia, é possível que


não pretendessem de maneira geral enganar positivamente
a seus leitores – ou ao menos não sempre — forjando uma
autoria que é claramente “falsa”, segundo nosso modo de
julgar. Estavam convencidos de que o escrito que atribuíam
a Paulo ou Pedro, por exemplo, se haviam composto no
mesmo espírito dele, e podia se atribuir a ele. Por tanto,
não se poderia julgar com critérios do século XXI, ou seja,
empregar a dicotomia “falso/autentico” radicalmente — a
este fenômeno literário da “pseudonímia”.
29
Mas para a crítica literária moderna ter consciência de que
um escrito concreto não procede da mão de Paulo ou Pedro
autênticos, senão que é uma obra pseudônima é um
instrumento valiosíssimo que deve aproveitar para emitir
um juízo específico sobre seu valor. Não é a mesma coisa
uma carta autentica de Pablo que uma de seus seguidores.
A constatação da não autoria paulina ajuda a estabelecer o
desenvolvimento e a evolução da Grande Igreja, tanto em
sua ideologia como em sua organização durante o tempo da
composição do Novo testamento.

Ao ser o Novo Testamento muito plural em sua ideologia,


convida a pluralidade de cristianismos.

Ao ser o Novo Testamento um conjunto de obras de


enfoques diferentes, não é de estranhar que o leitor crítico
detecte entre elas tensões e divergências teológicas,
inclusive contradições. Cada obra, ou às vezes blocos de
obras, apresentam sua própria opção ideológica.

Assim, por exemplo, há um abismo entre a concepção da fé


das Epístola aos gálatas e romanos e a da Epístola de
Santiago; ou se percebem muitas diferenças, quase
irrecuperáveis, entre as imagens de Jesus dos três
primeiros evangelhos e a do Evangelho de João.

Igualmente o pensamento sobre a Igreja, o matrimonio, ou


o retorno de Jesus como messias e juiz final não é o mesmo
nas cartas autenticas de Paulo e nas compostas em seu
nome por seus discípulos (p. ex., as Epístolas Pastorais).

30
O exemplo da criptologia é paradigmático e o temos
exposto em outras ocasiões: se há algo serio, no que
deveria haver unidade no Novo Testamento é como se
concebe a Jesus como Cristo, como messias: desde quando
tem essa função? Desde algum momento de sua vida
terrena? Desde toda a eternidade?

Pois bem, não há una cristologia unitária, e muito menos,


no Novo Testamento, senão até contraditória ou
incompatível uma com a outra. Resumimos: a evolução da
criptologia foi rápida e impressionante: de Jesus, puro
homem, se passou para a figura de um filho de Deus
consubstancial e preexistente. A cristología mais elementar
está representada no discurso de Pedro no primeiro
Pentecostes, Atos 2,32. 36. Nesta concepção Jesus é
durante sua vida um homem normal e só depois de sua
morte e ressurreição por Deus é incorporado por Este ao
âmbito do divino. O Evangelho de Marcos declara este
momento de incorporação: no batismo a voz divina declara
a Jesus “Filho de Deus”. Jesus não pertencia ao nível divino
desde sua morte e ressurreição, mas antes, desde seu
batismo. Os evangelhos de Mateus e Lucas recuam esta
afirmação: Jesus é Filho de Deus desde sua concepção
milagrosa: Mt 1-2 y Lc 1-2. O Evangelho de João recua
ainda mais cronologicamente a divindade de Jesus: este é o
Logos eterno que existe desde o principio. Esse Logos é
Deus: Jn 1,1.

O mesmo ocorre na ética. Um mero exemplo de duas


concepções antagônicas distantes entre si uns poucos
decênios, ou menos: a postura ante o matrimonio. Para
Paulo, em 1 Cor 7, o matrimonio é um “mal menor”; melhor
é casar-se que afundar-se na impureza; o Apóstolo não o
31
condena, porém desejaria que “todos fossem celibatários
como ele”, para livrar-se de incômodos problemas e para
dedicar todo o tempo e energia “às coisas do Senhor”.

Porém afirma o contrário, nas epístolas deutero-paulinas,


especialmente em Efésios se Le:

“Os maridos devem amar a suas mulheres como a seu


próprio corpo. O que ama a sua mulher, a si mesmo se
ama,...” (5,28-32).

E sobretudo 1 Tim 5,14:

“Quero que as mulheres se casem, criem filhos…”

E também 1 Tim 2,15:

A diferença na mentalidade é máxima.

Ao Novo Testamento se pode aplicar também o que dizem


os rabinos da Bíblia hebraica: “Setenta caras tem a Bíblia”.
“A Bíblia é como uma cova de ladrões: nela cada um pode
encontrar o que quiser”.

Se algo indica a pluralidade do Novo Testamento é a


pluralidade das confissões. Isso explica que segundo Goffrey
Parrinder no ano 2000 havia no mundo umas 500 confissões
ou denominações cristãs…, e isso que todas elas procediam
muito provavelmente de um único tronco comum dentre os
três possíveis, ou mais: a interpretação paulina da morte e
ressurreição de um Jesus divinizado como expiação vicária e
substituta que redime em potência os pecados da
humanidade inteira.
32
9 - O NOVO TESTAMENTO É UM LIVRO DE
PROPAGANDA

Podemos dizer sem medo de errar que o primeiro corpo


primitivo de escritos cristãos, o Novo Testamento, é uma
obra de propaganda de uma fé. Por isso é correto afirmar
que apresenta as coisas de modo que surja uma
interpretação específica e não outra. Isto ocorre
especialmente nos Evangelhos, mas também no resto dos
escritos. Todos os seus textos estão redigidos de modo que
atraiam, ou confirmem a fé cristã aos leitores potenciais.

O Novo Testamento é sobre tudo uma manifestação de


crenças, o testemunho e a proclamação delas. Por sua vez é
uma exortação a aderir-se a esse conjunto de afirmações.
Deste fato se deriva uma consequência importante: como
testemunho de fé é bem possível que os fatos narrados
nesses textos estejam vistos através das lentes dessa fé, o
que implica certa distorção.

Da aplicação dos métodos histórico-crítico modernos, do uso


da metodologia da história antiga com respeito aos textos
neotestamentarios se deduz um entorno de interpretação
deles - uma postura interpretativa do investigador – como a
que ocorreria com qualquer outro texto que contém
historias legadas pela Antiguidade. Indefectivelmente se
propõe assim uma questão fundamental: podemos confiar
historicamente nos textos do Novo Testamento? E
especificamente a respeito de sua figura principal: podemos
confiar nos Evangelhos enquanto história?
33
A resposta a esta pergunta é complexa, pois não só há que
contrastar os dados dos Evangelhos entre si, e
posteriormente com outros dados seguros da história que os
rodeia, estudar as “tendências” de composição de
cada um, ou seja, sua teologia peculiar que pode leva-los a
apresentar os fatos de uma maneira especial ou com uma
óptica deformada. À luz de muitos séculos de investigação é
mais que plausível que tenham tais tendências e que nós
posamos detectá-las.

A leitura pausada e crítica dos textos do Novo Testamento,


e em particular dos evangelhos, deve por em guarda o leitor
ante um uso espontâneo do material sobre Jesus contido
nos textos transmitidos. É ilustrativo o aviso aos leitores de
Günther Bornkamm, um sucessor de Rudolf Bultmann, em
sua obra Jesus de Nazaré (5ª edición, 1996, Editorial
Sígueme. Salamanca):

Não possuímos nem uma única “frase” nem um só relato


sobre Jesus – ainda que fosse autêntico —, que não
contenha ao mesmo tempo a confissão de fé da comunidade
crente, ou que ao menos não a implique. Isto deixa difícil ou
inclusive leva ao fracasso a busca dos fatos brutos da
história (p. 15).

É desejável, portanto uma postura prudente e uma


leitura que vá mais além da mera superfície. O filólogo
e historiador da antiguidade que se defronta com estes
textos não deve adotar uma posição simplista de
harmonização dos fatos e ideias contraditórias ou contrárias
que perceba no Novo Testamento depois de uma leitura
pausada, mas uma atitude de prudente crítica com o
34
objetivo de reconstruir o pensamento original de cada autor
e o porquê desse pensamento.

10 - O NOVO TESTAMENTO É UM LIVRO CHEIO DE


MITOS RELIGIOSOS

En principio este hecho de transmitir ideas religiosas a base


de mitos, que me parece bastante evidente aunque muchos
creyentes no lo admitan, no es criticable, pues la mayor
parte del ámbito sobrenatural sobrenaturales es sólo
expresable por medio de afirmaciones míticas. Esta tesis se
defiende dentro del cristianismo desde la publicación de la
famosa Vida de Jesús críticamente elaborada (Das Leben
Jesu kritisch bearbeitet; que yo sepa no hay versión
castellana) de David Friedrich Strauss, ya en 1835.

Afirma Roger Haight, en su obra Jesús, símbolo de Dios,


Edit. Trotta, Madrid, 2008:

“El movimiento de todo pensamiento teológico desde abajo


hacia Dios procede sobre la base de la experiencia religiosa
y del lenguaje simbólico. El carácter simbólico de todas las
imágenes, conceptos y manifestaciones religiosas sobre
Dios tiene una inmensa importancia… que queda realzada
en el grado en el que se la ignora… Se podría decir que el
lenguaje religioso es simbólico, metafórico, analógico y
basado en modelos; cada uno de estos marcos de referencia
permite reconocer que el objeto del lenguaje religioso es
trascendente y no está disponible de modo inmediato. Tal
lenguaje, por tanto, no es el trasunto de una representación
35
objetiva, no es referencial de modo inmediato, o
lógicamente descriptivo o demostrativo en su referencia.

“El lenguaje religioso tiene siempre una estructura


metafórica, porque su referente, Dios, se concibe siempre
implícitamente ‘como’, como algo vehiculado por el lenguaje
ordinario sobre objetos intramundanos. Este lenguaje es
simbólico y análogo porque su objeto trascendente es
similar y diferente al mismo tiempo a su análogo finito y
simbólico. Tal símbolo, por tanto, apunta hacia lo
trascendente, que está fuera de sí, y lo hace presente para
que el ser humano pueda encontrarse con él” (Jesús,
símbolo de Dios, cap. 16, “La Trinidad”, pp. 495-6).

Para los creyentes de otras religiones, como p. ej., el


judaísmo y el islam (para nombrar sólo a aquellas que en
todo o en parte se basan en el Antiguo Testamento) los
mitos que contiene el Nuevo Testamento son entre otros:

• El pecado original, cuya semilla se halla en Gn 3, pero que


el judaísmo no desarrolló, sino sólo Pablo.

• La encarnación de un mesías divino y la virginidad de


María.

• La concepción de un redentor que desciende desde la


esfera celestial, ejecuta el acto de la redención en la tierra y
asciende de nuevo a la esfera celeste.

• La idea de que este redentor sea hijo de Dios en un


sentido real, ontológico, no figurado.

36
• La muerte y resurrección del Redentor ; su ascensión a los
cielos.

Como se ve, prácticamente todo el núcleo esencial de lo


nuevo que aporta el cristianismo sobre el judaísmo y que
constituye el meollo del mensaje del Nuevo Testamento es
considerado mítico por los creyentes de esas dos religiones
importantes.

Naturalmente, para los creyentes cristianos estos eventos


denominados mitos por los de fuera b[son realidades
históricas, aunque conocidas en profundidad sólo por la
revelación] y la fe consecuenteb. Pero también los de
dentro, los cristianos de confesiones no católicas, emplean
el vocablo “mito” para referirse a esos hechos que los libros
del Nuevo Testamento presentan como realidades
indiscutibles. La cuestión no es sencilla: hay un intenso
debate desde el siglo XIX dentro del cristianismo mismo en
qué sentido ha de entenderse la existencia de mitos en el
Nuevo Testamento.

11 - A PESAR DE SEU CONTEÚDO ÀS VEZES MÍSTICO,


O NOVO TESTAMENTO É UM LIVRO DE HISTÓRIA,
AINDA QUE COM CERTAS RESERVAS.

Como hemos ya afirmado, el Nuevo Testamento presenta


multitud de datos, situaciones, personajes, opiniones y
hechos que se ven confirmados por otras fuentes históricas
de la época. Incluso los evangelios, que contienen una
enorme carga interpretativa –sin duda alguna sesgada
aunque con buena voluntad, se supone- sobre la vida,
37
hechos y palabras del héroe que presentan, Jesús de
Nazaret, son y pretenden ser fundamentalmente la
presentación de los rasgos históricos de la vida de este
personaje. Otra cosa es que lo logren y que se experimente
la necesidad de la crítica de aplicar todos sus instrumentos
para diseccionar lo que puede estar distorsionado por la
propaganda.

El Nuevo Testamento es fundamentalmente la


reinterpretación en clave espiritual y con unos
condicionamientos previos de acontecimientos históricos.
Pongamos un ejemplo de la vida de Jesús. El núcleo de la
vida del Nazareno lo constituyen los hechos siguientes:

Un maestro galileo del siglo I, antiguo discípulo de Juan


Bautista y que luego funda su propio grupo, atrae a las
masas con su proclamación de que el reino de Dios se
acerca a toda prisa. Pasó un cierto tiempo predicando esa
venida del reino de Dios en Galilea. Muchas gentes fueron
tras él no sólo por su doctrina sino porque era también un
sanador y un exorcista, como algún que otro rabino de su
época. Luego subió a Jerusalén a completar su predicación y
allí lo prendieron las autoridades porque perturbó el
funcionamiento del Templo y predijo que Dios lo sustituiría
por otro nuevo. Las autoridades lo mataron al considerarlo
peligroso para el orden público tanto desde el punto de vista
de las estructuras judías como de las romanas.

La interpretación de esos hechos por parte del Nuevo


Testamento es la siguiente en líneas generales: ese
maestro de Galilea es en realidad el Hijo de Dios, el mesías
tan ansiosamente esperado; según el Cuarto Evangelio, es
la Palabra, el Logos de Dios que existe desde siempre y es
38
Dios. Su doctrina es la transmisión de la voluntad divina a
los hombres para la salvación de éstos. El Diablo se opone a
ese plan de salvación, pero es derrotado en toda la línea por
Jesús mismo que demuestra con sus milagros y curaciones
que Satanás tiene poco que hacer cuando el reino de Dios
impere sobre la tierra. Pero el plan divino incluye el
sacrificio del anunciador y mediador de ese Reino. Las
autoridades terrenales, judías y romanas, impulsadas por el
Diablo, lo prenden y lo crucifican. Pero esa aparente victoria
es su derrota.

En realidad lo que ha pasado es que se ha consumado un


sacrificio de la víctima perfecta: un ser a la vez divino y
humano que con su muerte ha expiado ante su Padre (él es
el Dios también) los pecados de todos los hombres (es
hombre). La humanidad queda reconciliada con Dios gracias
a este sacrificio único. Pero la víctima no muere
definitivamente, sino que resucita. Queda así claro que no
es simplemente un hombre, sino un ser que pertenece al
ámbito de lo divino. El hombre puede participar de la
resurrección de Jesús y apropiarse de los beneficios de la
salvación si tiene fe en que esos hechos aparentemente
banales (la crucifixión por los romanos de un sujeto
peligroso…, hecho repetido centenares de veces en
Palestina) tienen otro significado.

A los ojos de un intérprete de fuera hay una notable


diferencia entre lo acaecido y lo interpretado. Para la
crítica racionalista esta interpretación de los hechos ofrecida
por el conjunto de las obras del Nuevo Testamento es
puramente mítica y sin base real. Lo único que debería
hacer la ciencia histórica –dice— es constatar los hechos
incontrovertibles. Todo lo demás pertenece al reino de la
39
especulación, de la leyenda y del mito. Para el creyente,
sin embargo, esa interpretación no es mítica.
Considerarla como tal es ofensiva y simplemente un a
priori: es negar por sistema la existencia de lo sobrenatural
y la intervención de Dios en la vida humana. La
interpretación de los hechos en torno a Jesús como historia
de la salvación es una posibilidad real de la historia misma.
Las dos posturas son antagónicas e inconciliables.

12 - EL ACERCAMIENTO AL JESÚS HISTÓRICO SÓLO


ES POSIBLE A TRAVÉS DEL NUEVO TESTAMENTO, NO
DE LOS APÓCRIFOS (402-12)

Seguimos con nuestros comentarios al “Nuevo Testamento


visto por un filólogo”.

A pesar del contenido mítico del Nuevo Testamento pienso,


como indico en el título de esta nota, que no hay otra
posibilidad de acceso al Jesús si no es a través del análisis
del Nuevo Testamento, en primer lugar los Evangelios.
Ciertamente, leídos con todas las “armas” de la crítica.

Hay ciertos grupos de cristianos un tanto marginales que


afirman que la Iglesia oculta deliberadamente la imagen de
Jesús de los llamados “Evangelios apócrifos”, sencillamente
porque no le interesa por taimadas razones, o porque la
lectura atenta de éstos puede hacer que caigan ciertas ideas
sobre Jesús que perturbarían la imagen tradicional.

Mi opinión es que esta postura no tiene fundamento. Pero


aceptemos el envite y preguntémonos: ¿pueden
deducirse de los Evangelios apócrifos datos
40
fidedignos para reconstruir la imagen de Jesús? La
respuesta puede ser un no bastante contundente. En primer
lugar: la Iglesia no tiene el más mínimo interés en ocultar
los Evangelios apócrifos tal como han llegado hasta
nosotros. Todas las ediciones modernas de ellos tienen el
visto bueno de la Iglesia.

Otra cosa fue en los siglos IV al VII en los que se libró una
batalla por la ortodoxia en la que muchos apócrifos
perecieron o fueron alterados. Pero dicho esto, y concluida
tal batalla a muerte en la que los evangelios apócrifos
salieron muy mal parados, si a la Iglesia no le hubieran
parecido casi inocuos los restos que han llegado hasta
nosotros, apenas si conservaríamos hoy fragmentos
dispersos de los evangelios apócrifos. Dicho esto, salvo
contadísimas y muy discutidas excepciones (Evangelio de
Pedro; Evangelio de Tomás copto, Papiro Egerton 2;
Papiro de Oxirrinco 840), los evangelios apócrifos en su
forma actual no nos proporcionan informaciones fiables
sobre Jesús. Las razones son fundamentalmente dos:

A. Estos textos son casi todos muy tardíos e intentan


ofrecer datos sobre aspectos de la vida de Jesús que al
principio del cristianismo carecían de interés y que, por lo
tanto, se perdieron. La mayoría de estos Evangelios fue
compuesta a partir del 150 d.C., es decir, más de cien años
después de la muerte de Jesús. La falta de datos es suplida
por la imaginación de sus autores. Los Evangelios apócrifos
están llenos de exageraciones inverosímiles, historietas y
leyendas evidentes, imposibles de aceptar como históricas
por cualquier historiador.

B. Estos apócrifos son casi todos textos secundarios,


41
es decir, al menos en la redacción que ha llegado hasta
nosotros están influenciados o dependen de algún modo de
los Evangelios canónicos. No tienen, pues, información de
primera mano. Algunos otros Evangelios apócrifos
independientes, pertenecientes a escuelas teológicas
distintas a las de los evangelistas canónicos, o heréticas,
parecen recoger sólo tradiciones legendarias que favorecen
sus puntos de vista teológicos.

Respecto a los Evangelios apócrifos mencionados hace un


momento (Evangelio de Pedro, de Tomás, etc.) hay que
manifestar que es hoy opinión casi unánime que
pueden contener alguna información fidedigna sobre
el Jesús histórico. Pero para alcanzarla es aún más
necesaria si cabe una gran labor de crítica y tamización de
tales textos. En general puede decirse también que se
utilizan sobre todo para corroborar ciertas informaciones
obtenidas de los textos más antiguos, los Evangelios
canónicos.

Quedan, por último, muchos, muchísimos apócrifos


modernos que con forma novelada unos, o con el
marchamo de pretendidas revelaciones otros, intentan
vender una imagen de Jesús diferente a la de los evangelios
canónicos, sobre todo de la vida oculta del Nazareno, con la
pretensión de revelar verdades inauditas sobre éste.
Naturalmente no tienen ningún valor.

Lo que verdaderamente parece inaudito es la credulidad de


la gente que los compra y les otorga credibilidad. Dos son
los motivos de base de este fenómeno:

42
A. La absoluta ignorancia sobre el estado de la ciencia
filológica e histórica sobre este tema y
B. La desconfianza hacia la Iglesia, o iglesias, que de
algún modo confuso ven como pura institución de poder y
que pretende engañarlos para ejercer su control y, a la
postre, conseguir dinero de los fieles. Contra esta falta de
cultura es difícil luchar. Es falta de educación de base y es
una cuestión de estado y de la enseñanza que deben
transmitir las familias.

13 - O NOVO TESTAMENTO É O FUNDAMENTO DO


CRISTIANISMO. MAS DE QUAL CRISTIANISMO? (402-
13)

Quem é realmente o fundador do cristianismo?

Alguns estudiosos opinam que nem mesmo é correto


levantar a questão do fundador do cristianismo, pois a
constituição deste como nova religião foi um fenômeno
lento e complexo em que interviram múltiplos fatores. O
cristianismo argumentam, nunca foi uma realidade estática,
mas dinâmica, sincrética ou seja, boa assimiladora de ideias
religiosas de seu entorno e contraditória. Por isso não
houve, nem poderia haver um único fundador, mas vários.

Esta observación es cierta, pero hay momentos de la


evolución del cristianismo en el que se dan pasos
trascendentales, constituyentes, y uno de esos lo dio Pablo.

La cuestión debería formularse, pues, de otro modo: ¿fue


Jesús el impulsor de una ideología religiosa que
posteriormente, gracias a sus ideas y sin cambios
43
sustanciales, se convertirá en el cristianismo? O ¿tiene esta
religión unas características tan peculiares respecto a la
religión de Jesús y su concepto de la salvación del ser
humano que debe considerarse como una entidad en
muchos e importantes puntos nueva y casi “autónoma”?

Como el planteamiento que aquí planteamos es sintético –


habría que escribir un libro entero sobre el tema- vamos
simplemente a ofrecer una pista, pero importante.
Consideraremos algo esencial, un elemento clave, en una
religión, qué idea se tiene de la salvación del ser humano,
cómo se concibe la salvación, y comparemos a Jesús de
Nazaret y Pablo, y vemos si son análogas o no. Una
verdadera diferencia ofrecería materia de reflexión.

A. El concepto de la salvación en Jesús

Ante todo el maestro de Nazaret pensaba que la salvación


habría de venir de la observancia de la ley divina, la Torá de
Israel, pero en sus líneas más profundas y esenciales, tal
como él había intentado elucidar en sus discusiones con
otros rabinos de su tiempo.

Dentro de la observancia de la Ley Jesús buscaba la pureza


en su relación con Dios, pero no entendía el binomio
pureza / impureza como la mayoría de los fariseos de su
época, sino que procuraba ante todo aquella pureza interna
y esencial que sale del corazón.

En esta línea, la salvación, según Jesús, era


convertirse, volverse a Dios de corazón, de modo que
con este acto se perdonen los pecados pasados, se esté
totalmente abierto y dispuesto para aceptar la venida del
44
reino de Dios sobre la tierra con un desprendimiento
absoluto de los bienes materiales y de cualquier otro
impedimento psicológico que puede cerrar el corazón a las
exigencias de conversión plena y absoluta que exige la
preparación y venida del Reino; incluso si es necesario hay
que prescindir de la propia familia. La salvación es pues
entrar en el reino futuro de Dios.

A la hora del gran Juicio final (último paso de la salvación)


Dios valorará mucho más el amor al prójimo, la entrega
generosa a él y el respeto hacia los demás, el abstenerse de
juzgar al prójimo, que el cumplimiento escrupuloso y
angustiado de las normativas humanas que desmenuzan, no
siempre con acierto, lo esencial de la Ley.

El ejemplo más claro se halla en Mt 25,31-46:

"Y cuando el Hijo del hombre venga en su gloria, y todos los


santos ángeles con él, entonces se sentará sobre el trono de
su gloria. 32 Y serán reunidas delante de él todas las
naciones; y los apartará los unos de los otros, como aparta
el pastor las ovejas de los cabritos. 33 Y pondrá las ovejas a
su derecha, y los cabritos a la izquierda. 34 Entonces el Rey
dirá a los que estarán a su derecha: Venid, benditos de mi
Padre, heredad el Reino preparado para vosotros desde la
fundación del mundo. 35 Porque tuve hambre, y me disteis
de comer; tuve sed, y me disteis de beber; fui huésped, y
me recogisteis; 36 desnudo, y me cubristeis; enfermo, y me
visitasteis; estuve en la cárcel, y vinisteis a mí.

"37 Entonces los justos le responderán, diciendo: Señor,


¿cuándo te vimos hambriento, y te sustentamos? ¿O
45
sediento, y te dimos de beber? 38 ¿Y cuándo te vimos
huésped, y te recogimos? ¿O desnudo, y te cubrimos? 39
¿O cuándo te vimos enfermo, o en la cárcel, y vinimos a ti?
40 Y respondiendo el Rey, les dirá: De cierto os digo que en
cuanto lo hicisteis a uno de estos mis hermanos pequeñitos,
a mí lo hicisteis. 41 Entonces dirá también a los que estarán
a la izquierda: Apartaos de mí, malditos, al fuego eterno
preparado para el diablo y para sus ángeles; 42 porque tuve
hambre, y no me disteis de comer; tuve sed, y no me
disteis de beber; 43 fui huésped, y no me recogisteis;
desnudo, y no me cubristeis; enfermo, y en la cárcel, y no
me visitasteis. 44 Entonces también ellos le responderán,
diciendo: Señor, ¿cuándo te vimos hambriento, o sediento,
o huésped, o desnudo, o enfermo, o en la cárcel, y no te
servimos? 45 Entonces les responderá, diciendo: De cierto
os digo que en cuanto no lo hicisteis a uno de estos
pequeñitos, tampoco a mí lo hicisteis. 46 E irán éstos al
tormento eterno, y los justos a la vida eterna".

Para la interpretación de este pasaje, téngase en cuenta


que esta escena es una composición del evangelista, que
representa el pensamiento en líneas generales de Jesús,
pero que contiene retoques de su teología propia.

Así, aquí se omite que antes del juicio final y de la vida


eterna ha tenido lugar sobre la tierra de Israel la venida del
reino de Dios y que éste ha durado un cierto tiempo; es
temporal. El gran juicio final es el acto último después de
este reinado del mesías sobre la tierra e inaugura la
“segunda fase” del Reino, después del Juicio, en el cielo.
Esta fase será ya eterna.

Segundo: el “Hijo del Hombre” en la teología de los


46
evangelios sinópticos (Mateo, Marcos y Lucas) es asimilado
a Jesús. Sin embargo, no estamos absolutamente seguros
de que Jesús en realidad no pensara en otra figura celestial
como ayudante de Dios en el Juicio, distinta de sí mismo.

Pero en líneas generales era así como un judío y un


judeocristiano piados podía representarse el gran Juicio final
que coronaba el proceso de salvación.

14 - O CONCEITO DA SALVAÇÃO EM PAULO E EM


JESUS DE NAZARÉ

Em uma religião é fundamental e definitivo como se


entende o processo de salvação do ser humano. Por isso, do
contraste nesta questão entre Jesus e Paulo pode surgir a
luz.

Parece-nos que, tomada em conjunto, a doutrina da


salvação propagada por Paulo é muito distinta da de
Jesus. Para Paulo a salvação tem o seguinte processo que,
para facilitar agora ao leitor a comparação, devemos
resumir em quatro momentos:

• A humanidade está em uma condição desesperada e sem


remédio. Por causa do pecado é inimiga irreconciliável de
Deus.

• Para corrigir esta situação, um Salvador divino desce do


céu e se encarna em um corpo humano.

• O Salvador morre violentamente na cruz, conforme o


plano divino. Sua morte é um sacrifício expiatório pelos
47
pecados da humanidade. O Salvador ressuscita, o que
confirma sua divindade e imortalidade.

• Só por um ato de fé no significado e eficácia dessa morte


redentora o ser humano se apropia de seus benefícios. Os
que aceitam pela fé ao Salvador recebem a promessa
efetiva da ressurreição e a imortalidade (cf. Hyam Maccoby,
Paul and Hellenism, SCM Press, Londres, 1991, 55ss).

Pelo contrário, o conceito da salvação do ser humano


segundo Jesus é o seguinte: se salva, em princípio, se é
judeu, pelo cumprimento em profundidade da lei de Moisés;
se é pagão, pelo cumprimento do Decálogo, que para um
judeu da época de Jesus é coincidente com a lei natural
impressa pela natureza no coração de todos os mortais e
cujo conhecimento se pressupões em todos os seres
dotados de razão.

Para Jesus, que acreditava viver nos momentos finais do


mundo presente, nos instantes prévios à vinda do reino de
Deus que ele proclamava, a salvação do ser humano se
consegue pela graça de poder ser admitido nesse Reino.
Preparar-se para o Reino significava para Jesus arrepender-
se sincera e cordialmente de todos os pecados, decidir-se a
cumprir a lei de Moisés de verdade, que sería como a
constituição do futuro reino de Deus, e abrir o coração a
todas as exigências da preparação do Reino. Era, pois, uma
concepção da salvação muito judaica.

Ao contrastar ambos os conceitos de salvação, o de


Jesus e o de Paulo, não parece exagerado dizer que a
pregação deste último supõe uma ruptura radical com o
evangélico de Jesus, pois:
48
• Interpreta a figura do Jesus histórico de uma maneira
distinta ao modo como ele considerava a si mesmo. Jesus
via a si mesmo como um ser humano normal, ainda
que com uma relação especialíssima com Deus; Paulo,
pelo contrário, faz de Jesus um ser divino, pré-
existente.

• Modifica as ideias sobre um messias judeu com a sua


liberação religiosa, social e política reservada
fundamentalmente a Israel, proclamando um salvador
universal de todos sem exceção.

• Afirma que o ato de reconciliação com Deus não será coisa


do futuro, mas que já ocorreu no passado, na cruz.

• Anuncia que foi mudado o sistema, as condiciones e os


requisitos para a salvação, e que são muito diferentes dos
do Jesus histórico. Os pontos mais chamativos são a
justificação/salvação pela fé e a consequente negação de
que a lei de Moisés seja o caminho obrigatório para salvar-
se. Agora todos os gentios podem salvar-se.

15 - SOBRE AS BÍBLIAS

Quase todas as bíblias atuais derivam destes dois


textos:

a) A categoria das Bíblias baseadas no TR (Textus


Receptus) e que foram as únicas Bíblias usadas por
todos os "protestantes" de todas as igrejas de todas as
49
denominações de todas as línguas de todos os países,
durante séculos e séculos.

 Almeida 1681, 1753, 1819;


 Almeida Revista e Corrigida (particularmente até a
edição 1948 pela Trinitarian Bible Society), e,
atualmente,
 Almeida Corrigida Fiel (da Sociedade Bíblica
Trinitariana do Brasil);

b) A categoria das Bíblias baseadas no TC (Texto


Crítico) (cujo texto grego omite/ adultera/ acrescenta
mais de 10.000 palavras do Novo Testamento (o TR),
mais de 7% dele!). Estas bíblias somente começaram a
"pegar" no Brasil, aos poucos, a partir de 1968.
Temos:

 ARA - Almeida Revista e Atualizada


 AEC - Almeida Edição Contemporânea
 AMT - Almeida Melhores Textos
 BLH - Bíblia na Linguagem de Hoje, a Bíblia Viva
 NVI - Nova Versão Internacional
 Edição Novo Mundo (das Testemunhas de Jeová),
etc.

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