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XI Seminário da Pós-graduação em Engenharia Elétrica

Perdas nos Transformadores de Distribuição sob Distorções


Harmônicas de Corrente
Fábio de Oliveira Carvalho
Discente do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica – Unesp – Bauru

Prof. Dr. André Nunes de Souza


Orientador – Departamento de Departamento – Unesp – Campus - Bauru

Resumo
Os transformadores são equipamentos muito importantes e vastamente utilizados nos diferentes
ramos do sistema elétrico de potência. A concepção dos transformadores não sofreu grandes
alterações nos últimos 60 anos, ao contrário das cargas instaladas ao longo do sistema elétrico.
Com o avanço na eletrônica de potência e seu custo atraente, houve uma grande penetração de
cargas não-lineares no sistema elétrico, que são conhecidas por produzir distorções harmônicas
de corrente. Essas distorções são indesejáveis, pois podem ocasionar aquecimentos em muitos
componentes do sistema elétrico, inclusive nos transformadores. Este artigo tem o objetivo de
avaliar as perdas de potência em transformadores de distribuição operando sob distorções
harmônicas de corrente.
Palavras-chave: Transformador de distribuição, Distorções Harmônicas de Corrente, Perdas
de Potência.

1. Introdução
As perdas nos transformadores de distribuição (𝑇𝐷𝑠) é um assunto vastamente
pesquisado, pois impacta na eficiência do sistema elétrico de potência. Este artigo apresenta
duas metodologias para a estimativa das perdas nos 𝑇𝐷𝑠. A primeira metodologia consiste na
estimativa das perdas nos 𝑇𝐷𝑠 (𝑃𝑇𝑅 ) instalados no sistema de transmissão e de distribuição
com o objetivo de incluir na tarifa de energia elétrica, o custo das perdas cálculo das perdas, e
está descrita no item 5 do Módulo 07 do PRODIST [1]. Possui uma praticidade muito grande
para as concessionárias de energia pois necessita apenas do cadastro dos parâmetros do 𝑇𝐷 e
das leituras das contas de energia dos clientes a jusante. A segunda metodologia encontra-se na
norma IEEE std 57.110/2018 (𝑃𝑃𝑇𝐻 ). Trata-se de um método mais abrangente, que considera
os diferentes elementos que constituem um 𝑇𝐷 e o comportamento de cada um destes elementos
em função do perfil de carga e das distorções harmônicas de corrente (𝐷𝐻𝑇𝑖 ) [2]. Esse método
é mais indicado em transformadores de distribuição exclusivos, instalados em cabines, ou redes
particulares industriais, onde encontram-se uma concentração de cargas não-lineares,
causadoras de 𝐷𝐻𝑇𝑖 [3]. As perdas de energia devem ser devidamente contabilizadas nos custos
de quaisquer empreendimentos e, para que isso ocorra, a estimativa de sua grandeza deve ser
precisa. Caso contrário, os custos relacionados às perdas de energia podem ser estimados a
menor, e isso pode impactar no resultado financeiro global. A utilização de cargas não-lineares
vem crescendo, e certamente os níveis de 𝐷𝐻𝑇𝑖 contidas ao longo da rede também. Os 𝑇𝐷𝑠 são
equipamentos que apresentam dificuldades em operar sob 𝐷𝐻𝑇𝑖 , pois este fenômeno pode
inclusive reduzir a vida útil deste equipamento [3] [4]. Este artigo tem o objetivo de realizar um
estudo de caso de um 𝑇𝐷 que alimenta uma indústria, onde ocorre a presença de cargas não-
lineares.

2. As Perdas nos Transformadores e as Distorções Harmônicas


Carvalho e Souza
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Segundo o método 𝑃𝑇𝑅 , o valor da potência média (𝑃𝑚𝑒𝑑 ) que flui por um determinado
𝑇𝐷 pode ser obtido através do somatório das medições de energia dos clientes conectados a
jusante em um determinado período [1]. Utilizando este valor, obtém-se as perdas médias nos
enrolamentos (𝑃𝑐𝑢 ) aplicando a parcela esquerda da Equação (1) [1]. As perdas à vazio (𝑃𝑓𝑒 )
ocorrem em função das características do núcleo do 𝑇𝐷 e seus valores podem ser encontrados
no manual do fabricante. A tabela VII do módulo 07 do PRODIST determina o valor de 𝑃𝑓𝑒
para alguns 𝑇𝐷𝑠. A 𝑃𝑇𝑅 é obtida conforme a Equação (1) [1].
2
𝑃𝑚𝑒𝑑 (1)
𝑃𝑇𝑅 = 𝑃𝑓𝑒 + ( ) 𝑃𝑁𝑐𝑢
𝑃𝑛𝑜𝑚 cos ∅
Onde: 𝑃𝑇𝑅 - Perdas totais no TD (W); 𝑃𝑓𝑒 - Perdas à vazio (W); 𝑃𝑚𝑒𝑑 - Potência média
do 𝑇𝐷 (kW); 𝑃𝑛𝑜𝑚 - Capacidade nominal do 𝑇𝐷 (kVA); cos ∅ - Fator de potência considerado
igual a 0,92; e 𝑃𝑁𝑐𝑢 - Perdas totais nos enrolamentos dos 𝑇𝐷𝑠 a plena carga (W) (Valores
tabelados no módulo 7 do PRODIST [1]).
Com relação ao método 𝑃𝑃𝑇𝐻 [2], este considera as correntes parasitas induzidas pelos
fluxos dispersos em outras partes metálicas, tais como: nas paredes dos tanques ou em
parafusos, conhecidas como Perdas Suplementares (𝑃𝑠 ), que são na Equação (2) [5].
2 (2)
𝑃𝑠 = 𝑃𝑁𝑐𝑢 − 𝐾 [𝑅𝑝 (𝐼𝑝 ) + 𝑅𝑠 (𝐼𝑠 )2 ]

Onde: 𝑃𝑠 - Perdas suplementares de potência sob condições nominais (W); 𝑃𝑁𝑐𝑢 – Perda
nominal nos enrolamentos (Valores tabelados no módulo 7 do PRODIST [1]); 𝐾 - 1,0 para
𝑇𝐷𝑠 monofásicos, e 1,5 para 𝑇𝐷𝑠 trifásicos; 𝑅𝑝 - Resistência DC do enrolamento primário
do 𝑇𝐷𝑠 (Ω); 𝐼𝑝 - Corrente elétrica no enrolamento primário do 𝑇𝐷 (A); 𝑅𝑠 - Resistência DC
do enrolamento secundário do 𝑇𝐷 (Ω); e 𝐼𝑠 - Corrente elétrica no enrolamento secundário
do 𝑇𝐷 (A).
Segundo valores obtidos de ensaios certificados em conformidade com as normas IEEE
std C57.12.00 e IEEE std C57.12.91, para 𝑇𝐷𝑠 com potência inferior a 300 kVA, a distribuição
das perdas em porcentagem ocorre da seguinte forma: Perdas no enrolamento de baixa tensão
por correntes parasitas de 55%; Perdas no enrolamento de alta tensão por correntes parasitas de
5%; e as Perdas suplementares são de 40%. Desta forma, utilizando-se a Equação (2) é possível
estimar através dos percentuais supracitados as perdas por correntes parasitas nos enrolamentos
de baixa e de alta tensão [2].
Portanto, as perdas totais em um 𝑇𝐷 submetido à 𝐷𝐻𝑇𝑖 podem ser obtidas utilizando a
Equação (3) [2], e o fator 𝐹𝐻𝐶𝑃 pode ser obtido utilizando a Equação (4) [2], e o fator de perda
de harmônicos para perdas suplementares (𝐹𝑠 ) pode ser obtido utilizando a Equação (5) [2].

2
𝐼2
∑ℎ=ℎ𝑚á𝑥 [ ℎ ] ℎ0,8
∑ℎ=ℎ𝑚á𝑥
ℎ=1 𝐼ℎ2 ℎ2 ℎ=1 𝐼
𝑃𝑃𝑇𝐻 = 𝑃𝐽 + 𝐹𝐻𝐶𝑃 𝑃𝐶𝑃 + 𝐹𝑠 𝑃𝑠 (3) 𝐹𝐻𝐶𝑃 = (4) 𝐹𝑆 = 2 (5)
∑ℎ=ℎ𝑚á𝑥
ℎ=1 𝐼ℎ2 ℎ=ℎ𝑚á𝑥 𝐼ℎ2
∑ℎ=1 [ ]
𝐼

Onde: 𝑃𝑃𝑇𝐻 - Perda de potência total do transformador sob distorção harmônica


(W); 𝑃𝐽 - Perda Joule (𝑅𝐼 2 ) sob condições nominais (W); 𝐹𝐻𝐶𝑃 - Fator de perda por correntes
parasitas sob distorção harmônica (W); 𝑃𝐶𝑃 - Perda de potência ocasionada por correntes
Carvalho e Souza
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parasitas sob condições nominais(W); 𝐹𝑠 - Fator de perdas ocasionadas por perdas
suplementares sob distorção harmônica (W); ℎ - Ordem harmônica; 𝐼ℎ - Valor eficaz da corrente
elétrica harmônica (A); e 𝐼 - Valor eficaz da corrente elétrica nominal (A).

3. Estudo de Caso
Este estudo de caso analisou o sistema elétrico apresentado na Figura 1.

Figura 1. Circuito elétrico.


Trata-se de um transformador de distribuição que está conectado ao sistema de
distribuição de alta tensão (SDAT) da concessionária de energia. De outro lado, está conectado
ao sistema de distribuição de baixa tensão (SDBT) de uma indústria e suas respectivas cargas.
O transformador possui as seguintes características: Potência de 500 kVA; Tensão primária de
13,800 V; Tensão secundária de 380 V; Perdas à vazio de 1,1 kW; Perdas em carga de 9,8 kW;
Perdas Totais de 10,9 kW.

Figura 2. Perfil de carga


Através de medições realizadas obteve-se o perfil de carga (Figura 2) e as 𝐷𝐻𝑇𝑖 𝑠 (Tabela
1). Utilizando o perfil de carga e a Equação (1), determina-se o valor das perdas no
transformador conforme o método 𝑃𝑇𝑅 .
Tabela 1. Distorção harmônica de corrente

ℎ 1 2 3 4 5 6 7 8
𝐼ℎ/𝐼 1 0,02 0,19 0,07 0,11 0,34 0,19 0,06
ℎ 9 10 11 12 13 14 15 16
𝐼ℎ/𝐼 0,02 0,09 0,05 0,10 0,02 0,01 0,01 0,03
Utilizando a Figura 2, a Tabela 1 e as Equações (2), (3), (4) e (5), espera-se observar a
influência das distorções harmônicas nas perdas deste transformador.
Carvalho e Souza
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4. Resultados e discussões

Os valores obtidos com base no equacionamento e procedimento apresentados neste


artigo podem ser observados na Figura 3.

29,00
30

20 9,96
kW

10

0
PTR PPTH
Métodos

Figura 3. Perdas no transformador.


Através desta figura é possível observar que as perdas totais no transformador, obtidas
através do método 𝑃𝑃𝑇𝐻 (29 kW), são significativamente superiores (179,57%) ao resultado
𝑃𝑇𝑅 . Isso ocorre porque o método 𝑃𝑇𝑅 considera apenas a dissipação de potência no
transformador na frequência fundamental, ao passo que o resultado 𝑃𝑃𝑇𝐻 expressa o total de
dissipação de potência no transformador até 15ª ordem harmônica de 𝐷𝐻𝑇𝑖 .

5. Conclusões
Conclui-se que o método 𝑃𝑇𝑅 possui mais praticidade ao conseguir informações para sua
realização, portanto se apresenta como o mais viável no âmbito das concessionárias de energia.
Por outro lado, apresenta um valor inferior ao método 𝑃𝑃𝑇𝐻 , o que pode acarretar prejuízos,
embora a diferença na frequência fundamental não seja tão expressiva.

Agradecimentos
Ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica da Faculdade de Engenharia de
Bauru e ao Laboratório de Sistemas de Potência e Técnicas Inteligentes (LSISPOTI) da
Universidade Estadual Paulista (UNESP).

Referências

[1] ANEEL, "PRODIST - Módulo 07 - Cálculo de Perdas na Distribuição. Brasília, DF, Brasil. 2018. Disponível
em: https://www.aneel.gov.br/.
[2] IEEE, "IEEE std C57.110-2018 - Recommended Practice for Establishing Liquid-Immersed and Dry-Type
Power and Distribution Transformer Capability When Supplying Nonsinusoidal Load Currents" New York,
2018. Disponível em https://ieeexplore-ieee-org.ez87.periodicos.capes.gov.br/document/8546832.
[3] A. C. Delaiba, J. C. de Oliveira, A. L. A. Vilaca, e J. R. Cardoso, "The effect of harmonics on power
transformers loss of life", 38th Midwest Symposium on Circuits and Systems. Proceedings, 1995, vol. 2.
[4] IEEE, "IEEE std C57.91/2011 - Guide for Loading Mineral-Oil-Immersed Transformers and Step-Voltage
Regulators". New York, 2012, Disponível em https://ieeexplore-ieee-
org.ez87.periodicos.capes.gov.br/document/8546832.
[5] Jordão, R. G. Transformadores - Teorias e Ensaios. 5ª ed. Edgard Blucher, São Paulo, SP, Brasil, 2008.

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