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Fortaleza – CE
2007
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RESUMO
INTRODUÇÃO
Esse estudo, intitulado “O perfil dos alunos do PROEJA no CEFETCE: o que pensam
e o que desejam”, objetiva proporcionar uma apreciação crítica a partir do perfil socioeconômico-
educacional dos alunos ingressos nessa instituição e de suas representações sociais sobre suas
aspirações e dificuldades, visando ao delineamento de políticas institucionais que favoreçam a
permanência nesse centro educativo.
Como objetivos específicos, pensou-se em esboçar o perfil socioeconômico-
educacional desses alunos, procurando-se captar suas expectativas e limitações referentes aos
cursos de Refrigeração e Telecomunicações e, ainda, elencar-se as representações sociais
discentes, a fim de subsidiar a formulação de políticas institucionais.
A determinação desses objetivos decorreu da relevância do tema e também da
necessidade de conhecer os alunos do PROEJA na tentativa de entender melhor os seus
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Com o fim dos governos militares e a chegada da Nova República, em 1985, uma
nova esperança surgiu na sociedade brasileira. No que se refere aos projetos educacionais, o novo
governo extinguiu o Mobral e, em seu lugar, foi criada a Fundação Educar, vinculada ao
Ministério da Educação, que, diferente do Mobral (que tinha como função desenvolver todos os
programas na área de alfabetização), tinha a finalidade de prestar apoio técnico e financeiro às
organizações governamentais e não-governamentais que desenvolviam projetos nessa área.
Como desde o início dos anos oitenta muitas ONGs já desenvolviam experiências com
a alfabetização de jovens e adultos, a chegada dessa Fundação contribuiu para a ampliação de
seus projetos. Portanto, o que aconteceu foi uma mudança de política adotada por esse novo
governo para essa área da educação.
Em 1988, foi promulgada a nova Constituição, a chamada Constituição Cidadã, que,
em um dos seus artigos, facultava o voto aos analfabetos. Tal fato não teve uma real importância
para o processo da educação de jovens e adultos, uma vez que só beneficiaria a classe política,
que iria identificar esses excluídos como novos “clientes” para seus interesses político-eleitorais.
No que se refere à educação para EJA, houve a garantia constitucional do ensino fundamental
obrigatório e gratuito também para aquelas pessoas que não tiveram acesso na idade apropriada.
Com o avanço das novas tecnologias, foi se delineando um novo perfil de trabalhador
para o mercado de trabalho. Por ocasião da Conferência Mundial sobre Educação para Todos,
realizada em 1990, na cidade de Jontien, na Tailândia, reconheceram-se as rápidas
transformações no campo da economia e nas tecnologias de informática e comunicação, ao
mesmo tempo em que se admitiu o fracasso das campanhas de alfabetização passadas.
No Brasil, a partir dos anos 90, a Educação de Jovens e Adultos foi posta de lado pela
União e, logo no início do governo Collor, foi extinta a Fundação Educar, num processo de
enxugamento da máquina administrativa. O Governo Federal transferiu, assim, as ações da EJA
para os estados e municípios.
Após a Conferência da Tailândia, o governo brasileiro lançou a Campanha
Alfabetização e Cidadania (PNAC), que não chegou a ser efetivada da maneira como foi
planejada, em virtude da crise política que afetou o governo Collor, com a conseqüente
instauração do processo de “Impeachment”.
Em 1996, havia sido aprovada a Nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação(LDB),
ou seja, a Lei 9394/96, orientada pela Constituição de 1988, que já assegurava o acesso de todos
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à escola, ou seja, o direito à educação para todos. A LDB torna esse direito mais evidente para a
EJA quando garante a oferta de educação escolar para jovens e adultos.
Em 1997, a política nacional para a EJA passa a ser feita pelo Programa de
Alfabetização Solidária através de ações desenvolvidas em parceria entre o governo e a sociedade
civil, objetivando, assim, garantir a continuidade dos estudos dos alunos atendidos, por meio da
EJA e cursos profissionalizantes, moldados de acordo com a vocação econômica de cada
município. (MEC-1997)
Em julho de 2000 o Conselho Nacional de Educação, através da Resolução CNE/CEB
Nº 01 de 05/07/00, estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação de Jovens e
Adultos, orientando a obrigatoriedade na oferta e na estrutura dos componentes curriculares de
ensino fundamental e médio. Conforme o Art. 2º: A presente resolução abrange os processos
formativos da Educação de Jovens e Adultos como modalidade da Educação Básica nas etapas
dos ensinos fundamental e médio, nos termos da Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional”. (MEC/CNE-2001)
Depois de doze anos de promulgada a Constituição, finalmente em 9 de janeiro de
2001, é sancionada, pelo Presidente da República, a Lei Nº 10.172/2001, que aprova o Plano
Nacional de Educação (PNE), norma legislativa da Constituição de 1988 e requerida pela nova
LDB, que seria um instrumento constitucional capaz de ajudar na erradicação do analfabetismo
no Brasil.
No primeiro governo do presidente Lula, a Educação de Jovens e Adultos recebeu
prioridade do Governo Federal, com a criação da Secretaria Extraordinária de Erradicação do
Analfabetismo. Foi lançado o Programa Brasil Alfabetizado, coordenado pelo Ministério da
Educação, contando com a participação de órgãos públicos estaduais, municipais, instituições de
ensino superior e organizações sem fins lucrativos.
O Programa Brasil Alfabetizado direcionou suas ações para os projetos de
alfabetização de jovens e adultos e a formação de alfabetizadores. O principal objetivo foi
capacitar o alfabetizador para atuar no programa, com o conhecimento prévio dos futuros
alfabetizados, ou seja, conhecer a realidade dos grupos antes de partir para a prática.
Ao finalizar essa síntese sobre a história da EJA no Brasil, ressalta-se o momento
atual com a temática do PROEJA, ou seja, Programa Nacional de Integração da Educação
Profissional a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos. Nota-se que o
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objetivo nesse momento, não é só oferecer ao indivíduo a formação básica, e sim, ampliar para
uma profissionalização, isto é, proporcionar oportunidades educacionais que integrem a última
etapa da educação básica à formação profissional. Seria, assim, uma política permanente para a
EJA.
O CEFETCE já desenvolve grandes projetos sociais, e, no que se refere ao seu Projeto
Pedagógico para o PROEJA, o mesmo aponta no sentido de desenvolvimento de estratégias
administrativas, visando à capacitação de profissionais para consolidar as ações desse novo
programa, que se instala no CEFETCE como um novo desafio, embora seja longa a história da
instituição na educação profissional e tecnológica de nosso estado e no Brasil. No sentido de
propor a esse programa uma operacionalização consoante ao ideário do seu público-alvo, buscou-
se a teoria das representações sociais como enfoque predominante.
Visando estabelecer uma relação de crescente proximidade com o saber trazido pelos
educandos, busca-se o desvendamento e a apropriação de conceitos que permitam a real
valorização dos discursos discentes, isto é, a transposição do conceito de representações sociais.
Dessa forma, pode-se mergulhar no universo de significados que permeia a participação e a
inclusão dos jovens e adultos no PROEJA, de modo a diagnosticar tanto os limites quanto as
possibilidades que se apresentam no programa.
O conceito de representações sociais emerge a partir do rompimento com a Psicologia
Tradicional, quando Moscovici (2004) sustenta que o sujeito não está separado do contexto social
no qual está inserido e mais, que as representações sociais recriam a realidade através da
linguagem, da comunicação, da mensagem emitida pelo sujeito, evocando e transmutando o
senso comum ao patamar de conhecimento, pois traz em si mesmo a própria realidade vivida. De
maneira complementar a Durkheim, para quem as atitudes dos indivíduos eram determinadas por
representações coletivas, Moscovici (2004) defende o estudo de uma nova categoria que explique
o surgimento dos novos fenômenos da sociedade, de forma mais flexível do que a teoria
durkheimiana, incluindo, assim, novas concepções sobre os sujeitos, sobre o que pensam, o que
identificam, o que sentem e o que falam.
O conceito de representações sociais é assim esclarecido por Moscovici (2004):
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JODELET, D.(org.). Representações sociais: um domínio em expansão. In: As Representações
sociais. Rio de Janeiro: UERJ, 2001. Tradução.
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compreensão de tal categoria para o campo educacional, ao afirmar que as representações sociais
quando utilizadas:
etária de 31 a 40 anos representada pelo percentual de 20,41%. Por outro lado, se considerarmos
uma pessoa jovem com a idade de 18 a 25 anos, constata-se que 48,98% dos pesquisados estão
nessa faixa. Se considerarmos uma pessoa adulta com idade de 26 anos acima, verifica-se um
percentual de 51,02%, deduzido-se que a quantidade de jovens e adultos está equilibrada.
No que concerne à etnia, verificou-se que a maioria, representada por 63,27%,
identifica-se de cor parda, refletindo, assim, o que já mostram as pesquisas do IBGE acerca da
cor da população brasileira. Será essa representação social uma forma de proteção em relação a
rótulos que os excluem socialmente?
Outra questão abordada é a relação entre o índice de pessoas mais jovens/solteiras
e a quantidade de filhos. 51,02% dos alunos afirmaram não possuir filhos, percentual bem
próximo do índice de solteiros, que foi de 48,98%. Um fator explicativo sobre a grande
quantidade de alunos com no máximo até dois filhos, que representa 75,51%, revela a redução
nos índices da taxa de natalidade brasileira, que se deve a fatores diversos, tais como: a expansão
e divulgação de métodos contraceptivos e a crescente queda de renda da população em geral.
Ao verificar-se a origem educacional, observou-se que 69,39% dos alunos
iniciaram e concluíram o ensino fundamental em escolas públicas, fato este que pode muito bem
ser explicado pelo perfil socioeconômico. Deduz-se que a procura pela escola pública pode ter
sido motivada pela situação da renda familiar, uma vez que a escola pública atual não oferece
muito atrativo, decorrente da crise pela qual passa o sistema de ensino público.
Outro elemento relevante é a associação realizada entre o ensino público e a renda
familiar. O percentual de alunos provenientes da escola pública durante todo o ensino
fundamental (69,29%) é maior que o percentual de alunos cuja renda familiar é de até três
salários mínimos (65,30%), ou seja, uma pequena parcela (4%), embora tenha cursado o ensino
fundamental inteiramente em instituições públicas, conseguiu alcançar um patamar maior de
renda familiar (de quatro salários mínimos acima).
No que se refere à modalidade de ensino cursada, verificou-se que 81,63% dos alunos
pesquisados realizaram seus estudos no ensino regular. Desse total, 55,10%, estudavam durante o
dia, coincidindo com o percentual de alunos que concluíram o ensino fundamental até o ano
2000. Visando explicar o motivo da maioria ter feito o curso diurno, pode-se deduzir que os
mesmos, à época (até 2000), eram bem mais jovens e apenas estudavam, não se encontrando
assim engajados no mercado de trabalho, o que demandaria o ensino noturno.
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O percentual de 65,31% de alunos que afirmou ser essa a primeira vez que prestou
exame de seleção para ingressar no CEFETCE, aponta para um dos perfis característicos do aluno
da EJA, que são jovens e adultos que pararam de estudar há algum tempo. Os dados coletados
indicam ainda que o incentivo da família e dos amigos teve um peso significativo para o retorno
dos alunos do PROEJA à escola. Constata-se um percentual de 71,43% que tomou conhecimento
do exame de seleção através das fontes citadas anteriormente – família e escola.
O conhecimento da situação de vida e trabalho dos jovens e adultos é de grande
importância, todavia é fundamental a análise da motivação dos alunos do PROEJA para a escolha
do curso. Como resposta sobre o que teria motivado essa decisão, um esmagador percentual
77,55% revelou que o impulso maior foram as possibilidades no mercado de trabalho, denotando
que tal inserção representa uma grande aspiração que move a sua vida.
Observou-se, com relação à expectativa desses alunos após a conclusão do curso,
certo nivelamento nas respostas, tendo em vista que 26,55% declararam que pretendem atuar
como empregado, 20,41% almejam trabalhar por conta própria e 24,49% esperam fazer um curso
superior na mesma área. Tal quadro aproximadamente equilibrado aponta para uma situação
conflitante na expectativa da maioria desses jovens e adultos quanto ao seu futuro, após a
conclusão do ensino básico.
Ao compararmos os índices de escolaridade de pais e mães dos alunos da EJA,
pode-se depreender que o índice de escolaridade das mães apresenta-se maior que o dos pais.
Somando-se os percentuais dos pais sem escolaridade com os que cursaram até o fundamental
incompleto, obteve-se 65,30% contra 57,15% de mães com esse mesmo nível de ensino.
Quanto à atividade remunerada, verificou-se que a maior parte dos alunos não
trabalha ou só trabalham eventualmente, totalizando um percentual de 61,23%. Ao se comparar a
quantidade de alunos que não possuem renda (23) com a quantidade de alunos que alegam ser
sustentados pela família (22), percebe-se que esses dados mostram-se inter-relacionados, ou seja,
a participação na renda familiar está intimamente ligada ao exercício de uma atividade
remunerada.
No que se refere aos rendimentos do grupo familiar a maior parte, ou seja, 65,30%
dos respondentes afirmou estar enquadrada na faixa salarial de baixa renda, tendo em vista que
sua renda familiar é de no máximo três salários mínimos. É interessante perceber um percentual
relativamente alto de alunos que possuem renda familiar de quatro salários mínimos acima
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Conforme a fala dos alunos, mostra-se que é salutar a discussão de estratégias que
permitam a real integração e o êxito dos referidos alunos no processo de ensino-aprendizagem,
para que encontrem estímulo em freqüentar as aulas e ainda possam aprender conteúdos
significativos, mediados por metodologias que envolvam a participação e facilitem o
aprendizado, já que também faz-se notória a dificuldade ocasionada, inclusive pelo cansaço das
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atividades laborais exercidas pelos alunos e, ainda, devido ao horário de trabalho mais exaustivo,
que os impedem, muitas vezes, de comparecerem às aulas.
A quantidade de alunos que atribuem as faltas e/ou abandono do curso por motivos de
trabalho é bastante expressiva, figurando na maioria das falas dos alunos, quando afirmam que:
Tem alunos que trabalham até mais tarde e chegam cansados e não vêm
para as aulas, ou, ainda, por terem dificuldades nas matérias aplicadas e
perdem o interesse. (Aluno A)
Desse modo, já poderia ser evitada grande parte das faltas nessa modalidade, o que
implica desperdício de recursos públicos, pois, se o aluno está interessado apenas nas “aulas
técnicas” ou que “prepare para o vestibular”,o programa terá dificuldades em cumprir o que se
propõe.
Também apontada como dificuldade para a freqüência nas aulas, foi a falta de
recursos para o transporte de casa até a escola. Conforme o constatado nos dados do perfil
socioeconômico apresentado no item anterior, em que figura um percentual de 61%, pode-se
dizer que apela por medidas urgentes, seja em nível de ajuda de custo ao discente, seja de
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parcerias para o ingresso do mesmo no mercado de trabalho, pois a falta de recursos para o
transporte impede consideravelmente a chance de acesso e permanência dos alunos no Programa.
Visando ainda captar o significado do PROEJA na vida dos alunos, a partir das
representações sociais acerca de suas expectativas e anseios, de forma a buscar a constante
aproximação com os mesmos, perguntou-se “qual seria a expectativa do aluno ao obter a
oportunidade de participar do PROEJA no CEFETCE”.
O resultado obtido reflete que o maior anseio dos estudantes do PROEJA é a melhoria
de sua inserção no mercado de trabalho, através de uma profissionalização. A teoria das
representações sociais de Moscovici(2004) explica bem essa categorização por meio da
ancoragem e da objetivação, que, nesse caso, seriam representadas respectivamente pela
profissionalização/emprego e melhoria de vida através da ascensão socioeconômica. Desse modo,
observou-se que, em praticamente todas as respostas, os pesquisados demonstram o anseio de
conquistar um emprego e a profissionalização é requisito determinante na consecução desse
objetivo, segundo os mesmos. Assim, seguem algumas falas que confirmam tal constatação:
Pôde-se ainda verificar que muitos mencionaram não apenas o ingresso no mercado
de trabalho, mas também o anseio de prestar vestibular ao término do curso e, assim, ingressar no
ensino superior.
Agregadas também a essas expectativas figuram também que o CEFETCE possui um
certo respaldo dentre os estudantes, tendo em vista o expressivo número de respostas em que se
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afirma que a instituição tradicionalmente possui cursos de qualidade e uma boa aceitação dentre
os empregadores, confirmando-se nas colocações:
Observa-se que conhecer o público alvo das políticas públicas – sejam elas de
qualquer natureza – é preponderante para o êxito das mesmas; não apenas quantitativamente, mas
também qualitativamente, através de uma aproximação com a realidade vivenciada pelo aluno,
investigando suas opiniões, expectativas e motivações, pois ninguém é mais indicado do que o
próprio aluno da EJA para apontar quais caminhos devem ser trilhados e que estratégias podem
lograr sucesso no intuito de uma formação integral, mais humana e mais condizente com os
novos arranjos sócio-contemporâneos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do exposto, ressalta-se ainda o compromisso que tem o CEFETCE não apenas
na execução do PROEJA de forma satisfatória, mas também na responsabilidade com os jovens e
adultos que tudo apostam (conforme o verificado na pesquisa) para a conclusão do ensino básico
e, concomitantemente, uma profissionalização numa instituição qualitativamente reconhecida, na
tentativa de inserir-se no mercado de trabalho, e, desta forma, resgatar a sua identidade social.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
NOSELLA, Paolo. Os Novos Desafios para a Educação Popular no Brasil. Fortaleza: Curso
de Especialização em Metodologia de História – UECE (Apostila) janeiro de 2005.
SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do Trabalho Científico. 22. ed. São Paulo: Cortez,
2002.
YIN, Robert K. Estudo de Caso: planejamento e métodos. Porto Alegre: Bookman, 1989.