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Universidade Federal da Bahia

Faculdade de Educação
Disciplina: Antropologia da Educação
Profa Nanci Franco

ANÁLISE CRÍTICA

A seguir será feita uma análise crítica do texto “Etnografia de um projeto de


educação escolar indígena, idealizado por professores xavante: dilemas, conflitos e
conquistas” de Ângela Nunes. Ao discorrer sobre o texto a autora indica:

Este artigo apresenta dados etnográficos recolhidos na Aldeia Xavante Idzö´uhu,


Mato Grosso, Brasil, durante a implementação de um projeto educacional idealizado
pelos próprios índios e com base no que estes entendem ser uma educação escolar
diferenciada. A importância que as crianças têm na concepção e construção dos
projetos educacionais, o modo como vivenciam a sua aplicação e o percebem no
confronto com os demais aspectos da realidade, quer na óptica dos professores, quer
na das famílias e comunidade, são assuntos frequentemente esquecidos na discussão
institucional sobre educação escolar indígena. A etnografia pretende conduzir o
leitor por entre os meandros deste processo, dando visibilidade ao esforço
empreendido por uma comunidade na busca de soluções originais que permitam
erigir uma ponte entre o saber tradicional e as referências introduzidas pelo
crescente contacto com a sociedade não-índigena. (p. 84)

Sem dúvidas é nítido o quão delicado e necessário é a discussão sobre a educação


escolar indígena. Se tivermos o intuito de questionar e debater sobre esse tema, temos que ter
de noção prévia o perceptível impacto social e cultural em comparação com a educação
escolar não-indígena. Temos que pôr em pauta as tradições de uma determinada tribo, tanto
quanto a sua relação de proximidade com o mundo não-indígena. Por exemplo, se em uma
dada tribo não haja uma vontade de implantação de um sistema educacional, que de uma certa
forma trará proximidade com o mundo externo. Inclusive se esse sistema educacional faça
parte do plano de investimento da educação nacional. Isto é, se uma escola em uma tribo
indígena receba verba para funcionar e ter melhorias. A autora começa então trazendo o
conceito de “escola redonda”, que em tese seria a escola indígena da Aldeia Xavante Idzö´uhu
sendo construída no padrão tradicional das casas Xavante. Ângela Nunes então relata que:

Já na aldeia, soube que a construção da escola nova tinha sido precedida por acirrada
discussão com os órgãos oficiais responsáveis pelas questões indígenas e pelas
educacionais, e com a missão salesiana, que até então assumia a educação escolar. A
escola acabou por ser construída pela Prefeitura do Município, seguindo um padrão
oficial adoptado para todos os edifícios escolares no país. A Prefeitura tinha
materiais e projeto para aquele tipo de construção, não para qualquer outro. Esta era
uma das várias condições para que a escola fosse reconhecida oficialmente e
obtivesse apoio institucional: salários, material e merenda escolares, e acesso a
ações de formação. Antes deste desfecho, os professores propuseram uma solução
intermédia: uma casinha de tijolo, mas redonda e sem paredes. Só que para isso era
preciso um projeto de arquitetura/engenharia aprovado pela Prefeitura e pelo MEC,
e financiamento para uma construção diferente. E os Xavante não conseguiram nem
uma coisa, nem outra. (p. 85)

Contudo, com o desenvolver da discussão o cacique, os anciões da tribo e


professores começaram a considerar as vantagens da escola nova. Uma escola na qual se teria
uma condição viável para guardar livros e materiais escolares, “as crianças poderiam
vivenciar um outro tipo de casa, os visitantes teriam condições de alojamento mais próximas
às que estão habituados na cidade. (p. 86)”. Tornou-se de suma importância conseguir o apoio
da Prefeitura, possuir reconhecimento oficial para o que for feito na escola e garantir o salário
dos professores. Infelizmente não se chegou a um consenso e devido a pressões externas e
conflitos internos, a nova escola acabou por ser construída segundo o padrão oficial.

No próximo capítulo a autora faz um relato sobre o ritual da tribo Xavante com
carvão. Na qual as crianças utilizavam uma mistura de cuspe e carvão para se pintar, e
inclusive se pintar umas às outras. Após esse processo, eles desciam para se banhar no rio
próximo a Aldeia Xavante. O professor Rômulo, que é um dos professores do relato
educacional da tribo Xavante, também acabou realizando o ritual. A autora se refere também
ao ritual como “enfarruscado” ou “caras enfarruscadas”.

Quando me aproximo vejo que as crianças desfazem entre as mãos pedacinhos de


carvão recolhidos nas fogueiras da noite anterior, cospem para misturar o pó preto
com saliva, e esfregando as palmas, fazem uma pasta cremosa. Rómulo pára em
frente de uma casa, um dos meninos entra nela e sai pouco depois. Todos aguardam
silenciosamente até que aparece à porta um menino com cara de quem acabou de
acordar. As demais crianças dirigem-se a ele e começam a esfregar-lhe as mãos no
rosto. Ensonado, o menino demora uns instantes até reagir, mais a proteger-se do
que a revidar. (p. 88)

Outro ponto marcante no texto foi também sobre os horários. Foi demonstrada uma
certa dificuldade em conseguir garantir uma certa pontualidade por parte dos alunos. Acerca
desse tópico, Ângela Nunes considera que:

Há questões básicas que ainda não foram resolvidas, como por exemplo, organizar
um calendário e um horário escolares que, para além de garantir que se cumpram as
exigências da educação escolar oficial, considere a participação das crianças nas
atividades domésticas e produtivas, do dia-a-dia ou sazonais, pois esta participação
tem importância fundamental nestas sociedades, em termos educativos, económicos,
sociais e culturais. A escola não só não pertence à sua cultura de origem, como
também a tem comprimido, tomando-lhe espaço e atenção, ameaçando, nesse
sentido, assimilá-la. Ainda que supostamente diferenciada, é a escola, como
instituição universal e homogeneizadora que tende a prevalecer. (p. 106)
Obviamente não podemos dizer que haja uma “perfeição” nessa implementação de
escolas indígenas, mas não é algo simples e precisa ser muito trabalhado e discutido. Sem
deixar de incluir educacionalmente a população de tribos indígenas.
REFERÊNCIAS

NUNES, Ângela. ETNOGRAFIA DE UM PROJETO DE EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA,


IDEALIZADO POR PROFESSORES XAVANTE: dilemas, conflitos e conquistas. Currículo sem Fronteiras,
v.10, n.1, pp.84-112, Jan/Jun 2010. Portugal.

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