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Direito Ambiental

Material Teórico
Aspectos relevantes no Direito Ambiental Brasileiro e a
atual Legislação

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Ms. Tercius Zychan

Revisão Textual:
Profa. Ms. Selma Aparecida Cesarin
Aspectos relevantes no Direito Ambiental
Brasileiro e a atual Legislação

• Introdução
• Recursos Ambientais
• Alguns conceitos

·· Estudaremos os Recursos ambientais, procurando identificá-los, além das


medidas protetivas a estes recursos e, por fim, veremos as principais Convenções
Internacionais sobre a proteção ao Meio ambiente.

Nesta Unidade, abordaremos o que são recursos naturais procurando identificá-los.


Além disso, vamos tratar das medidas protetivas aplicáveis a estes recursos. Por fim, veremos
os principais acordos e tratados internacionais sobre preservação ambiental.
Não se esqueça de acessar realizar as atividades propostas para esta unidade.

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Unidade: Aspectos relevantes no Direito Ambiental Brasileiro e a atual Legislação

Contextualização

Entre os aspectos relevantes do Direito Ambiental, existem conceitos indispensáveis a serem


conhecidos e compartilhados por todos.
Entre estes estão o de fauna e flora.
Conhecer a diversidade da fauna e da flora brasileira, sem dúvida, é um passo importante
para sua preservação.

Veja o vídeo disponível no Youtube, no link a seguir, que trata um pouco sobre
a fauna e a flora brasileiras:
https://www.youtube.com/watch?v=fUnEBYnkKkw

Bom estudo!

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Introdução

Não nos resta dúvida de que pela extensão territorial do nosso país, somos um campo
repleto e rico de riquezas naturais. Aliado a esta característica, nosso patrimônio cultural
também é vasto, necessitando ambos de proteção especial.
Nesta Unidade, iremos conhecer alguns conceitos importantes para estudarmos o nosso
Direito Ambiental.
Aliado a este conhecimento, veremos medidas protetivas ao Meio ambiente pátrio,
constantes de nossa legislação.
Por fim, veremos como o Direito Internacional, por intermédio de acordos, tratados e
convenções influencia a nossa proteção e preservação ambiental, estabelecendo conceitos e
metas protetivas, assumidas por cada signatário.

Recursos Ambientais

Antes de descrevermos melhor nosso tema, é fundamental obtermos alguns conceitos e


definições para a orientação dos estudos das normas jurídicas que estão envolvidas no Direito
Ambiental e na proteção ao Meio ambiente.
Como visto, a Lei 6938/81, que editou a Política Nacional do Meio Ambiente – PNMA
conceituou Meio ambiente como: “[...] o conjunto de condições, leis, influências e interações de
ordem física, química e biológica que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”.
Tal conceito está intimamente ligado ao estabelecido na Suécia, mais precisamente na cidade de
Estocolmo, onde, em 1972, foi realizada a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente,
sendo estabelecido um conceito mundial do que vem a ser Meio ambiente: “[...] O meio ambiente é
o conjunto de componentes físicos, químicos, biológicos e sociais capazes de causar efeitos diretos
ou indiretos, em um prazo curto ou longo, sobre os seres vivos e as atividades humanas”.
Ou seja, o Meio ambiente, resumidamente, envolve todas as coisas vivas e não vivas no
Planeta, ou em alguma região dele, que afetam os ecossistemas e a vida dos seres humanos.
A estes integrantes do Meio Ambiente damos o nome de recursos ambientais.
Basta, agora, buscarmos a compreensão do que vem a ser “recursos ambientais”, que alguns
doutrinadores chamam de recursos naturais. Entretanto, em virtude do tratamento dado ao
assunto pela Lei 6938/81, aqui iremos adotar o que ela prevê no inciso V do artigo 3º, no
qual, por intermédio de um rol exemplificativo, procura nos direcionar para o entendimento
do que vem a ser recursos ambientais:
Art. 3º – Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:
(...)
V – recursos ambientais: a atmosfera, as águas interiores, superficiais e
subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da
biosfera, a fauna e a flora.

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Unidade: Aspectos relevantes no Direito Ambiental Brasileiro e a atual Legislação

Na verdade, os recursos ambientais encontram-se na base de todas as ações humanas, seja


como matéria prima ou insumo para a produção, bem como seu consumo na condição natural.
Em razão das características que venham a se apresentar e na possibilidade de seu
reaproveitamento, podemos dizer que os recursos ambientais poderão ser classificados como
recursos naturais renováveis (exemplo: ar, água etc.) ou recursos naturais não renováveis
(exemplo: petróleo, mineiro de ferro etc.).

Alguns Conceitos

Vale, antes de tudo, fazer um adendo ao falamos em Meio ambiente e recursos ambientais.
Não estamos apenas nos referindo ao Meio Ambiente exclusivamente natural, mas ao Meio
Ambiente em todas as suas formas.
Enfatizando, assim, que o Meio Ambiente merece proteção ampla e em todos os seus
segmentos.
Nos próximos tópicos, iremos analisar os recursos ambientais nas suas mais variadas formas,
bem como alguns mecanismos de proteção e utilização desses recursos.

Da Fauna
O Glossário de Ecologia define fauna1 como: “[...] toda a vida animal de uma área, um habitat
ou um estrato geológico num determinado tempo com limites espacial e temporal arbitrários”.
O Professor Paulo Afonso Leme Machado2 , de modo simples e direto, procurou definir fauna
do seguinte modo: fauna é conjunto de espécies animais de determinado país ou região.
O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais – IBAMA estabelece que
existem três espécies de fauna: a silvestre brasileira, a silvestre exótica e a doméstica.
Cabe acrescentar que a legislação de proteção à fauna não faz qualquer distinção entre o que
vem a ser fauna silvestre brasileira ou fauna exótica, o que nos leva a deduzir que, sendo animal
silvestre, estará amparado pela lei.
Diante deste posicionamento, podemos deduzir que integram a fauna silvestre os animais,
nativos de uma determinada região, sejam eles originais de nosso país ou do estrangeiro.
Cumpre mencionar sobre o que trata a Lei 9605/98, que dispõe sobre as sanções penais e
administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente.

1 ACADEMIA de Ciências do Estado de São Paulo. Glossário de Ecologia. São Paulo: ACIESP, 1997, p.113.
2 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito ambiental brasileiro. São Paulo: Malheiros, 2007, p.766.

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No § 3º de seu Artigo 29, assim previu:
Art. 29. ...
(...)
§ 3° São espécimes da fauna silvestre todos aqueles pertencentes às espécies
nativas, migratórias e quaisquer outras, aquáticas ou terrestres, que tenham
todo ou parte de seu ciclo de vida ocorrendo dentro dos limites do território
brasileiro, ou águas jurisdicionais brasileiras.

Vejamos a afirmação de Erika Bechara3 , ao titularizar a fauna como um bem ambiental,


pertencente a toda a coletividade. Segue assim o preceito constitucional já tratado que afirma
ser o Meio Ambiente um bem de uso comum do povo.

A proteção internacional da fauna


No mundo existe, atualmente, uma grande quantidade de tratados, acordos e convenções
com a finalidade de proteger a fauna, sobretudo de espécies migratórias ameaçadas de extinção.
E importante exemplificar que entre estes diplomas internacionais é a Declaração Universal
dos Direitos dos Animais, proclamada pela UNESCO, em 1978, assinada na cidade de
Bruxelas, na Bélgica, que estabeleceu, principalmente:

• Todos os animais nascem iguais diante da vida e têm o mesmo direito à existência (art. 1°);
• O homem, enquanto espécie animal, não pode atribuir-se o direito de exterminar os
outros animais (art. 2°-B);
• Nenhum animal será submetido a maus tratos e a atos cruéis (art. 3°-A);
• Se a morte de algum animal for necessária, deve ser instantânea, sem dor nem angústia
(art. 3°-B).
Desde então, outras convenções e acordos foram firmados internacionalmente para tutelar
a fauna, entre os quais se destacam:

• Convenção sobre Comércio Internacional das Espécies da Flora e da Fauna Selvagens


em Perigo de Extinção, Washington, 1973, com emendas promulgadas pelos Decretos
nº 76.623/75, n° 92.446/86 e nº 133/91;

• Convenção sobre a Diversidade Biológica, Rio de Janeiro, 5 de junho de 1992, assinada


pelo Brasil durante a ECO-92, e promulgada pelo Decreto 2.519 de 16/03/1998.

3 BECHARA, Erika. A proteção da fauna sob a ótica constitucional. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2003, p.27.

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Unidade: Aspectos relevantes no Direito Ambiental Brasileiro e a atual Legislação

A proteção penal da fauna


A Lei n° 9.605/98, entre outros temas importantes, consolidou uma relação de crimes que
atingem diretamente a fauna.
Figuram entre os crimes previstos na citada lei algumas condutas que, se praticadas,
importam em infrações penais (crimes):
• Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em
rota migratória;
• Modificar, danificar ou destruir ninho, abrigo ou criadouro natural;
• Vender, expor à venda, exportar ou adquirir, guardar, ter em cativeiro ou depósito,
transportar ovos, larvas ou espécimes da fauna silvestre, nativa ou em rota migratória,
bem como produtos e objetos dela oriundos, provenientes de criadouros não autorizados
ou sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente;
• Exportar para o exterior, peles e couros de anfíbios e répteis em bruto, sem a autorização
da autoridade ambiental competente;
• Introduzir espécime animal no País, sem parecer técnico oficial favorável e licença
expedida por autoridade competente;
• Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou
domesticados, nativos ou exóticos;
• Pescar em período no qual a pesca seja proibida ou em lugares interditados por órgão
competente;
• Pescar mediante a utilização de explosivos ou substâncias que, em contato com a
água, produzam efeito semelhante; substâncias tóxicas, ou outro meio proibido pela
autoridade competente.

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Da flora
Antes de detalharmos o conceito que pretendemos tratar, vale à pena fazer uma distinção
já que se confunde muito pela proximidade que transmite a ideia e os significados entre o que
vem a ser flora e floresta.
Flora trata do reino vegetal, ou seja, o conjunto da vegetação de um país ou de uma região.
O professor Édis Milaré4 assim a conceituou:
Flora é a totalidade de espécies que compreende a vegetação de uma
determinada região, sem qualquer expressão de importância individual dos
elementos que a compõem. Elas podem pertencer a grupos botânicos os mais
diversos, desde que estes tenham exigências semelhantes quanto aos fatores
ambientais, entre eles os biológicos, os do solo e do clima.

Já o vocábulo floresta compreende uma formação vegetal caracterizada pela predominância


de vegetação densa formada, sobretudo, por árvores de grande porte.
O Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal – IBDF, em uma de suas normas, assim
definiu: “floresta é a formação arbórea densa, de alto porte, que recobre área de terra mais
ou menos extensa”.
Além das florestas, são de grande importância outras formas de cobertura vegetal, como o
mangue, o cerrado e a caatinga, pois também agem na fixação do solo, evitando a erosão e
fazendo parte dos ecossistemas que abrigam a fauna nacional e preservam a biodiversidade.
Já o vocábulo floresta compreende uma formação vegetal caracterizada pela predominância
de vegetação densa formada, sobretudo, por árvores de grande porte.
O Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal – IBDF, em uma de suas normas, assim
definiu: “floresta é a formação arbórea densa, de alto porte, que recobre área de terra mais
ou menos extensa”.
Além das florestas, são de grande importância outras formas de cobertura vegetal, como o
mangue, o cerrado e a caatinga, pois também agem na fixação do solo, evitando a erosão e
fazendo parte dos ecossistemas que abrigam a fauna nacional e preservam a biodiversidade.
A multifuncionalidade é uma característica dos recursos ambientais, nos quais cada recurso
possui uma série de funções, para isso não se considera apenas o seu uso para a satisfação das
necessidades humanas, mas também as funções ecológicas que tais recursos desempenham.
Neste caso, ao analisar a flora como a vegetação em todas as suas formas, e o que se
presta ao Meio Ambiente, devemos considerar que ela se presta a papéis relevantes, como,
por exemplo, a evitar a perda de solo, a promover a contenção do assoreamento, a reduzir a
emissão de gás carbônico etc.
Aqui, estamos indicando somente os serviços ecológicos inerentes à flora, deixando de lado
o que esta significa no desempenho da atividade econômica.

4 MILARÉ, Édis. Direito do ambiente: Doutrina – prática – jurisprudência – glossário. São Paulo: RT, 2000, p. 162.

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Unidade: Aspectos relevantes no Direito Ambiental Brasileiro e a atual Legislação

Um tema que não poderia deixar de ser tratado, no que tange à defesa da flora, é a forma
pela qual a legislação nacional cuida do direito de propriedade, mais precisamente no tocante
à função social da propriedade, como dispõe a Constituição Federal, em seu Artigo 186:
Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende,
simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei,
aos seguintes requisitos:
(...)
II – utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do
meio ambiente;

Apropriado mencionar a Professora Cristiane Derani5 , que aborda o princípio da função


social desta maneira:
Daí equiparar-se o princípio da função social da propriedade a um ônus do
proprietário, consistente em um conjunto de deveres e responsabilidades que
permeia toda a relação de propriedade, e não apenas limita seu exercício. A
escolha do que realizar, dos meios empregados, da intensidade da atividade e
da destinação das vantagens obtidas não pode mais ser tomada do ponto de
vista exclusivamente individual do proprietário.

De acordo com o Código Florestal Brasileiro, tanto a flora nativa quanto as espécies exóticas
receberão proteção e constituirão a flora brasileira como um todo, pois o texto legal não fez
distinção entre a vegetação nativa e as demais formas de vegetação.

Código Florestal
A Lei nº 12.651/2012 instituiu o novo Código Florestal Brasileiro, que entrou em vigor
depois de muita discussão, polêmicas e edição de medidas provisórias. O Código Florestal
anterior era de 1965, e já não atingia os objetivos propostos pela nova Política Nacional de
Meio Ambiente.
O objetivo principal do Código Florestal é a proteção das florestas e matas de vegetação
nativa, além de extensas áreas verdes com características especiais.

Área de preservação permanente – APP


As denominadas Áreas de Preservação Permanente – APPs, de acordo com a norma legal,
integram espaços territoriais especialmente protegidos.
O Código Florestal, em seu artigo 3º, assim define o que vem a ser uma APP:
Art. 3º Para os efeitos desta Lei, entende-se por:
(...)
II – Área de Preservação Permanente - APP: área protegida, coberta ou não por
vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a
paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de
fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas;
5 DERANI, Cristiane. A propriedade na Constituição de 1988 e o conteúdo da “Função Social”. Revista de Direito
Ambiental nº 27. São Paulo: RT, 2002, p.59.

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O Artigo 1º do mencionado Código nos diz como as APPs poderão ser constituídas:
• Por força de lei, por exemplo: florestas e demais formas de vegetação natural situadas,
ao longo dos rios ou de qualquer curso d’água desde o seu nível mais alto em faixa
marginal cuja largura mínima seja de 30 (trinta) metros para os cursos d’água de menos
de 10 (dez) metros de largura;
• Por ato declaratório, por exemplo: as florestas e demais formas de vegetação natural
destinadas a atenuar a erosão das terras ou fixar dunas;
• Por equiparação são as florestas que integram o denominado patrimônio indígena, as
quais se submetem a um regime de preservação permanente, como indispensáveis à
manutenção do ambiente necessário à vida das populações silvícolas.

Reserva Florestal
A Reserva Florestal Legal, mais conhecida por Reserva Legal, trata-se de uma fração do
imóvel rural que deve ser protegida objetivando-se assegurar a manutenção de uma fração da
cobertura vegetal natural impedida de ser suprimida.
Esse percentual é definido em razão do bioma (conjunto dos seres vivos de uma área),
além da região onde se situa o imóvel rural. Ou seja, trata-se de uma verdadeira conduta de
proteção da biodiversidade.
O Código Florestal estabeleceu, em seu Artigo 16, os percentuais que devem ser mantidos
nas propriedades, a título de reserva legal:
Art. 16. As florestas e outras formas de vegetação nativa, ressalvadas as
situadas em área de preservação permanente, assim como aquelas não sujeitas
ao regime e utilização limitada ou objeto de legislação específica, são suscetíveis
de supressão, desde que sejam mantidas, a título de reserva legal, no mínimo:
I – Oitenta por cento, na propriedade rural situada em área de floresta localizada
na Amazônia Legal;
II – Trinta e cinco por cento, na propriedade rural situada em área de cerrado
localizada na Amazônia Legal, sendo no mínimo vinte por cento na propriedade
e quinze por cento na forma de compensação em outra área, desde que esteja
localizada na mesma microbacia, e seja averbada nos termos do § 7º deste artigo;
III – Vinte por cento, na propriedade rural situada em área de floresta ou outras
formas de vegetação nativa localizada nas demais regiões do País;e
IV – Vinte por cento, na propriedade rural em área de campos gerais localizada
em qualquer região do País.

Um ponto a se destacar é que o Código Florestal estabelece que a Reserva Legal deve
ser averbada na matrícula do imóvel junto ao competente Cartório de Registro de Imóveis
(“escritura”).
Trata a Lei ainda, que o proprietário poderá indicar na sua propriedade o local de destinação
da reserva legal, entretanto, cabe ao órgão ambiental aprovar essa localização.

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Unidade: Aspectos relevantes no Direito Ambiental Brasileiro e a atual Legislação

Unidades de Conservação
As unidades de conservação constituem espaços territoriais especialmente protegidos e,
por isso, dotados de um regime especial de fruição e modificação.
Art. 225.
(...)
§ 1º para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
(...)
III – Definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus
componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a
supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que
comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;

Desse princípio constitucional, decorrem algumas consequências, tais como o dever do


Poder Público em definir espaços territoriais a serem especialmente protegidos.
Nessas áreas protegidas, a utilização é condicionada à manutenção dos atributos que
justificaram sua proteção; a alteração e supressão dessas áreas somente pode se efetivar por
meio de lei, ou seja, esses espaços territoriais gozam de um regime singular de alteração, pois
o Poder Público as cria por intermédio de um decreto. Entretanto, uma lei em sentido formal
poderá suprimir sua proteção, seja integral ou mesmo parcialmente.
É importante mencionar os efeitos promovidos pela Lei n° 9.985/2000, que repartiu as
unidades de conservação em dois grandes grupos:
• Unidades de Proteção Integral;
• Unidades de Uso Sustentável.
As Unidades de Proteção Integral têm por objetivo garantir a preservação da Natureza,
mantendo os ecossistemas livres de alterações causadas por interferência humana e admitindo
apenas o uso indireto dos recursos naturais.
Quanto às Unidades de Uso Sustentável, estas objetivam compatibilizar a conservação
da natureza com seu uso sustentável dos recursos naturais. Deste modo assegurando a
exploração do ambiente e garantindo a perenidade dos recursos ambientais renováveis e
dos processos ecológicos, mediante a manutenção da biodiversidade e dos demais atributos
ecológicos, de forma socialmente justa e economicamente viável.

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Cada um desses grupos desdobra-se nas categorias seguintes:
• Unidades de Proteção Integral:
a) Estação Ecológica;
b) Reserva Biológica;
c) Parque Nacional;
d) Monumento Natural;
e) Refúgio de Vida Silvestre.
• Unidades de Uso Sustentável:
a) Área de Proteção Ambiental;
b) Área de Relevante Interesse Ecológico;
c) Floresta Nacional;
d) Reserva Extrativista;
e) Reserva de Fauna;
f) Reserva de Desenvolvimento Sustentável, e
g) Reserva Particular do Patrimônio Natural.
Apesar da importância da Conferência de Estocolmo, em 1972, foi com a RIO/92, também
conhecida como ECO/92, que começaram as mudanças mais significativas e juridicidade
ambiental no Brasil.
A RIO/92 foi um grande evento internacional, que envolveu mais de 100 chefes de Estado,
dispostos ao diálogo sobre as questões ambientais, concretizando-se como o marco da primeira
grande reunião internacional de relevância após o fim da Guerra Fria.
O evento também envolveu a sociedade civil, com cerca de 20 mil pessoas de todo o mundo.
As discussões ficaram centradas na necessidade de se firmarem regras mais claras e
objetivas para o enfrentamento da problemática ambiental internacional e de se desenvolverem
estratégias para um novo modelo de desenvolvimento.
Os documentos assinados na RIO/92 passaram, então, a representar um papel significativo
no crescimento e evolução da normatividade global.
Tanto a Convenção sobre Diversidade Biológica quanto a Convenção do Clima se tornaram
instrumentos internacionais de grande relevância na questão ambiental global, não apenas
pela extensão dos países signatários, mas principalmente pela atualidade e prioridade dos
temas objeto dos acordos e pela conquista de um difícil consenso democrático.
Por outro lado, os documentos firmados na RIO/92 consagram, definitivamente, o
compromisso com o desenvolvimento sustentável, ou seja, a necessidade de mudança do
paradigma de desenvolvimento econômico, passando a considerar o meio ambiente como
uma vertente indissociável da conquista de uma vida digna.
A principal função da Declaração do Rio foi influenciar a criação de um novo regramento
jurídico por meio do direito positivo dos países, voltado a tornar efetiva a defesa do meio
ambiente. E, apesar de sua força meramente indicativa, a Declaração do Rio tem exercido,
desde sua assinatura, uma influência decisiva no crescimento e afirmação do Direito Ambiental
nacional e internacional.

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Unidade: Aspectos relevantes no Direito Ambiental Brasileiro e a atual Legislação

Convenção da ONU – Mudanças Climáticas


A Convenção sobre mudança do Clima foi assinada na RIO/92. Essa convenção estabelece
normas para redução de lançamento dos gases de efeito estufa (GEE), responsáveis pela
elevação da temperatura do clima na Terra. Refere-se, ainda, à conservação e ampliação dos
sumidouros dos gases de carbono (os oceanos e as florestas).
A Conferência das Partes, realizada em Kyoto, Japão, em 1997, adotou o Protocolo
de Kyoto como parte integrante da Convenção sobre mudança do clima, estabelecendo
normas práticas para a redução da emissão de gases do efeito estufa, impostas aos países em
desenvolvimento e aos países com economia em transição.
Vejamos, a seguir, a importância de Protocolo e de suas disposições, já mencionados na
evolução histórica do Direito Ambiental, estudada na Unidade I.

O Protocolo de Kyoto
A Convenção-Quadro do Clima, ao estabelecer as normas de caráter geral para a estabilização
da concentração de gases de efeito estufa na atmosfera, previu também a necessidade de
produção de outros instrumentos jurídicos a serem adotados pela Conferência das partes, com
o objetivo de possibilitar a sua regulamentação.
A Convenção do Clima é uma lei branda que não impõe sanções aos que a descumprirem
e, por isso, necessita de outros mecanismos para continuidade do processo de negociação
pelas Partes, mesmo após a sua entrada em vigor.
Por essa razão, posteriormente, em dezembro de 1997 foi adotado o Protocolo de Kyoto, cuja
entrada em vigor se deu em 16 de fevereiro de 2005, ratificado por 141 países, inclusive o Brasil.
No Protocolo, há um cronograma constando que os países estão obrigados a reduzir em
5,2%, a emissão de gases poluentes, entre os anos de 2008 e 2012 (primeira fase do acordo).
Os gases citados no acordo são: dióxido de carbono, gás metano, óxido nitroso,
hidrocarbonetos fluorados, hidrocarbonetos perfluorados e hexafluoreto de enxofre. Estes
últimos três são eliminados principalmente por indústrias.
A emissão desses poluentes ocorre em vários setores econômicos e ambientais. Os países
devem colaborar entre si para atingirem as metas.
O protocolo sugere ações comuns, como, por exemplo:
• Aumento no uso de fontes de energias limpas (biocombustíveis, energia eólica,
biomassa e solar);
• Proteção de florestas e outras áreas verdes;
• Otimização de sistemas de energia e transporte, visando ao consumo racional;
• Diminuição das emissões de metano, presentes em sistemas de depósito de lixo orgânico;
• Definição de regras para a emissão dos créditos de carbono (certificados emitidos quando
há a redução da emissão de gases poluentes).
Os especialistas em clima e meio ambiente esperam que o sucesso do Protocolo de Kyoto
possa diminuir a temperatura global entre 1,5 e 5,8ºC até o final do século XXI.
Dessa forma, o ser humano poderia evitar as catástrofes climáticas de alta intensidade que
estão previstas para o futuro.

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Material Complementar

Para aprofundar seus conhecimentos, consulte:


Livros:
ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito ambiental. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2004;
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de direito administrativo. São Paulo:
Malheiros, 2011;
BELTRÃO, Antônio F. G. Curso de direito ambiental. São Paulo: Método, 2009;
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito ambiental brasileiro. São Paulo:
Malheiros, 2004.

Sites:
O Licenciamento Ambiental como instrumento da Política Nacional do
Meio Ambiente
http://jus.com.br/artigos/23503/o-licenciamento-ambiental-como-instrumento-da-politica-nacional-do-meio-ambiente
Acesso em: 3 ago 2015.

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Unidade: Aspectos relevantes no Direito Ambiental Brasileiro e a atual Legislação

Referências

ACADEMIA de Ciências do Estado de São Paulo. Glossário de ecologia. São Paulo:


ACIESP, 1997.
AMADO, Frederico Augusto Di Trindade. Direito Ambiental Esquematizado. São Paulo:
Gen-Método, 2011.
BECHARA, Erika. A proteção da fauna sob a ótica constitucional. São Paulo: Juarez
de Oliveira, 2003.
DERANI, Cristiane. A propriedade na Constituição de 1988 e o conteúdo da “Função
Social”. Revista de Direito Ambiental nº 27. São Paulo: RT, 2002.
GRANZIERA, Maria Luiza Machado. Direito Ambiental. 2.ed. São Paulo: Atlas, 2011.
GUERRANTE, Rafaela Di Sabato; ANTUNES, Adelaide Souza; PEREIRA JUNIOR, Nei.
Transgênicos, a difícil relação entre a Ciência, a Sociedade e o Mercado. In: VALLE,
Silvio; TELLES, José Luiz (Orgs.). Bioética e biorrisco: abordagem transdisciplinar. Rio de
Janeiro: Interciência, 2003.
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito ambiental brasileiro. São Paulo: Malheiros, 2007.
MILARÉ, Édis Direito do ambiente: Doutrina - prática - jurisprudência - glossário, São
Paulo: RT, 2000.
SILVA, J. A. Direito Ambiental Constitucional. 8.ed. São Paulo: Malheiros, 2010.
SIRVINSKAS, L. P. Manual de Direito Ambiental. 9.ed. São Paulo: Saraiva, 2011.

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Anotações

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