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Auditoria

Dependência entre risco


inerente e risco de controlo
A incidência de factores de risco inerente na avaliação
do risco de controlo

Por Carlos Barros


Assistente no Instituto Superior
de Contabilidade e Administração
de Coimbra, ISCA.

O presente trabalho corresponde a uma


versão reduzida e actualizada do que re-
cebeu o Prémio Nacional de Auditoria da
OROC 2003, entregue pelo Senhor Bas-
tonário ao autor em Outubro de 2004.

Nas últimas décadas, a auditoria finan-


ceira tem seguido uma abordagem baseada
no risco em que a natureza, a oportunidade
e a extensão dos procedimentos planeados
decorre da avaliação das contas ou classes
de transacções com maior probabilidade de
distorção (Cushing et al., 1995: 11).
O risco de auditoria decompõe-se em
três componentes: risco inerente, risco de
controlo e risco de detecção. O modelo de
risco de auditoria resultante da composi-
ção destes riscos é apresentado na seguin-
te fórmula:

Risco de Risco Risco de Risco de


Auditoria Inerente Controlo Detecção

Este é o modelo adoptado pelas princi-


pais organizações profissionais regulado-
ras do exercício da actividade de audito-
ria e, como afirmam Messier e Austen
(2000b: 9), “constitui a maior estrutura
conceptual para a condução de audito-
rias às demonstrações financeiras”.
Ora, o modelo em apreço assume que à
presença (ou ao impacto) de factores de ções dos dois primeiros componentes do A revisão das normas do risco
risco pode ser associada uma maior pro- risco de auditoria (risco inerente e risco da IFAC
babilidade de existência de distorções, de controlo, cujo produto é designado por Com a falência da Enron em 2001 e o
seja ao nível das demonstrações financei- risco de ocorrência (Kinney, 2000: 202)) consequente colapso relacionado da Arthur
ras, seja ao nível das contas ou classes de na determinação dos procedimentos subs- Anderson, juntamente com outros escân-
transacções (DRA 400, par. 10, OROC, tantivos planeados. Neste sentido, Spires dalos ocorridos no início deste século, tan-
2000). Assume, também, que é nessas e Yardley (1998: 2) salientam que, se o to nos Estados Unidos da América como
contas ou classes que o auditor deve cen- auditor falha as avaliações desses dois na Europa, seguiram-se inúmeros apelos
trar a sua atenção e sobre elas efectuar riscos, isto é, se estas não estiverem rela- no sentido de mudanças das metodologias
testes substantivos apropriados (DRA cionadas com o risco de existência de de auditoriaii.
400, par. 4, OROC, 2000). erros, então pode, igualmente, errar no Um dos aspectos mais debatidos pren-
A literatura profissional e académica montante e tipo de evidência de auditoria deu-se com as avaliações de risco efectua-
tem sublinhado a importância das avalia- a obter. das pelos auditores e o modelo de risco de

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auditoria preconizado pela generalidade Outra alteração relevante atenuadora segunda, centra-se na observação de asso-
das normas (e.g., ISA 400, International da crítica ao tratamento independente dos ciação entre as avaliações dos riscos ine-
Federation of Accountants, IFAC – retira- componentes do risco de auditoria figura rente e de controlo efectuadas por audi-
da em Dezembro de 2004 – e DRA 400, na nova ISA 315 (IFAC, 2004) ao apre- tores independentes (e.g., Waller, 1993;
OROC). O International Auditing and Assu- sentar em apêndice uma lista de exem- Dusenbury, Reimers e Wheeler, 2000a).
rance Standards Board (IAASB) da IFAC plos de condições e eventos que podem A investigação a que se procedeu no
conduziu, em conjunto com o Auditing indicar a existência de riscos de distorção âmbito deste trabalho integra-se na primei-
Standards Board (ASB), dos EUA, o desi- material. Ou seja, a referida norma reco- ra das linhas de investigação mencionadas,
gnado Projecto de Risco de Auditoria que nhece explicitamente que há factores de tendo como principais aspectos inovado-
levou à revisão da ISA 200 e à publicação risco que influenciam tanto o risco ine- res, a circunstância de terem sido utilizados
das ISA 315, ISA 330 e ISA 500. rente como o risco de controlo, indo de questionários dirigidos aos profissionais por-
O presente trabalho, cuja parte empírica encontro aos resultados mais significati- tugueses (ROC), centrar-se sobre o planea-
foi desenvolvida antes da referida revisão vos do presente trabalho. mento de auditoria financeira à área das exis-
(Barros, 2003), centra-se numa das críticas Em resumo podemos concluir que o tências e estudar a incidência de múltiplos
apontadas pela literatura ao modelo tradi- reconhecimento explícito das condicionali- factores de risco (14) tanto na determinação
cional de risco de auditoria: a suposta inde- dades existentes entre os riscos inerente e do risco inerente, como do risco de controlo.
pendência dos seus componentes. de controlo vertido nas novas normas da
Neste sentido, compete indagar em que IFAC vai de encontro à adopção de uma Dependência entre risco inerente
medida a revisão das normas do risco abordagem do risco de auditoria mais e risco de controlo nas normas
preconizada pela IFAC respondeu à críti- holística ou “top-down”, que passa, igual- de auditoria
ca apontada pela literatura ao modelo de mente, pela consideração do risco de negó- A problemática de se saber se o risco
risco de auditoria tratada neste trabalho: cio nas avaliações do risco de auditoria. inerente e o risco de controlo são indepen-
os componentes do risco de auditoria não
são independentes, mas condicionais.
Antes de mais importa salientar que o
modelo de risco de auditoria continua a “O presente trabalho, cuja parte empírica foi desenvolvida antes
ser “the fundamental statement of theore- da referida revisão (Barros, 2003), centra-se numa das críticas
tical basis of today’s audit”, conforme se
refere no Exposure Draft (ED) do apontadas pela literatura ao modelo tradicional de risco de audi-
Projecto de Risco de Auditoria da IFAC toria: a suposta independência dos seus componentes.”
(IFAC, 2002: 2).
No entanto, a ISA 200 (revista) (IFAC,
2004) intitulada “Objectivo e Princípios
Gerais que Regem uma Auditoria de Condicionalidade do modelo dentes ou condicionais é levantada pelas
Demonstrações Financeiras” tornou mais de risco de auditoria próprias normas de auditoria. Como se
explícita a condicionalidade dos dois As normas de auditoria definem cada um referiu em epígrafe, o modelo de risco
componentes do risco de auditoria que dos componentes do risco de auditoria indi- adoptado pelas principais normas sugere a
não dependem do trabalho do auditor: o vidualmente e combinam-nos de forma mul- independência dos componentes do mode-
risco inerente e o risco de controlo. No tiplicativa, o que sugere a independência dos lo. Contudo, essas mesmas normas com-
parágrafo 25 (ISA 200 revista, IFAC, mesmos (e.g., Waller, 1993: 784). Ora, um portam algumas referências que indiciam
2004) pode verificar-se que a decomposi- número considerável de investigadores na a existência de dependência entre os cita-
ção do modelo de risco de auditoria apa- área de auditoria (e.g., Messier e Austen, dos componentes do risco de auditoria:
rece descrita em primeiro lugar com a 2000a: 119; Colbert, 1987: 56) tem chamado n Definição condicional de risco de
seguinte formulação: a atenção para a circunstância do modelo controlo(3) – para o sistema de controlo
de risco de auditoria não produzir resultados interno detectar e corrigir atempadamente
apropriados, argumentando que a avaliação distorções é indispensável que as mesmas
Risco de Risco de Risco de de um componente influencia a avaliação existam; consequentemente, o risco de
Auditoria Distorção material Detecção dos restantes. controlo é condicional à susceptibilidade de
Dusenbury, Reimers e Wheeler (2000b: ocorrência de distorções (risco inerente).
103) resumem esta problemática na seguin- n Possibilidade de avaliação combinada –
Mais à frente (ISA 200 revista, par. 29, te questão: os auditores avaliam individual- ainda que não fornecendo quaisquer
IFAC, 2004) o risco de distorção material mente os componentes do modelo de risco orientações nesse sentido, algumas normas
é decomposto em dois componentes: o de auditoria, ou há condicionalidade entre a de auditoria (e.g., ISA 200 revista, par. 30,
risco inerente e o risco de controlo, avaliação de um relativamente à avaliação IFAC, 2004; DRA 400, par. 41, OROC,
conforme o modelo tradicional de risco dos demais componentes de risco? 2000) prevêem a possibilidade de, em
de auditoria. É indicado explicitamente Para responder a esta questão, duas li- determinadas circunstâncias, a avaliação
que “o auditor pode fazer avaliações nhas de investigação têm sido seguidas: combinada dos riscos inerente e de
separadas ou combinadas de risco ineren- uma primeira, baseia-se na verificação da controlo ser mais acertada.
te e controlo dependendo de técnicas das utilização, pelos auditores, dos mesmos n Consideração da avaliação do risco
auditorias preferidas ou metodologias e factores de risco nas avaliações dos riscos inerente na avaliação do risco de controlo –
considerações práticas” (ISA 200 revista, inerente e de controlo (e.g., Helliar et al., entre os factores capazes de influenciar a
par. 30, IFAC, 2004). 1996; Haskins e Dirsmith, 1995); uma compreensão, pelo auditor, do sistema de

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controlo interno, as normas incluem a reage a situações de elevado risco inerente ser útil contribuir, com o nosso trabalho
própria avaliação do risco inerente(4). instituindo fortes controlos internos (Gra- para, sendo caso disso, robustecer os
n Factores de risco comuns – alguns dos ham, 1985a: 35; Leslie, 1985: 170). Por ou- resultados obtidos por Messier e Austen
sinais observáveis, elencados nas normas, tro lado, perante controlos internos fracos (2000a), justamente ultrapassando os
que indicam a presença de risco inerente (fortes) a propensão para se cometerem dois concretos tipos de limitações por
e de risco de controlo, são comuns a estes erros é maior (menor) (Kinney, 2000, 112). estes referidos. Na verdade, examinámos
dois componentes do risco de auditoria(5). a relevância de factores de risco inerente
Estudos que mostram a existência para as avaliações dos riscos inerente e de
Factores que contribuem para de dependência entre risco controlo:
a dependência entre risco inerente inerente e risco de controlo n utilizando o método de investigação
e risco de controlo Os estudos realizados com o fim de por questionário, em lugar de realizar
No ponto anterior indicaram-se aspectos, investigar a dependência existente entre o uma investigação experimental;
retirados das próprias normas de auditoria risco inerente e o de controlo têm segui- n estudando a influência simultânea de
editadas pelas mais reputadas organizações do um de dois caminhos: factores de risco inerente sobre as ava-
de regulação profissional, que indiciam cla- n o estudo da utilização de factores co- liações dos riscos inerente e de controlo
ramente o reconhecimento de existência de muns para a avaliação dos dois riscos; para a área das existências; e
dependência entre os riscos inerente e de n o exame da associação (correlação) en- n testando a referida influência para um
controlo. Àqueles aspectos adicionam-se tre as suas avaliações. maior número de factores de risco ineren-
outros sobre os quais se tem debruçado a Os trabalhos que se conhecem, realiza- te (14), quer ao nível das demonstrações
comunidade académica e científica: dos no âmbito da primeira linha de inves- financeiras, quer do saldo de conta ou
classe de transacções.

Hipóteses e metodologia
A hipótese geral de investigação esta-
belecida é a seguinte:
Se os factores de risco inerente incidem
de forma relevante nas avaliações do risco
de controlo efectuadas pelos auditores
independentes, então existe dependência
entre o risco inerente e o risco de controlo.
Para testar a hipótese geral de investi-
gação levantámos as seguintes hipóteses
operacionais(6):
H1: Os 14 factores de risco, incluídos no
questionário, são considerados em média,
pelos respondentes, pelo menos modera-
damente relevantes, tanto para a avalia-
ção do risco inerente, como para a avalia-
ção do risco de controlo.
H2: A relevância atribuída, pelos respon-
dentes, para efeitos da avaliação do risco
n A influência dos controlos preventivos – tigação, podem ser classificados em duas inerente, ao conjunto dos 14 factores de
as normas de auditoria (e.g., ISA 315, par. categorias (ver Quadro 1). A primeira risco incluídos no questionário, está
54, IFAC, 2004) mencionam que os categoria agrupa os trabalhos que exami- significativamente correlacionada com a
sistemas de controlo interno se destinam naram a incidência de factores de risco de relevância que lhe é atribuída para efeitos
não apenas a detectar e corrigir distorções controlo na avaliação do risco inerente. A da avaliação do risco de controlo.
mas, também, a preveni-las. Waller (1993: segunda integra um único trabalho que Os dados necessários para testar as
786) nota que a avaliação da capacidade de examinou a relevância de factores de hipóteses de investigação foram recolhi-
prevenção de distorções por parte do risco inerente na avaliação do risco de dos por meio de um questionário envia-
sistema de controlo interno deve afectar o controlo (Messier e Austen, 2000a). do, em 16 de Julho de 2002, à generalida-
juízo do auditor sobre o risco inerente, na No âmbito da segunda linha de investiga- de dos Revisores Oficiais de Contas(7). O
medida em que os controlos preventivos ção da dependência entre os riscos inerente número de questionários recebidos e
actuam antes da ocorrência das distorções. e de controlo, os estudos que se conhecem considerados válidos foi de 176, o que
n Limitações do controlo interno – nem até à data seguiram um de dois métodos de corresponde a uma taxa efectiva de
todas as distorções são passíveis de ser investigação, como se pode observar no Qua- resposta de 21%(8).
detectadas e corrigidas pelo sistema de dro 2: baseado em dados reais (archival) ou O questionário foi estruturado em duas
controlo interno (e.g., ISA 315, par. 64, experimental. Dos 4 trabalhos apresentados, partes: uma, constituída por perguntas
IFAC, 2004). Tais limitações devem ser um conclui pela inexistência de associação referentes às características dos respon-
ponderadas aquando da avaliação do entre as duas avaliações (Waller, 1993); os dentes (Revisores Oficiais de Contas); a
risco inerente (e.g., Kinney, 1989: 69). restantes mostram essa associação. outra destinada a medir cada uma das 28
n Associação entre as avaliações dos Com base na revisão da literatura efec- variáveis da investigação. No total, o seu
riscos inerente e de controlo – a gestão tuada, afigurou-se haver oportunidade e preenchimento requereu 32 respostas.

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As hipóteses de investigação não Quadro 1: Investigações sobre factores de risco comuns ao risco
envolveram quaisquer características dos inerente e ao risco de controlo (método e dimensão)
ROC. Não obstante, estudámos eventuais Investigações sobre a
associações entre algumas características
Incidência de factores de risco Incidência de factores de risco Método Dimensão
dos ROC (o nível de experiência(9), a de controlo na avaliação inerente na avaliação de de da
forma de exercício da profissão(10) e a fre- de risco inerente risco de controlo investigação amostra
quência e escalas com que avaliam os ris- Dirsmith e Haskins (1991) Questionário 146
cos inerente e de controlo(11) e o compor-
Monroe, Ng e Woodliff (1993) Questionário 68
tamento das variáveis da investigação.
A área escolhida para efeitos da avalia- Helliar et al. (1996) Questionário 100
ção da relevância dos factores de risco Haskins e Dirsmith (1995) Questionário 146
apresentados no questionário foi a das Messier e Austen (2000a) Experimental 124
existências, pois apresenta um elevado
Messier e Austen (2000a) Experimental 124
nível de risco de ocorrência de distorções,
conforme evidenciam diversas investiga-
ções (e.g., Kreutzfeldt e Wallace, 1986: Quadro 2: Investigações sobre associação entre as
27; Wright e Ashton, 1989: 715; Hough- avaliações do risco inerente e do risco de controlo
ton e Fogarty, 1991: 10; Waller e Zim- Investigações Método de investigação Dimensão da amostra
belman, 1997: 36).
Os factores de risco inerente incluídos Dados reais Experimental
no questionário(12) constam na primeira Waller (1993) X 215 processos
coluna do Quadro 7. A importância atri- Spires e Yardley (1998) X 79 processos
buída a cada um dos 14 factores para Dusenbury, Reimers e Wheeler (2000b) X 64 auditores
efeitos de avaliação do risco inerente e do Messier e Austen (2000a) X 124 auditores
risco de controlo constituem as 28 variá-
veis utilizadas na investigação. Na análi-
se dos dados as variáveis são agrupadas Quadro 3: Nível de experiência
em 14 pares, sendo cada par (Xi, Yi) Frequêcia Percentagem
constituído pela relevância atribuída ao
factor i na avaliação do risco inerente Menos de 5 anos 18 10,2
(Xi) e do risco de controlo (Yi).
Entre 5 e 10 anos 39 22,2
Resultados e discussão Mais de 10 anos 119 67,6
As características dos respondentes
Total 176 100,0
recolhidas no questionário reportam-se
ao nível de experiência, à forma de exer-
cício da profissão, à frequência com que Quadro 4: Forma de exercício da profissão
avaliam os riscos inerente e de controlo e Frequêcia Percentagem
às escalas utilizadas na avaliação desses
mesmos riscos. Individualmente 65 36,9
Dos 176 ROC que responderam valida-
Em sociedade 110 62,5
mente ao questionário, 18 tinham menos
de cinco anos de experiência, 39 entre Contratado 1 0,6
cinco e dez anos e 119 mais de dez
Total 176 100,0
(Quadro 3).
No que respeita à forma de exercício
da actividade de Revisor Oficial de Quadro 5: Frequência com que os ROC avaliam o risco inerente
Contas, 65 exerciam individualmente, e o risco de controlo
110 em sociedade e apenas um em regime Frequêcia Percentagem
de contrataçãoxiii (Quadro 4).
Quanto à frequência com que os ROC Na promeira auditoria 47 26,7
avaliam o risco inerente e o risco de
No início de cada auditoria recorrente 129 73,3
controlo, 26,7% indicaram avaliar aque-
les riscos apenas na primeira auditoria, Total 176 100,0
enquanto os restantes, 73,3%, menciona-
ram fazê-lo no início de cada trabalho de
auditoria recorrentexiv. Os dados podem experiência ou a forma pela qual exercem (numéricas) ou qualitativas (linguísticas),
ser observados no Quadro 5. a actividade(15). sendo que 85,2% responderam que reali-
Não foram detectadas quaisquer rela- Por fim, questionaram-se os ROC sobre zam aquelas avaliações qualitativamente e
ções de dependência entre a frequência as escalas que utilizam na avaliação dos ris- 7,4% quantitativamente. Alguns ROC
com que os ROC avaliam os riscos cos inerente e de controlo, concretamente, (7,4%) indicaram fazê-lo em ambas as
inerente e de controlo e o seu nível de sobre se o fazem em escalas quantitativas escalas, presumindo-se que em tais casos

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exista uma correspondência numérica entre


as categorias da escala qualitativa e as cate-
gorias da escala quantitativa, para efeitos de
inclusão no modelo de risco (Molina
Sánchez, 1997: 235-6). Não foram encon-
tradas quaisquer associações entre o tipo de
escala utilizado pelos ROC e o seu nível de
experiência ou a forma de exercício da pro-
fissão(16). As frequências das respostas a esta
questão podem ser visualizadas no Quadro 6.

Relevância dos factores de risco


para as avaliações do risco
inerente e do risco de controlo
(Hipótese 1)
Com a primeira hipótese operacional,
pretendemos examinar a relevância de um
conjunto de factores de risco, classifica-
dos pela DRA 400 (OROC, 2000) como
factores de risco inerente, tanto para a
avaliação do risco inerente, como para a
avaliação do risco de controlo. Se os fac-
tores de risco inerente seleccionados
forem considerados pelos ROC como,
Quadro 6: Escalas de avaliação utilizadas nas avaliações do risco pelo menos, moderadamente relevantes,
inerente e do risco de controlo para ambas as avaliações, então obtemos
evidência de que estes dois componentes
Frequêcia Percentagem do risco de auditoria são dependentes.
A relevância média atribuída pelos
Quantitativas 13 7,4
ROC a cada um dos 14 factores de risco,
Qualitativas 150 85,.2 bem como o ranking de cada factor de
Ambas 13 7,4
acordo com a sua relevância média, o
desvio-padrão e a variação obtida na
Total 176 100,0 escala de 5 categorias (1 a 5), podem ser
observados no Quadro 7.
O exame do Quadro 7 conduz à conclu-
Gráfico 1: Correlação entre a relevância dos factores de risco para são de que a relevância média de cada um
a avaliação do risco inerente e para a avaliação do risco de controlo dos 14 factores, com excepção do factor
“complexidade da estrutura de capital”, é
superior a 2,5 (ou seja, pelo menos mode-
radamente relevante), tanto para efeitos
da avaliação do risco inerente, como do
risco de controlo. Atente-se que aquele
factor de risco (complexidade da estrutura
de capital) teve uma avaliação média para
o risco de controlo de 2,26 e de 2,49 para
o risco inerente, ou seja, não foi conside-
rado pelo menos moderadamente relevan-
te para a avaliação dos dois riscos, tendo
ficado em último lugar no ranking de
ambas as avaliações(17).
Entre os 13 factores de risco considera-
dos relevantes para as avaliações dos riscos
inerente e de controlo, 4 foram tidos como
“muito” relevantes. O factor, em média,
mais relevante para ambas as avaliações
foi a “susceptibilidade dos activos para
perdas ou apropriações indevidas” (3,88
para o risco inerente e 3,74 para o risco de
controlo), seguido da “integridade dos
membros do órgão de gestão e da “ocor-
rência de distorções na auditoria anterior”.

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Quadro 10 - Relevância dos factores de risco para as avaliações do risco inerente e do risco de controlo

Factores de risco Média Ranking Desvio-padrão Variação


RI RC RI RC RI RC RI RC

1. Integridade dos membros


do órgão de gestão 3,96 3,56 1 4 0,82 1,07 1-5 1-5

2. Experiência e conhecimentos
dos membros do órgão de gestão 3,52 3,26 8 9 0,81 0,94 1-5 1-5

3. Rotação dos membros


do órgão de gestão 2,99 2,88 13 13 0,89 0,87 1-5 1-5

4. Situação financeira
da entidade 3,65 3,07 7 12 0,76 0,89 1-5 1-5

5. Potencial para a obsolescência


tecnológica dos produtos 3,83 3,32 3 8 0,80 1,01 1-5 1-5

6. Complexidade da
estrutura do capital 2,49 2,26 14 14 0,97 0,92 1-5 1-4

7. Existência de transacções com empresas


associadas ou em relação de dependência 3,73 3,45 5 5 0,86 0,94 1-5 1-5

8. Dispersão geográfica
das instalações 3,38 3,34 11 7 0,92 0,99 1-5 1-5

9. Sector económico em que


se desenvolve o negócio 3,44 3,09 10 11 0,87 1,00 1-5 1-5

10. Ocorrência de distorções


na auditoria anterior 3,77 3,72 4 2 1,02 0,92 1-5 1-5

11. Complexidade das transacções


subjacentes às contas 3,45 3,43 9 6 0,82 0,84 1-5 1-5

12. Grau de juízo envolvido ao


determinar os saldos das contas 3,29 3,21 12 10 0,81 0,94 1-5 1-5

13. Conclusão de transacções não


sujeitas a processamento normal 3,69 3,61 6 3 0,79 0,91 1-4 1-5

14. Susceptibilidade dos activos para


perdas ou apropriações indevidas 3,88 3,74 2 1 0,78 0,88 1-5 1-5

O outro factor julgado como muito rele- va e positivamente correlacionada com a n 13 foram considerados, pelo menos,
vante foi a “conclusão de transacções não incidência obtida na avaliação do risco de moderadamente relevantes para a avalia-
sujeitas a processamento normal”. controlo, de acordo com os valores obtidos ção do risco de controlo;
Estes resultados validam a hipótese 1, do coeficiente de correlação por postos de n existe correlação entre a relevância que
sendo consistentes com os de Messier e Kendall (t = 0,604; p = 0,003) xviii e, tam- os ROC respondentes atribuem aos fac-
Austen (2000), ou seja, os factores de risco, bém, pela observação do Gráfico 1. Este tores de risco inerente na sua avaliação
classificados pela DRA 400 (OROC, 2000), resultado confirma a hipótese 2 e é consis- do risco inerente e a relevância que atri-
bem como por outras normas de auditoria e tente com os resultados da investigação de buem aos mesmos factores na sua avalia-
diversas investigações, como factores de Messier e Austen (2000a: 128)(19). ção de risco de controlo.
risco inerente, afectam de forma pelo 2. A constatada existência de dependên-
menos moderadamente relevante as avalia- Conclusões cia entre o risco inerente e o de controlo
ções não apenas do risco inerente mas, tam- 1. Com base nos dados obtidos a partir de é inconsistente com a fórmula multiplica-
bém, do risco de controlo, pelo que, em tal 176 questionários preenchidos por 176 tiva do modelo de risco de auditoria.
medida, não são independentes. ROC (dos cerca de 800 inscritos e em acti- 3. A principal implicação dos resultados
vidade), concluiu-se existir dependência obtidos no âmbito do presente trabalho
Correlação entre a relevância entre risco inerente e risco de controlo no é, na verdade, a de que os riscos ineren-
dos factores de risco para modelo de risco de auditoria adoptado pe- te e de controlo não devem ser avaliados
as avaliações do risco inerente la generalidade das entidades de regula- de forma independente e, simplesmente,
e do risco de controlo (Hipótese 2) ção profissional do exercício da actividade mecanicista, sob pena do modelo de
Em termos globais, isto é, examinando a de auditoria. Com efeito, para 14 factores risco de auditoria produzir resultados
correlação para o conjunto dos 14 factores de risco inerente utilizáveis para o planea- inapropriados. Concretamente, os audi-
de risco, verifica-se que a sua incidência na mento de uma auditoria às “existências” tores devem ter presente e prevenir as
avaliação do risco inerente está significati- concluiu-se que: consequências do aumento indesejado

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do risco de auditoria decorrente da teriza-se por um elevado grau de estrutu- (SAS) 300, Accounting and Internal Con-
determinação duma dimensão da amos- ração que, apesar de lhe conferir força, trol Systems and Audit Risk Assessments,
tra inferior à adequada ao risco de audi- cria uma certa falta de naturalidade. Esta Accountancy Books, London.
toria planeado. limitação foi referida no âmbito das n Barros, Carlos (2003), Dependência
4. A investigação realizada e os resulta- entrevistas realizadas a ROC na fase de entre Risco Inerente e Risco de Controlo:
dos que ora se relatam corroboram as pré-teste do questionário mencionado. A Incidência de Factores de Risco Ine-
conclusões a que chegaram vários auto- Por outro lado, como referem os mesmos rente na Avaliação do Risco de Controlo,
res que interpelam o insuficiente reco- autores (1997: 130), quando comparados Tese de Mestrado, Universidade Aberta.
nhecimento explícito, pelas normas de com as experiências, os questionários são n Bell, T. B., Marrs, F. O., Solomon, I. e
auditoria, do fenómeno da dependên- considerados relativamente fracos no que Thomas, H (1997), Auditing Organiza-
cia e das respectivas consequências. concerne à validade interna. tions Through a Strategic-Systems Lens,
Mais concretamente, o trabalho realiza- A relevância dos factores de risco Montvale, KPMG Peat Marwick, LLP,
do corrobora – e robustece, porque con- incluídos no questionário cinge-se à área New York.
fere maior generalidade – as conclusões das existências. Para além disso, a selec- n Braun, Gary P. (2000), “Auditors’
a que chegaram Messier e Austen (2000a) ção dos factores foi baseada naqueles que Assertion-Level Inherent Risk Assess-
alargando os limites (expressamente são apresentados como exemplos pela ments: A Descriptive Analysis”, Working
alegados) das investigações até aqui rea- DRA 400 (par. 10, OROC, 2000), haven- paper, University of Texas at El Paso.
lizadas. do outros relevantes factores apontados n Chung, Janne e Monroe, Gary S.
5. Os resultados da investigação deixam por outras normas de auditoria e investi- (2000), “The Effects of Experience and
transparecer que os ROC estão atentos às gações não incluídos no estudo. A utilização Task Difficulty on Accuracy and Confi-
dependências existentes entre os riscos dence Assessments of Auditors”, Accoun-
inerente e de controlo, pois consideram ting and Finance 40: 135-152.
que factores de risco tradicionalmente n Colbert, J. L. (1987), “Audit Risk -
classificados como de risco inerente afec- Tracing the Evolution”, Accounting
tam, igualmente, a sua avaliação do risco Horizons, 1 (September): 49-57.
de controlo. Esta observação é consisten- n Cushing, B. E. e Loebbecke, J. K.
te com a afirmação de Graham (1985a: (1983), “Analytical Approaches to Audit
35) que, desde cedo, assinalou estarem os Risk: A Survey and Analysis”, Auditing:
auditores conscientes da existência de A Journal of Practice and Theory, 3
dependência entre esses dois componen- (Fall): 23-41.
tes do risco de auditoria. n Cushing, B. E., Graham, L. E. Jr.,
6. A evidência da presença de factores de Palmrose, Z., Roussey, R. S. e Solomon, I.
risco comuns às avaliações de dois dos (1995) Risk Orientation. In: Auditing
componentes do modelo de risco de audi- Practice, Research, and Education: A
toria corrobora a conhecida complexida- Productive Collaboration, editado por
de que frequentemente caracteriza os jul- Bell, T. B. e Wright, A. M., AICPA, Nova
gamentos de auditoria. York: 11-54.
7. Cabe, ainda, assinalar que a revisão n Decreto-Lei nº 487/99 de 16/11.
das normas do risco de auditoria preconi- n Dilla, W. N. e Stone, D. N. (1997),
zada pela IFAC, consubstanciada na “Representations As Decision Aids: The
revisão da ISA 200 e na publicação das Asymmetric Effects of Words and
ISA 315, ISA 330 e ISA 500, considerou Numbers on Auditors’ Inherent Risk
de forma explícita a condicionalidade de outros factores de risco e de outra conta Judgments”, Decision Sciences, 28
existente entre os riscos inerente e de ou classe de transacções podem produzir (Summer): 709-744.
controlo ao tratá-los conjuntamente resultados diferentes dos alcançados, n Dirsmith, M. W. e Haskins, M. E. (1991),
como risco de distorção material. A exis- limitando a sua generalização. “Inherent Risk Assessment and Audit Firm
tência de dependência entre os riscos Neste sentido, aplicações de outros fac- Technology: A Contrast in World Theories”,
inerente e de controlo fortalece a pre- tores de risco, contas ou classe de transac- Accounting, Organizations and Society,
mente necessidade dos auditores consi- ções poderão constituir interessantes Vol. 16, No. 1: 61-92.
derarem, nos seus julgamentos de risco, extensões do presente trabalho. Seria tam- n Dusenbury, R., Reimers, J. e Wheeler,
a compreensão do risco de negócio do bém oportuno o estudo da dependência S. (2000a), “The Audit Risk Model: An
cliente e da rede de relações em que o entre os componentes do modelo de risco Empirical Test for Conditional Depen-
mesmo está envolvido. de auditoria no âmbito da nova abordagem dencies Among Assessed Component
da auditoria baseada no risco de negócio. Risks”, Auditing: A Journal of Practice
Limitações e extensões & Theory, Vol. 19, Nº 2 (Fall): 105-117.
Para examinar a incidência de um Bibliografia n Dusenbury, R., Reimers, J. e Wheeler,
conjunto de factores de risco, classifica- n American Institute of Certified Public S. (2000b), “The Audit Risk Model: The
dos pela DRA 400 como factores de risco Accountants (AICPA) (2001), AICPA Interpendence of Component Risks”,
inerente, na avaliação do risco de contro- Professional Standards, Vol. 1, U.S. Journal of Accountancy, September: 103.
lo, utilizámos o método de investigação Auditing Standards, AICPA, New York. n Gill, John e Johnson, Phil (1997),
por questionário. Como referem Gill e n Auditing Practices Board, The (APB) Research Methods for Managers, 2th ed.,
Jonhson (1997: 130), este método carac- (1995), Statement of Auditing Standards Paul Chapman Publishing, Londres.

16 Revisores & Empresas > Abril /Junho 2006


Auditoria

n Graham, L. E. (1985a), “Audit Risk - n Kinney, W. R., Jr. (2000), Information Contas, OROC, CD-ROM edição 26,
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n Haskins, M.E. e Dirsmith, M. W. (1995), McGraw-Hill, USA. “Additional Evidence on Auditors’ Risk
“Control and Inherent Risk Assessments in n Kreutzfeldt, R W. e Wallace, W. A. Assessments”, Working paper, Ohio State
Client Engagements: An Examination of (1986), “Error Characteristics in Audit University.
Their Interdependencies”, Journal of Ac- Populations: Their Profile and Relation- n Waller, W. S. (1993), “Auditors’
counting and Public Policy, (Spring): 63-83. ship to Environmental Factors”, Auditing: Assessments of Inherent and Control Risk
n Helliar, C., Lyon, B., Monroe, G., Ng, J. A Journal of Practice and Theory, Vol. 6, in Field Settings”, The Accounting
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n Hill, Manuela Magalhães e Hill, An- Canadian Institute of Chartered Accoun- Accuracy of Auditors’ Risk Assess-
drew (2000), Investigação por Ques- tants, Canadá. ments”, Working paper, University of
tionário, Edições Sílabo, Lisboa. n Messier, W. e Austen, L. (2000a), Arizona.
n Houghton, Clarence W. e Fogarty, John A. “Inherent Risk and Control Risk Assess- n Wright, A. M. e Ashton, R. H. (1989),
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n International Federation of Accoun- ting: A Journal of Practice & Theory, Accounting Review, Vol. LXIV, nº 4: 710-
tants (IFAC) (1995), Norma Internacio- Fall, vol. 19, No. 2: 119-131. 728.
nal de Revisão/Auditoria (NIR) 400, Avalia- n Wright, A. M. e Bedard, J. C. (2000),
ções do risco e controlo interno (Retira- “Decision Processes in Audit Evidential
da). In: Manual do Revisor Oficial de Con- Planning: A Multistage Investigation”,
tas, OROC, CD-ROM edição 26, 2006. Auditing: A Journal of Practice and
n International Federation of Accoun- Theory 19, nº1 (Spring): 123-143.
tants (IFAC) (2002), Exposure Draft (ED),
Audit Risk - Proposed International Notas
Standards on Auditing and Proposed (1) Ver, por exemplo, DRA 400 (Apên-
Amendment to ISA 200, “Objective and dice III, OROC, 2000).
Principles Governing an Audit of Finan- (2) Na verdade, ainda antes dos escânda-
cial Statements”. In:<http:// www.ifac.org los envolvendo empresas de auditoria de
/Members/Source_Files/Exposure_Drafts/ referência, já tinha sido iniciado um pro-
ED-Audit_Risk_Oct021.pdf>, [consult. 15 cesso de mudança das metodologias de
Jun. 2006]. auditoria. Uma das propostas mais signi-
n International Federation of Accoun- ficativas foi o trabalho de Bell, Marrs,
tants (IFAC) (2004), Norma Interna- Solomon e Thomas (1997).
cional de Auditoria 315, ISA 315 – Com- (3) De acordo com a definição constante
preensão da Entidade e do Seu Ambiente da ISA 200 revista (par. 29, IFAC, 2004),
e Avaliar os Riscos de Distorção Ma- o risco de controlo é o “risco de que uma
terial. In: Manual do Revisor Oficial de distorção que pudesse ocorrer numa
Contas, OROC, CD-ROM edição 26, 2006. asserção e que pudesse ser material, (...),
n International Federation of Accoun- não seria evitada ou detectada e corrigi-
tants (IFAC) (2004), Norma Interna- n Messier, W. e Austen, L. (2000b), da, numa base tempestiva pelo controlo
cional de Auditoria 330, ISA 330 – Os “Inherent Risk and Control Risk interno da entidade” (o itálico é nosso).
Procedimentos do Auditor em Resposta a Assessments: Pervasive and Specific Risk (4) “A natureza, extensão, profundidade e
Riscos Avaliados. In: Manual do Revisor Factors Share the Floor”, Journal of oportunidade dos procedimentos que o
Oficial de Contas, OROC, CD-ROM Accountancy, September: 104. revisor/auditor escolhe executar para
edição 26, 2006. n Molina Sánchez, Horacio (1997), La obter compreensão do sistema de contro-
n International Federation of Accoun- Planificación de la Auditoría, Registro de lo interno dependerão, entre outros
tants (IFAC) (2004), Norma Interna- Economistas Auditores del Consejo aspectos, de: (...) avaliação pelo audi-
cional de Auditoria 500, ISA 500 – Prova General de Colegios de Economistas de tor/revisor quanto ao risco inerente”
de Auditoria. In: Manual do Revisor España, Madrid. (DRA 410, par. 18, OROC, 2000) (o itá-
Oficial de Contas, OROC, CD-ROM n Ordem dos Revisores Oficiais de lico é nosso).
edição 26, 2006. Contas (OROC) (2000), Directriz de (5) Ver DRA 400 (par. 10, OROC, 2000)
n Keller, G. e Warrack, B. (1999), Sta- Revisão/Auditoria (DRA) 400, Avaliação e DRA 410 (par. 24, OROC, 2000) e ISA
tistics for Management and Economics, do risco de revisão/auditoria. In: Manual 315 (apêndice 3, IFAC, 2004).
5th ed., Duxbury Thompson Learning, do Revisor Oficial de Contas, OROC, (6) O nível de significância estipulado, à
Pacific Grove. CD-ROM edição 26, 2006. partida, como necessário para rejeitar as
n Kinney, W. R., Jr. (1989), “Achieved n Ordem dos Revisores Oficiais de hipóteses nulas é de 0.05. Contudo, nas
Audit Risk and the Audit Outcome Contas (OROC) (2000), Directriz de situações em que se aplicou o mesmo
Space”, Auditing: A Journal of Practice Revisão/Auditoria (DRA) 410, Controlo teste estatístico individualmente a cada
and Theory, (Supplement): 67-84. Interno. In: Manual do Revisor Oficial de factor – e não ao conjunto dos 14 factores

Revisores & Empresas > Abril /Junho 2006 17


Auditoria

– introduzimos a correcção de Bonferro-ni.


Este procedimento destina-se a garantir
que o erro de tipo I não é inflacionado pelo
facto de se estudar o mesmo fenómeno
através de uma bateria de hipóteses separa-
das (Keller e Warrack, 1999: 528). Em
conformidade com a correcção de
Bonferroni, o nível de significância consi-
derado foi de 0.004 (nível de significância
desejado para o estudo em geral, 0.05, divi-
dido pelo número de testes efectuados, 14).
(7) Dos 899 ROC inscritos na Ordem dos
Revisores Oficiais de Contas, em 1 de
Janeiro de 2001, 62 encontravam-se com
a respectiva inscrição suspensa volunta-
riamente, pelo que, o universo dos inqui-
ridos passou a 837 ROC activos nessa
data. Para se assegurar a obtenção de uma
amostra com a máxima representativida- mente actual considerando “o incremento (14) Alguns ROC responderam avaliarem
de possível, minimizando os erros não da confiança depositada pelos auditores os riscos inerente e de controlo tanto na
controláveis, o questionário foi enviado a nos instrumentos de ajuda desenhados para primeira auditoria, como no início de
todos os 837 ROC. Um dos questionários guiar e estruturar os julgamentos de risco cada auditoria recorrente. Dado o objecti-
veio devolvido por endereço insuficiente, de auditoria (Boritz, 1985; Graham, vo desta questão ser o conhecimento da
pelo que o número efectivo de questioná- Damens, & Van Ness, 1991; Janell St frequência com que são avaliados aqueles
rios remetidos totalizou 836. Wright, 1991)”. Dilla e Stone (1997: 710). riscos, consideraram-se estas respostas
(8) O número de questionários recebidos (11) No que respeita à utilização de escalas conjuntamente com as dos que responde-
ascendeu a 190. Destes, 4 foram devolvidos quantitativas ou qualitativas na avaliação ram avaliar no início de cada trabalho de
pelos respectivos ROC com indicação de dos riscos inerente e de controlo, a DRA auditoria recorrente.
que, no momento, não exerciam a actividade 400 (par. 44, OROC, 2000), tal como a ISA (15) Dado tratar-se de relações entre variá-
de ROC, tendo outros 2 mostrado-se indis- 200 revista (par. 30, IFAC, 2004), não veis nominais, ou entre uma variável nomi-
poníveis para colaborar. Estes casos foram tomam partido por um ou outro tipo. nal e uma ordinal, para averiguar a existên-
tratados como se não tivessem respondido. (12) Dado que os ROC, no exercício da cia de relações de dependência aplicou-se
O número de respondentes a não completar revisão legal das contas e de quaisquer o teste do Qui-Quadrado. Na aplicação
o questionário foi de 8, o que corresponde a outras funções de interesse público, deste teste foi excluída da variável “forma
4,4% das respostas. Dado que, à luz dos devem respeitar as normas técnicas apro- de exercício da profissão” a categoria de
objectivos deste trabalho, a dimensão da vadas ou reconhecidas pela OROC (artº contratado, pelo facto de haver apenas um
amostra, sem considerar os casos com falta 41º do DL nº 487/99 de 16/11), seleccio- caso nesta categoria. A inclusão deste caso
de dados, se afigura largamente suficiente naram-se 14 factores de risco inerente (9 implicaria a violação do pressuposto do
para podermos efectuar as análises estatísti- ao nível das demonstrações financeiras e Qui-Quadrado que estabelece a obrigato-
cas necessárias para testar as hipóteses, 5 ao nível do saldo de conta ou classe de riedade de não mais de 20% das células
optámos por eliminar os casos que apresen- transacções) classificados como tal pela terem frequência esperada inferior a 5.
taram falta de dados, de acordo com o crité- DRA 400 (par. 10, OROC, 2000), bem (16) Idem.
rio sugerido por Hill e Hill (2000: 259-60). como por outras normas de auditoria (17) Também no estudo de Molina
(9) O nível de experiência é apontado (NIR 400 (IFAC, 1995), AU 312 e AU Sánchez (1997: 449), o factor “estrutura da
como um factor que pode influenciar os 316 (AICPA, 2001) e SAS 300 (APB, propriedade” foi considerado o menos rele-
auditores nas decisões e juízos formulados 1995)) e por anteriores investigações vante para a avaliação do risco inerente no
no âmbito do planeamento das auditorias (e.g., Messier e Austen (2000a: 124) e grupo dos auditores pertencentes às
(Chung e Monroe, 2000:138; Wright e Dilla e Stone (1997: 717)). “Grandes Empresas de Auditoria” e o
Bedard, 2000: 125). Braun (2000: 11), (13) Segundo o nº 1 artº 49.º do DL nº segundo menos importante para o grupo
após rever alguma literatura sobre a estru- 487/99, de 16 de Novembro, “o revisor dos auditores não pertencentes às “Grandes
tura de conhecimento dos auditores sobre oficial de contas desempenha as funções Empresas de Auditoria”.
distorções, factores de risco e avaliações de contempladas neste diploma em regime (18) Os coeficientes de correlação de
risco, conclui: “com a experiência, os audi- de completa independência funcional e Pearson e Spearman apresentaram resul-
tores desenvolvem a compreensão de como hierárquica relativamente às empresas tados semelhantes a este.
e por quê ocorrem as distorções”. ou outras entidades a quem presta servi- (19) Estes resultados são consistentes
(10) O exercício da profissão, individual- ços, podendo exercer a sua actividade para todos os grupos constituídos com
mente ou em sociedade, também pode numa das seguintes situações: a) A título base nas características dos casos, com
influenciar as decisões de planeamento, individual; b) Como sócio de sociedades excepção do grupo dos ROC com expe-
na medida em que os ROC que exerçam de revisores; c) Sob contrato de presta- riência inferior a 5 anos. Contudo, é
funções em sociedade tendem a uma ção de serviços celebrado com um revi- necessário ter em conta a reduzida repre-
maior estruturação dos procedimentos de sor oficial de contas a título individual ou sentatividade deste grupo, dado o mesmo
trabalho. Este aspecto torna-se especial- com uma sociedade de revisores”. ser constituido por apenas dezoito casos.

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