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ADESTRAMENTO

O adestramento de um cão significa mais do que um simples ato de ensinar alguns comandos.
Primordialmente visa à melhor comunicação e convivência entre animais e seres humanos.
Para conseguir um cão realmente equilibrado e obediente, devemos sempre ter em mente
que, o tempo todo estamos adestrando e todas as atitudes das pessoas que tem contato com
o animal influenciam no seu comportamento.

Portanto, o ideal é que haja um trabalho conjunto entre o adestrador e as pessoas da casa. O
profissional oferece todas as ferramentas necessárias para a melhor comunicação com o cão,
mas, cabe ao proprietário continuar usando as mesmas dicas para se conseguir o resultado
desejado.

Com a participação regular em aulas, o proprietário obterá conhecimento e confiança para dar
continuidade a esse processo com total tranqüilidade.

Este manual foi elaborado a fim de orientar melhor o dono de seu cão sobre os aspectos que
envolvem o adestramento e as boas práticas em posse responsável.

Responsabilidade Adestrador

Oferecer o treinamento básico (comandos e educação) respeitando as condições do animal


(raça, idade, meio em que vive etc.);

Passar as instruções necessárias ao proprietário para que ele tenha controle e sucesso com
cão;

Respeitar os horários combinados das aulas;

Avisar com antecedência, eventuais faltas, bem como compensá-las posteriormente;

Responsabilidade do Proprietário

Manter os cuidados necessários com relação à saúde e ao bem-estar do animal, e proceder à


vacinação anual correta.

Na medida do possível, seguir as orientações do treinador a fim de potencializar os resultados


do treinamento.

Avisar com antecedência ao adestrador quando a aula não puder ser realizada. Nestes casos e
em feriados fica a critério de combinar entre as partes a disponibilidade de horário para a
compensação da aula.
Forma de pagamento

A cobrança será feita pelo adestrador na primeira aula onde se dará início ao treinamento,
sendo o seu vencimento 30 dias após a primeira aula.

Cuidados com o cão

Todo animal que sai à rua e tem contato com outros animais precisa de alguns cuidados para
garantir a sua saúde (Demais dúvida procure orientação do seu veterinário).

Vacinas e vermífugos, seguir corretamente o calendário de vacinação e vermifugação indicado


pelo veterinário responsável.

Parasitas externos, utilizar regularmente produtos contra parasitas externos como pulgas e
carrapatos.

Estado geral, levar ao médico veterinário se o cão apresentar qualquer mudança em seu
estado de saúde. Em condições precárias de saúde a aula deverá ser cancelada.

Alimentação

A ração exerce uma grande influência no crescimento e ao longo da vida. Escolha uma boa
marca, que contenha todos os nutrientes que o seu cão precisa, feita sob medida para a idade
e o tamanho de seu animal, colaborando para deixá-lo muito mais saudável.

Higiene

Todo cão deve viver em um ambiente muito bem higienizado e, ao contrário do que a grande
maioria pensa, deve-se usar produtos criados especificamente para os cães. Um produto ideal
para efetuar limpeza onde o local vive e circula, é o Herbalvet, do laboratório Ouro Fino
poderoso antifúngico, bactericida, virulicida e único desinfetante que também mata os germes
da Giárdia, zoonose muito comum que causa diarréia nos cães.

O que esperar do adestramento

O adestramento dará as ferramentas para o bom convívio do cão com os donos. Há muitos
casos em que se vêem animais extremamente obedientes com o adestrador, mas quando
estão com o dono, puxam a guia, latem para todos, se comportam mal em casa, etc.

Por isso é importante que o proprietário acompanhe algumas aulas, para aprender não só a
fazer com que o cão execute os comandos, mas, sobretudo, a fazer com que ele o respeite
como um verdadeiro líder.
É importante essa participação do proprietário eventualmente em aulas, após o adestrador já
ter conquistado a confiança do cão e já desenvolveu alguns comandos básicos.

Também é importante levar em consideração as particularidades de cada cão. Cada raça


possui habilidades e limitações físicas que devem ser respeitadas: não se deve esperar, por
exemplo, que um Basset aprenda a saltar obstáculos altos.

Ainda, existem problemas como displasia, problemas de coluna, etc., que impedem um
treinador com bom senso, forçar o animal a qualquer atividade que possa prejudicar sua
saúde.

Cada raça e cada cão apresentam também aptidões e dificuldades – é natural que um cão de
caça tenha mais facilidade em atividades que demandem mais energia que um cão de
companhia que, por sua vez, se destacaria em exercícios de maior concentração.

Método utilizado

Assim como nós, os cães só irão aprender tendo em vista algum objetivo, que pode ser: se
livrar de qualquer coisa que o incomode ou conseguir algo que queira.

Reforço negativo: é o método tradicional através do qual se cria uma situação incomoda que
só será aliviada quando o cão apresentar o comportamento desejado.

Reforço positivo: método em que o aprendizado está baseado em recompensas pelo


comportamento correto. É mundialmente conhecido como mais eficiente e vem ganhando, a
cada dia, mais adeptos.

O método de reforço positivo apresenta as seguintes vantagens:

O cão obedece sempre por prazer, e esse prazer aumenta à medida que o adestramento
avança.

Quanto mais o cão gosta, mais obediente ele será, logo ele obedecerá mais ao dono.

A relação entre o cão e o dono melhora muito. O animal, tendo mais atenção ao dono, se
sentirá mais confiante e não relacionará experiências negativas às pessoas que mais ama.

Recompensas utilizadas

Os alimentos que têm se mostrado mais adequados, tanto em relação á conservação como á
aceitação pelos animais são:
Biscoitos caninos, que são partidos em pedaços pequenos para evitar consumo exagerado,
preservando a dieta do cão.

Bifinhos, dependendo da preferência do cão podem ser usados no lugar dos biscoitos caninos,
também é dividido em pequenas lascas, para facilitar o consumo do cão.

Alguns alimentos humanos podem ser usados também como petiscos, o ideal seria a salsicha,
altamente palatável, que pode ser cozida, após, esfriada, e cortada em pequenas rodelas, para
também facilitar o consumo pelo cão.

Brinquedos são alternativos e oferecidos vários tipos de brinquedos especiais para cães, de
formatos e texturas variadas. São sempre resistentes e de tamanho ideal para impedir uma
ingestão acidental.

Agora, brinquedos que se assemelhem a objetos “proibidos” para os cães (sapatos, panos,
etc.) não são utilizados.

Mas o mais utilizado e que se deve promover sempre, é o carinho, afago e o estímulo pela
alegria. Quando o cão fizer algo, presentei-o dessa forma, pois você sempre terá ao seu
alcance é a sua própria amizade com o mesmo.

O que o cão apreenderá

No adestramento, haverá dois tipos de aprendizagem; educação e comandos.

Educação

Um cão considerado educado é aquele que apresenta comportamentos desejados,


independentemente de qualquer comando dado por alguém.

Desde a primeira aula e no decorrer do treinamento, o cão irá aprender a se comportar como
mandam as regras das boas maneiras.

Não pular nas pessoas

Pular é um hábito muito comum que, por incrível que pareça, é reforçado pela maioria das
pessoas, principalmente quando o cão é ainda pequeno. Os cães pulam para chamar a atenção
das pessoas, e em geral, conseguem. Portanto, a melhor forma de acabar com isso é desprezá-
lo quando ele apresentar esse tipo de comportamento. Outra solução é fazê-lo sentar antes de
recompensá-lo.
Não latir ou chorar para chamar a atenção

Este outro comportamento é semelhante ao pular. O procedimento deve ser o mesmo, nunca
dando a ele a atenção solicitada ou fazendo o que ele quer. Por exemplo, se o cão estiver
chorando para entrar em casa e alguém decidir abrir a porta, esse deve esperar que o cão
fique quieto por alguns minutos e só então abrir a porta.

Existe outra forma bem simples de solucionar esse problema, deve-se montar uma
“armadilha” para o cão. Quando ele começar a latir, jogue algo que dê um susto nele sem que
ele o veja, poderá ser um objeto que faça barulho ou mesmo água. Ele vai relacionar o ato de
latir ao susto e provavelmente não latirá mais, esse tipo de correção não é associado à pessoa
que jogou o objeto, mas sim ao ambiente, o que deixa muito mais inseguro para latir
novamente mesmo quando a pessoa não estiver presente.

Não puxar a guia

O cão irá aprender a não puxar a guia logo nas primeiras aulas, se ele continuar puxando é
provável que esteja ocorrendo um dos casos abaixo:

O cão se considera líder da matilha (na qual o dono também está incluído) e acha que é dever
dele andar à frente nos passeios. Para reverter esse quadro consultar o tópico específico Como
assumir a liderança.

O cão personalizou o aprendizado, ou seja, ele percebeu a diferença na atitude de quem o


adestrou e de quem passeia com ele. Isso é comum acontecer e basta a pessoa que passeia
com o cão conduzi-lo de forma correta, forma essa que poderá ser aprendida nas primeiras
participações em aula com o adestrador.

Quando o cão estiver distraído andando a frente do condutor, esse deve mudar o sentido do
passeio (fazer meia volta, ou simplesmente uma mudança de direção rápida para a direita)
bruscamente a fim de fazer com que o cão leve um tranco. Esse procedimento deverá ser
repetido até o cão voltar sua atenção para a pessoa e seguir seus passos.

Não brincar de forma bruta

Durante o adestramento o cão irá aprender que não deve brincar mordendo as pessoas ou
outros cães e o dono será orientado a evitar qualquer outro tipo de brincadeira que possa
evoluir para uma agressão física.

Esse comportamento é mais difícil de ser obtido em cães muito agitados, portanto a
supervisão nesse caso deve ser maior.

Algumas pessoas não se incomodam com esses hábitos, mas, o ideal é deixar o cão morder
apenas seus brinquedos para poupar futuros aborrecimentos.
Socialização

A socialização deve ser feita entre 2 a 4 meses, e não sendo feita ou feita de forma errada o
animal poderá apresentar problemas irreversíveis de comportamento. Também nesse período
ele deve entrar em contato com diferentes situações: animais, barulhos de carro, sacos de lixo,
etc. Isto deixará mais seguro.

Não pegar comida do chão

O cão irá aprender a rejeitar comida colocada diretamente no chão. Por isso, a recomendação
é a de que, sempre que possível, dar biscoitos e outros petiscos diretamente em seu próprio
prato. Objetivo principal desse treinamento é evitar qualquer risco de contaminação ou
envenenamento que o cão esteja sujeito.

Deixar ser examinado

No fim da aula, o treinador faz massagem e se possível escova o animal. Isto facilita o trabalho
de veterinários e o banho e tosa dos cães. Se, durante esse processo, o cão apresentar dor em
qualquer lugar, problema de peles, ouvido, dentes, parasitas ou ferimentos, o dono ou o
veterinário responsável deverá ser informado.

Colocar a coleira

Os animais aprendem a colocar o focinho dentro da coleira, quando esta é mostrada. Na hora
de colocar a coleira, o cão deve estar sentado. Isso facilita na hora do passeio e colabora em
caso de contenção do animal.

Respeitar a palavra “não”

O cão irá aprender a respeitar a palavra “não”, para isso, é necessário que, sempre que ela for
dita, o cachorro fracasse em sua tentativa ou o “não” irá gradativamente perder o valor.

Comandos

São os comportamentos que o cão deve apresentar prontamente quando solicitados. Os


comandos são acompanhados da palavra e gestos correspondentes. As letras maiúsculas
indicam as sílabas que devem ser enfatizadas.

Os comandos básicos que o cão irá aprender são: junto, senta, deita dar a pata, a outra, fica e
aqui. Outros comandos, que não são obrigatórios, serão ensinados à medida que o
adestramento evoluiu, tais como: rastejar, morto, saltar, castigo e cumprimenta.
1-JUNto

O cão deve caminhar ao lado esquerdo do condutor. A mão direita segura à guia enquanto a
mão acaricia o cão, ou auxilia a direita quando esta for insuficiente para controlar o cão. Na
mão esquerda você também pode carregar petiscos e brinquedos para estimular o cão.

2-SENta

O comando “senta” poderá ser executado com o cão no lado esquerdo ou na sua frente.
Quando do lado: quando você para o cão deve sentar-se automaticamente. Quando na frente;
dê o comando “senta” ou levante a mão espalmada para frente.

3-DEIta

O comando “deita” também poderá ser executado com o cão no seu lado esquerdo ou na sua
frente. Quando no lado: Com o cão sentado dê o comando “deita” ou abaixe a mão espalmada
para baixo. Quando na frente: com o cão sentado repita os procedimentos acima.

4-Dar a pata- dar a outra

Fale o comando “pata” e o cão lhe dará a pata, em seguida fale “a outra” e ele lhe dará a outra
para. Esse comando pode ser executado tanto no lado como na frente do cão.

5-Ficar

O comando “fica” poderá ser executado com o cão sentado ou deitado. Dê o comando “fica”
ou faça o gesto com a mão espalmada para frente e caminhe dando as costas para o cão.
Quando o cão executar corretamente, volte e lhe dê um prêmio.

6-Vir quando chamado, Aqui

Chame-o pelo nome e acrescente a palavra “aqui” ou abaixe a mão com o dedo indicador
apontando para baixo. O cão deverá aproximar-se rapidamente e feliz, ao se aproximar ele
deverá sentar à sua frente.

7-Fingir de Morto, MORto

Com o cão deitado dê o comando “morto” ou faça um meio círculo com a mão espalmada da
esquerda para a direita.

8-RASteja

Com o cão deitado, dê o comando “rasteja” ou abaixe a mão com os dedos apontando para
baixo.

Treinamento Avançado
Depois de finalizado o treinamento básico, existe a opção para determinados treinamentos
avançados como, por exemplo, treinamento para provas de agility, ataque, etc. Lógico, isso
depende de cada raça e a possibilidade do proprietário ter espaço adequado para a prática
dessas opções.

Dicas importantes para o proprietário

Na hora de pedir um comando, pedir ao cão para executar os comandos, sempre que possível,
e recompesa-lo com petiscos, brinquedos ou com carinho. Não recompensar o cão quando ele
executar um comando diferente do que foi pedido, por mais “engraçadinho” que pareça.

Variar a recompensa bem como a quantidade oferecida

O cão irá se interessar muito mais quando existe a expectativa de descobrir o que ou quanto
irá ganhar. Não deixar a recompensa óbvia, se possível, esconder em vários lugares da casa
para te-la sempre a mão quando preciso. Se o cão já obedece prontamente, independente de
petisco, começar a não recompensar de vez em quando. Não pedir uma série de comandos na
mesma ordem, pois o cão pode considerar a seqüência como um comando só.

Como assumir a liderança

Os cães são animais que naturalmente vivem em matilha organizadas hierarquicamente, nas
quais cada membro possui sua posição. Pode parecer estranho, mas, quando trazemos um cão
para a convivência conosco, seres humanos, ele passa a nos considerar membros da sua nova
matilha. Para o cão, todas as leis que vigoram em uma matilha são também válidas em casa e
com as pessoas próximas a ele, ou seja, uma pessoa só tem direito de dar ordens se ela ocupar
uma posição hierárquica superior é dele.

Assumir a liderança é essencial para ganhar o respeito e a confiança dos cães. Os cães só
obedecem às regras estabelecidas pelo líder como também demonstram grande admiração
por ele. Para se tornar o líder da matilha. Andar sempre à frente do cão. Mudar bruscamente
de direção se ele adiantar-se aos passos de quem o conduz até ele perceber que deve prestar
atenção à pessoa. As pessoas devem ser sempre as primeiras a entrar em casa, passar por
portas, portões ou passagens estreitas.

Se o cão pedir algo (comida, passeio, carinho, etc.) o dono deverá pedir algum comando antes
de fazer a sua vontade, deixando claro para a o animal que não é o proprietário que está
obedecendo a ele. Não usar de violência, pois os cães costumam imitar seus líderes. Se o dono
conseguiu a liderança através da violência, o cão fará da mesma forma, toda vez que quiser
reafirmar sua posição.

Em quanto tempo o cão será adestrado


O treinamento básico leva em torno de 6 a 8 meses. É claro que esse tempo pode variar de
acordo com cada cão. Alguns são mais interessados em aprender e estão sempre prontos para
te atender. Outros cães não se sujeitam facilmente a apresentam maior resistência,
principalmente cães que estejam com a formação de personalidade finalizada, algo em torno
de 2 anos. O cão tem idade ideal de adestramento entre o início do aprendizado entre o 4 ou 5
meses de vida, e até 2 anos. Cães com mais de 2 anos de vida, precisam ser avaliados em seu
comportamento, para se verificar vícios e hábitos que já adquiriram e que por muitas vezes,
não se consegue mudar. Portanto, cães mais jovens normalmente aprendem mais rápido.

Quando um cão está sendo treinado, conseqüentemente está sendo estabelecida uma relação
de subordinação do cão em relação à pessoa que está ensinado. Esse processo se dá através
de comandos a atitudes do treinador e do dono, por mínimos que sejam deixando bem
discriminadas as posições hierárquicas de cada um.

Quando o cão se recusa a atender ao dono muito provavelmente está testando a liderança,
principalmente se está acostumado a ser atendido quando exige alguma coisa latindo, pulando
ou mordendo, afinal, um cão com cetro de coroa não vai querer perder a majestade. È muito
importante a questão da liderança. O objetivo do adestramento é inverter essas situações,
mas para tal vale ressaltar a importância do acompanhamento eventual do proprietário em
algumas aulas e seguir as orientações do treinador com dificuldades que o proprietário lhe
passe, por mais insignificantes que elas possam parecer.

Enfim, aprender e obedecer tem que valer a pena para donos e para os cães.

Em todo este tempo, desde que começou a conviver com os humanos, o cão sempre foi uma
incrível companhia. Sua gratidão e afeição aos seus donos sejam para brincar seja para
protegê-los de qualquer ameaça é muito grande.

Para finalizar, achei por bem encartar o texto Impulso de Matilha, pois ele dara uma boa visão
e esclarecerá muitos pontos sobre os instintos dos cães.

Conhecer a maneira de ser dos cães facilita em muito o trabalho do adestrador e o convívio
com o seu dono, pois passam a ter elementos para entender, cada vez mais, certas atitudes
dos cães.

O texto é de Luiz Makoto Ishibe e mostra com clareza e coerência algumas dificuldades
enfrentadas pelos donos de cães e até mesmo pelos adestradores, por não conhecerem os
instintos dos animais.
Impulso de Matilha e a Questão do Cão Dominante

Por Luiz Makoto Ishibe

Este é o assunto que já discuti com muitas pessoas, mesmo aqueles que trabalham com
o adestramento. No entanto tenho constatado que pouca gente tem conhecimento
consistente sobre o assunto (impulso de matilha).

Temos ouvido muitas histórias de ataque de cães, muitas das vezes sendo a vítima o
próprio dono. Em função dos acidentes existe até a cogitação legal de que algumas raças de
cães deveriam ser proibidas. No entanto o que as pessoas não sabem é o fato de que, na
grande maioria das vezes os próprios donos são os culpados (ainda que inconscientes, mas
perante a lei a ingenuidade ou ignorância não isenta a culpa – ou pelo menos deveria ser
assim).

Lembro-me de uma vez que estava assistindo noticiário na televisão, na época em que
começaram as ocorrências de ataque dos pit bulls. Num dos depoimentos apareceu uma moça
mostrando uma cicatriz na perna, resultado do ataque que sofreu do seu cão. Ela fez um
comentário do tipo: “até hoje não entendo o que houve. Ele tinha todo carinho do mundo,
dormia na minha cama, deitava no meu colo e ia para todos os lugares comigo. Um dia, do
nada, me atacou”.

O que aconteceu é o típico exemplo do desconhecimento da importância do


estabelecimento da hierarquia de convívio. A moça mimava tanto o cão e fazia todas as suas
vontades até que o animal entendeu que ele era o líder. Sendo ele líder tornou-se obrigação
dar uma lição aos “inferiores” se uma hora não agissem de acordo com a sua vontade. Deu no
que deu.

Impulso de Matilha: muito se fala em impulsos de caça e de defesa no meio das pessoas
que trabalham com os cães, mas pouco se discute sobre o impulso de matilha. No meu
entender, para os adestradores de cães domésticos, é mais importante que ele tenha o
conhecimento de impulso de matilha (que, entre outras coisas, determina a dinâmica social
dos canídeos) para poder orientar os donos de forma a evitar problemas futuros do que
executar trabalho de proteção (mordida) inconseqüente. Aliás, quando se trata de cães
domésticos é importante que o animal passe por treinos de obediência consistente antes de
passar para a fase da proteção. Senão é muito fácil acabar criando uma “arma” sem controle.

Para entendermos melhor o assunto acerca de impulso de matilha temos que buscar a
origem dos cães domésticos e a forma que eles nos aceitam como “animais” que convive
conjuntamente no mesmo espaço.
Todos os cães domésticos derivaram do lobo. Os lobos têm uma estrutura hierárquica
muito bem definida na sua matilha e os integrantes devem agir de acordo com a sua posição.
O grupo é liderado por um macho dominante (alfa). Existe também uma fêmea dominante e
apenas esse casal procria. Todo o resto da matilha trabalha em função dos líderes.

A hierarquia é muito evidente. Por exemplo: o macho alfa comanda a caça. Isso significa
que ele estabelece quando a caçada (ou a busca pela caça) inicia. Todos os integrantes da
matilha ajudam na tarefa, e, no caso de sucesso todos devem esperar o líder comer primeiro.
Depois vêm os que estão no alto escalão e a seqüência vem descendo pela hierarquia até os
submissos. Se a caça for pequena não tem comida para todos. Ou seja, o líder sempre come a
melhor parte. Um animal submisso, mesmo estando com fome, sequer pode incitar o resto da
matilha a caçar.

Se a matilha estiver em deslocamento é também o líder que decide quando parar para
descansar. Ele escolhe o local mais confortável e o restante vai se ajeitando como puder.
Enfim, o líder é quem decide pelo grupo e não cabe aos submissos questionar. Se houver
questionamento o chefe dá uma lição para mostrar quem manda (provavelmente foi o que
aconteceu com a moça do pit bull).

Com a domesticação o cão transferiu esse conceito para os humanos que convivem com
ele no cotidiano. O cão nos aceita não como um ser diferente e superior. Esse tipo de conceito
não existe na natureza. O cão que convive com ser humano o faz porque nos aceita como um
membro integrante da sua matilha (ou se preferir, o cão aceita integrar a nossa matilha). E
assim como acontecem com os lobos, à hierarquia deve ser definida e cada um agir de acordo.
Que uma coisa fique clara: Colocarmos-nos como líder ou numa posição superior
hierarquicamente, não significa nem de longe que devemos nos impor fisicamente e muito
menos que devamos mal tratar o animal. Pelo contrário, você pode ter um relacionamento
super carinhoso, que, no entanto segue algumas regras de convivência. São procedimentos
simples e intuitivamente compreensíveis para o seu cão entender que ele integra uma matilha
onde o líder é ser humano.

O problema de dominação de cão doméstico pode se tornar muito sério se você não
adotar procedimentos que inibem a sua manifestação. Uma vez que um cão assume a posição
alfa é muito difícil reverter o processo. Na natureza um lobo pode lutar até a morte para
defender a sua posição. Mesmo que aceite a derrota é relativamente comum ele partir para
vida solitária (e conseqüentemente a morte – uma questão de tempo) do que voltar a ser
submisso. Então é realmente importante que você previna a possibilidade do seu cão se tornar
um animal dominante.

Um lembrete: muita gente acha que o problema de dominação canina se restringe a


algumas raças de grande porte. O fato é que este é um fenômeno que pode se manifestar
independentemente da raça ou tamanho. É obvio que um labrador tem menos tendência do
que um rottweiler, pastor alemão ou pitbull para se tornar um alfa diante nós, os humanos. Da
mesma forma as eventuais conseqüências de se ter um poodle toy dominante dentro de casa
pode não ser tão sério quanto ter um mastin com a mesma natureza. Cão grande te manda
para hospital (ou necrotério), cão pequeno pode fazer o mesmo com seus filhos. Então tomem
muito cuidados.
Problema Hierárquico: O respeito pela hierarquia é uma das coisas mais importantes
para um animal de matilha. O Chefe toma todas as decisões, come primeiro, come a melhor
parte, escolhe o local mais aconchegante para descansar, marcha na frente da matilha, etc.

Os membros inferiores jamais devem desafiar os superiores. Deve ceder (comida, local
de descanso) sempre que for confrontado. Também é comum os submissos demonstrarem
carinho com os superiores (principalmente lambendo o rosto), mas o inverso não é normal.

Então se o seu cão tem costume de rosnar (mostrar os dentes, beliscar ou morder)
quando você aproxima dele quando está comendo, quando ele está deitado confortavelmente
no sofá (ou cama), quando você tenta tirar um brinquedo ou coisa assim é por que ele não te
aceita como alguém hierarquicamente superior. No mínimo ele está testando você com
atitudes de desafio. Na natureza, se o desafio acontece, o caso vai para um confronto para
definir a posição de cada um. Se você é desafiado e fica por isso o cão entende que você fugiu
do confronto e conseqüentemente que aceitou a superioridade dele.
Se o seu cão não rosna para você, mas rosna para outras pessoas da sua família é por
que ele te aceita como superior, mas não aqueles para quem ele rosna. Se um desses casos
acontece na sua casa é bem possível que o problema esteja começando. Nesse estágio ainda é
possível controlar a situação. Mas é muito importante que você tenha atitude e firmeza.

Quando se manifesta a dominância: A necessidade de um cão definir a sua posição


hierárquica na matilha surge com sua maturidade, e não é normal um cão apresentar
comportamento dominante antes de 8 meses de idade. O mais comum é que isso aconteça
entre 15 a 36 meses, mas já houve casos desse tipo de problema surgir em animais de mais de
5 anos. A idade mais provável está em torno de 18 meses.

Na medida em que o cão atinge a maturidade o seu instinto diz para ele estabelecer a
sua posição na matilha. Um filhote não se importa em ser um submisso, mas na sua juventude
ele vai testando suas forças (brincadeiras com os irmãos, a forma de relacionamento com
outros indivíduos, etc.) e vai tentar se definir numa posição mais alta que consiga.

Note que esse é o resultado de um processo que vem por toda juventude. Então as suas
atitudes devem ser definidas desde que o animal é um filhote. Você não pode esperar para ver
se o cão apresenta comportamento dominante para depois tentar corrigir. Se o seu cão
demonstrou comportamento de desafio é por que você já errou.

A tendência dominadora ou submissa faz parte do temperamento individual do cão, e a


intensidade e a forma com que eles afloram varia muito. Um animal naturalmente submisso (o
que não significa que seja inseguro) é adequado, por exemplo, para quem busca um cão de
estimação descompromissado para uma família com filhos pequenos. No entanto um cão de
temperamento mais forte com tendência dominador forte pode ser um poderoso animal de
trabalho para alguns casos. Obviamente esses cães devem ser treinados por profissionais que
conhecem bem o comportamento dos canídeos e que nunca criem situações que estimule o
desafio.

Do ponto de vista instintivo um animal nunca ocupa um espaço que não foi concedido
ou conquistado. Se ele age de forma folgada, é por que você o deixou acostumar a portar-se
daquela forma. Se ele demonstra agressividade é por que você deu espaço para ele assim
comportar.

Existe um cuidado que se deve tomar quando está no processo de avaliar esse tipo de
comportamento com filhotes. É relativamente comum as pessoas menos experientes
confundirem o impulso (drive) de caça com a tendência dominante. Os filhotes rosnarem
quando brincamos de cabo de força e até mordendo nas barras das nossas calças é normal.
Isso é impulso de caça e nada tem a ver com agressão ou dominação.

O impulso de caça é muito importante para o treinamento e todos os cães de trabalho e


de esporte devem ter. Não apenas isso, mas devemos trabalhar para que esse impulso aflore
facilmente e com maior intensidade. Se você confundir uma coisa com outra e reprimir o
impulso de caça você pode estar inibindo um dos melhores adjetivos do seu cão (caso queira
treinar para alguma coisa).

Um outro ponto que se deve saber é que a forma que o impulso de matilha se manifesta
nos cães é individual. Mesmo entre uma mesma raça tem animais com tendência dominante e
outros submissos. Dentro de uma mesma ninhada criada de forma absolutamente igual um
pode se tornar dominante enquanto que os outros se tornem submissos. A forma com que
você se relaciona com cada um deles deve ser diferenciada de acordo com a necessidade.

Treino de obediência: Treino de obediência é a melhor forma de prevenir a


manifestação do impulso dominante no seu cão. Se o animal aprender desde o começo que
existem pessoas que ditam algumas regras ao qual ele tem que se submeter, naturalmente
entenderá que a sua posição hierárquica é inferior.

Um lobo alfa JAMAIS aceita receber uma ordem de outros membros da matilha. Este
conceito tem que ser bem entendido, pois muitas pessoas associam o termo “treino de
obediência” aos treinos padrões de comandos como “senta”, “deita”, etc. A obediência em
termos hierárquicos é um assunto de tempo integral, todos os dias do ano até a morte. Não
basta você achar que as sessões de 30 minutos duas vezes por semana com adestrador
“ensinando” o seu cão a executar senta e deita resolva o problema. Obediência está em todos
os comandos que você dirige ao seu cão, mesmo coisas como “vai para fora da casa”. Você não
pode nunca dar um comando (que cão entenda o que você está pedindo) e deixar por isso caso
ele não execute. O erro muito comum é uma pessoa pedir um comando e depois desistir
quando o cão olha para ela de forma super dengosa. Coloque-se no lugar do seu animal: se
você cede quando ele pede com dengo, obviamente vai ceder se for peitado com rosnado e
agressão.

O treino de obediência idealmente deve ser iniciado por um bom adestrador e de


confiança, acompanhado e continuado pelo proprietário. O processo é feito em três fases bem
distintas: aprendizado, correção e distração. Nunca se deve passar de fase antes de
consolidação do que se está trabalhando.
Aprendizado: É a fase em que se ensina o animal a executar os comandos por processo
de indução e associação, através do método motivacional. Em outras palavras, nós conduzimos
o cão por diferentes exercícios recompensando as atitudes positivas (ou desejáveis) com
elogio, brinquedo ou comida. Existem outras formas de adestramento além do método
motivacional, mas eu nem os considero.

Correção: É a fase em que ensinamos ao animal que ele será corrigido se não executar
as ações por nós comandadas. A correção só é válida se e somente se o cão souber o que
queremos dele (mas recusa-se a fazer de forma apropriada). É uma fase que exige mais atitude
do condutor. Castigo físico nem sempre é eficiente, e se você errar a mão pode resultar em
acidente.

Distração: Nesta fase ensinamos ao animal que ele tem que estar ligado na definição
hierárquica em qualquer lugar, sob qualquer situação. Na fase de aprendizagem executamos
os treinos em locais onde o animal está familiarizado. Na fase da distração os treinos devem
ser feitos em ambientes estranhos e com elementos de distração (como outros animais
treinando, movimentação de pessoas e carros, etc.)

Note que se o seu cão não passar pelas três fases o seu controle é apenas parcial. Se um
animal que apenas passou pela fase de aprendizado um dia se colocar numa situação de
ataque iminente, possivelmente você não conseguirá comandar devido ao estado de excitação
do animal. A distração consolidada é fundamental para você conseguir conduzir o seu animal
sob situação de stress. Infelizmente a maioria dos trabalhos de adestramento não vai além da
primeira fase.

Cão que não obedece: Numa alcatéia de lobos, uma ordem superior deve sempre ser
executada ou se não provavelmente vai resultar na morte do rebelde (a não ser que este
consiga sobrepujar a liderança tornando-se o novo alfa).

Se um cão não obedece a sua ordem é por que ele não te aceita como alguém
hierarquicamente superior. Os cães são super observadores e eles têm uma capacidade de
discernimento intuitivo muito grande em relação à questão hierárquica. Logo que passam a
conviver com uma família eles conseguem visualizar quem é o líder e como a estrutura do
poder se estende para outras pessoas. Com pouco tempo de convivência ele saberá posicionar
a si mesmo dentro dessa estrutura.

Uma forma relativamente comum dos cães testarem (instintivamente, não


conscientemente) o seu poder é passando a obedecer aos seus comandos em certas
circunstâncias e ignorando noutras. Repito a dizer que quando digo “comando” nesse sentido
não se resume no “senta” e “deita”. Tem todo o aspecto comportamental a se considerar (tipo
sair da casa ou levantar-se do lugar de onde está deitado).
Se o seu cão começa a obedecer apenas “quando lhe convém” ele vai passar a
interpretar que forçando a barra ele ganhará espaço. Chegará um dia em que “quando lhe
convém” não existe mais e não mais te obedecerá. Esse é o claro sinal de que ele está no
processo em busca de um posto hierárquico superior, e está a um passo de começar a rosnar,
mostrar os dentes, beliscar e eventualmente morder.

Um cão que passou por treinamento de obediência com todas as três fases bem
consolidadas muito dificilmente apresentaria esse tipo de comportamento.

Controlando Alguns Aspectos da Convivência com o Seu Cão

Independentemente do tamanho ou da raça do seu cão, existem alguns procedimentos


que podem ser adotados no cotidiano e que pode minimizar o risco de ocorrência de
acidentes. No entanto tem duas coisas muito importantes a serem ditas:

1- Adotar estes (e eventualmente outros) procedimentos não significa que você


vá necessariamente castigar o seu cão ou que vá dedicar menos carinho. Pelo
contrário, esta é uma forma de se estabelecer uma forma de convivência
instintivamente mais compreensível para o seu animal, ao mesmo tempo em
que forma uma personalidade mais equilibrada. No fim das contas é certo que
ele viverá muito mais feliz.

2- Os procedimentos devem ser adotados de forma criteriosa. Um dia pode e


outro dia não pode não é compreensível para o seu animal. O que for
estabelecido tem que ser seguido. O lobo alfa comanda a matilha, mas ele o
faz dentro de uma coerência. Você não pode perder a coerência das ações do
cotidiano. Não deixe o seu humor ou problemas pessoais influenciarem na
forma com que você se relaciona com o seu cão.

Dormir na cama ou no sofá: O líder sempre descansa e dorme no melhor lugar. Muita
gente não deixa o cão entrar em casa ou em alguns recintos da casa. Isso é bom para
estabelecer a hierarquia. Mas caso você permita a entrada deles em casa, deve estabelecer
algumas regras de limitação. O lugar para eles ficarem não é no sofá e muito menos na cama.
Acredite, o seu cão não ficará menos feliz por ter que ficar deitado no seu pé enquanto você
assiste a TV.

O que nós fazemos: Via de regra, não deixamos os nossos cachorros subirem no sofá e
nem na cama. Digo “via de regra”, pois existem ocasiões em que SIM, deixamos. Mas quando
fazemos isso fazemos de forma que fique evidente de que nós estamos deixando-os subirem
no sofá ou cama. Tanto é que eles não fazem isso por si só. E tem mais uma coisa: nós
decidimos quando eles devem descer. Sei que tem gente que acha um horror rotts, terra nova
e labs na cama, mas que é uma delícia, é. Se tivéssemos um cão com tendência dominadora,
jamais o deixaríamos subir na cama ou sofá.

Carinho: O lobo alfa nunca distribui carinho. Dito isso seria intuitivo dizer que não
devemos dar carinho aos nossos cães, mas se assim fosse eu nem os teria em casa. O carinho
deve ser dado com critério. O cão deve saber por que está recebendo carinho (recompensa
por uma atitude positiva, por exemplo). E acima de tudo, é você que decide quando dar
carinho e quando não (com critério).
O que nós fazemos: É relativamente freqüente um dos nossos cachorros aproximarem
pedindo carinho. Se eu julgar a situação inconveniente digo: “agora não” e ignoro o pedido. Na
maioria dos casos eu não dou o carinho de imediato. Antes eu peço uma atitude, por exemplo,
comando “senta”. Assim que o animal sentar eu dou o carinho como recompensa. Ou seja,
deve ficar evidente que eu dou carinho porque eu quero dar (e não por que o cão está
pedindo) e que tenho controle de quando fizer. Na realidade é quase 24 horas por dia que
temos a vontade de mimar os bichos, mas se fizermos isso de forma errada podemos estragar
o relacionamento para sempre.

Pegar o cão no colo: Você não deve pegar nenhum cão adulto no colo, especialmente os
de maior porte. Na natureza um animal ficar sobre outro significa que está impondo a
liderança sobre um membro inferior. Assim sendo pegar um cão no colo pode facilmente
induzir o cão a aceitar que você está sendo submisso. Jamais faça isso com cão com tendência
dominador.

O que nós fazemos: Se não puder pegar os nossos bichos no colo uma boa parte do
motivo pelo qual temos animais em casa iria embora. Sim, pegamos os bichos no colo. Não
fazemos isso com freqüência, da mesma forma que não os deixamos subirem no sofá ou cama
com freqüência. Mas aqui também vale a regra: deixo evidente que eu estou permitindo que o
cão suba no colo. O cão deve entender que não estou assumindo a postura submissa. Nunca
espero o meu cão sair do colo por vontade própria, mas mando sair. Enfim, o controle é meu.
Se tivéssemos um animal com tendência dominador não o pegaríamos no colo jamais.

Comida, ração e petiscos: O lobo alfa come primeiro e come a melhor parte. Se o seu
cão não vive dentro da casa a questão da comida (humana) deixa de ser relevante. Mas caso
viva em casa você deve considerar alguns pontos. Idealmente os animais comem depois que a
família terminou de comer, e eles não estão autorizados a vir pedir comida na mesa. Em tese
eles também não estão autorizados a ficar em torno de você (cercando) enquanto está
preparando a ração deles.
Tem gente que argumenta que uma forma de impor a liderança sobre os cães é ficar
com a mão no pote de ração (e eventualmente tirar-lo) enquanto ele come, para mostrar que
você tem o poder. Na minha opinião, esse tipo de racionalização humana não funciona para o
cão. Você ficar com a mão no pote pode ser interpretado como se você não quisesse entregar
a ração, mas está fazendo por que você tem medo de sofrer conseqüências. Tirar e devolver
podem ser interpretados como se tivesse tido um impulso de coragem para tirar, mas depois
ficou com medo e devolveu. Repare que em ambos os casos o cão teve a comida, ou seja,
apesar de toda situação que você criou, ele venceu. O lobo alfa, depois que se saciou, entrega
a comida para os submissos e não fica enchendo o saco. Ele tem a segurança para isso. Criar
situações de conflito não é atitude de líder.
O que nós fazemos: Nunca damos comida para os nossos cães na mesa. Tem dias que
jantamos na mesa de centro (olha o mau hábito) assistindo a TV. Nestes casos a comida está
num nível muito sedutor para os cachorros, mas mesmo assim não os deixamos se
aproximarem ou ficarem cheirando. A ração do fim do dia eles recebem antes do nosso jantar,
mas se nós tivéssemos um cão com tendência a ser dominador, possivelmente alimentaríamos
mais tarde e com ressalva: ele somente receberia a ração mediante a obediência, tipo vai para
um determinado lugar e executa um comando (por exemplo, na garagem e recebe o comando
senta). Somente depois de obedecer recebe a ração. Isso reforçaria a minha posição de
liderança, pois eu controlo a comida dele. Fora isso, adoramos distribuir petiscos, mas fazemos
de forma bastante criteriosa (depois dos treinos, antes de dormirmos quando colocamos todos
para fora de casa, etc.) e sempre após uma ação. Pode ser uma coisa super simples, tipo
“senta” ou “deita”. Uma vez mais é a forma de reforçar a sua liderança (ao mesmo tempo em
que é agrado para o seu cão).

Dono do brinquedo: Os brinquedos e tudo mais que os cães gostam são nossos, e não
deles. Os nossos cães não têm brinquedos. Nós temos e nós os deixamos brincarem quando
nós queremos (por exemplo, durante os treinos como recompensa ou como estímulo nos
exercícios de drive). Depois nós levamos tudo embora quando a brincadeira (treino) termina.
Você não deve deixar brinquedo com o cão o tempo todo. Se fizer isso será ele que estará
deixando você brincar.

Andar na frente: O lobo alfa sempre anda na frente seguido pela sua alcatéia. Numa
matilha o líder sempre anda na frente, mas essa regra é muito difícil fazer valer para todas as
situações. Além do mais há momentos em que você quer o seu animal andando na frente.
Então você pode controlar algumas situações. Por exemplo, você sempre passa pela porta ou
escadas na frente dele. Se o seu animal se adiantar você o chama de volta, deixa esperando no
“senta” e só o libera depois que você já passou.
O que nós fazemos: Nós não controlamos muito esse ponto, mas como foi dito, os
nossos animais não demonstram tendência dominadora. O que eu procuro fazer é que eles
entendam que, mesmo andando na frente o controle ainda me pertence. Quando passeio com
eles na guia só deixo que eles puxem o ritmo quando eu quero exercitá-los, mas se não devem
andar com guia frouxa. Somente ando sem guia com cães que não assustam outras pessoas
(no caso o labrador – no Brasil ninguém conhece terra nova e muitos se assustam com o seu
tamanho) e com certeza de que tenho controle verbal sobre o comportamento. Assim, mesmo
estando solto, ele sabe que quem comanda sou eu.

Agressividade com visitas: Tem gente que argumenta que para servir como cão de
guarda incentiva o seu animal a rosnar e latir com qualquer pessoa fora da família, mesmo
sendo um amigo em visita. Se você quer um cão de guarda, pelo menos em tese, deve treiná-lo
para isso. É perigoso ter um cão que rosna e late (e eventualmente morde) por conta própria.
O seu cão pode latir para alguém fora do portão, mas uma vez que uma visita foi conduzida
para dentro por alguém da família (que ocupa posição superior na hierarquia) ele não deve
esboçar agressividade nenhuma. É o líder que decide quando ele deve latir e, se for o caso,
atacar (por isso tem que ser treinado). Mas aqui tem mais uma questão a considerar. Antes de
ensinar um cão a morder, você tem que ensinar o mesmo a largar. Pouquíssimo adestrador no
Brasil faz isso. Ensinar um cão a morder é fácil, mas se for feito de forma inconseqüente pode
resultar em acidentes sérios – até contra você mesmo.

O cão fica de pé para se apoiar em você: O cão se levanta para se apoiar nas pessoas
basicamente em duas situações: para pedir carinho ou para impor a sua superioridade (medir
a força). Idealmente você não deve deixar o seu cão se levantar, especialmente os de maior
porte. Mesmo que seja por puro carinho ele pode assustar as pessoas, e o animal pode
interpretar a adrenalina do susto como sinal de agressividade.

O que nós fazemos: nós procuramos evitar ao máximo que os nossos rotts se levantem.
Quando vemos que vão se levantar, saímos andando ou apoiamos a mão na cabeça ou na
cernelha. Muito raramente permitimos que eles se levantem. Isso acontece quando eles fazem
aquele olhar de carência (escorre mel dos olhos), abana o rabo e abre um sorriso. Mas mesmo
nesses casos só damos duas tapinhas na lateral, sem abraço, sem estardalhaço. Então damos
alguns passos adiante e chamamos o bicho até nós. Pedimos um comando e assim que executa
o enchemos de carinho. Eles entendem que podem receber mais carinho sem se levantar.

Agora temos um problema: a nossa terra nova salta e pula e não controlamos isso (tudo
bem, nós gostamos). Ela faz isso com todo mundo, incluindo as visitas. Então vamos logo
avisando, inclusive de que podem sujar a roupa. Se a visita não achar o comportamento
conveniente a seguramos por 2 minutos, que já passa a vontade (ela é volúvel mesmo).

Bernes, tártaros, etc.: É relativamente comum os cães apresentarem alguns problemas


no decorrer da vida. Coisas como vacinação eu deixo por conta dos veterinários, mas muitos
outros eu mesmo cuido. Se um dos meus cães pegarem berne, eu mesmo tiro. Limpeza de
tártaros também faço, com certa freqüência.

Muitas pessoas acham que não tem domínio para esse tipo de situação, e se for o seu
caso, chame um veterinário. Mas eu faço essas coisas com duplo objetivo: primeiro pela
praticidade de resolver o problema de imediato. Segundo, para os animais entenderem que
eu, sendo o líder, posso espremer o berne ou cutucar os tártaros quando eu quiser. Nunca
aplico anestesia, mas sempre premio uma boa atitude com petiscos e carinho. Se rosnarem ou
tentarem sair andando, eu os repreendo. Com isso reforço a minha posição e ao mesmo
tempo crio um canal de relacionamento e carinho mais forte.

Aqui foram listados alguns dos procedimentos que você pode adotar no cotidiano para
prevenir problemas decorrentes de se ter um cão dominante dentro da casa. Obviamente
existem muitos outros procedimentos que podem ser tomados, mas alguns deles são mais
sutis e requer mais conhecimentos acerca do comportamento canino.

Depois de ler este artigo você pode argumentar que eu mesmo não sigo as idéias
expostas (o que nós fazemos, um tipo de faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço). Isto
é fato, mas provavelmente conhecemos os cães muito melhor do que você e temos outros
procedimentos de cotidiano. Além do mais, nenhum dos nossos animais manifesta tendência
dominadora (ou não deixamos manifestar).

Se o seu animal apresentar qualquer comportamento não desejável ele deve ser
corrigido imediatamente e de forma enérgica. Tome apenas um cuidado: toda repreensão
deve ser técnica e nada mais do que isso. Não misture a raiva ou o mau humor. Se não você
pode errar a dose ou mesmo ser mal interpretado pelo seu cão.

Espero também que a importância do treino de obediência tenha ficado clara. Sem a
obediência formatada é mais difícil avançar nos procedimentos do cotidiano, pois não existe
uma forma eficiente de nos comunicarmos com o animal. O seu cão deve saber o que é
correto e o que é errado para ser corrigido. Se ele não souber o procedimento de correção
acaba virando um castigo sem causa e pode gerar mais conflito e, eventualmente uma reação.

Sempre que tiver que medir força com o seu cão crie uma situação favorável para você.
Se o animal te enfrentar e te vencer, a situação só vai piorar. Toda disputa hierárquica tem que
ser planejada para você vencer. Nunca entre na disputa simplesmente por que aconteceu
algum fato que fez o sangue subir à cabeça. Você pode perder o controle da situação.

Entrar em confronto de poder com o seu cão nunca é bom e deve ser evitado ao
máximo. Mesmo vencendo você perderá muito, pois a definição hierárquica deve ser
reforçada nos dias (eventualmente semanas ou meses) subseqüentes e esse processo, cria
stress. Se você perder, o relacionamento está acabado.

Aqui vai mais uma dica. Ser superior hierarquicamente nada mais é do que merecer o
respeito. Se o seu cão deixou de te respeitar, é por que ele se sente superior. E o respeito se
conquista não se impõe. A liderança é acima de tudo uma questão de atitude, e não de força
bruta.

É totalmente errado achar que uma boa surra resolve os problemas de comportamento
ou de relacionamento com o cão. Um castigo físico mal dado pode servir para aumentar a
tensão da hierarquia (ou do respeito).

Se você merecer o respeito do seu cão possivelmente terá um super companheiro por
mais de 10 anos. Se você perder o respeito talvez você (ou alguém) vá parar num hospital e o
seu cão tenha que ser sacrificado.

Ter um cachorro em casa requer responsabilidade. É errado adquirir um animal


simplesmente por que é moda ou por que você gostou da estética do bicho. Igualmente é
errada a forma possessiva com que a maioria das pessoas se refere ao cão. Ele é um animal e
tem vontades e necessidades próprias. Se você quer ter “o seu bichinho bonitinho que não te
dá trabalho e só te traz alegria” compre um animal de pelúcia.

Um cachorro fica doente, solta pelo, tem cheiro, requer cuidados, faz coco e xixi, precisa
de atenção, faz bagunça e vive por mais de 10 anos. Se você aceita tudo isso “na saúde ou na
doença” procure uma raça que tem maior chance de corresponder a sua expectativa. Pense
bem no que você está buscando: companhia, esporte, trabalho, guarda, etc. Não adquira um
animal de forma inconseqüente ou impulsiva.

Para finalizar o assunto vou citar mais um fato: Nenhum cão precisa ser dominador para
ser feliz. Pelo contrário, um animal submisso e bem resolvido tende a ser muito mais feliz e
viver mais do que os dominadores. Cabe a você pensar no tipo de vida que vai propiciar para o
seu amigão (que pode virar inimigo – e se isso acontecer, possivelmente será por sua culpa).

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