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PONTA PORÃ- MS
2022
ELLEN MOURA ELY
PONTA PORÃ- MS
2022
ATA DE DEFESA DE TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
Aos oito dias do mês de Junho do ano de 2022, foi apresentado por Ellen Moura Ely, para a banca
examinadora do Instituto Federal de Mato Grosso do Sul Campus Ponta Porã, o Trabalho de Conclusão
de Curso intitulado "IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DA ASTRONOMIA INDÍGENA BRASILEIRA KAIOWÁ
NO ESPAÇO ACADÉMICO" como exigência parcial para obtenção do Título de curso técnico- informática,
tendo como nota final 9.7 e sendo considerado APROVADA. Nada mais havendo a tratar, deu-se por
encerrado o trabalho e lavrou-se esta ata que vai assinada pelos membros da Banca.
BANCA EXAMINADORA
Helenice Serikaku
IFMS-Campus Ponta Porã
12 docente convidado
Este documento foi emitido pelo SUAP em 20/06/2022. Para comprovar sua autenticidade, faça a leitura do QRCode ao lado
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1 INTRODUÇÃO. ....................................................................................................... 7
1.1 MATERIAIS E MÉTODOS.................................................................................... 8
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .................................................................................. 10
2.1 ASTRONOMIA .................................................................................................... 10
2.2 ETNOASTRONOMIA .......................................................................................... 12
2.3. CONSTELAÇÕES INDÍGENAS GUARANI ........................................................ 13
2.4 POVOS INDÍGENAS KAIOWÁ ............................................................................ 17
2.5 ASTRONOMIA KAIOWÁ .................................................................................... 20
3 TEMÁTICA INDÍGENA NO COMPONENTE CURRICULAR. .............................. 26
3.1 IMPORTÂNCIA DO APRENDIZADO. ................................................................ 27
4 COMO APRESENTAR O CONTEÚDO EM SALA DE AULA ............................. 29
4.1 PROPOSTA PEDAGÓGICA. ............................................................................. 29
5 CONSIDERACOES FINAIS .................................................................................. 31
6 REFERÊNCIAS...................................................................................................... 32
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1 INTRODUÇÃO
Houve uma evolução do conceito de astronomia desde quando ela começou a
ser estudada, este trabalhotraz o conceito da Astronomia na perspectiva ocidental
europeia de base greco romana para o melhor entendimento da diferença entre a
astronomia ensinadaem sala de aula e a astronomia indígena.
O Brasil, em virtude do processo de colonização, teve sua cultura influenciada
pelos indígenas, africanos e matrizes europeias, com destaque para a portuguesa,
devido ao fato de terem sido os principais colonizadores do Brasil. Assim como
consequência dessa colonização, muitos dos brasileiros acabaram influenciadospelas
raízes europeias, como vestígios das imposições culturais ocorridas pela colonização
(BESSA FREIRE, 2010). Um exemplo disso é o conceito da astronomia estudado
dentro das salas de aula.
Essa ciência, a Astronomia, é responsável pelo estudo do Universo, originou-
se a partir da observação dos astros e de seu efeito no cotidiano do ser humano, pois
desde a pré-história vem utilizando o conhecimento astronômico acumulado durante
o tempo para desenvolver as atividades humanas. No início, o conhecimento
astronômico estava baseado essencialmente na observação dos astros e fenômenos
visíveis a olho nu, e se misturavam ao senso comum, à religião e às lendas, pois vários
povos acreditavam que esses astros eram deuses e os fenômenos originados por eles
dependiam do seu humor ou vontade. (OLIMPIA, s.d.).
Durante a história da astronomia, estudamos que os povos antigos acreditavam
ser o céu um sinônimo de uma divindade muito poderosa, suprema, geralmente
criadora de tudo o que existe. Nos saberes indígenas brasileiros, isso não é diferente,
e o céu se trata da divindade mais importante do panteão: Tupã, que é chamado pelos
tupi- guaranis de “O Espírito do Trovão”. É válido observar, Tupã não apenas o criador
dos céus, como também da terra e dos mares, e até mesmo do mundo animal e
vegetal. (VIEIRA, 2020).
Os povos indígenas brasileiros estudam a astronomia relacionando-a com
mitologia, cosmologia e cosmogonia de cada povo, e flutuações sazonais.
Cosmogonias foram construídas por inúmeras civilizações antigas, as quais
interpretavam os astros como divindades, criando as primeiras constelações a partir
dos astros que pontuam e cruzam o céu (AFONSO e NADAL, 2013).
Com o passar do tempo a astronomia se afastou do senso comum e das
religiões, desenvolvendo-se a partir da incorporação de novos conhecimentos obtidos
a partir da interação com outras ciências. E o saciar da curiosidade inerente à espécie
humana de entender o universo, produz também conhecimento básico para a
descoberta de tecnologias e serviços essenciais em nosso dia a dia. (OLIMPIA, s.d.).
Desde muito tempo, a astronomia vem auxiliando os povos indígenas no
planejamento do melhor momento para plantar, caçar, pescar e até para engravidar.
Afinal, se uma criança nascesse no inverno, teria poucas chances de vencer as
adversidades climáticas. "O conhecimento indígena sobre o movimento dos astros, as
fases da lua e sobre as constelações é muito semelhante à astronomia de culturas
antigas, ágrafas, que faziam do céu o esteio de seu cotidiano, tais como os sumérios
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2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Nessa sessão serão apresentados os conceitos de astronomia na perspectiva
ocidental europeia de base grego-romana, etnoastronomia e astronomia indígena
guarani kaiowá.
2.1 ASTRONOMIA
A Astronomia é, na sua essência, a ciência da observação dos astros. Seu
objetivo é situá-los no espaço e no tempo, explicar os seus movimentos e as suas
origens, descobrir a sua natureza e as suas características. (MOURÃO, 1997, p. 22).
Ainda sobre a astronomia, é importante destacar sua consideração como
ciência multidisciplinar, responsável por estudar uma grande variedade de corpos
celestes e fenômenos ocorridos fora da Terra. Ela estuda a Lua, o Sol, os planetas do
Sistema Solar, cometas, galáxias, nebulosas, entre outros. Ela é dividida em
diferentes áreas de estudo: Astrofísica, cosmologia, astronomia planetária e
astrobiologia. (HELERBROCK, 2013)
A história da astronomia começou milhares de anos atrás, quando as primeiras
civilizações precisaram observar o céu para saber quando era o momento certo para
o plantio e a colheita. Outros povos, como maias, chineses, egípcios e babilônios
também usaram a astronomia para elaborar seus primeiros calendários, baseando-se
na posição do Sol. Sobre esse assunto, estima-se atualmente a quantidade de cerca
de quarenta calendários em uso pelo mundo. Os mais conhecidos são: o gregoriano,
o hebraico, o islâmico, o indiano, o chinês, o persa, o baha’í20 (utilizado na religião
monoteísta Fé Bahá'í), o etíope e o recente calendário ISO21. Também há alguns
calendários antigos bastante conhecidos, mas não mais em uso, como o juliano, o
revolucionário francês, o maia, e o antigo calendário hindu. (JUNIOR, 2012). Esse
conhecimento de astronomia foi obtido por anos de elaborações de teorias
desenvolvidos por muitos cientistas e filósofos famosos.
Muitos filósofos gregos elaboraram modelos com o intuito de explicar o formato
da Terra, as estações do ano, bem como os movimentos do Sol, da Lua e dos outros
planetas visíveis a olho nu. Um desses filósofos foi Tales de Mileto (624-546 a.C.),
que considerava a Terra um disco plano preenchido por água. Pitágoras de Samos
(572-479 a.C.), por sua vez, acreditava que a Terra apresentava formato esférico.
(JUNIOR, 2012)
Já Aristóteles de Estagira (384-322 a.C.) explicou sobre as fases da Lua e
percebeu a dependência da iluminação solar ao observar a formação de sombras
durante os eclipses. Também defendia a hipótese onde o Universo fosse finito e
esférico e o conjunto com os astros, fosse imutável: sempre existira e sempre existiria.
A visão de Aristóteles do sistema solar era qualitativa, pois usava de poucos recursos
matemáticos para justificar seu modelo. Sua interpretação logo tornou-se aceita,
acolhida e difundida por séculos, contribuindo para a propagação de conceitos físicos
e astronômicos equivocados. Durante o período que vai desde o século IV a.C., até o
século XVI d.C., as ideias filosóficas de Aristóteles permaneceram como os únicos
pensamentos sistemáticos formulados a respeito dos fenômenos físicos e da estrutura
do Universo. (PORTO & PORTO).
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Com essa breve história podemos notar o progresso científico feito ao longo dos
séculos desde que o ser humano passou a observar o céu noturno. Profundas
mudanças tecnológicas e sociais foram possíveis graças às grandes descobertas da
Astronomia.
2.2 ETNOASTRONOMIA
A etnoastronomia investiga o conhecimento astronômico de povos tradicionais
atuais, ou seja, “grupos étnicos ou culturais contemporâneos” (AFONSO, 2010),
principalmente por meio de registros etnográficos e relatos de tradições orais.
Caracteriza-se como uma atividade transdisciplinar por envolver, além dos
conhecimentos astronômicos, os de antropologia. O Brasil apresenta um grande
potencial a ser explorado, pela amplitude e diversidade étnica do país (AFONSO,
2006a; 2006b).
Desde muitos anos atrás, diferentes povos possuíam a prática de observar o céu,
uma das maiores fontes de curiosidade da humanidade. E, com o passar dos anos,
foi se desvendando alguns de seus mistérios. Foram aos poucos entendendo que o
céu como uma ferramenta cotidiana, através dele conseguiam: se orientar
geograficamente, prever estações do ano, utilizar o céu para marcar o tempo, construir
seus calendários e relógios, etc.
Durante esse observar o homem desenhou no céu, utilizando estrelas e
manchas visíveis. Hoje chamamos esses desenhos de constelações, e cada cultura
ou sociedade diferente representaram no céu seus próprios desenhos. Esses
desenhos representam personagens e histórias próprias de cada cultura especifica,
estão intimamente ligados com a construção social de cada sociedade. (PSCHEIDT,
2014)
A localização no planeta também interfere na criação das constelações pois o
céu visível depende de onde se olha, por exemplo: o cruzeiro do sul é facilmente
visível para povos do sul do planeta, mas não é visível para povos do extremo norte,
logo, seria impossível que os povos nórdicos, por exemplo, criassem uma constelação
utilizando essas estrelas, já os indígenas aqui no Brasil utilizaram algumas das
estrelas dessa região para compor sua constelação chamada Ema.
Em relação à constelação da Ema, d’Abbeville relatou: “Os Tupinambá
conhecem uma constelação denominada Iandutim, ou Avestruz Branca, formada de
estrelas muito grandes e brilhantes, algumas das quais representam um bico. Dizem
os maranhenses que ela procura devorar duas outras estrelas próximas e as quais
denominam uirá-upiá”. Ele chamou de Avestruz Branca a constelação da Ema, no
entanto, a avestruz (Struthio Camelus Australis) não é uma ave brasileira. A ema
parece com a avestruz, mas é menor e de família diferente. (AFONSO, 2013)
Na segunda quinzena de junho, quando a Ema (Guirá Nhandu, em guarani)
surge totalmente ao anoitecer, no lado leste, indica o início do inverno para os
indígenas do sul do Brasil e o início da estação seca para os indígenas do norte do
Brasil.
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são líderes políticos, como caciques e Ñanderu (líder religioso), nessa ocasião cantam
e dançam, com a importante função de articular a etnia como um todo e levar seus
participantes à conscientização da ameaça em relação a sua identidade étnica.
(WENCESLAU, 1994)
Para além do tekohá, há um lugar da imortalidade, a chamada Terra Sem Mal,
yvy marã ey, espaço onde a condição humana é abandonada, e o homem pode
realizar a condição de um deus. Esse espaço transcende a um modo geográfico,
situando-se num mundo figurado, fenomênico ecológico. (PEREIRA, 1995)
Quanto à cultura material dos Guarani Kaiowá, um dos mais imponentes
símbolos, de acordo com Schaden (1974, p.26), é a casa grande. Uma construção
típica de numerosas outras tribos do grupo Tupi-Guarani. A respeito desse tipo de
construção, o autor registra: “Do ponto de vista arquitetônico, duas são as
características essenciais da casa grande dos Kaiowá: a falta de separação ou divisão
entre cobertura e paredes e, em segundo lugar, a ausência de suporte para a linha
central da cumeeira”. (TAVARES, 2015)
Em seu sistema de crenças, os povos guaranis possuem elementos que se
distinguem das crenças da maioria da população do país. A ‘religião’ desse grupo está
fundamentada na ‘palavra’, cujo termo em guarani (ñe’e, ayvu e ã) pode significar
também voz, fala, linguagem, idioma, alma, nome, vida, personalidade e origem. Esta
palavra está presente no sujeito desde o nascimento. A gravidez, para os indígenas,
é entendida como resultado de um sonho e, ao nascer, o corpo da criança é possuído
pela ‘palavra’ (oñemboapyka) responsável por dar a vida a essa criança e a torna
humana. Esta mesma palavra é ‘invocada’ ao se nomear uma criança, e isto
determinará a sua personalidade e a identificação com o grupo familiar. A palavra
também teria o poder de ‘restaurar a vida’ de uma pessoa doente (restaurar lhe a
palavra). Os males e doenças são resultados da não verbalização dos sentimentos
que nos perturbam (MELIÁ, 2011).
Os Guarani Kaiowá têm como base de sua organização social, econômica e
política, a família extensa, isto é, grupos macro familiares que detêm formas de
organização da ocupação espacial dentro dos tekoha determinada por relações de
afinidade e consanguinidade. É composta pelo casal, filhos, genros, netos, irmãos e
constitui uma unidade de produção e consumo. (IFA, 2011)
A cada família extensa corresponderá, como condição para sua existência,
uma liderança, em geral um homem que denominam Tamõi (avô), não sendo raro,
contudo, a existência de líder de família extensa mulher, que denominam Jari (avó).
O líder familiar aglutina parentes e os orienta política e religiosamente. Cabe-lhe
também as decisões sobre o espaço ocupado no tekoha e onde as famílias nucleares
(pais e filhos) pertencentes a seu grupo familiar distribuem suas habitações, plantam
suas roças e utilizam os recursos naturais disponíveis. As famílias nucleares hoje em
dia vivem em habitações isoladas e dispersas pela área disponível no tekoha,
referidas, porém, à casa e presença do tamõi ou jari. Sua casa é um local centralizador
e ao redor da qual movimenta-se toda a família, onde as pessoas se reúnem e onde
20
haverá um altar (mba’e marangatu) para os jeroky, que são rituais sagrados praticados
no cotidiano. (IFA, 2011)
A cerimônia em si, dirigida por um líder religioso, tem início ao cair do sol e
finda na aurora do dia seguinte. Esse xamã deve conhecer o mborahéi puku ou “canto
comprido”, cujos versos, não se repetem e não podem ser interrompidos depois de
iniciada a cerimônia. A cada verso entoado pelo ñanderu a comunidade o repete,
sempre acompanhados pelos mbaraka confeccionado e usado por homens e os
takuapu usados por mulheres. Ao amanhecer, terminado o mborahéi puku (canto
comprido), há o batismo da colheita (mandioca, cana, abóbora, batata doce, milho
etc.), que permaneceu depositada no altar. Na noite seguinte a cerimônia do avati kyry
continua com cantos e danças mais profanos, os kotyhu e os guahu, por toda a
comunidade e por muitas visitas que participam da cerimônia. (IFA, 2011)
2.5 ASTRONOMIA KAIOWÁ
“Diferentes entre si, os grupos indígenas tiveram em comum a
necessidade de sistematizar o acesso a um rico e variado
ecossistema de que sempre consideram parte. Mas não bastava
saber onde e como obter alimentos. Era preciso definir também
a época apropriada para cada uma das atividades de
subsistência. Esse calendário era obtido pela leitura do céu. Há
registros escritos sobre uma ligação com os astros desde a
chegada dos europeus ao Brasil, mas é possível que se
utilizassem desse conhecimento desde que deixaram de ser
nômades.” (AFONSO; SILVA, 2012, p. 05)
A terra é concebida pelos Kaiowá como uma esfera plana situada entre dezoito
patamares superiores e seis patamares inferiores. Ela está sustentada por sete xiru
(cruzes) ou kurusu hopita. Cada xiru é preservado por um ñãdejara. Portanto, a estes
cabe zelar pela sustentação da terra, ou seja, garantir aos xiru hopita mantenham-se
em pé, evitando sua nova destruição. Estes ñãndejara também são os responsáveis
por enviar e zelar pelos xãmas kaiowá a terra, corresponsáveis pela manutenção
desta sustentação. (VIETTA, 2007)
cabeça), o adorno ritual. Criou também a terra, a qual então tinha o formato de uma
rodela, estendendo-a até a forma atual; levantou também o céu e as matas. Viveu
sobre a terra por pouco tempo, até ser ocupada pelos homens, deixando-a, sem
morrer, por um desentendimento com a mulher. Tomado de profunda raiva causada
por ciúmes, quase chegou a destruir sua própria criação, sendo impedido, contudo,
por Ñande Jari com a entoação do primeiro canto sagrado realizado sobre a terra,
tomando como acompanhamento o takuapu: instrumento feminino, feito de taquara,
com aproximadamente 1,10m. Quando golpeado no solo produz um som surdo e
acompanha os Mbaraka masculinos, espécie de chocalho de cabaça e sementes
específicas. (AN, 2014)
O primeiro mundo não era perfeito, possuía sua base feita de caule de milho,
os guarani kaiowá falam que esse mundo foi um experimento de Ñamandu e após o
terremoto ele foi destruído ou se desdobrou, refazendo-se com novas bases, agora
de pedra. Após o terremoto não ficou ninguém no mundo, todos conseguiram alcançar
a Terra sem mal (yvy maraey), o lugar perfeito, a morada de Ñamandu, com seus
corpos e suas almas. Ñamandu envia então, dois casais para a nova terra (LADEIRA,
2007).
Segundo o autor, o filho de Ñamandu, isto é, Ñande Ru Paven (“Nosso Pai de
Todos”) e sua esposa Ñande Sy (“Nossa Mãe”), ficaram responsáveis pela divisão
política da terra e o assentamento dos diferentes povos em seus respectivos
territórios, criando montanhas para delimitar o território guarani. Ñande Ru Paven
roubou o fogo dos corvos e o entregou aos homens; criou a flauta sagrada (mimby
apyka) e o tabaco (petÿ) para os rituais e foi o primeiro a morrer na terra. E, da mesma
forma seu pai, decidiu abandonar a terra em função de um desentendimento com sua
esposa que estava grávida de gêmeos. (AN, 2014)
Assim, Ñande Sy saiu em busca de seu marido e com freqüência perguntava
ao filho, que ainda não havia nascido, qual era o caminho a ser seguido. Pa’i Kuara,
filho de Ñande Sy e Ñande Ru Paven, chegou a indicar um caminho errado para sua
mãe pois ela lhe havia negado uma flor para brincar durante o percurso. Ñande Sy
chegou à morada dos Jaguarete ou “os verdadeiramente selvagens” (as onças). O
avô destes seres ferozes tentou em vão salvar a vida da mulher. Seus filhos, ao
voltarem famintos pelo fracasso da caça, mataram Ñande Sy, deixando vivos apenas
os pequenos gêmeos. Estes, depois de grandes, encontraram com o “papagaio do
bom falar” (parakau ñe’ëngatu) e perguntaram da morte da mãe. Resolveram vingá-
la. Pa’i Kuara e seu irmão menor Jacy prepararam armadilha na qual morreram todos
os jaguarete, menos uma grávida, razão pela qual os jaguarete (onças)
permaneceram no mundo. (IFA, 2011)
Em razão disso, segundo o autor, nosso Pa’i fez um riacho sobre o qual lançou
uma· ponte e jogou cascas de árvore na água. Daí nasceram os habitantes da água:
as serpentes, as grandes lontras, as pequepas lontras, os boas-jaguares, todos os
animais destinados a devorar os Seres originários, as mulheres. Mandou Lua
atravessar o riacho, para assim guardar a extremidade da ponte. (CLASTRES, 1990,
p. 68-69).
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao término desta pesquisa, percebe-se ser a astronomia kaiowá muito diferente
daquela estudada em sala de aula, como por exemplo a visão da terra para os kaiowá,
ela é vista como uma esfera situada entre dezoito patamares superiores e seis
patamares inferiores. A criação da terra é outro ponto onde o grupo indígena kaiowá
se destaca, a história do Ñamandu e sua esposa é única e diferenciada das demais.
Com isso, foi possível notar a importância da inclusão da astronomia indígena
brasileira kaiowá dentro da sala de aula, principalmente porque trará aos alunos o
conhecimento de suas origens brasileiras e o conceito de que não existe apenas um
tipo de astronomia a ser estudada. O objetivo do trabalho foi demosntrar a importância
do aprendizado astronômico indígena kaiowá na sala de aula e mostrar diversas
formas que os professores podem abordar esse assunto em suas aulas.
Então, pôde-se observar a possibilidade de incluir este tema em sala de aula
seguindo as normas da BNCC sem alterar o cronograma pedagógico e sem
sobrecarregar tanto os alunos como os professores. Tendo em vista a pesquisa
realizada e todos os conceitos apresentados, ressaltamos a importância de
observamos com olhares mais atentos as diferentes visões de mundo existentes entre
os grupos indígenas do Brasil e inclui-las em nossa bagagem cultural.
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6 REFERÊNCIAS
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