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INSTITUTO FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL

ELLEN MOURA ELY

IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DA ASTRONOMIA INDÍGENA BRASILEIRA KAIOWÁ


NO ESPAÇO ACADÊMICO

PONTA PORÃ- MS
2022
ELLEN MOURA ELY

IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DA ASTRONOMIA INDÍGENA BRASILEIRA KAIOWÁ


NO ESPAÇO ACADÊMICO: INCLUSÃO NA GRADE CURRICULAR
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado à Banca Examinadora do
Instituto Federal de Mato Grosso do sul/
Campus Ponta Porã, como exigência para
obtenção do certificado de curso técnico-
informática, sob a orientação da professora
Marilene da Silva Ribeiro.

PONTA PORÃ- MS
2022
ATA DE DEFESA DE TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

Aos oito dias do mês de Junho do ano de 2022, foi apresentado por Ellen Moura Ely, para a banca
examinadora do Instituto Federal de Mato Grosso do Sul Campus Ponta Porã, o Trabalho de Conclusão
de Curso intitulado "IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DA ASTRONOMIA INDÍGENA BRASILEIRA KAIOWÁ
NO ESPAÇO ACADÉMICO" como exigência parcial para obtenção do Título de curso técnico- informática,
tendo como nota final 9.7 e sendo considerado APROVADA. Nada mais havendo a tratar, deu-se por
encerrado o trabalho e lavrou-se esta ata que vai assinada pelos membros da Banca.

Ponta Porã, 20 de Junho de 2022.

BANCA EXAMINADORA

Marilene da Silva Ribeiro


IFMS-Campus Ponta Porã
Orientador(a)

Helenice Serikaku
IFMS-Campus Ponta Porã
12 docente convidado

Rogério Cardoso Batista


IFMS-Campus Ponta
Porã 22 docente
convidado

Documento assinado eletronicamente por:


• Marilene da Silva Ribeiro, PROFESSOR ENS BASICO TECN TECNOLOGICO, em 21/06/2022
• Rogerio Cardoso Batista, PROFESSOR ENS BASICO TECN TECNOLOGICO, em 21/06/2022
• Helenice Serikaku, PROFESSOR ENS BASICO TECN TECNOLOGICO, em 20/06/2022

Este documento foi emitido pelo SUAP em 20/06/2022. Para comprovar sua autenticidade, faça a leitura do QRCode ao lado
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RESUMO
Este trabalho tem como objetivo abordar a importância do aprendizado da astronomia
indígena brasileira guarani kaiowá. Pois, no Brasil, o conhecimento dos céus provém
da tradição acadêmica do hemisfério norte, principalmente da Europa ocidental. No
entanto, devido à grande diversidade étnica existente no país, podemos ponderar que
o Brasil possui incontáveis céus. Com a escassez de pesquisas sobre este tema e
ausência dentro das salas de aulas, muitos brasileiros passam a vida inteira sem
conhecimento sobre a cultura e os saberes indígenas, mais especificamente o guarani
kaiowá. Os indígenas guarani kaiowá vivem na região do Mato Grosso do Sul e há
muito lutam por direitos aos seus territórios sagrados. Assim faz-se necessário cada
vez mais divulgação de seus conhecimentos, como umas das formas de compreensão
das necessidades desses territórios para essas culturas. Tradicionalmente esses
povos utilizam da oralidade, passadas de geração em geração através de músicas e
orações. Assim, este trabalho visa salientar a importância do conhecimento
astronômico kaiowá dentro dasala de aula. Como suporte teórico para a realização
deste trabalho fez-se uso dos conceitos da etnoastronomia e astronomia indígena
brasileiraguarani kaiowá.
Palavras-chave: Indígena. Etnoastronomia. Cultura Kaiowá.
ABSTRACT
This work aims to address the importance of learning Brazilian Guarani Kaiowá
indigenous astronomy. In Brazil, knowledge of the skies comes from the academic
tradition of the northern hemisphere, mainly from western Europe. However, due to the
great ethnic diversity existing in the country, we can consider that Brazil has countless
skies. And with the scarcity of research on this topic and absence of it within the
classroms, many Brazilians spend their entire lives without knowledge of indigenous
culture and knowledge, more specifically the Guarani Kaiowá. The Guarani Kaiowá
indigenous people live in the region of Mato Grosso do Sul and have long fought for
rights to their sacred territories. Thus, it is increasingly necessary to propagate their
knowledge, as one of the ways of understanding the needs of these territories and their
cultures. Traditionally these peoples use orality, passed from generation to generation
through songs and prayers. Thus, this work aims to demonstrate the importance of the
kaiowá astronomy in the classroom. As theoretical support for the accomplishment of
this work, the concepts of ethnoastronomy and Brazilian indigenous astronomy
Guarani Kaiowá were used.
Key words: Indigenous. Ethnoastronomy. Kaiowá Culture.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1- Constelação da Ema ................................................................................................................12
Figura 2- Constelação da Anta do Norte ................................................................................................14
Figura 3- Constelação do Homem velho ................................................................................................15
Figura 4- Constelação do Veado.............................................................................................................15
Figura 5- Touro e Órion- cultura estelar ocidental .................................................................................15
Figura 6- Eixu ..........................................................................................................................................15
Figura 7-Cruzeiro do Sul .........................................................................................................................25
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO. ....................................................................................................... 7
1.1 MATERIAIS E MÉTODOS.................................................................................... 8
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .................................................................................. 10
2.1 ASTRONOMIA .................................................................................................... 10
2.2 ETNOASTRONOMIA .......................................................................................... 12
2.3. CONSTELAÇÕES INDÍGENAS GUARANI ........................................................ 13
2.4 POVOS INDÍGENAS KAIOWÁ ............................................................................ 17
2.5 ASTRONOMIA KAIOWÁ .................................................................................... 20
3 TEMÁTICA INDÍGENA NO COMPONENTE CURRICULAR. .............................. 26
3.1 IMPORTÂNCIA DO APRENDIZADO. ................................................................ 27
4 COMO APRESENTAR O CONTEÚDO EM SALA DE AULA ............................. 29
4.1 PROPOSTA PEDAGÓGICA. ............................................................................. 29
5 CONSIDERACOES FINAIS .................................................................................. 31
6 REFERÊNCIAS...................................................................................................... 32
7

1 INTRODUÇÃO
Houve uma evolução do conceito de astronomia desde quando ela começou a
ser estudada, este trabalhotraz o conceito da Astronomia na perspectiva ocidental
europeia de base greco romana para o melhor entendimento da diferença entre a
astronomia ensinadaem sala de aula e a astronomia indígena.
O Brasil, em virtude do processo de colonização, teve sua cultura influenciada
pelos indígenas, africanos e matrizes europeias, com destaque para a portuguesa,
devido ao fato de terem sido os principais colonizadores do Brasil. Assim como
consequência dessa colonização, muitos dos brasileiros acabaram influenciadospelas
raízes europeias, como vestígios das imposições culturais ocorridas pela colonização
(BESSA FREIRE, 2010). Um exemplo disso é o conceito da astronomia estudado
dentro das salas de aula.
Essa ciência, a Astronomia, é responsável pelo estudo do Universo, originou-
se a partir da observação dos astros e de seu efeito no cotidiano do ser humano, pois
desde a pré-história vem utilizando o conhecimento astronômico acumulado durante
o tempo para desenvolver as atividades humanas. No início, o conhecimento
astronômico estava baseado essencialmente na observação dos astros e fenômenos
visíveis a olho nu, e se misturavam ao senso comum, à religião e às lendas, pois vários
povos acreditavam que esses astros eram deuses e os fenômenos originados por eles
dependiam do seu humor ou vontade. (OLIMPIA, s.d.).
Durante a história da astronomia, estudamos que os povos antigos acreditavam
ser o céu um sinônimo de uma divindade muito poderosa, suprema, geralmente
criadora de tudo o que existe. Nos saberes indígenas brasileiros, isso não é diferente,
e o céu se trata da divindade mais importante do panteão: Tupã, que é chamado pelos
tupi- guaranis de “O Espírito do Trovão”. É válido observar, Tupã não apenas o criador
dos céus, como também da terra e dos mares, e até mesmo do mundo animal e
vegetal. (VIEIRA, 2020).
Os povos indígenas brasileiros estudam a astronomia relacionando-a com
mitologia, cosmologia e cosmogonia de cada povo, e flutuações sazonais.
Cosmogonias foram construídas por inúmeras civilizações antigas, as quais
interpretavam os astros como divindades, criando as primeiras constelações a partir
dos astros que pontuam e cruzam o céu (AFONSO e NADAL, 2013).
Com o passar do tempo a astronomia se afastou do senso comum e das
religiões, desenvolvendo-se a partir da incorporação de novos conhecimentos obtidos
a partir da interação com outras ciências. E o saciar da curiosidade inerente à espécie
humana de entender o universo, produz também conhecimento básico para a
descoberta de tecnologias e serviços essenciais em nosso dia a dia. (OLIMPIA, s.d.).
Desde muito tempo, a astronomia vem auxiliando os povos indígenas no
planejamento do melhor momento para plantar, caçar, pescar e até para engravidar.
Afinal, se uma criança nascesse no inverno, teria poucas chances de vencer as
adversidades climáticas. "O conhecimento indígena sobre o movimento dos astros, as
fases da lua e sobre as constelações é muito semelhante à astronomia de culturas
antigas, ágrafas, que faziam do céu o esteio de seu cotidiano, tais como os sumérios
8

e os egípcios, antes de criarem seus sistemas de escrita", conta Germano Bruno


Afonso, físico e etnoastrônomo do Museu da Amazônia.
Dentre essas, acredita-se a astronomia indígena sendo uma das mais antigas
das ciências. Pois, essa auxiliava até mesmo na forma como os povos antigos
orientavam o próprio cotidiano, construindo calendários a partir do movimento do sol,
da lua e das constelações. Seu estudo é de grande importância na grade curricular. A
BNCC (Base Nacional Comun Curricular) trata a questão da temática indígena no
componente curricular História no Ensino Médio. Interesse justificado pela vigência da
Lei 11.645/08, responsável pela alteração do Artigo 26-A da LDBEN (Lei de Diretrizes
e Bases da Educação Nacional) tornando “obrigatório o estudo da história e culturaafro-
brasileira e indígena” ao longo do processo de escolarização de nível básico. Dessa
maneira, percebe-se como a cultura indígena aparece no documento base de
orientação curricular em todo o país, na primeira e na segunda versão, tendo em
perspectiva a diversidade cultural indígena existente no Brasil.
Desta forma, o foco deste trabalho será a astronomia referente ao grupo
indígena Guarani Kaiowá. Para eles, animais e deuses estiveram na terra muito antes
dos humanos. Esses deuses se conectam por caminhos ligando planetas organizados
em diferentes sistemas, no qual refugiam outros grupos de deuses. Eles estão
conectados por portais com o sistema onde está localizado a terra. Apenas os xamã
podem percorrer e visitar estes caminhos. Com isso, eles conectam o tempo atual à
um passado imemorial, de tal modo onde os xamãs são caminhantes do tempo e
portadores da história. (CRESPE, 2019)
Mesmo sendo natural acompanhar a trilha do conhecimento a partir de nossas
raízes intelectuais europeias, a exclusão das visões científicas de outros povos nos
nega a percepção da existência de várias “ciências”, e de diferentes esquematizações
do mundo natural. Portanto, nos priva de concluir ser uma ciência de processo não
linear, produto dinâmico sociocultural (DUSCHL, 1994). Precisamos ultrapassar a
visão eurocêntrica do mundo, incluindo novos sentidos e significados para os saberes
transmitidos para nós ao longo da história do Brasil, partindo dos saberes indígenas
em diferentes áreas.
Assim, o objetivo principal deste trabalho é mostrar como a astronomia indígena
brasileira kaiowá é importante no desenvolvimento da cultura do país, mais
especificamente no Mato Grosso do Sul. E como seu conteúdo nas salas de aulas
poderá agregar ao currículo formal das escolas e a formação integral dos estudantes,
valorizando e identificando suas origens. Ainda, será realizada uma ação pedagógica
para o ensino fundamental II, onde incluirá um plano de aula com uma lista de
materiais para auxiliar o professor no ensino da astronomia indígena brasileira.
1.1 MATERIAL E MÉTODOS
O método de desenvolvimento descritivo neste trabalho parte dos conceitos
investigativos da etnoastronomia, estudo da astronomia por diferentes culturas. É uma
pesquisa descritiva e etnográfica. Utilizando-se de informações a partir de diferentes
materiais bibliográficos já publicados, como livros, artigos e materiais historiográficos.
Esses conhecimentos foram passados de geração para geração de forma oral, por
meio de atividades cotidianas. (JALLES et al, 2013).
9

O trabalho se desenvolverá com base no uso da astronomia pelos indígenas


guarani kaiowá no dia-a-dia, como eles utilizavam os astros e os fenômenos do
espaço em seu favor, como a flora, fauna e saberes locais e com o estudo das
constelações.
Devemos ressaltar o valor pedagógico do ensino da astronomia indígena para
os alunos do ensino fundamental e médio de todo Brasil, por se tratar de uma
astronomia baseada em elementos sensoriais (como por exemplo, as Plêiades e a Via
Láctea), e não em elementos abstratos. Podemos também fazer a alusão de
elementos da nossa natureza (sobretudo fauna e flora) e história, promovendo
autoestima e valorização dos saberes antigos, salientando as diferentes
interpretações da mesma região do céu, feitas por diversas culturas, auxiliam na
compreensão das diversidades culturais (AFONSO, 2009, p. 04).
10

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Nessa sessão serão apresentados os conceitos de astronomia na perspectiva
ocidental europeia de base grego-romana, etnoastronomia e astronomia indígena
guarani kaiowá.
2.1 ASTRONOMIA
A Astronomia é, na sua essência, a ciência da observação dos astros. Seu
objetivo é situá-los no espaço e no tempo, explicar os seus movimentos e as suas
origens, descobrir a sua natureza e as suas características. (MOURÃO, 1997, p. 22).
Ainda sobre a astronomia, é importante destacar sua consideração como
ciência multidisciplinar, responsável por estudar uma grande variedade de corpos
celestes e fenômenos ocorridos fora da Terra. Ela estuda a Lua, o Sol, os planetas do
Sistema Solar, cometas, galáxias, nebulosas, entre outros. Ela é dividida em
diferentes áreas de estudo: Astrofísica, cosmologia, astronomia planetária e
astrobiologia. (HELERBROCK, 2013)
A história da astronomia começou milhares de anos atrás, quando as primeiras
civilizações precisaram observar o céu para saber quando era o momento certo para
o plantio e a colheita. Outros povos, como maias, chineses, egípcios e babilônios
também usaram a astronomia para elaborar seus primeiros calendários, baseando-se
na posição do Sol. Sobre esse assunto, estima-se atualmente a quantidade de cerca
de quarenta calendários em uso pelo mundo. Os mais conhecidos são: o gregoriano,
o hebraico, o islâmico, o indiano, o chinês, o persa, o baha’í20 (utilizado na religião
monoteísta Fé Bahá'í), o etíope e o recente calendário ISO21. Também há alguns
calendários antigos bastante conhecidos, mas não mais em uso, como o juliano, o
revolucionário francês, o maia, e o antigo calendário hindu. (JUNIOR, 2012). Esse
conhecimento de astronomia foi obtido por anos de elaborações de teorias
desenvolvidos por muitos cientistas e filósofos famosos.
Muitos filósofos gregos elaboraram modelos com o intuito de explicar o formato
da Terra, as estações do ano, bem como os movimentos do Sol, da Lua e dos outros
planetas visíveis a olho nu. Um desses filósofos foi Tales de Mileto (624-546 a.C.),
que considerava a Terra um disco plano preenchido por água. Pitágoras de Samos
(572-479 a.C.), por sua vez, acreditava que a Terra apresentava formato esférico.
(JUNIOR, 2012)
Já Aristóteles de Estagira (384-322 a.C.) explicou sobre as fases da Lua e
percebeu a dependência da iluminação solar ao observar a formação de sombras
durante os eclipses. Também defendia a hipótese onde o Universo fosse finito e
esférico e o conjunto com os astros, fosse imutável: sempre existira e sempre existiria.
A visão de Aristóteles do sistema solar era qualitativa, pois usava de poucos recursos
matemáticos para justificar seu modelo. Sua interpretação logo tornou-se aceita,
acolhida e difundida por séculos, contribuindo para a propagação de conceitos físicos
e astronômicos equivocados. Durante o período que vai desde o século IV a.C., até o
século XVI d.C., as ideias filosóficas de Aristóteles permaneceram como os únicos
pensamentos sistemáticos formulados a respeito dos fenômenos físicos e da estrutura
do Universo. (PORTO & PORTO).
11

Esse pensamento de Aristóteles sobre a região celeste dominou o pensamento


ocidental até o Renascimento. Em sua ideia geocêntrica, a Terra é esférica e ocupa o
centro de um universo organizado em camadas esféricas concêntricas, em uma
estrutura semelhante a uma cebola. (NOGUEIRA, 2009)
Assim, o modelo geocêntrico grego teve outros aperfeiçoamentos.
Erastóstenes (c.276-c.194 a.C., escritor grego, nascido na atual Líbia) mediu a
circunferência da Terra por método experimental, obtendo um valor cerca de 15%
maior em relação ao valor real. Já Ptolomeu (Claudius Ptolomeus, segundo século
a.C., astrônomo e geógrafo egípcio) modificou o modelo de Aristóteles, introduzindo
os epiciclos, isto é, um modelo no qual os planetas descrevem movimentos de
pequenos círculos moventes sobre círculos maiores, esses centrados na Terra.
(STEINER, 2006)
Em 1608, Galileu Galilei (1564-1642) discordava das ideias geocentristas, bem
como a visão de imutabilidade dos astros proposta por Aristóteles. Ele aperfeiçoou o
telescópio e utilizou-o para observar as crateras da Lua, as fases de Vênus e
descobriu os satélites naturais de Júpiter: Io, Ganimedes, Calixto e Europa.
O abalo definitivo do modelo cosmológico aristotélico-ptolomaico veio no século
seguinte, com a teoria heliocêntrica proposta por Nicolau Copérnico. Segundo
Copérnico, o Sol passava a ocupar o centro do Universo, enquanto a Terra e os
demais planetas giravam ao seu redor. Copérnico, no entanto, manteve, ainda sob
influência do antigo modelo cosmológico, a ideia de um Universo finito, fechado por
esferas, onde os planetas descreviam órbitas circulares perfeitas. (PORTO & PORTO,
2008)
Com sua obra, o cientista polonês abriu uma porta jamais fechada, pois, o seu
modelo heliocêntrico parecia concordar mais com as observações em relação ao de
Ptolomeu,e logo muitos cientistas se entusiasmaram pela novidade. Entre eles, dois
dos mais importantes foram o alemão Johannes Kepler (1571-1630) e o italiano
Galileu Galilei (1564-1642). Mas o geocentrismo ainda tentaria uma última cartada
com o maior astrônomo de seu tempo, o dinamarquês Tycho Brahe (1546-1601).
(CORRÊA, n.d)
O modelo planetário de Copérnico foi posteriormente corrigido pelas precisas
observações astronômicas do dinamarquês Tycho Brahe (1546-1601). Em 1599, o
brilhante astrônomo e matemático alemão Johannes Kepler (1571-1630) tornou-se
assistente de Tycho e teve em suas mãos uma enorme quantidade de dados
astronômicos de grande precisão. Kepler revolucionou a mecânica celeste quando
enunciou três leis que regem as orbitas planetárias, descrevendo-as como eclipses, e
não como círculos, como até então se acreditava, e estabeleceu uma relação
Matemática entre o período e o raio orbital dos planetas.
A teoria da gravidade do físico inglês Isaac Newton (1643-1727) foi deduzida
diretamente das leis de Johannes Kepler (1571-1630), que diziam como os planetas
se moviam em torno do Sol. (DAMINELI & STEINER, 2010).
12

Com essa breve história podemos notar o progresso científico feito ao longo dos
séculos desde que o ser humano passou a observar o céu noturno. Profundas
mudanças tecnológicas e sociais foram possíveis graças às grandes descobertas da
Astronomia.
2.2 ETNOASTRONOMIA
A etnoastronomia investiga o conhecimento astronômico de povos tradicionais
atuais, ou seja, “grupos étnicos ou culturais contemporâneos” (AFONSO, 2010),
principalmente por meio de registros etnográficos e relatos de tradições orais.
Caracteriza-se como uma atividade transdisciplinar por envolver, além dos
conhecimentos astronômicos, os de antropologia. O Brasil apresenta um grande
potencial a ser explorado, pela amplitude e diversidade étnica do país (AFONSO,
2006a; 2006b).
Desde muitos anos atrás, diferentes povos possuíam a prática de observar o céu,
uma das maiores fontes de curiosidade da humanidade. E, com o passar dos anos,
foi se desvendando alguns de seus mistérios. Foram aos poucos entendendo que o
céu como uma ferramenta cotidiana, através dele conseguiam: se orientar
geograficamente, prever estações do ano, utilizar o céu para marcar o tempo, construir
seus calendários e relógios, etc.
Durante esse observar o homem desenhou no céu, utilizando estrelas e
manchas visíveis. Hoje chamamos esses desenhos de constelações, e cada cultura
ou sociedade diferente representaram no céu seus próprios desenhos. Esses
desenhos representam personagens e histórias próprias de cada cultura especifica,
estão intimamente ligados com a construção social de cada sociedade. (PSCHEIDT,
2014)
A localização no planeta também interfere na criação das constelações pois o
céu visível depende de onde se olha, por exemplo: o cruzeiro do sul é facilmente
visível para povos do sul do planeta, mas não é visível para povos do extremo norte,
logo, seria impossível que os povos nórdicos, por exemplo, criassem uma constelação
utilizando essas estrelas, já os indígenas aqui no Brasil utilizaram algumas das
estrelas dessa região para compor sua constelação chamada Ema.
Em relação à constelação da Ema, d’Abbeville relatou: “Os Tupinambá
conhecem uma constelação denominada Iandutim, ou Avestruz Branca, formada de
estrelas muito grandes e brilhantes, algumas das quais representam um bico. Dizem
os maranhenses que ela procura devorar duas outras estrelas próximas e as quais
denominam uirá-upiá”. Ele chamou de Avestruz Branca a constelação da Ema, no
entanto, a avestruz (Struthio Camelus Australis) não é uma ave brasileira. A ema
parece com a avestruz, mas é menor e de família diferente. (AFONSO, 2013)
Na segunda quinzena de junho, quando a Ema (Guirá Nhandu, em guarani)
surge totalmente ao anoitecer, no lado leste, indica o início do inverno para os
indígenas do sul do Brasil e o início da estação seca para os indígenas do norte do
Brasil.
13

Figura 1- Constelação da Ema

Fonte: Espaço Ciência, Governo de PE

O estudo das constelações e do uso do céu por diferentes culturas recebe o


nome de Etnoastronomia. Esta ciência estuda intimamente o conhecimento sobre o
céu das diversas civilizações que surgiram durante a história da humanidade.
Também nos faz perceber a diversidade e pluralidade cultural de cada sociedade,
mostrando a importância de reconhecer a contribuição cultural e cientifica de cada um
dos povos do planeta, e principalmente de proteger essa bagagem cultural e respeitar
as diferenças. Apesar da importância e do potencial de estudos etnoastronômicos,
poucos pesquisadores se ocupam efetivamente com pesquisas desse cunho em
etnias indígenas do Brasil (e.g. AFONSO, 2006a; 2006b; 2009; 2010; 2012; 2014;
CAMPOS, 2006; AFONSO et al., 2011; SILVA et al., 2014; LIMA et al., 2014), apesar
da necessidade de seu entendimento, e para as informações não se perderem no
tempo.
2.3 CONSTELAÇÕES INDÍGENAS GUARANI
A observação do céu esteve na base do conhecimento de todas as sociedades
antigas, principalmente a dos indígenas guarani brasileiros, estes ao realizarem as
atividades de pesca, caça, coleta e lavoura obedecem a flutuações sazonais e
utilizavam o céu como base para sua sobrevivência. (PEDROZA, 2016)
Frequentemente as pessoas tendem a julgar a cosmologia de outras
civilizações através de seus próprios conhecimentos, desenvolvidos
predominantemente dentro de um sistema educacional ocidental. Esse conhecimento
é formal por tender a ter suportes em documentos escritos, regras, regulamentos e
infraestrutura tecnológica. No entanto, a visão indígena do Universo deve ser
considerada no contexto dos seus valores culturais e conhecimentos ambientais. Esse
conhecimento local se refere às práticas e e às representações que são mantidas e
desenvolvidas por povos com longo tempo de interação com o meio natural. O
conjunto de entendimentos, interpretações e significados faz parte de uma
complexidade cultural que envolve linguagem, sistemas de nomes e classificação,
utilização de recursos naturais, rituais e espiritualidade.
14

Os indígenas guarani brasileiros deram uso as constelações localizadas na Via


Láctea, que podiam ser constituídas de estrelas individuais e de nebulosas,
principalmente as escuras. A Via Láctea é chamada de Caminho da Anta (Tapi’i rapé,
em guarani) devido principalmente às constelações representando uma Anta (Tapi’i,
em guarani) que nela se localizam.
Na região da Via Láctea estão localizadas as principais constelações indígenas,
pois nessa faixa, que atravessa o céu, as estrelas e os aglomerados de estrelas
aparecem em maior quantidade, facilmente visíveis à noite. As manchas escuras e
claras da Via Láctea auxiliam na representação das constelações, sendo mais fácil de
imaginá-las. Dessa forma, os indígenas conseguem verificar esses desenhos não
somente pela união das estrelas, mas também pelas manchas da Via Láctea
(AFONSO, 2006a; 2009).

Figura 2- Constelação da Anta do Norte

Fonte: Espaço Ciência, Governo de PE

A constelação da Anta do Norte é conhecida principalmente pelas etnias de


indígenas brasileiros que habitam na região norte do Brasil, tendo em vista que para
as etnias da região sul ela fica muito próxima da linha do horizonte. Ela fica totalmente
na Via Láctea, participa muito nas definições de seu contorno, fornecendo uma
imagem impressionante dessa constelação. Existem outras constelações
representando uma Anta (Tapi’i, em guarani) na Via Láctea, por isso chamamos essa
constelação de Anta do Norte. (MARIUZZO, 2012)
Em relação à constelação da Ema (figura 1) d’Abbeville relatou: “Os Tupinambá
conhecem uma constelação denominada Iandutim, ou Avestruz Branca, formada de
estrelas muito grandes e brilhantes, algumas das quais representam um bico. Dizem
os maranhenses que ela procura devorar duas outras estrelas que lhes estão juntas
e às quais denominam uirá-upiá”. Ele chamou de Avestruz Branca a constelação da
Ema, no entanto, a avestruz (Struthio Camelus Australis) não é uma ave brasileira. A
ema parece com a avestruz, mas é menor e de família diferente.
Quando ela surge totalmente no céu, anuncia a chegada do solstício de
inverno. Esse evento marca o meio do Tempo Velho para os indígenas Guarani.
15

Figura 3- Constelação do Homem velho

Fonte: Espaço Ciência, Governo de PE

A constelação do homem velho tem esse nome pela representação de um


homem cuja esposa estava interessada no seu irmão. Para ficar com o cunhado, a
esposa matou o marido, cortando-lhe a perna. Os deuses ficaram com pena do marido
e o transformaram em uma constelação. Em relação a essa constelação, d’Abbeville
relatou: “Tuivaé, Homem Velho, é como chamam outra constelação formada de muitas
estrelas, semelhante a um homem velho pegando um bastão”.
Na primeira quinzena de dezembro, quando ela surge totalmente no céu,
anuncia a chegada do solstício de Verão. Este evento marca o meio do Tempo Novo
para os indígenas Guarani.
Figura 4- Constelação do Veado

Fonte: Espaço Ciência, Governo de PE


16

A constelação do Veado é conhecida principalmente pelas etnias de indígenas


brasileiros habitantes da região sul do Brasil, tendo em vista que para as etnias da
região norte ela fica muito próxima da linha do horizonte. A constelação do Veado fica
na região do céu limitada pelas constelações ocidentais Vela (Vela) e Crux (Cruzeiro
do Sul). Quando aparece totalmente no céu, anuncia a chegada do Equinócio de
Outono no Hemisfério Sul, uma estação de transição entre o calor e o frio.
(MARIUZZO, 2012)
Estas constelações mostradas acima não são definitivas para todas as
comunidades indígenas, e sim para os tupi guarani. Cada cultura é diferente, ainda
existem inúmeras constelações com nomes e histórias diferentes espalhadas pelo
mundo.
O aglomerado das Plêiades representa o penacho no alto da cabeça do Homem
Velho. Logo abaixo, o aglomerado das Híades forma a cabeça do Homem Velho, onde
também se encontra a estrela alfa de Touro (Aldebarã), a estrelaavermelhada mais
brilhante da constelação ocidental de Touro, dá início ao pescoço do homem velho,
terminando na estrela Orionis, de onde partem seus braços.(NASTARI, 2020).
Figura 5- Touro e Órion- cultura estelar ocidental

Fonte Planetário Stellarium

Eixu significa enxame de abelhas ou vespeiro para os povos Guarani e está


associado ao aglomerado das Plêiades. Diversas etnias indígenas construíram seus
calendários considerando os dias do nascer helíaco (solar), do nascer anti-helíaco
(antissolar) e do pôr (ocaso) helíaco (solar) das Plêiades.
Figura 6- Eixu

Fonte Planetário Stellarium


17

2.4 POVOS INDÍGENAS KAIOWÁ


O nome kaiowá ficou conhecido pela denominação do tempo em que os
indígenas kaiowá eram “Caaguá Selváticos”. Porém eles se denomiam Pai-tavyterã,
que seria uma alusão clara ao modo de ser religioso. Pai seria o título ao qual os
deuses e habitantes do paraíso se saúdam e dirigem a palavra e tavyterã, os futuros
habitantes do povoado do centro da terra (MELIÁ, 1992, p. 247).
O nome Kaiowá quer dizer “filho da floresta”, assim, sem uma relação imediata
com o meio que a define, não se pode considerar a vida dessa comunidade.
(WENCESLAU, 1994, p. 8).
A língua guarani é falada por diferentes povos e de diferentes modos. De
acordo com o linguista Aryon Dall'Igna Rodrigues, os Kaiowá falam dialetos do idioma
guarani inclui-se na família linguística Tupi-Guarani, do tronco linguístico Tupi.
Habitando a região sul do Mato Grosso do Sul, os Kaiowá distribuem suas
aldeias por uma área estendida até os rios Apa, Dourados e Ivinhema, ao norte, indo,
rumo sul, até a serra de Mbarakaju e os afluentes do rio Jejui, no Paraguai, alcançando
aproximadamente 100 Km em sua extensão leste-oeste, indo também a cerca de 100
Km de ambos os lados da cordilheira do Amambaí (território fronteiriço Paraguai-
Brasil), inclusive todos os afluentes dos rios Apa, Dourados, Ivinhema, Amambai e a
margem esquerda do Rio Iguatemi, que limita o sul do território Kaiowá e o norte do
território Ñandeva, além dos rios Aquidabán (Mberyvo), Ypane, Arroyo, Guasu,
Aguaray e Itanarã do lado Paraguaio, alcançando perto de 40 mil Km 2. O território
Kaiowá ao norte faz fronteira com os Terena, e ao leste e sul com os Guarani Mbya e
com os Guarani Ñandeva (v. Meliá, 1986: 218). Algumas famílias Kaiowá também
vivem, atualmente, em aldeias próximas às Mbya no litoral do Espírito Santo e Rio de
Janeiro.
A agricultura de caráter Guarani foi a mais praticada pelos colonos dessas
regiões com bons resultados, ainda quando a distorção do sistema econômico
introduzido tendeu a desequilibrar as correlações ecológicas. Apesar deste problema,
os indígenas souberam manter a criatividade e o dinamismo, emigrando inclusive, se
fosse necessário. O Guarani não deixa desertos atrás de si. (GRUBITS-HARRIS,
2003)
Os indígenas Guarani Kaiowá preservam sua língua nativa, falada de maneira
corrente em meio aos seus membros. O artesanato é feito com base no conhecimento
biodinâmico, em respeito à natureza, e aproveita-se de materiais integralmente. As
peças construídas com o seu artesanato são hoje sua principal fonte de renda e
sustento. Quanto a música, ela tem grande poder em sua cultura e identidade, com
rituais cantados com toque ritmado. Para eles, a função do Pajé é importantíssima,
tão valorizada quanto a de um guerreiro. Seus embates vão além desta dimensão, e
precisam ser mediados por quem consegue alcançar estes outros planos. Uma cultura
sem fim, que precisa ser valorizada e, acima de tudo, preservada. (QUINTANA, 2015)
No Brasil, especificamente, a situação dos Kaiowá no interior do país sofreu
profundas alterações após a Guerra do Paraguai (1864-1870). Em 1880, se iniciou a
ocupação sistemática do território ao sul do então estado de Mato Grosso, marcada a
18

princípio pela exploração econômica da erva-mate em grandes propriedades. Em


1943, o então presidente da República, Getúlio Vargas, criou em pleno território
indígena a Colônia Agrícola Nacional de Dourados (Cand), para dar acesso à terra a
milhares de famílias de colonos, migrantes de outras regiões do país.
A criação dessa e de outras colônias agrícolas nacionais situou-se dentro da
política da “Marcha para o Oeste”, buscando incorporar novas fronteiras e aumentar
a produção de alimentos e produtos primários necessários à industrialização a preços
baixos. A partir da década de 1950 acentua-se a instalação de empreendimentos
agropecuários nos demais espaços ocupados pelos Kaiowá, ampliando o processo de
desmatamento desse território. (QUIRINO, n.d.)
Um número significativo de comunidades indígenas foi obrigado a abandonar
suas aldeias e deslocar-se para dentro de oito reservas de terra demarcadas pelo
Serviço de Proteção ao Índio (SPI), órgão que deu origem à Funai. Assim, acentuou-
se o confinamento das aldeias. A instalação de poderosos grupos de fazendeiros na
região gerou um processo de ocupação pela força e com uso de violência.
A terra é para o kaiowá sustentáculo de sua identificação étnica, constituindo
um elemento básico para sua vida. Em decorrência de tal concepção, o uso da terra
tem um sentido comunitário e não especulativo. Assim sendo, justifica-se o sistema
de cultivo rotativo capaz de permitir a uma mesma comunidade permanecer por várias
gerações dentro de um mesmo perímetro relativamente reduzido e desenvolver uma
economia de reciprocidade não acumulativa. A terra é o centro de suas necessidades
e está dividida em três regiões distintas: da casa e do terreiro, de plantio, e de
perambulação, caça e pesca. (LIMBERTI, 2009)
Os Guarani kaiowá denominam os lugares ocupados por eles a partir de toda a
sua significação de tekoha. O tekoha é, assim, o lugar físico – terra, mato, campo,
águas, animais, plantas, remédios etc. – onde se realiza o teko, o “modo de ser”, o
estado de vida guarani kaiowá. Ele engloba a efetivação de relações sociais de grupos
macro familiares que vivem e se relacionam em um espaço físico determinado.
Idealmente este espaço deve incluir, necessariamente, o ka’aguy (mato), elemento
apreciado e de grande importância na vida desses indígenas como fonte para coleta
de alimentos, matéria-prima para construção de casas, produção de utensílios, lenha
para fogo, remédios etc. O ka’aguy é também importante elemento na construção da
cosmologia, sendo palco de narrações mitológicas e morada de inúmeros espíritos.
Indispensáveis no espaço guarani kaiowá são as áreas para plantio da roça familiar
ou coletiva e a construção de suas habitações e lugares para atividades religiosas.
(IFA, 2011)
Para eles, o Tekohá tem características físicas geográficas específicas. Não é
qualquer terra. Ele se apresenta nitidamente no espaço físico, é limitado por colinas
matas e campos. É algo divino, oferecido pelo Deus criador somente para eles. Os
kaiowá têm consciência de seu Ñande Retã (território global para o seu povo), sentem
seu habitat mutilado e seus princípios étnicos deixando de existir. Eles buscam, por
meio de uma luta incessante, os recursos míticos fundamentados nos “Teko
Marangatu”, fazendo os Aty Guaçu (reuniões grandes) para discutir suas principais
questões. Essas reuniões acontecem periodicamente e duram dias. Seus membros
19

são líderes políticos, como caciques e Ñanderu (líder religioso), nessa ocasião cantam
e dançam, com a importante função de articular a etnia como um todo e levar seus
participantes à conscientização da ameaça em relação a sua identidade étnica.
(WENCESLAU, 1994)
Para além do tekohá, há um lugar da imortalidade, a chamada Terra Sem Mal,
yvy marã ey, espaço onde a condição humana é abandonada, e o homem pode
realizar a condição de um deus. Esse espaço transcende a um modo geográfico,
situando-se num mundo figurado, fenomênico ecológico. (PEREIRA, 1995)
Quanto à cultura material dos Guarani Kaiowá, um dos mais imponentes
símbolos, de acordo com Schaden (1974, p.26), é a casa grande. Uma construção
típica de numerosas outras tribos do grupo Tupi-Guarani. A respeito desse tipo de
construção, o autor registra: “Do ponto de vista arquitetônico, duas são as
características essenciais da casa grande dos Kaiowá: a falta de separação ou divisão
entre cobertura e paredes e, em segundo lugar, a ausência de suporte para a linha
central da cumeeira”. (TAVARES, 2015)
Em seu sistema de crenças, os povos guaranis possuem elementos que se
distinguem das crenças da maioria da população do país. A ‘religião’ desse grupo está
fundamentada na ‘palavra’, cujo termo em guarani (ñe’e, ayvu e ã) pode significar
também voz, fala, linguagem, idioma, alma, nome, vida, personalidade e origem. Esta
palavra está presente no sujeito desde o nascimento. A gravidez, para os indígenas,
é entendida como resultado de um sonho e, ao nascer, o corpo da criança é possuído
pela ‘palavra’ (oñemboapyka) responsável por dar a vida a essa criança e a torna
humana. Esta mesma palavra é ‘invocada’ ao se nomear uma criança, e isto
determinará a sua personalidade e a identificação com o grupo familiar. A palavra
também teria o poder de ‘restaurar a vida’ de uma pessoa doente (restaurar lhe a
palavra). Os males e doenças são resultados da não verbalização dos sentimentos
que nos perturbam (MELIÁ, 2011).
Os Guarani Kaiowá têm como base de sua organização social, econômica e
política, a família extensa, isto é, grupos macro familiares que detêm formas de
organização da ocupação espacial dentro dos tekoha determinada por relações de
afinidade e consanguinidade. É composta pelo casal, filhos, genros, netos, irmãos e
constitui uma unidade de produção e consumo. (IFA, 2011)
A cada família extensa corresponderá, como condição para sua existência,
uma liderança, em geral um homem que denominam Tamõi (avô), não sendo raro,
contudo, a existência de líder de família extensa mulher, que denominam Jari (avó).
O líder familiar aglutina parentes e os orienta política e religiosamente. Cabe-lhe
também as decisões sobre o espaço ocupado no tekoha e onde as famílias nucleares
(pais e filhos) pertencentes a seu grupo familiar distribuem suas habitações, plantam
suas roças e utilizam os recursos naturais disponíveis. As famílias nucleares hoje em
dia vivem em habitações isoladas e dispersas pela área disponível no tekoha,
referidas, porém, à casa e presença do tamõi ou jari. Sua casa é um local centralizador
e ao redor da qual movimenta-se toda a família, onde as pessoas se reúnem e onde
20

haverá um altar (mba’e marangatu) para os jeroky, que são rituais sagrados praticados
no cotidiano. (IFA, 2011)

Entre os kaiowa, há uma cerimônia em destaque: a do avati kyry (milho novo,


verde). Ela é celebrada em época de plantas novas (fevereiro, março) e tem no avati
morotĩ (milho branco), planta sagrada que rege seu calendário agrícola e religioso, a
referência principal. Semanas de trabalho e envolvimento de muitas famílias para
preparar o kãguy ou chicha e o lugar da cerimônia, antecedem sua realização. O kãguy
é uma bebida fermentada, feita, nestas cerimônias, com o milho branco (mas também
de mandioca, batata doce ou cana de açúcar) e preparada pelas mulheres. (IFA, 2011)

A cerimônia em si, dirigida por um líder religioso, tem início ao cair do sol e
finda na aurora do dia seguinte. Esse xamã deve conhecer o mborahéi puku ou “canto
comprido”, cujos versos, não se repetem e não podem ser interrompidos depois de
iniciada a cerimônia. A cada verso entoado pelo ñanderu a comunidade o repete,
sempre acompanhados pelos mbaraka confeccionado e usado por homens e os
takuapu usados por mulheres. Ao amanhecer, terminado o mborahéi puku (canto
comprido), há o batismo da colheita (mandioca, cana, abóbora, batata doce, milho
etc.), que permaneceu depositada no altar. Na noite seguinte a cerimônia do avati kyry
continua com cantos e danças mais profanos, os kotyhu e os guahu, por toda a
comunidade e por muitas visitas que participam da cerimônia. (IFA, 2011)
2.5 ASTRONOMIA KAIOWÁ
“Diferentes entre si, os grupos indígenas tiveram em comum a
necessidade de sistematizar o acesso a um rico e variado
ecossistema de que sempre consideram parte. Mas não bastava
saber onde e como obter alimentos. Era preciso definir também
a época apropriada para cada uma das atividades de
subsistência. Esse calendário era obtido pela leitura do céu. Há
registros escritos sobre uma ligação com os astros desde a
chegada dos europeus ao Brasil, mas é possível que se
utilizassem desse conhecimento desde que deixaram de ser
nômades.” (AFONSO; SILVA, 2012, p. 05)

A terra é concebida pelos Kaiowá como uma esfera plana situada entre dezoito
patamares superiores e seis patamares inferiores. Ela está sustentada por sete xiru
(cruzes) ou kurusu hopita. Cada xiru é preservado por um ñãdejara. Portanto, a estes
cabe zelar pela sustentação da terra, ou seja, garantir aos xiru hopita mantenham-se
em pé, evitando sua nova destruição. Estes ñãndejara também são os responsáveis
por enviar e zelar pelos xãmas kaiowá a terra, corresponsáveis pela manutenção
desta sustentação. (VIETTA, 2007)

Os Guarani Kaiowá contam sobre o processo de criação do mundo teve iniciO


com Ñane Ramõi Jusu Papa (Ñamandu) ou “Nosso Grande Avô Eterno”, ele se
constituiu de Jasuka, uma substância originária, vital e com qualidades criadoras. Foi
quem criou os outros seres divinos e sua esposa, Ñande Jari ou “Nossa Avó”, foi
alçada do centro de seu jeguaka (diadema que perpassa, como ornamento, testa e
21

cabeça), o adorno ritual. Criou também a terra, a qual então tinha o formato de uma
rodela, estendendo-a até a forma atual; levantou também o céu e as matas. Viveu
sobre a terra por pouco tempo, até ser ocupada pelos homens, deixando-a, sem
morrer, por um desentendimento com a mulher. Tomado de profunda raiva causada
por ciúmes, quase chegou a destruir sua própria criação, sendo impedido, contudo,
por Ñande Jari com a entoação do primeiro canto sagrado realizado sobre a terra,
tomando como acompanhamento o takuapu: instrumento feminino, feito de taquara,
com aproximadamente 1,10m. Quando golpeado no solo produz um som surdo e
acompanha os Mbaraka masculinos, espécie de chocalho de cabaça e sementes
específicas. (AN, 2014)
O primeiro mundo não era perfeito, possuía sua base feita de caule de milho,
os guarani kaiowá falam que esse mundo foi um experimento de Ñamandu e após o
terremoto ele foi destruído ou se desdobrou, refazendo-se com novas bases, agora
de pedra. Após o terremoto não ficou ninguém no mundo, todos conseguiram alcançar
a Terra sem mal (yvy maraey), o lugar perfeito, a morada de Ñamandu, com seus
corpos e suas almas. Ñamandu envia então, dois casais para a nova terra (LADEIRA,
2007).
Segundo o autor, o filho de Ñamandu, isto é, Ñande Ru Paven (“Nosso Pai de
Todos”) e sua esposa Ñande Sy (“Nossa Mãe”), ficaram responsáveis pela divisão
política da terra e o assentamento dos diferentes povos em seus respectivos
territórios, criando montanhas para delimitar o território guarani. Ñande Ru Paven
roubou o fogo dos corvos e o entregou aos homens; criou a flauta sagrada (mimby
apyka) e o tabaco (petÿ) para os rituais e foi o primeiro a morrer na terra. E, da mesma
forma seu pai, decidiu abandonar a terra em função de um desentendimento com sua
esposa que estava grávida de gêmeos. (AN, 2014)
Assim, Ñande Sy saiu em busca de seu marido e com freqüência perguntava
ao filho, que ainda não havia nascido, qual era o caminho a ser seguido. Pa’i Kuara,
filho de Ñande Sy e Ñande Ru Paven, chegou a indicar um caminho errado para sua
mãe pois ela lhe havia negado uma flor para brincar durante o percurso. Ñande Sy
chegou à morada dos Jaguarete ou “os verdadeiramente selvagens” (as onças). O
avô destes seres ferozes tentou em vão salvar a vida da mulher. Seus filhos, ao
voltarem famintos pelo fracasso da caça, mataram Ñande Sy, deixando vivos apenas
os pequenos gêmeos. Estes, depois de grandes, encontraram com o “papagaio do
bom falar” (parakau ñe’ëngatu) e perguntaram da morte da mãe. Resolveram vingá-
la. Pa’i Kuara e seu irmão menor Jacy prepararam armadilha na qual morreram todos
os jaguarete, menos uma grávida, razão pela qual os jaguarete (onças)
permaneceram no mundo. (IFA, 2011)
Em razão disso, segundo o autor, nosso Pa’i fez um riacho sobre o qual lançou
uma· ponte e jogou cascas de árvore na água. Daí nasceram os habitantes da água:
as serpentes, as grandes lontras, as pequepas lontras, os boas-jaguares, todos os
animais destinados a devorar os Seres originários, as mulheres. Mandou Lua
atravessar o riacho, para assim guardar a extremidade da ponte. (CLASTRES, 1990,
p. 68-69).
22

“- ...Quando elas estiverem todas no meio da ponte, vire-a.


Franzirei o nariz quando for o momento: nesse instante, vire-a! -
disse ao caçula. Ora, antes mesmo que estivessem no meio da
ponte, puramente por diversão, nosso pai Pa'i franziu seu nariz,
e o caçula virou a ponte cedo demais. Uma das mulheres,
grávida, pôde saltar, alcançando o barranco sã e salva. Nosso
pai Pa'i proclamou então:
- Eis aqui um ser espantoso! Fuja e mergulhe no sono! Os cursos
d'água, a margem dos cursos d'água, você os torna espantosos!
Fuja e mergulhe no sono! Apesar disso, sua criança foi um
macho. Foi por isso que ele cometeu incesto com sua mãe.
Procriaram com abundância, e sua raça povoou toda a terra...
(CLASTRES, 1990, p. 68-69).”

Depois desse episódio Pa’i e Jacy seguem em busca de Ñamandu, e durante


a estada dos gêmeos na Terra há por eles a materialização de muitos seres, costumes
e fenômenos. Uma das figuras com quem eles mais interagem é o Charia, uma criatura
“não humana e maléfica” (CLASTRES, 1990, p. 68-69), em algumas interpretações
também uma onça.
Pa'i Kuara e Jacy viveram inúmeras aventuras sobre a terra até o primeiro
decidir ir para os céus à procura de seu pai. Sua preparação para isto consistiu em
jejuar, dançar e rezar até sentir-se suficientemente leve de modo a poder subir.
Lançou então uma sequência de flechas, umas sobre as outras, até construir um
caminho para aos céus, onde entrou através da abertura feita por suas flechas. Seu
pai Ñamandu o reconheceu como filho autêntico, entregando-lhe o Sol para que dele
cuidar. (ISA, 2011)
Aparecimento de Ñamandu: os divinos
“Nosso pai, o último, nosso pai, o primeiro,
fez com que seu próprio corpo surgisse
da noite originária.
A divina planta dos pés,
o pequeno traseiro redondo:
no coração da noite originária
ele os desdobra, desdobrando-se.
Divino espelho do saber das coisas,
compreensão divina de toda coisa,
divinas palmas das mãos,
palmas divinas de ramagens floridas:
ele os desdobra,
desdobrando a si mesmo, Ñamandu,
no coração da noite originária.
No cimo da cabeça divina
as flores, as plumas que a coroam,
são gotas de orvalho.
Entre as flores, entre as plumas da coroa divina,
o pássaro originário, Maino, o colibri,
esvoaça, adeja.
23

Nosso pai primeiro,


seu corpo divino, ele o desdobra
em seu próprio desdobramento,
no coração do vento originário.
A futura morada terrena,
ele não a sabe ainda por si mesmo;
a futura estada celeste, a terra futura,
elas que foram desde a origem,
ele não as sabe ainda por si mesmo:
Maino faz então com que sua boca seja fresca,
Maino, alimentador divino de Ñamandu.
Nosso pai primeiro, Ñamandu,
ainda não fez com que se desdobre,
em seu próprio desdobramento,
sua futura morada celeste:
a noite, então, ele não a vê,
e todavia o sol não existe.
Pois é em seu coração luminoso que ele se desdobra,
em seu próprio desdobramento;
do divino saber das coisas,
Ñamandu faz um sol.
Ñamandu, pai verdadeiro primeiro,
habita o coração do vento originário;
e, aí onde ela repousa,
Urukure'a, a coruja, faz com que existam as trevas:
ela faz com que já se pressinta o espaço tenebroso.
Ñamandu, pai verdadeiro primeiro,
ainda não fez com que se desdobre,
em seu próprio desdobramento,
em seu próprio desdobramento,
sua futura morada celeste;
ele ainda não fez com que se desdobre,
em seu próprio desdobramento,
a terra primeira:
ele habita o coração do vento originário.
O vento originário no coração do qual nosso pai
de novo se deixa unir cada vez que volta
o tempo originário,
cada vez que volta o tempo originário.
Terminado o tempo originário,
quando a árvore tajy está florida,
então o vento se converte em tempo novo:
ei-los aqui já os ventos novos, o tempo novo,
o tempo novo de coisas não-mortais.” (FONSÊCA, 2019,
p.35)
Nos saberes guarani kaiowá, Ñamandu não é a única divindade capaz de criar
outras e durante as narrativas, são responsáveis por materializações de seres, objetos
e ensinamentos de costumes. No entanto, Ñamandu é o primeiro Deus a surgir e é
capaz de criar a si próprio, o único apresentado, com as leituras dos mitos e cantos
guarani, realizadores de projeções anteriores as criações, o conhecimento “precede”
e o responsável por criar o “humano” e das demais divindades.
24

Conforme, “Ñamandu não quer ficar só, a religião dos guarani


kaiowá não é monoteísta. Ela desdobra-se em um panteão:
Coração Grande, Karai, Jakaira, Tupã e seus homólogos
femininos que podem ser ditos no singular ou no plural”.
(CLASTRES 1990, p. 31, apud FONSÊCA, 2019).

Quando abandonaram a terra, as divindades subiram para o céu caminhando,


abrindo os caminhos do universo. Eles levam os humanos ao Kurusu Ñe’engatu e foi
aberto por Ñande RuPaven ao fugir da terra e deixar Ñande Sy grávida de Pa’i Kuara
e Jacy. Já o caminho grande (tape guasu) liga o começo de tudo ao portal do universo,
ele foi aberto por Pa’i Tani quando subiu ao céu, enquanto andava pelo espaço.
(FONSÊCA, 2019)

“Se até agora a lua desaparece às vezes, é simplesmenteporque


Charia devorou-a. E, se até o presente a lua reaparece a cada
vez, é porque seu irmão mais velho o fez ressuscitar. Damesma
forma, quando a lua “se cobre”, é porque Charia tenta devorá-la:
então, Lua recobre-se com seu próprio sangue.” (CLASTRES,
1990, p. 68-69).

Esse episódio é a narrativa representativa da explicação mitológica para as


fases da lua. Em outras versões é a onça celeste quem devora o Lua. Na última frase
da citação quando é destacado que Jacy se reconstrói do seu próprio sangue,
remetemos as luas de sangue, ou seja, o eclipse lunar, no qual a lua fica com sua face
avermelhada.
Os Kaiowá preferem Jasy tataendy para nomear uma estrela. (OTAZÚ, 2016)
Figura 7-Cruzeiro do Sul

Fonte: Arami Veron Cáceres


25

O desenho colorido do Arami retrata a constelação do Cruzeiro do Sul, na


visão Guarani-Kaiowá. Uma ave com um olho só – como o Telego, herói popular do
sertão brasileiro que mesmo dormindo estava na vigília atento contra os perigos
ameaçadores dos seus. Com isso se parece com os ciclopes da mitologia
indoeuropeia. Como um mediador entre céu e terra.
Para os kaiowá, os planetas estão organizados em diferentes sistemas,
abrigando outros grupos de deuses e estão conectados por portais com o sistema
onde está localizada a terra. O xamã pode percorrer esses caminhos e visitar esses
lugares. Com isso eles conectam o tempo atual a um passado imemorial, de tal modo
que os xamãs são caminhantes do tempo e portadores da história. (FONSÊCA, 2019).
A narrativa de Delfino Borvão apresenta elementos para falarmos em uma
mitologia política (ALBERT, 2000:262) na qual fatos políticos atuais e eventos
cosmológicos se conectam. Na narrativa, os eventos cosmológicos explicam as
relações de contato para os Kaiowás e a supremacia indígena frente a outro tipo de
gente, os karaí (branco). Assim, na história indígena narrada por Delfino, ser indígena
é uma escolha e não uma fatalidade, bem como, a história está a favor dos Kaiowás
e o futuro depende de suas ações no presente. (CRESPE, 2016).
O Calendário Guarani está associado à trajetória aparente anual do Sol e sua
relação com o clima local, sendo dividido em tempo novo (ara pyau) e tempo velho
(ara ymã). Ara Pyau compreende o período de chuva (Primavera e Verão Austrais),
onde pode-se observar as constelações da Anta (Tapi’i) e do Homem Velho (Tuya’i).
Ara Ymã marca o período de seca (Outono e Inverno Austrais), com as constelações
do Veado (Guaxu) e da Ema (Guyra nhandu).
O período de chuvas é de extrema importância para os Kaiowá, pois nesse
período ocorre a cerimônia da Dança do Milho Branco (avatí moroti) entre o final do
mês de janeiro e início de março, preferencialmente no período de Lua Cheia.
Considerada uma planta sagrada responsável por regir o calendário agrícola e
religioso, o avatí moroti (milho branco) é o alimento preferido dos deuses (Ñandejara),
e foi dado aos Kaiowá pelo deus Jakaira (dono do ser do milho), sendo exigido uma
série de cuidados rituais com cantos e rituais durante a preparação do solo e nas
etapas do seu desenvolvimento. Dessa forma, Jakaira se alegra e dança para suas
plantas brotem e cresçam sadias, da mesma forma os homens precisam cantar e
dançar para o avatí produzir boas sementes. (PITTA-OLIVEIRA-ALMEIDA-
RODRIGUES, 2021)
Esse ritual é de suma importância sócio-político-cultural para os Kaiowás e
possui grande influência na formação da sua identidade étnica, sendo o único ainda
praticado por essa etnia no Mato Grosso do Sul. Ele é responsável pelo equilíbrio do
cosmos e favorece a produção agrícola e o teko (modo de ser) desse povo. (SILVA,
2018).
26

3 TEMÁTICA INDÍGENA NO COMPONENTE CURRICULAR


“É de senso comum a existência de estereótipos geradores de
preconceitos, e o principal motivo é a ausência de real
conhecimento sobre o assunto. A presença de estereótipos nos
materiais pedagógicos pode promover a exclusão em funções e
papéis estigmatizados pela sociedade. Muitas vezes o professor
pode vir a ser um mediador inconsciente dos estereótipos se for
formado com uma visão acrítica das instituições.” (SILVA,2005)

Os documentos legais, como as Diretrizes Curriculares Nacionais e a Base


Comum Curricular, orientam a obrigatoriedade do ensino da cultura e da história
indígena, africana e afro-brasileira. Em consonância com a Lei de Diretrizes e Bases
(LDB), Lei no 9.394/96, e a Constituição Federal de 1988, a qual assegura a igualdade
de raça, sexo, cor e idade, coíbem os preconceitos e quaisquer outras formas de
discriminação, objetivando a construção de uma sociedade livre, justa e solidaria,
capaz de garantir o desenvolvimento nacional e buscar “erradicar a pobreza e a
marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais”. (NAZARENO, E.;
ARAÚJO, O. C. G).
“2º O ensino de História do Brasil levará em conta as
contribuições das diferentes culturas e etnias para a formação
do povo brasileiro, especialmente das matrizes indígena,
africana e europeia (art. 26, 4º, da Lei no 9.394/96).
3º A história e as culturas indígenas e afro-brasileira, presentes,
obrigatoriamente, nos conteúdos desenvolvidos no âmbito de
todo o currículo escolar e, em especial, no ensino de Arte,
Literatura e História do Brasil, assim como a História da África,
deverão assegurar o conhecimento e o reconhecimento desses
povos para a constituição da nação (conforme art. 26-A da Lei
no 9.394/96, alterado pela Lei no 11.645/2008). Sua inclusão
possibilita ampliar o leque de referências culturais de toda a
população escolar e contribui para a mudança das suas
concepções de mundo, transformando os conhecimentos
comuns vinculados pelo currículo e contribuindo para a
construção de identidades mais plurais e solidarias.” (BRASIL,
Base Nacional Comum Curricular).

Além disso, como afirma a BNCC:


“A inclusão dos temas obrigatórios definidos pela legislação
vigente, tais como a história da África e das culturas afro-
brasileiras e indígena, deve ultrapassar a dimensão puramente
retórica e permitir que se defenda o estudo dessas populações
na própria história do Brasil. A relevância desses grupos
humanos reside na possibilidade de os estudantes
compreenderem o papel das alteridades presentes na sociedade
brasileira, comprometerem-se com elas e, ainda, perceberem
que existem outros referenciais de produção, circulação e
transmissão de conhecimentos, que podem se entrecruzar com
27

aqueles considerados consagrados nos espaços formais de


produção de saber.” (BRASIL, Base Nacional Comum
Curricular).

E pode- se notar nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), uma proposta


inicial de trabalho com a temática “Pluralidade Cultural”, a qual aborda temas
transversais contemplando os estudos das diversidades culturais existentes nas
regiões do país. (CARVALHO, 2004, p.34-36).
Devemos apresentar o valor pedagógico do ensino da astronomia indígena
kaiowá para os alunos do ensino fundamental e médio de todo Brasil, especificamente
dos sul-mato-grossenses. Ela é uma astronomia baseada em elementos sensoriais
(como as Plêiades e a Via Láctea), e não em elementos abstratos, também faz alusão
a elementos da nossa natureza (sobretudo fauna e flora) e história, promovendo
autoestima e valorização dos saberes antigos, salientando as diferentes interpretações
da mesma região do céu, feitas por diversas culturas, o que auxilia na compreensão
das diversidades culturais (AFONSO, 2009, p. 04).
“No fundo, todo professor ou divulgador de astronomia sabe, ou em
alguma medida sente, que os anseios de seu alunato contêm muitos
elementos extra-astronomia. Mesmo assim, os conteúdos e metas
pedagógicas usuais nos cursos introdutórios de astronomia têm se
restringido a buscar levar os estudantes, tão logo quanto possível, para
a presente interpretação científica daquelas belas imagens...”
(JAFELICE, 2002, p. 02).

De acordo com a citação de Luiz Carlos Jafelice, os professores focam apenas


nos conceitos obrigatórios no aprendizado dos alunos, mas esquecem de criar uma
contextualização maior do conteúdo.
3.1 IMPORTÂNCIA DO APRENDIZADO
“A incorporação da diversidade no currículo deve ser entendida não
como uma ilustração ou modismo. Antes, deve ser compreendida no
campo político e tenso no qual as diferenças são produzidas, portanto,
deve ser vista como um direito. Um direito garantido a todos e não
somente àqueles que são considerados diferentes.” (GOMES, 2008,
p.30).

Na BNCC, a Física é agregada na área de Ciências da Natureza. É necessária


a fundamentação das temáticas Matéria e Energia, Vida e Evolução e Terra e
Universo. (ASSIS, 2021).
O professor de física é responsável por ensinar aos alunos sobre astronomia,
porém, dificilmente ela se mantém presente nas aulas de Física do Ensino Médio pela
sua baixa grade horária. Existe um grande desafio em inserir a Astronomia Indígena
Brasileira (AIB) nas aulas de Física do Ensino Médio, principalmente por ser um
assunto pouco explorado e divulgado no meio acadêmico. (Araújo et al, 2017).

“A astronomia tem relação com todos os campos de


conhecimento, desde a linguagem, passando pelas artes até as
28

ciências e alcançando a tecnologia. Pode-se usar de todos os


processos para se ensinar astronomia bastando para isso
compor um quadro criativo de aprendizado”. (TREVISAN;
LATTARI, 1999).

Os alunos precisam compreender o básico de Astronomia para desenvolver-se


durante seus anos acadêmicos. Precisam saber como ela se apresenta hoje no
aspecto cultural, e também necessitam de conhecimentos diversificados, pois
dificilmente serão obtidos sem a intervenção da escola. (GOMES, 2008)
Muitas pessoas, até mesmo cientistas da área, incompreendem a cultura dos
povos nativos brasileiros. O preconceito com a religiosidade é bastante presente e
ocasionaas narrativas indígenas sejam vistas apenas como fantasias, ignorando o
conhecimento empírico “escondido” nas histórias passadas por gerações.
Porém, o real motivo da importância de seu estudo na sala de aula, é o fato da
história brasileira foi tradicionalmente escrita por europeus, e não pelos seus
verdadeiros nativos, os indígenas. Assim, é direito de todo brasileiro saber sua própria
história, não apenas partes dela, ou seja, aquela europeizada.
29

4 COMO APRESENTAR O CONTEÚDO EM SALA DE AULA


“[...] torna-se necessário refletir até que ponto as culturas
oriundas dos grupos subordinados na sociedade, cujas
contribuições não são consideradas como tradição e
passado significativo e, por isso, são invisibilizadas e
minimizadas nos currículos, poderão vir a ser objeto de
investigação e constituir-se na pratica educativa dos
professores.” (SILVA, 2005)
Ao preparar as aulas, aconselha-se deste ponto de vista metodológico,
pesquisas de materiais sobre astronomia indígena kaiowá, seguem algumas
sugestões: A Astronomia Indígena e Mitologia Indígena, de Luiz Gualdino. A temática
indígena na escola, de Aracy Lopes da Silva e Luis D. Benzi Grupioni. Reserva
indígena de Dourados: Histórias e desafios contemporâneos, de Juliana Grasiéle
Bueno Mota e Thiago Leandro Vieira Cavalcante. A terra dos mil povos: História
indígena do Brasil contada por um indígena. Uma obra de Pietrocola et al. (2011) é
uma das únicas com estrutura atualizada, organizada com conteúdo e inclui no
capítulo 1 do volume 1 de sua coleção a explicação que algumas Culturas Antigas
deram para certos fenômenos da natureza e como a concepção sobre o Universo se
transformou a partir dessas explicações até os dias atuais, há também um debate
sobre a visão do Universo dos indígenas brasileiros. E além desses materiais citados,
existem diversos outros para serem trabalhados em sala de aula.
Outras formas de estudar a astronomia indígena, são com os sites Stellarium e
Celestia. Eles são plataformas de observação do céu ou do espaço, em geral,
englobam diversas culturas e civilizações, incluído a indígena brasileira. No site
Stellarium podemos ver diversas constelações do grupo indígena guarani e por quais
estrelas elas são formadas.
4.1 PROPOSTA PEDAGÓGICA
“Todos os materiais pedagógicos que são utilizados por
professores e alunos são mediadores muito decisivos da cultura
nas escolas, porque são os artífices do que e do como se
apresenta essa cultura a professores e alunos. Ali se reflete de
forma bastante elaborada a cultura real que se aprende. Esta é
a razão pela qual os materiais são elementos estratégicos para
introduzir qualquer visão alternativa da cultura.” (SACRISTÁN,
1999, p. 89).

Dentro da sala de aula, o professor de física do ensino fundamental II pode


intensificar a produção - com auxílio de especialistas no assunto- de vídeos, cartilhas,
posts nas redes sociais, seminários ou panfletos sobre a astronomia dos povos
indígenas.
Além disso, ampliar a semana dos povos indígenas, promovendo trabalhos
sobre a astronomia indígena, propondo uma dinâmica para o melhor aprendizado,
como uma amostra de experimentos, roda de conversa sobre os saberes
astronômicos dos indígenas com algum convidado indígena, competições de desenho
30

representando constelações indígenas, etc. Também pode organizar uma exibição de


vídeos, fotose desenhos para postar nas redes sociais e levar o conhecimento para
pessoas de fora da comunidade escolar. Dentro das propostas a serem realizadas em
sala deaula, ainda seria possível a realização de gincanas, objetivando os alunos a
discutirem e propor o apoio aos indígenas, com a realização de abaixo assinados,
cartas as autoridades com denúncias e exigências de providencias para as violências
contra os povos indígenas. O principal objetivo das aulas seria mostrar para os alunos
que o Brasil é um país pluriétnico e assim colaborar para uma educação valorativa de
todas as manifestações culturais.
31

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao término desta pesquisa, percebe-se ser a astronomia kaiowá muito diferente
daquela estudada em sala de aula, como por exemplo a visão da terra para os kaiowá,
ela é vista como uma esfera situada entre dezoito patamares superiores e seis
patamares inferiores. A criação da terra é outro ponto onde o grupo indígena kaiowá
se destaca, a história do Ñamandu e sua esposa é única e diferenciada das demais.
Com isso, foi possível notar a importância da inclusão da astronomia indígena
brasileira kaiowá dentro da sala de aula, principalmente porque trará aos alunos o
conhecimento de suas origens brasileiras e o conceito de que não existe apenas um
tipo de astronomia a ser estudada. O objetivo do trabalho foi demosntrar a importância
do aprendizado astronômico indígena kaiowá na sala de aula e mostrar diversas
formas que os professores podem abordar esse assunto em suas aulas.
Então, pôde-se observar a possibilidade de incluir este tema em sala de aula
seguindo as normas da BNCC sem alterar o cronograma pedagógico e sem
sobrecarregar tanto os alunos como os professores. Tendo em vista a pesquisa
realizada e todos os conceitos apresentados, ressaltamos a importância de
observamos com olhares mais atentos as diferentes visões de mundo existentes entre
os grupos indígenas do Brasil e inclui-las em nossa bagagem cultural.
32

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